Perguntas e respostas O que é islamismo, Islã e muçulmano? O islamismo é a religião fundada pelo profeta Maomé no início do século VII, na região da Arábia. O Islã é o mundo dos seguidores dessa religião. O termo maometano às vezes é usado para se referir ao muçulmano, mas muitos rejeitam essa expressão afinal, a religião seria de devoção a Deus, e não ao profeta Maomé. De onde vem o termo Islã? Em árabe, Islã significa "rendição" ou "submissão" e se refere à obrigação do muçulmano de seguir a vontade de Deus. O termo está ligado a outra palavra árabe, salam, que significa "paz" - o que reforça o caráter pacífico e tolerante da fé islâmica. Todos os muçulmanos são árabes? Esta é uma das mais famosas distorções a respeito do Islã. Na verdade, o Oriente Médio reúne somente cerca de 18% da população muçulmana no mundo - sendo que turcos, afegãos e iranianos (persas) não são sequer árabes. Outros 30% de muçulmanos estão no subcontinente indiano (Índia e Paquistão), 20% no norte da África, 17% no sudeste da Ásia e 10% na Rússia e na China. Há minorias muçulmanas em quase todas as partes do mundo, inclusive nos EUA (cerca de 6 milhões) e no Brasil (entre 1,5 milhão e 2 milhões). A maior comunidade islâmica do mundo vive na Indonésia. As raízes do islamismo são conflitantes com as origens do cristianismo e judaísmo? Não. Assim como as duas outras grandes religiões monoteístas, as raízes do islamismo vêm do profeta Abraão. O profeta Maomé, fundador do islamismo, seria descendente do primeiro filho de Abraão, Ismael. Moisés e Jesus seriam descendentes do filho mais novo de Abraão, Isaac. Abraão, o patriarca do judaísmo, estabeleceu as bases do que hoje é a cidade de Meca e construiu a Caaba - todos os muçulmanos se voltam a ela quando realizam suas orações. Os muçulmanos acreditam num Deus diferente? Não, pois Alá é simplesmente a palavra árabe para "Deus". A aceitação de um Deus único é idêntica à de judeus e cristãos. Como alguém se torna muçulmano? Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser casado com um praticante da religião. Também não é necessário estudar ou se preparar especialmente para a conversão. Uma pessoa se torna muçulmana quando proferir, em árabe e diante de uma testemunha, que "não há divindade além de Deus, e Mohammad é o Mensageiro de Deus". O processo de conversão extremamente simples é apontado como um dos motivos para a rápida expansão do islamismo pelo mundo. Os muçulmanos praticam uma religião violenta ou extremista? Uma minoria entre os cerca de 1,3 bilhão de praticantes da religião é adepta de interpretações radicais dos ensinamentos de Maomé. Entre eles, a violência contra outros povos e religiões é considerada uma forma de garantir a sobrevivência do Islã em seu estado puro. Para a maioria dos seguidores do islamismo, contudo, a religião muçulmana é de paz e tolerância.
O Islã oprime a mulher? A base da religião muçulmana não determina qualquer tipo de discriminação grave contra a mulher. No entanto, as interpretações radicais das escrituras deram origem a casos brutais. A opressão contra a mulher é comum nos países que seguem com rigor a Sharia, a lei islâmica, e têm tradições contrárias à libertação da mulher. Assim, o problema da opressão à mulher muçulmana não é causado pela crença islâmica em si ele surgiu em culturas que incorporaram tradições prejudiciais às mulheres. Um ótimo exemplo disso é o fato de que o uso de véus e a adoção de outros costumes que causam estranheza no Ocidente muitas vezes são mantidos por mulheres mesmo quando não há nenhuma obrigação. Ou seja: os hábitos estão integrados às culturas, não necessariamente à religião. Os muçulmanos são mais atrasados do que os povos ocidentais? Durante séculos, as civilizações do Islã foram muito superiores às ocidentais. A combinação de idéias orientais e ocidentais provocou grandes avanços na Medicina, Matemática, Física, Arquitetura e Artes, entre outras áreas. Muitos elementos importantes para o avanço do homem, como os instrumentos de navegação marítima e os sistemas algébricos, surgiram no Islã. Nos últimos séculos, contudo, os povos do ocidente conquistaram a supremacia das novas descobertas. O fundamentalismo muçulmano, contudo, é visto por muitos especialistas como enorme barreira ao avanço destes povos orientais. O Islã é um obstáculo para a democracia? Os especialistas se dividem em relação a esse assunto. Para muitos, a religião e cultura islâmica formou sociedades em que os princípios democráticos não ganham espaço nem atraem as pessoas. Quem acredita nessa linha de pensamento consideram que é inútil tentar impor regimes democráticos no Islã - a própria população não estaria disposta a abraçar a mudança. Mas outros analistas dizem que o islamismo não impede o florescimento da democracia, e que os países muçulmanos têm ditaduras e monarquias por causa de outros fatores. Seja qual for a explicação, o fato é que as democracias são raras no Islã: só a Indonésia, a Turquia e Bangladesh têm esse tipo de regime e mesmo assim, são democracias parciais.
Sharia É a lei religiosa do islamismo. Como o muçulmano não vê distinção entre o aspecto religioso e o resto da sua conduta pessoal, a lei islâmica não trata só de rituais e crenças, mas de todos os aspectos da vida cotidiana. É uma mistura de lei religiosa com lei civil, sendo esta subordinada àquela. O Afeganistão da época da milícia Talibã teve a mais dura e radical aplicação da sharia nos tempos modernos - proibia música e outras expressões culturais e esportivas, restringia gravemente todos os direitos das mulheres e ordenava punições bárbaras. A sharia, porém, é adotada formalmente numa minoria de países com grandes populações islâmicas.
Grupos Os muçulmanos estão divididos entre sunitas, o grupo majoritário, e xiitas, a minoria dentro da religião. Os sunitas formam o tronco principal da religião, ligado à interpretação mais aceita da história islâmica, e reúnem cerca de 90% dos muçulmanos no mundo. A diferença em relação ao Islã xiita é a aceitação à seqüência de califas da história islâmica. Sem características comuns entre si, os muçulmanos
sunitas incluem praticantes da religião em todas as partes do mundo e de todas as tendências, dos mais conservadores até os moderados e seculares. Os xiitas, que reúnem cerca de 10% dos muçulmanos, surgiram como movimento político de apoio a Ali e acabaram formando uma ramificação da religião islâmica. A dissidência surgiu quando os xiitas se uniram para apoiar Ali, primo de Maomé, como o herdeiro legítimo do poder no Islã após a morte do profeta, com base na suposta declaração de que ele era seu sucessor ideal. A evolução para uma fórmula religiosa diferente teria começado com o martírio de Husain, o filho mais novo de ali, no ano de 680, em Karbala (no atual Iraque). Os clérigos xiitas são os mulás e mujtahids, mas o clero não tem uma hierarquia formal. Os xiitas foram os responsáveis pela revolução islâmica do Irã, em 1979, e têm graves divergências com setores do islamismo sunita.
O Corão O livro sagrado dos muçulmanos reúne todas as revelações de Deus feitas ao profeta Maomé através do anjo Gabriel. No Corão estão instruções para a crença e a conduta do seguidor da religião - não fala apenas de fé, mas também de aspectos sociais e políticos. Corão foi escrito em árabe formal e, com o tempo, tornou-se de difícil entendimento. O complemento para sua leitura é a Sunna, coletânea de registros de discursos do profeta Maomé, geralmente em linguagem mais clara e fluente. Cada uma dessas mensagens tiradas dos discursos é conhecida como "hadith". Como os relatos foram de pessoas diferentes, há muitas divergências entre os registros de ensinamentos do profeta: cada um contava a mensagem da forma que o interessava. Além de contradições, as "hadith" provocaram também uma expansão dos conceitos do Islã, ao incorporar tradições e doutrinas sobre sociedade e justiça - aspecto importante na formação da cultura islâmica em geral, que não ficou restrita à religião.
Frases "Islã é a solução" Lema dos líderes e seguidores da Revolução Islâmica do Irã (1979)
"Se a carnificina que testemunhamos em 11 de setembro fosse típica da religião, e se o Islã realmente justificasse tal violência, seu crescimento e presença na Europa e nos EUA seria uma perspectiva aterradora. Felizmente, esse não é o caso." Karen Armstrong, escritora americana, autora de vários livros sobre a religião (2001)
"O clero e os fundamentalistas ensinam uma história errada do islã, olhando apenas para o autoritarismo e o militarismo do passado. Por que nunca falam no verso corânico que diz que a fé não tem valor se for imposta à força?" Tarik Ali, romancista paquistanês que reside na Inglaterra (2000)
"O Islã pode ser interpretado de várias formas. A pergunta talvez não seja o que o Islã fez com os muçulmanos, mas o que os muçulmanos fizeram com o
Islã." Bernard Lewis, pesquisador especializado em Oriente Médio (2003)
"Todas as religiões produziram terroristas, incluindo o cristianismo e o judaísmo. O extremismo islâmico é responsável, hoje, pela maioria dos atentados, e há várias razões para isso. Boa parte dos países muçulmanos é governada por regimes ditatoriais, que só fizeram aumentar o sentimento de frustração. É preciso lembrar que os EUA sempre preferiram apoiar esse tipo de governo." Jessica Stern, especialista americana em terrorismo (2003)
"Se as vozes moderadas do Islã não modernizarem sua cultura e sua fé, pode ser que os ‘Rushdies’ tenham de fazê-lo por elas." Salman Rushdie, escritor condenado à morte em 1989 pelos líderes do Irã por causa de seu livro Versos Satânicos, em artigo no The New York Times (2002)
"A esmagadora maioria da sociedade saudita apóia Osama bin Laden."
Saad al-Fagih, dirigente do Movimento por uma Reforma Islâmica na Arábia, um grupo de oposição à família real saudita com sede em Londres (2002)
"A elite intelectual nos países árabes não vê diferença entre os valores da democracia ocidental e os prescritos nos livros sagrados do Islã. Dignidade humana, império da lei e a limitação do poder do Estado estão claramente expostos no Corão."
Abdulwahab Alkebsi, diretor executivo do Centro para Estudos do Islã e a Democracia e pregador da moderação no Oriente Médio (2003)
"A comunidade muçulmana precisa decidir se quer fazer as pazes com a modernidade." Francis Fukuyama, historiador americano (2002)
"A força do Islã está no fato de que é uma religião extremamente acessível. Não há hierarquia, a fé pode ser praticada em qualquer lugar e não exige muito engajamento de seus adeptos." Frei Betto, dominicano brasileiro, na época em que o Islamismo tornou-se a religião mais praticada do mundo (1999)
"A despolitização do Islã é a urtiga que todas as sociedades muçulmanas terão de agarrar com as mãos para poder se tornar modernas." Salman Rushdie, escritor, para quem a grande questão levantada pela guerra ao terror é o Islã (2001)
Guia • Akhirah: Crença na vida após a morte, parte importante da fé islâmica • Alá Akbar: "Deus é grande" • Alá: Palavra que significa "Deus" em árabe (não é o nome de um deus diferente dos outros) • Azan: Convocação à oração dos muçulmanos • Caaba: Construção rochosa localizada no centro da grande mesquita de Meca e ponto focal das orações muçulmanas. Teria sido erguida por Abraão • Cinco pilares do Islã: As obrigações que o muçulmano deve cumprir para seguir sua fé • Corão: O livro sagrado do Islã, com as revelações de Deus ao profeta Maomé
• Hégira: A migração de Maomé e seus seguidores de Meca para Medina, para escapar da perseguição às suas crenças. A migração inaugura o islamismo é marca o início de seu calendário • Hijab: Traje típico islâmico usado pelas mulheres para "proteger sua modéstia", como manda o Corão. Seu tamanho varia de acordo com as tradições regionais • Imã: Professor, clérigo ou figura que lidera uma oração muçulmana • Islã: Conjunto dos povos de civilização islâmica, que professam o islamismo. Significa "rendição" ou "submissão" em árabe • Islamismo: A religião dos muçulmanos • Jihad: A luta e o esforço de um seguidor da religião para viver a fé islâmica da melhor forma possível e defender o Islã, mesmo que isso signifique o uso da força • Meca: Cidade sagrada do islamismo, onde Maomé nasceu e para onde retornou depois de fundar o islamismo • Medina: A segunda cidade sagrada do islamismo, para onde Maomé fugiu quando foi perseguido • Mesquita: Local onde os muçulmanos fazem suas orações em conjunto • Minaret: A torre da mesquita, de onde é feita a convocação para as orações • Muezzin: O religioso que convoca os muçulmanos para as orações • Ramadã: Mês sagrado dos muçulmanos • Sharia: Conjunto de leis islâmicas, tratando de costumes e da vida em sociedade • Sufismo: Movimento místico dentro do islamismo • Sunita: O principal tronco da religião, concentrando 90% dos muçulmanos • Xiita: O segundo maior grupo dentro da religião, concentrando 10% dos muçulmanos • Zakat: Doação anual de parte das riquezas acumuladas por um muçulmano copyright © Editora Abril S.A.