Perfil

  • November 2019
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  • Words: 895
  • Pages: 4
PERFIL “Primeiro dia de aula, os alunos estavam um tanto ansiosos, o segundo grau sempre causa um pouco de nervosismo para os estreantes, os dois primeiros períodos eram comigo, eu só tinha visto aqueles rostinhos pelos corredores da escola, também estava um tanto inquieto, mas é normal. Entrei na sala, olhei para eles, eles me olharam desconfiados; resolvi brincar um pouco como de costume... – Bom dia turma, meu nome é Cédio... isso mesmo, Cédio, não assédio! Todos riram, gelo quebrado, tudo ficava mais fácil assim.” Esse é o ex-professor de História Cédio Antonio Pinheiro Brigoni, de 66 anos. Figura naturalmente irreverente, brincalhona e simpática. Se a primeira impressão é a que fica, ele levou durante todo sua vida essa idéia na cabeça e a mantêm com um sucesso perceptível. Presenciar essas demonstrações de carinho e simpatia de sua parte não foi difícil, bastou uma única volta na rua onde mora para perceber o quanto ele é apreciado por todos; foram três ou quatro pessoas que o pararam para cumprimentar de uma forma muito afetiva e próxima. O professor, como ainda é chamado por quase todos, apesar da idade, é um senhor um tanto conservado, cabelos grisalhos e sempre bem arrumado, ele mesmo diz que sempre foi vaidoso e galanteador. Prova disso é o jeito com que ele trata uma senhora, a qual deve estar beirando seus 80 e poucos anos. Ela toda manhã toma seu chimarrão na varanda da sua casa, que fica bem próxima a do professor. Passávamos por lá logo cedo quando, muito sorridente, ela abanou para seu “amor”, é assim que ela chama Cédio. Ele não somente abanou de volta, como também se abaixou e pegou uma pequena flor que crescia perto de um muro próximo, e levou até dona Rosalinda. Diz ela que já teria feito um jardim com todas as flores que já recebeu de seu amor, se essas não murchassem com o tempo. Mas apesar de todo seu charme aparente, o professor se diz fiel a uma única mulher. Fátima e ele são casados há 36 anos e tem dois filhos. Conheceram-se na época em que ele cursava História na UFRGS, logo que veio para Porto Alegre. Natural de Pelotas, começou a dar aulas quando ainda morava no interior; mas pouco tempo depois, veio para a capital estudar história, sua grande paixão. Nos tempos de estudo, trabalhou numa sapataria durante alguns meses, depois conseguiu um emprego numa livraria, já não existente, onde

ficou até finalizar seu curso. Foi chamado para dar aulas na Escola Municipal Humberto de Campos, em Viamão, para onde se mudou e vive até hoje. Quando já dava aulas na Escola Farroupilha, também em Viamão, lecionou para seus dois filhos. O mais velho, Renato, de 35 anos, diz que foi um privilégio ter aulas com seu pai, não porque achava mais fácil ter o professor em casa, muito pelo contrario, já que era exigido em casa e na escola, sem nunca ter tido nenhum tipo de regalia, mas mesmo assim, fala que aprendeu de mais com seu pai e professor. Também conta que nunca se sentiu tratado de maneiras diferentes na escola e em casa, pois seu pai sempre tratou os alunos como filhos. O professor Cédio é aposentado desde 2005, e desde então se dedica a uma causa nobre e histórica para a cidade de Viamão, fato que o marca como um líder comunitário. Morador da Lomba Tarumã, o professor conduz, já há alguns anos, um projeto de conservação das Trincheiras Farroupilha, marco histórico da colonização da cidade. O local serviu de refúgio para as tropas de Bento Gonçalves e Onofre Pires, no famoso cerco a Porto Alegre, durante a Revolução Farroupilha. O professor Cédio conta que por ser morador próximo das Trincheiras, mas principalmente pelo fato de ser educador de história, sabe da importância que esse local tem para a identidade do município e do estado. Por muito tempo os moradores da região se resignaram quanto à conservação do local, depositando lixo e outras coisas; o terreno era tratado como qualquer outro, sem nenhum tipo de cuidado especial. Depois de uma visita feita por ele e um grupo de alunos, com fins educativos sobre a região, o professor conta que ficou envergonhado de mostrar aquilo para seus alunos, tamanho era o descaso. Foi então que iniciou um projeto de conscientização dos moradores, com auxílio de dois alunos voluntários, com intuito de informar e formar os cidadãos mais próximos, para que juntos pudessem preservar a área. Entrou com um pedido na prefeitura de Viamão e na secretaria da Cultura para que fosse feita a limpeza do local, e a restauração do monumento que fica no centro das Trincheiras em homenagem aos heróis farroupilha, implantado em 1935. O empenho do professor deu uma nova cara para um dos marcos da cidade. Hoje o local está limpo e o monumento está restaurado. Cédio Antonio Pinheiro Brigoni, nunca teve seu nome relacionado com preservação das Trincheiras, exceto pelos moradores locais

e por seus alunos, o que para ele é o mais importante, já que durante todos os seus anos de educador, foi por eles que se dedicou ao máximo para fazer um bom trabalho.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO

TEXTO EM JORNALISMO GRÁFICO

Prof: Vitor Necchi Aluno: Tiago Oliveira Vasques Turma: 369

Porto Alegre, 26 de maio de 2008.

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