É LÓGICO! Você já leu alguma aventura de Sherlock Holmes, o personagem criado por Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930)? Ou assistiu a algum filme baseado em suas histórias? Sherlock Holmes é um detetive que resolve seus casos usando a dedução, uma ferramenta lógica muito poderosa. Sherlock sempre relata em detalhes a seu parceiro, dr. Watson, as observações que fez e os indícios que encontrou, com base nos quais chegou a uma conclusão, muitas vezes surpreendente. Embora, na realidade, não apareça nas histórias de Conan Doyle, a frase "Elementar, meu caro Watson..." tornou-se muito famosa como introdução a essa explicação. Já na série de ficção científica norte-americana dos anos 1960 )ornac/a nas estrelas, que foi depois adaptada em vários filmes para o cinema, há outro personagem inquietante, o sr. Spock. Nascido no planeta Vulcano, filho de pai Vulcano e mãe humana, Spock foi criado nesse local, onde todos são muito racionais e não possuem emoções como os seres humanos. Cenas memoráveis da série mostram as relações entre o passional capitão Kirk, o líder da nave Enterprise, e o racional sr. Spock, seu tenente encarregado pela área científica. Tais cenas são uma excelente metáfora para o conflito humano entre a emoção e a razão. Sr. Spock é a encarnação do pensamento lógico. A lógica é a área de filosofia que estuda os modos de operação do pensamento correto. A palavra lógica deriva do termo grego lagos, o qual inicialmente a designava, passando depois a significar o pensamento, a razão. Os primeiros estudos sobre lógica foram feitos por Aristóteles, no século IV a.C. Os estudiosos posteriores de sua obra chamaram de Organon (órgão) o conjunto de textos em que o filósofo analisa os modos, os meios de organização do pensamento. Apenas séculos mais tarde a lógica seria denominada como lógica aristotélica ou lógica formal. Hoje se trabalha com vários tipos de lógica, como a simbólica, a matemática, a computacional, dentre muitas outras. Note, então, que a lógica não é o próprio pensamento, mas o estudo das formas de pensar corretamente, evitando que erremos, que sejamos enganados por falsas afirmações. Todo pensamento tem seus modos de operação. Mesmo sem refletir sobre isso, todos nós pensamos logicamente. "É lógico!": eis uma expressão que usamos para designar aquilo que parece ser evidente. Ao longo dos próximos capítulos, você encontrará informações sobre essa área da filosofia e, ao final de cada Unidade, alguns exercícios lógicos que vão ajudar a pensar melhor, a usar corretamente as várias ferramentas do pensamento.
CAPÍTULO
1 i F i l o s o f i a : o que é isso? (
É LÓGICOÍ Você viu anteriormente que a lógica é o campo da filosofia que estuda as formas do pensamento correto. Todos nós pensamos logicamente. Todos nós praticamos a lógica, ainda que não nos dediquemos a seu estudo. Nesta seção aos poucos você perceberá que usa a lógica todo o tempo, mesmo que faça isso sem perceber. Por exemplo, quando quer convencer um amigo de que seu time de futebol é melhor do que o dele, ou quando quer convencer seus pais ou responsáveis a permitirem que você faça alguma coisa, como faz isso? Em geral, usamos argumentos. Dizemos que o craque de nosso time faz mais gois do que a média dos atacantes, que seus passes são precisos, que seu futebol é bonito e eficiente e que tudo isso contribui para fazer com que nosso time do coração seja muito bom. Ou, conversando com os pais ou responsáveis, enumera como é legal aquilo que você pretende fazer, que fará na companhia de seus amigos que eles conhecem bem e nos quais eles confiam, que não há perigo naquilo que será feito e que você voltará em segurança, etc. A argumentação é uma das principais ferramentas do pensamento e do discurso quando queremos chegar a um objetivo, principalmente quando o convencimento de outras pessoas é necessário para isso. O que a lógica nos mostra é que todos os argumentos são compostos de proposições, isto é, algo que pode ser afirmado ou negado. Exemplos: "O jogador x é um craque!"; "Há um ponto de ônibus na porta"; etc. Todas essas afirmações podem ser confirmadas ou refutadas, essa é a característica central de uma proposição. Quando argumentamos, encadeamos proposições, levando-nos a conclusões. Exemplos: "o jogador x é um craque, ele é um dos destaques do timey, logo o time é muito bom". "Vou sair com meus amigos para ir a uma festa; há um ponto de ônibus na porta do local, portanto é rápido e seguro chegar até lá". Percebe que você está o tempo todo lidando com proposições ou argumentos? Às vezes você os usa, outras vezes eles são usados para convencer você. Mas argumentos podem ser válidos ou inválidos, na medida em que são constituídos por proposições que podem ser verdadeiras ou falsas... E é isso que a lógica nos ajuda a identificar, como veremos nos capítulos seguintes.
C A P Í T U L O 2 j F i l o s o f i a e o u t r a s f o r m a s de pensar
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É LÓGICO!
Como vimos anteriormente, lidamos o tempo todoeom argumentos, que são formados por proposições que, por sua vez, podem ser verdadeiras ou falsas. Quantas vezes não somos enganados por um argumento que parece correto e depois percebemos que não era? Será possível distinguir entre argumentos válidos e argumentos inválidos? Essa é uma das coisas que a lógica nos ensina. As proposições sempre dizem respeito a alguma coisa. Por isso podem ser verdadeiras, quando correspondem àquilo que afirmam, ou falsas, quando essa correspondência não existe. Isso fica fácil de entender no caso de proposições que dizem respeito a fatos. Por exemplo, quando dizemos que há um ponto de ônibus em frente ao local aonde vamos, este é um fato que pode ser verificado. Se, de fato, o ônibus parar ali, a proposição é considerada verdadeira; se o ônibus parar apenas no quarteirão seguinte, a proposição será considerada falsa. Outro exemplo: "O sol está brilhando" é uma proposição que pode ser facilmente constatada e podemos verificar se ê verdadeira ou falsa. A este tipo de proposição chamamos juízo de fato, porque se refere a fatos concretos. Já no caso do outro exemplo que demos no capítulo anterior, sobre o jogador de futebol, as coisas ficam mais complicadas. É que, quando afirmamos que "o jogador x é um craque", estamos fazendo uma avaliação de suas qualidades. Isso é verdadeiro ou não? Depende de quem avalia... É como dizer que um quadro é bonito ou como dizer que um filme é interessante - nem todos concordam. A esse tipo de proposição chamamos Juízo de valor, porque a afirmação está baseada em uma avaliação pessoal. A verdade da proposição, nesse caso, não é objetiva: não é como olharmos pela janela para ver se, de fato, o sol está brilhando. A verdade é "subjetiva", depende do sujeito que a avalia: alguns considerarão verdadeira a afirmação de que "x é um craque", mas outros poderão discordar dela, dizendo ser falsa. Se as proposições podem ser verificadas como verdadeiras ou falsas pela sua relação com os fatos, os argumentos, por sua vez, precisam ser validados. O que a lógica nos ensina é que às vezes um argumento, mesmo constituído por proposições verdadeiras, pode não ser válido. Ele tem toda a aparência de ser correto, mas nos engana. Como será isso? Veremos nos capítulos seguintes.
UNIDADE 1
Como
pensamos?
Elementar, meu caro. Depois de aprender um pouco sobre lógica nesta Unidade, vamos começar a exercitar o uso das ferramentas de pensamento. Você verá como um pouco de treino ajuda bastante a pensar de forma mais organizada. Agora vamos "brincar" com um dos mais clássicos jogos usados para exercitar o pensamento. A versão apresentada abaixo foi traduzida e adaptada de uma publicação on-line na seção "Tu cérebro y tú" do jornal espanhol El País. Em uma ilha há 100 habitantes, sendo que todos eles possuem olhos azuis ou olhos castanhos. Todos veem a cor dos olhos dos outros, mas não a cor de seus próprios olhos, uma vez que não há espelhos na ilha. Eles estão proibidos de falar nesse assunto. E mais ainda: uma lei estabelece que, se alguém descobre que tem olhos azuis, precisará abandonar a ilha até as 8h da manhã do dia seguinte. Todos os habitantes da ilha são capazes igualmente de raciocinar e todos são capazes de usar impecavelmente a lógica. Certo dia, chega à ilha um visitante e, ao olhar para todos os habitantes, diz, sem apontar nenhum deles: "Puxa, que bom que é ver pelo menos uma pessoa com olhos azuis depois de passar tanto tempo em alto-marl". Disponível em: . Acesso em: 30 jan. 2016.
• Que consequências este comentário trouxe para os habitantes da ilha? Argumente para justificar sua resposta.