“PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL – 3ª EDIÇÃO”
SÉRIES/ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
GIBITECA NA ESCOLA (MG)
2 SUMÁRIO
1 – Projeto Gibiteca na escola
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2 – Objetivos da experiência
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3 – O gibi e o estímulo à leitura – descrição da experiência
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4 – Contextualização
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5 – Justificativa
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6 – Resultados
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7 – Avaliação
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8 - Anexos 8.1 – Fotos 8.2 - Notícias na internet 8.3 - Reportagens publicadas em jornais e revistas 8.4 - Textos apresentados em congressos e publicados em revistas, fruto do trabalho realizado com quadrinhos. 8.5 – CD-Room do I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino (cópia) 8.6 – DVD do II Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino (cópia)
15 22 26 30
3 1 – Projeto Gibiteca na escola A idéia de montar uma gibiteca na escola e transformá-la em um grande projeto interdisciplinar nasceu no segundo semestre de 2006, na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, que se localiza na periferia da cidade de Leopoldina (MG). Uma gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias em Quadrinhos, que pode ser público ou não. Nas gibitecas, os leitores têm acesso a uma enorme variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.) e nelas esse tipo de material literário pode receber um tratamento apropriado, que inclui a conservação de exemplares, de publicação recente, ou aqueles considerados raros. Na Gibiteca Escolar, alunos e professores têm acesso a um acervo diversificado de HQ’s (como chamamos as revistas de Histórias em Quadrinhos). Os alunos e professores podem fazer empréstimos de HQ’s ou mesmo usar o local como espaço para leitura. Assim como os alunos, os professores são incentivados a ler mais: o professor leitor estimula o aluno a ler. No Projeto Gibiteca na Escola, estamos trabalhando todos os conteúdos. Partimos da idéia de que se pode utilizar HQs em todas as aulas, em todas as séries, independente da idade do aluno. Os professores são estimulados a conhecerem cada vez mais o universo dos quadrinhos para que, desta forma, eles possam compreender melhor o próprio universo dos seus alunos/leitores e, ao mesmo tempo, ter mais segurança para usar este material na sala de aula. O Projeto Gibiteca também trabalha positivamente a auto-estima de professores e alunos, mostrando que mesmo escolas com poucos recursos podem oferecer grandes oportunidades e estimular todos a sonharem com um futuro bem mais promissor. Ter uma gibiteca numa sala de aula não é uma novidade, mas ter uma gibiteca em uma escola, com espaço próprio e com autonomia para desenvolver pequenos projetos escolares é o que faz do nosso empreendimento um diferencial, tanto na escola, quanto na nossa cidade. Temos um acervo variado, com cerca de 3300 exemplares, superando acervos existentes em bibliotecas e gibitecas públicas de outras partes do Brasil.
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2 – Objetivos da experiência Nosso projeto começou com um objetivo bem simples: estimular a leitura entre os alunos do Ensino Fundamental. Com o tempo, outros objetivos foram sendo incorporados, dada à proporção que o projeto alcançou: ● formar leitores críticos e criativos; ● promover atividades escolares relacionadas à leitura e ao ensino, destinadas aos alunos e professores da escola e da rede municipal de ensino; ● promover o voluntariado entre os membros da comunidade escolar; ● divulgar os trabalhos desenvolvidos na escola, intermediados ou promovidos pela gibiteca.
5 3 – O gibi e o estímulo à aprendizagem – descrição da experiência A Gibiteca foi inaugurada em 11 de maio de 2007, mas, mesmo antes da inauguração, professores e alunos já estavam envolvidos no projeto. Foi graças ao trabalho voluntário dos alunos que foi possível preparar o espaço. Os nossos alunos do 9º ano ajudaram a limpar a sala onde foi instalada, até então um depósito de livros velhos e mobiliário quebrado. Na sala limpa e com prateleiras montadas, eles ajudaram na separação e seleção das revistas em quadrinhos que foram doadas para nossa escola. Os doadores de HQs foram colecionadores de várias cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Juiz de Fora e, claro, de Leopoldina. Editoras, como a Pixel e a Escala Educacional, também acreditaram e investiram na nossa idéia. O acervo inicial contava com 1387 revistas. Hoje, continuamos recebendo doações de várias fontes diferentes, mas há um interesse maior da comunidade, e os próprios alunos, mesmo sem poder de compra – somos uma comunidade carente – conseguem doações. Tudo é aproveitado. Fazemos capas novas, transformamos pedaços de revistas em revistas inteiras e aquilo que não pode ser reformado é usado pelos nossos professores das séries iniciais para trabalhinhos com os alunos menores. A gibiteca atende a toda a escola, mas tem seu trabalho voltado especialmente para as séries avançadas do ensino fundamental. A justificativa para isto é bem simples: os professores das séries iniciais já usam quadrinhos. Nas séries avançadas, os quadrinhos não eram explorados, algumas vezes por preconceito, outras por desinformação. Os alunos do 8º e 9º ano já não tinham mais tanto interesse por este ou qualquer outro tipo de leitura. Então, quebrar esta resistência se tornou uma forma de ampliar as possibilidades de trabalho dentro da escola. Envolvemos os alunos mais velhos no trabalho de voluntariado. Em turnos alternados, eles vão à escola, ajudam a organizar os empréstimos e fazem trabalhos com alunos menores, das séries iniciais e da educação infantil. Eles aprendem e passam seu conhecimento para os menores. São, também, exemplos para seus colegas. Notamos que estes alunos envolvidos com o voluntariado têm tido um rendimento melhor na escola e começaram a fazer planos para seu futuro, como pensar fazer o ensino médio e um curso universitário. Eles também passaram a ler mais e a produzir contos, roteiros e, em breve, teremos nossas primeiras revistas em quadrinhos amadoras (fanzines). O interesse em desenvolver atividades com quadrinhos aumentou com a realização do nosso I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e ensino, em maio de 2007, uma semana depois da inauguração da Gibiteca. O Seminário foi promovido graças ao apoio da Secretaria Municipal de Educação e contou com a presença de 230 professores. Após o seminário, o número de professores interessados em desenvolver atividades com quadrinhos aumentou consideravelmente. No ano de 2008, em junho, fizemos um II Seminário, com número de 260 professores. Estas iniciativas da gibiteca tiveram apoio dos professores, que passaram a ter na Gibiteca um diferencial para nossa escola. Com efeito, a autoestima dos professores aumentou, assim com a de nossos alunos. Também desenvolvemos oficina de quadrinhos com alunos e professores. As oficinas para professores foram feitas na própria gibiteca por mim (coordenadora do
6 projeto). Já as oficinas para os alunos foram realizadas em horários alternados (extra-turno), e ministradas por um quadrinista, em trabalho voluntário. Para os alunos foram disponibilizadas 40 vagas, sendo todas preenchidas. Entre os professores, tivemos várias experiências com quadrinhos que deram certo. A professora Roseane Peres Rocha decidiu tornar as avaliações de matemática mais interessantes para os alunos da 6º ano do Ensino Fundamental. Ela utiliza tirinhas da Turma da Mônica para montar problemas matemáticos desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Para a professora, o uso dos quadrinhos nas atividades desperta a atenção dos alunos que, inclusive, preocupam-se com pequenos detalhes quando preenchem os balões: "Eles colocam a fala errada do Cebolinha e sublinham as palavras que estão erradas”. Uma vez que os resultados foram positivos, a professora tem se interessado em buscar outras formas de usar quadrinhos no ensino da matemática. Para isso, uma ferramenta importante está sendo a Internet, onde ela recolhe o material que usa para montar suas avaliações. Outra professora que investiu nos quadrinhos foi Mary Ângela Carraro Dibo, que trabalha com a disciplina língua portuguesa. Preocupada com os péssimos resultados dos alunos do 7º ano, nas primeiras avaliações do 2º bimestre de 2007 – notadamente erros de ortografia e interpretação – a professora decidiu mudar a rotina das suas aulas. Uma vez por semana, dividia os alunos em dois grupos. Uma metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à Gibiteca, sendo que em cada semana os grupos se alternam. Lá os alunos faziam uma aula de leitura livre. O resultado foi uma melhora no desempenho dos alunos nas aulas e nas avaliações. A professora já trabalhava com quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades. Usando tirinhas do Snoopy – personagem de Charles Schulz –, ela propõe exercícios que misturam desde questões gramaticais à interpretação. Em 2008, Dibo continua investindo nos momentos de leitura na Gibiteca, agora com alunos do EJA (educação para Jovens e Adultos) que freqüentam o turno da noite na escola. Na primeira experiência este ano com os alunos do noturno, a professora relatou em um bilhete deixado no mural da Gibiteca que "os alunos pareciam crianças num parque de diversões (tipo Beto Carreiro). A Natalina ajeitou-se na maior almofada. O Átila ficou esticado no tapete, ora lendo, ora admirando as pinturas. Foi emocionante!” Outra disciplina que está se interessando pelos quadrinhos é a educação física. A professora Milene Guerra Basile Chavier está produzindo material didático para alunos de 6º a 9º anos utilizando HQ´s. A educação física é uma disciplina que envolve esporte e atividades lúdicas. O tema Olimpíadas, por exemplo, trabalhamos em parceria. Eu – nas aulas de história – montei uma apostila onde contava a história das olimpíadas usando os quadrinhos como referência; ela usou os quadrinhos da turma da Mônica para trabalhar as diversas modalidades esportivas. Nas aulas de ciências e de geografia, os professores estão fazendo pequenas oficinas de quadrinhos para trabalhar temas diversos, como meio-ambiente, formações geológicas, etc. Para divulgar o trabalho que estamos fazendo, criamos um blog (www.gibitecacom.blogspot.com), que de março de 2007 a setembro de 2008, recebeu mais de 64 mil visitantes, do Brasil e de vários outros países (notadamente países africanos, Portugal, França, Japão, Estados Unidos e França). No blog, nós divulgamos as experiências com leitura realizadas na escola, eventos
7 relacionados à leitura, educação e quadrinhos, textos e dicas sobre como usar quadrinhos na sala de aula. O blog é importante para divulgar nossas idéias e também nos permite efetuar intercâmbio com outros profissionais, espalhados por todo o Brasil. Muito além da leitura, muito mais do que um espaço físico, com prateleiras e caixas cheias de revistas em quadrinhos, a Gibiteca representa uma mudança de mentalidade, uma mudança na forma de se elaborar avaliações, de preparar aulas, de trabalhar em equipe. O projeto gibiteca tem estimulado professores a compartilharem saberes, a dividirem idéias e a se valorizarem enquanto profissionais do ensino. A cada artigo publicado, a cada comentário feito em rádio ou jornal impresso sobre o projeto, mais os professores se sentem sujeitos do processo educativo, mais ativos, mais valorizados.
8 4 –Contextualização A Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado localiza-se no Bairro Bela Vista, na cidade de Leopoldina, Minas Gerais. Trata-se de um bairro de periferia onde encontramos muitas famílias com baixa renda, sendo comum o número de filhos ultrapassar o número de quatro crianças. Nossa escola é uma escola com poucos recursos e onde o problema da leitura e da escrita é muito grave. Nossos alunos vêm de realidades diversas, muitos de famílias desestruturadas, pobres e sem condições de ter livros ou mesmo revistas em quadrinhos em casa. Alguns vêm da zona rural e não têm acesso à biblioteca. Incentivar a leitura na escola é uma forma de não excluí-los. Muitos destes alunos vivem em risco social, vêm de famílias desestruturadas e necessitam de uma atenção maior dos professores. Nossos professores fazem, por vezes, o papel de um assistente social. Mães, pais, tios e avós de nossos alunos nos procuram em busca de apoio emocional. Por mais de uma vez a escola se uniu para arrecadar alimentos para famílias de alunos que passavam por momentos de necessidade. Nossa aposta nos quadrinhos como forma de introduzir a leitura e de ajudar na aprendizagem dos diversos conteúdos escolares é uma resposta às dificuldades que o ensino atravessa atualmente. A Gibiteca é a nossa resposta, também, às dificuldade enfrentadas no meio social em que a escola está inserida. Mas mesmo com pouco espaço e com o prédio necessitando de reparos, o projeto de se criar uma gibiteca foi muito bem aceito pelos professores da nossa escola. É claro, alguns se sentiram incomodados em ter que rever alguns de seus hábitos antigos de ensino; outros sentiram-se motivados e desafiados. O importante é que o projeto trouxe algo de novo: uma maior participação da comunidade escolar. Alunos, professores e pais de alunos entendem a gibiteca como um ganho, uma vitória para a comunidade. A gibiteca se tornou um ambiente de inclusão. A escola pública não exclui por incompetência intelectual, mas porque faz parte da sua constituição. Nossa escola foi concebida como um instrumento de força, de poder pelas nossas elites. Talvez não possamos nunca romper totalmente com esse paradigma, mas creio que podemos fazer da escola igualmente um espaço de reação, através de um ensino voltado para o desenvolvimento e valorização do indivíduo, do sujeito histórico. É possível transformar, mudar esse quadro de exclusão ou, na pior das hipóteses, tentar minimizá-lo. Acreditamos que a leitura é uma ponte para esta transformação.
9 5 – Justificativa Há algum tempo, o papel do professor das séries finais do ensino fundamental era limitado a desenvolver o conteúdo com o qual trabalhava na sala de aula – história, geografia, matemática, ciências, etc. –, sem se preocupar com algo fundamental: a leitura e a interpretação. Estas eram habilidades que deveriam se desenvolvidas tão somente nas aulas de português e literatura. No entanto, temos hoje uma realidade muito mais complexa: nossas crianças e jovens lêem pouco e geralmente são incapazes de compreender o que estão lendo. Estimular a leitura e a escrita é a melhor forma de se obter bons resultados no ensino. Saber ler e escrever não é simplesmente o ato mecânico de juntar sílabas e emitir sons. A leitura é uma atividade complexa que exige do leitor a capacidade de interpretar o texto; de identificar e compreender o contexto no qual ele está inserido; de identificar idéias e signos nele contidos. Entendemos que a leitura é a chave para o desenvolvimento do aluno na escola. Através da leitura, ele aprende a interpretar melhor o mundo em que vive e a despertar a imaginação e a criatividade. Um aluno/leitor compreende melhor os conceitos abstratos com os quais tem que lidar na sala de aula. Esta habilidade deve ser desenvolvida durante todo o Ensino Fundamental e mesmo no Ensino Médio. As HQ’s são capazes de promover a interdisciplinaridade entre os diversos conteúdos curriculares, ajudam a promover a prática da leitura e aproximam as crianças de outros tipos de arte, como as artes plásticas, o teatro e a música, além, é claro, de serem importantes no processo de alfabetização. As histórias em quadrinhos são, portanto, uma excelente fonte de trabalho e pesquisa para todos os educadores. As histórias em quadrinhos possuem potencialidade pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, podendo ser aproveitadas nas aulas de Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática, Ciências, Arte, de maneira interdisciplinar, fazendo com que o aprendizado se torne, ao mesmo tempo, mais reflexivo e prazeroso em nossas salas de aula. Embora não sejam consideradas por alguns especialistas uma forma de literatura, as HQs são um tipo de leitura que se popularizou no Brasil e em todo o mundo no último século. A comunhão entre imagem e texto torna sua leitura mais agradável, além de ajudar as crianças, e mesmo os leitores mais velhos, a desenvolverem habilidades de interpretação bem avançadas, uma vez que não se interpreta apenas os símbolos gráficos, mas também as imagens. Outra vantagem das HQs é o fato de poderem ser adaptadas a todos os conteúdos, mesmo aqueles aparentemente improváveis, como matemática, física ou química. O hábito da leitura de quadrinhos, além de ser saudável, pode estimular o prazer pela leitura. Em geral são os maus leitores que criticam as histórias em quadrinhos. Segundo DJota Carvalho, várias pesquisas sobre a relação entre quadrinhos e educação já foram realizadas. Uma delas encomendada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2001, comprovou que: “... alunos que lêem gibis têm melhor desempenho escolar do que aqueles que usam apenas o livro didático – entre os estudantes da 4ª série da rede pública, a HQ aumenta significativamente a performance do aluno: entre os que acompanham quadrinhos, o percentual das melhores notas nas provas
10 aplicadas foi de 17,1%, contra 9,9% entre os que não lêem. Mais ainda, esta pesquisa mostra que professores que lêem revistas em quadrinhos obtêm melhor rendimento dos alunos, pois conhecem melhor o universo dos estudantes e se aproximam deles usando exemplos deste universo como paradigma para as aulas. A pesquisa mostra , entre outras coisas, que , entre os alunos da 4ª série cujos professores lêem HQs, a proficiência em leitura é mais alta do que entre aqueles cujos professores não têm o hábito de ler gibis. Na rede pública, 36% dos alunos de leitores de gibis têm proficiência média alta e alta, contra 31,5% dos que não lêem.”1 A existência de uma gibiteca na escola permite que os professores possam ter acesso a uma gama diversificada de material, em quadrinhos. Possuímos não apenas quadrinhos populares, como de super-heróis, Turma da Mônica, Disney, etc. Nosso acervo tem raridade das décadas de 1960 e 1970, além de adaptações de obras literárias, como livros de Machado de Assis, Aloísio de Azevedo, Lima Barreto e clássicos da literatura mundial, como a Odisséia e Dom Quixote. Temos uma boa quantidade de revistas em quadrinhos em inglês, que são usadas pelos nossos professores para facilitar a aprendizagem deste idioma. Com estes quadrinhos, eles têm incontáveis possibilidades de trabalho, em vários conteúdos, podendo, inclusive, desenvolverem tarefas interdisciplinares. O próprio Ministério da Educação incentiva a formação de gibitecas e a leitura de HQs nas escolas, prova disto é que, em 2007, cerca de 7,5 milhões de livros de HQs foram distribuídos pelo MEC, através do Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE), em escolas públicas. Para 2008, novos títulos estão sendo escolhidos para terem o mesmo destino: as escolas públicas. O PNBE - Programa Nacional Biblioteca da Escola, que desde 1997 incentiva a leitura e o acesso à cultura por meio da aquisição de diversas obras publicadas Brasil afora. Ao incluir livros em quadrinhos e de imagens no PNBE, o MEC está oferecendo aos estudantes a opção de outras formas gráficas para se contar uma história. O jovem de hoje é muito ligado ao visual e as histórias em quadrinhos são atraentes pelos desenhos e pela liberdade de criação. Os quadrinhos, do ponto de vista do governo, são vistos como uma ferramenta mais atraente para estimular a leitura.2 Reproduzindo contextos da realidade e valores culturais, são as histórias em quadrinhos que oferecem a oportunidade para as crianças, desde cedo, ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua imaginação. As HQ e as tirinhas tornam o ensino mais lúdico e menos árido. De acordo com Octavio Aragão, os gibis não servem apenas como introdução à leitura. Os leitores de quadrinhos tendem a desenvolver uma percepção mais aguçada e uma associação de informações complementares com maior eficiência e rapidez, pelo fato de cruzarem referenciais e códigos de fontes diferentes em apenas um contexto. O leitor aprimora a acuidade visual e estabelece rápida associação de idéias 3.
1
CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. Campinas/SP: Papirus, 2006. p. 38-39. Disponível em: http://gibitecacom.blogspot.com/2007/09/mec-prepara-nova-remessa-dequadrinhos.html, capturado em 30 de setembro de 2007. 3 Disponível em: http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal26/jornalUFRJ2622.pdf, capturado em: 04 de agosto de 2007. 2
11 Um outro ponto positivo para os quadrinhos é que sua leitura pode ser realizada de uma forma diferente da do livro. Há uma grande probabilidade de que uma HQ seja lida e relida várias vezes. Esta releitura geralmente obedece a ritmos diferentes, tornando-se, em geral, mais lenta e presa aos detalhes. O estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da leitura. Usar os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado a exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As HQ’s ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de aula. A informação, quando transformada em História em quadrinhos, é compreendida numa velocidade maior, tanto que é cada vez mais freqüente o uso de tirinhas ou fragmentos de histórias em quadrinhos em livros didáticos. As Histórias em Quadrinhos são indicadas como ferramentas didáticas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 2001), constituindo uma forma lúdica de estimular e aprimorar a formação das crianças, pelo fato de ser uma mídia com características únicas que mesclam imagens, textos, a interação entre esses elementos e, sobretudo, a interação com o leitor, que não precisa, necessariamente, ser hábil em leitura para ser atingido por elas. Isso provavelmente se dá porque as Histórias em Quadrinhos utilizam símbolos convencionais para expressar sentimentos, efeitos de ações e emoções.4 É claro que os problemas do ensino não vão se resolver com o uso dos quadrinhos. O trabalho com a leitura é gradativo e se dá um passo de cada vez. Cada aluno tem seu tempo de aprender e não são as necessidades ou as imposições de metas que irão mudar isto. No entanto, este aprendizado pode receber um estímulo a mais através dos quadrinhos. Citando Cabrini: “Não temos uma fórmula mágica, uma solução pronta sobre o conteúdo a ensinar, mas sim uma proposta de como trabalhá-lo. O conteúdo que você irá desenvolver na sua classe, ou seja, o seu objetivo de estudo, só pode ser determinado por você, em sua atividade profissional concreta, a partir dos dados da realidade da sua escola, seu período letivo, seus alunos...”5 A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Por outro lado, ela também age diretamente na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais valor ao seu trabalho e a se sentirem também valorizados. O professor redescobre o prazer da leitura e, também, o prazer de ser um profissional do ensino, um educador. No mais, nosso projeto se justifica a partir do momento em que representa uma busca por um ensino de mais qualidade, através do incentivo à leitura, que começa pelos quadrinhos e que pode ajudar nossos alunos, dos mais jovens aos mais velhos a descobrir o caminho das bibliotecas. Grandes figuras da nossa história, 4
SANTOS, G.M.M. et al. Desenvolvimento de Histórias em Quadrinhos, uma importante ferramenta didático-pedagógica em ações de Educação Ambiental. In: FÓRUM BRASIILEIRO DE EDUCACAO AMBIENTAL, 5., 2004, Goiânia. Resumos... Goiânia: UFG, 2004. 5 CABRINI, Conceição et alii. O Ensino de História: revisão urgente. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994, p.32
12 como Rui Barbosa e Gilberto Freire, só para citar alguns, foram ávidos leitores de quadrinhos e os defendiam como uma forma saudável de leitura e como formadora de bens leitores.
13 6 – Resultados De maio de 2007, quando a gibiteca foi oficialmente inaugurada, até setembro de 2008, verificamos muitas mudanças na escola e na forma como nossos professores começaram a planejar suas aulas. A Gibiteca proporcionou a eles novas perspectivas de trabalho. Nossos alunos passaram a ter mais interesse pela leitura e nos cobram, constantemente, o direito de pegar mais gibis emprestados, de ficar mais tempo na gibiteca. De uma forma geral, podemos citar como alguns dos resultados desta experiência de trabalho: - o uso dos quadrinhos deslocou-se das aulas de língua portuguesa para outros conteúdos: professores de matemática, ciência, geografia e inglês passaram a utilizar quadrinhos e reconhecem que eles prendem mais atenção dos alunos e ajuda na sua aprendizagem; - O número de alunos que procura a gibiteca para empréstimo de revistas em quadrinhos aumentou progressivamente de 2007 para 2008. Nos primeiros 4 meses de funcionamento da gibiteca, em 2008, o número de empréstimos dobrou em relação ao anos anterior; - O número de professores, em geral, que passaram a usar as histórias em quadrinhos como material didático cresceu, principalmente após os dois seminários realizados pela gibiteca; - Os alunos e os professores têm mostrado mais interesse pela escola, como um todo, o que acreditamos tenha sido resultado de um aumento da auto-estima, devido à repercussão que o projeto tem tido; - Alunos mostram mais interesse em participar dos concursos culturais divulgados ou promovidos pela gibiteca, sendo que a escola já teve alunos premiados em dois concursos nacionais: um de redação (2007) e um de desenho (2008); - Aumentou o desejo de se tornar voluntário na escola, entre os alunos. Antes, os alunos não se interessavam em participar de atividades fora de seu horário de aula, atualmente estamos fazendo seleção de alunos para ajudar na gibiteca, dado o número de voluntários inscritos; - O blog feito para divulgar os trabalhos realizados na gibiteca, recebeu mais de 63 mil visitas de março de 2007 a 25 de setembro de 2008. Foi intenso o intercâmbio e a troca de experiências através do espaço virtual, o que nos possibilitou não apenas receber mais doações como estabelecer parcerias importantes com professores, pesquisadores e instituições de outras partes do nosso Estado e de outros Estados.
14 7 – Avaliação De sua fundação até o momento, a gibiteca se tornou um diferencial para alunos e professores e é reconhecida pela comunidade escolar. Este reconhecimento nos ajuda a dar continuidade ao trabalho. De ano para ano são feitos ajustes com base nas sugestões dadas pelos alunos, pelos professores. Observando o funcionamento da gibiteca e os problemas que surgem diariamente (com conservação e organização do acervo, empréstimos, horários de trabalho) vou fazendo mudanças e adaptações. Os professores são chamados a participar e tem liberdade de criação. Pela avaliação do IDEBs, 2005, 2007, referente a nossa escola e E. M. Judith Lintz Guedes Machado, mostra uma melhora nos nossos índices. Ensino Fundamental
IDEB Observado 2005 2007
Metas Projetadas
2 2 007 009 Anos Iniciais 2,9 3,6 2,9 3,3 Anos Finais 2,1 2,6 2,2 2,5 Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar.
2011 2 013 3,7 4,0 2,9 3,5
2 015 4,3 4,0
2 017 4,6 4,2
2 019 4,9 4,5
2021 5,2 4,8
No que toca a leitura, pudemos perceber que os nossos alunos estão buscando a uma diversificação dos gêneros de quadrinhos, o que comprava um interesse maior em conhecer outros tipos de leitura, como pode ser verificado na tabela abaixo, relativa aos empréstimos realizados no ano de 2007: Período 29/05 a 05/07 30/07 a 27/09 01/10 a 21/11
Super-heróis, aventura e mistério Infantis 84% 13%
Mangás 3%
43% 33%
10% 25%
47% 42%
A gibiteca ultrapassou seus objetivos iniciais, pois além de incentivar a leitura a gibiteca conseguiu valorizar e humanizar o ambiente escolar, valorizando o trabalho dos professores e estimulando a participação dos alunos. Nós nos tornamos um referencial regional, sendo nosso trabalho estimulado em escolas municipais e estaduais. São muitos, também, os convites para participar de eventos acadêmicos, onde o projeto é apresentado para professores e pesquisadores.
15 8 – Anexos 8.1 – Fotos tiradas na Gibiteca
Gibiteca nos primeiros dias de faxina, em setembro de 2006
Alunos do 9º ano (na época 8ª série) separando as doações recebida pela gibiteca, em outubro de 2006.
16
Painel pintado na gibiteca por artista local (trabalho voluntário)
Aluno voluntário ajudando a carimbar e catalogas revistas em quadrinhos na véspera da inauguração da gibiteca, no dia 10 de maio de 2007.
17
Gibiteca, no dia da inauguração, em 11 de maio de 2007.
Primeiro Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino, realizado dia 18 de maio de 2007.
18
Alunos do EJA, visitando a gibiteca, em junho de 2007
Oficina de quadrinhos oferecida aos alunos da escola, nos dias 21 e 22 de junho de 2007
19
Professora Andréia Gervaso (língua Portuguesa), em momento de leitura com turma do 7º ano, junho de 2008.
II Seminário sobre quadrinhos, leitura e ensino, realizado no dia 06 de junho de 2008, no auditório do CEFET/UNED-Leopoldina
20
Alunos do 6º ano escolhendo revistas em quadrinhos para empréstimo, junho de 2008
Alunos voluntários, representando a escola no encontro Ciência e Arte 2008, em 17 de setembro de 2008, na FIOCRUZ.
21
Alunos do 2º ano das séries iniciais do ensino fundamental em momento de leitura de gibis, acompanhados da professora e de uma aluna voluntária do 9º ano (que está tirando a foto), no dia 25 de novembro de 2008.
Novas instalações da Gibiteca, 03 de outubro de 2008
22 8.2 – Textos publicados na internet sobre o projeto Gibiteca 8.2.1 – Gibiteca.Com Temos nosso espaço na internet com centenas de textos sobre a Gibiteca que pode ser acessado pelo link www.gibitecacom.blogspot.com Imprimir todas os textos é para nós inviável, pois seria mais de uma centena de páginas.
8.2.2 - Natania Nogueira e o desafio de montar uma Gibiteca Por Marcelo Naranjo (31/05/07) Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2007/n31052007_04.cfm A professora Natania Nogueira resolveu encarar um desafio: criar uma Gibiteca na escola E M Judith LinTz Guedes Machado, em Leopoldina, Minas Gerais. E teve sucesso. Tudo começou com uma pequena sala. Com a colaboração de alunos da 8ª série, em 2006, um depósito foi disponibilizado para o projeto. Os alunos carregaram livros, arrumaram estantes, fizeram a limpeza e teve inicio a Gibiteca. Natania solicitou doações, em listas de quadrinhos e escrevendo para editoras. Com as caixas de revistas começando a chegar, mais pessoas passaram a ajudar. No começo de 2007, todos os professores e alunos da escola Judith Lintz Guedes Machado abraçaram o projeto. O espaço ganhou desenhos nas paredes, e a escola pagou uma pintora para colori-los. Em 11 de maio aconteceu uma cerimônia de inauguração, com a presença de representantes de outras escolas e autoridades. No dia 18 de maio, foi realizado um seminário sobre quadrinhos, com participação de 230 professores, em que marcaram presença Waldomiro Vergueiro (USP), que colaborou bastante com o projeto; Octavio Aragão (UFES); Arthur Soffiat (UFF); Valéria Fernandes (doutoranda em história na UnB e escritora de artigos sobre mangá). O projeto obteve apoio da Secretaria Municipal de Educação e da Superintendência de Ensino (que representa a Secretaria Estadual de Educação). A Gibiteca prepara seu primeiro Concurso de HQs e, em breve, a primeira Oficina de Quadrinhos. Hoje já são cerca de 1.500 revistas - pouco, ainda, para 700 alunos, mas um bom começo. Natania informou ao Universo HQ os motivos de trabalhar em prol deste espaço para quadrinhos, confira:
23 "Porque aprendi muito lendo quadrinhos. Foi praticamente uma das primeiras coisas que li, mesmo minha família não podendo comprar. Eu lia na casa dos meus primos, na Biblioteca Pública. Acho que sou uma boa leitora porque lia muito quadrinhos", afirmou. A professora de história acredita que os quadrinhos vão melhorar a habilidade de ler e interpretar textos dos alunos, principalmente nos documentos escritos, pois, sem essa habilidade, por melhor que seja a explicação, a aprendizagem não ocorre. "Tenho esperança de que lendo quadrinhos os meus alunos atuais e futuros (a escola atende de 1ª a 8ª série, além de ter ensino infantil) não só ganhem gosto pela leitura, como ampliem seu vocabulário. Minha escola atende alunos de baixa renda, dos 5 aos 50 anos (literalmente) e não temos muitos recursos. A Gibiteca era uma ótima opção de projeto e que não dependia de vontade política, entende? Teríamos um laboratório de ensino criado e administrado por nós mesmos", concluiu Natania. A Gibiteca conta com um blog dos mais bacanas, atualizado com notícias do espaço e informações em geral sobre quadrinhos. Para conhecer, clique aqui. 8.2.3 - Caldeirão de Idéias indica Gibiteca.Com 11/08/2008 Fonte: http://nteitaperuna.blogspot.com/2008/08/caldeiro-de-idias-indicagibitecacom.html Olá Amigos Caros amigos e leitores do Caldeirão de Idéias hoje vamos falar e apresentar um dos blogs mais legais do "pedaço". Trata-se da Gibiteca.Com da minha amiga de lista a Natania Nogueira - professora e historiadora que criou o Projeto Gibiteca na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, Leopoldina (MG) e a idealizadora dos I e II Seminários sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, outro grande sucesso. O blog Gibiteca.Com tem por objetivo divulgar textos e idéias referentes ao uso de HQs (Histórias em Quadrinhos, gibis ou banda desenhada) nas escolas, oferecer sugestões de leitura e relatar experiências relacionadas ao Projeto Gibiteca. Para quem ainda não se convenceu se o projeto e viável, vejam só o blog já atingiu a fantástica marca de 50.000 mil acessos. Além do Gibiteca.Com ela mantem outro blog igualmente fantástico, o Brasil: História e Ensino. Este blog e destinado a seus trabalhos sobre a História de Leopoldina, sobre História do Ensino e Educação. Visitem e digam se eu não tenho razão Abraços Equipe NTE Itaperuna
24 8.2.4 - Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino em Leopoldina Por Marcelo Naranjo, sobre o press release (08/05/08) Fonte: http://www.universohq.com/quadrinhos/2008/n08052008_05.cfm Será realizado no dia 6 de junho de 2008 o Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, promovido pela Gibiteca da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, com apoio do CEFET/Uned/Leopoldina, da 19ª Superintendência Regional de Ensino e da Secretaria Municipal de Educação. Para a edição de 2008, os quadrinhos e o ensino continuarão no centro do debate, mas com destaque para áreas específicas do ensino das ciências físicas e biológicas, com o tema "para uma ciência mais divertida". O objetivo é mostrar aos nossos professores que eles podem utilizar este recurso para tornar o ensino mais prazeroso, e que a leitura é a chave para o desenvolvimento do aluno na escola. O I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, realizado em 18 de maio de 2007, foi um grande sucesso e mostrou que é possível produzir em Leopoldina/MG um evento com nível e qualidade igual ou até mesmo superior a eventos realizados em grandes centros. O interesse demonstrado pelos professores pelo tema, além da qualidade das palestras que foram apresentadas foi o que levou os responsáveis a organizar um segundo evento. O Seminário será oferecido para os professores da rede pública municipal de Leopoldina, sendo reservadas algumas vagas para a rede privada e para pessoas da comunidade. O projeto conta com o apoio de editoras de quadrinhos e de livros voltados para a educação que irão distribuir material de divulgação para os profissionais presentes. São esperados entre 230 e 250 profissionais do ensino. Outras informações podem ser obtidas no e-mail
[email protected] ou no blog da Gibiteca.
25 8.3 - Reportagens publicadas em jornais e revistas
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Leopoldinense, 16 a 21 de maio de 2008.
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29 8.4 - Textos apresentados em congressos e publicados em revistas, fruto do trabalho realizado com quadrinhos. GIBITECA: ENSINO, CRIATIVIDADE E INTEGRAÇÃO ESCOLAR NOGUEIRA, Natania Aparecida da Silva. Gibiteca: ensino, criatividade e integração escolar In: VII Congresso nacional de Educação - EDUCERE (edição internacional), 2007, Curitiba. VII Congresso Nacional de Educação - EDUCARE - Saberes Docentes. Curitiba: Champagnat, 2007. p.174 - 186
Resumo: As histórias em quadrinhos têm conquistado um grande espaço dentro das escolas. Como um instrumento de ensino, elas estão se tornando instrumentos importantes de introdução dos alunos no mundo da leitura e do conhecimento. O Projeto Gibiteca Escolar, desenvolvido na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, Leopoldina (MG), usa deste instrumento lúdico como uma ponte entre o estudante e o mundo das idéias, da criatividade e dos sonhos, abrindo caminho para a formação de pessoas conscientes do seu papel na sociedade. Palavras-chaves: histórias em quadrinhos, leitura, ensino Introdução Há algum tempo, o papel do professor das séries mais avançadas do ensino fundamental era limitado a desenvolver o conteúdo com o qual trabalhava na sala de aula – história, geografia, matemática, ciências, etc. –, sem se preocupar com algo fundamental: a leitura e a interpretação. Estas eram habilidades que deveriam se desenvolvidas tão somente nas aulas de português e literatura. No entanto, temos hoje uma realidade muito mais complexa: nossas crianças e jovens lêem pouco e geralmente são incapazes de compreender o que estão lendo. Entendemos que a leitura é a chave para o desenvolvimento do aluno na escola. Através da leitura ele aprende a interpretar melhor o mundo em que vive e a despertar a imaginação e a criatividade. Um aluno/leitor compreende melhor os conceitos abstratos com os quais tem que lidar na sala de aula. Esta habilidade deve ser desenvolvida já na Educação Infantil6 e durante todo o Ensino Fundamental. Tendo em mente usar a leitura como uma ponte para o conhecimento, foi concebido o Projeto Gibiteca Escolar, na Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, uma escola de periferia da cidade de Leopoldina (MG), que atende alunos oriundos de famílias de baixa renda. Os objetivos do projeto são: criar um espaço de aprendizagem para professores e alunos; formar leitores críticos e criativos; promover atividades onde os alunos – e mesmo os professores - possam descobrir habilidades e desenvolver competências. Na Gibiteca, alunos e professores têm acesso a um acervo diversificado de HQ’s (como chamamos as revistas de Histórias em Quadrinhos) e podem usá-lo para leitura durante os horários de funcionamento da escola. O Projeto Gibiteca Escolar também trabalha positivamente a auto-estima de professores e alunos, mostrando 6
Incluímos aqui a educação infantil pois, mesmo não estando alfabetizadas, as crianças fazem uma leitura do mundo através de imagens e da sua oralidade, sendo portanto a leitura à qual nos referimos um conceito bem mais amplo e abrangente.
30 que mesmo escolas com poucos recursos podem oferecer grandes oportunidades e estimular todos a sonharem com um futuro promissor. A leitura de gibis é uma atividade prazerosa e que aparentemente está dissociada das tarefas escolares. As HQ’s são capazes de promover a interdisciplinaridade entre os diversos conteúdos curriculares, ajudam a promover a prática da leitura e aproximam as crianças de outros tipos de arte, como as artes plásticas, o teatro e a música, além, é claro, de serem importantes no processo de alfabetização. Os alunos aprendem que “estudar” pode ser divertido e se tornam mais receptivos aos diversos conteúdos. Nas próximas linhas vamos mostrar como uma gibiteca pode mudar a rotina de uma escola, a forma como ela pode integrar alunos, professores e funcionários em torno de atividades lúdicas que estimulam a criatividade e abrem as portas para novos horizontes, novas perspectivas. 1 – O papel das HQ’s no desenvolvimento da leitura A escola pública nas palavras de GONÇALVES não exclui por incompetência intelectual, mas porque faz parte da sua constituição7. Nossa escola foi concebida como um instrumento de força, de poder pelas nossas elites. Talvez não possamos nunca romper totalmente com esse paradigma, mas creio que podemos fazer da escola igualmente um espaço de reação, através de um ensino voltado para o desenvolvimento e valorização do indivíduo, do sujeito histórico. É possível transformar, mudar esse quadro de exclusão ou, na pior das hipóteses, tentar minimizá-lo. Citando Cabrini: “Não temos uma fórmula mágica, uma solução pronta sobre o conteúdo a ensinar, mas sim uma proposta de como trabalhálo. O conteúdo que você irá desenvolver na sua classe, ou seja, o seu objetivo de estudo, só pode ser determinado por você, em sua atividade profissional concreta, a partir dos dados da realidade da sua escola, seu período letivo, seus alunos...”8 O ensino no Brasil não vai bem. É um fato inegável. As novas gerações não estão “letradas”. Nossos jovens não criaram o hábito da leitura e por isto possuem uma grande dificuldade em fazer associações, em interpretar textos simples, em compreender o que pedem os professores, o que está escrito nos livros. Desta forma a aprendizagem acaba ficando comprometida e o fracasso se não se faz visível nos índices de retenção escolar, aparece claramente nas avaliações globais realizadas pelo Estado, devido à incapacidade no ato de ler. Saber ler e escrever não é simplesmente o ato mecânico de juntar sílabas e emitir sons. A leitura é uma atividade complexa que exige do leitor a capacidade de interpretar o texto; de identificar e compreender o contexto no qual ele está inserido; de identificar idéias e signos nele contidos. Nas palavras de PLATÃO E FIORIN:
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GONÇALVES, Jussemar Weiss . O campo da história na Escola Pública. In: Qual história? Qual ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos, 1997p. 77 8 CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São Paulo: Brasiliense, 1994, p.32
31 “Nenhum texto é uma peça isolada, nem a manifestação da individualidade de quem o produziu. De uma forma ou de outra, constrói-se um texto para, através dele, marcar uma posição ou participar de um debate de escala mais ampla que está sendo travado na sociedade. Até mesmo uma simples notícia jornalística, sob a aparência de neutralidade, tem sempre uma intenção por trás.”9 As Histórias em Quadrinhos possuem uma linguagem simples e de fácil compreensão para os alunos, que em geral não oferecem resistência a seu uso, uma vez que são relacionadas a uma forma de entretenimento e lazer. Segundo Flávio Calazans, os quadrinhos quando são projetados em sala de aula, como recurso para complementar o ensino de determinado conteúdo, prendem mais a atenção dos alunos do que outros recursos, como o vídeo, por exemplo, porque permitem que ocorra uma leitura simultânea da página, podendo o leitor captar a ação em todos os seus tempos.10 José Moysés ALVES também tem uma visão positiva a respeito do uso dos quadrinhos nas escolas, com forma de incentivar o gosto pela leitura. Segundo ele: “A leitura de histórias em quadrinhos pode contribuir para a formação do “gosto pela leitura” porque ao ler histórias em quadrinhos a criança envolve-se numa atividade solitária e não movimentada por determinado período de tempo, que são características pouco freqüentes nas atividades de crianças pré-escolares ou no início da escolarização. Também porque, estando mais próximas da forma de raciocinar destas crianças, elas podem mais facilmente lê-las, no sentido de retirar delas significados, o que seria menos provável com outros tipos de leitura. Além disso, pode-se esperar que uma criança, para quem a leitura tenha se tornado uma atividade espontânea e divertida, esteja mais motivada a explorar outros tipos de textos (com poucas ilustrações), do que uma outra criança para quem esta atividade tenha sido imposta e se tornado enfadonha.”11 O hábito da leitura de quadrinhos, além de ser saudável, pode estimular o prazer pela leitura. Em geral são os maus leitores que criticam as histórias em quadrinhos. Segundo DJota Carvalho, várias pesquisas sobre a relação entre quadrinhos e educação já foram realizadas Uma delas encomendada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em 2001, comprovou que:
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FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 2a edição – São Paulo: Editora Ática, 1991, p. 13. 10 CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. – São Paulo: Paulus, 2004. p. 11. 11 ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc. prof. Brasília, vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvspsi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32001000300002&lng=pt&nrm=is>. Capturado em: 05/02/2006.
32 “... alunos que lêem gibis têm melhor desempenho escolar do que aqueles que usam apenas o livro didático – entre os estudantes da 4ª série da rede pública, a HQ aumenta significativamente a performance do aluno: entre os que acompanham quadrinhos, o percentual das melhores notas nas provas aplicadas foi de 17,1%, contra 9,9% entre os que não lêem. Mais ainda, esta pesquisa mostra que professores que lêem revistas em quadrinhos obtêm melhor rendimento dos alunos, pois conhecem melhor o universo dos estudantes e se aproximam deles usando exemplos deste universo como paradigma para as aulas. A pesquisa mostra , entre outras coisas, que , entre os alunos da 4ª série cujos professores lêem HQs, a proficiência em leitura é mais alta do que entre aqueles cujos professores não têm o hábito de ler gibis. Na rede pública, 36% dos alunos de leitores de gibis têm proficiência média alta e alta, contra 31,5% dos que não lêem.”12 Uma das vantagens de se trabalhar com histórias em quadrinhos é que elas não possuem uma faixa etária exata: há quadrinhos para todas as idades, da educação infantil até a universidade. Na Europa, por exemplo, ensina-se latim usando-se Asterix. Asterix e outras HQ’s européias são publicadas em latim com esta finalidade e com uma tiragem relativamente grande. O preconceito que existe com relação aos quadrinhos é construído em cima da idéia de que eles são coisa de criança ou, em alguns casos, coisa de menino. Há HQ’s de todos os gêneros e para todos os gostos. Algumas são adaptações de clássicos da literatura, outras possuem um argumento tão complexo que são indicadas para adultos com um certo grau de conhecimento literário. As histórias em quadrinhos são, portanto, uma excelente fonte de trabalho e pesquisa para todos os educadores. Começando pela educação infantil, as HQ’s abrem novos horizontes de aprendizagem para as crianças, pois elas descobrem que, mesmo sem saber ler, podem entender a história através dos desenhos. É bom lembrar que, embora as HQ’s tenham elementos característicos, eles não precisam estar todos presentes ao mesmo tempo. HQ’s que possuem apenas imagens cumprem seu papel se são capazes de passar a mensagem de seu autor. “Reproduzindo contextos e valores culturais, as histórias em quadrinhos oferecem oportunidades para as crianças ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo social. Porém, seja pelos assuntos veiculados, seja pela forma como os temas são tratados, as histórias em quadrinhos foram alvo de muitas críticas e, lê-las dentro das escolas, foi por muito tempo considerada uma atividade clandestina e sujeita a punições.”13 Como professora de História, tenho feito algumas experiências com o uso de HQ’s com meus alunos, tanto no Ensino Fundamental, quanto no Ensino Médio. O estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da leitura. Uso os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado a 12 13
CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. – Campinas, SP: Papirus, 2006. p. 38-39. ALVES, José Moysés.Op. Cit. , 2001.
33 exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As HQ’s ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de aula. “Testes psicológicos aplicados em crianças demonstram que a informação quando transformada em História em quadrinhos é compreendida num tempo assustadoramente pequeno. Prova disso está nos próprios livros escolares de hoje que não passam de verdadeiros ‘gibis’ didáticos, tal o número de ilustrações que possuem”.14 Os bons resultados obtidos com meus alunos foram a motivação para que um projeto ainda mais ambicioso fosse então concebido: a criação de uma gibiteca 15. Não apenas um espaço dentro de uma biblioteca, mas um espaço exclusivo para armazenar e manusear HQ’s. Propus, então, à diretoria da escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado e aos colegas professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental que aderissem ao projeto. Por meio da gibiteca, desenvolveríamos atividades em todas as áreas, incentivando a leitura, a produção de textos e arte por parte dos alunos. A idéia foi bem aceita e assim nasceu a Gibiteca Escolar. 2 – A Gibiteca como forma de integração escolar Criar a Gibiteca foi, antes de mais nada, um exercício de integração. Toda a escola se envolveu no projeto. Alunos, professores, direção, funcionários da limpeza, especialistas e funcionários técnico-administrativos. O processo de instalação da gibiteca durou cerca de um ano. Primeiro conseguimos o espaço físico, depois começamos a pedir e receber doações de HQ’s. As doações foram feitas por colecionadores particulares, professores, alunos, gibitecas16 e editoras. Por época da inauguração, em 11 de maio de 2007, tínhamos um acervo aproximado de 1600 exemplares, em vários formatos e gêneros. Mas não basta simplesmente criar o espaço na escola, é preciso também mostrar que ele é funcional e que pode ajudar no trabalho de todos os professores. Por esta razão organizamos o I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino17. O Seminário foi organizado pela escola com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, tendo como público-alvo professores da educação infantil e do ensino fundamental. O objetivo era demonstrar que o uso das histórias em quadrinhos podia ser um caminho para o processo de ensino/aprendizagem e que elas poderiam ser usadas em todos os conteúdos, não sendo apenas prerrogativa das 14
SILVA, Diamantino da . Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre; Bels, 1979. p. 106 Grosso modo, a gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias em Quadrinhos, que pode ser público ou não. Nas gibitecas os leitores têm acesso a uma enorme variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.) e nelas este tipo de material literário pode receber um tratamento apropriado, que inclui a conservação de exemplares, de publicação recente, ou aqueles considerados raros. A primeira gibiteca inaugurada no Brasil foi a Gibiteca de Curitiba, em 1982. A maior gibiteca do Brasil é mantida por um organismo do Estado: a Gibiteca Henfil. Órgão do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura do município de São Paulo, ela foi inaugurada em 1991 e conta com o maior acervo do país, 100.000 exemplares. 16 A Gibiteca da USP, através do professor Waldomiro Vergueiro fez importantes doações para a Gibiteca Escolar, ainda no ano de 2006. 17 O I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino foi realizado no dia 18 de maio de 2007 e teve a participação dos professores: Waldomiro Vergueiro (USP), Octavio Aragão (UFES), Arthur Soffiat (UFF) e Valéria Fernandes (Colégio Militar de Brasília). 15
34 séries iniciais. O seminário atendeu a 230 professores das redes municipal de ensino de Leopoldina, pública e privada de Leopoldina.. A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Por outro lado, ela também age diretamente na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais valor ao seu trabalho e a se sentirem também valorizados. O professor redescobre o prazer da leitura e, também, o prazer de ser um profissional do ensino, um educador. O acervo diversificado permite que a gibiteca seja um grande laboratório de ensino/pesquisa. Possui HQ’s de vários gêneros (humor, suspense, históricas, ficção fantástica, etc.) e até raridades como o Gibi n. 01 e diversas HQ’s da EBAL, publicadas na década de 1970. Os alunos, principalmente as crianças dos anos iniciais, sentem-se atraídos pelo ambiente despojado e alegre da gibiteca, onde eles podem desenhar, deitar no tapete em meio a almofadas e transformar a leitura numa forma prazerosa de lazer. Para os adolescentes, ela se torna igualmente um lugar de descontração, principalmente para meninos e meninas que gostam de desenhar e usam o desenho como uma forma de expressão de seus sentimentos e suas idéias. As HQ’s estimulam esta habilidade e acabam transformando o desenhista em leitor. A gibiteca age como um canalizador de sonhos. Ela transporta os leitores a um mundo de fantasia do qual ele estava até então alienado. Muitas de nossas crianças nunca tiveram em sua casa uma HQ. Entre os adultos que estudam no EJA (Educação para Jovens e Adultos) poder ler uma história em quadrinho na escola é muitas vezes vivenciar uma atividade da qual foram excluídos durante sua infância, seja por motivos econômicos, seja pela cultura familiar ou simplesmente por não saberem ler e escrever. Em um artigo intitulado “Educar é fazer sonhar”18 Francisco CARUSO e Maria Cristina Silveira de FREITAS afirmam que educar depende da capacidade de fazer o aluno sonhar e afirmam que despertar nele a criatividade é a melhor forma de prepará-lo para os desafios da vida, pois no mundo moderno ela é necessária para a sobrevivência. Atrevo-me a acrescentar que, além de fazer o aluno sonhar, é preciso fazer o professor sonhar junto com ele. 3 – AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS Há na gibiteca um espaço reservado para o professor, onde ele pode dispor de periódicos e livros que versam sobre o uso das HQ’s na sala de aula e, também, relatos de experiências que já foram realizadas na escola. Além de material impresso, contamos com textos digitalizados, produzidos por educadores e pesquisadores de todas as partes do país, centenas de tirinhas e HQ’s digitalizadas. Os professores são estimulados a conhecerem cada vez mais o universo dos quadrinhos para que, desta forma, eles possam compreender melhor o próprio universo dos seus alunos leitores e, ao mesmo tempo, ter mais segurança para usar este material na sala de aula. Alguns destes recursos estão sendo ainda timidamente utilizados, pois os professores, em sua esmagadora maioria, ainda estão participando de um lento 18
CARUSO, Francisco, FREITAS, Maria Silveira de. Educar é fazer sonhar. Princípios, São Paulo, Vol. 83, p., 2006.
35 processo de inclusão digital. Entretanto, o simples fato da Gibiteca estar oferecendo meios ao professor de ingressar no mundo da informática já é um grande estímulo para o trabalho. Além disto, neste primeiro momento os professores também estão sendo apresentados aos quadrinhos. Para trabalhar com este recurso é preciso entender como ele é produzido. Desta forma preparamos para os professores da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental oficinas de quadrinhos. Nestas oficinas – que também foram preparadas para alunos entre 11 e 15 anos -, eles aprendem o processo de elaboração de uma HQ e a decifrar e usar os elementos que a compõe, tais como balões, metáforas visuais, recordatórios, etc. Segundo Nágila Caporlingua GIESTA, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande - FURG, que trabalha HQ’s e educação ambiental, vivemos em uma sociedade cada vez mais escrita, onde a leitura é uma atividade de integração. Sendo assim, as HQ’s são um recurso a mais na inserção das crianças no mundo das letras, dependendo do professor encontrar o caminho para introduzir o aluno neste universo. Citando GIESTA: “As possibilidades das histórias em quadrinhos, como recurso no currículo escolar, são inúmeras, dependendo do conhecimento e da habilidade profissional do professor para diversificar, questionar e provocar a busca da informação destacada pelo leitor.”19 Aos poucos estão surgindo experiências que vão apresentando bons resultados no uso dos quadrinhos na sala de aula, através da Gibiteca Escolar da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado. Vamos destacar, neste primeiro momento, três iniciativas. A primeira é a da professora de série inicial Maria de Fátima Alves que desenvolveu uma pequena oficina de HQ’s com alunos da escola, em diversos estágios de aprendizagem, que freqüentam dos anos iniciais do Ensino Fundamental, para os quais ministra aulas de reforço. São meninos e meninas de idades variadas com quem ela resolveu fazer um trabalho motivador: estudar sobre folclore produzindo uma HQ. Os alunos receberam todas as informações sobre o tema, necessárias para compor um roteiro razoavelmente coerente e depois receberam noções básicas de como fazer uma HQ. A professora participou de uma das oficinas que tivemos na escola, para professores, e resolveu exercitar suas recém-adquiridas habilidades com estes alunos. Ela avaliou o trabalho levando em conta o conteúdo e o uso correto de elementos que compõem uma HQ (como balões, metáforas visuais, etc). Segundo a professora, o trabalho de produção de HQ’s foi estimulante pois incentivou-os a usar da criatividade, transformando um trabalho escolar em uma atividade lúdica, prazerosa. Numa segunda experiência, a professora Roseane Peres Rocha decidiu tornar as avaliações de matemática uma gostosa brincadeira para os alunos da 5ª série do Ensino Fundamental. Ela está utilizando tirinhas da Turma da Mônica para montar problemas matemáticos e desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Esta experiência foi colocada em prática nos meses de junho e julho e a professora dará continuidade ao trabalho durante o resto do ano letivo, uma vez que os resultados têm sido positivos. Segundo a professora, os alunos prestam muito mais atenção aos problemas quando eles são apresentados nas tirinhas. Ela ainda destaca a preocupação dos alunos com pequenos detalhes quando preenchem os balões: 19
GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na investigação educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, Recife/PE. Anais do XIII ENDIPE, 2006.
36 "Eles colocam a fala errada do Cebolinha e sublinham as palavras que estão erradas”. Roseane dá uma dica: ela usa os quadrinhos com balões em branco que ela retira do site http://www.4shared.com/. Ela vai em shearch files e digita a palavra quadrinhos. Lá ela encontra diversos documentos em word e pdf sobre o assunto e seleciona o material que usa em suas aulas. A própria professora se sente estimulada a montar suas atividades. O desafio serve como estímulo para o trabalho. A terceira experiência que iremos descrever é da professora de língua portuguesa, Mary Ângela Carraro Dibo que, preocupada com os péssimos resultados que estava obtendo com alunos da 6ª série, nas primeiras avaliações do 2º bimestre (muitos erros de ortografia, interpretação, etc) resolveu mudar a rotina das suas aulas. Uma vez por semana divide os alunos em dois grupos. Uma metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à gibiteca, sendo que em cada semana os grupos se alternam. Lá os alunos fazem uma aula de leitura livre. A experiência teve início em junho/2007 e também deve se estender até o final do ano letivo. Os resultados estão sendo claramente visíveis. Além dos alunos terem melhorado seu desempenho nas aulas e nas avaliações, até a disciplina da turma - que tem dado muitos problemas desde o início do ano - está aos poucos melhorando. A professora destaca que os alunos preferem as aulas na gibiteca pelo ambiente agradável e despojado, diferente da biblioteca, onde eles ficam sentados em cadeiras e mesas. A professora observa que na biblioteca os alunos folheiam livros e muitas vezes não os lêem. Já na gibiteca a atenção com a leitura é bem maior. Ela assinala que o apelo visual das HQ’s é um fator importante, pois o desenho prende a atenção e mesmo que o aluno "pule" algumas falas, ele consegue entender a história graças à leitura das imagens. O interesse deles pela leitura está levando-os, também, a ter novas perspectivas e arriscar novas experiências de ensino. Na oficina de quadrinhos que foi realizada na escola no dia 21 de junho de 2007, cerca de metade dos alunos presentes eram desta turma. Meninos e meninas que normalmente não se sentem muito motivados a freqüentarem a escola vieram fora do seu turno de aula e fizeram aproximadamente três horas de oficina de quadrinhos. Uma grande vitória para o projeto, para os alunos e, principalmente, para a professora, que está apostando na leitura para formar estudantes mais interessados e cidadãos mais informados. A professora já trabalhava com quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades. Usando tirinhas do Snoopy (personagem de Charles Schulz) ela propõe exercícios que misturam desde questões gramaticais (identificar locuções verbais, vocativos e onomatopéias) até interpretação. Segundo Flávio CALAZANS20 o limite do uso dos quadrinhos está no limite da criatividade do professor. É ele que sabe avaliar a melhor forma de utilizar as HQ’s com seus alunos. Alguns autores sugerem que os quadrinhos podem ser trabalhados de três formas básicas: a) através da análise critica da história; b) incentivando a criação de histórias em quadrinhos pelos próprios alunos; c) utilizando os quadrinhos como um meio de expressão e conscientização política. 4 – As parcerias 20
CALAZANS, Op. Cit. p. 17
37 Faz parte deste projeto a busca de parcerias com membros da comunidade e com organizações governamentais e não-governamentais. O Projeto Gibiteca tem sido divulgado por meio eletrônico através de um blog21. Nele são registradas as experiências realizadas pelos professores, as atividades promovidas pela gibiteca e disponibilizados textos sobre HQ’s. Recebemos a colaboração de profissionais ligados à área, através de pequenos artigos e, é claro, os comentários deixados pelos leitores e os resultados das enquetes que realizamos ocasionalmente. Alguns grupos já fizeram contatos conosco através do site e nos ofereceram, além de doações, apoio para nossas atividades. Entre estas pessoas e instituições temos educadores, ilustradores, editoras, quadrinistas, escritores, colecionadores, enfim, pessoas que se interessam pela divulgação das HQ’s nas salas de aula e que acreditam na sua função educativa. O uso da internet tem sido uma estratégia importante, seja como forma de divulgar o trabalho realizado na Gibiteca, seja como canal de comunicação com outros profissionais, possibilitando a troca de experiências e informações. Em âmbito local, estamos firmando parcerias importantes com o Comitê de Democratização da Informática (CDI) e com o Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET/Uned-Leopoldina), para um trabalho de inclusão digital de nossos alunos e professores. Conseguimos, através de uma campanha, a doação de diversos computadores usados para a Gibiteca. Nestes aparelhos os alunos aprendem a usar os recursos básicos de informática, podem ler HQ’s e participar de oficinas de quadrinhos através do uso do programa HagaQuê22. Este pequeno laboratório ainda está em fase de instalação e seu uso ainda é limitado. O CEFET e o CDI nos fornecem auxilio técnico através de estagiários e ainda ajudam na manutenção dos aparelhos. Além destas parcerias, temos também o apoio da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE/MG) através da 19ª Superintendência Regional de Ensino de Leopoldina e da Secretaria Municipal de Educação, que são nossas parceiras na realização de eventos voltados para professores. Para 2008 já estamos organizando o II Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino – ainda sem data prevista -, focado no ensino de ciências e matemática através dos quadrinhos. Conclusão Para muitas pessoas que tomam conhecimento do projeto, usar as HQ’s nas escolas, como instrumento de ensino pode parecer uma novidade. Mas não é bem assim. Já existem no Brasil e mesmo no exterior várias iniciativas de aproximar o leitor – jovem ou adulto – das histórias em quadrinhos.23 No Brasil há gibitecas 21
www.gibitecacom.blogspot.com HagáQuê é um software, um editor de histórias em quadrinhos com fins pedagógicos desenvolvido na Unicamp. O HagáQuê foi desenvolvido de modo a facilitar o processo de criação de uma história em quadrinhos por uma criança ainda inexperiente no uso do computador, mas com recursos suficientes para não limitar sua imaginação. E, como resultado do crescente uso por pessoas com necessidades especiais, o software vem passando por um processo de redesign visando melhorar sua acessibilidade. Para mais informações acesse o site http://www.nied.unicamp.br/~hagaque/ 23 . Em Portugal, por exemplo, temos a Bededeteca de Lisboa (lá as HQ’s são chamadas de banda desenhada, nos países de língua francesa elas são as bande dessinées), na França há no Museu de Angoulème a Fanzinothèque de Pottiers Criada em 1989 por iniciativa do “Conseil Communal des Jeunes de Poitiers”, a Fanzinoteca desenvolve suas atividades em duas direções: a documentação e 22
38 espalhadas por várias cidades do país, mas ainda são em número reduzido. Embora as HQ’s sejam uma mídia popular, ainda há quem restrinja o espaço que elas ocupam como forma de leitura, ensino e comunicação. Com o projeto “Gibiteca Escolar” estamos também combatendo este preconceito e mostrando, na prática, que o ato de ler é livre, só pode fazer bem e que o leitor não tem idade. Se à primeira vista o projeto parece um tanto ambicioso, posso afirmar com toda a segurança que ele não está além da capacidade de qualquer educador verdadeiramente comprometido com seu trabalho. Grandes projetos começam com pequenos passos. Se a escola não possui uma sala para que se monte uma gibiteca, ela pode ocupar um pequeno espaço na biblioteca ou mesmo num armário dentro da sala de aula. O acervo pode ser formado pelos próprios alunos, que podem ler as HQ’s em sistema de rodízio. O professor pode dar aos alunos a responsabilidade de reformar e conservar as HQ’s do grupo e apoiar, por exemplo, a produção de fanzines24. Com o tempo, os envolvidos no trabalho percebem que as aulas se tornaram diferentes. Os alunos se sentem responsáveis e ganham mais confiança. Os professores sentem-se motivados a trabalhar mesmo quando as condições não são boas, quando faltam recursos e o salário é baixo. Encontram prazer em educar porque voltam a sonhar. Eles começam a notar o interesse dos alunos, mesmo daqueles mais rebeldes em participar das aulas. Pode parecer que o uso de HQ’s e a criação de gibitecas nas escolas esteja aqui sendo apresentado como um remédio milagroso para o ensino. Não é esta a nossa intenção. Colocar uma gibiteca ou promover pequenos projetos e adaptar o uso dos quadrinhos nas salas de aula é uma das várias propostas que a escola pode acolher a fim de valorizar o ensino, seus alunos e seus professores. Esta é a experiência que tenho vivenciado com o projeto Gibiteca Escolar. Em pouco tempo de funcionamento, ela tem despertado na escola o desejo de ser melhor, de ir ao encontro de novos desafios e a ser cada vez mais autônoma. Nossos alunos são criados em comunidades carentes onde a realidade é dura. Muitos vão à escola porque lá eles encontram um prato de comida e um copo de leite. Agora eles estão encontrando também um espaço para sonhar, para expressar suas idéias e para desenvolverem habilidades que nem mesmo sabiam que existiam. Nossas expectativas são as melhores possíveis, dado o interesse dos professores e a ansiedade demonstrada pelos nossos alunos, dos mais jovens aos mais velhos. Mas sabemos que existem muitos obstáculos que deverão ser vencidos. Estamos promovendo pequenos cursos e eventos envolvendo toda a comunidade escolar e colegas de outras escolas tentando divulgar a leitura e o uso das HQ’s nas salas de aula, assim como os benefícios de se ter uma gibiteca. Sabemos que há resistências entre professores e que há vícios e tabus a serem superados, mas acredito que com o tempo e com esforço em equipe, estaremos mudando muito mais do que a forma de aprender, mas também de se relacionar o patrimônio de um lado e organização de eventos de outra. Ela funciona como uma grande empresa e classifica e arquiva toda produção amadora (música, HQ’s, literatura, etc.) Ela possui a disposição do público um fundo de mais de 50.000 documentos e publicações. São organizadas de 2 a 3 exposições anuais deste material. E é a única fanzinoteca do mundo que mantem atividades constantes. 24 Fanzines são HQ’s amadoras, produzidas muitas vezes de forma artesanal e que são vendidas ou distribuídas diretamente por seus autores.
39 com colegas e alunos na escola. Mais do que um instrumento de ensino, a gibiteca é um instrumento de união, agrupando em torno de si um corpo docente que pode crescer não apenas profissionalmente, mas também em sua auto-estima, o que contribui para a qualidade do ensino e do ambiente escolar. Referências ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc. prof. Brasília, vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvspsi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141432001000300002&lng=pt&nrm=is>. Acesso em: 05/02/2006. CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São Paulo: Brasiliense, 1994. CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004. CARVALHO, DJota. A educação está no gibi. – Campinas, SP: Papirus, 2006. CARUSO, Francisco, FREITAS, Maria Silveira de. Educar é fazer sonhar. Princípios, São Paulo, Vol. 83, p., 2006. FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. - 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991. GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na investigação educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, Recife/PE. Anais do XIII ENDIPE, 2006 GONÇALVES, Jussemar Weiss. O campo da história na Escola Pública. In: Qual história? Qual ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos, 1997. SILVA, Diamantino da. Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre: Bels, 1979.
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A GIBITECA E O ESTÍMULO À LEITURA NOGUEIRA, Natania (E. M. Judith Lintz Guedes Machado)
[email protected] NOGUEIRA, Natania. A Gibiteca e o estímulo à leitura. 5º Encontro de Literatura Infantil e Juvenil – Leitura e crítica. Rio de Janeiro: Universidade federal do Rio de janeiro, Faculdade de Letras, 2008. Resumo: A História em Quadrinho é uma mídia popular que há mais de 100 anos está presente em nosso cotidiano, despertando em muitos o prazer pela leitura e pela arte. Infelizmente, muitas crianças e jovens, notadamente os que residem na zona rural nos bairros de periferia, não têm acesso a este recurso e uma forma mais extensa. Partindo desta constatação, foi colocado em prática um projeto de leitura, interdisciplinar, que se desenvolve a partir da instalação de uma gibiteca em uma escola pública, localizada em um bairro de periferia. Nesta apresentação iremos relatar resultados, fazer indagações e arriscar algumas previsões sobre as vantagens deste recurso na formação de jovens leitores. Introdução Embora ainda exista muita resistência em relação à introdução de mídias populares nas escolas, aos poucos o cinema, os quadrinhos e os computadores – com seus jogos e programas interativos -, estão ocupando seu espaço. Estas mídias, em especial as Histórias em Quadrinhos, nos fornecem uma matéria-prima rica em possibilidades para se trabalhar questões que envolvem a leitura de sinais, de imagens, de idéias. São instrumentos lúdicos que abrem caminho para um ensino interativo, envolvendo o desenvolvimento de habilidades, de competências necessárias para se efetuar uma leitura mais crítica da realidade em que vivemos Na presente comunicação iremos relatar o uso das histórias em quadrinhos (HQ’s) nas salas de aula e a possibilidade de se trabalhar com esta mídia nas mais diversas disciplinas. Ao mesmo tempo queremos refletir sobre as vantagens e dificuldades encontradas para se trabalhar de forma interdisciplinar, buscando entender a dinâmica da escola e o papel integrador que a leitura pode ter neste contexto. A experiência que desejamos apresentar gira em torno dos trabalhos realizados na Escola Municipal Judith Lintz, da cidade de Leopoldina (MG), onde a criação de uma gibiteca surgiu como alternativa para se enfrentar alguns dos problemas atuais da educação brasileira, refletidos nos baixos índices de rendimento escolar e no pouco investimento real na formação continuada de professores. 1 – Por que as Histórias em Quadrinhos? As Histórias em Quadrinhos possuem uma linguagem simples e de fácil compreensão e são relacionadas a uma forma de entretenimento e lazer. Eles podem ser utilizados nas salas de aula como recurso para complementar o ensino
41 uma vez que prendem mais a atenção dos alunos pois permitem que ocorra uma leitura simultânea da página, podendo o leitor captar a ação em todos os seus tempos (CALAZANS, 2004). Segundo Moysés Alves (2001), o uso dos quadrinhos nas escolas pode ajudar a despertar nas crianças o gosto pela leitura, pois permite desenvolver nas crianças, por exemplo, o hábito de “brincar sozinho”, desenvolvendo a criatividade da criança e ajudando a desenvolver seu raciocínio desde bem cedo, abrindo caminho para a exploração de textos mais complexos, sem que o ato da leitura se torne algo cansativo. O estudante deve aprender a trabalhar as informações que adquire através da leitura. Uso os quadrinhos como uma forma de expressão do aluno que, desafiado a exercitar sua capacidade criativa, acaba por criar seu próprio conhecimento. As HQ’s ajudam os estudantes a compreender melhor o conteúdo estudado em sala de aula. Segundo Diamantino Silva (1979), a informação quando transformada em História em quadrinhos é compreendida numa velocidade maior, tento que é cada vez mais freqüente o uso de tirinhas ou fragmentos de histórias em quadrinhos em livros didáticos. Uma das vantagens de se trabalhar com histórias em quadrinhos é que elas não possuem uma faixa etária exata: há quadrinhos para todas as idades, da educação infantil até a universidade. Na Europa, por exemplo, ensina-se latim usando-se Asterix. Infelizmente, no Brasil, existe ainda um certo preconceito em relação aos quadrinhos, quer por parte dos alunos, quer por parte dos professores. Há uma tendência em se classificar os quadrinhos como um gênero narrativo inferior e inadequado para leitura em algumas idades. Da mesma forma há, também, uma tendência de se rotular alguns destes gêneros como inadequados para “meninas”, tal como acontece com os quadrinhos de aventura e de super-heróis, considerados “coisa de menino”. Um dos desafios de se trabalhar com quadrinhos é justamente vencer este tipo de postura e mostrar que gosto literário independe de idade ou sexo. Segundo Nágila Caporlingua Giesta, vivemos em uma sociedade cada vez mais escrita, onde a leitura é uma atividade de integração. Sendo assim, as HQ’s são um recurso a mais na inserção das crianças no mundo das letras, dependendo do professor encontrar o caminho para introduzir o aluno neste universo (GIESTA, 2006). 2 – A implantação do projeto Nossa experiência com o uso dos quadrinhos nas escolas tomou corpo com a criação de uma Gibiteca Escolar, um projeto realizado a médio prazo e que envolveu toda a escola, oferecendo a professores e alunos oportunidades de aprenderem juntos. A Gibiteca é um espaço destinado ao armazenamento e divulgação de Histórias em Quadrinhos. Ela oferece aos leitores uma enorme variedade de quadrinhos (terror, ficção científica, humor, aventura, etc.). A primeira gibiteca inaugurada no Brasil foi a Gibiteca de Curitiba, em 1982. A maior gibiteca do Brasil é mantida por um organismo do Estado: a Gibiteca Henfil. Órgão do Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Secretaria de Cultura do município de São Paulo, ela
42 foi inaugurada em 1991. Existem gibitecas que constituem sessões de grandes bibliotecas, como a Gibiteca da Biblioteca Pública Infantil Aglaé Fontes, em Aracaju/SE. No caso da Gibiteca Escolar da Escola Municipal Judith Lintz Guedes Machado, a criação da gibiteca veio a ser uma resposta às necessidades da escola, que possui pouca infra-estrutura, mas que conta com um corpo docente muito bem preparado. Escola da periferia da cidade de Leopoldina (MG), o projeto de se criar a Gibiteca foi, antes de mais nada, uma forma de fazer a diferença, de oferecer a alunos e professores um espaço onde pudessem crescer juntos. A Gibiteca surgiu, inicialmente, da doação de parte da minha coleção particular (cerca de 600 exemplares de HQ’s), Em seguida, realizei uma campanha na internet, entre amigos e nas editoras, em busca de doações para expandir e diversificar o acervo. Paralelamente, a escola cedeu uma pequena sala onde colocamos estantes para alojar as doações que íamos recebendo. Em cerca de sete meses já tínhamos aproximadamente 1.200 exemplares, doados por editoras – notadamente as de pequeno porte -, por colecionadores e professores. Neste primeiro momento a maior parte as doações foram feitas por pessoas de outras cidades e mesmo, de outros Estados. O processo de instalação da gibiteca durou cerca de um ano e contou com a ajuda de membros da comunidade, que doaram seu trabalho para ajudar a decorar e organizar a Gibiteca. No início do ano letivo de 2007, com as instalações praticamente prontas, recebemos os professores da escola para lhes apresentar seu novo espaço de trabalho. A inauguração ocorreu oficialmente no dia 11 de maio de 2007, contando com a presença de autoridades locais, ligadas ao ensino. Tínhamos, então, um acervo aproximado de 1600 exemplares, em vários formatos e gêneros. O passo seguinte foi levar nossa idéia para outras escolas. Para fazer isto, foi organizado I Seminário sobre Quadrinhos, Leitura e Ensino, com apoio da Secretaria Municipal de Educação, tendo como público-alvo professores da educação infantil e do ensino fundamental. O objetivo era demonstrar que o uso das histórias em quadrinhos podia ser um caminho para o processo de ensino/aprendizagem e que elas poderiam ser usadas em todos os conteúdos, não sendo apenas prerrogativa das séries iniciais. O seminário reuniu 230 professores das redes municipal de ensino de Leopoldina, pública e privada de Leopoldina. Ele foi realizado no dia 18 de maio de 2007 e teve a participação dos professores: Waldomiro Vergueiro (USP), Octavio Aragão (UFES), Arthur Soffiat (UFF) e Valéria Fernandes (Colégio Militar de Brasília). Nele os pesquisadores procuram mostrar como os quadrinhos podem ser importantes no ensino, enfocando desde a literatura até temas especícos como meio-ambiente, história e geografia. Os nosso professores tiveram, então, o primeiro contato do as HQ’s, do ponto de vista acadêmico. A resposta a este contato veio na forma de um segundo seminário, voltado ao ensino de ciências através dos quadrinhos, marcado para o dia 06 de junho de 2008. Durante o ano de 2007 procuramos tornar o espaço da Gibiteca cada vez mais atraente. Para tanto conseguimos a doação de computadores feita por empresas particulares, Ongs ou por membros da nossa comunidade. Atualmente contamos com seis computadores em funcionamento, onde os alunos podem ler e criar gibis.
43 Firmamos no início do ano uma parceria com o CEFET/Uned- Leopoldina que tem oferecido gratuitamente cursos de informática básica e edição de histórias em quadrinhos para nossos alunos e, posteriormente, para nossos professores. Há na gibiteca um espaço reservado para o professor, onde ele pode dispor de periódicos e livros que versam sobre o uso das HQ’s na sala de aula. Além de material impresso, contamos com textos digitalizados, produzidos por educadores e pesquisadores de todas as partes do país, centenas de tirinhas e HQ’s digitalizadas. Os professores são estimulados a ler os gibis, tanto quanto estimulam seus alunos. Eles também participam das atividades que são oferecidas aos alunos, tais como oficinas de quadrinhos e cursos de informática para edição de quadrinhos. Esta comunhão possibilita ao professor compreender melhor o próprio universo dos seus alunos-leitores e, ao mesmo tempo, ter mais segurança para usar este material na sala de aula. Atualmente a Gibiteca conta com um acervo de 2620 exemplares (segundo levantamento realizado no final do mês de fevereiro de 2008), tendo sido observada um grande crescimento nas doações feitas por pessoas da própria cidade. O acervo está distribuído da seguinte maneira: Superheróis
Álbuns
Infantis
Mangás
Inglês
Educativas
Raridades
Repetidas
Suspense
Total
1243
200
443
149
92
220
50
166
57
2620
A Internet foi uma ferramenta muito importante para o êxito do projeto. A construção de um blog com a finalidade de divulgar os trabalhos realizados na Gibiteca, assim como disponibilizar referentes aos quadrinhos nos possibilitou expandir nossos contatos. O blog Gibiteca.com tornou-se nosso cartão de visitas. Lá as pessoas podem observar o que está sendo feito na escola e tomar conhecimento dos nossos projetos e de seus resultados. Por meio de vídeos, pode entrar na Gibiteca, mesmo estando em outras cidades, estados ou países. São divulgadas, periodicamente, as doações que recebemos, mantendo desta forma um diálogo aberto com nossos leitores. Além disto, a necessidade de manter sempre atualizado o espaço digital, nos permitiu desenvolver uma série de pesquisas e buscar soluções para questões levantadas pelos leitores do blog e pelos próprios professores. 2.1 – Gerenciado a Gibiteca Uma das preocupações que tivemos durante o ano de 2007 foi de tentar manter um registro daquilo que nossos alunos estavam lendo. A cada semana, quando eram realizados os empréstimos de revistas em quadrinhos, os alunos assinavam o livro de empréstimos e nele era registrado o título da Hq que estava sendo emprestada. A partir destes dados pudemos verificar as preferências dos alunos, levando em conta as doações que eram recebidas. Para facilitar o estudo, dividimos os meses de maio a novembro em três períodos, como pode ser verificado na tabela abaixo:
Período
Nº de dias corridos
Nº de HQ’s emprestadas
Média semanal
44 29/05 a 05/07 30/07 a 27/09 01/10 a 21/11 Total de empréstimos
38 62 52
287 470 270
53,1 53,4 36,4
1027
Quanto aos dados acima, cabem aqui alguns esclarecimentos. A princípio os empréstimos eram realizados para os alunos dos turnos da manha e da tarde. Observem que nos dois primeiros períodos o número de empréstimos por semana permanece o mesmo. A partir do terceiro período, os empréstimos foram realizados apenas para os alunos da tarde, devido ao aumento de serviço do professor eventual do turno da manhã, que não lhe permitia manter os empréstimos no mesmo ritmo. No entanto, a gibiteca continuou funcionando no turno da manhã para leitura, acompanhada por professores. Neste caso, nem sempre se registrava o que era lido, pois os professores tinham a liberdade de levar as HQ’s para a sala de aula. Sendo assim, durante o ultimo período o número de empréstimos diminuiu em relação aos outros meses, mas ao mesmo tempo notamos um aumento relativo entre os alunos do turno da tarde. Em relação à leitura em si, fizemos um levantamento do que foi lido nestes três períodos e chegamos aos seguintes resultados: Período 29/05 - 05/07 30/07 - 27/09 01/10 - 21/11
Super-heróis, aventura e mistério 84% 43% 33%
Infantis 13% 47% 42%
Mangás 3% 10% 25%
Também com relação a estes dados, é relevante sublinhar alguns pontos. No primeiro período de empréstimos, os quadrinhos infantis disponíveis eram poucos e a maior parte do nosso acervo era composto por HQ’s de super-heróis. No segundo período, a escola recebeu uma grande doação de HQ’s infantis, notadamente da Turma da Mônica, o que permitiu que fosse liberado sem restrições o empréstimo deste gênero, provocando uma grande queda na leitura de gibis de super-heróis. No último período conseguimos recursos para comprar mangás, que até então eram em número muito reduzido, mas cuja leitura estava aumentando gradativamente. O aumento do acervo, no mês de novembro, fez com que muitos alunos se interessassem mais por este gênero. Ao adquirir os títulos levamos em conta a preferência dos alunos: as meninas gostavam de Sakura e Vídeo Girl AI, enquanto que os meninos queriam Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco. Tendo em visto o curto período em que este material ficou disponível, o crescimento da leitura pode ser considerado muito significativo. Sobre os títulos mais lidos, destacaram-se as revistas do Homem Aranha, dos XMen, da Turma da Mônica, da Turma do Xaxado, Vídeo Girl AI e Dragon Ball. Notamos pouco interesse dos alunos nos álbuns e nas histórias em quadrinhos de terror e mistério. Ao reorganizar o espaço da gibiteca no início do ano de 2008 nos preocupamos em etiquetar as caixas e as prateleiras com os nomes dos títulos, destacando os gêneros. Na primeira semana de aula, foi afixada no mural e cada sala de aula sala de aula e na própria gibiteca dicas de como fazer o melhor uso do espaço, explicando, por exemplo, onde encontrar histórias completas, a entender a seqüência das revistas seriadas, identificando as mais antigas e as mais novas, etc. A professora eventual que fica responsável pelos empréstimos semanais faz a
45 orienta os alunos sobre necessidade de conservar os gibis e de efetuar sua devolução dentro do prazo previsto (que é de uma semana). Ao mesmo tempo, criamos um mural externo onde estão sendo colocados mensalmente, imagens e textos falando sobre títulos que são pouco lidos ou que são desconhecidos, mas que fazem parte do acervo da gibiteca, como, por exemplo, Corto Maltese, de Hugo Pratt, Novos Titãs, da DC Comics, etc. É nossa intenção observar se a disponibilização destas informações irá influir nas escolhas dos alunos. 3 - Uma experiência com leitura e interdisciplinaridade Durante o ano de 2007, aos poucos, alguns professores começaram a desenvolver pequenas experiências de ensino utilizando histórias em quadrinhos. Neste primeiro momento destacaram-se, três iniciativas. A primeira foi da professora de série inicial Maria de Fátima Alves que desenvolveu uma pequena oficina de HQ’s junto a alunos da escola que estavam com dificuldades de aprendizagem. São meninos e meninas de idades variadas para os quais ela estava ministrando aulas de reforço. O objetivo da oficina era estudar sobre folclore produzindo uma HQ. Segundo a professora, o trabalho de produção de HQ’s foi estimulante pois incentivou-os a usar da criatividade, transformando um trabalho escolar em uma atividade lúdica, prazerosa. A segunda experiência foi realizada pela Roseane Peres Rocha, que decidiu tornar as avaliações de matemática mais divertidas para os alunos da 5ª série do Ensino Fundamental. Ela utilizou tirinhas da Turma da Mônica para montar problemas matemáticos e desafiando os alunos a fazerem o mesmo. Para a professora, o uso dos quadrinhos nas atividades desperta a atenção dos alunos, que inclusive preocupam-se com pequenos detalhes quando preenchem os balões: "Eles colocam a fala errada do Cebolinha e sublinham as palavras que estão erradas”. Uma vez que os resultados foram positivos, a professora pretende repetir a atividade neste ano de 2008 e tem também se interessado em buscar outras formas de usar quadrinhos no ensino da matemática. Para isto, uma ferramenta importante está sendo a Internet, onde ela recolhe o material que usa para montar duas avaliações. Outra professora que investiu nos quadrinhos foi Mary Ângela Carraro Dibo, que trabalha com a disciplina língua portuguesa. Preocupada com os péssimos resultados dos alunos da 6ª série, nas primeiras avaliações do 2º bimestre notadamente erros de ortografia e interpretação - a professora decidiu mudar a rotina das suas aulas. Uma vez por semana dividia os alunos em dois grupos. Uma metade fica na biblioteca e a outra é encaminhada à Gibiteca, sendo que em cada semana os grupos se alternam. Lá os alunos faziam uma aula de leitura livre. Além dos alunos terem melhorado seu desempenho nas aulas e nas avaliações, até a disciplina da turma - que tinha muitos problemas desde o início do ano – também mudou. Mary Ângela destaca que os alunos preferem as aulas na gibiteca pelo ambiente agradável e despojado, diferente da biblioteca, onde eles ficam sentados em cadeiras e mesas. A professora observa que na biblioteca os alunos folheiam livros e muitas vezes não os lêem. Já na gibiteca a atenção com a leitura é bem maior. Ela assinala que o apelo visual das HQ’s é um fator importante, pois o desenho prende a
46 atenção e mesmo que o aluno "pule" algumas falas, ele consegue entender a história graças à leitura das imagens. A professora já trabalhava com quadrinhos em suas aulas, na forma de atividades. Usando tirinhas do Snoopy - personagem de Charles Schulz -, ela propõe exercícios que misturam desde questões gramaticais (identificar locuções verbais, vocativos e onomatopéias) até interpretação. Em 2008, Dibo continua investindo nos momentos de leitura na Gibiteca, agora com alunos do EJA (educação para Jovens e Adultos) que freqüentam o turno da noite na escola. Neste ano o número de professores interessados em desenvolver atividades com quadrinhos aumentou consideravelmente. Os professores de educação infantil e alfabetização foram os primeiros a procurar material na Gibiteca para trabalhar com seus alunos. Alguns ofereceram ou vão oferecer uma pequena oficina de quadrinhos, sugestão do Guia Prático do Professor do Ensino Fundamental I. Tratase de uma experiência de ensino desenvolvida pela professora Antônia de Sousa Carvalho (2008), em Ribeira do Pombal (BA). A oficina dura cinco dias e está sendo desenvolvida com a ajuda da professora eventual. Nela os alunos aprendem a montar HQ´s e a produzir materiais diversos como a TV quadrinhos e o Porta Gibis, e são incentivados a terem sua mini-gibiteca em casa. O interesse dos alunos pela atividade é grande e tem sido desenvolvida na 2ª e 3ª séries do fundamental. Uma disciplina que está se interessando pelos quadrinhos é a educação física. A professora Milena está produzindo material didático para alunos de 5ª a 8ª séries utilizando HQ´s. A educação física é uma disciplina que envolve esporte e atividades lúdicas. Os quadrinhos são uma atividade lúdica, portanto se encaixam dentro do conteúdo. O obstáculo está em montar e selecionar material, pois há muito pouco – ou quase nada – sobre o assunto, além dos textos que já havíamos disponibilizado no Blog da Gibiteca Escolar. Procuramos em primeiro lugar identificar as atividades esportivas nos quadrinhos, buscando em HQ’s publicadas no Brasil referências a estas atividades. Encontramos algumas, como a Turma do Xaxado, a Turma da Mônica, Senninha, Zé Carioca, e Oscarzinho, por exemplo, onde o esporte aparece como tema de algumas histórias. A realização dos jogos Pan Americanos no Rio de Janeiro, em 2007, ajudou a disponibilizar algum material, que já está sendo utilizado pela professora para compor aulas de educação física. A idéia é mostrar que se estuda educação física tanto quanto outras disciplinas e alternar as aulas nas quadras com aulas dentro de sala, onde os alunos estudam sobre cada esporte, fazem atividades envolvendo quadrinhos – onde tem inclusive que trabalhar interpretação de texto – e são avaliados. Cabe ao professor avaliar a melhor forma de utilizar as HQ’s com seus alunos. Alguns autores sugerem que os quadrinhos podem ser trabalhados de três formas básicas: a) através da análise critica da história; b) incentivando a criação de histórias em quadrinhos pelos próprios alunos; c) utilizando os quadrinhos como um meio de expressão e conscientização política.
47 Conclusão Para muitas pessoas que tomam conhecimento do projeto, usar as HQ’s nas escolas, como instrumento de ensino pode parecer uma novidade. Mas não é bem assim. Já existem no Brasil e mesmo no exterior várias iniciativas de aproximar o leitor – jovem ou adulto – das histórias em quadrinhos. Em Portugal, por exemplo, temos a Bededeteca de Lisboa (lá as HQ’s são chamadas de banda desenhada, nos países de língua francesa elas são as bande dessinées), na França há no Museu de Angoulème a Fanzinothèque de Pottiers. Criada em 1989 por iniciativa do “Conseil Communal des Jeunes de Poitiers”, a Fanzinoteca desenvolve suas atividades em duas direções: a documentação e o patrimônio de um lado e organização de eventos de outra. Ela funciona como uma grande empresa e classifica e arquiva toda produção amadora (música, HQ’s, literatura, etc.) Ela possui a disposição do público um fundo de mais de 50.000 documentos e publicações. É a única fanzinoteca do mundo que mantém atividades constantes. No Brasil há gibitecas espalhadas por várias cidades do país, mas ainda são em número reduzido. Embora as HQ’s sejam uma mídia popular, ainda há quem restrinja o espaço que elas ocupam como forma de leitura, ensino e comunicação. Estamos procurando promover pequenos cursos e eventos envolvendo toda a comunidade escolar e colegas de outras escolas, buscando divulgar a leitura e o uso das HQ’s nas salas de aula, assim como os benefícios de se ter uma gibiteca. Recebemos periodicamente e-mails e telefonemas de pessoas que desejam criar gibitecas nas suas escolas, mas não sabem como fazê-lo. Procuramos sempre orientar da melhor forma possível e estamos abertos a todos que desejem multiplicar esta idéia. O ensino se dá pela comunhão e pela partilha, e a solidariedade deve se a base de toda atividade escolar. Pode parecer, a primeira vista, que o uso de HQ’s e a criação de gibitecas nas escolas esteja sendo apresentado como uma solução milagrosa para os problemas que enfrentamos no ensino. Este equívoco talvez seja responsável pela resistência de muitos profissionais do ensino em aceitar os gibis e outras mídias nas escolas. Elas não substituem o professor nem são suficientes para formar nossos estudantes. Mas são instrumentos didáticos importantes que podem auxiliar neste processo. A Gibiteca é um apoio para o professor que deseja diversificar as suas aulas. Ela não garante por si só o êxito do aluno, mas ela fornece a ele a possibilidade de ampliar seus horizontes e de desenvolver sua capacidade de ler. Ela também age na auto-estima dos professores. Eles passam a dar mais valor ao seu trabalho. O professor redescobre junto com o aluno o prazer da leitura e acaba promovendo sua auto-formação, construindo seu conhecimento, aprimorando suas metodologias de trabalho, deixando de ser apenas um profissional do ensino, mas sobretudo um educador. Referências ALVES, José Moysés. Histórias em quadrinhos e educação infantil. Psicol.cienc. prof. Brasília, vol..21, num.3, set. 2001. Disponível em: < http://scielo.bvs-
48 psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141432001000300002&lng=pt&nrm=is>. Acesso em: 05/02/2006. CABRINI, Conceição et. alii. O Ensino de História: revisão urgente.- 5a ed – São Paulo: Brasiliense, 1994. CALAZANS, Flavio Mario de Alcântara. História em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004. CARVALHO, Antônia de Sousa. Gibiteca na Escola. Guia prático do professor do ensino fundamental I. São Paulo: Editora Lua, ano 5, nº 49, março/2008 FIORIN, José Luis, SAVIONI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. - 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 1991. GIESTA, Nágila Caporlíngua. Histórias em quadrinhos: recurso no ensino e na investigação educacional In: XIII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, Recife/PE. Anais do XIII ENDIPE, 2006 GONÇALVES, Jussemar Weiss. O campo da história na Escola Pública. In: Qual história? Qual ensino? Qual cidadania? – Porto Alegre: ANPUH, Ed. Unisinos, 1997. SILVA, Diamantino da. Quadrinhos para Quadrados. Porto Alegre: Bels, 1979.