Energia: uma leitura criativa da natureza
Prof.ª. Drª. Mariana Valente Universidade de Évora
“Ao cair da tarde, nas ruas estreitas da grande cidade, (…) quando o sol se punha e as nuvens surgiam como um fundo de ouro por cima das chaminés negras, umas vezes um, outras vezes outro, ouvia um estranho som, como que um eco longínquo de um sino de igreja; o som, porém, apenas durava um instante: o ruído dos transeuntes das carruagens, das carroças, imediatamente o sufocava.”
“Já um pouco fora da cidade (…) viase bastante melhor a beleza do céu incendiado pelos raios de sol poente e ouvia-se bem o som do sino que parecia provir da vasta floresta que se estendia ao longe”
“Como é sublime o som deste sino! E se o fôssemos ouvir de mais perto?”
Dois rapazes, um pobre e o outro filho do rei, decidiram lançar-se na aventura e internar-se no bosque.
“A verdade é que era difícil ali penetrar: as árvores eram cerradas, eriçadas de silva e de altos fetos; longas grinaldas de campainhas dificultavam também a marcha; havia também pontiagudos calhaus, grandes blocos de rocha e pântanos.”
“(…) chegaram a uma linda clareira, atapetada de musgo de todos os matizes, lírios-do-vale, orquídeas e outras lindas flores; no meio, uma fonte fresca e abundante brotava de um rochedo; o seu murmúrio fazia “Gluk! Gluk!”
“Vamos caminhar os dois à descoberta”, disse o filho do rei. “Dirijamo-nos para a esquerda”. “Com estes socos não poderei seguir-vos muito depressa”, disse o rapaz pobre, “e além disso pareceme que o sino deve estar à direita, pois não é esse o lugar reservado a tudo o que é magnífico e excelente?”
“Nesse caso, temo bastante que não nos voltemos a encontrar!”
“E, agarrando-se às raízes, aos ramos, aos ângulos das rochas, no meio de cobras, de sapos e de outros bichos, trepou e chegou ao cimo, ofegante, esgotado.”
“Que esplendor os seus olhos descobriram!”
“O mar, o mar imenso e magnífico, estendia-se a perder de vista, arremessando as suas longas vagas contra a falésia.”
“O sol, semelhante a um globo de fogo, cobria de chamas vermelhas o céu, que parecia estender-se como um vasta abóbada sobre este santuário da natureza; as árvores da floresta eram os seus pilares; os prados floridos formavam como que um rico tapete (...).”
“O sol desapareceu lentamente; milhões de luzes em breve cintilaram no firmamento, a lua surgiu e o espectáculo continuava a ser grandioso e comovedor.”
“Eis que à direita apareceu o rapaz pobre sobre dois socos (…). Deram a mão um ao outro e ficaram abismados na contemplação de toda aquela inebriante poesia.”
“E, de todos os lados, se sentiam rodeados pelos sons do sino divino: eram os ruídos das vagas, das árvores, do vento; era o movimento que animava toda aquela natureza simples e grandiosa”