PEDRO PENIDO
CRÍTICA AOS
DEZ MITOS DA INTERNET, DE KARL ALBRECHT
A intenção deste trabalho é jogar outras luzes sobre o pessimismo exacerbado de Karl Albrecht em seu trabalho “Os Dez Mitos da Internet”, publicados em coletânea de autores indispensáveis sobre Internet e Tecnologia.
Assim tentamos fazer frente a pontos de vista veiculados pela mainstream que tentam nublar as observações técnicas, científicas e sociais que se pode ter ou assimilar da Rede Mundial de Computadores, a Internet.
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Introdução Em matéria da Folha lida recentemente, Karl Albrecht, especialista em coisas de empreendedorismo, futurologia dos serviços e coisas do tipo (sim, estou desdenhando sim!) foi “contemplado” com a publicação na íntegra de um dos artigos publicados por ele em seu mais recente livro (algo em torno de auto-estima de negócios). Antes de tudo é IMPORTANTÍSSIMO que conheçamos o website deste que nos fala como se fosse o maior pensador da Era da Informação, capaz de nos dizer quais são os 10 Mitos que a humanidade celebra na e sobre a Internet. Um site com um único propósito: - vender livros de Karl Albrecht, um mito criado em torno do próprio umbigo. Confira o site deste que critica ferrenha e convictamente a rede e tire suas próprias conclusões. SITE DA KARL ALBRECHT INTERNATIONAL Eu não conheço o trabalho de Albrecht e confesso que o tipo de reflexão que ele faz sobre a realidade fica aquém daquilo que eu estou acostumado a esperar de qualquer produção científica que tenha compromisso com o ajuste da realidade e sua consequente melhora e não tão somente observar o que acontece, de cima do muro, e ficar se alimentando das tentativas daqueles que querem mudar algo. Mas não pretendo entrar nessa discussão. Albrecht escreveu um artigo onde ele aponta “Dez Mitos da Internet” e os critica, com ares de “Senhor Detentor da Razão”. Durante minha leitura do artigo de Albrecht eu tomei a liberdade de separar alguns de seus apontamentos e opinar também, procurando fazer uma reflexão mais coerente com a realidade e a História. Começamos com a introdução do artigo, de onde separei o trecho abaixo: A confluência de propagandistas da “teologia Internet”, também conhecidos como “conspiração minha-nossa!” (”Gee-Whiz”, no original), vem obtendo notável sucesso ao vender suas idéias para jornalistas, personalidades políticas e grande parte do público. Essa “teologia”, no entanto, está equivocada na essência, distorcida por filtros do pensamento tecnológico e dos valores da classe média alta. Além disso, ignora uma visão mais ampla de cultura, necessidades humanas e necessidades empresariais. Que existe esse pensamento do “Gee-Whiz” ninguém pode negar. De fato existe muita gente por aí pregando que a “Internet” (e não os processos comunicativos mediados por computadores) é muito mais que ela realmente é. Existe, sim, uma “teologia da Internet”, mas ela não é tão predominante assim. Mais incômodo me é o fato de Albrecht fazer tão bom apontamento e terminar dizendo que as “análises lógicas” (que ele aponta como falhas) não contemplam uma “visão mais ampla de Cultura, necessidades humanas e necessidades empresariais“. Sinceramente sou incapaz de compreender o que as necessidades empresariais têm a ver com os avanços da web. Está claro que o meio empresarial ainda é um tanto quanto “observador” do terreno. Apesar da dita “loucura pela Internet” que Albrecht aponta, é interessante perceber que são poucos os empreendimentos offline que estão “em dia” com as possibilidades e potencialidades da Internet. Isso se deve provavelmente porque no mundo material, offline, estas empresas simplesmente não viram necessidade de gastar dinheiro com o mundo virtual. Isso é um direito delas, oras, e também uma questão de “análise lógica”. Mas para o “pensador” Albrecht, parece que a percepção do cenário macro é difusa. Também é muito estranho que Albrecht cite “valores da classe média alta e distorcidos filtros do pensamento tecnológico” como culpados pelo processo de “teologização da Internet” e, logo depois, fale de “necessidades empresariais” não vislumbradas no jeito de encarar o futuro da rede mundial de computadores. Estas necessidades empresariais servem a quem?
O avanço monstruoso da tecnologia da informação é uma afronta à capacidade de uma nação, com cenário político-econômico tempestuoso, acompanhar. Mas esta discussão é outra. Sua gênese está na produção desenfreada de hardware e periféricos e a criação de “coisas e produtos” que não fazem a menor diferença para o desenvolvimento da humanidade. Mas, para a Albrecht Internacional, talvez faça, afinal, ela se alimenta disso: disparidades geradas por um cenário tecnológico que avança mais que o mundo consegue acompanhar. Para tanto, mega-corporações contratam Albrecht para ajudar-lhes a se adequar ao que o mundo consegue assimilar. Essa visão de Albrecht não contempla os eventos que a Internet vem permitindo acontecerem, como os sistemas colaborativos, a ampliação de redes de relacionamento e o nascimento de projetos que só se tornariam possíveis sobre a plataforma Internet. Podemos citar, por exemplo, a ANF, Agência de Notícias de Favelas, que usa a rede para algo muito além que simplesmente “vender qualidade e diferencial”, coisa de ”pensamento empreendedor” e livros de auto-ajuda empresarial. É desnecessária para os fins desta argumentação uma análise maior sobre o que é a ANF, sua ideologia e seus propósitos. Isto demandaria um trabalho à parte. Mas seria um trabalho independente do foco deste texto. Aqui a ANF nos serve muito bem para apontar como a rede pode ser utilizada para fins que se afastam de iniciativas meramente “empresariais”. Albrecht não compreende a rede como ambiente, e sim como ferramenta. Daí sua percepção, tipicamente capitalista, de uso descartável da comunicação mediada por computadores, como ferramenta perseguidora de lucro imediato.
Continuo aqui minha empreitada, discutindo os mitos que Karl Albrecht achou que mereciam ser “decifrados” por ele e seu “vasto” conhecimentos sobre a Internet. Obviamente podemos dizer que a ele faltaram não apenas critérios mais atualizados em relação à presença da rede na civilização, mas também um pouco mais de esforço intelectual em apresentar questões que fossem mais profundas em sua essência, e não meros apontamentos muito próximos de “ouvi dizer”, “disseram” e “dizem por aí”. Em parte, podemos ver que alguns mitos eleitos por ele poderiam ser substituídos ou melhor explorados. Uma sugestão que posso fazer de mito a ser discutido: “Web e Web 2.0., mudanças de estrutura e pensamento”. Mito nº 1: todos estão usando a Internet. Os propagandistas da rede reivindicam uma população on-line de 40 milhões ou mais de pessoas. Não acredito nem por um segundo nesse número. Sem comprovação, é difícil validar qualquer alegação do gênero, embora a maioria das pessoas pareça aceitá-la sem questionamento. Isso inclui apenas as contas ativas da Internet ou todas as pessoas que possivelmente estariam conectadas? Qualquer um com um microcomputador e um modem? A família toda, se houver um micro na casa? E que padrão de atividade define um usuário? Diário? Semanal? Mensal? Uma vez na vida? Até Andrew Grove, presidente da Intel e respeitado guru da revolução digital, reconheceu que se conecta à Internet “talvez duas horas por mês”. A cobertura jornalística passa a impressão de que todo adolescente dos Estados Unidos navega pela rede. E estamos ainda longe disso. Mito nº 2: o número de usuários crescerá sem limites. Esse é um caso claro de projeção prematura. É a mesma psicologia que impulsionou todas as ondas imobiliárias, as euforias dos mercados de ações e loucuras históricas como o “Surto das Tulipas” da Holanda da década de 1630 (veja quadro na pág. 100 com glossário) ou o “O Conto do Mar do Sul”, no Reino Unido de 1720. Nada deve ser elevado aos céus, e quem não entende o Princípio da Curva S acaba aprendendo na prática.
Nos dois primeiros mitos, Karl Albrecht limita-se a apenas fazer uma análise do volume do processo, em detrimento de compreender a capilarização das relações mediadas por computadores. O barateamento de hardware, unido a elevações no poder de compra, de fato fizeram a Classe Média entrar mais firmemente no cenário, mas, ainda existe uma grande
parcela da população mundial que exige esforços muito mais materiais e imediatos que a aproximação com alta tecnologia. Isto é um fato. Mas se existem pessoas falando que “todos estão conectados” ou que “em poucos anos todos estarão”, talvez possamos desconfiar de quem são “todos” e com que finalidade. Aproximando meu pensamento de tendências mais atuais da Rede, permito-me ser levado a pensar que as relações mediadas por computadores estão cada vez mais sólidas. Uma grande gama de serviços online hoje operam e sustentam uma série de outros processos do mundo offline. Existe uma aproximação muito mais real com a Rede que havia anos atrás. Mas, no final das contas, Albrecht preocupa-se em saber se o número de usuários crescerá exponencialmente ou não, se alguns milhões a mais ou a menos utilizam. Isto é uma questão de acesso. Assim como os celulares já o foram, e também os aparelhos de tv e serviços plus (televisão por cabo, assinatura…) É preciso distinguir uma coisa de outra. Albrecht fala em ocupação, ou seja, a ele interessa saber quantos usam, independente do uso que façam. Para mim a contagem que interessa (se é que esse tipo de “contagem” interessa) é a de ambientação. Ambientar-se na rede é entender uma série de procedimentos próprios dela e compreendê-los não apenas mecanicamente, mas também apreender sua utilização prática para fins de socialização ou comunicação. Ambientar-se é compreender como funciona a malha da web do seu ponto de vista dinâmico, ou seja, do ponto de vista daqueles que geram um monstruoso fluxo de informações: os próprios internautas.
O que muita gente parece tentar evitar é a compreensão de que não são os sites “empresariais” que mantém a rede. Quem a mantém é a comunidade, tornando-a um bem mundial nômade. Pois basta ter acesso (que, conforme discutimos, está envolvido em uma questão fundamentalmente capitalista). Acesso permitido, a navegação é por conta de cada um, de cada comunidade e grupo de conhecidos, e de ninguém mais. Acredito que a grande marca de volume a ser apontada seja que: - O número de usuários cresceu muito, mas também cresceu muito (proporcionalmente) o número de pessoas que participam da tecelagem da trama, da ampliação da rede. E isso também é um fato.
Bem, aí vai mais um esforço quase paladinesco de criticar, de maneira áspera se necessário, a proliferação de “profetas e profecias” sobre a Era da Informação e da própria Internet. Para tanto seria vital que grandes centros de disseminação de informações, como os portais noticiosos da Folha, separassem o joio do trigo, ou seja, parassem de veicular Karl Albrecht e suas fantasias revoltadas como leitura qualificada. Convenhamos que o material de Albrecht é escrito a partir do pensamento fantástico-reacionário que se tinha da Internet anos atrás. Palco de uma Democracia Universal e Virtual e Berço Cibernético da Emancipação dos Povos são nomes que foram, com o passar do tempo, arranjados para a Rede. Mas o mesmo “passar do tempo” se incumbiu de removê-los ou soterrá-los. Hoje sabemos todos, muito bem, que houve grande fantasia em torno do nascimento da Rede, mas o amadurecimento do processo se deu de maneira inteligente e as próprias pesquisas em torno da Comunicação Mediada por Computador discutem a Rede Mundial de Computadores por um prisma muito mais crítico e comedido. A publicação deste material de Karl Albrecht por um site de peso como a Folha contribui para o não entendimento da Internet e de seu ambiente tecnológico. Contribui para a crítica ingênua, dissociada de análises profundas. Contribui apenas para estigmatizar a Rede sem levar em conta seu potencial para além de convenções político-sociais legitimadas no discurso pragmático de Albrecht. Vamos aos mitos 03 e 04. Mito nº 3: a Internet será a “grande força democratizante”. Na verdade, ela pode ter efeito exatamente oposto. Ela pode aumentar a disparidade entre os que têm e os que não têm. Apesar dos comerciais politicamente corretos que mostram uma encantadora menininha negra na África se conectando à Internet, os pobres e os desnorteados não serão alçados de suas circunstâncias econômicas pelo computador ou pela Web. Eles estão presos a um paradigma muito diferente. A visão da classe média alta de que tudo que é preciso fazer é “dar-lhes computadores” cheira novamente a Grande Sociedade. É o equivalente cibernético de “que comam brioches”. Mito nº 4: a Internet é uma comunidade mundial.Um famoso pôster do personagem de quadrinhos Dilbert pergunta: “E se Deus for a consciência que se criará quando um número suficiente de pessoas estiver conectado à Internet?”. Esse é um pensamento fanático da mais alta perversidade e passa por todos os testes de admissão à mentalidade dos cultos religiosos. Aí está uma demonstração perturbadora da visão mundial narcisista e auto-adulatória dos que se consideram iluminados, uma irmandade especial detentora de segredos não acessíveis aos comuns dos mortais. À medida que a Internet começar a se “desconstruir” e seus clientes mais prezados forem para outro lugar na inevitável busca da qualidade, a única “comunidade” restante será a dos pervertidos, pornografistas, pedófilos, cafetões, piratas e uma miscelânea de desnorteados e descontentes.
É característico da escrita de Albrecht uma profetização de tudo. O tom é absolutista e maniqueísta. As coisas são assim e assim continuarão a ser até o fim dos tempos, nas palavras apocalípticas do vendedor de livros. Todo o discurso de Albrecht está contaminado por uma visão meramente capitalista, ao melhor estilo “meu umbigo e eu”. Quando se fala em comunicação mediada por computador, obviamente se fala de muito mais que Internet em si. Internet é o nome de um produto norte-americano, hospedado nos EUA e de alcance global que tem mudado a prática da Comunicação nos últimos tempos. No entanto, se não for na Internet, será em outro espaço. A humanidade testemunhou benefícios demais dos MCM para
abrir mão deles permanentemente. Isso sim é um fato. A própria visão de Albrecht salientada em seu texto, apontando para uma “encantadora menina negra se conectando à rede na África” é fruto de um bombardeio massivo do mainstream. A falta de criticidade de Karl Albrecht é reforçadapelos exemplos que ele cita ao longo de sua análise. Albrecht esquece-se de analisar um contexto mais amplo (voluntaria ou involuntariamente) para se debruçar em críticas vazias, inspiradas por uma fase da Rede que está ficando no passado. É ingênuo acreditar que Internet e Democracia caminhem juntas. É ingênuo imaginar que um processo político com ideais de igualdade e liberdade possa abrir mão do contato pessoal, da discussão humanística das idéias para simplesmente limitá-lo a combinações binárias. Eis o fato. Parece que Albrecht vê o mundo a partir de um foco e dele não se separa em hipótese alguma, até mesmo para se atualizar acerca das questões feitas recentemente pelos pesquisadores de nossos dias. No mito 04, Albrecht cita Dilbert, tira criada por Scott Adams e veiculada em jornais e sites do mundo inteiro. Em Dilbert, Adams critica de maneira divertida e sagaz o “Mundo da Informação”. Já Albrecht faz uma interpretação “focada”, ou seja, uma interpretação que faz juz aos seus interesses de apenas criticar, sem se aprofundar. Prova maior é que, no episódio de Dilbert citado, ele critica o personagem pela frase “E se Deus for a consciência que se criará quando um número suficiente de pessoas estiver conectado à Internet?”. Talvez o autor não saiba, mas essa frase é escrita a partir do conto de Frederic Brown, chamado RESPOSTA, de 1954. Neste conto, os cientistas interconectam todos os computadores de todos os planetas habitados e diante daquele monstro, perguntam: “Deus existe?” O computador então responde: “Sim, agora existe!”. Incapaz de ir além de suas bravatas, Albrecht se delicia em fazer levantamentos a partir de convenções próprias, sem citar fontes, pesquisas sérias e atuais e, ao menos, sequer, fundamentar suas opiniões. Mais triste ainda, ante este catastrófico trabalho de “elencar Mitos da Internet” e desbravá-los de maneira ingênua, omissa, descomprometida, retrógrada e incoerente, é Karl Albrecht ser, mais uma vez, apontado pela FOLHA como texto referência sobre o assunto. Isso é cuspir na cara de tantos pesquisadores que têm feito trabalhos tão louváveis, críticos e profundos nos últimos anos, além de transformar um ambiente/ferramenta que transformou o mundo em uma simples “onda da classe média alta”. Eis o link da Folha, onde o autor Karl Albrecht é chamado de especialista no assunto, além de ser presidente do conselho de um grupo que têm o seu nome. CLIQUE AQUI! O mais interessante é o nome da coleção: E-business e Tecnologia - Autores e Conceitos Imprescindíveis.
E continuemos com nosso esforço de rebater as ‘leituras indispensáveis’ da Folha para quem quer conhecer melhor a Internet. De acordo com o jornal, este artigo de Karl Albrecht, chamado ‘Os 10 Mitos da Internet’ é uma leitura obrigatório, uma referência sobre o assunto. Por aqui, neste espaço blog, temos criticado, de maneira ácida (confesso), os vômitos que Karl Albrecht, um pseudo-guru de tecnologia, tem jogado sobre tudo que se tem de trabalhos sérios sobre o tema de Comunicação Mediada por Computador. Em muitos outros casos, vale ressaltar, o pseudo-guru supracitado, ainda apresenta pontos de vista atrasados, permeados por uma total obsolescência de suas observações acerca da rede mundial de computadores. Se já não nos bastasse que Albrecht tenha chamado o que ele considera como ‘comunidade mundial’ (aquela nascida dos processos sociais mantidos na Internet) de nomes ‘feios’, ele ainda continua apontando ‘Mitos’ que hoje são tão comuns quanto ler e-mails e visitar o Orkut (no caso dos brasileiros) ou o Facebook (no caso dos europeus).
Em seu mito 04, Albrecht diz que a única comunidade a restar depois que todos migrarem para outra tecnologia ‘será a dos pervertidos, pornografistas, pedófilos, cafetões, piratas e uma miscelânea de desnorteados e descontentes’. Inspirado no teor chinfrim das críticas de Albrecht, não o poupo por seus dizeres proféticos, que não passam, como eu já disse, de bravatas e ruminanças. Vejamos o Mito 05. Mito nº 5: a rede mundial revolucionará o marketing. Nem que a vaca tussa. Esse é o mais sagrado dos cânones da "teologia Internet" e é também o menos provável de se concretizar. Na maioria, os que vendem coisas online são pessoas da Internet negociando umas com as outras. Com poucas exceções, o marketing das homepages, o marketing de mala direta em massa e as compras on-line são - e continuarão sendo uma grande sonolência. Muitas das grandes empresas encaram sua página corporativa na Internet como um modismo ligeiramente mais sofisticado.
“Pessoas da Internet negociando umas com as outras”. Quem estas as ‘pessoas da Internet’? Sinceramente tenho grande dificuldade em entender algumas coisas que escorrem pelos labirintos encefálicos de Albrecht. Avançando em suas palavras, vemos outra grande besteira: “Com poucas exceções, o marketing das homepages, o marketing da mala direta em massa e as compras online são – continuarão sendo – uma grande sonolência”. Podem até ter sido, mas não entendo com que autoridade Albrecht informa que ‘continuarão sendo’. Vejamos alguns números recentes. • •
De acordo com a empresa e-bit, o comércio online brasileiro deverá crescer de 20% a 25% em 2009, superando a marca dos R$10 bilhões de reais. Prevê também que o número de consumidores chegue a 17 milhões neste ano, ante os 13 milhões de 2008. Os artigos mais vendidos na rede foram os Livros, correspondendo a 17% do volume de negócios concretizados em 2008. Quando Albrecht fala que “Muitas das grandes empresas encaram sua página corporativa na Internet como um modismo ligeiramente mais sofisticado”, ele mostra mais uma vez sua incapacidade de perceber a evolução dos processos comunicacionais online. Atualmente pode-se comprar um carro sob medida no site da montadora, utilizando as peças e serviços como um self-service. O mesmo tipo de situação se aplica aos mais variados cenários mercadológicos. Tiremos como base a revitalização da Dell após uma série de bem empreendidas ações de marketing online. A própria campanha de Barack Obama, atual presidente dos Estados Unidos, mostra o poder do marketing online quando bem empregado. Podemos dizer que as considerações de Albrecht sobre o ‘Mito 05’ esvaziam-se à medida que lemos e associamos com nossa realidade. Mais um zero para Albrecht.
Caminhemos para o Mito 06. Mito nº 6: a Internet eliminará os intermediários. Presumivelmente cada uma dos 40 milhões, 50 milhões ou 100 milhões de pessoas na Internet pode fazer negócios diretamente com cada uma das outras. Se você quiser vender seu carro, basta mandar uns 10 mil anúncios por correio eletrônico e os interessados irão até sua página na Web. Isso pode até funcionar em uma população ao redor de mil pessoas. Mas com milhões de usuários o engarrafamento de informações ainda fará do classificado de US$ 5 no jornal uma opção melhor. Esse mito é um exemplo típico da aplicação do pensamento da "Segunda Onda", ou seja, marketing de massa, em um fenômeno de "Terceira Onda", de marketing personalizado. É como um gigantesco programa de entrevistas sem entrevistador. A vasta gama de fontes de dados da mais alta qualidade por si só aumentará a demanda por intermediários, em vez de reduzi-la.
Inacreditável! Depois de tantas contradições e bravatas proféticas, temos que concordar que Karl Albrecht acertou em cheio uma questão. Apesar de não propor nada, o autor, na minha opinião, claro, acerta ao dizer que “a vasta gama de fontes de dados da mais alta qualidade por si só aumentará a demanda por intermediários, em vez de reduzi-la”. Este é o pressuposto da Cartografia da Informação. Precisa-se de orientação dentro do caos informacional que se estende Internet à frente. A gigantesca quantidade de informações é um grande problema para o processo comunicacional mediado por computadores. A organização deste conteúdo é primordial para que se possa assimilar o conteúdo com menos ruído e mais precisão. Na Internet 2.0. todos são estimulados a participar, a falar, a manifestar. Organizar as informações oriundas deste estímulos é uma tarefa titânica, mas cada vez mais necessária. Dos mitos apresentados até agora, o mais relevante (talvez o único) é, sem dúvidas, este. Congratulações a Albrecht.
Pudemos perceber ao longo das opiniões de Albrecht que seus textos são oriundos de uma visão que se fixou nas propriedades e atribuições da rede no início de sua história pública, pelos anos de 1990. O que impressiona, no entanto, não é a visão ‘atrasada’ que Albrecht tem sobre vários aspectos tecnológicos amplamente utilizados/assimilados, mas, infelizmente, a ‘convicção profética’ que o leva a dizer assombrosas besteiras sobre o papel da Rede. Mais incoerente ainda é o fato de, mesmo apostando que a Internet está fadada a um desolador fracasso, o autor é ativo na rede mundial de computadores, mantendo site próprio, pelo qual veicula todo tipo de campanha. Mas este texto não tem por objetivo atacar Karl Albrecht em outros aspectos que não aqueles que ele mesmo estendeu à luz de outros prismas quando, convictamente, apontou suas observações como OS DEZ MITOS DA INTERNET, de modo a centralizar em seus dizeres uma espécie de compendium do que vale a pena saber ou não; pelo menos é o que ele acredita. Na última dupla de mitos analisados, debruçamos crítica por sobre apontamentos referentes ao poder de inserção midiático da internet, tanto sob a lente comercial (marketing), como sob a lente da comunicação em si (intermediários e interlocutores).
Avancemos então para os dois mitos seguintes à nossa crítica: 07 e 08. Mito nº 7: a informação digital eliminará os livros. Uma das lojas mais conhecidas da Web é paradoxalmente uma que vende livros (a Amazon). Tais vendas estão subindo constantemente em quase todos os gêneros, e os clientes continuam transbordando nas megalivrarias. Enquanto isso, quase todos os principais editores de CD-ROM vêm acumulando prejuízos. Os clientes parecem nem ligar e isso levou as empresas a cortar investimentos nos produtos digitais não-impressos. Quais os poucos produtos de sucesso em CD? Os jogos. A Web é um meio de entrega ideal para material de contracultura de todos os tipos, como manifestos anarquistas, software pirateado e outras falsificações, além da vociferação dos descontentes que sofrem da síndrome de inadequação. As editoras comerciais fornecem exatamente o que os amadores não conseguem, ou seja, produtos de informação bem concebidos, bem produzidos e de alta qualidade que exigem talento e investimento. Os livros continuarão existindo, por razões tanto humanas como comerciais.
Convenhamos que Albrecht acerte ao afirmar CDs e DVDs não alcançarão os livros em vários aspectos. Mas isso não valida uma série de ‘convicções’ que ele faz no decorrer deste mito. Dizer que a Web é “um meio de entrega ideal para material de contracultura de todos os tipos, como manifestos anarquistas, software pirateado e outras falsificações, além da vociferação dos descontentes que sofrem da síndrome da inadequação”. Percebemos que Albrecht não mede esforços em concentrar em sua crítica seu ponto de vista de capitalista selvagem que se alimenta de tudo que pode ter algum valor. Qualquer outro tipo de manifestação do pensamento, que não possa ser embrulhada e vendida, é tida como “vociferação dos descontentes que sofrem da síndrome da inadequação”. Se você não usa a rede para vender produtos, serviços e almas, como aparentemente ele o faz, você faz parte do grupo de descontentes inadequados, que não se sentem à vontade integrando uma sistemática transformação do pensamento em engrenagem a serviço do lucro. A questão da pirataria demanda uma discussão muito longa para ser simples e inadvertidamente citada aqui e, particularmente, tenho ciência (ao contrário de Albrecht) que é preciso amadurecer muito o pensamento antes de entrar nesse tipo de discussão. Pena que Albrecht pensa de maneira diferente e ainda consegue palco para publicar o que pensa, sem levar em conta o que realmente é. Concordo que os livros continuarão existindo. Mas eu concordo com isso por razões humanas, e não meramente comerciais. Os livros já existiam antes da industrialização e continuarão existindo. Países como o Brasil vêm os livros chegarem a suas livrarias com preços absurdos, justamente por estarem sob a flâmula da ‘razão comercial’. Isso é lastimável. E, pelo que eu me lembro, essa conversa de substituição dos livros pelo conteúdo digital, já caiu por terra a muito tempo. Enfrentemos o mito 08. Mito nº 8: todos vão poder se tornar editores. Isso, infelizmente, é verdade. Contudo, apenas se definirmos "edição" em termos bastante restritos. O presidente dos Estados Unidos tem uma homepage. A Nasa idem e a Associação Americana de Amor ao Menino-Homem também. O mesmo vale para o assassino Charles Manson. E para Edgard Malvern. Você não conhece Malvern? Nem eu. A Internet está em um estágio terminal de poluição de informação exatamente porque qualquer vagabundo pode despejar suas porcarias no rio cada vez mais cheio de ciberlixo. É a Lei da Informação de Gresham, e seus efeitos já são aparentes. A decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que estendeu a proteção da Primeira Emenda da Constituição aos operadores de sites que divulgam material pornográfico on-line para crianças, fará mais para apressar o declínio da Internet em sua forma atual do que qualquer lei que o
Congresso possa promulgar. Essa mesma "democracia" condenará a Internet ao papel de parque de diversões digital. Os sites terão toda a liberdade de expressão que quiserem e os fornecedores de produtos on-line de qualidade ficarão com todos os clientes de maior discernimento. Os especialistas universitários que construíram a Internet original estão trabalhando na "Internet 2" para atender a suas necessidades específicas. Preste atenção também no importante papel que as bibliotecas públicas desempenharão quando a qualidade se tornar um fator decisivo. Albert Einstein uma vez comentou: "Eu aceito a alegação de que um espertinho é 'tão bom quanto' um gênio, mas não concordo que dois espertinhos sejam 'melhores' do que um gênio".
Se todos vão se tornar retro-alimentadores da informação é, “infelizmente”, uma verdade, não sei o que possa ser bom para qualquer coisa. Talvez Karl Albrecht saiba. Talvez somente ele e seus fiéis seguidores de auto-ajuda empresarial sejam os únicos capazes de inserirem conteúdo relevante na rede. Talvez nenhum outro autor da rede tenha essa competência. “A Internet está em um estágio terminal de poluição de informação exatamente porque qualquer vagabundo pode despejar suas porcarias no rio cada vez mais cheio de ciberlixo”. Esta frase exigiu do meu bom senso um grifo mais forte. Qualquer vagabundo pode despejar informação na rede. Isso é muito grave para Albrecht. Talvez seria menos grave se fossem apenas os vagabundos formados em centros de maquinização do pensamento como ele, mas, “infelizmente” (para ele), todos nós, vagabundos de todas as partes do mundo, de variadas crenças e etnias, de variados sistemas sociais e políticos, podemos mostrar nossa opinião na Internet, mesmo que não tenhamos um público global, como o mainstream e seus ‘administradores’. Isso é preocupante. Mais gente falando. O poder da Informação dividido por milhares e milhões, ao invés de ser dividido por dezenas ou dúzias que se alimentam dele como bem entendem. Talvez as pessoas representadas por Albrecht, ou seus seguidores (líderes de grandes corporações, de acordo com ele) pensem de maneira tão pessimista. É uma pena. Mito nº 9: o NetPhone acabará com as companhias telefônicas de interurbanos. A perspectiva de ligar um microfone em seu computador e conversar com seus amigos do mundo inteiro a um custo praticamente zero é propalada por várias companhias que fabricam tais produtos. No entanto, o desempenho desses produtos está indefinidamente comprometido pela estrutura técnica da rede, e a alegada vantagem de custo parece mais uma miragem. O uso intenso da Internet será considerado abuso dos serviços telefônicos locais. Os usuários não pagam um centavo às companhias pelo acesso. O dinheiro vai para os operadores de computador e a maioria cometeu o erro fatal de oferecer tempo on-line ilimitado por uma quantia mensal fixa. Ilimitado, para muitos viciados em Internet, significa 24 horas por dia. Muitos deles deixam o computador conectado mesmo quando saem de casa, estrangulando as linhas telefônicas de tal forma que outros clientes não podem fazer chamadas. As telefônicas locais e outras compatibilizarão o preço do serviço para recuperar seus custos. O NetPhone continuará sendo um brinquedo de fanáticos, mesmo que suas limitações técnicas sejam superadas.
NetPhone é brinquedo de fanáticos? Possivelmente Albrecht nunca ouviu falar em Skype, em MSN, em Steam, em serviços de teleconferência e congêneres. É impressionante como a folha pode vir a publicar este material em pleno 2009 e ainda dando pinta de atual. Esse tipo de conversa que Albrecht trava neste mito nem é feita hoje em dia mais. Com a integração com o iPhone, por exemplo, você pode falar, de graça, de um telefone para outro por meio os aplicativos Skype disponibilizados gratuitamente na Rede. Além disso, se vai ligar de Skype para telefone fixo ou celular, o custo pode ser até menor.
Vejamos agora o mito 10, o último. Mito nº 10: o NetComputer será a próxima grande revolução. O computador da Internet, ou NetComputer, ou NetPC, será um brinquedinho de baixo preço e capacidade pequena. O usuário se conectará à rede e utilizará o software residente instalado em computadores distantes. As informações desejadas chegarão embaladas em seu respectivo programinha, que se ativa no momento da chegada, executa as funções necessárias e, então, desaparece. Esse conceito tem brechas demais para serem enumeradas rapidamente. Sua falha fatal, no entanto, é que ele é um produto político, bolado por um grupo de executivos do Vale do Silício para quebrar o domínio mundial da Microsoft no mercado de software. Seus defensores aprenderiam uma difícil lição sem muitos problemas se estudassem um produto lançado pela IBM no início da década de 80 chamado PC Junior. Era um projeto modesto, de baixo custo, que se parecia mais com um brinquedo do que com um computador. A suposição de que uma multidão estava esperando por computadores domésticos quando os preços baixassem não se confirmou. Após uma campanha publicitária fracassada que trazia um personagem de Charles Chaplin e criancinhas encantadoras, a IBM enterrou a idéia, junto com US$ 100 milhões. Destino semelhante aguarda a tão propalada WebTV, uma tentativa de vender um produto barato que transforma a TV em um computador, ou vice-versa.
Em tempos de Computação em Nuvem, de YouTube, de Current.TV (canal que apresenta vídeos enviados por internautas em redes de televisão fechadas experimentais). Além do iSofa.tv, Blip.fm e dezenas de outros serviços que estão cada vez mais na Rede e cada vez menos empacotado em prateleiras. Não se pode esquecer que já se fala, com muita propriedade, aliás, de sistemas operacionais totalmente executados na Internet. Levando em conta o que eram os celulares 10 anos atrás e o que são hoje, já podemos ter uma idéia de onde essa conversa toda vai terminar. Se Albrecht deixou esse mito por último para ser seu gran finale, digamos que o oposto aconteceu.
Não é inteligente associar a evolução da humanidade a manifestações tecnológicas computadorizadas, mas é burrice ignorar o nível de avanço com o qual lidamos hoje. Convido todos a explicitarem suas opiniões acerca desta tempestade de besteiras que Karl Albrecht vomitou em suas palavras.