Filipe A. R. Gaspar
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Geografia A 2 – Os recursos naturais de que a população dispõe: usos, limites e potencialidades 2.2 – A radiação solar 2.2.1 – Variabilidade da radiação solar 2.2.1.1 – Ação da atmosfera Devido à imensa distância entre a Terra e o Sol, apenas atinge o limite exterior da atmosfera uma pequeníssima parte da radiação solar (energia proveniente do Sol sob a forma de ondas eletromagnéticas), correspondente a 1400 watts, ou seja, aproximadamente o valor da constante solar (energia que, por segundo, chega a cada metro quadrado de superfície da camada superior da atmosfera, exposta perpendicularmente à radiação solar). Dessa energia, só chega à superfície terrestre aproximadamente metade, devido à ação dos processos atmosféricos de:
absorção – o vapor de água e outros gases, as poeiras e as nuvens absorvem parte da radiação solar, destacando-se o ozono estratosférico, pela absorção de grande parte da radiação ultravioleta; reflexão – parte da radiação solar perde-se porque é refletida pelo topo das nuvens e pela superfície terrestre, sobretudo em regiões com maior albedo (refletividade de uma superfície), como as superfícies cobertas de neve e gelo; difusão - os gases e as partículas constituintes da atmosfera dispersam a radiação solar para o espaço exterior, embora alguma parte atinja, indiretamente, a superfície da Terra – radiação difusa. Assim, a radiação solar total que atinge a superfície terrestre, designada por radiação global, é constituída por:
radiação direta – energia recebida na Terra, diretamente do Sol; radiação difusa – energia que atinge indiretamente a superfície terrestre. Ao ser absorvida pela Terra, a radiação solar converte-se em energia calorífica, aquecendo a superfície terrestre. Esta, por sua vez, emite a mesma quantidade de energia que recebe – radiação terrestre –, encontrando-se, por isso, em equilíbrio térmico.
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Alguns gases atmosféricos, como o vapor de água e o dióxido de carbono, absorvem uma boa parte da radiação terrestre, reenviando-a para a superfície e dando, assim, origem ao chamado efeito de estufa, fenómeno que permite o aquecimento da camada inferior da atmosfera e a manutenção de uma temperatura média de cerca de 15º C, mais ou menos constante.
2.2.1.2 – Variação sazonal e territorial Variação sazonal A intensidade da radiação global é maior no verão (quando o ângulo de incidência é menor) e menor no inverno (quando o ângulo de incidência é maior).
Variação territorial Em Portugal, a intensidade da radiação global é maior:
no sul; na faixa oriental junto a Espanha; nas vertentes soalheiras (vertentes viradas a sul) É menor:
no norte; no litoral ocidental a norte do Tejo; nas vertentes umbrias (vertentes viradas a norte).
Fatores de variação Exposição das vertentes; Nebulosidade (influenciada pela distância ao mar e pela altitude); Latitude (o movimento de translação influencia o ângulo de incidência e o tempo de exposição). 2
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Esses fatores vão afetar a insolação – nº de horas de céu descoberto com o Sol acima do horizonte.
2.2.2 – Variação da temperatura 2.2.2.1 – Variação sazonal A temperatura é maior no verão e menor no inverno, devido ao movimento de translação da Terra que faz com que:
em dezembro, a radiação solar atinja o território nacional com maior ângulo de incidência, aquecendo-o menos; em junho, a radiação solar atinja o território nacional com menor ângulo de incidência, aquecendo-o mais.
2.2.2.2 – Variação territorial A temperatura média anual diminui de sul para norte, devido:
à latitude – a temperatura diminui à medida que a latitude aumenta; ao relevo (mais alto a norte do Tejo) – a altitude faz diminuir a temperatura (gradiente térmico vertical – a temperatura diminui 6º C por cada 1000 metros de altitude). No inverno, a temperatura diminui de sudoeste para nordeste. No verão, a temperatura varia em faixas quase paralelas à linha de costa, aumentando do litoral para o interior. A influência da latitude atenua-se, pois o Sol incide mais diretamente sobre o hemisfério norte. É o mar que exerce mais o seu efeito moderador, pois refresca as áreas do litoral e mantém as temperaturas mais baixas. A amplitude de variação térmica anual (AVTA) é assim:
menor no litoral, devido à proximidade do mar; maior no interior, devido ao afastamento do mar e à influência dos ventos da Península Ibérica (quentes no verão e frios no inverno).
2.2.2.3 – Fatores de variação latitude – quanto maior é a latitude, maior é o ângulo de incidência da radiação solar, o que diminui o aquecimento; proximidade/ afastamento do oceano; relevo (altitude e disposição das vertentes – as soalheiras têm temperaturas maiores); topografia (serras e vales): servem de obstáculo a massas de ar – as montanhas do noroeste impedem a passagem do ar marítimo para o interior, e a serra algarvia protege o Algarve dos ventos de norte de noroeste; facilitam a passagem das massas de ar – o vale superior do Douro permite a penetração dos ventos de este, e o vale do Mondego permite a passagem de ar marítimo até ao interior. 3
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A AVTA é maior nos vales interiores do Douro, Tejo e Guadiana devido à penetração de ventos de este que são frios no inverno e quentes no verão, extremando as temperaturas. Na Madeira, a vertente sul é mais soalheira e é protegida dos ventos de norte pelas montanhas. Por isso, é mais abrigada, logo, é mais quente.
2.2.3 – A valorização da radiação solar 2.2.3.1 – Energia solar O potencial de aproveitamento de energia solar:
diminui de sul para norte (devido à latitude e ao relevo); aumenta de oeste para este, sobretudo a norte do Tejo (devido à maior nebulosidade do litoral e maior insolação do interior); é maior no final da primavera e no verão (devido à maior duração dos dias e ao menor ângulo de incidência da radiação solar).
Sistemas térmicos Através dos sistemas térmicos, faz-se a captação, por coletores, da radiação solar direta para aquecimento de edifícios, águas, etc, e utiliza-se a energia solar como fonte de calor na produção de eletricidade. Existe um baixo potencial para a utilização de sistemas térmicos a norte do Tejo, sobretudo no litoral e nas áreas de montanhas, onde a nebulosidade é maior, e um maior potencial:
na pequena faixa da costa de Lisboa; no interior alentejano; no litoral algarvio; no vale de fronteira do Guadiana
Sistemas fotovoltaicos Através dos sistemas fotovoltaicos, converte-se diretamente a radiação solar em energia elétrica. Existe um baixo potencial para a utilização de sistemas fotovoltaicos no litoral das regiões Centro e Norte, e um maior potencial:
na costa de Lisboa; na península de Setúbal; em boa parte do Alentejo (especialmente o vale do Guadiana); no Algarve (especialmente no seu litoral sudeste).
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Produção de energia solar Em Portugal, o aproveitamento da energia solar tem vindo a crescer, devido:
à construção de centrais fotovoltaicas; à aplicação de legislação e programas de incentivo a novas técnicas de construção de edifícios que valorizam o aproveitamento térmico da energia solar. A produção de eletricidade a partir da energia solar tem vantagens ambientais e económicas, pois permite:
diminuir as emissões de gases de efeito de estufa; reduzir as importações de combustíveis fósseis e exportar energia solar,
diminuindo a dependência e a despesa externas; aumentar o emprego.
A tecnologia atual coloca alguns condicionalismos:
a variabilidade da radiação solar; a exigência de grande investimento de capital e ocupação de vastas áreas, de preferência próximo das grandes áreas urbanas a abastecer (a proximidade dos centros urbanos é uma limitação importante em Portugal, pois as áreas mais urbanizadas localizam-se no litoral, onde o potencial de aproveitamento fotovoltaico é menor e o preço dos solos é maior).
2.2.3.2 – O turismo A radiação solar constitui um fator de desenvolvimento, pois a atividade turística:
gera emprego; proporciona a entrada de divisas; induz efeitos multiplicadores noutras áreas. O turismo balnear é o que mais beneficia das características do clima português. O turismo sénior tem vindo a ganhar relevância, contribuindo para resolver o problema da sazonalidade. O setor imobiliário tem vindo a beneficiar com a compra de segundas habitações no nosso país pelos turistas estrangeiros.
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