“Os Sinais” de Fernando Alves Abismo TSF 10-11-08
http://tsf.sapo.pt/Programas/Programa.aspx?content_id=903681 Talvez haja um abismo de discernimento entre a ministra e o seu secretário de estado, entre aquilo que obriga Maria de Lurdes Rodrigues a dizer que entende o que se passa na rua, mesmo se treslê a mensagem que a rua lhe envia, e o que dispensa Valter Lemos dessa atenção. Ou talvez não... Mas há outros abismos. Enquanto a ministra reage formalmente no Porto ao que ainda não acabou de ser dito na manifestação de Lisboa, aonde entretanto consegue chegar a tempo de explicar no telejornal que aquele não foi, não senhor, o seu pior dia, imagina-se o que dirá cada um daqueles a quem todos os dias o dia não chega, se perguntados sobre os piores dias de uma rotina feita de desgaste físico e emocional... Eis outro abismo. O abismo do método. É disso que eles falam. É isso que pedem: outro método. Ela diz que entende, diz que escuta. Mas o que ela diz entender é que lhe pedem outro mundo, que lhe exigem outra coisa. E se ela tentasse escutar o que eles dizem? Não a espuma das rimas e das cornetas que escorre do telejornal, mas o desespero que os desatina, o que os faz vir de longe, que os deprime, o que os atordoa. Ao contrário do secretário de estado para quem esta manifestação é mais uma que não entende, que não consegue perceber, ela diz que entende mas não cede e que o que ali vai na rua é a chantagem com os que não vieram. Mas se ali estão quase todos, mesmo muitos que nunca vieram…
Eis outro abismo que ela cava, não já entre si e eles, mas entre si e nós todos ao dizer-nos que entrega a educação afinal a indigentes e a chantagistas facilmente manipuláveis por cliques sindicais ou, como alvitrou o primeiro ministro, pelo lamentável oportunismo político da oposição. Talvez Sócrates devesse reflectir em avisos vindos do seu próprio partido como aquele de Manuel Alegre. É que a maior parte dos que desceram a rua terão votado P.S. E Alegre mostrou outro ângulo do abismo: a reacção ministerial revela pouca cultura democrática quando fala desta manifestação como uma intimidação. Este é afinal o
mais
perigoso
dos
abismos,
o
da
degradação
da
cultura
democrática. Mas se aquele não foi o seu pior dia fica para MLR em aberto a possibilidade de perceber que vale a pena ouvir os argumentos dos que a interpelam, daqueles que ela diz entender. Já a resposta de Valter lemos, aquele seco “é mais uma”, quando lhe perguntaram o que pensava da manifestação, revela um desprezo e uma insensibilidade que está mesmo a pedir uma séria avaliação, porque, aparte a discussão sobre o que é ou não é razoável, ela é afinal uma resposta indecente.