O TRABALHO EM AMBIENTES QUENTES Os ambientes quentes representam um dos pontos mais importantes no estudo da Patologia Ocupacional devido a dois fatores: A alta freqüência de fadiga física ocasionada por ambientes quentes. Nesse aspecto cabe chamar atenção para a alta ocorrência de indivíduos que começaram a trabalhar jovens e saudáveis em ambientes quentes e que, depois de poucos anos, encontram-se anormalmente envelhecidos e fracos. A perda de produtividade, motivação, velocidade, precisão, continuidade e o aumento da incidência de acidentes causados pelo desconforto térmico em ambiente quente. O SISTEMA FISIOLÓGICO DE CONTROLE DA TEMPERATURA CORPÓREA O organismo possui uma série de recursos para manter sua temperatura constante, já que não tem condições de tolerar variações superiores a 4ºC na temperatura interna. Tais recursos mostram-se bastantes eficientes, o que não poderia ser de outra forma, já que a temperatura interna maior que 41ºC, por pouco tempo, leva à desnaturação irreversível das proteínas orgânicas e morte. OS MECANISMO DE PERDA DE CALOR A Circulação Cutânea: O fluxo sangüíneo para a pele é de 250 ml por minuto. Em ambientes quentes, esse fluxo pode atingir a 1500 ml por minuto. Isso faz com que a temperatura da pele aumente. Se o ambiente estiver mais frio, a perda de calor aumenta, tanto por irradiação como por conduçãoconvexão. Também de importância é o papel do tecido gorduroso subcutâneo, que diminui a possibilidade de dissipação do calor, funcionando como isolante térmico. Assim, o obeso tem mais dificuldade de manter a temperatura normal no ambiente quente. 1- Perda de calor por irradiação: Dá-se o nome de irradiação ou radiação a transmissão de calor por um corpo, sob forma de ondas eletromagnéticas da faixa do infravermelho.No homem, em condições ambientais normais, a irradiação é responsável por 60% da perda calórica do indivíduo. A irradiação deve ser entendida como uma resultante. Assim, se existe no ambiente uma fonte de temperatura maior que a do corpo humano, o corpo humano irradia calor para esta fonte, mas o calor que esta fonte irradia para o corpo é maior; logo, ao invés de ser uma forma de perda de calor, a irradiação torna-se uma forma de ganho de calor.Nesse caso vale a pena dizer que o corpo humano absorve muito bem o calor irradiado por outras fontes (cerca de 97%), não havendo diferença de absorção, seja o indivíduo branco ou negro. 2 - Perda de calor por condução-convexão:
condução é a propriedade de um corpo transmitir calor a outro com o qual esteja em contato. No caso do organismo humano, se a temperatura da superfície do corpo for mais elevada do que a temperatura do meio ambiente, o organismo cederá calor às moléculas do ar pelo fenômeno da condução. A movimentação do ar, renovando mais rapidamente a camada de ar em contato com a superfície do corpo, também aumentará o gradiente de troca de calor por convexão. Porem se a temperatura do ar for mais elevada do que a superfície do corpo, este ganhará calor, invertendo-se o mecanismo. A Evaporação: Nesta forma de perda de calor, a água é aquecida pelo calor do organismo, até passar para a fase de vapor e deixar a superfície do corpo. Para cada 1 litro de água que se evapora são necessárias 580 Calorias, que são retiradas do organismo.A sudorese em si não indica perda calórica; esta só ocorre quando o suor evapora. A umidade do ar indica, em porcentagem, qual a porção de ar que está saturada com vapor d'água. Assim, em ambientes muito úmidos quase todo o ar está saturado com vapor e a evaporação do suor se torna muito difícil. O suor produzido adere-se à pele e escorre pelo corpo, com pequena perda de calor e com grande desconforto térmico. Ao contrário, em ambientes secos todo suor produzido é evaporado, não se prendendo ao corpo, com grande diminuição da temperatura corpórea e conseqüente bom conforto térmico. O ambiente bem ventilado também favorece a evaporação, levando o ar saturado para longe do organismo e possibilitando que mais suor evapore. É importante dizer que a corrente de ar que favorece a evaporação do suor é aquela em que o ar está à temperatura mais baixa que a do corpo humano. A evaporação do suor é particularmente importante no trabalho em ambientes quentes porque ela é a única forma que o indivíduo tem de perder calor corpóreo. DESCONFORTO E DOENÇAS CAUSADAS POR AMBIENTES QUENTES Desconforto: Em um ambiente quente o indivíduo pode se sentir desconfortavelmente quente, perdendo a motivação para o trabalho, mesmo que este não seja qualificado. No trabalho mais qualificado, a velocidade de realização da tarefa diminui, comprometendo a produtividade. Ocorre perda de precisão, perda de continuidade e também diminuição da vigilância, tornado-se um ambiente impróprio para trabalho mental. Aumenta a incidência de acidentes. Naturalmente, num mesmo ambiente, a freqüência e intensidade desses sintomas variam de indivíduo para indivíduo, porém variam principalmente com o tempo em que o indivíduo fica exposto à agressão térmica. Doenças associadas a ambientes quentes: Hipertermia ou Intermação:
É o quadro mais grave e que muitas vezes leva à morte. Ocorre pelo desencadeamento do mecanismo de retroalimentação positiva. Diante do ganho calórico devido ao metabolismo próprio do trabalho e à sobrecarga do ambiente, o indivíduo ganha calor. Se ele não perde o calor, tem então sua temperatura interna aumentada. Esse aumento de temperatura interna é um mecanismo importante para aumentar ainda mais o metabolismo, aumentando assim a temperatura corpórea, sem perder calor. O mecanismo de retroalimentação positiva segue de modo tão intenso que, depois de pouco tempo, a temperatura corpórea estará a 40-43ºC, temperatura esta que pode levar à desnaturação das proteínas e morte. Tonturas e desfalecimento devido à deficiência de sódio: Ocorre em indivíduos não aclimatizados, que perdem grande quantidade de sódio no suor, ou naqueles que não tiveram reposição salina adequada. Tonturas e desfalecimento devido à Hipovolemia Relativa: Também chamada de síncope de calor, a superposição de trabalho muscular mais o alto débito de sangue para a pele, diminui a pressão sistêmica média, que tende a fazer com que o sangue retorne ao coração, havendo acúmulo de sangue na periferia e diminuindo o retorno venoso. Em conseqüência, o débito cardíaco diminui, à semelhança do que ocorre na síncope vasovagal. Observa-se pelo mecanismo fisiopatológico que esta síncope pode ocorrer antes do organismo atingir temperaturas extremas. Tonturas e desfalecimento devido à evaporação inadequada do suor: Pode ocorrer em indivíduos que estejam trabalhando em ambientes muito úmidos ou sem ventilação. O indivíduo sente-se cansado e quente, piorando substancialmente quando realiza um esforço físico, quando então a respiração se torna mais rápida; há aceleração da freqüência cardíaca, podendo ocorrer desfalecimento. Distúrbios psiconeuróticos: O desconforto e a diminuição da eficiência que acompanham o trabalho em área quentes, favorece a descompensação de indivíduos que estejam em estado limítrofe de saúde mental. Catarata: A catarata pode ocorrer após alguns anos de exposições à radiação infravermelha. O mecanismo não é bem conhecido e pode-se dizer que a catarata é praticamente o único efeito próprio do calor sobre o organismo, e não devido a respostas fisiológicas. Distúrbios cutâneos Desidratação