O Projeto Jari E Sua Ferrovia

  • May 2020
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O Projeto Jari e sua ferrovia O Projeto Jari foi posto em prática logo após o Projeto Calha Norte, com o objetivo de fortalecer as fronteiras da Amazônia. Esse projeto foi idealizado pelo milionário norte americano Daniel Keith Ludwig[1]. Ele mandou construir uma fábrica de celulose no Japão[2], na cidade de Kobe, usando tecnologia finlandesa da cidade de Tampere, foram construídas duas plataformas flutuantes com uma unidade para a produção de celulose e outra para a produção de energia. A unidade de energia produzia 55 megawatts e era alimentada por óleo BPF a base de petróleo com opção para consumo de cavacos de madeira Flavio de Britto Pereira

No ano de 1882, veio para o município de Almerim no Pará um jovem migrante cearense, chamado José Julio de Andrade que aos poucos consolidou suas atividades extrativistas em Almerim e no município vizinho Mazagão. Achando a região pouco ocupada, José Julio não teve muitos problemas para instalar-se e dominar o comercio extrativista da região. Aos poucos foi ocupando e tomando posse de uma área de aproximadamente um milhão e seiscentos mil hectares, (16.000km2) cuja via principal de acesso era o rio Jari. Para se ter idéia da área basta lembrar que o estado de Israel tem 21.000km2. Esta foi a área na qual o projeto Jari se desenvolveu. O Coronel José Julio, como era conhecido, desenvolveu uma empresa que comercializava principalmente castanha do Pará e borracha obtidos nesta área. Em 1948, já velho (pois morreu 4 anos depois em Portugal), vendeu suas terras a um grupo de cinco comerciantes portugueses e um brasileiro, que continuaram o mesmo sistema de extrativismo e comércio. Em 1967, a então Jari Indústria e Comercio S/A, como era denominada, foi vendida ao armador americano Daniel Keith Ludwig que, indo contra a vontade de seus conselheiros econômicos, insistiu em estabelecer um empreendimento de grande porte na Amazônia. Neste mesmo ano Ludwig concluiu as negociações com os proprietários e com o governo brasileiro, fundando então a Jari Florestal e Agropecuária Ltda., iniciando as atividades que passaram a ser conhecidas como o "Projeto Jari" A finalidade maior do projeto era a produção de celulose e papel, para suprir uma demanda destes produtos que atingiria o seu pico em 1985 segundo seus informantes econômicos. Foi planejado plantar uma área de cerca de 160.000 hectares, ou seja, 10% da área dominada, dos quais 100.000 foram plantados entre 1968 e 1982. De acordo com os planos originais, uma fábrica de celulose foi projetada para funcionamento em 1978, sendo encomendada e construída pelos estaleiros Ishikawagima no Japão, sobre duas plataformas flutuantes, que foram rebocadas desde o Japão até Munguba no rio Jari, tendo atravessado o mar da China, os oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, subindo o rio Amazonas até a sua confluência com o Jari, e o rio Jari até a localidade de Munguba, onde foram instaladas. Numa das plataformas estava instalada a fábrica de celulose, com capacidade nominal de 220.000 toneladas de celulose branqueada de fibra curta por ano; na outra uma usina de força a vapor para gerar 55 megawatts de energia elétrica e o vapor necessário ao processo industrial.

Para os efluentes gasosos e líquidos da operação foi projetado um sofisticado sistema de tratamento e controle, incluindo uma lagoa de estabilização de 184 hectares, por onde os líquidos industriais percorrem 12 km, antes de desaguarem outra vez no rio, portanto sem causarem nenhuma poluição. Paralelo a este empreendimento foi construída também uma planta de beneficiamento de caulim de alta qualidade, cujas jazidas foram encontradas a poucos quilômetros da fábrica, rio acima, na margem oposta, caulim este que serviria para branqueamento do papel, cuja fábrica seria construída numa segunda fase. Como atividades agrícolas Ludwig desenvolveu o plantio de arroz nas áreas alagadas de várzea a jusante da fábrica, no rio Jari próximo à sua foz no Amazonas, complexo este totalmente mecanizado, aproveitando o sistema de marés que atingem o Amazonas e o rio Jari para encher e esvaziar as áreas plantadas. Também desenvolveu uma pecuária de alta qualidade, com experimentos de inúmeros cruzamentos genéticos industriais, inclusive uma grande criação de búfalos, que geraram uma tecnologia totalmente desconhecida no mundo, e que hoje é modelo para várias áreas tropicais e até temperadas, tendo aumentado a sua capacidade reprodutiva de cerca de 60 a 70%, como era conhecida, para até 98%, através do conhecimento do estro das búfalas. De hábitos simples e temperamento reservado, Ludwig desenvolveu suas atividades sem se preocupar com a imagem negativa que aos poucos o projeto foi adquirindo junto à opinião pública nacional e internacional. No decorrer de 1981, desgostoso com o ambiente hostil que se formara contra ele e aborrecido com demoras inexplicáveis para obtenção da licença de construção de uma hidrelétrica e outras atividades necessárias ao projeto, o empresário suspendeu o fluxo de capital que havia mantido durante tantos anos e que, segundo os livros, passava de um bilhão de dólares, e iniciou suas providências para se afastar do Jari. Diante dos fatos, o governo brasileiro, decidiu convocar um grupo de 23 empresas brasileiras para assumir o controle do projeto. Dentre estas empresas estava a "Caemi" liderada por Augusto Trajano de Azevedo Antunes, o mesmo que anos antes organizara a Icomi, no Amapá, primeiro grande empreendimento bem sucedido na Amazônia, depois de tantos fracassos com a MadeiraMamoré, a Fordlândia e outros. Augusto Antunes atuou como mediador entre Ludwig e o consórcio brasileiro, tendo conseguido resolver o impasse de maneira razoável para todos, o que resultou na tomada de posse do empreendimento pelo grupo brasileiro e a constituição, em 22 de janeiro de 1982, da empresa Companhia do Jari, que assumiu o controle total do empreendimento inclusive suas dívidas em ienes, relativa ao financiamento das plataformas. O novo grupo confiou a administração do projeto ao grupo Caemi, sendo a operação executada por subsidiárias da Cia. Do Jari, a Caulim da Amazônia (caulim), a Cia. Florestal Monte Dourado (celulose) e a São Raimundo AgroIndustrial (arroz). Conscientes do desafio assumido e da necessidade de viabilizar o empreendimento, recuperando ainda sua imagem perante a opinião pública, os novos empreendedores passaram a atacar ativamente diversos pontos críticos, visando adequar a empresa à nova realidade. Devido ao pioneirismo as técnicas silviculturais não estavam bem dominadas, e os estudos mostraram que a partir de 1984 faltaria madeira para celulose, obrigando os novos administradores a relevantes programas de plantio e de pesquisas florestais, que aconselharam a substituição das espécies utilizadas por outras de maior

produtividade, e novas técnicas florestais desenvolvidas pela equipe de brasileiros que assumiu. Isto mudou a tendência do projeto a tal ponto que em 1986 ele deu o primeiro ano de lucro para os acionistas. A Cia Florestal Monte Dourado completará em 22 de janeiro de 2002 vinte anos de atividades com um currículo bastante satisfatório, construído palmo a palmo durante este período. Material genético testado, mudas de alta qualidade, escolha dos sítios adequados, melhor preparo do solo, controle efetivo de pragas e ervas invasoras, sistemas de corte e transporte de baixo impacto sobre o ambiente e a racionalização no uso dos equipamentos e da mão de obra foram as medidas básicas que mais contribuíram para a significativa redução de custos e grande aumento da produtividade dos plantios no mesmo local, portanto sem expandir as áreas desmatadas com novas derrubadas. Hoje a tecnologia adquirida propicia o plantio repetido nas mesmas áreas onde já foram colhidas as safras anteriores de madeira, já estando o projeto na quinta e sexta rotações, com produtividades crescentes, já sendo considerada a floresta de maior produtividade no Brasil e conseqüentemente do mundo, com o mais baixo custo por tonelada de madeira, ocupando apenas 47.000 hectares, portanto menos do um terço da área inicialmente concebida para plantios. Isto é bom para os novos empreendedores que vierem a se instalar na região Amazônica, pois é um exemplo de desenvolvimento sustentado e de ocupação que deu certo empregando e sustentando direta e indiretamente mais de 100.000 brasileiros. No campo industrial, um aumento da produção da fábrica pela adequação de diversos equipamentos elevou paulatinamente sua capacidade nominal de 220 mil para 340 mil toneladas de celulose por ano, mostrando assim o alto grau de profissionalismo das equipes brasileiras. Infelizmente, após a morte de seu mentor, um dos maiores empresários que o Brasil já possuiu, o Projeto Jari - como inúmeras outras empresas do grupo Caemi, como a Icomi a MBR e inclusive a própria Caemi - foram vendidos a outros grupos, pois nenhum de seus sucessores estava à altura de continuar os grandes feitos deste portentoso brasileiro que foi Augusto Trajano de Azevedo Antunes. Com obstáculos superados e em plena produção, a empresa passou a merecer atenção de outros grandes empresários, e após receber várias propostas, o BNDES e o grupo Caemi resolveram aceitar a proposta da Saga Investimentos e Participações, holding de capital 100% nacional controlada por Sergio Amoroso, que apresentou a melhor proposta, e no dia 29 de fevereiro de 2000 foram finalmente assinados os documentos para a transferência. Se alguém se interessar pela completa história do Projeto Jari poderá adquirir o livro "Jari 70 anos de História" do autor Cristóvão Lins, que na sua terceira edição conta a saga da ocupação desta região desde sua ocupação pelos indígenas. Para atender a toda esta atividade na sua imensa área foram projetados por Ludwig diversos sistemas de transporte de pessoal e carga, não só para chegar e sair da região como também e principalmente, para movimentação dentro deste grande território. Primeiramente visando a grande movimentação de carga entre o Jari e o mundo (porque o grande mercado de celulose e caulim visado era, como foi até hoje, a Europa), foram construídos três portos, um em Belém, outro junto à fábrica de celulose e o terceiro junto à planta de beneficiamento de caulim. Estes dois últimos têm capacidade para receber navios de até 35.000 toneladas.

O transporte fluvial de cargas e passageiros entre Belém e o Jari passou a ser feito por uma frota de balsas, rebocadores e um barco para 292 passageiros, adquiridos por Ludwig. Para o transporte aéreo de pessoal e cargas foi construído um aeroporto e adquiridos 2 aviões Islander bimotores para 9 passageiros cada, 2 DC3 para 28 passageiros cada, e um turbo hélice FH Hirondelle para 44 passageiros. Dentro da área do projeto foram construídos 60 km de estradas principais com 16 metros de largura, 1.500 km de estradas secundárias com caixa de 8 metros de largura, e 6.000 km de estradas florestais, com 4 metros de largura, que propiciam tráfego o ano inteiro graças à sua qualidade de construção e o plano de manutenção. Alem disto, e motivo de todo este preâmbulo, foi construída uma ferrovia para o transporte de madeira, que deveria ter inicialmente 220 km de extensão, com nove pátios de estocagem de madeira para energia e para a fábrica de celulose, dos quais só foram construídos 68 km.

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