O PECADO DA CARNE Daniel 1 Pr. Alcenir 8 de novembro de 2009 Primeira Igreja Presbiteriana de Richmond 3415 Barrett Ave, Richmond, CA 94806 www.iprichmond.com, www.iprichmond.com/tv, www.iprichmond.com/radio
[email protected] Fui informado ao retornar de minha viagem que os irmãos decidiram fazer o Jejum de carne por uma semana. Assim, estou dando o título ao sermão de hoje de “o pecado da carne”em referência ao capítulo 1 de Daniel. Ao ler a história do cativeiro de Judá somos levados a assumir que Deus julga, castiga e se afasta do povo. Na nossa perspectiva de vida e de mundo, na nossa incapacidade de amar, a quebra de um relacionamento tende a significar um afastamento. Entretanto, isto é uma interpretação humana baseada em um sentimento de misericórdia frágil e na dificuldade de praticar o perdão. Mesmo tendo Deus permitido o povo de Judá ser conquistado, por volta do fim do século 7 e início do século 6, por causa de sua desobediência, Deus continua presente. Deus continua atuando e interferindo na história da humanidade. Os acontecimentos na vida de Daniel e seus amigos, Sadraque, Mesaque e Abedenego mostram que o mesmo Deus que julga e castiga é o Deus de misericórdia, Deus da graça. Vemos que o capítulo de abertura do Livro de Daniel é primeiramente sobre a soberania e liberdade de ação de Deus e apenas em segundo lugar sobre um modelo de retidão e fidelidade de conduta humana1. Deus permitiu não apenas que o povo fosse levado, como também permitiu que o templo, a casa de oração, o lugar de sacrifício, o lugar de adoração fosse saqueado e destruído, e os utensílios consagrados de culto fossem roubados e depositados em templos de deuses pagãos na Babilônia.
1 SEOW, c. l. Daniel. Westminster John Knox Press: Louville, KY, 2003. p.21.
Nós vemos aqui que Deus estava permitindo, mas estava no controle de toda a operação. Calvino diz que o escritor está deixando claros a providência e o julgamento do Deus soberando de intencionalmente autorizar a submissão do Rei Jeoaquim e do povo a um poder estrangeiro. Há uma certa relação entre Daniel na Babilônia e José no Egito. Ambos são levados ao cativeiro; José é submetido à tentação da mulher de Potifar e Daniel é submetido à tentação da comida do palácio do rei. José é submetido a punições e Daniel também. José tem o seu nome mudado, e Daniel também. José recebe de Deus o dom de interpretar sonhos e Daniel também. José se torna governador da maior superpotência econômica e militar da época, e Daniel se torna um assistente de alta importância na corte de Nabucodonozor. A diferença na vida desses homens não era sua beleza e força física, embora tivessem tudo isso; a diferença não é a inteligência, habilidade e a grande sabedoria que possuiam; a diferença desses homens era simplesmente porque Deus estava com eles. Deus estava demonstrando sua graça e misericórdia à humanidade na vida desses homens. O PRIMEIRO JEJUM DE DANIEL Nabucodonozor convocou um treinamento de jovens em todos os conhecimentos da época para assiti-lo. O texto não relata se era apenas Judá o povo cativo, mas fica nas entrelinhas uma idéia de que se não todos, a maioria dos selecionados eram Judeus. Entretanto, o livro de Daniel relata que apenas Ele e seus companheiros não aceitaram a comida que viria da cozinha do Rei. Os dois alimentos mais especiais naquela época eram o vinho como bebida e a carne como fonte de proteína. Mas aqui nós vemos uma situação complicada para Daniel e seus companheiros, crentes fiéis, acostumados à cumprir os estatutos do Senhor. Seu comprometimento e sua fidelidade em obedecer a Deus estava acima de qualquer situação humana. É necessário fazer um parêntese aqui para esclarecermos que o ato de Daniel se reveste de importância não pela prática do Jejum em si, mas pelo coração comprometido com Deus acima de todas as coisas. Para isto, mesmo em circunstâncias de crise, mesmo
como prisioneiro de guerra, mesmo como escravo de um Rei idólatra, ele não aceitaria negociar o seu caráter, o caráter de crente que confessa o Senhor no meio das adversidades e se submete à sua vontade até em circunstâncias de morte. É assim, eu quero crer, que o grupo que aceitou se abster de qualquer tipo de carne durante esta semana se apresentou na presença de Deus. − Não porque esse ato vai pressionar Deus para ouvir as suas orações; − Não porque isto é uma condição imposta por Deus para os abençoar; − Não porque isto vai fazer de nós mais santos; − Não porque isto vai nos garantir uma condição especial na comunidade da nova aliança; É sim, irmãos, motivado − Pelo desejo de sentir-se mais perto do Senhor; − Pelo desejo de dizer para Deus que o Espírito Santo nos capacita para resistirmos os desejos da carne; − Pelo desejo de viver por uma semana inteira um ato de adoração a Deus, e que estamos fazendo isso como ato desinteressado, muito mais como expressão do desejo de que a vontade de Deus seja feita na nossa vida do que Deus fazer a nossa vontade atendendo as nossas necessidades muitas vezes egoístas. Daniel certamente era aquele jovem inconformado com o fato de que Deus teve que usar de ato extremo e radical para punir a desobediencia do seu povo; que ele certamente vivia uma vida de retidão na presença de Deus, diferentemente dos seus compatriotas, e que agora era desafiado a se contaminar com a comida de um Rei idólatra. Daniel entretanto apostava na vontade de Deus e acreditava que poderia se submeter à vontade de Deus a qualquer custo. Vejo em Daniel um pouco do caráter do Apóstulo Paulo quando diz “agora já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo, vivo a na fé no filho de Deus … Para mim o morrer é Cristo e o viver é lucro”. Para Daniel valia cumprir a vontade de Deus, mesmo que isso significasse a fornalha ardente. Em outras
palavras, com o Senhor não há muita diferença entre viver e morrer, pois se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o senhor. A RAZÃO ESPECIAL PARA O JEJUM DE DANIEL Os Judeus seguiam um ritual na preparação de carnes para não serem contaminadas; eles não podiam comer nada que era julgado impuro. Se não for seguida a maneira apropriada de preparação, a carne é considerada impura e não pode ser comida. Além de que alguns animais que eram usados livremente na mesa de outros povos eram considerados imundos pelos Judeus. Daniel não aceita se contaminar comendo as carnes da casa Rei porque eram impróprias. Portanto, Daniel tinha uma razão especial. E você irmão, qual é a razão especial para o seu Jejum. Há um propósito especial? UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE Daniel não se vende, ele quer deixar claro quem ele é e a quem ele é fiél, com quem ele está comprometido. Eu acredito que a abstenção da carne nesta semana foi no coração dos irmãos uma forma de mostrar a Deus o seu comprometimento, de dizer a Deus que estamos tirando algo que está nos nossos pratos e nas nossas vidas todos os dias, que é nosso hábito da vida inteira, em honra e adoração ao nome Dele. Não que isso seja uma lei, que isso seja uma imposição para recebermos graça, não que estejamos querendo barganhar com Deus ou impressionar Deus para que nos dê bençãos materiais, mas porque nós o amamos, porque nós queremos estar mais próximos dele, que nós somos dependentes dele, que nós queremos adorá-lo em espírito e em verdade, que nós queremos receber dele não apenas as bençãos materiais com as quais ele nos cobre a todo instante pelo simples fato de permitir que vivamos, mas que nós queremos avivamento, que nós queremos receber poder ao descer em porção dobrada e mover no meio de nós o Espírito Santo, que nós queremos ver a Luz do Evangelho, a Palavra de Deus brilhar em nossa vida de tal forma que nós possamos contaminar a nossa casa, os nossos amigos, os nossos inimigos, os nossos patrões, os nossos empregados, contaminar toda a comunidade de tal forma que haja terremotos de poder e o inimigo de
Deus, o inimigo dos crentes, o inimigo de Jesus Cristo se sinta humilhado, amedrontado e permita que o evangelho transforme a comunidade como o fermento transforma a massa. É uma questão de identidade, é uma questão de vida com Deus, é uma questão de amor a Jesus Cristo e ao que ele fez por nós. O apóstolo Paulo diz que todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convém. Comer e beber é bom, é necessário, mas não deve ser o principal, a prioridade do nosso viver, o vício incontrolável do qual não podemos abrir mão nem um só momento. Pois se pode escandalizar não devemos comer ou beber; se, porém, for um peso para mim a abstenção estarei tornando anátema o Evangelho na minha vida, pois torna-se a maior prioridade. Se Deus requer que o caráter dele seja assim, as tentações das iguarias da mesa do Rei não vencerão a Daniel. Calvino diz que a fidelidade de Daniel e seus amigos era tal que não se deixariam vender pelo preço das refeições reais, pois maior valor tem o seu relacionamento com Deus e o seu viver de acordo com a vontade Dele. Daniel aqui está enviando uma mensagem aos babilônios: nós podemos ser vencidos na batalha, nós podemos ser despojados de todos os bens que Deus nos deu, podemos ter o nosso templo saqueado, roubado e destruído, podemos ser privados do nosso local de culto, nós podemos ser levados e feitos escravos dos babilônios, mas uma coisa vocês não podem fazer que é mudar o caráter, a atitude, aquilo que estava gravado na nossa alma, a identidade de filhos de Deus. Da mesma forma nós podemos dizer que amamos um churrasco bem preparado; uma picanha inteira selada pelo sal assada por mais de duas horas sobre a brasa; um filé mignon no espeto; uma costela de ripa não separada assada por horas no calor do fogo; um frango assado temperado com ervas aromáticas; um peixe no alho e sal em papel alumínio feito na churrasqueira; um “meat loaf” do jeito que a Míria sabe fazer; o churrrasquinho que só o Tinen sabe fazer; uma codorna recheiada ao forno ; linguiça mineira defumada sobre o fogão de lenha… vou parar por aqui senão ninguém mais vai acompanhar o sermão. Apesar dessas iguarias exercer uma força tão grande no nosso apetite e estar tão marcado na nossa cultura alimentar, para a honra e glória de nosso Deus somos capazes
de nos abster delas por um certo tempo exclusivamente para glorificar a Deus e nos alegrar na presença Dele. Muitos na sua fraqueza, diante das circunstâncias de medo, do peso da vida como escravos, da imposição da necessidade de ter forças para cumprir as obrigações do trabalho forçado, vão ser obrigados a aderir à comida impura, ou vão se deixar levar pela concupscência dos olhos, pelos desejos da carne, pela atração das iguarias, pelas refeições saborosos; aos poucos vão esquecer e perder a memória da cozinha, dos pratos, da comida hebráica. Nós porém queremos honrar a Deus não nos contaminando com o alimento que não faz parte do que Deus aprova. Nós queremos dizer a Deus que onde quer que formos, vamos amá-lo, adorá-lo e seguir a sua vontade até o fim. O pecado da carne, o pecado da glutonaria, o pecado da luxúria, o pecado do desejo carnal, o pecado do império dos sentidos sobre a nossa vida nos escraviza e nos tira da comunhão com Deus porque toma o lugar principal nas nossas vidas. Quando podemos nos abster, é porque essas coisas não tem domínio sobre nós, é porque o Espirito Santo nos faz acima dessas coisas, e assim podemos gloficar a Deus consagrando a ele parte do nosso tempo sem a influência de coisas que tanto presamos, que tanto gostamos e que faz parte fortemente das nossas vidas. Quero deixar com vocês Efésios 6:11-12 “Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é (contra carne e sangue) contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais”. Que Deuys nos perdoe e nos livre dos pecados da carne, e nos capacite na luta contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. AMÉM