O COLHEDOR DE FOLHAS Antigamente, não existiam tantos médicos e era muito difícil para a pessoa pobre conseguir tratamento. O que se usava nos tratamentos eram folhas e as raízes. Graças a Olorum e Ossâim, este hábito milenar está voltando. Nestes tempos, existia um homem que vivia de apanhar ervas para vender. Ele ia chegando, entrava no mato, não pedia licença e não tinha dono. Ele começou a sentir dificuldade de encontrar certas folhas de grande utilidade. Ele começou a ficar cabreiro e a achar que alguma coisa não ia bem. Existia, perto dali, uma Tia africana, e ele foi se queixar a ela: - Olha Tia, eu sempre tirei folha para vender, mas agora eu entro no mato e não acho nada. Até parece que algo de ruim está para acontecer. Tropeço em cobra, marimbondo me morde, os mosquitos me pegam, a tiririca me corta. Até parece coisa mandada. A velha estava calada, só escutando. Quando ele acabou de contar, ela disse: - Você gostaria que alguém entrasse em sua casa, apanhasse o que é seu, chegasse em sua plantação, colhesse tudo e saísse sem lhe dar satisfação? Pois é isto aí! O dono dos matos não está gostando da sua ousadia. Entretanto na sua casa sem pedir licença e saindo sem dar satisfação! - Veja! Mato Ter dono! – respondeu ele com uma risada . - Não ria, pois o pior pode vir a lhe acontecer. Experimente entrar mais uma vez para colher folhas sem levar um agrado nem pedir licença – respondeu a africana . Ele ficou com medo e disse: - Ô Tia, me socorre, pois eu tenho filho para criar. - Tá com medo? - Eu estou. Se é assim como a senhora falou... – disse o homem. A velha viu que ele estava falando a verdade e se levantou. Apanhou um cachimbo, uma garrafa de cachaça, um punhado de milho, um pedaço de fumo, um fósforo, uma vela, e um coité . - Vai. Leva isso e ainda essa moeda, entra e pede agô a Ossâim. A partir desse dia o catador de folhas passou a pedi agô, licença a Ossâim, e toda vez que ele ia para o mato, levava uma oferenda. Assim, ele voltou a encontrar as folhas que ele buscava.
Bibliografia. Livro: Caroço de Dendê. Autora: Mãe Beata de Yemonjá. Editora: Pallas. . 01/08/2002