Amor, Dor e Coisas de Vampiro Adolescente
Robert Pattinson como Edward Cullen, o objeto de desejo sanguessuga de Twilight, baseado nos livros de romance/terror de Stephenie Meyer.
Como as legiões de adolescentes que leram o livro no qual o filme Twilight é baseado sabem, a estranha passagem da juventude para a maturidade não é o pior problema que um adolescente pode ter. Você pode se apaixonar irrevogavelmente por um vampiro, que é o que acontece com a virginal heroína de 17 anos e narradora do romance de Stephenie Meyer. "Todos nós tivemos a experiência de estar nessa idade e sentir que tudo é vida ou morte," disse Melissa Rosenberg, que escreveu o roteiro. "Sabe, 'Não tenho nada para usar hoje, vou me matar'. O que é mais interessante nessa história é que tudo realmente é vida ou morte." A transição da página para a tela é em si muitas vezes menos que um processo gracioso, e enquanto é raramente uma questão de vida ou morte, isso pode dar aos cineastas aquele sentimento adolescente de mal-estar: "Se esse filme falhar, eu vou me matar." Não há como negar que no caso de Twilight as apostas (por assim dizer) são altas {n/t: no original, em inglês, está escrito: "... in the case of Twilight the stakes (so to speak) are high" e stakes significa tanto "estaca" quanto "apostar", criando o duplo sentido}. Os quatro livros da série de romance/terror da Sra. Meyer para jovens adultos – Twilight foi o primeiro – venderam alguma coisa perto de 10 milhões de cópias; o mais recente, Breaking Dawn, vendeu 1,3 milhões no seu primeiro dia nas livrarias em Agosto. E os fãs são o lado fanático. "Há todas aquelas coisas online," disse a diretora do filme, Catherine Hardwicke. "As pessoas estavam fazendo sugestões para o elenco, e agora elas estão fazendo os seus próprios trailers e pôsteres. É estimulante, de certa forma." Um risco particular com livros como os da Sra. Meyer – ou como os livros Harry Potter de JK Rowling – é que jovens leitores, ao contrário dos mais velhos, tendem a gostar das histórias só por gostar, com tão poucas variações quanto possível. E como qualquer adulto que já leu histórias para crianças antes de dormir entende, quando os mais jovens realmente entram na história, eles insistem em ouvi-la de novo e de novo, e é por isso que os filmes destinados a crianças, pré-adolescentes e adolescentes podem dar tanto lucro aos seus produtores e distribuidores. Duas palavras: repita o negócio. "Eu não queria ser a roteirista que desapontaria todos aqueles fãs," Sra. Rosenberg disse. "Nem Catherine, tenho certeza, queria ser a diretora que os desapontaria."
A Sra. Hardwicke disse que quando foi escolhida para dirigir Twilight, lhe foi entregue um roteiro que, ela percebeu mais tarde, estava "muito, muito diferente do livro." Logo depois, "Eu li o livro eu mesma e pensei, vamos voltar para essa história, é simplesmente bem melhor." Nenhuma admitiria sentir qualquer constrangimento sobre sua criatividade por parte das exigências dos leitores por fidelidade ao livro. "Meu maior problema foi a forma de condensar," Sra. Rosenberg disse. Claramente, a estratégia é jurar fidelidade eterna ao livro e esperar que os fãs sejam misericordiosos. E qual, exatamente, é a história em que os produtores de Twilight (que estréia dia 21 de Nov.) depositaram suas lealdades? É a história de uma brilhante garota chamada Bella Swan que se muda para a sombria cidade de Forks, Wash., e no seu primeiro dia de escola encontra, em uma cafeteria lotada, os olhos de um misterioso colega de classe chamado Edward Cullen, a quem ela descreve como "de uma beleza devastadora e sob-humana." Edward é um pouco reservado, mas Bella se apaixona profundamente por ele, embora um pouco intrigada pela sua restrição sexual incomum aos meninos adolescentes. Ele está determinado a manter rédea curta com seus impulsos, que incluem, para além do habitual, um poderoso desejo de se alimentar do sangue da sua nova admiradora. Quando ela descobre seu segredo, ela não fica bem certa sobre como, você sabe, se sentir em relação a esse estranho traço da personalidade dele, mas logo decide que ser de um vampiro é preferível a privar-se da companhia de um cara muito, muito bonito mesmo. Ele permanece um perfeito cavalheiro, ela, uma moça bem-comportada, e a atração fatal deles continua (pelo menos no primeiro livro) não consumada. A Sra. Meyer tem alguns problemas para convencer suas jovens leitoras que, de fato, há um Príncipe Encantado por aí para todas as Bellas tímidas do mundo. O tempo nublado do Pacífico Noroeste permite que Edward freqüente a escola na maioria dos dias, apesar da lendária fotossensibilidade de sua espécie, e ele faz parte de uma família de vampiros "bons", que ponderadamente evitam o consumo de sangue humano em favor da alimentação (embora menos saborosa) dos fluidos vitais dos animais. (Eles são como a versão vampiresca dos vegetarianos). A indulgência de Edward, no entanto, é extremamente testada pelo poder dos seus sentimentos, e a Sra. Hardwicke disse que acredita que a possibilidade de Bella morrer a qualquer instante, na verdade, aumenta o apelo romântico da história. "Se Romeu e Julieta fosse criado agora seria somente popular," disse ela. "Olhe para Titanic de alguns anos atrás". Ela está lá para algo: o extremo de vida e morte da noção de romance dos adolescentes. Mas a veia que a história de Meyer bate mais obviamente é simples, o medo básico de sexo. Bella é, reconhecidamente, toda jovem que está com medo de chegar até o fim, e Edward, menos preso a realidade, é a encarnação fantasiosa do menino ideal para aquela garota amedrontada, infinitamente – pode-se dizer eternamente – paciente com seu nervosismo. (e já mencionei que ele é extremamente muito bonito?) "A verdade," disse a escritora Sarah Langan, cujo romance The Missing ganhou o Bram Stoker Award da Associação de Escritores de Terror desse ano, "é que o sexo pode ser aterrorizante nessa idade, mesmo quando você está na faculdade." Mas a Sra. Langan, que considera Twilight "mais romance que terror", não está totalmente convencida do modelo medo-de-sexo aqui. "Abstinência é um ponto de vista perfeitamente válido," ela disse. "Twilight, porém, me surpreendeu como uma versão errada e estranha de como os jovens são, especialmente Edward, que nem sequer parece querer sexo tanto assim. Ele me fez sentir saudade de Judy Blume". A coisa verdadeiramente peculiar em Twilight, claro, é que a figura apresentada aqui como um modelo ideal de autocontrole masculino não é, de fato, humano e bebe sangue. Ao longo dos anos tem havido um bom número de jovens vampiros em filmes e ficções, e alguns até mesmo foram retratados como objetos de desejo. O personagem-título de Martin (1977) de George A. Romero provavelmente não se qualificaria como o ideal romântico de ninguém. Mas os jovens amantes no magnífico filme de 1987 de Kathryn Bigelow, Near Dark, são tragicamente fofos, assim como a maioria dos jovens sanguessugas no esfarrapado Lost Boys (1987), do qual uma longa e inesperada seqüência foi lançada ano passado. Há um bando de vampiros bonitões na nova e sedutora série da HBO, True Blood, também. "Vampirismo é sexy," disse a Sra. Langan sinceramente. "É intrinsecamente despertador".
Mas até Twilight, mesmo vampiros com devastadora e sob-humana variedade de beleza conseguiram, entre trágicos embaraços, serem meio que assustadores. Angel, o objeto de desejo musculoso e com centenas de anos de Buffy, a Caça-Vampiros, ocasionalmente ficava enrugado, com uma aparência do inferno na sua cara, mostraria suas presas e daria espaço para o lado mais obscuro de sua natureza. Nesses momentos o telespectador entenderia completamente o motivo de ele ser um candidato ao que Buffy e sua gangue chamavam de "assassinos". Em Twilight, assassinatos não são uma possibilidade: a única questão séria para Bella e seus leitores sem fôlego é se ela se atreveria a fazer aquilo com seu namorado bad-boy. Psicólogos aproximar A cena de Hardwicke
chamam isso de aproximação/evasão. E todos nós podemos imaginar uma maneira de se dessa estranha virada na cultura pop, porque parece não ter nenhum jeito de evitar isso. 20 minutos de Twilight que o estúdio disponibilizou indica que o filme será, como a Sra. e a Sra. Rosenberg prometeram, excepcionalmente fiel ao seu material original.
Os protagonistas, Kristen Stewart e Robert Pattinson, parecem corretos – há um toque de Leonardo DiCaprio da época de Titanic no Sr. Pattinson – e o humor está apropriadamente agourento. Descrevendo a filmagem em Washington, a Sra. Hardwicke disse que o tempo estava apocalíptico demais para o seu gosto. "Havia granizo," ela disse, ainda tremendo com descrença. "Eu comprei todas aquelas Gore-Tex¹, mas nada funcionava." A coisa toda tem um ar um pouco frustrado, sem importância, que é talvez o resultado do orçamento relativamente modesto do filme (menos que $40 milhões) e dos temperamentos modestos dos produtores. A Sra. Hardwicke é mais bem conhecida como diretora de filmes independentes e joviais como Thirteen (2003) e Lords of Dogtown (2005), enquanto a experiência da Sra. Rosenberg é majoritariamente na televisão, como escritora e produtora de Party of Five e The O.C. (Mais recentemente, ela trabalhou na série do Showtime Dexter, cujos personagens são crescidos, mas que, diz ela, têm algo em comum com Twilight apesar disso: é sobre um serial killer "bom" com "demônios internos que ele está tentando controlar"). O filme também parece capturar a atmosfera estranhamente atemporal do livro, no qual mensagens de e-mail são, ás vezes, enviadas, mas nenhuma mensagem de texto o é, nenhum videogame é jogado e ninguém parece tem um iPod cheio de rap, música emo e heavy metal. "Você tenta manter corrente com a cultura e os idiomas adolescentes," disse a Sra. Rosenberg, "mas em Twilight algumas coisas disso parecem deslocadas. Na verdade, um dos produtores me disse, 'Fico desconfortável quando Edward usa um celular'." O que isso significa, talvez, é que o mundo de Twilight é um mundo onde as chamadas vindas do mundo real raramente podem ser ouvidas com alguma clareza em um universo fantasioso de nemaqui-nem-lá. Algo como a própria adolescência, somente tocada por máxima (devastadora e sobhumana) conveniência. É um lugar onde o sol nunca tem que se pôr, onde as histórias para dormir nunca têm que acabar – e é isso que seus fãs mais gostam nele. Gore-Tex¹ é uma marca de roupas impermeáveis muito famosa nos EUA.
Tradução: Rafael Kaleray