Navio Negreiro

  • November 2019
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  • Words: 1,356
  • Pages: 5
o navio negreiro castro alves i 'stamos em pleno mar... doudo no espa�o brinca o luar - dourada borboleta; e as vagas ap�s ele correm... cansam como turba de infantes inquieta. 'stamos em pleno mar... do firmamento os astros saltam como espumas de ouro... o mar em troca acende as ardentias, - constela��es do l�quido tesouro... 'stamos em pleno mar... dois infinitos ali se estreitam num abra�o insano, azuis, dourados, pl�cidos, sublimes... qual dos dous � o c�u? qual o oceano?... 'stamos em pleno mar. . . abrindo as velas ao quente arfar das vira��es marinhas, veleiro brigue corre � flor dos mares, como ro�am na vaga as andorinhas... donde vem? onde vai? das naus errantes quem sabe o rumo se � t�o grande o espa�o? neste saara os corc�is o p� levantam, galopam, voam, mas n�o deixam tra�o. bem feliz quem ali pode nest'hora sentir deste painel a majestade! embaixo - o mar em cima - o firmamento... e no mar e no c�u - a imensidade! oh! que doce harmonia traz-me a brisa! que m�sica suave ao longe soa! meu deus! como � sublime um canto ardente pelas vagas sem fim boiando � toa! homens do mar! � rudes marinheiros, tostados pelo sol dos quatro mundos! crian�as que a procela acalentara no ber�o destes p�lagos profundos! esperai! esperai! deixai que eu beba esta selvagem, livre poesia orquestra - � o mar, que ruge pela proa, e o vento, que nas cordas assobia... ........................................ por que foges assim, barco ligeiro? por que foges do p�vido poeta? oh! quem me dera acompanhar-te a esteira que semelha no mar - doudo cometa! albatroz! albatroz! �guia do oceano, tu que dormes das nuvens entre as gazas, sacode as penas, leviathan do espa�o, albatroz! albatroz! d�-me estas asas. ii que importa do nauta o ber�o, donde � filho, qual seu lar? ama a cad�ncia do verso que lhe ensina o velho mar! cantai! que a morte � divina!

resvala o brigue � bolina como golfinho veloz. presa ao mastro da mezena saudosa bandeira acena as vagas que deixa ap�s. do espanhol as cantilenas requebradas de langor, lembram as mo�as morenas, as andaluzas em flor! da it�lia o filho indolente canta veneza dormente, - terra de amor e trai��o, ou do golfo no rega�o relembra os versos de tasso, junto �s lavas do vulc�o! o ingl�s - marinheiro frio, que ao nascer no mar se achou, (porque a inglaterra � um navio, que deus na mancha ancorou), rijo entoa p�trias gl�rias, lembrando, orgulhoso, hist�rias de nelson e de aboukir... o franc�s - predestinado canta os louros do passado e os loureiros do porvir! os marinheiros helenos, que a vaga j�nia criou, belos piratas morenos do mar que ulisses cortou, homens que f�dias talhara, v�o cantando em noite clara versos que homero gemeu ... nautas de todas as plagas, v�s sabeis achar nas vagas as melodias do c�u! ... iii desce do espa�o imenso, � �guia do oceano! desce mais ... inda mais... n�o pode olhar humano como o teu mergulhar no brigue voador! mas que vejo eu a�... que quadro d'amarguras! � canto funeral! ... que t�tricas figuras! ... que cena infame e vil... meu deus! meu deus! que horror! iv era um sonho dantesco... o tombadilho que das luzernas avermelha o brilho. em sangue a se banhar. tinir de ferros... estalar de a�oite... legi�es de homens negros como a noite, horrendos a dan�ar... negras mulheres, suspendendo �s tetas magras crian�as, cujas bocas pretas rega o sangue das m�es: outras mo�as, mas nuas e espantadas, no turbilh�o de espectros arrastadas,

em �nsia e m�goa v�s! e ri-se a orquestra ir�nica, estridente... e da ronda fant�stica a serpente faz doudas espirais ... se o velho arqueja, se no ch�o resvala, ouvem-se gritos... o chicote estala. e voam mais e mais... presa nos elos de uma s� cadeia, a multid�o faminta cambaleia, e chora e dan�a ali! um de raiva delira, outro enlouquece, outro, que mart�rios embrutece, cantando, geme e ri! no entanto o capit�o manda a manobra, e ap�s fitando o c�u que se desdobra, t�o puro sobre o mar, diz do fumo entre os densos nevoeiros: "vibrai rijo o chicote, marinheiros! fazei-os mais dan�ar!..." e ri-se a orquestra ir�nica, estridente. . . e da ronda fant�stica a serpente faz doudas espirais... qual um sonho dantesco as sombras voam!... gritos, ais, maldi��es, preces ressoam! e ri-se satan�s!... v senhor deus dos desgra�ados! dizei-me v�s, senhor deus! se � loucura... se � verdade tanto horror perante os c�us?! � mar, por que n�o apagas co'a esponja de tuas vagas de teu manto este borr�o?... astros! noites! tempestades! rolai das imensidades! varrei os mares, tuf�o! quem s�o estes desgra�ados que n�o encontram em v�s mais que o rir calmo da turba que excita a f�ria do algoz? quem s�o? se a estrela se cala, se a vaga � pressa resvala como um c�mplice fugaz, perante a noite confusa... dize-o tu, severa musa, musa lib�rrima, audaz!... s�o os filhos do deserto, onde a terra esposa a luz. onde vive em campo aberto a tribo dos homens nus... s�o os guerreiros ousados que com os tigres mosqueados combatem na solid�o. ontem simples, fortes, bravos. hoje m�seros escravos, sem luz, sem ar, sem raz�o. . .

s�o mulheres desgra�adas, como agar o foi tamb�m. que sedentas, alquebradas, de longe... bem longe v�m... trazendo com t�bios passos, filhos e algemas nos bra�os, n'alma - l�grimas e fel... como agar sofrendo tanto, que nem o leite de pranto t�m que dar para ismael. l� nas areias infindas, das palmeiras no pa�s, nasceram crian�as lindas, viveram mo�as gentis... passa um dia a caravana, quando a virgem na cabana cisma da noite nos v�us ... ... adeus, � cho�a do monte, ... adeus, palmeiras da fonte!... ... adeus, amores... adeus!... depois, o areal extenso... depois, o oceano de p�. depois no horizonte imenso desertos... desertos s�... e a fome, o cansa�o, a sede... ai! quanto infeliz que cede, e cai p'ra n�o mais s'erguer!... vaga um lugar na cadeia, mas o chacal sobre a areia acha um corpo que roer. ontem a serra leoa, a guerra, a ca�a ao le�o, o sono dormido � toa sob as tendas d'amplid�o! hoje... o por�o negro, fundo, infecto, apertado, imundo, tendo a peste por jaguar... e o sono sempre cortado pelo arranco de um finado, e o baque de um corpo ao mar... ontem plena liberdade, a vontade por poder... hoje... c�m'lo de maldade, nem s�o livres p'ra morrer. . prende-os a mesma corrente - f�rrea, l�gubre serpente nas roscas da escravid�o. e assim zombando da morte, dan�a a l�gubre coorte ao som do a�oute... irris�o!... senhor deus dos desgra�ados! dizei-me v�s, senhor deus, se eu deliro... ou se � verdade tanto horror perante os c�us?!... � mar, por que n�o apagas co'a esponja de tuas vagas do teu manto este borr�o? astros! noites! tempestades!

rolai das imensidades! varrei os mares, tuf�o! ... vi existe um povo que a bandeira empresta p'ra cobrir tanta inf�mia e cobardia!... e deixa-a transformar-se nessa festa em manto impuro de bacante fria!... meu deus! meu deus! mas que bandeira � esta, que impudente na g�vea tripudia? sil�ncio. musa... chora, e chora tanto que o pavilh�o se lave no teu pranto! ... auriverde pend�o de minha terra, que a brisa do brasil beija e balan�a, estandarte que a luz do sol encerra e as promessas divinas da esperan�a... tu que, da liberdade ap�s a guerra, foste hasteado dos her�is na lan�a antes te houvessem roto na batalha, que servires a um povo de mortalha!... fatalidade atroz que a mente esmaga! extingue nesta hora o brigue imundo o trilho que colombo abriu nas vagas, como um �ris no p�lago profundo! mas � inf�mia demais! ... da et�rea plaga levantai-vos, her�is do novo mundo! andrada! arranca esse pend�o dos ares! colombo! fecha a porta dos teus mares! f i m #

o navio negreiro castro alves texto proveniente de: a biblioteca virtual do estudante brasileiro a escola do futuro da universidade de s�o paulo permitido o uso apenas para fins educacionais. texto-base digitalizado por: jornal da poesia - www.e-net.com.br/seges/poesia.htm

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