Murulhos Tantos_mamografia Floriana Breyer

  • June 2020
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  • Words: 6,187
  • Pages: 72
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Aos meus vizinhos de quarto Mirian, Konstantin e amada Wendy. Ao meu fiel escudeiro Felipe Pernambuco que me ensina o valor de cada instante. À pequena Julia, à enorme Carla. Ao meu porto seguro Parque Amazônia, e minha avó Marlene, ao oráculo Baiana. Aos integrantes do grupo ao qual me dedido de corpo e alma; o EIA. Ao príncipe Yuhzô, com seu harém oriental e o herdeiro Lacê. Aos eremitas Fumaça e Wilmar, ao indomável Luis Parras e ao caseiro Antonio Kelh. Ao Machado Flávio, que tantas lenhas já me ajudou a reflorestar...

“(...) e para mim toda arte chega nisto: a necessidade de um significado supra sensorial da vida, em tranformar os processos de arte em sensações de vida.” 1 Hélio Oiticica

Partitura sensorial 1. Metáforas totalizantes

pg. 6

2. Bússolas _ Nortes para Marulhar

pg. 8

3. Cartas de Marear _ Linhas de Rumo

pg. 23

4. A Casa

pg. 25

5. A RUA _EIA, o SPA, SPLAC, Salão de Maio e Projeto Matilha

pg. 33

6. Reinventando a gramática dos espaços

pg. 49

7. O JarDim

pg. 57

8. Bibliografia, fontes de pesquisa e notas de fim

pg. 66

Metáforas Totalizantes Receber visitas é deixar-se desvendar, compartilhar. Quando a casa esta desarrumada pode ser um tanto constrangedor, a menos que a visita seja completamente insensível às estas miudezas perceptivas ou esteja disposta a ajudar arrumá-la, propondo novas disposições. Visita pode chegar antes da casa ficar pronta, e participar de sua fundação. Como aqui, que a visita chega a um espaço ainda em construção e em constante mutação. Um espaço inaugural que estou cada vez mais interessada em construir, projetar; sonhar, na medida em que percebo a amplitude de questões que ele abarca, contemplando o caldeirão de contradições que assisto e vivencio diariamente e guardando ainda surpresas intermináveis, espaços ainda desco-nhecidos e potencialmente acessáveis.

6

Proponho aqui que possamos entrar, percorrer, derivar, marulhar, num esforço aconchegante, que apresenta-se como metáfora totalizante "Murulhos Tantos: A Casa, A Rua e O jardim", duas realidades extremas, que compreendem as nossas necessidades básicas de retiro e expansão, de intimidade e extroversão, de passividade e atitude. Realidades estas conectadas pelo jardim, que aqui será tratado, concreta e metaforicamente, como espaço relacional. Cada uma destas metáforas é em si uma forma de estar no Mundo, me proponho aqui, a encontrar espaços que as relacionem. Que possamos percorrer e ocupar seus aposentos, criando ainda outros espaços e relações possíveis, acessos secretos. Inicio uma reflexão baseada em ações concretas que tenho proposto e realizado no espaço da casa, no espaço da rua e em jardins. Tenho chamado estas ações propositivas de Práticas Ambientais.

7

Bússolas_ Nortes para Marulhar Venho encontrado algumas estrelas que têm norteado minha pesquisa, são elas artistas plásticos que listo logo abaixo; o antropólogo Roberto da Matta; o sensível Gaston Bachelard, o poeta Mário Chamie e a historiadora Paola Berestein, além de uma dissertação e uma tese. A primeira de mestrado do professor Caio Vassão e outra de doutorado da curadora Lisete Lagnado. Alguns termos que utilizo para me referir ao que tenho proposto, ganharam força à luz destas estrelas. Segue uma tabela esquematizando as fontes de pesquisa que me inspiram tanto por suas obras plásticas como por suas reflexões.

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artista

Hector Zamora

10

digerindo estrelas

“um parasita paraquedista;”

Hélio Oiticica

“estrela no que se refere ao termo de Ambiental;”

Hundertwasser

“Hundertwasser, constelação de espaços relacionais;”

trabalho

Casa Paraquedista.

Bólide Área 2.

Casas Colina. 11

12

Lygia Clark

“estrela no que se refere ao termo Relacional;”

Marepe

deslocador em vigília;

Krzysztof Wodisczo

“corretor” de imóveis, móveis.

Objetos relacionais.

Telhado.

Veículo dos sem teto.

13

Dentro desta tabela gostaria de aprofundar dois conceitos chave: Ambiental: sentido do termo ampliado graças as contribuições plásticas e escritas de Hélio Oiticica e do contato que tive com o Grupo de Interferência Ambiental, GIA, o qual recebeu-me e hospedoume na capital baiana por conta do Salão de Maio, que o mesmo grupo organizou em maio de 2004. Este foi um marco importante em meu breve percurso, nele realizei a primeira Experiência Ambiental "Faixa de descalços" que consiste em sobrepor faixas de pedestres com placas de grama.

14

Hélio Oiticica rompendo os limites de categorias artísticas, conferiu a suas obras possibilidades experimentais dentro de uma estratégia e programa que chamou de Programa Ambiental, caracterizado pela procura de totalidades ambientais, não estabelecidas a priori, criadas segundo as necessidades criativas nascentes.

Faixa de descalços, Salão de Maio Salvador,2004.

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Experiências assumidas pelo próprio artista como "autênticas experiências, manifestações ambientais, sensoriais, participação pública" e apropriação ambiental que teria com função "tirar o artista do marasmo bodento dos ateliês" através da prática na rua, e acrescenta Hélio ainda no catálogo da exposição Whitechapel, "O museu é o mundo". Exemplos destas expe-riências podem ser conferidas em trabalhos como os Parangolés, o Bólide Área 1 e o Bólide 2. Do Dicionário Aurélio : Ambientar; adaptar-se a um meio. Ambiência, meio em que vive um animal, vegetal. Ambiente que envolve ou rodeia, diz-se do ar que nos rodeia. Esfera, círculo, meio em que vivemos. Situação, reação favorável. Assim Ambiental foi o termo que encontrei para tratar do amplo perímetro que envolve estas proposições

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Bólide área 2, Hélio Oiticica.

Parangolé.

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Relacional: termo em si já propositivo, mas que transborda quando utilizado à luz do tratamento que a artista Lygia Clark fez dele. Do Dicionário Aurélio: Relação; analogia, semelhança, conexão, trato social, convivência, intimidade. Relacionar; fazer ou adquirir relações, ligar-se, travar conhecimento, confrontar, estabelecer relação. Já em 1968 Lygia Clark dedica-se à exploração sensorial como no trabalho "A Casa é o Corpo. Entre 1970 e 1976, reside em Paris, lecionando na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne.

Caminhando, Lygia Clark.

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Nesse período sua atividade se afasta da produção de objetos estéticos e volta-se sobretudo para experiências corporais em que materiais quaisquer estabelecem relação entre os participantes. Retorna para o Brasil em 1976; dedica-se ao estudo das possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais. Sua prática fará que no final da vida a artista considere seu traba-lho divergente à arte e próximo da psicanálise. Trabalha no sentido da experimentação, do encontro de soluções próprias, integrando autor, obra e fruidor. Na obra "Caminhando" experimenta um espaço sem avesso ou direito, frente ou verso, percorrendo-o na busca da compreensão do mesmo, como diria Hélio Oiticica em seu Esquema Geral da nova Objetividade Brasileira "de onde se desenvolveu o processo da artista que culminou numa descoberta do corpo (...)numa forte estruturação ético-individual" . Inicia então trabalhos voltados para o corpo, que visam ampliar a percepção, retomar memórias ou provocar diferentes emoções. Neles, o papel do artista é de propositor ou canalizador de experiências.

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Dedica-se à prática terapêutica, usando Objetos Relacionais, que podem ser, por exemplo, sacos plásticos cheios de sementes, ar ou água; meiascalças contendo bolas; pedras e conchas. Na terapia, o paciente cria relações com os objetos, por meio de sua textura, peso, tamanho, temperatura, sonoridade ou movimento. Eles permitem-lhe reviver, em contexto regressivo, sensações registradas na memória do corpo, relativas a fases da vida anteriores à aquisição da linguagem. A poética de Lygia Clark caminha no sentido da não representação e da superação do suporte. Propõe a desmistificação da arte e do artista e a desalienação do espectador, que finalmente compartilha na criação da obra. Na medida em que amplia as possibilidades de percepção sensorial em seus trabalhos, integra o corpo à arte, de forma individual ou coletiva.

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"Vou criar o que me aconteceu, só por que viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. Criar não é imaginação é correr o grande risco de se ter a realidade." 2 Clarisse Lispector "O armário e suas prateleiras , a escrivanhia e suas gavetas, o cofre e seu fundo falso são verdadeiros órgãos da vida psicológica secreta. Sem estes "objetos" e alguns outros igualmente valorizados, nossa vida íntima não teria um modelo de intimidade. São objetos mistos, objetos-sujeitos. Têm como nós, por nós e para nós, uma intimidade." 3 Bachelard

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Venho descobrindo toda uma metodologia para projetar e realizar minhas experiências. Aqui entram as agulhas de marear, as cartas de marear e os estudos de campo imersivos. Sendo as primeiras instrumentos básicos de trabalho: lápis, bússola e mapas, as segundas são cadernos, pastas e/ou malas nas quais organizo os estudos, estes consistem nas expedições à procura dos locais e na observação destes, tais como de fluxos, contexto geográfico, usos recorrentes, habitantes locais e entorno.

C artas de Marear + Agulhas de Marear + Derivas = E studos de C ampo Imer sivos

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3. Cartas de Marear_ Linhas de Rumo "O espaço convida à ação, antes da ação a imaginação trabalha" 4 Bachelard

Tenho um lápis e mil sonhos. Afino-o como quem afina o violão e risco a música que toca ao meu ouvido. Depois, os pregos, os parafusos, a furadeira, a tico-tico, muitas dobradiças, alças e o martelo. Procuro então micro ambientes vivos, micro organismos restantes. Locais de silêncio, plataformas de convívio, de respiro, de descanço.

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Caricatura Hundertwasser por Dieter Zehntmayr no jornal Neue Krone Zeitung, 16 janeiro de 1991.

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A Casa

"Todo espaço realmente habitado traz a noção de casa (...) a imaginação trabalha neste sentido quando o ser encontrou o menor abrigo: veremos a imaginação construir "paredes" com sombras impalpáveis, reconfortar-se com ilusões de proteção (...)O ser abrigado sensibiliza os limites do seu abrigo.” 5 "Por que a casa é nosso canto no mundo. Ela é, como se diz amiúde, nosso primeiro universo." 6 Gaston Bachelard

Adentrar no espaço da casa é experiência surpreendente. Ainda mais quando se considera a organização do espaço como reveladora do ser que o habita. Nas palavras de Gaston Bachelard em seu livro A poética do Espaço: "somos o diagrama das funções de habitar". O termo “imó-vel” jamais deveria ser empregado para se referir a casa, vista aqui, como entidade e organismo, esta é uma idéia amplamente discutida na dissertação de Caio Vassão. Primeiramente, casa vem suprir a necessidade básica do ser: proteger-se, aninhar-se. Ela está associada a própria noção de sobrevivência. Para tal os seres criam estruturas de proteção, que muitas vezes se inspiram e se ajustam à primeira e última instância de proteção: o próprio o corpo. 25

Marcus Peruzzi em sua monografia traz a imagem do homem primordial que, expulso do paraíso, leva as mãos sobre a cabeça para proteger-se. Chovia muito. Este homem percebe então que debaixo das árvores chovia menos, mas ainda não estava protegido. Passa então a observar os espaços entre as rochas e a recolher folhagens para construir seu primeiro abrigo. Logo este homem descobre cavernas naturais. No entanto este homem não estava sozinho e não havendo cavernas para todos, começaram a pegar estacas e cobri-las com folhas de árvores. Após as tempestades era possível encontrar fogo, vindo dos céus nos raios. Os homens foram aprendendo a dominá-lo e leva-lo para seus abrigos. De acordo com o local, as necessidades de proteção variavam. Portanto o local era determinante na forma e desempenho do abrigo.

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A partir destas necessidades, estes homens buscaram novas soluções, percebendo que a própria terra poderia fornecer acolhimento. Alguns passam a cavar, esculpindo seus abrigos no solo, transformando-os em "cuevas". As vezes cavavam na própria rocha como é o caso de alojamentos trogloditas em Túnez.

"cuevas" extraído do trabalho de graduação de Marcus Peruzzi.

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Trago estas imagens mitológicas para refletir sobre as primeiras instâncias de proteção do homem e como este é capaz de criar soluções e adaptar-se a um meio, sendo o local determinante desde o princípio, a partir do qual este homem se organiza no mundo. "O espaço era concebido com medidas do seu próprio corpo, como polegada, o palmo, os pés. O abrigo era concebido na escala humana, refletindo sua esfera pessoal" 7

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Habitáculo, trabalho realizado no SPLAC, I Salão de placas Imobiliárias, 2005.

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Esta idéia de abrigo está muito presente no projeto Murulhos, ainda em andamento que consiste em construir "habitáculos" em cima de árvores localizadas em canteiros a beira de vias de alta circulação de carros. O primeiro Murulho foi construído a beira da Marginal Tietê, num canteiro em frente a ponte da Casa Verde durante o EIA em 2004. O segundo foi construído na Bahia, num pequeno canteiro localizado no cruzamento de vários viadutos, na Fonte Nova em Salvador durante o segundo Salão de Maio, em 2004.

Murulho I, Marginal Tietê, novembro de 2004.

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Murulho I, Marginal Tietê, 6 meses depois, maio de 2005.

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"Já a rua tende a ser tomada, pelo discurso dominante por um código que produz uma "fala totalizada, fundada em mecanismos impessoais, onde leis e jamais entidades morais como pessoas, são pontos focais e dominantes. Ocorre uma reitificação abusiva de conceitos e relações, numa visão onde ninguém rigorosamente poderá modificar seu lugar" 8 Roberto da Matta "Em vez de ficar passivo diante de um mundo que não o satisfaz, ele vai criar um outro, onde poderá ser livre. Para poder criar sua vida, precisa criar este mundo. E essa criação, como a outra, são parte de uma mesma sucessão ininterupta de recriações. Nova Babilônia só poderá ser obra dos seus habitantes, unicamente o produto de sua cultura." 9

Constant

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a Rua Parece-me mais fácil elencar e desenvolver os aspectos e adjetivos relacionados a Casa, pois a Rua me chega através de vivências e lembranças mais difíceis de traduzir, qualificar, definir. Elas abrangem inicialmente as inúmeras cidades em que já morei; as viagens que tenho feito pelo Brasil e principalmente o modo pelo qual passei a me relacionar com a cidade depois das experiências, que tenho tido e ajudado a organizar, nos encontros de artistas que têm como foco de ação e reflexão o espaço público. São estes encontros o Salão de Maio, o SPA e o EIA. Irei tratar mais detalhadamente deles no próximo tópico. Para o antropólogo Roberto da Matta "Não se pode falar de casa sem mencionarmos o seu espaço gêmeo a rua" 10 e é desta forma, por antítese, que pretendo me aproximar da dimensão da rua, que aqui, quero tratar.

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Esta dimensão pode também ser apreendida quando evocamos as expressões populares " O espaço lá de fora", "Ser posto para fora de casa", "Vá para o olho da rua", "Sem eira nem beira", "Estou na rua da amargura", "Pelos trancos e barrancos". Por estas expressões evidencia-se como a oposição Casa/Rua é relevante para que se compreendam estas duas formas de estar no mundo. Geralmente estando uma relacionada ao espaço da intimidade, do cuidado, da proteção, enquanto a outra refere-se a um espaço impessoal, do descaso, do anonimato. Como apresenta Roberto da Matta:

"A Rua é o inverso da casa, local do povo, do movimento, da fluidez, do perigoso. Local de individuação e luta, de malandragem. Comumente visto como algo movimentado, propício de desgraças e roubos. O espaço público e tudo o que ele representa revela-se como negativo, quando visto de um ponto de vista autoritário, impositivo, falho, fundado no descaso e na linguagem da lei, que igualando subordina e explora." 11

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Esta visão negativa do espaço público fundada no descaso e na linguagem da lei é a qual tenho procurado combater tanto na minha pesquisa poética como na diversidade de movimentos com os quais tenho me envolvido (coletivos, encontros, fóruns, debates, festas populares brasileiras) _ É na busca por outras relações e meios práticos possíveis que estou propondo toda esta reflexão! Para os Situacionistas que propunham uma arte diretamente ligada a vida, uma arte integral, logo lhes ficou claro que esta arte total seria basicamente uma arte urbana e estaria em relação direta com a cidade e com a vida urbana em geral, quando os habitantes passassem de simples espectadores a construtores, transformadores e vivenciadores de seus próprios espaços, propondo mudanças de ambiências. "A arte integral, de que tanto se falou só poderá se realizar no âmbito do urbanismo". 12

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Para isto seria, e é necessária, uma mudança radical na forma conformista com que é levada a vida. Esta transformação envolve uma tomada de consciência das condições de vida que nos são impostas e dos meios práticos para mudar tal situação. Sendo imprescindível uma pesquisa da "disposição dos elementos do quadro urbano em estreita ligação com as sensações que eles provocam, além da definição de algumas áreas provisórias de observação".13 Alguns trabalhos que tenho feito, e que venho a propor nesta atual fase da minha pesquisa, estão diretamente relacionadas a estas premissas de Debord. Como é o caso de "Murulho _Casa verde" e "Murulho _Fonte Nova" já concretizados e dos "Puleiros de Observação" projeto em andamento, que se utiliza de equipamentos urbanos dispostos em alguns postes de eletricidade.

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Equipamentos urbanos, os quais estou estudando para futuras interações.

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Ribanceira, 2005.

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Tenho identificado inúmeros pontos de convergência entre minha pesquisa bem como os impulsos que me mobilizam e as propostas e reivindicações situaicionistas. Mas vale ressaltar uma diferença marcante. O programa situacionista propunha-se a agir em escala macroestrutural, projetando na escala do urbanismo. Minha pesquisa e meu trabalho atuam dentro de uma dinâmica micro- estrutural, na escala do indivíduo. Propostas que se dão num espaço macro (da cidade) mas que trazem a noção do indivíduo. Não um indivíduo alheio ao mundo e sim observador e atuante.

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Estudos para Ribanceira, que consistiu em construir uma

escada de

perpendicular a Dr. Arnaldo.

Creio que o trabalho se redimensiona na medida em que propõe o acesso, pelo corpo, a espaços mais amplos, como ocorre no trabalho Ribanceira, que consistiu em construir uma escada de corda e madeira ligando a Avenida Sumaré e uma pequena praça perpendicular a Dr. Arnaldo. A escala corporal transcende os limites da derme e alcança a escala geográfica uma vez que conecta estas escalas. participando ativamente na construção de um lugar e na criação de sítios de expe-riência, "meio de saltar escalas" diz Neil Smith em seu texto sobre o trabalho veículo dos sem teto do artista Wodicsko.

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corda e madeira ligando a a Avenida Sumaré e uma pequena praça

Veículo dos sem teto, do artista Wodicsko.

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EIA, Salão de Maio, SPA, SPLAC e Projeto Matilha. Venho mapeando e participando de encontros de artistas interessados em refletir e atuar no espaço público. Creio ser fundamental apresenta-los aqui na medida em que são iniciativas criadas e levadas adiante por jovens artistas interessados em criar, experimentar e aplicar novas formas de organização e reunião. Verdadeiras plataformas de convívio que constituem circuitos paralelos, ampliando o horizonte de atuação. Estes encontros me remetem ao conceito de "levante", trazido por Hakin Bey em seu livro TAZ, Zona Autônoma Temporária. São estes encontros: o Salão de Maio, o SPA e o EIA.

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O primeiro deles é um "salão" de arte pública organizado pelo Grupo de Interferência Ambiental, o GIA, que aconteceu por dois anos consecutivos, 2004 e 2005 na Bahia. O segundo, um encontro já na sua quinta edição organizado por diversos artistas com amplo apoio da prefeitura de Recife; o terceiro e, para mim mais significativo na medida em que faço parte do grupo desde a sua fundação em 2004, consiste em um encontro de arte anual organizado por um coletivo multidisciplinar interessado em reunir, viabilizar e propor ações no espaço da rua. A idéia é reunir os artistas e promover um intercâmbio cultural sobre as ruas de São Paulo num encontro que chamamos de Experiência Imersiva Ambiental, EIA.

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Uma semana de imersão no ambiente urbano, na qual formamos uma grande equipe colaborativa composta normalmente pelos responsáveis pela organização do encontro, pelos artistas proponentes que já residem em São Paulo, por outros que chegam de diversos estados (os hospedamos durante a semana imersiva em nossas casas e ateliês) e todos aqueles interessados em participar da mesma. No último encontro recebemos artistas de Rondônia, Minas Gerais, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Brasília e Rio de Janeiro. Nosso intuito é criar uma zona de ação, reflexão e interlocução. Momento e oportunidade de compartilhar sonhos e anseios, de manifestar nossas idéias de concepção e atuação no espaço, elaborando-as de forma crítica e poética. Há trabalhos de perfor-mances, oficinas, sons, apropriações, interferências, ativismos, instaurações, pirações, objetos, situacionismo, materiais em suporte gráfico e intervenções. (www.eia05.zip.net)

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Temos procurado dar continuidade a semana de imersão, propondo outros projetos coletivos ao longo do ano como foi o caso do SPLAC, do Baile dos Espantalhos, do Interrogacidade e do Projeto Matilha. Dentro deste grupo atuo tanto como articuladora, organizadora e proponente. Muitos dos trabalhos que apresento aqui, foram realizados durante estes encontros e contaram com a ajuda e participação de algumas pessoas que tornaram-se figuras chave, divisoras de águas neste meu breve percurso, são elas: os escoteiros Luís Parras e Caio Fazolin; a dupla Machado, Flávio o eterno companheiro e Sergio o explorador urbano; as sensíveis e catárticas Gisella Hiche, Milena Durante e Marina Ronco; a pesquisadora Pricila Lolatta, o pontual Gavin Adams, os poetas radioativos Felipe Brait e Rodrigo Vitullo, o inseparável Hélio Ribeiro. Os abençoados Tião Carvalho e Marinaldo, o bonequeiro Fernando Mira, e o incrível Nietzche.

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Alimento uma rede de laços dados, de braços fortes. Cansados de tanto saber e ver o óbvio, e permanecer calados. Juntamos os trapos, os cacos e rompemos as cercas, saímos dos cascos. Propomos um despertar contínuo, um desenvolver vontades, facilitar deslocamentos. Estar avesso a petrificação, a alienação, a museificação da vida; ser simultâneo ao invés de contra, criar alternativas e plataformas de convívio. O método é encontrar as brechas e abrir as fendas, observando as aglomerações, os excessos, as faltas, os fluxos: estudos de campo imersivos. A prática é imergir, potencia-lizando latências ambientais, constituindo novas territorialidades, matrizes de dinâmicas horizontais que estimulam a participação ativa e criativa dos indivíduos, transeuntes, pedestres, parentes e amigos.

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"O ninho do homem, o mundo do homem, nunca acaba. E a imaginação ajuda a continua-lo." 14 Bachelard "por tudo isso, não se pode misturar o espaço da rua e da casa sem criar alguma forma de grave confusão ou até mesmo conflito" 15 Roberto da Matta " o esperado e o legitimado, é que a casa, a rua e o outro mundo demarquem fortemente mudanças de atitude, gestos, roupas, assuntos, papéis sociais (...)". 16 Roberto da Matta

Projétil para um Mundo Novo, 2004.

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Reinventando a gramática dos espaços Roberto da Matta apresenta uma visão da sociedade brasileira como constelação sociológica com pelo menos três perspectivas complementares entre si: a casa, a rua e o outro mundo. O antropólogo demarca claramente os limites e apresenta as distinções entre estes espaços. Me proponho a questionar tais limites e utilizar suas especificidades para justamente criar relações entre estes espaços, como acontece no trabalho "Projétil para um Mundo Novo", no qual trago para dentro do ambiente da casa condições de jardim, seja na construção da cama de grama como no recolhimento de materiais nos entulhos para compor o ambiente. Ou quando levo a cama para o espaço do jardim.

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"Você conhece algum lugar que eu possa deitar?" Foi o que me perguntou um senhor deitado na porta da garagem da minha casa, de modo que era impossí-vel abri-la para guardar o carro. Meu carro tem lugar no Mundo e eu não soube como acolher aquele moço loiro quase moreno de poeira, de olhos azuis. Subi e encontrei a casa posta, tudo em seu devido lugar, me esperando. Havia deixado uma música bem calma a fim de manter o ambiente aquecido para quando eu voltasse. Está quente aqui dentro e da janela ainda dava para ver o moço, ele começara a falar sozinho deitado em frente da minha casa num cantinho do mundo. Levou as mãos dentro da calça, permaneceu um tempo. Depois começou a procurar nos bolsos. Frequentemente ajeitava o cabelo e tornava a buscar nos bolsos.

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Então sentou-se na sarjeta, desta vez buscou algo debaixo da blusa. Sacou um boné amarelo, todo dobrado, sacudiu o boné, ajeitou o cabelo, vestiu o boné. Constantemente olhava para os lados como se procurasse alguém, como se escolhesse para onde ir. Vestiu o boné e permaneceu sentado e olhou mais uma vez para cada lado. Tornou a levar as mãos debaixo da blusa e encontrou uma corrente. Tirou a corrente do pescoço, contornando o boné, era uma medalha. Uma medalha bem grande prateada. Pegou a medalha, olhou a medalha e a levou novamente ao pescoço, guardando-a como quem guarda um segredo. Começou a se levantar, parecia estar pesado, insistiu ajudando com as mãos. Ficou de pé tendo de buscar o equilíbrio, escorou-se ao muro e permaneceu um tempo. Mais uma vez olhou para os lados e permaneceu. Ainda escorado no muro começou a caminhar, à esquerda, e desapareceu da minha janela. Pretendo começar colocar estas camas de grama em praças e cantos pela cidade.

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Qual espaço eu procuro? _ Beirais, limítrofes, pontes, espaços relacionais que se inspiram dentro da "gramática da Casa" nas varandas, janelas, portas, alçapões, porões, corredores, jardins, quintais e terraços. Revelam-se dentro da "gramática da Rua" nos muros, terrenos baldios, viadutos, passarelas, faixas de pedestres, praças e canteiros. A gramática dos espaços revela especificidades, intimidades e padrões de nossa própria cultura brasileira e em outra instância de nossa própria constituição enquanto humanos, descontrui-la a fim de rearranja-la é um exercício minucioso de observação ambiental e pessoal que exige uma gama de ferramentas e procedimentos os quais tenho reunido sob o termo Estudos de Campo Imersivos.

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“ Mas nossos espaços nem sempre são marcados pela eternidade. Há também espaços transitórios e problemáticos que recebem um tratamento muito diferente. Assim, tudo o que está relacionado ao paradoxo, ao conflito ou à contradição - como as regiões pobres ou de meretrício - fica num espaço singular. Geralmente são regiões periféricas ou escondidas por tapumes. Jamais são concebidas como espaços permanentes ou estruturalmente complementares às áreas mais nobres da mesma cidade, mas são sempre vistos como locais de trânsitação: "zonas", "brejos", "mangues" e "alagados". Locais limiares, onde a presença conjunta da terra e da água marca um espaço físico confuso e necessariamente ambíguo". 17 Roberto daMatta

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Hector Zamora, artista mexicano, é para mim referência ilustre desta perspectiva de reivenção da gramática espacial, como podemos conferir em seu trabalho Casa Paraquedista, no qual o artista constrói uma habitação suspensa na parte exterior do Museo. Além de construi-la, Zamora se propos a viver ali por três meses, servindo-se da energia elétrica e da água do museo. A entrada da casa foi construída sobre a escultura que localiza-se na fachada do museo. Hector Zamora e sua Casa Paraquedista, são para mim referência central no que diz respeito à criação e subversão estrutural e funcional, bem como à inauguração de espaços. Não poderia tratar de espaços inaugurais, sem mencionar o criador desta imagem, o poeta e amigo Mário Chamie, que com a força de seu poema, “seu objeto selvagem”, desde seu primeiro livro Lavra Lavra, têm problematizado a questão do espaço da casa, do urbano e do rural, transfigurando e estabelecendo relações entre estes espaços.

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Vista da Casa Paraquedista de Hector Zamora, México.

Casas que navegam pelas ruas e “lançam suas âncoras no imóvel cais de um mar parado”, as mesmas que “abrem todas as portas de tantas salas fechadas” e assim “olham as auroras que nascem sem mais espera. Auroras de pele fresca, doce marulho do sangue” 18.

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Espaço Inaugural O espaço que se mede E que se perde não é o tempo perdido da memória. Esquece. O tempo que se perde É o mesmo que fenece A cada hora. Na hora do homem em casa. Na hora do homem Na rua. Na hora do espanto Desse homem Sem tempo No espaço de cada canto. Mas o cansaço do tempo Que se perde Não impede o espaço Que se inaugura. O espaço do homem Na praça. O espaço do homem Em luta Com a fúria de outro tempo : sua surda fúria muda. 19 Mário Chamie

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O JarDim "nas cidades orientais, as praças e adros (que configuram espaços abertos e necessariamente públicos) servem de foco para a relação estrutural entre o indivíduo e o povo, a "massa, a coletividade que lhe é oposta e o complementa. 20 "nas nossas cidades Ibéricas e brasileiras a praça abre território especial, uma região teoricamente do povo, uma espécie de sala de visitas coletivas" 21 Roberto da Matta

Assim como a Rua têm espaços de moradia ou ocupação, a Casa têm seus "espaços arruados" . Ambos relacionam-se através do jardim. Roberto daMatta trata da praça ou adros, como território especial, foco, ponto de encontro, zona que assume a mediação de temporalidades diferenciadas e problemáticas. É este espaço fonte e local das práticas ambientais. Nos estudos de campo imersivos, tenho percebido como estes espaços já são utilizados por ocupações recorrentes, continuas e irregulares, ou mesmo por equipamentos urbanos utilizados para manutenção do espaço urbano ou operações de revitalização.

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Estes usos da cidade me fazem reconhece-la como campo de ação de todos. Me interessa e me instiga dialogar com estas ocupações, propondo uma espécie de intervenção sobre intervenções, apropriação de estruturas, sugerindo outros usos possíveis.

Casa Lambida trabalho em andamento.

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Casa Lambida, pretendo realizar na atual fase desta pesquisa; consiste em uma inserção numa das "rampas anti-mendigo" postas pela prefeitura de São Paulo abaixo do viaduto da Paulista. Por conta destas rampas, as pessoas seriam impedidas de utilizar este espaço para dormir. O que ocorre é um deslocamento das mesmas para os arredores. Manobra do governo que simplesmente faz migrar o problema e evidencia uma política de higienização e gentrificação em zonas de grande especulação imobiliária dentro da cidade.

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Alguns fatores me estimulam a concretizar este trabalho: primeiramente a minha perplexidade perante tal estrutura, o que me levou a observa-la continuamente e a tentar verificar as mudanças no fluxo local. Segundo a própria forma que foi dada ao concreto que logo se revelou para mim enquanto casa, afinal como diria Gaston Bachelard "um sonhador de casas vê casas em todas as partes, tudo serve de motivação e abrigo". Me pareceu muito curioso que na mesma época em que realizei a "Ribanceira" no Viaduto Sumaré, novembro de 2005, o jornal Folha de São Paulo publicou uma matéria justamente sobre o descaso das autoridades e o conseqüente deslocamento dos antigos "moradores" do Viaduto da Paulista para o Viaduto Sumaré.

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Esta matéria de jornal me fez rever a Ribanceira, evidenciou outras relações que se estabelecem dentro da própria dinâmica do local e das transformações nos fluxos urbanos. Revelou-me toda uma teia de relações onipresentes, que participam de uma cadeia de ações e reações, reverberações e reflexos; conexões entre este organismo que é a cidade. Em seguida no trabalho de graduação de Sueli, entrei em contato com a seguinte frase de Françoise Minkowska "Uma casa viva não é realmente imóvel e inclui os movimentos pelo qual se chega a porta".

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Pensei nesta Ribanceira, no acesso que ela oferece, nas conexões que estabelece, no seu aspecto inclusivo. Acredito neste percurso que a Ribanceira oferece como o acesso pelo qual se chega a porta, uma porta que agora irei materializar no Viaduto da Paulista, mas que proponho que cada um de nós aventure-se a abri-la, adentrando neste espaço que já não é nem Casa, Rua, ou jardim mas organismo, corpo vivo! Murulhos Tantos são todas estas tentativas juntas, os murmúrios que me chegam, os mergulhos que encaro. As muralhas que afastam, os muros todos e os galhos. Murulhos Tantos são estas hipóteses, estes projéteis para um Mundo Novo. Um Mundo no qual é permitido sonhar e reinventar os acessos, abrir as portas e passar por entre fendas, descobrindo outros locais, tempos e realidades possíveis, espaços-tempo vitais.

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Ribanceira, 2005.

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Estas experiências, estas práticas ambientais, surgem primeiramente enquanto sonhos, em traços traçados nas paisagens que percorro todos os dias; ruas, jornais, faróis, esquinas, canteiros e viadutos; logo tornam-se esquemas, extensões nos cadernos todos, cartas de marear; depois concretizam-se no espaço, oferecendo e criando sítios de experiência. Seguem instaladas na memória de quem viveu, uma memória corporea, advinda da experiência, da escolha feita frente ao que se apresenta ou se oculta. O espaço inaugurado, inaugura em nós um acesso, espaço constituinte.

Vista superior do Murulhho II, neste o telhado foi inspirado nos terraços jardins de Huntertwasser.

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Nada, nem ninguém pode, neutralizar a força e a potência de uma experiência vivida, de um percurso percorrido. "Ancestrais desejos nômades irrompem" 22, é preciso ocupar, percorrer, derivar, marulhar. O teto Ilustração de Hundertwasser, ultrapassa os limites o pintor das cinco peles. da casa, do ateliê e descobre-se céu. O corpo expande e descobre-se célula, partícula de um organismo maior, transpessoal, interdependente. A cidade como morada, a morada enquanto corpo.

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Bibliografia BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo Martins Fontes, 1993. Coleção Trópicos. BEY, Hakim. TAZ: zona autônoma temporária. Tradução de Renato resende e Patrícia decia. São Paulo, Conrard Editora do Brasil, 2001. Coleção Baderna. CHAMIE, Mário. Objeto Selvagem. São Paulo, Quíron, 1977. DAMATTA, Roberto. A casa e a Rua - espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. DEBORD, Guy Ernest. "Introdução a uma crítica da geografia urbana", in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003.

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DEBORD, Guy Ernest. "Relatório sobre a construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência situacionista internacional", in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. LENGEN, Johan Van. Manual do arquiteto descalço. Porto Alegre, Livraria do Arquiteto, Rio de Janeiro, Tibá 2004. RESTANY, Pierre. HUNDERTWASSER. O pintor rei das cinco peles. Taschen, Alemanha. SMITH, NEIL. "Contornos de uma política espacializada: veículo dos sem teto e produção de escala geográfica", in ARANTES, ANTONIO. O Espaço da diferença.Campinas, SP: Parirus, 2000.

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Fontes de pesquisa Textos BAHIA, Dora Longo. Gordon Matta Clark: objeto a ser destruído. Dezembro 2000. CHAIA, Miguel. Arte e política: situações. FOUCAULT, Michael. Of other spaces. OITICICA, Hélio. Esquema Geral da Nova Objetividade. Jornal folha de São Paulo Web site Hector Zamora www.lsd.com.mx Biblioteca FAAP Cinecuble Prestes Maia filmes Casa de Cachorro Diário de Naná À margem da imagem

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Teses, dissertações e monografias LAGNADO, Lizete. Glossário do Programa Ambiental de Hélio Oiticica. Parte integrante da tese de doutorado. USP, Departamento de Filosofia, São Paulo 2003. LAGNADO, Lizete. Mapa do Programa Ambiental de Hélio Oiticica. Tese de doutorado. USP, Departamento de Filosofia, São Paulo 2003. PERUZZI, Marcus. Casa mínima: uma proposta para a casa-embrião. Trabalho de graduação interdisciplinar Arquitetuta e urbanismo, FAAP, 1994. VASSÃO, Caio Adorno. Arquitetura móvel: propostas que colocaram o sedentarismo em questão. Dissertação de Mestrado, USP, FAU, São Paulo 2002.

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Notas de fim 1.Oiticica, Hélio. Catálogo da exposição Whitechapel. 2.LISPECTOR, Clarisse. Água viva. Rio de Janeiro, Franscisco Alves, 1993. 3.BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo Martins Fontes, 1993. Coleção Trópicos. Pg 91. 4.Idem. Ibidem. Pg 31. 5.Idem. Ibidem. Pg 25. 6.Idem. Ibidem. Pg 24. 7.PERUZZI, Marcus. Casa mínima: uma proposta para a casa-embrião. Trabalho de graduação interdisciplinar Arquitetuta e urbanismo, FAAP, 1994. 8.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg 50. 9.Costant, in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg 29. 10.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg, 55. 11.Idem. Ibidem. Pg, 55. 12.G DEBORD, G. "Relatório sobre a construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência situacionista internacional", in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg 43. 70

12.G DEBORD, G. "Relatório sobre a construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência situacionista internacional", in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg 43. 13.DEBORD, G. "Introdução a uma crítica da geografia urbana", in JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg. 41. 14.BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Tradução Antonio de Pádua Danesi. São Paulo Martins Fontes, 1993. Coleção Trópicos. Pg. 116. 15.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 50. 16.Idem. Ibidem. Pg 48. 17.Idem. Ibidem. Pg. 45. 18.CHAMIE, Mário. Objeto Selvagem. São Paulo, Quíron, 1977. Pg. 45. 19.Idem. Ibidem. Pg. 31. 20.DaMatta, Roberto. A casa e a Rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. 5º edição. Editora Rocco. Rio de Janeiro, 1997. Pg. 43. 21.Idem. Ibidem. Pg.44. 22.JAQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de janeiro, Casa da Palavra, 2003. Pg. 11.

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