Matéria Publicada no Jornal “O Globo”, em 05/02/2006. http://oglobo.globo.com/jornal/Suplementos/RevistadaTV/191562822.asp Rio, 05 de fevereiro de 2006
O passo inicial das tramas Simone Mousse Algumas sinopses são tão detalhadas que parecem livros; outras descrevem apenas o necessário. Umas são seguidas à risca; outras nem tanto. Certo é que elas são o pontapé inicial de toda novela. É nelas, por exemplo, que os autores traçam os perfis dos personagens, criam a história de cada núcleo e fazem o detalhamento dos cenários — A sinopse é um resumo da história. Em obra aberta, geralmente ela é detalhada no início e fica mais vaga no fim — explica Gilberto Braga. — É importante a lista de cenários. Através dela a produção faz um orçamento aproximado. O autor, que está escrevendo uma sinopse para as 21h, conta como é seu estilo: — As minhas costumam ter de 50 a cem páginas. Cassiano Gabus Mendes fazia sinopses curtíssimas. E já li uma ou duas do Manoel Carlos que pareciam um bom romance. Ricardo Linhares, que escreve com Gilberto, já teve sinopses de vários tamanhos. — A de "A indomada", minha e do Aguinaldo Silva, tinha 45 páginas. "Porto dos milagres" tinha 80 e "Agora é que são elas", 90 — lembra. Nem sempre (ou quase nunca!) é possível seguir à risca o que está na sinopse. — A partir do que seria o capítulo 30, eu mudo, sim. Só segui à risca a sinopse uma vez, em "Anos rebeldes", porque era minissérie — diz Gilberto. Ana Maria Moretzsohn também nem sempre é fiel ao que escreveu no início. — "Esplendor" deveria ter 70 capítulos e dobrou de tamanho. Não botei na sinopse a carta que eu tinha na manga, uma personagem que saía do coma — diz ela. — Sinopse é também um produto de venda, tem que ser feita para convencer de que ali há material para uma novela. Linhares é outro que constantemente faz mudança: — Em "Agora é que são elas", não estava previsto que Léo (Débora Falabella) seria filha de Antônia (Vera Fischer) e Juca (Miguel Falabella) . Inventei essa história quando a novela já estava no ar. O tempo para se escrever também depende de cada autor. Uns são rapidíssimos, outros burilam mais o texto. — Eu escrevi em um mês a de "Rainha da sucata". Levei seis meses na de "A próxima vítima". E quase um ano para "Belíssima" — conta Silvio de Abreu. Ana Maria costuma ser mais concisa e rápida. — Tento explicar bem a trama central, sem me estender nas paralelas. Com descrição de personagens e cenários, elas têm umas 30 páginas — diz. — Levo cerca de dois meses para escrever. O que não significa que não possa ser feito em 15 dias se necessário. E será que as emissoras pedem que os autores mexam nas sinopses antes de aprová-las? Silvio, Linhares e Ana Maria dizem que nunca passaram por isso. Mas há divergências... — Claro! Sempre há pontos nos quais a emissora pede mudanças — afirma Gilberto. Elizabeth Jhin concorda: — Já reescrevi parte de uma sinopse para torná-la mais leve, já que era para as 18h. A verdade é que ficou muito melhor e foi aprovada. — Isso é comum, sinopse é escrita várias vezes, é discutida — explica Walcyr Carrasco, autor da campeã de audiência "Alma gêmea".