A melhor rede não é a social... Ainda não aderi, Mário Ivo, mas ando por lá, no twitter, tomando pé da novidade. Mas não penso duas vezes antes de afirmar: a única rede em que confio e da qual não abro mão não é social – é individual. E fica pendurada entre dois armadores num quarto lá de casa. Ou na varanda, quando o tempo ajuda. Dentro dela tem um travesseiro velho, pequeno, feito de encosto para acomodar a cabeça. Todo dia, certamente como você, recebo convite para integrar uma dessas novas redes sociais. E vou aprendendo: tem o facebook e até um badoo. Quando vi este, voltei aos tempos da caverna para ouvir o grito clássico do Fred Flintstone, o Homer Simpson da nossa infância – da minha pelo menos. Portanto, em se tratando de redes assim, vou tentando domar minha ignorância. Para não dizer que sou de todo ausente, tenho lá um Orkut, ao qual aderi na undécima hora, como diziam antigamente. E que vive lá, perdido, coitado, sofrendo de inanição, a solidão que é fera e devora. Agora está na moda o twitter, uma nova rede por meio da qual você avisa cada passo que dá a todos os que desejam acompanhá-lo. Venho notando seu interesse pelo tema, coluna antenada que é. O twitter propõe o voyeurismo interativo - o voyeur mão-dupla ou o voyeur São Francisco, pois é dando que se recebe. Poder seguir e ser seguido, uma imensa procissão virtual. Fala-se de tudo. Dia desses vi um político desejando bom almoço a alguém pelo twitter. De vez em quando dou uma volta por lá, que não sou de ferro. Juro que tento achar útil, como é, acho, para boa parte dos meus amigos. Ainda estou atravessando, a passos de cágado, o caminho árduo nessa estrada que transforma seres analógicos em digitais. É árduo, mas não tenho pressa. Vou na paz, sem a paranóia delirante. Os políticos, principalmente, têm usado bastante a nova rede – você também notou. Têm lá a justificativa deles: é mais fácil serem encontrados. Precisam ser vistos. E quem não é visto não é lembrado – dito que, para o distinto público, é mantra que nunca perde a validade. Políticos podem usar a novidade, também, para prestar contas do mandato e até para dar declarações sobre temas “momentosos”. E ainda para dar notícia da atividade que realizam, o que tem lá sua importância, muito embora seja no dia a dia, na melhoria ou na piora da
vida dos cidadãos, que se descobre de forma mais clara quem foi certinho ou quem foi traquina com o mandato ganho do povo. Tuíter tinha a ver com aparelhagem de som – aprendi no meu tempo de boy. Não fui atrás, desculpe a ignorância, mas o nome dessa nova rede deve ter vindo daí, das ressonâncias que possibilita. Ainda não aderi. Vou adiando enquanto posso. Tenho acordado e dormido sem ele - o coração permanece no mesmo compasso e a pressão mantém o ritmo. O que não quer dizer que se me virem por lá qualquer hora dessas é porque estou em flerte com a tal Caetana. Não escondo a inveja dos meus amigos que metem logo a cara e se entregam a novidades assim. Jornalista é bicho danado, você sabe. E aqui e ali – quem sabe e querendo - dá prá pinçar um passo em falso, flagrar um boquirroto, seguir uma pista. Aí, então, bingo: virou notícia. Sobre esse alucinógeno pós-moderno, veja só, Mário Ivo: se o computador surgiu, ou se popularizou, para permitir que seres normais ou anormais, feito eu, pudessem ganhar tempo e agilidade, a proliferação dessas redes e de mais uma penca de novidades que atraem curiosidade leva à reflexão: para que ganhar tempo se o tempo que se ganha é gasto exatamente para perdê-lo, preso, quase escravo, ao computador? A tela, nosso pelourinho modernérrimo. Esse é outro tema momentoso, sobre o qual, Mário Ivo, prefiro refletir na minha melhor rede, aquela que não é social. É particular, fica presa entre armadores e range que é uma maravilha.