manoel vianna de carvalho o grande pioneiro
manoel
vianna
de
carvalho
luciano klein filho no dia 14 de julho de 2001, durante o quarto semin�rio de unifica��o do movimento esp�rita realizado na federa��o esp�rita do estado do cear�, sob os ausp�cios do centro de documenta��o esp�rita do cear�, foi descerrada a placa (marco hist�rico) comemorando os 90 anos de funda��o do centro esp�rita cearense, ocorrido no ano passado. a placa, fixada na entrada da sede da federa��o, traz os seguintes dizeres: �neste local funcionou o centro esp�rita cearense, a primeira institui��o espiritista legalmente constitu�da no estado do cear�, fundada pelo ent�o 1.� tenente do ex�rcito manoel vianna de carvalho, no dia 19 de junho de 1910. homenagem da federa��o esp�rita do estado do cear� e do centro de documenta��o esp�rita do cear�, por ocasi�o dos noventa anos de funda��o desta hist�rica institui��o. fortaleza, 19 de junho de 2000�. mas, quem foi vianna de carvalho? ser� que a fam�lia esp�rita alencarina tem no��o da import�ncia do seu labor fecundo na dissemina��o e afirma��o da mensagem esp�rita por estas plagas? como estudioso da hist�ria do espiritismo em nosso estado, afirmo, sem o receio de cometer injusti�a, que vianna de carvalho foi o mais importante personagem do nosso movimento. possuidor de uma coragem ind�mita arrostou preconceitos de todo jaez para que a mensagem dos esp�ritos reveladores lograsse alcan�ar os nossos cora��es. para conhecermos um pouco de sua trajet�ria lumin�fera, sintetizamos, a seguir, os principais fatos de sua vida. nasceu na cidade ic�, Cear�, a 10 de dezembro de 1874. era filho de tom�s ant�nio de carvalho, professor de m�sica e portugu�s da escola normal e de josefa vianna, mulher de raras virtudes. em fortaleza, estudou no liceu do cear�. em 1891, matriculou-se na escola militar do cear�, onde se destacaria pelo brilho de sua intelig�ncia. nesse mesmo ano, juntamente com outros cadetes, conheceu o espiritismo, organizando na pr�pria escola um grupo de estudos doutrin�rios. em 1894, avultou como poeta participando da funda��o do centro liter�rio, agremia��o dissidente da c�lebre padaria espiritual. no ano de 1895, transferiu-se para o rio de janeiro, matriculando-se no curso superior da antiga escola militar da praia vermelha. passou a freq�entar a �uni�o esp�rita de propaganda do brasil�. ali, vianna de carvalho, o mais jovem e o mais ardoroso dos trabalhadores do grupo, ocupava a tribuna, quase todas as noites, perante compacto audit�rio. a sua apar�ncia jovem n�o fazia diferen�a, porque sua palavra eletrizava os ouvintes, aumentando dia-a-dia o volume de curiosos para ouvir o brilhante tribuno. em 1896 foi transferido para escola militar de porto alegre. procurou, ent�o, alguns confrades e numa casa abandonada, desprovida de mesas e cadeiras, dentro de um terreno baldio no bairro do parthenon, come�ou a divulgar o espiritismo. em seguida, fundou um n�cleo de estudos no andar t�rreo de uma casa comercial, na rua dos andradas. convocou diversas pessoas, entre as quais d. mercedes ferrari, senhora de grande cultura e muita coragem, que animada pelo cadete vianna e com o apoio de outros confrades, deu grande impulso ao movimento esp�rita local. ainda em 1896, regressou ao rio de janeiro, retomando os trabalhos na �uni�o esp�rita de propaganda do brasil�, passando a ser requisitado, por causa de suas fenomenais confer�ncias, para todo o distrito federal, na �poca o estado do rio.
no ano de 1898, de novo em porto alegre, publicou a sua primeira obra liter�ria, intitulada �facetas�, prefaciada pela poetisa carmem dolores, pseud�nimo da escritora em�lia bandeira de melo. o livro mereceu os melhores elogios da cr�tica. posteriormente publicou �coloridos e modula��es�, tamb�m muito bem recebido pela imprensa e pelos homens de letras. em 1905, foi transferido para o 8.� batalh�o de infantaria, em cuiab�. naquela cidade fundou o centro esp�rita cuiabano, em 1906, dotando-o do necess�rio ao seu bom funcionamento. em 1907, retornou ao rio de janeiro a fim de se matricular no curso de engenharia da escola militar do realengo. dessa vez realizou uma s�rie de confer�ncias na federa��o esp�rita brasileira e no audit�rio da antiga associa��o dos empregados do com�rcio, com plat�ias cada vez maiores. foi convidado para confer�ncias em s�o paulo, minas gerais, esp�rito santo e em todo o estado do rio de janeiro, sendo, em muitas dessas excurs�es acompanhado de ign�cio bittencourt, diretor do jornal �aurora�, em cujas p�ginas vianna emprestou a sua colabora��o, como em tantos outros peri�dicos, esp�ritas e laicos, em todo o pa�s. em 1910, concluiu o curso de engenharia militar, embarcando para fortaleza em abril desse mesmo ano. o espiritismo no cear� floresceu na �ltima d�cada do s�culo xix, em fortaleza, merc� da persist�ncia do grande pioneiro dem�trio de castro menezes (1849 � 1920), fundador do grupo esp�rita �f� e caridade�. na virada do s�culo, surgiram mais dois grupos na cidade de maranguape, o �verdade e luz� � que chegou a editar, em 1901, o jornal �luz e f� � e o �caridade e luz�, organizado em agosto de 1902, e que tamb�m publicou um jornal denominado �doutrina de jesus� e manteve uma institui��o de ensino, a �escola crist�, de 1902, talvez a primeira escola vinculada a uma sociedade esp�rita no brasil. contudo, lamentavelmente, estes grupos de reuni�es familiares, por motivos que desconhecemos, n�o tiveram longa dura��o, n�o mais existindo quando da chegada de vianna. o grande �mpeto da doutrina dos esp�ritos no cear� s� ocorreu, efetivamente, a partir de 1910, com a chegada de vianna. sua estada em fortaleza, de maio daquele ano at� novembro de 1911, foi pr�diga de realiza��es. seu acendrado amor � Causa esp�rita o impulsionou a um ritmo de a��o incans�vel. logo ao chegar, procurou arregimentar for�as para organiza��o do movimento esp�rita local. publicou, repetidas vezes, nas p�ginas do jornal �unit�rio�, an�ncios e pedidos como este: �pe�o aos esp�ritas do interior do cear�, bem como aos socialistas, ma�ons, livres pensadores, adeptos em geral das id�ias modernas, o obs�quio de me enviarem os seus endere�os para fins de propaganda. vianna de carvalho endere�o: rua 24 de maio, no 26� em seguida, promoveu o estudo sistem�tico de �o livro dos esp�ritos�, efetuando semanalmente confer�ncias nos sal�es das lojas ma��nicas �amor e caridade�, �igualdade� e �liberdade�. essas prele��es passaram a ser publicadas, sinteticamente, nos jornais �unit�rio� e �a rep�blica�. as confer�ncias tiveram repercuss�o extraordin�ria, motivando imediata rea��o de l�deres cat�licos, os quais, atrav�s dos jornais �cruzeiro do norte� e �o bandeirante�, combateram o espiritismo e seu fiel arauto. essa campanha insidiosa, em vez de prejudicar, aumentou grandemente o interesse pela doutrina criticada. entretanto, o corol�rio do prof�cuo labor desse filho de ic�, foi a funda��o, em junho de 1910, do centro esp�rita cearense, que funcionaria na rua santa isabel, no 105( hoje princesa isabel, n.� 255), bem no cora��o da cidade.
o �unit�rio�, na edi��o do dia 22 de junho, registrou este memor�vel acontecimento. �domingo (19), a uma hora da tarde, realizou-se no palacete da f�nix caixeiral, a sess�o solene de funda��o do centro esp�rita cearense. presidiu-a o ilustre magistrado sr. desembargador olympio de paiva, que teve a secretari�-lo os senhores miguel cunha e francisco prado. em seguida � abertura da sess�o, foi aclamada a seguinte diretoria provis�ria: presidente � desembargador olympio de paiva; 1.� vice-presidente � ant�nio carneiro de souza azevedo; 2.� vice-presidente � dem�trio de castro menezes; 1.� secret�rio � miguel cunha; 2.� secret�rio � jos� Carlos de mattos peixoto; 1.� tesoureiro � aphonso de pontes medeiros; 2.� tesoureiro - the�philo cordeiro de almeida; orador � dr. francisco prado. em seguida foi dada a palavra ao sr. dr. vianna de carvalho que produziu brilhante e erudita pe�a orat�ria discorrendo largamente sobre a doutrina esp�rita. sua senhoria foi delirantemente aplaudido. em seguida, orou o sr. miguel cunha, que apresentou os meios principais, que dever�o ser postos em pr�tica para a ampla e eficaz propaganda do espiritismo em o nosso meio social. estiveram presentes � sess�o in�meros cavalheiros de distin��o e v�rias fam�lias, que assinaram a ata de funda��o da novel associa��o. foi grande o n�mero de pessoas que se inscreveram como s�cios do centro esp�rita cearense. aos esfor�ados membros do centro, enviamos os nossos votos para que tenham completo �xito em seu nobil�ssimo desideratum.� na confer�ncia de inaugura��o do centro, vianna lamentou que no cear�, �onde t�m surtido os mais belos empreendimentos, ainda n�o se apercebesse da necessidade imperiosa de organizar um centro esp�rita[1], enquanto em outros estados, mesmo os mais long�nquos, o espiritismo tem sulcado profundo a sua a��o ben�fica pela profus�o espantosa de todos os ensinamentos capazes de remodelar os sentimentos incompat�veis com a verdadeira e genu�na religi�o do cristo. disse mais que era em nome da federa��o esp�rita brasileira que assim falava e pediu ao sr. presidente que em nome daquela consp�cua corpora��o, declarasse fundado nesta capital o centro esp�rita cearense.�[2] o centro esp�rita cearense passou a desenvolver not�vel servi�o no campo da propaganda doutrin�ria (promo��o de estudos, confer�ncias, cria��o do jornal �o l�baro�, etc.) e no campo assistencial. a partir de fortaleza, vianna de carvalho sofreria intensa persegui��o de influentes membros da igreja, que passaram a pleitear, junto �s autoridades militares, sua transfer�ncia. assim, em novembro de 1911, depois de um ano e seis meses de grandes servi�os prestados � Causa, partiu para a capital federal. em outubro de 1923, regressou a fortaleza como chefe interino do estado maior da 7a regi�o militar, com sede em recife, no desempenho de importante comiss�o do minist�rio da guerra. aproveitou a oportunidade para rever amigos e realizar confer�ncias no centro esp�rita cearense, que ent�o j� possu�a sede pr�pria, e na loja liberdade. no entanto, sua perman�ncia foi somente de poucos dias. no dia 10 de abril de 1924, voltou, desta feita para assumir as fun��es de fiscal do 23o batalh�o de ca�adores. largo c�rculo de seus amigos e admiradores o recepcionou com alegria no ponto de desembarque. em julho desse ano, assumiria o comando interino do referido batalh�o. ele permaneceria em fortaleza at� 11 de setembro de 1924. nesse �nterim proferiu confer�ncias e participou de atividades culturais. decorridos treze anos de sua fecunda tarefa na organiza��o do movimento esp�rita cearense, n�o enfrentou as mesmas resist�ncias da outra vez porquanto, al�m do respeito que lhe impunha o novo posto e fun��o, v�rios
intelectuais, figuras consp�cuas da sociedade fortalezense, haviam se convertido ao espiritismo. sobressaindo destes, estava o tenente-coronel francisco de s� Roriz (1870 � 1925), que fora chefe de pol�cia no governo do gen. setembrino de carvalho, e fundador, em 1916, da faculdade de farm�cia e odontologia. no rio de janeiro, juntamente com ign�cio bittencourt, fundou a �uni�o esp�rita suburbana�; com arthur machado, fundou a �tenda esp�rita de caridade�. realizou in�meras confer�ncias p�blicas no cine-teatro odeon e na escola nacional de m�sica. vianna percorreu as principais cidades brasileiras do in�cio do s�culo xx. em recife, onde j� era grande a sua fama, fundou, com ferreira lima e manoel aar�o, a cruzada esp�rita pernambucana. pregou no cine-teatro polyteama e no teatro santa isabel. os jornais �a prov�ncia� e o �di�rio de pernambuco�, veiculavam que a assist�ncia para ouvi-lo era incalcul�vel e seleta, com pessoas de todas as classes sociais. foi ele quem, em 19i4, levantou a campanha para evangeliza��o das crian�as nos centros esp�ritas, sugerindo a cria��o das aulas de moral crist�. em 1926, quando servia em aracaju, adoeceu gravemente, vitimado por um tipo grave de berib�ri. era o comandante interino do 28.� batalh�o de ca�adores no posto de major. diante da gravidade do seu estado de sa�de, os m�dicos resolveram encaminh�-lo para o hospital de s�o sebasti�o, em salvador. foi conduzido de maca at� o navio ��ris�. nas proximidades da praia de amaralina, �s 6h 30min da manh�, do dia 13 de outubro de 1926, desencarnou a bordo, aos 51 anos.
[1] ele se refere a um centro esp�rita legalmente constitu�do. [2] ata de funda��o do centro esp�rita cearense