MANGA: UMA ALTERNATIVA NATURAL NO CONTROLE DO DIABETES NUTRIÇÃO – ALIMENTOS – MANGA – FIBRAS – METABOLISMO – GLICEMIA – INSULINA – DIABETES – OBESIDADE – EMAGRECIMENTO Dra. Jocelem Mastrodi Salgado, Profa. Titular de Nutrição – LAN/ESALQ/USP Os números são assustadores. Mais de 160 milhões de diabéticos no mundo, 6 milhões só no Brasil. O nosso país é o sexto colocado no ranking e, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), o total mundial dobrará até 2025. Os especialistas acreditam também que esses números podem ser ainda maiores, já que muitos não sabem que têm a doença. Existem pessoas que convivem com o diabetes anos e anos sem que a doença seja diagnosticada, mas o que a maioria não sabe é que, mesmo sem os sintomas característicos, a doença já instalada pode estar prejudicando o coração, vasos sanqüíneos, nervos, rins, olhos e outros órgãos. Muitos desses danos são irreversíveis, mas é possível prevení-los com tratamento precoce. É por isso que o Ministério da Saúde está realizando uma campanha para a detecção da doença, principalmente em pessoas com mais de 40 anos. É a partir dessa faixa etária que o problema tem-se manifestado com maior força; o diabetes que surge em adultos maduros tornou-se uma epidemia assustadora. Excesso de peso e idade: dois fatores que se relacionam com o diabetes Quando falamos em diabetes, é preciso lembrar que ela se divide em duas categorias: os tipo 1 e 2. O diabetes do tipo 1 é o menos comum, respondendo por 5 a 10% de todos os casos. Seus sintomas surgem por volta dos 7 anos e o indivíduo depende de injeções de insulina diariamente para sobreviver, já que o pâncreas deixa de produzir esse hormônio em quantidades adequadas. Já no diabetes do tipo 2 (conhecido também como diabetes de adultos), o pâncreas não é o problema, mas sim o resto do corpo.
Fatores como obesidade, envelhecimento e alimentação desequilibrada acabam fazendo com que as células fiquem insensíveis à insulina, hormônio que facilita a entrada de glicose nas nossas células. Essa insensibilidade faz com que um volume grande de glicose permaneça no sangue sem ser utilizada pelo nosso corpo, ocasionando o que chamamos de hiperglicemia (taxa de glicose elevada no sangue). Excesso de peso O diabetes do tipo 2 cresce na mesma proporção da obesidade. Nem todo obeso fica diabético, mas 85% dos diabeticos do tipo 2 têm peso acima do ideal. Estudos mostram que 40% da população adulta do planeta está acima do peso adequado e até mesmo as crianças com menos de 10 anos estão adoecendo devido à obesidade. Dessa forma, fica claro que quem ganha peso em excesso leva de "brinde" grande chance de desenvolver diabetes. O excesso de gordura, principalmente no abdômen, causa resistência à insulina, o que leva ao diabetes. Depois de instalada, mesmo que o indivíduo perca peso, já não é mais possível reverter a doença, embora qualquer perda de peso torne mais fácil o controle. Idade Com o passar dos anos as pessoas ficam mais predispostas a diabetes. Para se ter uma idéia, acima dos 60 anos, 17% da população se torna diabética, e esses números tendem a crescer, já que a longevidade do povo brasileiro está aumentando. Com o envelhecimento, as células naturalmente perdem a capacidade de capturar glicose e isso pode ocasionar o diabetes em indivíduos mais predispostos. Manga: um coadjuvante no controle do diabetes Recentemente, um estudo que resultou em tese de mestrado na ESALQ/USP, avaliou os efeitos da ingestão de manga (Mangifera indica L.) nos níveis de glicose sangüínea de ratos diabéticos. A pesquisa, sob minha orientação, mostrou que a manga foi capaz de reduzir em até 67% a taxa de glicose no sangue.
A manga é uma fruta tropical bastante cultivada no Brasil. Sua produção está concentrada nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Piauí e Bahia. Muito consumida pelos brasileiros, é rica em vitamina C e beta-caroteno, precursor da vitamina A. No entanto, foi a presença de grandes quantidades de fibras, particularmente pectina, que despertou o interesse da nossa equipe em estudá-la mais detalhadamente. A pectina é uma fibra solúvel e como todas pode apresentar efeito hipoglicemiante (reduzir glicose), isso porque retarda a digestão do amido e outros polissacarídeos. Com isso, a glicose vai sendo liberada do estômago para o nosso intestino de forma mais lenta e, consequentemente, a sua absorção também ocorre mais vagarosamente, evitando elevação muito rápida e intensa de glicose no sangue do diabético. Além da presença de pectina, a manga também é rica em outras fibras insulúveis como a celulose e a hemicelulose, e juntas atuam beneficamente no nosso organismo. Em média, 100 g de manga da variedade estudada (tipo Tommy) apresentam cerca de 19 g de fibras (6,8 g solúvel e 12 g insolúvel). Uma manga geralmente pesa em torno de 350 g; portanto, o consumo da fruta inteira proporcionaria cerca de 66,5 g de fibras totais. Níveis séricos de glicose (mg/dL) em ratos machos "Wistar" diabéticos durante o segundo ensaio biológico: Dieta "a" = 0% de manga (controle); Dieta "b" = 5% de manga; As curcas com letras diferentes ("a" e "b") diferem significativamente (p<0,05). (Nota: veja a tabela, na página 150, do livro "Pharmacia de Alimentos") Os resultados dos estudos Durante três meses, dois grupos de animais diabéticos (nível de glicose sangüínea = 330mg/dL) foram avaliados: um consumindo diata placebo (controle) e outro com uma dieta contendo 5% de manga. O sangue de todos os animais foi coletado no início e nos dias 15.º, 30.º, 45.º, 60.º e 90.º de ensaio, para determinação de glicose sangüínea e glicogênio hepático. Verificou-se que, a partir do 15.º dia de ensaio, o nível de glicose no sangue dos ratos diabéticos alimentados com dieta com manga decresceu e foi significativamente menor nos períodos de 30, 45, 60 e 90 dias de experimento, em relação à dieta controle. Aos
30 dias de ensaio, a glicemia atingiu o valor mais baixo, chegando ao nível de 107 mg/dL, enquanto os ratos diabéticos com dieta controle mantiveram um nível médio de glicose sangüínea em torno de 330 mg/dL. Portanto, a dieta com manga foi efetiva em reduzir a glicemia dos ratos diabéticos, não havendo durante o experimento reversão dos resultados. Outro resultado interessante foi referente ao glicogênio hepático. Sabemos que um dos efeitos mais importantes da insulina (o hormônio deficiente no diabético) é fazer com que a maior parte da glicose absorvida e não utilizada de imediato para obtenção de energia seja armazenada no fígado sob a forma de glicogênio. Em diabéticos esse mecanismo apresenta falhas, já que a glicose deixa de ser absorvida de forma adequada e, portanto, os estoques de glicogênio no fígado são baixos. No nosso estudo, os resultados mostraram que nos animais diabéticos, alimentados com 5% de manga, o nível de glicogênio foi 64% maior que nos ratos com controle diabético. Isso nos levou a acreditar que os animais alimentados com manga passaram a absorver melhor a glicose e, como conseqüência disso, as reservas no fígado, sob a forma de glicogênio começaram a aumentar. Todos esses resultados estão agora sendo publicados na revista Plant Foods for Human Nutrition e motivaram o desenvolvimento de estudos clínicos com humanos, que serão conduzidos por médicos pesquisadores da área. Concluindo, com base nos resultados dessa pesquisa, podemos indicar a manga como um adjunto terapêutico no tratamento do diabetes, pois além dessa fruta apresentar um sabor agradável pode ser incorporada de forma simples e prática na alimentação do dia-adia, como um ingrediente benéfico à saúde do diabético, sendo, portanto, de grande interesse econômico para os produtores e indústrias alimentícias. (Fonte: Pharmacia de Alimentos - Recomendações para prevenir e controlar doenças, Dr.ª Jocelem Mastrodi Salgado, Madras Editora Ltda, 2001). Madras Editora Ltda Telefone: (0_ _ 11) 6959-1127
Fax (0_ _ 11) 6959-3090 www.madras.com.br http://www.madras.com.br/ Visite também o site: http://www.sanavita.com.br/ para ler outros artigos sobre nutrição e saúde, assinados por: - Dra. Jocelem Mastrodi Salgado é Profa. Titular de Nutrição LAN/ESALQ/USP e Consultora do Centro de Pesquisas Sanavita; - Dra. Patrícia C. Nogueira é nutricionista e coordenadora do Centro de Nutrição (Nutricentro) da Universidade Metodista de Piracicaba e colaboradora do Centro de Educação Alimentar Sanavita (CEAS); - Dirley H. Teixeira Mendes, professor de Educação Física, especialista em fisiologia do exercício; atividade física para grupos especiais e Atividade física e Qualidade de vida; - Dra. Esther Laudanna é Médica Pediatra, consultora da Fugesp e do Centro de Pesquisa Sanavita; - Drª. Flávia Giordano é Nutricionista Clínica, Supervisora de Nutrição na Secretaria da Saúde do Município de São Paulo, atuação em consultório com desenvolvimento do programa de reeducação alimentar (PRA) e membro do GENUTI - Grupo de Estudos de Nutrição na Terceira Idade; - Drª. Fabiana Cristina da Silva, é Nutricionista e Coordenadora do Centro de Educação Alimentar da Sanavita (CEAS/SAC); - Dra. Márcia de Lourdes Pereira de Francischi, é Nutricionista, Mestre em “Ciência e Tecnologia de Alimentos” pela ESALQ/USP, Doutora em “Ciência da Nutrição” pela FEA/UNICAMP e Pesquisadora do Centro de Pesquisas Sanavita; - Maria de Lourdes Kato, é psicóloga clínica, mestre em Psicologia pela USP. e professora do Curso de Psicologia da UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba). E-mail:
[email protected] - Dra. Gisele Peres, é Nutricionista e Especialista em Nutrição Enteral e Parenteral. - Carolina Hungria, faz parte da equipe de reportagem do Espaço Aberto, uma publicação mensal da Universidade de São Paulo produzida pela CCS - Coordenadoria de Comunicação Social. Para ler outras publicações, visite: http://www.usp.br/espacoaberto
- Dra Andréa Dario Frias é pesquisadora e coordenadora do Centro de Pesquisa Sanavita; - Dra. Cyntia Carla da Silva, (CRN: 8257) é Nutricionista do Hospital do Coração e colaboradora do Centro de Educação Alimentar da Sanavita (CEAS).