Quatro casos de refrigerantes. Olavo Alcântara Fernandes
Graças à Folha de Nanuque esta coluna é proporcionalmente mais comentada que Diogo Mainardi da VEJA: sua matéria da penúltima revista teve uns 60 comentários de leitores mas a VEJA tem no mínimo 300.000 exemplares semanais contra no máximo 2.000 exemplares da Folha. Romildo do INCRA e Sr. Francisco da Papelaria comentaram o texto “Água ou Refrigerante Cola?”, de modo que o polêmico cronista deveria receber trezentos e-mails para nos nivelarmos em regras-de-três. O que levou esta obscura coluna ao estrondoso sucesso de dois leitores manifestarem-se? A água, é óbvio, continua não despertando tanto interesse de modo que aos refrigerantes, preferência popular, é que se deve o sucesso. “Causo” primeiro: Há um biólogo barbacenense, chamado Rogério Lycurgo, que durante a adolescência sofreu uma perniciosa e desconhecida alergia. Vários médicos foram consultados e finalmente descobriram a causa: um litro de refri cola no almoço todos os dias. O remédio: Lycurguim foi obrigado a passar um ano sem provar a mais famosa bebida não alcoólica de todos os tempos, que tem café, coca e vicia. “Causo” segundo: Em uma da tarde de sol escaldante do outono nanuquense, uma senhora acompanhada por um rapazote pedia carona na saída da UDR. O rapaz parecia não estar normal, seus movimentos sugeriam que ele não se equilibrava bem. Um motorista pára e dá carona; papo vai e papo vem, a senhora conta que está levando o filho para uma revisão médica. O garoto sentia fortes dores renais mas os exames nada revelaram e como ele não tinha sossego com as dores, ela resolveu voltar ao consultório médico para não passar mais uma noite em claro. Como boa mãe que é, estava disposta a doar um de seus rins para o filho, caso fosse preciso. Conversando, o motorista descobriu que o rapaz tomava sozinho uma “tubaína” de dois litros de refri sempre que arranjava uns trocados. Se o leitor acompanha os preços de supermercados, lembra que a partir de R$0,99 qualquer um compra dois litros de refri e o Ministério da Saúde nada adverte aos consumidores. Talvez a advertência esteja inclusa nos vários componentes de nomes complicados de um atraente e fatal refrigerante. A boa mãe recusou-se a crer no que ouvia, nunca um refrigerante iria fazer mal a alguém, para ela a solução seria cirúrgica. “Causo” terceiro: Ananias é um próspero produtor rural, pai devoto a auxiliar os filhos e bom vizinho de toda a gente do Ribeirão da Pedras. Um dos filhos resolveu colocar um barzinho na fazenda e o nosso bom homem de vez em quando largava suas lidas para espiar o comércio do filho. Para ajudar tomava um refrigerante, não Cola, mas aquele que a TV diz que é “puro e natural”. Docinho, gasoso, um verdadeiro alívio para quem está no meio de uma intensa sessão de fotossíntese de uma pastagem de braquiária. O homem foi acostumando, acostumando e decidiu ter várias garrafas para casa, a fim de receber os visitantes. Chegou a dizer para um deles que ia parar de beber água porque o refri era ‘puro e natural”; claro que ninguém ligou pois tudo é alegria quando se recebe visita na roça. Mas, em um dia sem visita, a dor chegou. A cara se contorceu, o corpo se entrevou e o suor esfriou. Dizem que dor nos rins é pior do que a dor do parto porque para parto tem anestesia. O homem consultou e o doutor descobriu que seu único rim estava comprometido, não se sabe porque, mas estava. A cada dia o homem amarelava, já não ria e ia sempre a Teófilo Otoni fazer hemodiálise, que pelo que sei é filtrar todo o sangue do freguês em uma máquina. Nasce cada caroção nos braços mas não tem nada, o bom é que se está vivo, mesmo ficando feio e sofrendo. Para encerrar a estória, Ananias deixou a fazenda com o filho e mudou para Teófilo Otoni, para ficar mais perto da máquina de
hemodiálise e dos nefrologistas que cuidam muito bem de seu rim. A causa do desacerto nunca ninguém descobriu, nem se imagina. “Causo” quarto: Dárcio Nunes era um vigoroso caminhoneiro capixaba até que teve um enfarte e fez algumas pontes de safena. O médico proibiu-o de fumar e tomar bebidas alcoólicas, o que ele fez religiosamente. Como quem é operado tem que se exercitar, ele passou a frequentar os forrós, onde dançava a noite toda de cara limpa, tomando apenas refrigerantes. Na primeira revisão a pressão estava meio alta e o médico cortou gorduras, na outra cortou o sal e a pressão não baixava. Quando já não tinha mais quase nada para cortar, pois sabe o leitor que o paladar é o último prazer que abandona o homem, descobriu que nosso amigo forrozava movido a refris. O doutor mostrou a Dárcio que os sais conservantes do refrigerante estavam quase comprometendo sua arriscada cirurgia. Dárcio continua indo aos forrós e às vezes come um pedacinho de tiragosto mas nunca mais tomou refrigerantes, agora é só água mineral ou de coco porque estas sim, podem ser puras e naturais.