Livreto 4 Bate Papo Emmanuel Renuncia

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  • Words: 9,677
  • Pages: 22
IV Bate-papo com Emannuel

Renúncia

Centro Espírita Manoel Felipe Santiago Novembro – 2009

Breve Explicação

Nestes três textos, que são fruto do estudo da mocidade do CEMFS, para o evento Bate-papo com Emmanuel, cabe a nós reconhecer, em primeiro lugar, o quanto a obra Renúncia ainda exigirá de nós, no capítulo da percepção das sutilezas e transcendências que nela se encontram encerradas. A escolha dos temas abordados em nos textos nos chegou devido à percepção geral de sua relevância no entendimento do ser religioso verdadeiro, em contraste com nossas costumeiras ilusões , eivadas de orgulho e vaidade, que nos fazem errar desastradamente nos vários setores da vida, resultando às vezes numa atitude religiosa insincera, morna e despropositada, salientando, no entanto, a esperança e a fé na obtenção das virtudes essenciais, que nos levam a resultados opostos. Lembramos também que os comentários são sobre a obra de Emmanuel e não constituem instrução direta de nossa parte, pois nossa infinita incapacidade moral não nos permitiria tais arroubos infantis. Vale também ressaltar que fazem parte da dedução e experiência daqueles jovens e dos poucos adultos que participam do colegiado da Mocidade do Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, estando, portanto, longe de ser a última palavra no assunto. Nosso objetivo, grafando este trabalho, é deixar um registro das conclusões de nove meses de estudo desses jovens sobre essa obra de Emmanuel, para posterior melhoramento e até correção das deduções hoje alcançadas.

Não Linearidade das Encarnações

Os Espíritos podem degenerar? Não. À medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito concluiu uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionário, mas não retrogradar. (KARDEC, O Livro dos Espíritos, pergunta 118) (grifo nosso) Tendo-lhe feito os fariseus esta pergunta: Quando virá o reino de Deus? Respondendolhes Jesus, disse: O reino de Deus não virá com aparências exteriores; Nem dirão: Ei-lo aqui, ou ei-lo acolá. Porque eis que o Reino de Deus está dentro de vós. (Lucas 17; 20 e 21) (grifo nosso)

Sobretudo após o desencarne do grande médium Francisco Cândido Xavier, psicógrafo, dentre inúmeras outras, da obra Renúncia, revelações reencarnacionais até então restritas ao círculo dos seus amigos íntimos começaram a vir à tona. Algumas delas, se analisadas superficialmente, parecem negar o que é dito na questão de O Livro dos Espíritos colocada à cima, segundo a qual o Espírito Imortal não retroage em sua marcha evolutiva para Deus. Hoje, nos deteremos especificamente na revelação de que os personagens Ciro 50 Anos Depois e Carlos Clenaghan Renúncia são o mesmo Espírito. - Ciro (século II D.C.): • • •

portador de vastíssimo conhecimento espiritual; martirizado como cristão no circo romano; apresenta o Cristianismo à sua alma gêmea, Célia, exemplo vivo de fé e cristianismo essencial.

- Carlos (século XVII D.C.): • desertor de compromissos relacionados à Igreja Romana, assumidos no mundo espiritual; • transforma-se em inquisidor do Santo Ofício; • um dos principais responsáveis pela morte de Alcíone, a mesma Célia de outrora, ainda mais depurada. Como, pergunta-se, pode um mártir cristão, responsável pela conversão ao Cristianismo daquela que seria reconhecida como santa (Santa Marina) pelos seus pungentes sacrifícios em favor de muitos, transformar-se em inquisidor cruel, que viria a matar aquele anjo? Não seria o mesmo que dizer que o Espírito retroage? Nosso medo daquilo que é profundo, mas simples, comprometeu nossa perspectiva, e nossa ótica de vida, a pretexto de simplicidade, tornou-se superficial. Na abordagem da nossa jornada espiritual rumo à comunhão com o Criador, faz-se necessária a apreciação dos contextos vivenciais nos quais estamos inseridos. Só assim perceberemos que, de fato, não retrogradamos, mas apenas somos submetidos a contingências, através das quais as aquisições morais próprias são provadas, e cujo aproveitamento, ou não, nos diz o que, realmente, já conquistamos. Quando os valores cristãos não estão sedimentados dentro de nós, dependendo das circunstâncias a que formos submetidos, poderemos falir. Diz Jesus a Públio Lentulus 1 : 1

XAVIER, Há Dois Mil Anos, 2006. p. 91,92

Depois de longos anos de desvio do bom caminho, pelo sendal dos erros clamorosos, encontras, hoje, um ponto de referencia para a regeneração de toda a tua vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns milênios... Se o desdobramento da vida humana está subordinado às circunstâncias, és obrigado a considerar que elas existem de toda a natureza, cumprindo às criaturas a obrigação de exercitar o poder da vontade e do sentimento, buscando aproximar seus destinos das correntes do bem e do amor aos semelhantes.” (grifo nosso) Ciro, que numa existência pregressa havia se complicado muito por atitudes extremamente despóticas, renasce, pela paternidade de Nestório, submetido à escravidão. Entra em contato com conhecimentos espirituais bem cedo e conhece o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo em plena Era Apostólica, quando as grandiosas vibrações de Amor do Mestre palpitavam com intensidade jamais sentida entre as criaturas. Sem ter que suportar grandes desafios íntimos, por estar num contexto que facilita a postura externamente humilde, e possuidor de capacidade intelectual invejável, discorre a respeito das orientações e dos exemplos do Cristo, o que nos induz a acreditar em uma grande elevação espiritual. Muitos são os trechos da obra 50 Anos Depois que confirmam esse estado de espírito do personagem. No entanto, reconhecendo-se com mais clareza após o desencarne, diz o próprio Ciro à sua amada, que continuava no envoltório de carne (XAVIER. 2006: 284,285): Ao teu influxo pude testemunhar minha fé, no circo do martírio, selando, pela primeira vez, minha convicção em prol da fraternidade e do amor universal! Por ti, desterro de mim o egoísmo e o orgulho, sustentando todas as batalhas íntimas, na certeza da vitória! Voltando ao mundo, fui novamente arrebatado dos teus braços materiais, em obediência às provas ríspidas que ainda terei que sustentar por largo tempo! (...) E se Deus abençoar minhas esperanças e minhas preces sinceras, voltarei de novo para junto do teu coração, nas lutas ásperas... (...) Somente lá, nas moradas do Senhor, onde a ventura e a concórdia se confundem, poderemos repousar no amor grande e santo, marchando de mãos dadas para os triunfos supremos, sem as inquietações e provas rudes do mundo! (grifo nosso) Ele não era um espírito mal intencionado e buscava, ao influxo do amor de Célia/Alcíone, ser um homem de bem. No entanto, apesar de sua grande acuidade intelectual, algo lhe faltava para as conquistas definitivas da alma. Se o discurso de Ciro estivesse, de fato, afinado com sua realidade espiritual, ele não diria que o martírio no circo estava selando, pela primeira vez, sua convicção em prol da fraternidade e do amor universal. Não diria também que ainda teria que suportar provas ríspidas por largo tempo e não se posicionaria fora das moradas do Senhor quando desencarnado. Além disso, não podemos supor que a morte no circo, apesar de muito importante para as almas submetidas àquele sacrifício, seja prova de santificação. Existe uma enorme diferença entre morrer e viver para o Cristo. Não basta morrer. É preciso viver por Ele, dia após dia. Nas palavras de Cneio Lucius, avô de Célia, (XAVIER. 2006: 339,340): Ciro tem necessidade dessas provações, que lhe hão de temperar a vontade e o sentimento para os gloriosos feitos do seu porvir espiritual!... Entre os mártires do Cristianismo, há os que se desprendem do mundo em missão sacrossanta e os que morrem para os mais penosos resgates... Ciro é do número destes últimos... (grifo nosso)

O que falta, então, a essa alma, pergunta-se, para que obtenha sucesso em suas buscas? Esse questionamento ele mesmo se faz quando prestes a reencarnar no século XVII na personalidade de Carlos Clenaghan 2 : “(...) Por que razão havia caído tantas vezes ao longo dos caminhos humanos?”. Carlos reencarna exatamente com o objetivo de vencer-se, sujeito a um contexto que lhe estimula a autoridade. Ela havia sido déspota, estando habituado à busca pelo poder. A Europa da Contra-Reforma vivia um dos períodos mais obscuros de lutas religiosas e a Inquisição torturava e matava todos aqueles que ousassem se voltar contra os interesses do Catolicismo. Não obstante sua falta de vocação, a mãe de Clenaghan o obriga a aderir ao sacerdócio, o que ele, a contragosto, faz sem opor grandes resistências. É importante salientar que ele, quando Pólux no mundo espiritual, pede para reencarnar como sacerdote, a fim de manter-se fiel à sua amada e caminhar mais rapidamente em direção a Deus e a ela. No entanto, Padre Carlos conhece, em dado momento, Alcíone e busca se afastar dos compromissos religiosos assumidos, o que sua alma gêmea, reconhecendo a necessidade de fidelidade àqueles deveres, não aprova. Eles, que habitavam na mesma cidade, se separam, mais tarde, permanecendo o sacerdote em Ávila, enquanto Alcíone parte para Paris. O religioso só consegue se manter firme ao compromisso enquanto seu tutor, Padre Damiano, permanece vivo, enviando-lhe cartas encorajadoras. Após o falecimento deste, Carlos larga a batina e vai para a capital da França em busca de sua amada, que não sede a seus desejos afetivos por questões familiares que ninguém, nem ele, poderia entender. Clenaghan se revolta e parte. Alcíone continua a viver em intensos sacrifícios e, quando se vê consciencialmente livre de seus deveres, procura-o com o objetivo de constituir família, encontrando-o casado com uma mulher desequilibrada. Agora é Alcíone que, seguindo seu coração angelical, decide se tornar freira carmelita. O ex-padre, cheio de revolta e com desejo de vingança ao ver-se traído por aquela com quem se casou, torna-se inquisidor de elevado grau hierárquico. Estar na Terra, inclusive para Espíritos Superiores, é permanecer em contato com a fragilidade humana. Para entendermos melhor a profundidade dessa questão, vejamos o que Antênio, o Orientador de Alcíone em esferas superiores, diz quando esta solicita uma reencarnação na Terra (XAVIER. 2006:29): Lembra que o próprio Jesus, penetrando na região terrena, foi compelido a se aniquilar em sacrifícios pungentes. Recorda que as leis planetárias não afetam somente os Espíritos em aprendizado ou reparação, mas, também, os missionários da mais elevada estirpe. (...) O mundo, representado por maus sacerdotes e falsos doutores, buscou tentar o próprio Jesus. (...). Isso faz do nosso planeta um orbe de provas e expiações. Disse-nos Jesus “Vigiai, e orai para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26; 41) (grifo nosso). Os contextos nos quais somos inseridos nos fazem recapitular as nossas atitudes errôneas, além de nos indicar que conquistas já realizamos. Nessa vertente, a resistência dos Espíritos à queda é proporcional ao seu nível de cristianização, que indica a sua forma de sentir e ver a vida, ao contrário do que imaginávamos quando críamos que a posse de conhecimentos superiores é garantia de nosso avanço na escala dos Espíritos. Emmanuel é perguntado na obra O Consolador se há alguma diferença entre a crença e a iluminação, e sua resposta vem nos auxiliar em nossas reflexões (XAVIER. 2007:132): Todos os homens da Terra, ainda os próprios materialistas, crêem em alguma coisa. Todavia, são muito poucos os que se iluminam. O que crê, apenas admite; mas o que se ilumina vibra e sente. O primeiro depende dos elementos externos, nos quais coloca o objeto da sua crença; o segundo é livre das influências exteriores, porque há bastante luz no seu íntimo, de modo a vencer corajosamente nas provações a que foi conduzido no mundo. (...) (grifo nosso). Essa é chave para o nosso enigma. Ciro/Carlos apenas crê e admite, não estando capacitado para as provações por se entregar às influências exteriores. As leis planetárias representam, para ele, uma imposição 2

XAVIER, Renúncia, 2006. p. 15

quase irresistível. Ao contrário, Célia/Alcíone está iluminada. Ela consegue enfrentar as situações da vida sentindo todas as dificuldades e dores, amando, perdoando, tolerando e compreendendo irrestritamente, com o coração entregue a Jesus, sem ingenuidade. A motivação de cada uma de suas decisões e ações é um sentimento fruto de sua ligação a Jesus e a Deus. Ela diz a Antênio quando vai solicitar permissão para encarnar na Terra (XAVIER. 2006:29): — Confesso-te, porém, bondoso Antênio, que profundas saudades me lancinam rudemente o coração. Será condenável o desejo firme de alcançar a felicidade através das renúncias do amor e nos propósitos de semear o bem?! Perdoa-me se a presente rogativa causa estranheza à tua alma carinhosa, que tanto me tem amado no glorioso caminho para Deus. Releva-a, recordando que o próprio Jesus teve saudade de Lázaro e, ainda agora, na majestade da sua glória divina, experimenta cuidados pelos discípulos caídos, que padecem e choram!… (grifo nosso). Uma alma endurecida não sente uma saudade que lancina rudemente o coração. Essa saudade, vinda de um espírito fiel a Deus, parece ser a mensagem do Criador a respeito do que deveria ser feito. É essa ligação profunda, pelo coração, com o Criador, nos padrões do Amor Mais Puro, que a impulsiona a grandiosos sacrifícios e a capacita para resgatar todo o seu arcabouço espiritual, mesmo submetida ao esquecimento transitório da reencarnação. Relatando a mudança para melhor de Henrique de Saint-Pierre, noivo de Beatriz, a irmã de Alcíone, diz Emmanuel (XAVIER. 2006:480): O próprio Henrique de Saint-Pierre associou-se ao movimento, partilhando das reflexões religiosas com muita satisfação. A inspiração da filha de Madalena [Alcíone] causava-lhe surpresa cariciosa. Sua palavra penetrava problemas complexos da existência, como se já tivesse vivido numerosos séculos em contato com os homens. (grifo nosso) Alcíone parece viver há séculos entre os homens porque, capacitada para o perdão e profundamente sensibilizada para as coisas de Deus, sua vida espiritual não sofre interrupções. Ela sempre resgata, através do sentimento superior, todas as suas conquistas, provando que realmente havia gravado em sua alma, as virtudes essenciais. Quando José e Maria fogem com Jesus recém-nascido para o Egito no intuito de evitar o seu precoce assassinato, deixam para nós uma valiosa lição: a de que devemos evitar as situações que matem o Cristo em nós, sobretudo quando ele acaba de nascer. Jesus, que é a Vida, não mais morreu no coração de Alcíone. Mas como, nos questionamos, ela evitou essas tentações do mundo, se são armadas sutilmente pelos nossos maiores inimigos que residem dentro de nós há milênios? Para desvendar os mistérios das civilizações do passado através do concurso dos vestígios materiais, necessita o arqueólogo da picareta, do pincel e de outros instrumentos indispensáveis, para poder trabalhar de forma proveitosa. O médico precisa dos livros e dos laboratórios para penetrar os umbrais do corpo humano, se quiser concorrer com eficácia para a saúde dos seus pacientes. Se necessitamos dos recursos adequados para as realizações materiais, o que dizer dos labores íntimos? Temos uma personalidade construída em muitos milênios que é bastante intrincada e complexa. Além do mais, nos acostumamos a manchá-la pela exageração do instinto de conservação, que, segundo KARDEC 3 , criou o orgulho e o egoísmo, verdadeiras víboras a nos perseguir e envenenar, sempre que nos encontram invigilantes. Jesus nos recomendou vigilância e oração contra as quedas. Mas se essa vigilância se resumisse a esforços puramente intelectuais, não estaríamos na Terra, em grande maioria, imunizados contra as investidas das trevas que habitam em nós? Nossas conquistas racionais são bastante significativas e, observando a nossa triste condição moral, concluimos que o raciocínio puro e simples é rasteiro demais para nos livrar das tentações.

3

KARDEC, Obras Póstumas. 2006. p. 237

Orai e Vigiai é a recomendação do Mestre para que busquemos a ligação com o Criador, em oração, através do sentimento, do perdão e do amor ao semelhante. E orar não é simplesmente postar-se devocionalmente, mas sim 4 “um esforço da criatura em face da Providência Divina. (...) consciente de que a vontade do Pai é mais justa e sábia do que a sua própria.”. Carlos apenas conhece. Emmanuel confirma essa verdade quando fala sobre as reflexões de Alcíone (XAVIER. 2006:19) “De há muito trabalhava com fervor pela obtenção daquele minuto divino, em que Pólux conseguisse compreender e sentir o Mestre no coração antes de interpretá-lo intelectualmente, apenas.” (grifo nosso). Suas colocações [de Carlos] no mundo espiritual demonstram claramente a capacidade que tinha de interpretar a Boa Nova intelectualmente. Desde o tempo de Célia, suas colocações já eram consoladoras e coerentes com as lições evangélicas. No entanto, são distantes da vivência daquela alma quando encarnada na Terra. Flávio Tavares, estudioso da Doutrina Espírita e, especificamente, desse assunto, nos dá uma idéia bastante esclarecedora da situação de Ciro/Carlos 5 : A imagem que nos facilita o entendimento do que ocorreu com o espírito querido de Ciro/Carlos é a de um aluno que,sob os cuidados de uma professora particular, vai muito bem nos estudos, mas que à hora de comprovar seu conhecimento, nos momentos de testes, fracassa. Esta é a imagem de um espírito que cresce na cultura, mas fraqueja na assimilação da humildade, cresce na vontade de aprender, mas se equivoca ao tentar aplicar a teoria por causa da vaidade. Reparar o mal inclui uma primeira etapa expiatória, onde, involuntariamente, nos é bloqueada a capacidade do erro, através de nossas mutilações corporais. Numa segunda etapa, vêm as provas e os testemunhos. (grifo nosso)

Cremos que a causa das falhas do espírito Ciro/Carlos reside na sua pouca capacidade de sentir o Criador e aceitar sua Excelsa Vontade. Isso acontece com muitos de nós que, como nosso irmão, não nos dispomos a pagar o preço que a sensibilização com Deus e para Ele exige. Jesus nos alerta 6 : — Tudo na vida tem o preço que lhe corresponde. Se vacilais receosos ante as bênçãos do sacrifício e as alegrias do trabalho, meditai nos tributos que a fidelidade ao mundo exige. O prazer não costuma cobrar do homem um imposto alto e doloroso? Quanto pagarão, em flagelações íntimas, o vaidoso e o avarento? Qual o preço que o mundo reclama ao gozador e ao mentiroso? (...) — Não achais enorme o tributo que o mundo exige dos que se apegam aos seus gozos e riquezas? Se o mundo pede tanto, por que não poderia Deus pedir-nos lealdade ao coração? Trabalhamos agora pela instituição divina do seu Reino na Terra; mas, desde quando estará o Pai trabalhando por nós? O tributo que Carlos pagava por confiar mais nos recursos externos do que em Deus era enorme. Preço pago sem compensação. Ele se distanciava cada vez mais do seu ideal de ventura afetiva, pois a alma santa que o acompanhava não podia ceder aos seus caprichos. Não seria melhor atender ao pedido de Deus? Firmarse na lealdade pelo coração e, seguindo a orientação do Apóstolo Pedro, padecer no bem (I Pedro 3;17)? Conquistar, assim, o direito a que intelectualmente já havia concebido de 7 “repousar no amor grande e santo, marchando de mãos dadas [com Alcíone] para os triunfos supremos, sem as inquietações e provas rudes do 4

XAVIER, Boa Nova. 2006. p.127 TAVARES, Célia Lucius, Santa Marina. 2008. p. 133. 6 XAVIER, Boa Nova. 2006. p.45 7 Xavier, Cinqüenta anos depois. 2004. p. 285 5

mundo!"? Emmanuel, aproveitando-se educativamente dos exemplos de nosso irmão e de muitos outros alerta que 8 “se muita gente presume haver alcançado os êxitos retumbantes e a felicidade ilusória no campo vasto do mundo, em verdade ainda não aprendeu nem mesmo a estabelecer a vitória da paz, na experiência sagrada que se verifica entre as paredes de um lar”. Esse era o propósito real de Alcíone, que diz a Clenaghan (XAVIER. 2006:307) “- Abaixo do Céu, Carlos, és o meu maior afeto; entre nós, porém, está Jesus - Cristo.(...)” (grifo nosso). O seu amado, ao contrário, por seus hábitos racionalistas e externalistas, reflete da seguinte forma, de acordo com Emmanuel (XAVIER. 2006:300): “(...) Carlos Clenaghan, na sua condição de homem, chegava quase a ter ciúmes daquele Jesus tão amado e invocado a todo momento.(...)” (grifo nosso). Essa postura de Alcíone a eleva cada vez mais. Sua vida é sempre uma demonstração da grandiosidade de Deus, pois ligada a Jesus pelos laços do coração, estava também ligada a Deus, que elegeu o Cristo como Seu Representante perante todos nós. Clenaghan, incapaz de compreender os Desígnios Celestiais, se complicou cada vez mais, e só a sua participação na morte de Alcíone conseguiu tocar seu coração nas fibras mais íntimas. Nas palavras de Flávio Tavares a respeito da reencarnação mais recente daquela alma (TAVARES. 2008: 133,134): No século XIX, reencarnou em solo inglês o nosso personagem, na pele do professor Alexander Seggie, homem sincero, cristão verdadeiro, desapegado de bens materiais, despojado de vaidade, desprendido da necessidade dos holofotes da Terra, livre de qualquer sentimento de individualismo e dotado de simplicidade natural. (...) (...) A experiência de decretar, numa de suas encarnações, a morte de sua amada foi um impacto excessivo para o seu psiquismo e o choque anímico, definitivamente, impôs uma guinada radical em sua trajetória evolutiva. (grifo nosso) Isso se fez necessário para que Carlos finalmente sentisse. A culpa e o sofrimento foram tão intensos, que o impediram de continuar a ser como era. Tal fato, somado ao seu conhecimento intelectual, fez com que ele começasse a buscar Deus verdadeiramente. São os recursos de urgência da Lei Divina para conquistar os mais empedernidos corações. E isso justifica a vinda de Alcíone à Terra. Podemos julgar precipitadamente que a encarnação desse anjo teria sido prejudicial para seu amado, quando, na verdade, percebemos que Ciro/Carlos não conseguiria ser mais o mesmo, já que seu coração fora definitivamente tocado por um acontecimento, talvez, sem precedentes em sua trajetória espiritual. Todo o exposto nos indica que, de fato, a vida espiritual é linear. Realizada uma aquisição, ela nunca será perdida. Conquista real é aquela que foi adquirida pelo espírito realmente sensibilizado, coroada com o mais intenso teste, e manteve-se incólume. No entanto, nos acostumamos a observar os aspectos exteriores e julgar pelo que vemos com os olhos de carne. Somos superficiais no julgamento que fazemos dos outros e também de nós mesmos. A encarnação, essa sim, não linear, pode representar uma maquiagem espiritual, que nos impede de enxergar as nossas inferioridades, sobretudo quando não enfrentamos grandes desafios íntimos. Por isso, o nosso cuidado na apreciação das condições próprias e do próximo deve ser redobrado. Deve ser a apreciação do coração ligado a Deus, pois, de outra forma, ficaremos indefinidamente estacionados à beira do caminho, acreditando não necessitar do Evangelho de Jesus, único antídoto capaz de remediar as reais mazelas. Urge compreender que o Evangelho não é cartilha, mas mensagem de Deus, por intermédio do Cristo, destinada ao espírito 9 : “o Cristianismo jamais será doutrina de regras implacáveis, mas sim a história e a exemplificação das almas transformadas com Jesus, para glória de Deus.” A interpretação dessa mensagem

8 9

XAVIER, Renúncia. 2006. p. 10 XAVIER, Renúncia. 2006. p. 380

deve ser feita pelo coração sinceramente desejoso de ver cumprida a vontade de Deus e não de homens. Nas orientações do Mestre 10 : cada criatura tem um santuário no próprio Espírito, onde a sabedoria e o amor de Deus se manifestam, através das vozes da consciência.(...) É que cada criatura deve estabelecer o seu próprio caminho para mais alto, erguendo em si mesma o santuário divino da fé e da confiança, onde interprete sempre a vontade de Deus, com respeito ao seu destino. (grifo nosso) Uma última idéia pode nos auxiliar bastante em nossa transformação íntima. A submissão às leis planetárias da Terra, mundo de provas e expiações, deve ser o mecanismo de cumprimento da Lei proferida por Jesus no enunciado “Com as mesmas medidas que medirdes sereis medidos” (Lucas 6; 38). Quando julgamos alguém, a Lei nos coloca em situação análoga, para que, imaturos que somos, saibamos compreender a fragilidade humana. É o jugo forte de que nos fala Jesus indiretamente. Essa questão nos é esclarecida na obra Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro (BACCELLI. 2002: 81-83). Compreender isso previamente pode nos economizar muitos amargores. Quem tem o coração ligado ao Criador sente a grandiosidade do Pai e da Criação, percebendo a própria pequenez e a imperiosidade do perdão e da tolerância (jugo suave). A partir de então conscientiza-se da necessidade de amparo do Mais Alto, além de se voltar para a cooperação fraternal, tornando-se verdadeiro cumpridor da primeira e maior de todas as Leis: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo!”,ficando, a partir de então, livre das imposições cármicas.

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XAVIER, Boa Nova. 2006. p.126,127

Autoridade “ O que Jaques conseguia dele [Cirilo] por efeito de amor, Abraão igualmente obtinha por força de autoridade moral” Renúncia p.222.

Introdução: Esse tema foi escolhido, dentre tantos da obra Renúncia 11 porque percebe-se um destaque dado pelo autor espiritual a esse assunto, ampliando o conceito meramente humano do que seria a autoridade verdadeira.É importante q reflitamos, neste momento, sobre quem é realmente, o mestre em nossas vidas, a quem ou que seguimos. Contrapondo conceitos:

Segundo o dicionário Houaiss, autoridade é definida como direito ou poder de ordenar, de decidir, de atuar, de se fazer obedecer; superioridade derivada de um status que faz com que alguém ou algo (p. ex., uma instituição, uma lei) tenha esse direito ou poder. Entretanto, lembrando as palavras de Jesus, quando afirma que aquele que quiser ser o maior, seja servo de todos...(MT 23:11), constatamos que Jesus muda o paradigma da autoridade. A autoridade sob o prisma espiritual é uma autoridade construída em valores mais sólidos e verdadeiros. Detenhamos cargos instituídos ou não., nós elegemos nossas autoridades a partir de valores íntimos que adotamos Já de acordo com KARDEC 12 , “a nossa concepção de autoridade guarda relação com o momento cultural vivido pela Humanidade, em constante evolução. Assim, desenvolvendo-se a sociedade, transformam-se os parâmetros determinantes da autoridade dos indivíduos.” No referido texto, o autor ainda evidencia : “em razão da diversidade das aptidões e dos caracteres inerentes à espécie humana, há por toda parte homens incapazes, que precisam ser dirigidos, homens fracos que reclamam proteção, paixões que exigem repressão.” Autoridade ao longo da história, segundo Allan Kardec: A primeira aristocracia destacada por KARDEC, presente nas sociedades primitivas, é a dos patriarcas. Com o aumento populacional, surgiram as contendas entre comunidades. Daí surgiu a segunda aristocracia, a dos militares, da força bruta. Transmitindo a seus filhos a autoridade conseguida por meio da força, a dos militares deu origem à terceira aristocracia, a do nascimento. Aqueles que não tinham os privilégios de nascimento eram obrigados a trabalhar mais, por serem mais oprimidos. Estes, crescendo financeiramente, lutaram por acabar com os privilégios de nascimento e instituíram a quarta aristocracia, a do dinheiro. Os que enriqueceram deixaram como herança sua fortuna. Herdeiros ou pessoas comuns, para manter a fortuna ou conquistá-la, passaram a necessitar de instrução: essa a quinta aristocracia, a da inteligência. Assim sendo, questiona Kardec: Será a última? Será a mais alta expressão da Humanidade civilizada? Não.A inteligência nem sempre constitui penhor de moralidade e o homem mais inteligente pode fazer péssimo uso de suas faculdades. Doutro lado, a moralidade, isolada, pode, muita vez, ser incapaz. 11 12

XAVIER, Renúncia. 2006 KARDEC, Obras Póstumas. 1995

Mas é o proprio Codificador que responde:

Como vimos, todas as aristocracias tiveram sua razão de ser; nasceram do estado da Humanidade; (...). Todas preencheram ou preencherão seu tempo, conforme os países, porque nenhuma teve por base o princípio moral; só este princípio pode constituir uma supremacia durável, porque terá a animá-la sentimentos de justiça e caridade. A essa aristocracia chamaremos: aristocracia intelecto-moral.

Autoridade no livro Renúncia: a)

Cirilo e Tio Jaques

Acreditamos que Emmanuel, na obra Renúncia não tenha enfatizado a autoridade somente no seu aspecto de poder instituído. Não são mencionados presidentes, reis, papas ou outros personagens de destaque na política do mundo. Emmanuel aborda a autoridade utilizando os personagens da obra, pessoas comuns. Ele nos mostra que o tema relaciona-se com a intimidade de qualquer espírito encarnado ou não e que a só inteligência não alcança a autoridade real. Contextualizando: Cirilo era um jovem irlandês, professor em Paris, que se apaixonou por Madalena Vilamil, jovem espanhola, também residente em Paris. Cirilo aproximou-se da amada alimentando sonhos de matrimônio. Indeciso, não sabia se comunicava aos pais sobre seu casamento antes ou depois de concretizá-lo. Decide, então, conversar com seu tio Jaques, residente em Blois, pequena cidade próxima a Paris, a fim de aconselharse. No diálogo, Jaques sugere o casamento a Cirilo sem prévia comunicação com seus pais: (XAVIER: 2006,25)“Não estou fazendo apologia da desobediência ou da anarquia familiar, (...). Em nossa ilha costumase colocar o interesse acima das inclinações naturais.” E diante de hesitações de cunho material de Cirilo, Jaques lembra sua história com a falecida esposa Felícia. O casal de tios vivia na Irlanda, mas a vultosa herança de Felícia os compeliu a transferirem-se para a França (XAVIER: 2006,25):

“Na Irlanda possuíamos um ninho; na França encontramos uma casa. No ninho, vivíamos de amor e paz; na casa, a existência obedeceu às imposições dos cuidados numerosos pelas muitas convenções sociais. Não quero dizer com isso que as casas sejam organizações dispensáveis, e sim que devem ser ninhos simples e acolhedores, onde cada membro da família experimente a tranqüilidade devida.” (grifo nosso)

Demonstrando compreensão em relação às escolhas da esposa, Jaques completa (XAVIER:2002,25) “Mas, que fazer? Minha inolvidável companheira acreditou mais na sociedade humana que nas leis simples da vida, e a sua ansiedade segregou as pequenas [filhas] do nosso antigo ideal.” (grifo nosso). Observe como Jaques se referia à sua esposa com expressões de imenso carinho, apesar do posicionamento de vida completamente diferente escolhido do seu. Em suma, a postura de Jaques encerra o

que destaca no seguinte texto de O Evangelho Segundo o Espiritismo 13 : “[A indulgência] Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras, apenas conselhos e, as mais das vezes, velados. (...) a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita.” (grifo nosso) No relacionamento de Jaques e Cirilo, pecebemos que o velho Jaques tinha um posicionamento de vida muito mais voltado para os anseios legítimos do coração do que para quaisquer outros interesses, sociais ou financeiros. Ele punha o foco de suas preocupações nos valores da afinidade pura entre Cirilo e Madalena Essa postura de respeito e compreensão do tio, deixava o jovem Davenport cheio de esperança e consolação em suas muitas hesitações. Referida atitude tende muito mais para a aristocracia intelecto-moral, (mencionar fonte) não havendo imposição de opinião e nem exigências sociais. b)

Cirilo e Abraão Gordon:

Outras concepções de autoridade continuam, entretanto, entranhadas na cultura milenária de nosso planeta e, por isso mesmo, arraigadas na maioria de nós. Segundo esse princípio, temos freqüentemente nos relacionado com o próximo baseando-nos em valores outros que não os espirituais. Os interesses do patriarca, da força bruta, do nascimento, do dinheiro, da inteligência, têm sido mais considerados que as inclinações legítimas do coração, como Emmanuel menciona na questão 120, de O Consolador: porque nesse desequilíbrio do sentimento e da razão é que repousa atualmente a dolorosa realidade do mundo. O grande erro das criaturas humanas foi entronizar apenas a inteligência, olvidando os valores legítimos do coração nos caminhos da vida. Por isso, Jesus, quando questionado pelos fariseus sobre as cartas de divórcio endossadas por Moisés, respondeu: Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés permitiu despedísseis vossas mulheres, mas no começo, não foi assim.(...) (MT, cap. XIX, ). Kardec nos explica essa passagem, comentando (nota de rodapé) que na origem da Humanidade, quando os homens ainda não estavam tomados pelo egoísmo e pelo orgulho e viviam segundo a Lei de Deus, as uniões, derivando da simpatia, no sentido de afinidade real, e não da vaidade ou da ambição, nenhum ensejo davam ao repúdio, ou seja, ao divórcio. Só que, como exposto por Kardec 14 , nas condições ordinárias do casamento hoje, a lei de amor não é levada em consideração e o que se cogita, muitas vezes, não é a satisfação do coração, e sim a do orgulho, da vaidade, numa palavra, como ele diz, interesses materiais. O relacionamento de Cirilo Davenport com Abraão Gordon, amigo da família, retrata a autoridade pautada pelo rigor dos deveres sociais, vinculado às questões puramente materiais. Após ter se casado com Madalena, Cirilo foi convocado a comparecer à Irlanda do Norte. Sua família era vítima de perseguições religiosas e havia perdido muito de suas enormes propriedades. Por causa dessas dificuldades materiais, todos tinham planos de se transferir para a América do Norte, em processo de colonização. Assim, contavam com a presença de Cirilo, para as muitas e pesadas tarefas da viagem e da ocupação. É dentro desse cenário, que Gordon desfila argumentos para convencer Cirilo a aderir ao projeto: razões religiosas, filosóficas e outras aparentavam justeza de raciocínio e noções superiores de vida (XAVIER. 2006: 94)

13 14

KARDEC, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.10. 1997 KARDEC, O Evangelho Segundo o espiritismo, cap. XXII.

Contamos contigo, Cirilo — afirmava o velho irlandês bondosamente — e nem poderia ser de outro modo. Samuel e Constância esperam o teu amparo imprescindível (...).Não há mais tempo para hesitações - obtemperou o velho Gordon, depois de bater com o cachimbo na mesa, num gesto muito seu —; a questão não é de possibilidade, é de imperiosa necessidade. Entre pais e filhos não há consultas, há compromissos. Por mais corretos e louváveis que fossem os conceitos e razões levantados por Gordon, Cirilo resistia, lembrando-se das questões sentimentais (XAVIER: 2006:96)“O rapaz corou em face da observação direta que lhe era dirigida, e ocultando suas recônditas, preocupações sentimentais, receando ser tido à conta de covarde, considerou...” (grifos nossos). Após longa argumentação do velho amigo, Cirilo cede á convocação. Observemos a reação de sua família (XAVIER: 2006:96) “Vendo-o passar a mão pela fronte, os presentes entreolharam-se satisfeitos. A rendição de Cirilo, com respeito ao assunto, causava-lhes enorme prazer. (...) a autoridade patriarcal de Gordon era sempre sagrada aos olhos de todos.”(grifo nosso) Nessa relação, as decisões são impostas, sem PRIORIZAR os valores do coração. Os deveres sociais, revestidos de obrigações justas e até religiosamente justificadas são mais importantes que os idealismos da alma, anseios espirituais.

Em face das novas resoluções, Cirilo busca mais uma vez o aconselhamento do tio Jaques. O velhinho de Blois reparou a diferença de personalidade do jovem(XAVIER. 2006:99) “Concordava com a ida do sobrinho para o novo continente, (...); mas não podia aplaudir-lhe a atitude centralizando todos os interesses em problemas de absoluta feição material.” (grifo nosso). Jaques, então, questiona Cirilo acerca dos trabalhos da Sorbona e de Madalena. O rapaz oferece resposta peremptórias. Observemos a reação de tio Jaques (XAVIER. 2006:100) Em vista da resposta formal, o velho educador compreendeu, hábil psicólogo, que era inútil tentar demover o rapaz das decisões tomadas; todavia, como advertência velada, limitou-se a dizer: - Nunca me separei de Felícia senão quando o poder de Deus nos fez curvar diante da morte. Cirilo, porém, dominado pela visão dos interesses imediatos, não pôde perceber a sutiliza do aviso (...).(grifo nosso) Percebemos, assim, o quanto a autoridade exercida por Gordon sobre Cirilo está vinculada muito mais ao poder patriarcal que ao amor, fruto do respeito. Para Gordon, os sentimentos parecem ser menos importantes que a autoridade, que as conjunções sociais, que as aquisições e conquistas materiais. Cirilo, permanecendo na Europa, não estaria descumprindo deveres reais junto a seus pais, não deixaria de amá-los. Deixaria, sim, de contribuir para o sucesso material. Partindo com eles, de outra forma, cumpriu deveres sociais, favoreceu aquisições financeiras para os pais, mas desatendeu aos chamados justos de seu coração. Distanciando-se de Madalena, estava aberta a brecha para a intervenção criminosa de Susana, que tramou a separação do casal por toda a vida. Daí principiou a série de tragédias e dramas que recheiam a obra Renúncia.

Conclusão:

Fundamental, pois, que reflitamos acerca dessas questões, para que não coloquemos o poder, as articulações sociais, os ganhos materiais como valores maiores que os sentimentos, que os valores espirituais, evitando, assim, mágoas, rancores e tristezas, que, não raras vezes, decorrem do não cumprimento daquilo que o mais íntimo de nossas almas nos pede como sendo os deveres reais do coração. Nesse sentido, muito importante o seguinte trecho contido no Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 17, item 7:

Fielmente observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com exatidão? Onde começa ele? onde termina? O dever principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranqüilidade do vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação a vós.

Dessas palavras, inferimos também que se não há busca dos deveres íntimos do coração, e sim daqueles que, em nome de interesses outros, aparentam maior importância, freqüentemente nos posicionaremos perante os outros de maneira a ferir-lhes a felicidade e a tranqüilidade através de imposições e exigências contrárias às inclinações naturais do próximo, comportamento não condizente com aquele que nos sugerem os espíritos superiores. A história desse livro está muito ligada com a busca de Deus, de Jesus...Mas, infelizmente, a maioria de nós ainda não assumiu essa postura de verticalização, de espiritualização verdadeira. Os nossos aguilhões, que são os nossos deveres íntimos, ainda nos incomodam...Tendemos a fugir de entregas reais no campo afetivo e caminhamos mais no campo das paixões, da satisfação do ego. E até mesmo quando envolvidos com a religião, muitas vezes o nosso anseio por destaque, poder, autoridade humana, ainda prevalece, segundo nos advertem os espíritos.

No livro O Consolador, Emmanuel destaca na pergunta 361, que “Os espiritistas cristãos devem pensar muito na iluminação de si mesmos, antes de qualquer prurido no intuito de convencer os outros (...)” E sobre a conversão dos homens de destaque no mundo, ele completa: (...) há no mundo um conceito soberano de força para todas as criaturas, que se encontram no embates espirituais para obtenção dos títulos de progresso. Essa “força” viverá entre os homens até que as almas humanas se compenetrem da necessidade do reino de Jesus em seu coração, trabalhando por sua realização plena.

Com tais considerações, entendemos a colocação de Emmanuel, “quando afirma que O que Jaques conseguia dele [Cirilo] por efeito de amor, Abraão igualmente obtinha por força de autoridade moral”. Ressalvamos que a expressão “força de autoridade moral” não foi tomada, acreditamos, no sentido positivo comumente considerado, como em: “tal pessoa tem moral!”. Pela oposição feita entre “efeito de amor” e “força de autoridade moral” percebemos a distinção entre o relacionamento de Cirilo-Abraão e o de Cirilo-Jaques: “força de autoridade moral” parece remeter a uma moral ainda muito vinculada a circunstâncias humanas, enquanto “efeito de amor” sugere uma relação de maior respeito e afinidade. Mas pode-se perguntar: Se Carlos queria ser padre antes de reencarnar e, por meio da força moral de sua mãe, que o obrigou a vestir a batina, ele de fato o foi, não teríamos então necessariamente que obedecer ao jugo pesado? Acreditamos que toda vez que nossos corações estão afeitos ao jugo forte, vinculam-nos automaticamente aos ditames simples da lei de causa e efeito, e esta, nesse caso, é realmente necessária ao nosso progresso ainda distante do amor. Mas sempre que nos utilizamos dessa lei para nós e para o próximo nos comprometemos ainda mais com esse jugo forte. E como diz Chico Xavier, quando nós queremos o jugo forte, geralmente resgatamos as nossas atitudes infelizes com problemas ainda mais sérios.

Não é fácil sair do jugo forte, mas cremos que se Carlos se decidisse pela busca da humildade, do amor acima de tudo, poderia modificar seu destino. Francisco de Assis com seu pai é um exemplo clássico de capacidade cristã embasando a desobediência ao jugo forte. Não nos iludamos, no entanto, porque muitos de nós ainda não temos a humildade e as virtudes necessárias para fugir a determinadas contingências sem danos maiores. Para apreendermos o que Emmanuel quis destacar em todos esses trechos, não devemos encarar o enredo de Renúncia como mais uma obra mediúnica a relatar histórias não-verídicas. Acreditamos seja essa a história de todos nós sendo colocada diante de nossos olhos, retratando as nossas próprias dificuldades. Trata-se de misericórdia divina, mais um chamado para que nos afinizemos com o Cristo, para que Ele tenha mais autoridade em nossas vidas do que outras coisas, para que o Reino de Jesus seja deste mundo! Emmanuel, no livro Vinha de Luz, lição18, nos lembra que: Apesar de todos os esclarecimentos do Evangelho, os discípulos encontram dificuldade para equilibrarem, convenientemente, a bússola do coração. Antes de tudo, o aprendiz costuma procurar a realização dos próprios caprichos; o predomínio das opiniões que lhe são peculiares; a subordinação de outrem aos seus pontos de vista; E ele continua:

a submissão dos demais à força direta ou indireta de que é portador; a consideração alheia ao seu modo de ser; a imposição de sua autoridade personalíssima; os caminhos mais agradáveis; as comodidades fáceis do dia que passa; as respostas favoráveis aos seus intentos e a plena satisfação própria no imediatismo vulgar. Sabemos que exemplos práticos são relativos, mas quando negligenciamos afinidades em função de deveres supostamente maiores, acreditamos, estamos assumindo em nossas almas os valores das aristocracias do patriarca, da força, do nascimento, do dinheiro, da inteligência. Entretanto, quando buscamos nos conhecer, sondar nossos sentimentos, descobrir nossas reais intenções, nossos reais anseios de espíritos eternos, estaremos pautando nossas vidas pelas certezas incontestes do coração que, ligado a Deus, é guia seguro por todos os caminhos da vida. Essa é a verdadeira autoridade, a da inteligência associada ao amor. Com ela, saberemos respeitar as escolhas de nossos semelhantes, não teremos interesses a defender que nos impeçam de viver fraternalmente entre todos. Saberemos, então, cumprir aquelas palavras de nosso Amado Mestre Jesus: “Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.” (Jo, 13:35)

Afinidades: família espiritual

“Nós que saímos juntos do mesmo sopro de vida, chegaremos juntos aos braços amoráveis do Eterno.” Alcíone (Renúncia, p. 19, 2006) “Na grandeza de sua dedicação, vemos o amor renunciando à glória da luz, a fim de mergulhar-se no mundo da morte”. Emmanuel (Renúncia, p. 9, 2006)

1. Por que falar de afinidades reais? Como entender que um anjo, Alcíone, desça da glória de outro sistema planetário para a escuridão da Terra, por causa de alguém em particular? Como explicar que um Espírito evoluído sinta rudes saudades? Como compreender a grande atração de Alcíone e Carlos? O que seriam almas que saíram do “mesmo sopro de vida” (XAVIER. 2006: 19)? Para entender tais questões, sem romantismos ou contaminações culturais, precisamos estudar a afinidade espiritual. Neste estudo, analisaremos a recorrência de uniões semelhantes à de Alcíone e Carlos em diversas obras de Chico Xavier e de Allan Kardec. Tal freqüência demonstra, claramente, uma grande importância do tema para todos que almejem a evolução espiritual de modo mais efetivo. Enfocaremos uniões ideais e perceberemos que nem todas as pessoas ligadas a nós se enquadram nesses padrões. Entretanto, esse estudo não deve ser motivo para descumprirmos compromissos assumidos na carne. Colocamos a questão em foco para buscarmos a nossa espiritualização que seria incompatível com deserções injustificáveis. 2. O que são nossas afinidades espirituais? Afinidades espirituais são almas que vivem juntas há milênios e por conviverem em diversas circunstâncias nas reencarnações, acabam por apresentar grande identidade de bagagem espiritual. Essa afinidade é o alimento fundamental do espírito para as realizações da vida. Emmanuel comenta em O Consolador, questão 323, especificamente sobre as almas gêmeas, “no sagrado mistério da vida, cada coração possui no Infinito a alma gêmea da sua, companheira divina para a viagem à gloriosa imortalidade”. Esse é o caso de Alcíone e Carlos, que viveram várias reencarnações juntos. Sobre isso, ela comenta: “Nós que saímos juntos do mesmo sopro de vida, chegaremos juntos aos braços amoráveis do Eterno” (XAVIER, 2006: 19). O resultado é um vínculo sentimental profundo entre eles. O mesmo observamos na obra Nosso Lar, capítulo 38. André Luiz pergunta como se processa o casamento na cidade de Nosso Lar. A resposta é: “Pela combinação vibratória (...), ou então, para ser mais explícito, pela afinidade máxima ou completa.” A resposta está de acordo com o que Emmanuel aborda em Vida e sexo, capítulo 7: “Indiscutivelmente, nos Planos Superiores, o liame entre dois seres é espontâneo, composto em vínculos de afinidade inelutável.” Entenda-se “inelutável” como invencível. Qual a importância dessas ligações para nós? Em Alma e coração, capítulo 1, Emmanuel afirma que “o tempo nos permite começar de novo na procura das nossas afinidades autênticas, aquelas afinidades suscetíveis de insuflar-nos coragem para suportar as provações do caminho e assegurar-nos o contentamento de viver.” E em O Consolador, questão 325, nos comenta que a ligação das almas gêmeas é “a fonte vital do interesse das criaturas para as edificações da vida”. Na teoria, pode parecer interessante, mas na prática, isso implica necessidade de evangelização profunda, nos caminhos do entendimento e do perdão, para que encaremos certas verdades espirituais. 3. Por que e como buscarmos afinidades verdadeiras? Em O Consolador, questão 323, temos “criadas umas para as outras, as almas gêmeas se buscam, sempre que separadas”. Com isso, Emmanuel situa a atração de almas gêmeas no âmbito misterioso da Criação. Buscar afinidades reais, sob a ética evangélica, significa direcionar o nosso caminho para Deus,

retomar nossas origens espirituais, o que corrobora com o seguinte enunciado de Jesus 15 : “Os afetos d’alma (...) são laços misteriosos que nos conduzem a Deus.” Quando não nos dispomos a trilhar esse roteiro, acabamos por buscar relações afetivas baseadas em valores ilusórios, contraindo pesados débitos, que nos separam de nossas reais afinidades. Ainda em O Consolador, questão 323, “milhares de seres, se transviados no crime ou na inconsciência, experimentam a separação das almas que o sustentam, como a provação mais ríspida e dolorosa (...)”. Para retomarmos esse caminho, é preciso iniciar a marcha na direção da nossa espiritualização, buscando o perdão e a humildade. Assim, acreditamos, desviuncular-nos-emos do 16 “cipoal das relações poligâmicas de que somos egressos” e poderemos estar na companhia de nossas almas realmente afins. Sobre isso, Emmanuel comenta 17 : Não devemos esquecer que a Terra ainda é uma escola de lutas regeneradoras ou expiatórias, onde o homem pode consorciar-se várias vezes, sem que a sua união matrimonial se efetue com a alma gêmea da sua (...). A criatura transviada, até que se espiritualize para a compreensão desses laços sublimes, está submetida, no mapa de suas provações, a tais experiências, por vezes pesadas e dolorosas.

Esse comentário nos remonta à frase de Jesus, “Meu fardo é leve e meu jugo é suave” (Mt, 11:30). Quando estamos tardios no processo de espiritualização nos submetemos ao jugo pesado do mundo, das uniões expiatórias, apesar de úteis e sagradas. Mas quando nos dispusermos a carregar o fardo do Cristo, nosso caminho para algum dia desfrutarmos de uniões espontâneas, sinceras e santas estará assegurado. Cristianizando-nos, estaremos fortalecidos para vencer a etapa de provações, direcionando-nos para nossa família espiritual, almas que estão junto a nós desde o princípio. 4. Falsas visões do assunto Podemos nos questionar: não é muito sentimentalismo Alcíone descer do Céu em busca de Carlos e de sua família espiritual? Não seria desequilíbrio emocional, paixão, depositarmos nossa alegria de viver em um espírito supostamente gêmeo do nosso? A esse respeito Emmanuel esclarece 18 : “A saudade, nessas almas santificadas e puras, é muito mais sublime e mais forte, por nascer de uma sensibilidade superior”. Isso significa que quanto mais evoluídos, mais capacitados sentimentalmente seremos. Na referida questão, Emmanuel afirma ser o desenvolvimento desse sentimento a causa das grandes abnegações do Céu em favor dos seres amados, em provação expiatória. Podemos ainda questionar: mas não seria egoísmo dedicar interesse maior a uma alma em especial? Não devemos buscar o amor universal? Essa mesma pergunta, feita a Emmanuel, obteve a resposta 19 : “O amor das almas gêmeas não pode efetuar semelhante restrição [ao amor universal], porquanto, atingida a culminância evolutiva, todas as expressões afetivas se irmanam na conquista do amor divino. O amor das almas gêmeas, em suma, é aquele que o Espírito, um dia, sentirá pela Humanidade inteira”.

O amor das almas gêmeas, como percebemos nesse trecho, é um caminho necessário para alcançarmos o amor universal. Quando negamos a afeição divina, aparentamos bondade, renúncia e sacrifício em atitudes externas. Se quisermos, contudo, caminhar rumo a virtude real, acreditamos que admitir sentimentos como esse é fundamental para “amolecermos” nossos corações, termos compaixão, humildade e caridade verdadeiramente. É possível pensarmos que nosso cônjuge não é a nossa alma gêmea. Nesse caso, deveríamos deixá-lo? Em absoluto. Emmanuel, em nota à primeira edição de O Consolador, esclarece: “ninguém, a rigor, pode estribar-se no enunciado [a questão das almas gêmeas] para desistir de veneráveis compromissos assumidos na escola redentora do mundo sob pena de aumentar os próprios débitos com difíceis obrigações à frente da Lei.” O convite é o de buscarmos a aquisição de valores eternos e sublimarmos experiências até que queiramos estar a caminho de Deus, junto daqueles mais amados de nosso coração. 15

XAVIER, Boa nova, cap.12, 2006. XAVIER, Vida e sexo, cap. 7, 2002. 17 XAVIER, O Consolador, questão 188, 2002. 18 XAVIER, O Consolador, questão 329, 2002. 19 XAVIER, O Consolador, questão 326, 2002 16

5. Os muitos casos de afinidade nas obras espíritas Selecionamos trechos das obras de Chico Xavier e Allan Kardec que exemplificam e atestam o que abordamos: - Renúncia: A seguir apresentamos trechos de um dos diálogos entre Alcíone e Carlos 20 . Alcíone fala a Carlos carinhosamente: “Reconheci-te no primeiro olhar. Nem me enganaria nunca. A alma é servida por estranhos poderes que o mundo ainda não conhece.” Alcíone diz ainda 21 : “Deus conhece minhas vigílias em preces fervorosas. Desde que nos vimos pela primeira vez, diluo as minhas aspirações mais antigas em lágrimas dolorosas.” E Emmanuel comenta 22 : “Nessa noite, porém, suas preces turvaram-se de lágrimas candentes. As declarações de Carlos não lhe saíam dos ouvidos e a filha de Madalena, pela primeira vez, na Terra, sentia-se cativa de singulares pesadelos.” - Ave Cristo!: Quinto Varro, abnegado trabalhador do Cristo, pediu para renascer na Terra a fim de resgatar Taciano, seu filho espiritual. Diante do fracasso de uma de suas tentativas, Emmanuel descreve o mundo íntimo do pai. “Quinto Varro, o padrão varonil do bom ânimo e o exemplo da fé viva, não obstante a fortaleza espiritual de que invariàvelmente dera testemunho, cedeu à tortura que antecede o desalento.” Emmanuel relata ainda pensamentos do grande cristão acerca do querido filho: “Recordando, porém, a grandeza do ideal que o impelia ao amor da Humanidade, perguntava a si mesmo por que motivo queria ao rapaz assim tanto...” (capítulo 6). - 50 anos depois: Nessa obra, anterior a Renúncia, Célia e Ciro é o mesmo casal de almas gêmeas Alcíone e Carlos. Ciro seria morto como cristão e na narração de Emmanuel temos a descrição do estado emocional de Célia, por causa da separação. Lembramos que na vida como Célia é que Alcíone chegou à santidade. “Apesar da fé que lhe fortalecia o coração, a jovem Célia sentiu-se tocada de profunda amargura (...).” Observemos aindadescrições de Emmanuel, quando, ao fim da narrativa, todos da família de Célia haviam morrido: “(...) uma saudade singular dos seus mortos bem amados enchia-lhe, agora, o coração, de um como filtro misterioso de indiferentismo para o mundo. Começou a fixar o pensamento em Jesus, mas, em breve, as rosas de sangue começaram a brotar de sua boca, num fluxo contínuo.” (capítulo 6)

- Há dois mil anos: Lívia é alma gêmea de Públio Lêntulus, senador romano. Ele acreditava que ela o havia traído e a abandonou completamente no lar. Lívia, alma mais evoluída e sensível, assim descreve sua dor: “Angustiosa tem sido a minha saudade e dolorosíssimo o triste degredo espiritual a que fui relegada, no plano dos meus afetos mais puros.” (capítulo 5). - Libertação: Matilde, espírito superior, é mãe espiritual de Gregório, chefe de falanges trevosas, e assim se dirige a Gúbio, trabalhador de Nosso Lar, a respeito do filho: — Irmão Gúbio, perdoa-me o pranto que não significa mágoa ou esmorecimento... Na pauta do julgamento humano comum, meu filho espiritual será talvez um monstro... Para mim, contudo, é a jóia 20

XAVIER, Renúncia, p.301, 2006. XAVIER, Renúncia, p.304, 2006. 22 XAVIER, Renúncia, p.302, 2006 21

primorosa do coração ansioso e enternecido. Penso nele qual se houvera perdido a pérola mais linda num mar de lama e tremo de alegria ao considerar que vou reencontrá-lo. Não é paixão doentia que vibra em minhas palavras. É o amor que o Senhor acendeu em nós, desde o princípio. Estamos presos, diante de Deus, pelo magnetismo divino, tanto quanto as estrelas que se imantam umas às outras, no império universal. (capítulo 3) (grifo nosso)

- Entre a terra e o céu: O Ministro da cidade espiritual Nosso Lar, Clarêncio, explica as conseqüências do encontro em desdobramento de uma mãe encarnada com seu filho desencarnado. A mãe não podia recordar completamente o encontro: — Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra interior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela redundaria em saudade mortal. Como isso é lamentável! — alegou o meu companheiro, penalizado. (capítulo 12) (grifo nosso)

O termo saudade mortal nos mostra o quanto estamos ainda inexperientes no trato das coisas do sentimento e de suas potencialidades divinas. Quais seriam as reações de alguém que acordasse à noite sentindo uma saudade mortal – isto é, sentindo que pode literalmente morrer de saudade? Como isso seria interpretado por pessoas que jamais conceberam sentimentos dessa magnitude? - Nosso Lar Capítulo 18: - Aprendemos em "Nosso Lar" que a vida terrestre se equilibra no amor, sem que a maior parte dos homens se aperceba. Almas gêmeas, almas irmãs, almas afins, constituem pares e grupos numerosos. Unindo-se umas às outras, amparando-se mutuamente, conseguem equilíbrio no plano de redenção. Quando, porém, faltam companheiros, a criatura menos forte costuma sucumbir em meio da jornada. - (...) ainda aqui é possível relembrar o Evangelho do Cristo. "Nem só de pão vive o homem.

Capítulo 38: Nesse capítulo, Tobias se reencontra com suas duas esposas da última existência. A primeira, Hilda, era sua afinidade máxima e Luciana, a segunda, consorciou-se com ele em uma união fraternal. Luciana comenta seus aprendizados: - Mas, graças a Jesus e a ela [Hilda], aprendi que há casamento de amor, de fraternidade, de provação, de dever (...). O matrimônio espiritual realiza-se, alma com alma, representando os demais simples conciliações indispensáveis à solução de necessidades ou processos retificadores, embora todos sejam sagrados. - E assim construímos nosso novo lar, na base da fraternidade legítima - acrescentou o dono da casa.”

- E a vida continua... Evelina, católica desencarnada, era casada com Caio no plano físico, mas descobriu sua afinidade real em outra pessoa, Fantini. “— Compreendo hoje que todos respiramos na própria essência de Deus; contudo, o mistério para mim está nisso... Sei que nada conseguimos sem Deus, mas, entre Deus e a obrigação que me cabe cumprir, preciso de alguém que me escore o espírito, que se me erija em apoio, na movimentação do cotidiano, em busca daquele estado de alma que apelidamos por paz interior, euforia ou mesmo felicidade. .. Esta fome espiritual que me faz pensar dia e noite na reintegração com Caio significará que ele, meu esposo, é realmente o meu amor absoluto? aquele espírito que será o sol de bênçãos a envolver-me para sempre, quando chegarmos à perfeição?”(capítulo 17)

- Evolução em dois mundos “Não podemos olvidar que, na Terra, o matrimônio pode assumir aspectos variados, objetivando múltiplos fins. Em razão disso, acidentalmente, o homem ou a mulher encarnados podem experimentar o casamento terrestre diversas vezes, sem encontrar a companhia das almas afins com as quais realizariam a união ideal. Isso porque, comumente, é preciso resgatar essa ou aquela dívida que contraímos com a energia sexual, aplicada de maneira infeliz ante os princípios de causa e efeito.” (capítulo 28)

- Os mensageiros Isabel, encarnada, mantém na própria casa valiosa oficina de Nosso Lar. Por sentir profundas saudades de seu marido desencarnado, Isidoro, ela se dirige a Aniceto, elevado líder da colônia espiritual, da seguinte forma: “Por vezes, profundas saudades da família espiritual me dilaceram o coração... desejaria arrebatar meus filhos à esfera superior, incliná-los ao bem, para que a nossa união divina não tarde nos planos mais altos da vida.” (capítulo 51)

- Revista espírita, “União simpática das almas”, julho/1862 O texto se refere a alguém encarnado questionando um familiar desencarnado acerca da união eterna de ambos na vida espiritual. Uma frase de destaque no diálogo é: “De todas as recompensas prometidas aos homens, há alguma coisa de semelhante a este pensamento, a esta esperança, eu poderia dizer a esta certeza: estar reunido pela eternidade aos seres adorados?” 6. Conclusão Reiteramos que não é objetivo desse estudo nos deixar abatidos perante as provações que devemos enfrentar. Ao contrário, enfatizamos a necessidade de nos entregar a Deus a cada dia mais para que, como verdadeiros discípulos de Jesus, aqueles que serão conhecidos por muito se amarem!

Referências bibliográficas:

KARDEC, Allan: O Livro Dos Espíritos, 62o edição. São Paulo. Ed. Lake, 2001. KARDEC, Allan: A Gênese, 42o edição. Araras. Ed. IDE, 2005. KARDEC, Allan: Obras Póstumas, 1o edição de bolso. Rio de Janeiro. Ed. FEB, 2006. KARDEC, Allan: O Evangelho segundo o Espiritismo, 113o edição. Rio de Janeiro .Ed. FEB 1997 KARDEC, Allan: Obras Póstumas, 27o edição. Rio de Janeiro .Ed. FEB 1995 TAVARES, Flávio Mussa, Célia Lúcius, Santa Marina. 1o edição. Belo Horizonte. Ed. Vinha de Luz, 2008. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) Renúncia, 34o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2006. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) Cinquenta Anos Depois. 32o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2004. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) Há Dois Mil Anos. 46 o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2006. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) O Consolador. 27o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2007. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Humberto de Campos) Boa Nova. 25o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB, 2006. XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) Renúncia, 34o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB 2006 XAVIER, Francisco Cândido (espírito Emmanuel) Vinha de Luz, 7o edição. Rio de Janeiro, Ed. FEB 1983 BACCELLI, Carlos Antônio. Chico Xavier, à sombra do abacateiro. 4o edição. São Paulo, Ed. IDEAL, 2002.

Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. dezembro, 2001.

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