Liberdade Nada é tão livre quanto ela, corre o mundo, e no mar do barco sopra a vela. Desejada por muitos, temida por estes mesmos, pode ser sorte, ou levar à morte certa. Da pipa da criança é motor e inimiga, faz voar, mas faz também quebrar a linha, e leva para longe o brinquedo, deixa a chorar o menino. Seca a roupa no varal, varre a sujeira do quintal, arranca os lençóis da corda e joga onde quer. Joga a poeira sobre o linho branco, suja a alva roupa de linho, desarruma o cabelo de qualquer mulher, é livre ao extremo, não há quem a ponha a termo. Nem o mar pode com ela, do sul sopra a ventania levando o barco ao norte, e se desejar encrespar o mar lhe põe fim à sorte, e este só pode obedece-la De seu leito o mar não sairá, ficará revolto se ela, a ventania assim desejar, o poderoso mar simplesmente há de se calar. Não é à toa que é fêmea caprichosa, unidade básica para que haja vida, pintora de tintas desgastadas, escultora de mãos delicadas, dá forma e cor a tudo. A ventania, milimétricamente esculpe a rocha, e faz corar a face de quem a ela se expõe, varre o terreiro, e arranca folhas e galhos. Após passar nos deixa sua obra, grande arte, grande legado, roupas enroscadas em algum canto, folhas no telhado ou no chão, sapatos, brinquedos, sacos plásticos, e até gatos, e cães minuciosamente arranjados , com arte e imaginação. Somente a mulher é assim tão poderosa, e criativa, tão bela, e tão cruel, a arte e a liberdade lhe caem muitíssimo bem.