MÓDULO 1 - Leitura Crítica e Compreensão de Textos Conceituação Ler bem pressupõe compreender o que se lê.
Neste Módulo, vamos falar sobre leitura crítica e sobre sua importância para a escrita. Para Marcuzzo (2004), a compreensão crítica do ato de ler implica na percepção das relações entre o texto e o contexto, pois linguagem e realidade se prendem dinamicamente (Freire, 1988). Assim, para se entender um texto, é necessário entender primeiro o contexto que envolve seu processo de produção, distribuição e consumo (Fairclough, 2001), i.e. as forças sociais que o tornam um texto. Essas forças são: o contexto de produção (autoria, motivação, finalidade), de distribuição (meios usados para viabilizar a recepção do texto) e consumo (a recepção e uso do texto). Comentário do Professor: Partindo dessa perspectiva, textos são produzidos de maneiras particulares em contextos sociais específicos: um artigo de jornal, por exemplo, é produzido por membros de uma equipe jornalística mediante rotinas complexas. Alguns textos têm distribuição simples, por exemplo, uma conversa casual pertence apenas ao contexto imediato da situação em que ocorre, enquanto outros têm distribuição complexa, como um texto institucional. O consumo dos textos pode ser individual ou coletivo, por exemplo, cartas de amor (individual) ou ofício circular (coletivo) e também podem ser consumidos de maneiras diferentes em contextos sociais diversos (Fairclough, 2001).
Além de observar o contexto, ler
criticamente significa estabelecer, a partir de um determinado texto, associações mentais que possibilitam compreender que, em diferentes práticas discursivas, os indivíduos criam, recriam e/ou transformam estruturas sociais de dominação, desigualdade e discriminação (Meurer, 2000). Tendo em vista que no texto se manifestam diversos “discursos”, isto é, conjunto de afirmações que refletem ou epresentam entidades, valores e relações sociais e, desse modo, as constroem de maneiras diferentes (Fairclough, 2001).
Nessa perspectiva, o leitor crítico desenvolve habilidades que lhe possibilitam “enxergar“ o texto como um todo, ou seja, as marcas gráficas no papel, os sentidos explícitos dessas marcas e o significado social desses sentidos num todo que une linguagem e significado (Motta-Roth, 1998:26). “Quando abordamos o texto numa perspectiva interacional, onde o objetivo do escritor é ter suas idéias aceitas pelo receptor, temos de levar em conta as diversas “figuras” que se estabelecem na constituição deste jogo verbal. Não se trata apenas de uma simples mensagem. Trata-se de uma necessidade de se fazer “ouvir” pelo leitor.” Joana Darc O. Canonico (UERJ)
Visto dessa forma compreendemos a leitura como um processo de interação. No processo da leitura a interação ocorre entre diversos elementos: o leitor e o texto; o leitor e o autor; as fontes de conhecimento envolvidas na leitura, existentes na mente do leitor, como conhecimento de mundo e conhecimento lingüístico; ou ainda, o leitor e os outros leitores. No momento em que cada um desses elementos se relaciona com o outro, no processo de interação, ele se modifica em função desse outro. Em resumo, podemos dizer que quando lemos um livro ou qualquer outro gênero textual, provocamos uma mudança em nós mesmos, e que essa mudança, por sua vez, provoca uma mudança no mundo (Gonçalves, 2006).
Uma forma de possibilitar a leitura crítica é através do uso consciente de estratégias. Uma das mais importantes nesse processo é a formulação de perguntas.
Nessa perspectiva, é fundamental saber que tipo de perguntas devem ser feitas para o texto. Assim, o leitor precisa saber “dialogar” interagindo com o texto.
Marcuzzo (2004) propõe perguntas que devem ser feitas pelo leitor ao texto quando se faz uma leitura crítica: Um bom roteiro das perguntas, que devem ser feitas ao texto numa leitura I. Questões gerais para análise do texto: crítica, pode ser encontrado no link: http://moodle.etcom.ufrgs.br/help.php?file=questions.html Quando e onde o texto foi escrito? Por que o texto foi escrito? Sobre o que trata o texto? A quem o texto é dirigido? Quem são seus prováveis leitores? Como o tópico é desenvolvido? Qual é o gênero do texto? Há elementos do discurso promocional, como palavras avaliativas positivas? Há características auto-promocionais de grupos específicos de pessoas ou objetos? Há elementos interdiscursivos? Por exemplo, elementos de auto-promoção, qualidades pessoais, discurso governamental/religioso/educacional?
II. Questões lexicogramaticais: Qual é o tipo de vocabulário predominante no texto? São itens lexicais formais, técnicos, informais ou expressões coloquiais sugerindo uma relação próxima com os leitores? O vocabulário é mais emocional ou é mais lógico e argumentativo? Há palavras que são significativas ideologicamente? Que metáforas são usadas? Quais são os verbos, os substantivos e os adjetivos que contribuem para projetar identidades do produtor do texto ou de um grupo específico de pessoas? Há uso de pronomes como nós (significando o produtor do texto e o leitor) ou você (que se refere a um grupo social específico)?
III. Questões sobre itens gramaticais: Que tipos de processos verbais são usados (conforme, Halliday, 1994)? São verbos de ação (materiais), de sentimento e pensamento (mentais), dicendi (verbais) ou aqueles que estabelecem relação, classificam ou identificam entidades (relacionais)? Qual é o tempo verbal mais utilizado?
Referências Bibliográficas (usadas no Módulo e sugeridas para consulta): FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Editora UnB, 2001. MEURER, J. L.; MOTTA-ROTH, D. (Eds.). Gêneros textuais e práticas discursivas: subsídios para o ensino da linguagem. Bauru, SP: EDUSC, 2002. HALLIDAY, M. A. K.; HASAN, R. Language, context, and text: aspects of language in a social-semiotic perspective. 2 ed. Oxford: Oxford University Press, 1989. MEURER, J. L. . O trabalho de Leitura Crítica: recompondo representações, relações e identidades sociais.. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 1, n. 38, p. 155-171, 2000.
MOTTA-ROTH, Désirée (org.) Leitura em língua estrangeira na escola: Teoria e Prática. Santa Maria: UFSM, 1998. MEDEIROS, J. B. Português Instrumental para cursos de contabilidade, economia e administração. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2000. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1988.
ATIVIDADE 1
Nessa perspectiva, o leitor crítico desenvolve habilidades que lhe possibilitam “enxergar“ o texto como um todo, ou seja, as marcas gráficas no papel, os sentidos explícitos dessas marcas e o significado social desses sentidos num todo que une linguagem e significado (Motta-Roth, 1998:26). Com base nesse trecho, comente e discuta o papel do leitor na leitura crítica desse gráfico. FÓRUM DE DISCUSSÃO