Capítulo 6 - Nem sempre dá certo! Workshop - A utilização de LEDs na iluminação arquitetural: Mitos & Verdades
6.1 - Visão Geral Sempre que ouvimos falar sobre LEDs, nos vem a impressão de um mundo perfeito. Não sei se é perfeito mesmo ou se esta surrealidade advém da maneira que são contadas as histórias. Prefiro acreditar na segunda hipótese...
Já assistimos à dezenas de seminários e palestras (nacionais e internacionais) sobre a tecnologia e sempre são mostradas obras maravilhosas, equipamentos fantásticos e casos de sucesso. Será que sempre dá certo?
Nossa experiência mostra que não, que nem sempre dá certo e por diversos fatores que, por vezes, fogem ao nosso controle.
Quanto pensamos um equipamento com LEDs, temos que levar em conta que ele precisa ser instalado e precisamos fazer de tudo para seja simples e fácil, próximo da linguagem vigente no mercado e sem gerar dúvidas ao instalador de como deve proceder.
Quantas vezes, nós mesmos, compramos um celular ou um DVD player e começamos a operá-lo sem ter lido antes o manual de utilização e instalação? É o que fazemos pela experiência adquirida e por se tratar de uma linguagem mais ou menos comum. Quem operou um vídeo cassete opera um DVD player e quem utiliza computador manipula qualquer celular moderno. Por sorte estes equipamentos são “maduros” o suficiente e passaram por muito “Poka Yoke”* para evitar maiores problemas.
Como a tecnologia de LEDs é recente, o mercado não tem experiência suficiente no assunto para sair por aí instalando LEDs sem antes ler atentamente os manuais. Este é um grande problema enfrentado pela tecnologia e esperamos ajudar, mostrando alguns casos pitorescos e até mesmo absurdos de erros cometidos em várias esferas de uma obra..
146
6.2 - Erros comuns e acidentes de percurso Selecionamos alguns projetos onde o resultado inicial não foi o ideal devido à vários fatores que colaboraram (acontece com certa freqüência) para a aplicação da tecnologia de maneira não adequada. Mencionamos “resultado inicial” pois realizamos as devidas correções para sanar os problemas e atingir o objetivo.
Exposição 100 anos do Plástico - 2002
Na exposição 100 Anos do Plástico, em 2002 fabricamos, especialmente para este evento, 150 lâmpadas de plástico no formato de uma dicróica MR 16 que utilizavam 13 LEDs de 5 mm. Para está tecnologia (LEDs 5mm), na época, não havia um estudo preciso de BINs de temperatura de cor. Como resultado, as lâmpadas variavam de 4000K a 6000K. O Light Designer sugeriu uma modulação na instalação e o problema não foi percebido como “problema” pelos visitantes da exposição.
Além da baixa repetibilidade da temperatura de cor, o baixo fluxo luminoso dos LEDs de 5mm nos motivou a pesquisar outras tecnologias mais confiáveis. No mesmo ano migramos para a tecnologia de Super LEDs e deixamos para trás os LEDs de 5mm.
147
No Aeroporto de Congonhas - SP aconteceu o que acontece com muita frequência. Erro na execução do projeto.
O projeto previa um posicionamento da luminária Laser de forma que as aletas inclinadas do guarda-corpo fossem iluminadas, como no detalhe a seguir:
Aletas a serem iluminadas
Luminária Laser
Corte transversal - Guarda-corpo
A luminárias foram instaladas bem próximo ao montante de sustentação do guarda-corpo, iluminando apenas o próprio montante (parcialmente) e a primeira aleta.
Luminária Laser
Luminária e Guarda-Corpo
148
Foto noturna - Iluminação do guarda-corpo e balizamento central
Outro problema de execução na mesma obra foram os balizadores centrais.
Foram instalados, apesar de nossas recomendaçãoes, balizadores Primes em 220Vca em área externa. A instalação que deveria ser estanque, permitiu que a água da chuva entrasse nos alojamentos e dutos. A água causava “fuga” de corrente e os circuitos ligados à disjuntores do tipo DR desarmavam com frequência. A adoção dos disjuntores DR neste caso foi bastante prudente para a segurança da instalação.
Tentativas de vedar a instalação com borracha de silicone foram feitas, mas a dilatação térmica, tráfego de pessoas e ressecamento a inviabilizaram.
A solução encontrada pela LedPoint se baseou em um princípio físico: Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Sugerimo então que os espaços vazios dos alojamentos fossem preenchidos com vaselina em pasta. Não havendo espaço a água não entraria. Foi a solução.
149
Na Mostra Artefcato 2006 - RJ ocorreu um fato curioso que mudou o conceito de utilização da luminária Orion.
Um grande céu de estrelas foi montado neste espaço agradabilíssimo, porém a execuçaão não terminou a etapa de acabamento (que seria cortar as fibras óticas rente ao teto para gerar os pontinhos de luz) e as fibras ficaram penduradas. No dia seguinte a arquiteta responsável viu o teto e achou muito interessante, esta que seria uma nova proposta: uma “cabeleira” de luz. Pesquisou entre os vendedores da loja e arquitetos de outros espaços e a decisão foi: vamos deixar assim.
Outras luminárias com LEDs foram utilizadas no espaço como a Squadro, na lateral da escada do desnível e a Dot ao redor da banheira, instaladas entre os seixos brancos.
O espaço se tornou um sucesso.
Mostra Artefacto 2006 - Fibras óticas penduradas
150
Mostra Artefacto 2006 - Fibras óticas penduradas
Mostra Artefacto 2006 - Fibras óticas penduradas
151
Na Loja da VIVO celulares, as luminárias Orbits foram instaladas com perfeição, porém a afinação da luz não foi feita. A luminária que permite uma orientação do facho bastante flexível não foi utilizada em sua plenitude. Passado o estresse da inauguração, realizou-se a afinação e desde então a loja é uma referência de adequação de projeto.
Vitrine - As Orbtis não estão iluminando os telefones.
Vitrine sofrendo a afinação da luz.
152
Na Clínica Harmonya - RJ a arquiteta escolheu a luminária Orbit para iluminar as peças de arte da estante sem "competição", pois devido a seu tamanho, as luminárias quase somem no teto. Perfeito se não fosse o “imperceptível” difusor do ar condicionado.
Neste caso o problema não é da luminotécnica e sim da adequação de projetos que falamos nos capítulos anteriores e que podem comprometer o resultado do projeto como um todo.
Vitrine - As Orbtis não estão iluminando os telefones.
Clínica Harmonya - O difusor compete com as obras de arte.
153
No Restaurante Chapa Mix - RJ mais uma vez a execução pecou. Embora a LedPoint tenha fabricado as luminárias lineares LedLines nos tamanhos precisos para evitar a descontinuidade da linha de luz, o instalador trocou as caixas numeradas e montou as luminárias de maneira desordenada.
Descontinuidade devido a montagem
LedLines instalados no Bar
LedLines instalados no Bar
154
Outro caso extremamente curioso que aconteceu nesta mesma obra foi o fato do instalador conseguir realizar a façanha de instalar a luminária Laser sem retirar o alinhador do alojamento plástico. Vamos lembrar e tentar entender.
Os alojamentos das luminárias de balizamento LedPoint vêm com uma tampa alinhadora. Este acessório permite que o instalador assente o alojamento no piso ou parede nivelado com a superfície acabada, garantindo o encaixe perfeito da luminária, além de resguardar o interior do alojamento de excessos de massa ou até mesmo entulho de obra.
No ato da instalação, retira-se a tampa (alinhador) e se encaixa a luminária. Pois bem, o instalador fez o mais difícil: não removeu a tampa e a furou para encaixar a luminária. Resultado é que a luminária ficou com um diâmetro aparente muito maior além da falta de acabamento, mas a luz ficou ótima...
Alinhador e Luminária
Laser no piso
155
Na FAAP, um projeto magnífico, nos surpreendeu com alguns contratempos.
A estrutura em forma de cubo girava sobre um eixo. Para dar a impressão de flutuar sobre o chão, foram instaladas 24 luminárias lineares de alta potência, com 12 LEDs de 3 watts cada. Devido a movimentação da estrutura, a luminária saia da posição, alterando seu ângulo e consequentemente a projeção da luz no piso. Trocamos o sistema de fixação para que não ocorressem mais desalinhamentos.
Desalinhamento das luminárias LuxLine
Outro fato curioso ocorreu com estas luminárias. Um problema com o BIN. Como já vimos antes, variação de BIN de cores é rotina para quem trabalha com LEDs, mas neste caso tivemos um problema com BIN de tensão. Por esta ninguém esperava, não é mesmo?
Apenas uma luminária deste grupo de 24 peças foi montada com 12 LEDs de um segundo lote, mas com as mesmas especificações de BIN para não haver disparidade de cor. A foto a seguir denuncia e evidencia um problema que a olho nú não é percebido, mas na foto digital aparece e fica nítido.
156
Problema de intensidade
Fase de testes - Trecho com menos intensidade
Uma luminária tinha um menor fluxo luminoso do que todas as outras, pois a tensão de operação deste grupo de LEDs era ligeiramente maior.
Os drivers estavam projetados para 40 Vcc, pois cada luminária precisava de 38,40 volts e apenas esta luminária, devido à especificação do BIN de tensão, precisava de no mínimo 41 volts. Menos de 2,5% de tensão abaixo da nominal e o brilho se reduziu drasticamente.
Alinhador e Luminária
157
Não é só no Brasil que temos problemas com as luminárias de LEDs e suas instalações.
Andando pelas ruas de Hong Kong, nos deparamos com um problema similar aos ocorridos aqui no nosso país.
Apagados
Balizadores apagados em Hong kong
Vários balizadores de LEDs apagados nesta via com sinais de entrada de água.
158
Detalhe do balizador com indícios da água
Em resumo, os maiores problemas enfrentados na aplicação de LEDs na arquitetura tem origem na falta de conhecimento técnico, qualificação e treinamento da mão-de-obra.
Os problemas de execução ainda são os mais recorrentes e neste capítulo não estão representados os inúmeros casos em que luminárias são ligadas diretamente a rede elétrica (equivocadamente), a dimmers e controles de cenas sem a devida adequação por falta da leitura prévia do manual de instalação, etc.
Até breve!
*Poka-Yoke é um dispositivo a prova de erros destinado a evitar a ocorrência de defeitos em processos de fabricação e(ou) na utilização de produtos. Conceito que faz parte do Sistema Toyota de Produção e foi desenvolvido primeiramente por Shigeo Shingo, a partir do princípio do "não-custo". Um exemplo é a impossibilidade de remover a chave da ignição de um automóvel se a sua transmissão automática não estiver em "ponto morto", assim o motorista não pode cometer o erro de sair do carro em condições inseguras. (Wikpédia)
159