Subsídios Missionários
O
s subsídios produzidos pela Comissão responsável pelo Projeto “O Brasil na Missão Continental”, encontram-se disponíveis para download em página eletrônica criada especialmente para divulgar o Projeto. Para baixar conteúdos como a explicação do Tríptico (Capelinha Missionária), a Apresentação do Projeto Nacional de Evangelização, vídeos, artigos e fotos, basta acessar a página: http://www.revistamissoes.org.br/ missaocontinental/home.htm Comunidades, paróquias, dioceses, grupos e organismos podem utilizar o material em eventos e programas de formação e animação missionária. O site recebe e divulga produções, notícias, artigos e experiências no contexto da Missão Continental em curso no Brasil. Contribuições podem ser enviadas para a assessoria de imprensa. Pe. Jaime C. Patias Comunicação Missionária
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SIM
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EDITORIAL
Jaime C. Patias
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NoVOS RUMOS
tema central da 47ª Assembleia da CNBB foi a Formação dos Presbíteros no Brasil. Os temas prioritários foram a iniciação à vida cristã, o Ano Catequético e a Missão Continental. Dentre os assuntos estudados pelos 330 bispos reunidos entre os dias 22 de abril e 1º de maio, em Itaici, Indaiatuba, SP, duas propostas apresentadas pela Comissão Episcopal para a Amazônia e aprovadas pela Assembleia, merecem destaque. A primeira proposta vinda da Comissão para a Amazônia, aprovada no dia 28 de abril, foi a criação de um Instituto Missionário ligado à CNBB. Uma espécie de movimento semelhante ao criado por Pio XII, em 1957, denominado Fidei Donum – “o dom da fé”. A iniciativa tem como prioridade despertar a vocação missionária entre os padres diocesanos. O referido Instituto vai além e “poderá servir para despertar nossos cristãos católicos – presbíteros, religiosos(as) e leigos(as) – no sentido do crescimento da vitalidade e gerar um compromisso missionário mais concreto”, diz o texto da proposta. O movimento prevê o envio de missionários de uma diocese a outra, mediante convênios que determinem o tempo de permanência dos enviados, continuidade do projeto e sua sustentação financeira. Já existem experiências parecidas com os projetos Igrejas Irmãs. Isso proporcionará desafios aos missionários que na missão terão de encarnar-se na vida do povo. A outra proposta aprovada pelos bispos, no dia 30 de abril, foi a realização em toda a Igreja do Brasil, de uma “Semana Missionária para as Igrejas da Amazônia”. O presidente da Comissão para a Amazônia, dom Jayme Chemello, explicou que a referida Semana tem por objetivo Bispos em Itaici. levar o Brasil a discutir a importância da Amazônia e destacar a necessidade da Igreja ser mais generosa e presente naquela região. Pelo teor do texto da proposta percebe-se uma guinada de direção numa Igreja que historicamente está habituada a esperar ajudas, tanto financeira como de pessoal, vindas de fora. “Julgamos que chegou o tempo de nós, considerados habitantes do maior país católico do mundo, nos libertarmos da dependência das Igrejas européias e norte-americanas, sem entretanto desejar que suspendam suas ajudas”, explica o texto da proposta. Tudo indica que a Semana será em outubro. Ao revisar as Diretrizes Básicas da Formação dos Presbíteros à luz do Documento de Aparecida, a Assembleia dos bispos procurou dar um rosto mais missionário ao clero. Com isso, as comunidades ganham em dinamismo e abertura. O novo texto tem três grandes eixos: o discipulado, a missionariedade e a comunidade. O presbítero é um discípulo de Cristo, padre para o mundo e deve trabalhar em comunhão eclesial. O padre é o rosto mais visível do discípulo missionário de Jesus Cristo. Conforme vemos, diante do grito que vem da Amazônia, a Conferência Episcopal está despertando para iniciativas missionárias. Tendo sempre como meta a missão Ad Intra e Ad Extra, as decisões da CNBB estão em plena sintonia com o projeto de Aparecida e são decisivas para implementar a conversão pastoral e a renovação missionária da nossa Igreja no continente.
SUMÁRIO junho 2009/05
1 - Padre José Renato em celebração durante encontro das CEBs, Centro Pastoral Belém, SP. Foto: Jaime C. Patias
2 - Prof. Sérgio Ricardo Coutinho. Foto: Bernadete Mota Oliveira
Mural-----------------------------------------------------04 Cartas
OPINIÃO--------------------------------------------------05 Estatuto dos Povos Indígenas Cimi
África----------------------------------------------------06 A riqueza que divide povos e nações Michael Mutinda
PRÓ-VOCAÇÕES----------------------------------------07 Quando a esmola é muita... Rosa Clara Franzoi
VOLTA AO MUNDO-------------------------------------08 Notícias do Mundo Fides / revista Missões
ESPIRITUALIDADE----------------------------------------10 Corpus Christi: fraternidade universal Mário de Carli
TESTEMUNHO-------------------------------------------12 Os Pigmeus do Congo Andrés García Fernández
FÉ E POLÍTICA -------------------------------------------14 Desgaste do Legislativo Humberto Dantas
FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 Conversão pastoral e renovação missionária Estêvão Raschietti
Juventude missionária ----------------------------19 Descobertas Jonathan Constantino
DESTAQUE DO MÊS -----------------------------------20 Existe justiça para todos? Serviço Pastoral dos Migrantes
especial -------------------------------------------------22 100 Anos em Missão Rosa Clara Franzoi
IGREJA ----------------------------------------------------23 O Lixo Nosso de Cada Dia Karla Maria
infância missionária ------------------------------24 Basta de violência! Roseane de Araújo Silva
ENTREVISTA SÉRGIO RICARDO COUTINHO-------26 CEBs: missão de transformar a sociedade Karla Maria
ATUALIDADE----------------------------------------------28 Cicatrizes da memória Jonathan Constantino e Vanessa Ramos
volta ao brasil---------------------------------------30 Cimi / CNBB / http://garotadamissionaria.blogspot.com
- Junho 2009
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Mural do Leitor Ano XXXVI - Nº 05 Junho 2009
Diretor: Jaime Carlos Patias Editor: Maria Emerenciana Raia Equipe de Redação: Patrick Gomes Silva, Rosa Clara Franzoi, Júlio César Caldeira, Mário de Carli e Michael Mutinda Colaboradores: José Tolfo, Vitor Hugo Gerhard, Roseane de Araújo Silva, Humberto Dantas, Karla Maria, Dirceu Benincá, Gianfranco Graziola, Ricardo Castro e Cecília Soares de Paiva Agências: Adital, Adista, CIMI, CNBB, Fides, IPS, MISNA, Radioagência Notícias do Planalto e Vaticano Diagramação e Arte: Cleber P. Pires Jornalista responsável: Maria Emerenciana Raia (MTB 17532) Administração: Luiz Andriolo Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata (CNPJ 60.915.477/0001-29) Impressão: Edições Loyola Fone: (11) 2914.1922 Colaboração anual: R$ 50,00 BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2 Instituto Missões Consolata (a publicação anual de Missões é de 10 números)
Missões é produzida pelos Missionários e Missionárias da Consolata Fone: (11) 2256.7599 - São Paulo/SP (11) 2231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)
Redação
Rua Dom Domingos de Silos, 110 02526-030 - São Paulo Fone/Fax: (11) 2256.8820 Site: www.revistamissoes.org.br E-mail:
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Curso on-line sobre o Documento de Aparecida
A diocese de Santos, em parceria com a Universidade Católica promoveu, nos meses de março e abril, um curso on-line sobre o Documento de Aparecida. O curso teve duração de 40 horas (cerca de seis semanas), organizado em quatro tópicos: A pessoa humana no Documento de Aparecida - DA, a Doutrina Social da Igreja e a Globalização, as Conferências Episcopais e a Missão Continental e Planejamento para a Missão. As atividades didáticas incluíam fóruns de discussão on-line com textos de apoio, inclusive do site da revista Missões. Na discussão sobre “as estruturas ultrapassadas que já não favorecem a evangelização”, Irmã Maria Liani Postai, participante do curso, fez as seguintes observações: Agradeço aos professores Francisco Emílio Surian e Guadalupe Corrêa Mota pelo conteúdo colocado à disposição para estudo. Confrontando os textos do DA 360 a 372, artigos dos padres Paulo Suess e Jaime C. Patias, dos bispos Sérgio Castriani, Erwin Kräutler, Augusto Castro Quiroga e Oscar Andrés Rodriguez Maradiaga, com a estrutura eclesial de minha comunidade, vejo algumas como ultrapassadas: a) A formação cristã e vivência cristã. “Não se ama o que não se conhece” diz o ditado. Vejo a gritante falta de formação cristã, litúrgica, eclesial e missionária dos cristãos católicos em nossas paróquias. Praticamente a formação se reduz às homilias, muitas vezes abstratas. A catequese sem um projeto claro para a caminhada paroquial, pouco atraente e nada comprometedor. Muitas vezes, o grande objetivo é cumprir as normas e exigências básicas para fazer parte de uma paróquia e manter a tradição da família. O DA fala em transformação da comunidade em centro de irradiação da vida em Cristo; que se assegure calorosos espaços de oração comunitária (DA362); que a força do anúncio de vida será fecundo se o fizermos, unidos à Eucaristia, com as atitudes do Mestre, como fonte e cume de toda a atividade missionária (DA 363); a necessidade de conversão pastoral que requer que as comunidades eclesiais sejam discípulas missionárias (DA 368), que vão além de uma pastoral de mera conservação (DA 370), que haja Projeto Pastoral na diocese, como resposta consciente e eficaz para
atender as exigências do mundo de hoje (DA 371); os leigos devem participar do discernimento, das tomadas de decisões, do planejamento e da execução do Plano de Pastoral (DA 371). Como aproximar tal distância entre a realidade e a proposta da Igreja? b) O compromisso social - serviço da caridade: a vida real das pessoas não é incluída em nossa pastoral. Fala-se em fé, esperança e caridade de forma distante, porém, na prática não se estimula a proximidade, a presença, a visita, a ajuda mútua, a vivência fraterna entre e com os necessitados. As campanhas de arrecadação existem, porém, sem vida, sem estímulo missionário. Penso até, que estas práticas são muitas vezes feitas com o objetivo de contabilizar ações em vista da filantropia da paróquia. O DA nos aponta: “... toda a atividade missionária das Igrejas deve deixar transparecer essa atrativa oferta de vida mais digna em Cristo para cada homem e para cada mulher da América Latina e Caribe” (DA 361). O conteúdo da Missão Continental, do CAM 3 e Comla 8 insiste que todos os cristãos sejam discípulos missionários de Jesus Cristo, vivendo com coerência o seu compromisso cristão de batizado. Para isso, é preciso que todos conheçamos esta riqueza e juntos, como irmãos e irmãs, num grande sonho de igualdade (sem exclusão), nos entusiasmemos no Senhor Ressuscitado em clima de Novo Pentecostes. Que cada um de nós possa, com a graça de Deus mergulhar neste processo de Igreja viva, missionária, comprometida, do jeito do Mestre.
Irmã Maria Liani Postai, Hospital São José, Ivoti, RS.
Revista Missões
Agradeço muito pela matéria da Irmã Joana Barbosa contando sua experiência na República Centro Africana (Missões, março de 2009). Agradeço também em nome da Irmã Joana, que atualmente se encontra por um tempo na Sicília, Itália, ajudando Irmã Clarice que está muito doente. Peço também para esta última, as vossas orações. Achei a matéria publicada na revista uma ótima homenagem às Irmãs e às missionárias no Dia Internacional da Mulher! Muito obrigado.
Pe. Giovanni Bruno Battaglia, Conselho Missionário Diocesano – COMIDI, Ourinhos, SP. Junho 2009 -
OPINIÃO
Estatuto dos Povos Indígenas José Cruz/ABr
Reunidos no Acampamento Terra Livre 2009, indígenas aprovam proposta de texto para novo Estatuto.
Participantes do Acampamento Terra Livre 2009 na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, DF. do Cimi
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s mais de mil indígenas que participaram do 6º Acampamento Terra Livre (ATL) aprovaram uma proposta de texto para o novo Estatuto dos Povos Indígenas. O documento requer o fim da tutela e o direito a vetar projetos de exploração de recursos hídricos e minerais em terras indígenas. Entre 4 e 8 de maio, representantes de 130 povos acamparam na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. A aprovação do texto para o novo Estatuto era o objetivo principal do ATL 2009. Após dias de debates, os indígenas aprovaram, com algumas alterações, a proposta elaborada pela Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), da qual participam indígenas, organizações indigenistas e representantes de órgãos do Executivo. A CNPI sistematizou as discussões das 10 reuniões regionais que ocorreram entre agosto e dezembro de 2008, envolvendo mais de mil indígenas de todo o país. Os indígenas requerem profundas mudanças em relação ao Estatuto que está em vigor desde 1973. Eles desejam o fim da tutela para que possam, por exemplo, estabelecer contrato de trabalho sem intermediação da União. Também propõem que o novo texto elimine termos ultrapassados como “silvícolas” ou “tribos”, que transmitem uma idéia de “estágio inferior de desenvolvimento”. Em relação à exploração mineral e de recursos hídricos, os indígenas reivindicam o direito de veto quando os projetos afetarem as terras onde vivem. A tramitação do Estatuto está parada há 15 anos no Congresso Nacional. Para pressionar os parlamentares a retomarem o debate sobre o tema, os indígenas realizaram uma audiência pública no Senado Federal, no dia 7 de maio. Alguns senadores e deputados federais, no encontro ou durante visita ao Acampamento, comprometeram-se a acompanhar os projetos em tramitação que afetam os Povos Indígenas e a voltarem a debater o seu Estatuto. - Junho 2009
A audiência no Senado também repudiou as propostas de senadores e deputados que ameaçam os direitos indígenas. Entre essas, destacam-se o projeto do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e o dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que transferem para o Senado e o Congresso, respectivamente, a decisão sobre a demarcação de terras indígenas. “Sabemos que muitos parlamentares têm posições antiindígenas, mas temos uma perspectiva positiva em relação à discussão do Estatuto”, avalia Sandro Tuxá, da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). “Quando voltarem a discutir o Estatuto, nós viremos a Brasília, fazer pressão e chamar atenção para garantir que o texto aprovado garanta nossos direitos”, completa.
Terra, saúde e criminalização
Durante o Terra Livre 2009, os indígenas de todo o país também denunciaram as violações aos seus direitos, principalmente à terra e à assistência à saúde, como ficou registrado no documento final do encontro. Povos de todas as regiões ainda lutam pela demarcação de suas terras ou retirada dos invasores daquelas demarcadas. A situação dos Guaranis Kaiowás do Mato Grosso do Sul foi destacada por diversos povos, que manifestaram apoio à luta dos Guaranis. Outro processo contra os indígenas lembrado em diversas falas foi a criminalização das lideranças e das lutas dos povos, com destaque para a situação dos Xukurus (PE) e dos CintaLargas (RO). O Terra Livre foi reafirmado como o principal fórum dos Povos Indígenas do Brasil. “A presença do ministro da Justiça no Acampamento também legitima esse espaço que é nosso, organizado por nós”, avalia Sandro Tuxá. Tarso Genro e o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, foram ao Acampamento no dia 5 de maio, ouvir as demandas, críticas e propostas dos Povos Indígenas.
Cimi - Conselho Indigenista Missionário.
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Curiosidade A Guiné Equatorial é a única nação da África que tem o espanhol como língua oficial. Outros idiomas: francês, inglês, fangue, combe, balenque, bujeba, bubi, ibo. Área: 28.051 km². É um dos menores países do continente em população, com 507 mil habitantes (2004). O país se divide em duas partes: uma continental e outra insular, que compreende cinco ilhas. A capital, Malabo, localiza-se na ilha de Bioko. Além da Guiné Equatorial existem na África a Guiné-Bissau e a República da Guiné. A Guiné Equatorial tem o estatuto de Estado associado à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Guiné Equatorial Divulgação
A riqueza que divide povos e nações
Mercado informal nas ruas de Malabo, capital da Guiné Equatorial.
de Michael Mutinda
A
Guiné Equatorial, assim chamada pela sua proximidade com a linha do Equador, está localizada no centro oeste da África. Faz fronteira com Camarões e Gabão. O clima é equatorial, muito quente e úmido, sobretudo no litoral. No interior e nas montanhas, as temperaturas são moderadas. Numerosos rios cruzam o território de leste a oeste. O país tornou-se independente em outubro de 1968. A Espanha controlava a região desde 1778. O primeiro governo foi liderado por Francisco Macías Nguema que em 1972 se autoproclamou presidente vitalício. Macías foi deposto em 1979 pelo tenente-coronel Obiang Nguema Mbasogo, seu sobrinho, quando foi executado. Com manobras políticas Obiang segue no poder após sucessivas eleições sendo a primeira em 1989, como candidato único. É o oitavo governante mais rico do mundo. Desde 1990, a descoberta de importantes reservas de petróleo e gás impulsiona a economia. O país se tornou o terceiro maior exportador do produto na África, riqueza que gera muitas
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disputas de interesses. A maior parte da população, porém, vive em grande pobreza. Em 2003, a renda nacional com petróleo atingiu 700 milhões de dólares. A economia do país é baseada ainda na pesca e agricultura, que depende fundamentalmente de três produtos: cacau, café e madeira. Também tem importância a produção de bananas além do azeite-de-dendê. A indústria se limita a produtos alimentícios. Em 1994 retorna do exílio o político de oposição Severo Moto Nsa, fundador do Partido do Progresso (PP). Em fevereiro de 1995, Moto Nsa é preso, acusado de tentar derrubar Obiang e condenado a 28 anos de prisão. Por interferência da França, Moto Nsa é anistiado. Em 1996, Obiang vence outra eleição presidencial, considerada fraudulenta por observadores internacionais e em 2002 se reelege com quase 100% dos votos, sob a acusação de fraude. Em 1997, Obiang havia decretado o banimento do PP. Em abril de 1998, mais de 200 membros do partido de oposição União Popular são detidos pela polícia, sem acusação formal. Nas eleições legislativas de 2004, o PDGE - Partido Democrático da Guiné Equatorial - criado pelo presidente em 1987, obtém 68 cadeiras em 100, e seus partidos de apoio, mais 30. Obiang nomeia como primeiro ministro Miguel Abia Bórico, homem forte no setor de petróleo. Em fevereiro de 2009 fracassa uma tentativa de golpe organizada por rebeldes provenientes do sul da Nigéria.
Cultura e religião
A maioria da população da Guiné é de origem Bantu sendo as principais comunidades Fang e Bubi. A cultura original era dos povos Pigmeus que com o tempo se misturou com tradições e costumes espanhóis e africanos: danças, músicas, contos, lendas, atabaques e magia. 93% da população é cristã, sendo 87% católica e 5% protestante. A evangelização no país se deu em 1841, mas a Igreja, após a independência em 1968 foi duramente perseguida. A situação melhorou desde a expulsão do primeiro presidente e a liberdade religiosa foi estabelecida em 1982. Hoje, o governo respeita as igrejas cristãs que gozam de maior liberdade por causa da sua importância histórica e social. Contudo, o país segue entre tensões políticas fomentadas por grupos interessados na produção de petróleo. O grande desafio para a Guiné Equatorial é fazer das riquezas naturais, fonte de unidade e paz para o povo. Em geral, nesses conflitos locais, encontram-se envolvidos interesses internacionais.
Michael Mutinda é seminarista imc, queniano, estudando teologia no ITESP, Ipiranga, São Paulo. Junho 2009 -
pró-vocações
Quando a esmola é muita...
Sempre temos que dar a volta por cima: seja nos obstáculos, seja em nossas limitações. Divulgação
de Rosa Clara Franzoi
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itor partilhou esta experiência do tempo dos seus 18 anos e que lhe serviu de lição: Com muito sacrifício havia conseguido entrar na faculdade e continuava trabalhando. Era bastante pesado para mim, sobretudo em termos financeiros. Porém, como eu tinha aprendido desde criança, que ‘tudo na vida tem um preço’ esforçava-me para poder continuar, pois do estudo dependia o meu futuro. Um dia apareceu no meu caminho algo que mais parecia um sonho. Alguém estava me oferecendo uma bolsa de estudos. Eu não acreditava no que ouvia. O fulano que me abordou disse ser empresário e muito habilmente foi me levando na conversa. Disse que estava disposto a manter a proposta, se eu levasse tudo muito a sério. Apenas como prova do pacto feito, eu deveria confiar-lhe uma determinada soma de dinheiro, que me seria devolvida assim que eu começasse a estudar. Eu não tinha aquela quantia; mas me propus a consegui-la de qualquer jeito. E assim fiz. Dentro do prazo estabelecido entreguei o dinheiro a ele e recebi os papéis da ‘bolsa’. Tudo aconteceu normalmente e o pacto foi fechado. Eu estava feliz! Mas, quando apresentei os papéis na faculdade indicada, fiquei sabendo que eram falsos. Eu tinha caído num golpe.
Escolhas
Você deve se lembrar que em nosso papo da edição de abril, nesta mesma página, falamos desse assunto, isto é, das encruzilhadas que a vida nos prepara, colocando-nos em situações de escolha. Ao ouvir o caso de Vitor, achei bom retomar o assunto e continuar a reflexão, também porque hoje é comum esse tipo de armadilha. O problema de Vitor era o “aceitar ou não aceitar a proposta”. Nós humanos por natureza, sempre somos tentados a ir pelo mais fácil e foi o que Vitor fez; e no fim “o barato tornou-se caro”. Nesse sentido, há um ditado popular que reza assim: “Quando a esmola é muita, até o santo desconfia...”. Se não para outra coisa, isto deveria ensinar-nos a manter o nosso ‘desconfiômetro’ ligado. Poder
Quer ser um missionário/a? Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva Moratelli Av. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui - 02611-001 - São Paulo - SP Tel. (11) 2231-0500 - E-mail:
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Centro Missionário “José Allamano” - padre Patrick Gomes Silva Rua Itá, 381 - Pedra Branca - 02636-030 - São Paulo - SP Tel. (11) 2232-2383 - E-mail:
[email protected]
Missionários da Consolata - padre César Avellaneda Rua da Igreja, 70-A - CXP 3253 - 69072-970 - Manaus - AM Tel. (92) 3624-3044 - E-mail:
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- Junho 2009
Nem tudo que se vê é o que parece.
escolher é algo maravilhoso. É um dos maiores dons que recebemos gratuitamente do Criador; mas é preciso administrá-lo com atenção e responsabilidade. Escolher é sempre muito difícil, porque na escolha não há meio termo - ou se acerta ou se erra. Quando acertamos ficamos contentes, crescemos na autoconfiança, na autoestima e com mais facilidade atingimos o objetivo que nos propusemos; e também se algum atropelo aparece é superado e seguimos em frente. Já dizia o filósofo Sêneca: “Para quem sabe em que porto quer atracar, nenhum vento lhe será desfavorável”.
Dar a volta por cima
Hoje Vitor é adulto, responsável, bem sucedido, cursando o último ano de engenharia. Perguntado o que ou quem o teria ajudado a dar a volta por cima, ele respondeu: “Não foi fácil. Bastante desorientado eu comecei uma briga feia com a vida e comigo mesmo: não aceitei o meu erro, revoltei-me e fiquei com muita raiva de mim mesmo, tranquei a matrícula na faculdade, refugiei-me no isolamento e quase caí em depressão. Um amigo meu, cansado de me ver assim, jogou sua última cartada e em tom de ordem me disse: “Sai dessa cara, porque o teu amanhã depende do teu hoje”.
Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
Para refletir:
Ler Dt 30, 15-19 e responder: 1. As palavras: “Coloco diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a desgraça...” O que isto significa, sendo que a escolha depende de nós? 2. “A Palavra de Deus está perto de ti, ao teu alcance” diz-nos Deus. Por que então, demoramos tanto em escolher sempre a vida, se somente ela pode oferecer toda sorte de bênçãos e felicidade?
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VOLTA AO MUNDO
Uruguai A Missão Continental
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“Missão Continental para uma Igreja em estado de missão permanente” é o título do documento emitido pela Conferência Episcopal do Uruguai ao final da Assembleia Plenária realizada no mês de abril sobre o tema da Missão Continental no país. No documento, os bispos recordam que “a Missão, antes de ser um programa de ação pastoral, é um chamado de Deus para a Igreja, a fim de que recupere a sua identidade de comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo”. A partir de alguns textos do Documento de Aparecida, os bispos respondem à pergunta “o que é a Missão Continental?”, que descrevem como “um impulso missionário incentivado pelo Espírito Santo em toda a Igreja na América Latina e no Caribe”, cujo objetivo fundamental é “colocar a Igreja, e todos os seus membros em ‘estado de missão permanente’”. Isso requer a passagem “de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”, e a ajuda para que “todos na Igreja sejam também decididamente servidores da Vida”. Para os bispos, se quer, acima de tudo, “sair, em vez de permanecer nas nossas igrejas esperando que sejam os outros a vir até nós”, mesmo porque “a tarefa evangelizadora não é somente transmitir uma doutrina, mas dar um testemunho que nasce da experiência”. É por isso que a Missão implica “numa conversão pessoal, pastoral e eclesial” e “em mudanças profundas na nossa maneira de viver a fé, de organizar a pastoral, de servir o mundo, deixando de lado ‘estruturas caducas’, que condicionam o nosso caminhar”. Para realizar essa missão, os bispos fazem algumas propostas concretas. Entre elas, recordam em primeiro lugar que “a Missão Continental passa por assumir o espírito de Aparecida e pela aplicação das Orientações Pastorais, como referência do Projeto Pastoral e dos Programas de cada uma das Igrejas particulares”.
Índia Congresso Missionário
Relançar os desafios da formação e da missão na Índia Ocidental para uma comunidade cristã cada vez mais viva e consciente do espírito que a anima. São estas as conclusões do recente Congresso Missionário realizado no início do mês de maio em Goa, que reuniu delegados e expoentes de uma região eclesial da Índia ocidental que engloba 15 dioceses. Participaram do evento cerca de 500 pessoas, entre
bispos, teólogos, sacerdotes, religiosos e leigos, que debateram sobre os desafios da missão, tendo em vista o Congresso Missionário Indiano, que será realizado em Mumbai de 14 a 18 de outubro de 2009. Entre os assuntos surgidos na assembleia, foi assinalada a urgência da formação do clero, religiosos e leigos, para poder, desse modo, fortalecer também a obra de evangelização, da qual a Igreja indiana não pode abrir mão, uma vez que ela é uma tarefa confiada pelo próprio Cristo. A escuta e a oração foram apontadas pelos delegados como fundamentos da missão, como antídotos da violência e como instrumentos capazes de construir paz e harmonia na sociedade. A Igreja da Índia Ocidental prosseguiu assim no caminho de preparação para o primeiro Congresso Missionário. Todas as dioceses estão empenhadas em disseminar reflexões, sugestões e projetos a serem incluídos no documento preparatório do Congresso, que delineará os desafios e as propostas para a missão na vasta nação indiana. Em cada diocese se reúne a Comissão para as Missões, avaliando a relação entre clero e missão, religiosos e missão, leigos e missão. O Congresso foi estabelecido no âmbito do Congresso Missionário Asiático realizado na Tailândia em 2006.
Polônia Centro de Formação Missionária
Nos dias 5 e 6 de maio, em Varsóvia, na Polônia, se realizou o XXV aniversário da fundação do Centro de Formação Missionária, informou monsenhor Jan Piotrowski, diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM) da Polônia. Do evento, que se realizou no Centro, participaram numerosos missionários e delegações dos seminários de toda a nação. Celebração, partilhas e um Simpósio de Missiologia na Universidade Cardeal Stefan Wyszynski (UKSW) de Varsóvia com palestras sobre temas missionários, fizeram parte da programação. O episcopado polonês decidiu abrir as portas do Centro de Formação em 1984. O objetivo principal era transmitir o espírito do Concílio Vaticano II, e sobretudo a doutrina do decreto missionário Ad Gentes, dentro da realidade eclesial polonesa, e como resposta aos grandes desafios missionários de uma Igreja que vivia numa realidade comunista, como a Polônia de então. Além disso, se buscava oferecer uma formação nova e bem organizada aos missionários poloneses diocesanos Fidei Donum, aos religiosos e aos missionários leigos. Durante estes 25 anos, o Centro hospedou 804 pessoas, 371 das quais sacerdotes diocesanos Fidei Donum, 101 sacerdotes religiosos, 234 religiosas, 23 religiosos e 75 missionários leigos que buscavam uma formação espiritual, linguística e missiológica. Deste centro saíram missionários para os continentes, entre eles dois bispos: dom Jan Ozga, da República de Camarões e dom Józef Slaby, CSsR, da Argentina. “Trata-se de 25 anos de história, concluiu monsenhor Jan Piotrowski, da história de muitas pessoas que sentiram a vocação ao Senhor. Todos são testemunhas privilegiadas do Evangelho, que nos recorda que vale a pena ir pelo mundo e proclamar a Boa Nova. Esperamos que os próximos anos sejam igualmente muito frutuosos para o CFM e que continuem a aumentar as vocações missionárias na Igreja de nosso país”.
Fontes: Fides, revista Missões. Junho 2009 -
Intenção Missionária
A
violência foi e é, uma realidade muito conhecida dos cristãos. No passado, foram muitas as situações em que eles tiveram que testemunhar sua fé enfrentando a violência. Os primeiros cristãos viveram esse contexto em primeira pessoa, acreditar em Cristo significava muitas vezes ser excluído de sua própria família, discriminado, perseguido e mesmo morto por causa da fé. Infelizmente essa realidade ainda hoje existe, alguns cristãos continuam tendo que testemunhar sua fé em situações de violência. Apesar da liberdade religiosa estar contemplada na Declaração dos Direitos Humanos, em alguns países tal não acontece e, assim, muitos continuam sofrendo, tendo que testemunhar sua fé em meio à violência. Tais pessoas contam com a solidariedade de outros cristãos que podem testemunhar sua fé livremente. Como podemos ser solidários? Antes de mais nada, conhecendo essas realidades. Não podemos ser indiferentes, fazer de conta que tais situações não existem. A Campanha da Fraternidade 2009 com o tema “Fraternidade e Segurança Pública” declara que tem por finalidade: “colaborar na criação de condições para que o Evangelho seja mais bem vivido em nossa sociedade por meio da promoção de uma cultura de paz, fundamentada na justiça social”. É necessário e urgente criar tais condições no mundo inteiro. Devemos também estar prontos para uma solidariedade mais concreta. O apóstolo Paulo nos deu o exemplo, vendo que algumas das suas comunidades precisavam de ajuda, organizou uma grande coleta naquelas que estavam em melhor situação. Esta partilha sempre fez parte da vida dos cristãos. Em tempos de crise como estes que estamos vivendo, sempre se diminui na ajuda aos outros, o que é compreensível, e percebemos mais uma vez que quem mais sofre com estas crises provocadas pelos mais ricos, são sempre os mais pobres. Sejamos solidários com os necessitados.
A fim de que as Igrejas particulares atuantes nas regiões marcadas pela violência sejam amparadas pelo amor e pela solidariedade concreta de todos os católicos do mundo. CF 2009
de Patrick Gomes Silva
Patrick Gomes Silva, imc, é diretor do Centro Missionário José Allamano, em São Paulo.
Acampamento Missionário Jovem Vindos de Brasília, Rio de Janeiro, São Manuel, Carapicuíba, Mauá e de vários pontos da cidade de São Paulo, um grupo de 30 jovens participou do Acampamento Missionário realizado entre os dias 30 de abril e 3 de maio no Centro Missionário José Allamano, bairro Pedra Branca, São Paulo. Três dias dedicados a conhecer um pouco mais do mundo missionário e algumas realidades que nos circundam. O Acampamento foi baseado na tríade: oração, formação e ação. O momento mais forte de oração foi a manhã do último dia, domingo do Bom Pastor, tendo como centro e destaque a Eucaristia. Foi um dos momentos mais propícios para alimentar a caminhada de fé na Missão. O dia 1º de maio, Dia dos Trabalhadores, foi dedicado à ação, com visita a três - Junho 2009
realidades diferentes: crianças portadoras de deficiência, idosos e portadores do vírus HIV. Marcante também foi a visita à aldeia indígena Tekoa Pyau, nas proximidades do Pico do Jaraguá, município de São Paulo que conta atualmente com uma população de aproximadamente 450 índios, dos quais 320 são crianças. Conhecer aquela realidade tão próxima e ao mesmo tempo tão distante sensibilizou a todos para a causa indígena. Alegria e disposição foram ingredientes indispensáveis para o sucesso do Acampamento. O momento da despedida foi o mais triste, mas ficou a certeza de que valeu a pena.
Secretaria para a Missão – CAM José Allamano.
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espiritualidade
Corpus Christi Jaime C. Patias
fraternidade universal
Jesus Cristo é o Pão vivo descido do céu. Novo maná que veio para saciar a sede e matar a fome da humanidade.
Eucaristia É mais do que evidente, nós, associados ao povo de Deus, fazemos o nosso “êxodo” ou nossa peregrinação em direção à “nossa habitação no céu” (2Cor 5, 1). O Senhor nos oferece também um alimento completamente novo, diferente daquele que o homem sempre conheceu e provou, um alimento “que sai da boca do Senhor”, vindo do céu, como o maná: a sua Palavra que se torna Pão. Não é um pão qualquer, mas o Pão que se revelou na plenitude dos tempos; é a Palavra de Deus feita carne, é seu Filho Jesus Cristo. Dom Raymundo Damasceno, Santuário Nacional de Aparecida. de Mário de Carli
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uando olhamos para a história da humanidade vemos que esta sempre se moveu para os lugares onde abundavam água e comida. Peregrinar para estes campos não foi somente uma ação do povo de Deus, mas hoje, é ainda para todos os povos, um imperativo decisivo. Habitar terras férteis e fecundas com comida e água em abundância e fazer da vida uma construção de paz e justiça, torna-se ânsia constante e nos impulsiona, como cristãos, a buscar o verdadeiro Pão da Vida e a sermos solidários com aqueles que clamam por melhores dias.
O maná no deserto
O povo de Deus saído do Egito teve que enfrentar muitos desafios, tendo o deserto pela frente “imenso e terrível, com serpentes venenosas e escorpiões, um terreno árido e sem água” (Dt 8, 15). Rodeado de inimigos e próximo à beira de sua ruína, onde encontrou forças para vencer momentos tão difíceis? Se este povo tivesse contado apenas com suas próprias forças e capacidades, certamente
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teria perecido. Há um apelo forte e emocionante como fio condutor da história: “recorda-te, não te esqueças!” (Dt 8, 2). É um apelo para olhar o passado, tomar em consideração aquilo que Deus fez, lembrar dos prodígios que Ele realizou em seu favor e que devem permanecer sempre no coração e na memória. São as obras de salvação de Deus. Quais são elas? “Pergunta ao teu pai e ele te contará, aos teus anciãos e eles te dirão” (Dt 32, 7). Esta recomendação foi repetida com muita insistência ao longo da história deste povo, a fim de que, as lembranças das graves dificuldades passadas no deserto e das intervenções providenciais de Deus foram sempre para infundir confiança e esperança. Nisto está a resposta: “aquilo que sai da boca do Senhor” (Dt 8, 15) torna-se uma expressão enigmática, muito embora conhecida quando ainda o povo estava no Egito, indicava o poder da Palavra de Deus de criar algo completamente novo. O pão já lhes era familiar, “no deserto te deu a comer o maná, que teus pais não tinham conhecido” (v 16). O maná era um alimento misterioso, desconhecido e inesperadamente caído dos céus e, por isso, os israelitas o consideraram um dom “saído da boca do Senhor”. Com este
alimento o povo de Israel caminhou ao longo do deserto, lembrando que tinha deixado a terra da escravidão e uma vez instalado num país fértil (Dt 8, 7-8), o Senhor o educara para a simplicidade, levando-o a compreender as suas próprias necessidades elementares e que resultam da cobiça, da ganância, da sede de possuir, mesmo que mais tarde, se enchera de orgulho e desprezara o seu Deus (Dt 8, 13-14). Nesta senda, Elias torna-se o símbolo marcante de quem teve que enfrentar os desafios de um povo de cabeça dura e lutar contra os falsos deuses e seus sacerdotes. Com medo, teve que fugir. Refugiado no Monte Horeb decide “deixar-se morrer” (1Re 19, 1-4). Mas Deus o desperta do sono e o faz encontrar ao seu lado um pão recém assado: “Levanta-te e come - disse Ele - porque bem longo é o caminho para ti” (1Re 18, 5.7) e alimentado pelo maná, continua sua caminhada, recolocando a verdadeira face do Deus da Aliança ao seu povo. No dizer de São Paulo todas estas coisas “foram escritas para nos servir de aviso” (1Cor 10, 11), para recordar e não esquecer, de que os “40 anos no deserto” é um simbolismo real e concreto de que esta caminhada é busca do verdadeiro pão e o é para toda a vida. Junho 2009 -
que são irmãos nossos em Jesus Cristo que morrem de fome e de frio. Se fôssemos simplesmente capazes de pensar nos outros, então já não poderíamos sequer ser felizes sozinhos. Se fôssemos capazes de compreender a miséria dos outros, então chegaríamos a ser homens de verdade” (Raoul Follereau).
A procissão de Corpus Christi
Cardeal Cláudio Hummes, Corpus Christi 2005, Praça da Sé, SP. Quando saímos em procissão pelas ruas de nossas cidades na que “a Eucaristia quer nos livrar de todo quinta-feira de Corpus Christi, ela nos reabatimento e desconforto, quer nos fazer corda antes de tudo, que estamos reunidos levantar, para que possamos empreender de todas as partes do mundo para estar na o caminho com a força que Deus nos presença do “único Senhor” e Nele, nos dá mediante Jesus Cristo” (Bento XVI). tornarmos uma só coisa. Vamos à rua no Este caminhar é constitutivo para todo pós Eucaristia, alimentados Nele, tendo-O aquele que encontrou “o pão que sai da como centro de nossas vidas e o pão que boca do Senhor” (Mt 4, 4), onde cada alimenta nossa caminhada: um caminhar um pode encontrar o próprio caminho, e constitutivo num só Corpo. Nele somos o encontrar neste peregrinar Aquele que é Corpo místico da Igreja, cuja cabeça é Ele, a Palavra e pão da vida e deixar-se guiar vivendo na comunhão manifestada numa e conduzir pela sua presença amigável. procissão, movendo-nos por causa Dele, Como podemos suportar a peregrinação que é a via. Caminhando nas ruas, Jesus da existência, num contexto tão conturbado é o dom de si mesmo doado na Eucarisa ser reconstruído cada dia, seja cada um tia, é o Senhor que caminha conosco e de nós a nível pessoal, na sociedade e nos livra de todas as paralisias. Faz-nos no mundo sem o Deus conosco, sem o levantar, dar um passo adiante e depois Deus próximo? outro. Assim nos coloca no caminho - Ele A Eucaristia é o Sacramento de um que é o Caminho - com a força desse pão Deus que não nos deixa sozinhos no da vida, como aconteceu com Elias e com caminho, mas se põe ao nosso lado e todos quantos Nele se alimentaram. nos indica a direção. É a mesma direção Participar da procissão do Corpus de Seu Filho para que sempre tenhamos Christi deveria provocar um “abalo sísmico” capacidade para discernir o caminho dentro de nossos corações, de nossas justo. Este caminho é fortificado na Adocomunidades e paróquias, pois nos ensina ração ao Santíssimo Sacramento. Não consiste em adorar um mistério do qual pode dar-nos a impressão de ser mais divino do que humano, mas consiste em prostrarmo-nos diante de um Deus como o Bom Samaritano, que primeiramente se inclinou para o ser humano. Abaixou-se e o socorreu para restituir-lhe a vida ao cuidar de suas feridas, e na sua humildade infinita ajoelhou-se para lavar nossos pés a fim de fazermos parte de Seu Reino. Eis porque a Adoração prolonga-se na comunhão eucarística, extasia a alma e o coração, nutrindo-os de amor, de verdade, de paz; nutrindo-os de esperança, porque Aquele diante do qual nos prostramos não nos julga, não nos fere, mas nos liberta e nos transforma. Eis porque este dia é belo e nos enche de alegria: reunamo-nos, caminhemos, adoremos. E assim teremos a vida em abundância e com um coração novo prosseguiremos a nossa Missão. Prefeitura Municipal de São Manuel
Jesus Cristo é o pão vivo descido do céu, o novo maná que veio para saciar toda a sede e fome da humanidade. Jesus é o Pão vivo descido do céu para alimentar a multidão que desejava um tempo de paz e de plenitude. Jesus é esse alimento único que sacia a nossa fome de uma vida de eternidade. É no mistério da sua morte e ressurreição que encontramos a experiência de fé e de vida que dá sentido a tudo isto. Um pão que se dá todo inteiro. Um pão que se torna princípio de comunhão e fraternidade universal. Cristo é o pão eucarístico que nos nutre e ensina a viver segundo um estilo de comunhão neste mundo, quando grande parte da população mundial continua vivendo na mais desumana miséria. Jesus é o pão da vida que nos impele a trabalhar para que não falte o pão de que muitos ainda necessitam: o pão da justiça e da paz onde as guerras ameaçam e não são respeitados os direitos do homem, da família, dos povos; o pão da verdadeira autonomia onde não existe uma justa liberdade religiosa para professar abertamente a própria fé; o pão da fraternidade onde não é reconhecido e posto em prática o sentido da comunhão universal na paz e na concórdia; o pão da unidade entre os cristãos, ainda divididos, caminhando para partilhar o mesmo pão e o mesmo cálice. Nós, cristãos, somos chamados a dar este contributo essencial: “se fôssemos simplesmente capazes de pensar em algo fora de nós, de compreender que, em cada minuto da nossa vida, enquanto nós comemos e dormimos, enquanto nos fatigamos por nada, há milhões de seres humanos
Jaime C. Patias
Pão vivo descido dos céus
Tapete produzido para procissão de Corpus Christi em São Manuel, SP.
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Mário de Carli, imc, vigário na paróquia Nossa Senhora da Penha, Jardim Peri, São Paulo.
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O povo da selva sabe: quem destrói a natureza está destruindo a si próprio.
de Andrés García Fernández
Fotos: Arquivo pessoal
testemunho
Os Pigmeus do C E
stamos na República Democrática do Congo, no coração da África, precisamente em Bayenga, reino dos Pigmeus. Não todos os dias, mas muito frequentemente, ao pôr do sol, enquanto o canto das cigarras se mistura ao silêncio da noite que entra, ouve-se uma melodia em estilo polifônico e ritmo harmonioso, sem articulação de palavras. É o canto dos “bambuti, ou seja, os Pigmeus”. Eles costumam se reunir na entrada da noite, para danças coletivas e jogos com mímicas, que são suas atividades preferidas nas horas de lazer.
Organização social
Menina pigméia.
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De etnia Bantu, os Pigmeus se caracterizam pela baixa estatura, 130 cm, vivem na selva e nos seus arredores. Eles são nômades ou seminômades. Baseiam sua subsistência na caça e na coleta de raízes e frutas. Segundo muitos antropólogos, os Pigmeus são os primeiros habitantes da rica floresta que acompanha as águas do Rio Congo desde a nascente até a foz. Eles retiraram-se na floresta para não entrar em conflito com as várias populações Bantus de quem descendem; mas das quais se sentem explorados. Eles são encontrados nas trilhas da floresta, sempre em pequenos grupos: os homens ostentam arco e flecha e as mulheres aparecem com as crianças no colo ou nas costas, e os inseparáveis cestos que levam na cabeça, com pedaços de carne seca e tudo o que vão recolhendo pelo caminho: frutas, mel, fungos, tubérculos. Uma mulher, geralmente a mais anciã, cuida do fogo levando brasas acesas em cascas de árvores, para acendê-lo quando resolvem parar para comer e dormir. Nômades, eles seguem as estações do ano, pois conhecem os alimentos que cada uma delas proporciona. Quando andam pela floresta, constroem com surpreendente habilidade e rapidez seus abrigos, em forma de iglus, com ramos entrelaçados e folhas grandes para o teto. A sua estrutura social é muito precisa, com nítida divisão de tarefas entre homens e mulheres: a elas cabe a coleta de tubérculos, fungos
larvas e cogumelos. Em alguns grupos é também das mulheres e crianças a tarefa da pesca, enquanto que a caça é atividade exclusivamente masculina e se constitui um momento mágico na vida da comunidade. Os homens se preparam para a caça, abstendo-se de relações sexuais, evitando toda “ofensa” à comunidade. Antes de partirem, há cerimônias de purificação e propiciação. Depois partem e ficam vários dias na floresta.
A itinerância não é só física, mas também, cultural e do coração. É uma virtude missionária. Não é fácil falar de religião aos Pigmeus porque eles têm o seu modo específico de se relacionar com Deus, mas não costumam expressar suas crenças com ritos externos. Ademais, a religião dos diferentes grupos não é uniforme. Geralmente, acreditam num Ser Supremo e Criador, que se personifica no deus da selva, do céu e do além. Creem que as almas dos bons se transformam em estrelas e povoam o firmamento, enquanto que as almas dos maus são condenadas a vagar eternamente pela selva dando origem a toda espécie de “doença ruim”.
Mudanças
Visitando os acampamentos dos Pigmeus, quase todas as crianças têm os olhos infectados pela conjuntivite e feridas pelo corpo, são doentes de lepra ou tuberculose. Até há pouco tempo nenhum Pigmeu tinha estudo. A causa de tudo isso é o isolamento em que vivem, fugindo do relacionamento com as demais populações Bantus porque preferem viver o seu modelo de sociedade. Porém, ultimamente, as coisas já começaram a mudar. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, rádio, televisão, foi introduzido o diálogo entre as culturas. Hoje, existem grupos em diversos países que se interessam em ajudar as populações mais necessitadas, especialmente, nos campos Junho 2009 -
Congo Padre Andrés visita Pigmeus em Bayenga e alunos do internato (acima).
da saúde, da educação e da agricultura. Hoje, por exemplo, também os Pigmeus já procuram o médico nos poucos postos de saúde que funcionam nas vilas Bantus. Fazem isso em último caso; porque antes, eles buscam a cura em todas as ervas medicinais tradicionais que conhecem. Quando não conseguem mesmo, então vão procurar mais recursos.
A educação
Um bom número de crianças pigméias já frequenta a escola. Ultimamente, está sendo desenvolvido um programa diferenciado para tornar mais fácil o estudo para os filhos dos Pigmeus, devido ao problema do nomadismo. Em determinadas épocas do ano, as crianças são obrigadas a seguir os pais e parentes até a floresta, em busca do alimento e da matéria-prima para o artesanato, que depois vendem para ganhar um dinheirinho e assim comprar roupas e remédios. Eles não rejeitam as orientações que lhes são dadas sobre o modo de melhorar o plantio e a colheita. Também acolhem de boa vontade as instruções sobre a higiene, como forma de prevenção das doenças. Por isso, há alguns anos, a diocese de Wamba está se empenhando para estabelecer este diálogo com os Pigmeus, procurando fazer a reintegração deles com a cultura Bantu, especialmente nas áreas da educação e - Junho 2009
saúde. Já conseguimos abrir várias escolas de Ensino Fundamental, mistas, isto é, para Pigmeus e Bantus. Já conseguimos também duas de Ensino Médio; estas últimas, em regime de internato, para facilitar a permanência dos Pigmeus na escola. Agora nosso esforço é no sentido de formar professores Pigmeus, para, também eles ensinarem nas escolas. Em Bayenga, sede da nossa paróquia, já funciona uma escola secundária para formação de professores. Os primeiros cinco jovens já se formaram e com entusiasmo estão trabalhando em diferentes escolas da diocese. A Boa Notícia de Jesus Cristo continua se tornando carne, semeando esperança, construindo uma nova humanidade entre os povos, irmanando a riqueza de todos e transformando-a em vida nova.
Itinerância missionária
Estes nossos irmãos Pigmeus nos obrigam a uma itinerância não só física, mas também, cultural e do coração. Sim, porque para visitar os acampamentos - uns 20 - precisamos nos deslocar para lugares sempre diferentes. Percorremos estas distâncias ou com a nossa velha moto, de bicicleta ou mesmo a pé, porque no mais das vezes não existem estradas. Eles nos obrigam também a uma itinerância cultural, porque para poder dialogar com a cultura deste povo é preciso aprender a relativizar
a nossa mentalidade e as nossas atitudes. E por fim, nos obrigam a uma itinerância do coração, porque este tipo de pastoral exige uma grande abertura a cada irmão, a cada irmã e às suas necessidades; e a voltar sempre à fonte da qual emana a nossa vocação e missão – Jesus Cristo. É nosso firme propósito, continuar sendo missionários fieis ao serviço destes povos marginalizados, considerados os “últimos”. Permanecer e viver lado a lado com os Pigmeus nos proporciona muita aprendizagem. Percebemos que é um povo que luta por sua sobrevivência, mas de um modo diferente da maioria dos seres humanos. Eles extraem da natureza, apenas o que lhes serve e com muito cuidado. Nos ensinam que um povo não se desenvolve apenas industrialmente, gerando tantos crimes ao meio ambiente. Eles têm a consciência de que “todos” devem respeitar a natureza, sem modificá-la e agredi-la. Sabem claramente que, quem destrói a natureza, está destruindo a si próprio. Peço ao Senhor, que nos conceda muita sabedoria e pobreza de coração, para sabermos acompanhar o crescimento da fé deste povo; e ao mesmo tempo, nos conceda a graça da humildade para deixarnos ensinar por eles.
Andrés García Fernández, imc, missionário espanhol na República Democrática do Congo, África Central.
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fé e política
Desgaste do Legislativo Muito se critica, pouco se educa. de Humberto Dantas
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Jaime C. Patias
lógica da divisão dos Poderes foi motivada pela necessidade histórica de enfraquecimento do poder absoluto dos reis e déspotas. De acordo com a filosofia política de séculos atrás, as sociedades careciam de regras claras que fossem respeitadas e estáveis, criadas por representantes escolhidos pelos cidadãos esclarecidos. Nasciam os alicerces da democracia representativa, e com eles o mais essencial dos Poderes: o Legislativo. Pouco importava, na visão de muitos pensadores, quem ocuparia o posto do Executivo, o importante era que as regras fossem criadas e cumpridas. As primeiras ideias, inclusive, sequer falavam em Judiciário, o terceiro poder chamava-se Federativo e, na visão de John Locke tinha como função cuidar de assuntos externos. Pois bem. Séculos se passaram e no Brasil o Poder Executivo carregou consigo a tradição dos reinados, dos imperadores. Durante o tempo em que nos tornamos independentes e nos mantivemos como Império, o Executivo acumulava o quarto poder: o Moderador. Esse resolvia qualquer conflito entre os outros, o que resultou em diversas dissoluções do Legislativo sem grandes prejuízos ao Executivo, disfarçado de Moderador. A desigualdade se manteve intacta ao longo da República Velha, quando os conflitos entre os Poderes reafirmavam a força do presidente. Com Getúlio Vargas não foi diferente, o quadro apenas se agravou com a ditadura que culminou no fechamento do Congresso. A justificativa era simples: o mundo estava em guerra.
6º Encontro Nacional de Fé e Política, Nova Iguaçu, RJ.
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O período de 1946 a 1964 arrefeceu esse cenário, mas na grande crise que culminou no golpe militar, o Legislativo perdeu força novamente. As eleições realizadas nos colégios eleitorais apenas corroboravam os desejos da ARENA - Aliança Renovadora Nacional, o partido a serviço das Forças Armadas. E assim assistimos a retomada da democracia. Primeiramente com derrotas duras do parlamento, como aquela protagonizada pelo frustrado Movimento das Diretas Já. Quando enfim entendemos que o país se pretende democrático, assistimos ao mais essencial dos poderes, o Legislativo, se afundar em denúncias de corrupção, favorecimento e incapacidade de representação de interesses plurais. Os sucessivos escândalos associados ao comportamento de nossos senadores e deputados agravam a crença na democracia. O povo, no entanto, se esquece de que a Câmara Federal, as Assembleias Estaduais e as Câmaras Municipais são os mais legítimos organismos de representação de nossos interesses. O fato de cumprirem mal este papel e colocarem em xeque nossos direitos em nome, muitas vezes, de desejos e vontades próprias, não pode abalar nossa crença em algo infinitamente maior: a força indispensável de arenas plurais, em níveis federal, estaduais e municipais de representação. Se na qualidade de sociedade não temos maturidade suficiente para compreendermos essas questões, não devemos desacreditar o Legislativo, e sim buscarmos forças na educação política para a reversão desse quadro.
Educação política
A partir do momento em que os brasileiros compreenderem o verdadeiro papel do Poder Legislativo, a descrença será arrefecida e a cobrança fortalecida. Para tanto, é necessário entender as regras do jogo. Canais de imprensa preocupados apenas em destruir o trabalho dos parlamentares auxiliam pouco. Muito se critica, pouco se educa. As fiscalizações propostas por alguns programas de rádio são quase infantis. Não existe bom trabalho de acompanhamento sem um excelente trabalho de instrução. Incentivar ouvinte a mandar e-mail para vereador perguntando-lhe o que fez nos últimos dias é algo quase banal. Não chegamos a lugar nenhum desqualificando o Legislativo, mas é fato que também ganhamos pouco com parte expressiva desses parlamentares que aí estão. Afinal de contas, eles são pessoas comuns como nós, escolhidos por eleitores que pouco sabem sobre o processo eleitoral e político. O desafio está lançado. Quer você aceite ou não, o Legislativo brasileiro é o espelho da sociedade. E basta um pouco de educação para assistirmos ao milagre da melhoria das escolhas. Sistemas de educação devem ser alterados, os canais de comunicação devem abrir espaço, os discursos e comportamentos devem mudar. Isso é um país que se pretende democrático, e ele começa por um Legislativo forte, afinal de contas, como diziam os pais das teorias de divisão dos poderes, o Executivo pouco pesa quando as regras criadas pelo Legislativo são criadas e colocadas em prática. Mais uma vez: o desafio está lançado.
Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio. Junho 2009 -
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Conversão pastoral
e renovação missionária A
missão de comunicar vida é a razão de ser da Igreja (cf DA 373). Por isso ela é chamada a desinstalar-se: “a Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do continente” (DA 362). Se “missão” significa “envio”, todo envio pressupõe um deslocamento e uma saída: “nós somos agora, na América Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança (parrésia), à missão de toda a Igreja” (DA 363). A conversão missionária da qual fala o Documento de Aparecida (DA) em uma de suas páginas centrais (cf 7.2 - Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades) trata-se substancialmente de uma saída. Na saída de si, do círculo da própria comunidade e dos confins da própria terra, se realiza para a Igreja essa conversão. Paradoxalmente, é nessa saída que a Igreja encontra sua razão de ser e sua própria identidade.
Temos que ser de novo evangelizados
O tema da conversão, antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DA como exigência fundamental para a própria Igreja. Com
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Desafios e perspectivas a partir do Documento de Aparecida (DA). Canção Nova
de Estêvão Raschietti
Papa Bento XVI na abertura da Conferência do CELAM, Aparecida, SP.
o mesmo espírito do Vaticano II, Aparecida analisa que, na atual conjuntura de grandes mudanças, “sentimo-nos desafiados a discernir os ‘sinais dos tempos’” (DA 33) e “a assumir uma atitude de permanente conversão pastoral” (DA 366). Na mudança global a Igreja precisa mudar também, mas não apenas pastoralmente “seu jeito de ser”: ela precisa ser evangelizada de novo para converter-se numa Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora (cf DA 549). Conversão é um convite
para Igreja e não, primeiramente, para o mundo. O conteúdo dessa conversão consiste no surpreendente e profundo re-encantamento com a essência do Evangelho, um Evangelho assumido e vivido não como doutrina, mas como “práxis de vida baseada no dúplice mandamento do amor”. Essas palavras do papa Bento XVI indicam um caminho a seguir, aparentemente quase óbvio: “não temos de dar nada como pressuposto e descontado, todos os batizados são chamados a ‘recomeçar
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O discípulo é essencialmente um peregrino e um enviado que deixou tudo por causa de Jesus. limitada e se dirigisse somente a uma pequena clientela de “eleitos”, ela se tornaria excludente. João Paulo II em sua encíclica missionária afirma: “Sem a missão Ad Gentes, a própria dimensão missionária da Igreja ficaria privada do seu significado fundamental e do seu exemplo de atuação” (RM 34). De que maneira podemos suscitar em nossos batizados e em nossas comunidades uma abertura verdadeiramente missionária sem uma perspectiva genuinamente sem fronteiras, católica, atenta e sensível ao mundo todo? Sem esse respiro, corremos o risco de cair “na armadilha de nos fechar em nós mesmos” (DA 376), numa dinâmica centrípeta e, afinal, egocêntrica, traindo a missão e o espírito do próprio Evangelho.
Peregrinos a caminho
Ainda hoje, apesar de nossos esforços, somos tentados a compreender a missão a partir de nós. O princípio da missão consiste no seguinte: não pode-
mos esperar que as pessoas venham a nós, precisamos nós ir ao encontro delas e lhes anunciar a Boa Nova ali mesmo onde se encontram. Isso parece quase óbvio. No entanto, na prática, a Igreja sempre teve a tentação de evangelizar os povos a partir de sua própria condição, permanecendo em seu lugar, a partir de sua própria cultura, enviando e delegando seus missionários, mas sem se envolver num movimento de saída e de inserção nas situações que desejavam evangelizar. Nesse sentido, metáforas usadas pelo DA em descrever a Igreja e sua missão, podem levar a algum equívoco. Por exemplo, a frequente imagem da Igreja como “casa e escola”, assim como o verbo “acolher” que a acompanha, expressam uma dinâmica missionária só por analogia. Missionário não é, em si, aquele que acolhe, mas é o acolhido. Missão é um termo que desde o Vaticano II serve um pouco para descrever toda ação da Igreja. No entanto, não podemos perder de vista o que especificamente se entende com isso, sob pena de esvaziar o seu sentido. Uma Igreja enviada é uma Igreja que está fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento, do despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf DA 398) e como hóspede na casa dos outros. O discípulo é essencialmente um peregrino e um enviado que deixou casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, terras, por causa de Jesus. Esse Jesus disse: “Eu sou José Altevir da Silva
a partir de Cristo’” (DA 549). O motivo da conversão missionária não é novo. Já a Redemptoris Missio declarava que: “a ação evangelizadora da comunidade cristã, primeiramente no próprio território e depois, mais além, como participação na missão universal, é o sinal mais claro da maturidade da fé. Impõe-se uma conversão radical da mentalidade para nos tornarmos missionários - e isto vale tanto para os indivíduos como para as comunidades” (RMi 49). Relacionar essas afirmações com a seguinte passagem do Decreto Ad Gentes, pode ressoar um tanto intrigante e desafiador: “a graça da renovação não pode crescer nas comunidades, a não ser que cada uma dilate o campo da sua caridade até aos confins da terra e tenha igual solicitude pelos que são de longe como pelos que são seus próprios membros” (AG 37). O Vaticano II aponta decididamente para a dimensão universal da missão como fator determinante para uma verdadeira conversão entendida como saída de si. Em que medida isso faz sentido para a realidade latino-americana? A saída de si tem como horizonte os confins da terra. É sempre um andar “extrovertido” além de todas as fronteiras. Essa universalidade não significa “tarefa específica”, mas diz respeito à própria essência e à dinâmica da missão. Se nossa missão fosse geográfica, cultural, étnica, socialmente ou eclesialmente
Plenária no 2º Congresso Missionário Nacional, Colégio do Carmo, Guaratinguetá, SP.
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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA Pedro José Louro
o Caminho” (Jo 14, 6) e não: “Eu sou a chegada”. Jesus inverte a perspectiva de Tomé, que queria conhecer o caminho a partir do ponto de chegada: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14, 5). Esta identificação de Jesus com o caminho foi algo de marcante para os primeiros cristãos. Eles se autodenominavam de “pertencentes ao Caminho” (At 9, 2). A palavra “caminho” aparece mais de cem vezes no DA. Isso indica que o caminho não afasta a Igreja da sua origem ou das suas raízes. Pelo contrário. É um encontro com suas raízes em Jesus, “o Deus de rosto humano”. Ao mesmo tempo, os discípulos de Jesus não são árvores. Eles têm uma relação diferente com o chão da história. Eles “vivem dispersos como estrangeiros no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pd 1, 1) mas são “concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus” (Ef 2, 19). Seus pés foram feitos para caminhar e não para ficar plantados num determinado lugar. A raiz é presa ao chão por um trato cruel: “se você quer se libertar, morre”. A missão faz da Igreja uma peregrina livre de qualquer amarra contextual, num caminhar cheio de imprevistos, aberto, desarmado na simplicidade e na pobreza, que convida continuamente descobrir Deus de novo no pobre e no outro.
Missionários, missionárias e membros da comunidade da periferia de Ulaanbaatar, Mongólia.
impunham com a espada o batismo e a “salvação cristã”. Na experiência fundante do “Novo Mundo”, mais uma vez, a missão cristã foi cúmplice e parceira estratégica de uma aventura sangrenta de desencontro, de opressão e de domínio. A colonização do mundo por parte do Ocidente forneceu, de fato, o contexto para o surgimento da missão. Se, de um lado, não podemos identificar a colonização com a missão, por outro os muitos exemplos de missionários que resistiram corajosamente às potências coloniais e às suas políticas não mudaram significativamente o quadro geral. Seria, então, a própria missão Ad Gentes uma “estrutura caduca” da qual fala o DA 365? Em certos sentidos sim. Contudo, algumas tentativas em
Na história da evangelização, a missão foi entendida a partir da cristandade, como uma saída geográfica para territórios não-cristãos, que tinha como objetivo a expansão e a implantação da Igreja no mundo. O próprio conceito de Ad Gentes estava impregnado de uma forte visão etnocêntrica e eclesiocêntrica. Os destinatários desta missão eram as gentes ou pagãos, dois termos com conotações depreciativas. Quem se considera “povo eleito” chama os outros de gentes ou de pagãos, que significam no latim “rudes”, “toscos”, “camponeses”, “atrasados”. A missão cristã aos diferentes povos foi muitas vezes marcada por um trágico senso de superioridade e por uma presunção civilizadora absolutamente secular. Pelo menos desde Carlos Magno (†814) o anúncio do Evangelho a todos os povos concretizou-se com agressões militares que arrasavam e
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José Altevir da Silva
Abandonar as estruturas caducas
abandonar esse conceito e essa prática, curiosamente, não deram certo. Uma delas foi o de substituir a palavra “missão” pelo termo mais bíblico “evangelização”. A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, representou um esforço nessa direção, na tentativa de expurgar a missão da Igreja de toda uma ideologia exclusivista, eclesiocêntrica, hegemônica e expansionista. Nessa operação de boas intenções, porém, essa ideologia disfarçadamente permaneceu nas práticas das Igrejas, e o problema das mediações históricas do Evangelho, indelevelmente marcadas por limitações e pecados, não foi substancialmente resolvido. Além do mais, o conceito de “evangelização” era perigosamente menos amplo do que “missão”: evangelização é missão, mas missão não é somente evangelização, é também diálogo, promoção humana, testemunho, todas as atividades que servem para libertar o ser humano da escravidão na presença do Reino vindouro. O caminhar da missão em direção a esse Reino é sempre um caminhar no Espírito que exige um trabalho permanente e penitencial de discernimento entre desejo, esperança, riscos a serem assumidos e realidade. Esse discernimento é feito a partir das origens do caminho, e constitui o elemento essencial para não confundir a fidelidade ao Senhor com a fixação em esquemas limitados. As estruturas caducas que precisam ser abandonadas (cf DA 365)
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Sandro Dalanora
FORMAÇÃO mISSIONÁRIA
Padre Álvaro Palácios, missão de Shambu, Etiópia.
estão sedimentadas no profundo de nossa consciência eclesial. Por isso necessita uma ação insistente, paciente e participativa de mudança de mentalidade da qual possam surgir “processos constantes de renovação missionária” (DA 365).
A dignidade dos pobres
“Reconhecer a imensa dignidade dos pobres aos olhos de Cristo” (DA 398). Pelo mesmo crivo passam também pilares fundantes da teologia da missão: a unicidade da salvação em Cristo e a necessidade da Igreja. Seriam também esses conceitos “estruturas caducas” a serem abandonadas? A pretensão universalista cristã está baseada na proclamação de um único e verdadeiro Deus, e na adoção de meios específicos para a salvação. Se tirarmos esses dois conceitos chaves, não há mais qualquer razão para a missão e nem para a existência da própria Igreja. Como então reafirmá-los evitando qualquer fundamentalismo e exclusivismo? A reflexão teológica e a prática missionária juntam-se nesta busca a partir da convicção que Cristo e Igreja permanecem um mistério de fé. Participamos deste mistério na medida em que nos aproximamos sempre mais através de nossa compreensão, nossa prática e nossa missão. Compreender a missão não como atividade ou território, mas como “essência” de Deus e da
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Igreja, significa adoção de uma prática jesuana de proximidade aos outros e aos pobres, para comunicar vida em termos de humanidade, compaixão, gratuidade e fraternidade sem fronteiras, como caminho de salvação. “Fora do dom da vida (acolhido e oferecido) e da fraternidade não há salvação”, diria o DA com outras palavras (cf DA 359-360). Esse anúncio para todos os povos deve lidar com o mistério de Deus, mas também com o mistério da pessoa humana que se torna interlocutora e destinatária dessa missão. Humanidade e compaixão se traduzem testemunhalmente em proximidade e reconhecimento. Para a missão isso foi sempre um problema que se expressou nas definições severas dos outros como gentes, pagani, infieis. Quem é, afinal, o outro? O outro para a missão permanece algo de indefinido a ser reconhecido e acolhido assim como ele se oferece. Quando encontra Natanael, Jesus reconhece primeiro o valor do jovem, apesar desse não ter logo reconhecido Jesus (cf Jo 1, 45-49). A nossa missão precisa começar pelo reconhecimento dos “Natanaeis” do nosso tempo. Eles são também “dons de Deus” (o nome Natanael significa “Deus doou”). Nós podemos aceitar esse dom que Deus nos oferece na pessoa de Natanael somente se antes aceitarmos a maneira com a qual Natanael se doa a nós.
A missão evangelizadora na América de todos os tempos é deficitária desse reconhecimento dos outros e de suas culturas. Mas, há 40 anos, Medellín começou abrir as primeiras clareiras de descolonização, identificando o destinatário da missão no pobre, um pobre com rosto concreto (cf Puebla, 31-39), reconhecido em seu “valor inestimável aos olhos de Deus” (Medellín, 15, 7). Somente os olhos de Deus conseguem ver nas “ovelhas perdidas” a imagem copiosa da “grande colheita” (cf Mt 9, 36). A opção pelos pobres é fundamentalmente uma opção de fé e uma opção pelo ser humano ao mesmo tempo (se é que há intervalo de tempo entre as duas coisas). Uma opção para salvar a pessoa da dependência opressora e da dominação injusta, e uma opção para encontrar a Deus (cf DA 257). Isso implica para a Igreja um deslocamento fundamental, uma saída de si, em termos de perceber e questionar a realidade do mundo do ponto de vista das vítimas, dos crucificados e dos injustiçados. Implica também, e sobretudo, a adesão a um projeto de mundo global mais justo e solidário, significativamente “outro” daquilo que temos diante dos olhos.
Estêvão Raschietti, SX, é assessor do Conselho Missionário Nacional – Comina, e diretor do Centro Cultural Missionário - CCM, em Brasília, DF.
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Roteiro de Encontro
Tema do mês: O protagonismo a) Acolhida b) Invocação do Espírito Santo c) Dinâmica d) Apresentação do tema, questionamentos e debates e) Propostas de ação na comunidade f ) Oração conclusiva Sugestão Ornamentar o espaço do encontro com fotos de diferentes realidades de juventude. Assistir ao filme Quanto vale ou é por quilo? Foto: Divulgação do filme Quanto vale ou é por quilo?
Descobertas
de Jonathan Constantino
Z
ezinho mora na periferia da cidade de São Paulo. Todos os dias quando sai da escola, corre para uma lan house. Sim, Zezinho tem acesso aos bens da civilização ocidental moderna: Orkut, MSN, games e Big Brother. Por mais contraditório que pareça, pela manhã, quando precisa se levantar da cama para ir até aquela escola estadual, rever o prédio careta, os professores quadrados e aquela proposta pedagógica domesticadora, ele não tem tanto ânimo quanto para as coisas da civilização. A não ser para ver Tânia, uma menina formosa, de sorriso largo, posto que um pouco chata, mas linda. A questão é que Zezinho se sente tão participante da história quanto os muitos jovens de outras localidades. Vão para escolas que não ensinam a pensar, antes lhes tolhem a criatividade e castram o intelecto. Voltam para suas casas em bairros sem infraestrutura e sem opção de lazer. Resta-lhes algum namorico, uma dose de música comercial, uma experiência sexual não saudável e, quando muito, a lan house. Nos dias de grana curta, ainda há o televisor. Companheiro na riqueza e na pobreza, é capaz de distraí-lo horas a fio. À noite, o Grande Irmão vem visitá-lo para dar um pouco de fortes emoções. Mas tudo isso mudou um dia. Apareceu na rua de baixo de sua casa a Blue Sea, uma Organização Não Governamental (ONG), como muitas espalhadas, principalmente nas periferias. Um pessoal bacana, boa gente e tinha propostas interessantes para tornar os jovens protagonistas. Teatro, música, poesia, educação ambiental e sexual, e umas doses de informática alternativa. A vida tornou-se um mar de atividades e, como um bom oceano, fluíram rios de juventude para lá. Um dia, Zezinho perguntou se ia ficar apenas naquelas oficinas e no resto. “Vamos fazer intervenções na escola. Dá para a gente grafitar os muros da vila e nos aproximar do pessoal da organização de moradores? Se os jovens começarem a se mobilizar junto com os demais moradores, podemos pensar melhorias para cá. Eu estava pensando que...”. “Então”, interrompeu Patrick, um dos coordenadores, “essas coisas a gente não tem condições de fazer e não é essa a proposta da Blue Sea”, disse enfático e despejou sobre o garoto a lista de objetivos e a missão da entidade. Foi assim que Zezinho descobriu que lá ele tinha tanta voz quanto nos outros espaços de sua vida. Era tão ativo quanto na escola, formado quanto no Orkut e protagonista quanto no Big Brother. Depois disso, aprendeu a gritar e descobriu que tinha pernas, mãos, braços e um cérebro.
Jonathan Constantino (22 anos) é professor e colaborador das revistas Missões, Mundo e Missão e do jornal Brasil de Fato.
Para refletir:
1. Você já viu alguma história semelhante a esta do Zezinho? 2. O que significa ser protagonista para você? 3. Você conhece o trabalho de alguma ONG? Como é? 4. Você já sentiu sua iniciativa e criticidade serem tolhidas por alguém? 5. Dentro de sua comunidade os jovens têm espaço para agir? Por quê? - Junho 2009
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Destaque do mês
Existe justiça para todos? De 14 a 21 de junho será promovida a 24ª Semana do Migrante. do Serviço Pastoral dos Migrantes
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lema da Semana do Migrante deste ano é uma pergunta que constantemente é feita pelos pobres, pelos migrantes: “Existe justiça para todos?” Está claro para todos nós que não. Mas é preciso insistir neste tema, martelar a questão, pois não podemos nos acostumar com a desigualdade, com a injustiça e com a discriminação social. Como em todos os anos, a Semana do Migrante inspira-se na Campanha da Fraternidade, cujo tema é “Fraternidade e Segurança Pública”, e o lema: “A paz é fruto da justiça”. Uma reflexão que mostra que Segurança Pública é um direito humano e só é possível com justiça social. O direito de ficar é o primeiro clamor, na luta para não ter que migrar. É a luta de populações potencialmente migrantes. Ameaçadas pela invasão do agronegócio, grandes projetos, hidrelétricas etc, resistem à grilagem de terras, à destruição de seu habitat natural, à destruição de plantas nativas, nascentes e rios. Esta é a luta de ribeirinhos, pescadores, quilombolas, Povos Indígenas, populações tradicionais, contra a dispersão e a destruição de seu território. Uma destruição em nome da economia que provoca migração em massa para as cidades e para o trabalho temporário e precário. Esta é a injustiça básica: expulsão de populações devida aos interesses de mercado e que provoca migração.
Limite da propriedade
Nas regiões chamadas “de destino” dos migrantes, a agroindústria da cana-deaçúcar, que tanto matou e mutilou trabalhadores, não pode deixar de ser posta em xeque como modelo de desenvolvimento não sustentável. Como pode tal setor ser modelo se, em todo o Brasil, continua a
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Breno Castro Alves
concentrar terra, explorar trabalhadores, destruir a natureza e ocupar espaços de plantio de alimentos? Segundo a própria indústria, há pelo menos 330 mil cortadores de cana no país, sendo que 135 mil só no Estado de São Paulo. Então, como ter justiça social no Brasil, sem justiça agrária para responder ao clamor de milhões de sem-terra, sem-teto? A propriedade privada sacralizada favoreceu o latifúndio e este priorizou o agronegócio, em prejuízo do social e do ambiental. A propriedade como direito absoluto segue produzindo despejos judiciais, com destruição de casas, lavouras, e pessoas tendo que ir para as periferias das cidades. Por isso, é preciso apoiar ocupações, assentamentos e somar na Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra, como passo em defesa dos que nela querem trabalhar e produzir alimentos.
Bodes expiatórios
Vivemos num tempo em que o dinheiro vale mais que o ser humano, e este é considerado pelo que tem ou pela capacidade de competir. Por isso, lembramos que Deus não faz acepção de pessoas e que “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes”, conforme o canto de Maria, o Magnificat. Hoje, ao que tudo indica, o preço da crise financeira mundial recairá sobre os pobres. Alguém terá que pagar pela crise do capital. O Estado já está cobrindo rombos de bancos e empresas, desviando dinheiro que serviria para o desenvolvimento social, curiosamente contrariando os dogmas do neoliberalismo. Enquanto isso, no mundo todo, migrantes estão sendo transformados em bodes expiatórios, acusados de roubar vagas dos trabalhadores locais, provocar rebaixamento de salário e ameaçar a segurança. As campanhas xenófobas desencadeiam violência sobre os migrantes. São criminalizados em vez de serem protegidos pelo sistema de segurança do Estado. Segurança deixa de ser um direito para se transformar num muro social, num aparato de controle, a exemplo dos locais de confinamento de imigrantes na Europa, para monitorar os chamados “extracomunitários”, - Junho 2009
Cortador de cana.
Calcula-se que existam 800 mil imigrantes documentados e cerca de 400 mil sem documentos. numa nova versão dos antigos “campos de concentração”. Assim, as fronteiras se erguem e recrudescem, tanto para os que já estão como imigrantes como para os que tentam entrar.
Detidos no exterior
Lá fora, são mais de 4 milhões de brasileiros tentando a sorte. Como a maioria dos migrantes no mundo trabalham mais, recebem menos e não têm direitos trabalhistas e sociais. Para estes, o retorno digno é uma questão de justiça. Pessoas que enviaram parte de seus ganhos ao país natal para ajudar a família. Com seu trabalho ajudaram tanto o país de destino como o de origem. Então, nada mais justo que um programa social, de reinserção social digna no retorno. No exterior existem cerca de 2.473 brasileiros detidos ou aguardando julgamento e 849 esperando deportação. Por sua vez, os imigrantes sem documentos que
moram no Brasil clamam por justiça. Vivem como “clandestinos” cujo único crime é lutar por sobrevivência digna. Crianças e jovens imigrantes sentem a dificuldade da nova língua, expostos à discriminação, necessitam de uma acolhida que respeite sua diferença cultural e melhore sua autoestima. Os presos e presas imigrantes permanecem sem visitas e sem um acompanhamento jurídico adequado. Em 2004, havia 1.626 presos, sendo cerca de 1.323 homens e 303 mulheres. A grande maioria com acusações de tráfico de drogas, sendo que também foram usados pelo crime organizado. Alguns como “iscas” para serem presos enquanto a polícia é despistada na entrada de maiores volumes de entorpecente. Calcula-se que existam 800 mil imigrantes documentados e cerca de 400 mil sem documentos. Enfim, em meio a tantos dados e aspectos que envolvem a migração, não poderíamos deixar de destacar a força de transformação da qual os migrantes e as migrantes são portadores. Por meio de associações, organizações, mobilizações, apontam para um mundo sem fronteiras no qual a cidadania universal deixa de ser apenas utopia para começar a se tornar realidade.
O Serviço Pastoral dos Migrantes - SPM, é um organismo da CNBB.
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100 Anos em Missão “Foi contemplando a Consolata que eu vos idealizei” (José Allamano).
de Rosa Clara Franzoi
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ia 20 de junho é a festa de Nossa Senhora Consolata, data muito querida ao coração dos que fazem parte desta família: padres, irmãos, irmãs, leigos e leigas missionários e todos quantos, nas várias partes do mundo, caminham conosco sob a proteção da Mãe Consolata. A devoção a Maria sob este título remonta ao século IV. O quadro da Consolata, uma pintura – ícone, foi levado do Egito para a Itália pelo bispo São Máximo; e segundo a tradição a pintura do Oriente é atribuída ao evangelista São Lucas. O povo turinense, da região italiana do Piemonte, atormentado
por muitos sofrimentos por causa de inúmeras guerras, começou a invocá-la: “Santíssima Virgem Consolata, rogai por nós!” (O nome Consolata é o mesmo que Consoladora). Mas, a ligação da Consolata com o nosso Instituto deu-se com o fundador, o Bem-aventurado José Allamano. Reitor de seu santuário por 46 anos, transformou-o num Centro de Irradiação Missionária. E quando, depois, fundou os nossos dois Institutos, colocou-os sob a materna proteção de Maria com este título. Ele costumava dizer: “Foi contemplando a Consolata que eu vos idealizei”. Assim, além de fazer parte da história dos nossos Cem Anos de Vida e Missão, a Consolata é também um ‘Programa de Vida’.
Contemplação
José Allamano era um homem de muita atividade, mas era também um contemplativo. Quando ele diz que foi contemplando a Consolata que ele idealizou nossos Institutos Missionários, significa que muitas vezes ele deve ter ficado diante da imagem da Consolata, absorto em oração e contemplação. E o que será que ele via e sentia ao contemplar aquele ícone? Olhemos para a imagem: ● Maria está com a cabeça levemente inclinada paraJesus: atitude de disponibilidade ao Plano do seu Filho; ● Maria tem no rosto uma leve expressão de tristeza: como mãe ela partilha os sofrimentos da humanidade; ● Maria tem a mão direita apoiada no seu peito: ela é a “Consoladora dos aflitos”; ● Maria segura no colo, em seu braço esquerdo o Menino Jesus: é Ele a Consolação por excelência; ● As duas mãos esquerdas, de Maria e do Menino, estão unidas: expressam sintonia, unidade; ● O Menino, com sua mão direita abençoa, como no rito oriental: os dois dedos levantados significam suas duas naturezas, divina e humana; e os três dedos dobrados e unidos, significam a divina Trindade; ● O manto de Maria que cobre todo o copo é azul escuro, símbolo da sua glória no céu; ● O manto vermelho do Menino significa realeza – Ele é Rei; ● As orlas douradas do manto de Maria simbolizam sua participação da realeza de Jesus; ● As estrelas sobre a cabeça – da Mãe e do Menino – simbolizam a coroa da glória; ● As auréolas que circundam a cabeça da Mãe e do Filho são símbolo da santidade por excelência; ● O anel na mão direita da Mãe é símbolo do poder e da realeza: Ela é a Mãe do Salvador, Rei do universo. Estas características e atitudes contempladas em Maria, a Consolata, ao fundar os nossos Institutos Missionários, José Allamano as propôs aos missionários e missionárias; e hoje as propõem a todos os que, nestes Cem Anos de Vida e Missão, uniram-se a nós como discípulos/as missionários para o anúncio de Jesus, que é a maior glória e Consolação de Maria.
Rosa Clara Franzoi, MC, é animadora vocacional.
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O Lixo Nosso de Cada Dia
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Região Episcopal Brasilândia na Zona Noroeste de São Paulo promoveu no dia 25 de abril, um Simpósio sobre “O Lixo Nosso de Cada Dia”. Organizado pela Comissão das Pastorais Sociais, Pastoral da Ecologia, Conselho Regional de Pastoral, CRP, e Núcleo de Fé e Política, o evento foi realizado na Paróquia Santos Apóstolos e contou com a participação de mais de 200 lideranças e agentes de pastoral, das Regiões Belém, Santana e da Zona Leste, entre outras. Participaram dos debates Wagner Taveiras, representante do Secretário Municipal da Secretaria de Serviços e Obras (órgão responsável pela coleta seletiva do lixo de São Paulo), Minoru Kodama, técnico em coleta e destinação de resíduos sólidos, e Leonardo Aguiar Morelli, da Defensoria Pública da Água. Padres Cilto Rosembach, assessor das Pastorais Sociais e José Bragheto das Pastorais Fé e Política e Operária foram os mediadores. A realização do Simpósio foi uma resposta da Região Brasilândia aos órgãos públicos para que se busque em conjunto, uma política pública de coleta e destinação do lixo que contemple a opinião formada e consciente da população e garanta segurança para aqueles que trabalham em cooperativas coletando os resíduos, para melhorar a saúde e qualidade de vida dos moradores da cidade de São Paulo.
O papel da Igreja é assumir um compromisso de corresponsabilidade, para transformar a reflexão em atitude. áreas, geralmente na periferia da cidade) e a coleta seletiva. Para Minoru Kodama, técnico em resíduos sólidos, o problema deve ser visto de um modo mais amplo. “As indústrias devem diminuir a produção de suas embalagens, assim a sociedade retoma seus hábitos da década de 60, ao recusar sacolas e embalagens diversas”, afirmou. O representante da Defensoria Pública da Água, Leonardo Morelli vê a necessidade de se rever os valores, princípios e responsabilidades da população e dos cristãos. “O papel da Igreja é assumir um compromisso de corresponsabilidade, de Jaime C. Patias
de Karla Maria
O que fazer com o lixo?
“Qual a melhor metodologia que nós podemos buscar para tratar o lixo? Estamos aqui para descobrir isso, vamos colher elementos importantes para cobrar do poder público, queremos uma cidade mais saudável, que gere mais vida. Vamos nos manifestar, mas Debate busca soluções para o problema dos resíduos. com respaldo técnico e científico, com mais informações”, afirmou dom José Benedito Simão, bispo da ajudar a colocar as coisas nos lugares, de transformar a refleRegião Episcopal Brasilândia, na abertura da programação. xão em atitude. O trabalho é de informar, discutir, aprofundar e Durante o debate ficou claro que a maior cidade da América mobilizar”, afirmou Morelli ao denunciar a omissão da prefeitura Latina não possui uma política satisfatória para a coleta de lixo. nas questões que envolvem o meio ambiente. “Esse é o jeitinho Segundo Wagner Taveiras, “a prefeitura não tem um modelo brasileiro de burlar o Protocolo de Kyoto, vendendo energia limpa, fechado para o lixo de São Paulo”. Diariamente 9,5 mil toneladas extraída de fonte suja e o dinheiro arrecadado não é aplicado de lixo são produzidas em São Paulo e apenas 20% são passíem benefício da comunidade, muito menos na recuperação das veis de reciclagem, mas só 7% são de fato recicladas através áreas degradadas pelos lixões”, avaliou. Segundo ele, menos da coleta seletiva feita por 16 cooperativas de catadores (mais de R$ 1 milhão, dos R$ 34 milhões arrecadados com a venda 10 devem firmar parceria até 2012). Wagner alegou falta de dos créditos de carbono do Aterro Bandeirantes, foi investido espaço para a instalação de novas cooperativas. “Todo mundo em coleta seletiva. acha ótimo a existência das centrais, mas ninguém quer uma O 1° Simpósio do Lixo Nosso de Cada Dia, recebeu Moção perto de casa”, afirmou. de Apoio da Guatemala e contou com o apoio da Cáritas InterO lixo em São Paulo possui quatro alternativas: a composnacional. tagem (colocado em uma “batedeira” até se tornar adubo), a incineração (queima), o aterro sanitário (enterrado em grandes Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões. - Junho 2009
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Basta de violência! “Mas quero aprender, eu quero ensinar, só não quero deixar o coração de criança!”
Arquivo
Infância Missionária
Grupo São José (IAM - Goiás) de Roseane de Araújo Silva
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este mês de junho, lembramos do Dia Internacional das Crianças Vítimas de Agressão (dia 4), o que infelizmente ainda não foi possível eliminar. Quando ouvimos falar de agressão, o que é que nos vem à cabeça? Pensamos de imediato na violência física, sem perceber que deixamos passar meio despercebidos outros tipos de violência que atingem hoje centenas de pessoas, entre as quais as nossas crianças e adolescentes. Além da agressão física, existem ainda as violências psicológicas e sexuais e a negligência. Gostaria de abordar neste mês o absurdo da violência sexual, tomando como partida o exemplo concreto do Piauí.
Sugestão para o grupo Acolhida (destacar nesse mês a Europa, terra onde nasceu a obra da Infância Missionária, preparar o ambiente com os símbolos missionários, as cores dos continentes, Bíblia e imagens de crianças) Motivação (objetivo): refletir com o grupo os tipos de agressões que sofrem pessoas de diferentes idades, principalmente crianças e adolescentes. Oração espontânea por todas as crianças e adolescentes que sofrem violências de todos os tipos. Partilha dos compromissos semanais Leitura da Palavra de Deus (sugestões para os 4 encontros): Realidade Missionária: Lucas 10, 1-5. Assim como enviou os discípulos, Jesus nos envia para anunciar a Boa Notícia do Reino do Pai a todos. Nesse caminho encontramos muitos desafios. Um deles é a agressão que tantas crianças e adolescentes sofrem no seu dia a dia. Fazer a partilha no grupo (partilhar também em família). Espiritualidade Missionária: João 15, 1-6. Jesus nos quer unidos à verdadeira videira, cuidada por Deus Pai, o agricultor. Permanecendo nEle teremos a fortaleza para superar nossas fraquezas, os conflitos, e tudo o que nos afasta de Jesus. Compromisso missionário: Mateus 11, 25-30. Jesus nos livra da carga pesada, em troca de um novo modo de viver na justiça e na misericórdia. Esse é o caminho para o testemunho e a evangelização. Neste mês faremos o sacrifício pelas crianças e adolescentes da Europa, para que cresçam fortalecidos pela solidariedade ao próximo. Vida de Grupo: 1Coríntios 13, 1-13. O amor é a fonte de qualquer comportamento verdadeiramente humano. É eterno e transcende tempo e espaço, porque é a vida do próprio Deus, do qual o cristão já participa. É maior que a fé e a esperança, que nele estão contidas. Agendar oportunamente uma visita ao Conselho Tutelar para conhecer as ações que são realizadas para prevenir as agressões contra crianças e adolescentes. Momento de agradecimento (fazer preces espontâneas a partir do tema e da reflexão do Evangelho). Canto e despedida.
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Existe naquele estado um serviço público que atende mulheres vítimas de violência sexual. A grande maioria das vítimas tem 19 anos ou menos. Um estudo apontou que 74,7% dos agressores são conhecidos da vítima, e ainda, que as crianças e pré-adolescentes são mais vulneráveis à agressão sexual, por ainda serem indefesas e ingênuas para distinguir um ato com características sexuais de um simples carinho. Outro dado relevante é que 59,6% das vítimas de violência sexual, estão na faixa etária de 10 a 19 anos. Segundo especialistas, a estimativa de casos de violência sexual no Piauí seria de 200 casos por mês, e os organismos mundiais de saúde registram 12 milhões de mulheres vítimas de violência sexual por ano no mundo, sejam elas crianças, adolescentes, jovens e adultas. Com tudo isso, não é possível assistirmos a esse horror e continuar “cada um no seu quadrado!”. Desde sua época, Jesus ensinava quanto é valiosa a vida de cada pessoa e como ela está acima de qualquer lei. Ele nos envia como missionários do Pai, para anunciar a sua palavra, testemunhar com nossas obras e denunciar tudo que é contrário ao Reino sonhado por Deus para todos nós. Não é uma tarefa fácil, mas como missionárias e missionários somos enviados “como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10, 1-5), não estamos sozinhos porque Deus caminha conosco e nos encoraja a “pensar sempre em nós” (10º Compromisso da IAM). O evangelista Marcos nos lembra que não dá pra ficar “em cima do muro” quando a vida está ameaçada: “e se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que ele fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9, 42). Defender a vida da criança e do adolescente é missão para abraçarmos em nossa vida comunitária e deixá-los viver em paz. De todas as crianças do mundo – sempre amigas!
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná. Junho 2009 -
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Entrevista
CEBs missão de transformar a sociedade
“Toda a Igreja precisa ser missionária, e para ser missionária precisa mexer nas estruturas. As Comunidades de Base ajudam a formar missionários para atuarem de modo transformador na sociedade”.
de Karla Maria
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érgio Ricardo Coutinho é professor de Ciências da Religião da Universidade Católica de Brasília e trabalha principalmente com os temas: História da Igreja Católica, Concílio Vaticano II e Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Como assessor nacional das CEBs, Coutinho tem auxiliado na preparação da metodologia de trabalho que será utilizada no 12º Encontro Intereclesial, a realizar-se em Porto Velho, de 21 a 25 de julho. Com o tema “CEBs: Ecologia e Missão”, e o lema “Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia”, o 12º Intereclesial espera reunir aproximadamente três mil delegados, representando mais de 80 mil comunidades espalhadas por todo o Brasil. Com o objetivo de trocar experiências e renovar seu compromisso com a Igreja, durante os dias na Região Amazônica os delegados visitarão hospitais, Casas de Detenção e conhecerão como vivem os garimpeiros e indígenas. Terão ainda a oportunidade de ouvir testemunhos como os da senadora Marina Silva, de dom Pedro Casaldáglia e de dois prêmios Nobel: Rigoberta Mechú (Guatemala) e Desmond Tutu (África do Sul). Em preparação para o Intereclesial, a coordenação da Ampliada Nacional das CEBs orientou a realização de dias de formação para os delegados de todo o Brasil. Em uma de suas assessorias, durante a formação dos delegados do Estado de São Paulo, realizada em Itatiba, nos dias 7 e 8 de março, Sérgio Coutinho concedeu entrevista à revista Missões falando sobre sua expectativa com relação ao 12º Interecleial e sobre as CEBs no Brasil. Os enviados a Porto Velho estarão em meio às discussões em torno
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de conflitos agrários, aldeamentos indígenas e agressão à cultura dos povos locais, devastação da floresta, agronegócio e implantação de usinas hidrelétricas e barragens. O que se espera deles, tendo em vista tamanha complexidade daquilo que irá se discutir e viver durante o encontro? Nós acreditamos que eles sejam multiplicadores de informações que estão sendo debatidas aqui, no encontro em preparação para o Intereclesial, e que tragam de Porto Velho pautas para o dia a dia em suas comunidades. Se as lideranças comunitárias, ou seja, os delegados, puderem estudar o texto base sobre o tema da Amazônia já é uma forma de se criar consciência, de que maneira podemos interferir no processo
político. Como estas lideranças são capazes de gerar opinião púbica, achamos que este seja um processo em rede, que vai alcançando o maior número de pessoas, lógico que não é a totalidade, mas ajuda em muito a tomada de consciência e postura diante da questão. Encontros de preparação ajudam na formação de opinião pública. Espera-se, portanto, que os delegados multipliquem as informações e sejam formadores de opinião em suas comunidades. Por que realizar o 12° Intereclesial na Amazônia? O Intereclesial na Amazônia vai fazer com que as comunidades sejam de fato Comunidades Ecológicas de Base, e
11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.
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David Trombelli
que haja preocupação com a vida como um todo. A vida que envolve o planeta, o cosmo, a solidariedade com outros seres vivos, com a necessidade de pensar a terra como uma comunidade viva. A CNBB já fez uma Campanha da Fraternidade em 2007 sobre a Amazônia e isso sensibilizou muitos cristãos católicos a serem missionários na região. O que esperar deste encontro nacional das CEBs? Estamos com uma expectativa muito grande, com uma metodologia muito diferente, vai ser o ver, julgar e agir, mas este Intereclesial vai privilegiar bastante o ver. Fazer com que os delegados destas comunidades possam ir lá e ver como é esta realidade, dialogar com esta realidade, obviamente vão ter que comparar com o lugar onde moram. Vão fazer esta comparação por meio do diálogo. Eu acho que o Intereclesial na Amazônia vai favorecer muito a tomada de consciência e a expectativa é que estes delegados possam voltar e fazer com que a Amazônia entre de fato na pauta nas comunidades.
José Roberto Garcia
As CEBs iniciaram suas atividades na década de 70, e tiveram papel fundamental na conscientização política e humana, durante a ditadura militar. Hoje percebemos que muitos setores da Igreja as veem com um certo descrédito.
Professor Sérgio Coutinho durante encontro dos delegados das CEBs, Regional Sul 1, Itatiba, SP.
As CEBs são a Igreja na base, uma CEB tem quatro elementos fundamentais em sua composição: fé, celebração da fé, comunhão e missão. Quando se fala de fé, fala-se do uso da Palavra com os círculos bíblicos, com uma leitura que faz a ponte fé e vida, um olho na Bíblia e outro na vida. O segundo elemento é a celebração semanal vivida em comunidade, este é o aspecto litúrgico, geralmente celebrado por leigos, como uma igreja ministerial, não porque as CEBs não querem padres, mas sim pela falta deles. Quando não há padres, os leigos assumem seu batismo e realizam as celebrações nas comunidades. O terceiro elemento é o Conselho Pastoral Comunitário, que seria a dimensão da comunhão, onde estão as representações de todos os movimentos e grupos. O Conselho é onde as pessoas sentam, debatem e tomam as decisões necessárias para a caminhada da comunidade. Por último, o elemento missionário. Não podemos misturar CEBs com movimentos e pastorais, estes são serviços e a Comunidade Eclesial de Base não é serviço. Documentos publicados recentemente falam da necessidade da Igreja recuperar o modelo CEBs de ser . Como recuperá-lo? É possível? Para a Igreja recuperar isso é necessário que as paróquias vejam os quatro elementos das CEBs. Se isso acontecesse, teríamos uma Igreja seguindo Jesus de
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maneira central e mais forte, muito mais do que simplesmente ficar fazendo um culto a Jesus, dando valor às questões transcendentais e emocionais, perdendo de vista as questões concretas da sociedade. O mundo está pegando fogo e o pessoal está olhando só para o céu. Tem que olhar para cima e para baixo, fazer esta ponte. Há também que se mudar aquela compreensão muito reducionista, que é pensar a paróquia como matriz. A paróquia é uma comunidade de comunidades e elas podem ou não ter uma capela, elas podem se reunir em um ginásio, num colégio, num centro comunitário. Se a gente compreender que Igreja é comunidade, então qual a menor estrutura desta Igreja? As comunidades, estas células são a inicial estrutura eclesial. O Documento de Aparecida afirma que a Igreja precisa ser missionária. Como as CEBs assumem este chamado? A missão é vista como um compromisso sócio-transformador, que é a missão de toda a Igreja, não exclusiva das CEBs. Todos os que se consideram Igreja tem esta dimensão missionária. O Documento de Aparecida ressalta isso, e as Comunidades Eclesiais de Base ajudam a formar estes missionários para atuarem de modo transformador na sociedade.
Karla Maria, LMC, é estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões.
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de Jonathan Constantino e Vanessa Ramos
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velho poeta de bengala anota seu poema no metrô de São Paulo. Fala de coisas medievais, do tempo em que era jovem. Com a memória em tempos sombrios, lembra que tudo na vida passa e envelhece, mas certas cicatrizes ficam. Sua bengala e seu poema são provas disso. Era noite, quando as tropas do Exército e seus tanques, sediadas em Minas Gerais e comandadas pelo general Mourão Filho foram para as ruas. Ao longo de toda madrugada outros comandos militares e civis se articularam e, na manhã do dia seguinte, em 1º de abril de 1964, consumava-se o golpe que daria origem à ditadura militar no Brasil. Em 31 de março último, relembrou-se 45 anos do golpe, dos “anos de chumbo” e sua série de crimes de lesa humanidade adotados como política de Estado, tendo
“Fazemos o resgate do período da ditadura militar, para que a sociedade conheça sua história e as novas gerações possam construir um futuro melhor para nosso país” (Ivan Seixas).
como saldo cerca de 358 mortos, dos quais 138 estão desaparecidos. Esse número não inclui os camponeses e indígenas assassinados, cujos corpos nunca foram encontrados e o registro desses crimes permanece apenas junto às comunidades às quais pertenciam. Mesmo a cortina de fumaça tendo se dissipado em 1985, o clima é ainda obscuro. O velho se recorda dos fatos escondidos, destruídos ou arquivados daquele tempo. Lutadores do povo, ex-presos e perseguidos políticos, familiares, comprometidos para que tais crimes não sejam recorrentes e que, de fato, se faça justiça.
Período para não ser esquecido
Preso e torturado pela Operação Bandeirantes, junto com seu pai quando tinha apenas 16 anos, Ivan Seixas, amigo do velho, teve seu pai assassinado pelos algozes da ditadura. Hoje militante do Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, está na luta pela preservação da memória. Certo dia alertou a um casal de jovens militantes que essa nova trincheira deve ser assumida por todos. “Falta às entidades de luta em defesa do povo Fotos: Arquivo Memorial da Resistência
Atualidade
Cicatrizes da memória
Ivan Seixas participa do Seminário Sábados Resistentes, Memorial da Resistência, 2009, São Paulo, SP.
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perceberem que esse debate lhes diz respeito e muita coisa que acontece hoje é fruto da ditadura insepulta e da ação de seus colaboradores”, alertou. Escondidos pela censura do período ditatorial e, posteriormente, pela censura ideológica imposta pelos meios de comunicação e pela elite comprometida com a ditadura, aqueles fatos precisam ser revelados à população em geral, para que ela conheça os crimes cometidos pelos torturadores, os crimes contra a economia e a entrega da riqueza nacional a interesses estrangeiros, a destruição dos valores nacionais e demais danos causados à nação brasileira. Acrescentou aos dois que é para isso que o Fórum de Ex-Presos existe: desnudar a história escondida por anos de censura ideológica, construir memoriais e marcar as lutas e conquistas do povo em busca de democracia e liberdade, exigir a abertura de todos os arquivos daquele período e a punição para os que cometeram, comandaram e financiaram crimes de lesa humanidade. “Fazemos o resgate do período da ditadura militar, para que a sociedade conheça sua história e as novas gerações possam construir um futuro melhor para nosso país”, concluiu.
Arquivos fechados
Mas mesmo com toda a luta, os arquivos permanecem fechados e inacessíveis. Aquele jovem casal, em suas andanças, descobre isso ao conversar com Ângela Mendes de Almeida. Atualmente historiadora do Observatório das Violências Policiais de São Paulo, militava naquele período. Em 1971, seu então companheiro, Luís Eduardo Merlino, jovem jornalista de 23 anos e militante do Partido Operário Comunista, foi detido em Santos, e, após ser torturado por 24 horas ininterruptas no Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações/Centro de Operações de Defesa Interna) em São Paulo, veio a falecer. Diz aos dois jovens que o Estado brasileiro não tem cumprido seu papel no resgate da memória e esclarecimento da verdade, em primeiro lugar em relação à abertura dos arquivos. Conta aos dois que a Lei nº 11.111/05, sancionada pelo presidente Lula em 2005, dificultou ainda mais o acesso a esses arquivos. Esta lei mantém sob sigilo documentos considerados indispensáveis à segurança do Estado. A efetivação da justiça depende, além da abertura dos arquivos, da responsabilização dos torturadores. Mas Ângela divide com o casal sua preocupação e revolta. O Executivo, mediante a Advocacia Geral da União (AGU), tem agido negativamente - Junho 2009
Participantes do Seminário Sábados Resistentes, Memorial da Resistência, 2009, São Paulo, SP.
Fórum Permanente de Ex-Presos e Perseguidos Políticos exige abertura de arquivos e punição aos torturadores. em relação a diversos processos judiciais. Dois deles receberam da AGU parecer de que os crimes dos torturadores foram perdoados pela Lei da Anistia de 1979 e de todo modo estavam prescritos por haver passado 20 anos. Esses processos eram uma ação cível, movida por procuradores do Ministério Público Federal, responsabilizando Carlos Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel pela morte de 67 militantes nas dependências do Doi-Codi de São Paulo, e uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Supremo Tribunal Federal, para questionar se é acobertado pela Lei da Anistia o crime imprescritível de tortura. Ângela explica que o fato de o Poder Judiciário interpretar que a Lei da Anistia de 1979 perdoa os crimes de tortura, assassinato e ocultação de cadáver, impede medidas mais duras contra os torturadores, cabendo apenas ações declaratórias na área cível, mais brandas, ou seja, que
não implicam a punição penal. Por isso, inclusive, as primeiras ações foram contra o Estado, responsabilizado genericamente pela morte sob tortura de Mário Alves (1970), Vladimir Herzog (1975), de Manuel Fiel Filho (1976) e pela tortura de Inês Etienne Romeu (1998). A historiadora explica, porém, que há precedentes para a responsabilização desses agentes. A primeira ação na área cível que responsabiliza por tortura uma pessoa, foi encaminhada pela família Teles (Maria Amélia, César e Criméia de Almeida) contra o coronel Ustra, em 2006, e seu resultado foi positivo na primeira instância, em 2008, sendo o torturador declarado responsável pela tortura da família. O casal prossegue seu percurso, tendo na lembrança esses relatos sobre a luta para que não se apague a memória do povo brasileiro. O velho poeta, num Brasil pós-ditadura, sorri e escreve, tendo sobrevivido a tanta tortura quando jovem e suspira: “Ah, meu camarada, como dói a vida”. Porém sabe que, mais que simplesmente lembrar o nome de seus companheiros que tombaram resistindo àquele sistema de opressão, há muito a ser feito e, do meio do caos e das dores, algo supera a sensação de que acabouse a poesia e reconhece que perduram a esperança e a certeza poética, emblemática, de que a luta continua.
Jonathan Constantino é professor e colaborador das revistas Missões, Mundo e Missão e do jornal Brasil de Fato. Vanessa Ramos é do Cimi-SP e colaboradora das revistas Missões, Mundo e Missão e do jornal Brasil de Fato.
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VOLTA AO BRASIL
Brasília - DF Violência contra os indígenas
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O Conselho Indigenista Missionário - Cimi divulgou no dia 8 de maio, durante o VI Acampamento Terra Livre, o relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil - 2008”. O maior foco de violência encontrase entre os Guaranis Kaiowás, no Mato Grosso do Sul. Em 2008, o Cimi registrou 60 assassinatos de indígenas em todo o Brasil. Em comparação com 2007, houve uma diminuição de 32 casos. Foram registrados 42 assassinatos entre o povo Guarani Kaiowá; 11 a menos do que em 2007. Por outro lado, contabilizaram-se 34 suicídios; seis a mais do que no ano anterior. Isso significa que a soma das mortes violentas – 76 – permanece elevada. Segundo análise da antropóloga Lúcia Rangel, organizadora do relatório, permanece inalterado o quadro que provoca a violência contra os Guaranis Kaiowás: “Nos últimos anos, o confinamento dos indígenas em exíguas parcelas de terra tem se intensificado, por causa do avanço dos latifúndios”. Em 2008, depois dos Guaranis Kaiowás, foi o povo Guajajara, no Maranhão, que enfrentou os piores índices de violência contra a pessoa. Foram registrados três assassinatos, sete vítimas de tentativas de assassinato, seis ameaças de morte e um espancamento. As agressões foram cometidas por não-indígenas, que, em geral, vivem nas cidades vizinhas às terras dos Guajajaras. Em 2008, o Cimi registrou 68 mortes de indígenas (sendo 37 menores de 5 anos) como conseqüência de desassistência à saúde. Em todos os estados, os indígenas denunciam a precária situação de assistência à saúde indígena.
Indaiatuba - SP Assembleia da CNBB
Entre os dias 22 de abril e 1º de maio, 330 bispos e assessores estiveram reunidos em Itaici, município de Indaiatuba, SP para a 47ª Assembleia Geral da CNBB. Participou também o Núncio Apostólico. Com 272 dioceses existem no Brasil 430 bispos, dos quais 144 eméritos. O tema central da Assembleia foi a Formação dos Presbíteros no Brasil: Desafios e Diretrizes. Os temas prioritários foram a Iniciação à Vida Cristã, o Ano Catequético e a Missão Continental. Fizeram parte da pauta ainda a análise da conjuntura social e eclesial, missionários no Brasil, semana da Amazônia, Igreja e Pastoral Indígena, relatório da presidência da CNBB, liturgia, doutrina, economia, Colégio Pio Brasileiro de Roma, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, além de comunicações, comemorações, dia de retiro, declarações e notas. A Assembleia revisou as Diretrizes Básicas da Formação dos Presbíteros da Igreja do Brasil, documento nº 55 de 1995 que servia de orientação aos bispos e formadores. Adaptado à nova época e nova cultura conforme o Documento de Aparecida, o novo texto tem três grandes eixos: o discipulado, quer dizer, que o padre, antes de mais nada, precisa ser discípulo, fazendo a experiência do encontro com o Cristo vivo. A missionariedade: o presbítero é padre para o mundo, é preciso sair, desinstalar-se e ir aos areópagos do mundo moderno, ajudando este mundo a viver o que o Evangelho propõe: justiça, partilha e solidariedade. A comunidade: o presbítero deve agir
em comunidade presbiteral, não isolado e sozinho, com seu bispo, com os irmãos no presbitério e com a comunidade de fieis. Diante dos clamores dos pobres o padre tem a vocação profética de denunciar as injustiças e anunciar os nossos céus e a nova terra. O padre é o rosto mais visível do discípulo missionário de Jesus Cristo. O texto final segue agora para aprovação da Santa Sé e, posteriormente, será promulgado no Brasil. Os bispos foram informados sobre o projeto da Missão Continental no Brasil, um dos compromissos de Aparecida. A Comissão responsável pelo projeto recordou os símbolos adotados pelo Projeto Nacional de Evangelização “O Brasil na Missão Continental” com destaque para o Tríptico ou Capelinha Missionária. Foram produzidos, além de roteiros homiléticos, 18 círculos bíblicos, numa integração da Missão Continental com o Ano Catequético. A Assembléia aprovou também a criação de um Instituto Missionário ligado à CNBB. Esse Instituto será confiado ao Conselho Permanente e terá por objetivo despertar cristãos, presbíteros, religiosos e leigos para um compromisso missionário mais concreto. A CNBB pretende imprimir à catequese uma nova dinâmica. A catequese não pode ser apenas uma preparação para os sacramentos, especialmente de crianças para a 1ª Comunhão e de adolescentes para a Crisma, deseja-se que a Catequese seja um processo permanente de educação da fé, isso significa, uma verdadeira iniciação cristã. Durante a Assembleia foram apresentadas as ideias centrais para que este processo possa ser efetivado no Brasil. Os bispos decidiram também que a partir de 2011, as Assembleias da CNBB, maior conferência episcopal do mundo, serão realizadas em Aparecida. Em 2010, a reunião será em Brasília, de 4 a 12 de maio, em razão do Congresso Eucarístico, organizado pela arquidiocese da capital federal.
São Paulo Infância e Adolescência Missionária
De 24 a 26 de abril de 2009, foi realizado no Centro Missionário José Allamano, em São Paulo-SP, o Encontro de Aprofundamento para Coordenadores Diocesanos da Infância e Adolescência Missionária. O encontro, assessorado pelo padre Edson Assunção, Secretário Nacional da Pontifícia Obra da Infância e Adolescência Missionária (IAM), contou com a participação de coordenadores e representantes de 17 das 46 dioceses que compõem o Regional Sul1 da CNBB. Na ocasião, as discussões foram focadas no tema: Ação Missionária Específica e Processo Evangelizador, que é o título de um dos livros lançados recentemente pelas Pontifícias Obras Missionárias (POM). No encontro foi distribuído o material para a 2ª Mobilização Regional da IAM que teve início no dia 23 de maio e se estenderá até o dia 21 de junho, em todas as dioceses do Regional Sul 1, a fim de comemorar o aniversário de 166 anos de fundação da Obra, torná-la mais conhecida e implantá-la nas 46 dioceses do Estado. No Estado de São Paulo, a IAM está presente em 30 das 46 dioceses, somando cerca de 500 grupos.
Fontes: Cimi, CNBB, http://garotadamissionaria.blogspot.com Junho 2009 -
Tenha o mundo em suas mãos! Hoje, mais do que nunca precisamos comunicar para informar os cidadãos na sua capacidade de refletir e entender a realidade. Quando falamos de comunicação na Igreja não devemos pensar apenas nos meios. Entendemos de maneira especial o processo de comunicação nos espaços de reflexão para as comunidades, as pastorais, os grupos, os movimentos, nas diversas iniciativas que criam interação entre pessoas movidas pelos valores do Evangelho. A revista MISSÕES, editada pelos missionários e missionárias da Consolata no Brasil, é um meio de informação e formação que visa contribuir com a construção de um mundo mais justo e solidário através de subsídios pastorais, espirituais, sociais e culturais. Seu público alvo são as lideranças e os cidadãos em geral, as famílias, os jovens e os agentes de pastoral das comunidades cristãs. Neste sentido, MISSÕES apresenta matérias sobre:
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Atualidade da sociedade e movimentos sociais Espiritualidade e temas pastorais Articulação de projetos sociais e ambientais Estudos sobre os desafios para a missão da Igreja Subsídios para uma pastoral missionária Testemunhos de vida e de experiência Reflexões para a juventude Trabalhos didáticos para as crianças, e muito mais.
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