Quem eu sou? O que faço aqui? Todos os dias devo-me repetir esta questão mais de mil e quinhentas vezes, mas raros são os momentos em que sinto que esteja a responder a tal pergunta, não sei se e por displicência própria ou por nutrir um certo auto-desprezo pela minha pessoa que tardo em querer procurar resolver essas questões. Fazendo uma analogia sincera da minha vida, acho que sou uma espiral, caminho em milhares de direcções diferentes, mas sou sugado para um único destino, o aborrecimento em relação a minha vivência diária, nunca me considerei satisfeito na minha vida, ou feliz. Dou por mim muitas vezes a divagar sobre felicidade, sé é algo que desejo, se e uma sensação de bem-estar natural, será plena harmonia, consigo encontrar todo o tipo de respostas, mas jamais consegui escolher uma entre elas todas, porque nunca a alcancei, por breves momentos tenho uma sensação de ter conseguido adquirir tal coisa, mas quando caio na realidade, parece que essa felicidade escapou por entre os dedos, como areia a cair da mão. Mas voltando ao ser, a existir, eu não sei o que isso é, não tenho qualquer noção, do que é suposto fazer. Quantas inúmeras vezes considerei que a minha existência é uma mera pedra num charco, entra na agua, faz uma ondinha e junta-se a todas as outras pedrinhas existentes no charco, para ser uma delas, a questão é que sempre almejei algo superior a mim próprio, talvez tenha carregado demasiado peso sobre mim próprio e sofro as consequências da minha inercia, pois um dado dia confrontei com o aborrecimento da realidade, não faz muito tempo, que declarei ao mundo estar aborrecido, apenas respiro, deixo-me ir, destruo-me, tento ter sensações que ainda não tive, mas já tanto fiz que já nada faço, vivi demasiado? Não creio, creio mais em ser um inútil no que toca a sensações, eu sei ser, mas não sei querer, ou sei querer, mas não sei ser. Levarei a ambiguidade para campa, provável destino de alguém como eu, que não sai da indecisão de poder ser tudo, ou poder ser nada. Será que filosofei demais, penso demasiado em mim próprio, ou sou completamente complacente no que toca a mim próprio. Só me parece que a vida é um gozo diabólico sobre mim mesmo, imagino-me um fantoche nas mãos do destino, se é que exista destino, opino que é apenas um nome bonito que dão a acontecimentos futuros, ao mesmo tempo, sou aos olhos dos outros de certa maneira livre, não que seja curioso em relação ao que pensam de mim, só posso julgar actos, alego ser um proporcionador de sensações, que dá tanto, que nem recebe nada em troca, ou então não, sou um sugador de emoções e quero armazena-las todas num espaço só meu e poder jogar com elas como que um puzzle. Sendo que converge num problema, não as sei encaixar, pois não as sei discernir. Tentaram-me ajudar, não aceitei, só conseguirei chegar lá por mim. Por orgulho? Penso que tal seja falso, devido a nunca ter caminhado por essa via, que provavelmente teria causado mais danos aos quais eu já tenho em demasia. Serei fraco? Possível, mas também é fácil de apontar fraquezas, não retirando o facto de ser uma pessoa com caracter (sem arrogância). Acho que é mesmo a situação de resvalar para um caminho que não é o correcto para poder encontrar a minha verdadeira missão, enfrentando uma sociedade que há muito á liquidou aquilo a que hoje muito alegoricamente se denomina de ‘princípios’, caros amigos, vocês tão bem de férias neste sistema de animais, racionais mas selvagens. Tenho de parar de recorrer a anestesias para as minhas maleitas mentais, tenho de as combater a sangue frio, eu já sou automaticamente criativo a existir, tenho de o conseguir a ser, tenho medo da rejeição, mas rejeito quem abre o coração, temo-me a mim mesmo, mais do que qualquer outra pessoa, pois eu tenho a capacidade de me definhar completamente, como também ser genial, a ambiguidade, presente nunca ausente, para sempre.