SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................3 2 SISTEMA PRÉ-UNIFICAÇÕES...............................................................4 3 UNIFICAÇÃO ITALIANA........................................................................5 4 UNIFICAÇÃO ALEMÃ...........................................................................7 5 HEGEMONIA ALEMÃ NA EUROPA......................................................9
5.1 Primeiro Sistema Bismarckiano......................................................10 5.2 Segundo Sistema Bismrckiano.......................................................13
6 SISTEMA PÓS-BISMARCK.................................................................15
6.1 Weltpolitik........................................................................................15 6.1 Crise Marroquina.............................................................................17
7 CONCLUSÃO......................................................................................20 8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...........................................................20
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ANÁLISE DAS UNIFICAÇÕES EUROPEIAS: Da Paz de Vestfália ao Advento da Primeira Guerra Mundial Isadora Alves Faria Laryssa Tomaz de Frias Marques de Souza
Resumo: Este texto tem como analise as Unificações alemã e italiana e seus impactos no Sistema de Europeu de Estados a partir do século XIX. Portanto, é uma observação de como foi adaptado o que ficou conhecido como “Sistema Bismarckiano” o sistema que foi desenhado por Otto Von Bismarck. Partimos do Congresso de Viena passando pelas unificações, pela hegemonia alemã no continente europeu e por fim pelas crises que vão desencadear um grande processo até a Grande Guerra. Palavras-Chaves: Unificação. Nacionalismo. Bismarck. Alemanha. Itália.
Abstract: This text analyzes the German and Italian Unifications and their impacts on the European System of States from the XIX century. Therefore, it is an observation of how was adapted what is known as “Bismarckian System” a system that was designed by Otto Von Bismarck. We start from the Congress of Vienna through Unifications, German hegemony on the European continent and finally the crises that will trigger a great process until the Great War. Keywords: Unification. Nationalism. Bismarck. Germany. Italy.
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1 INTRODUÇÃO
Para as áreas de relações internacionais, 1815 é um marco histórico com significados importantes para uma análise: o período pós Paz de Vestefália e as decisões do Congresso de Viena, que configuraram uma nova ordem para o sistema internacional, as transições politicas na Europa e o Concerto Europeu, que tem influências estendidas pelo mundo inteiro. Outro marco vem se estabelecer entre os anos de 1870 e 1880, com a hegemonia do Império Alemão, o protecionismo e a concorrência internacional que afloram de maneira exacerbada (SARAIVA, 2007, p.41). A Europa conseguiu, no século XIX, ampliar o sistema que havia se instalado em forma de uma rede, que se interligava por compartilhar das mesmas aspirações, rede, a qual Adam Watson chama de “sociedade internacional europeia”. São perceptíveis as forças nacionalistas e políticas, que surgiram e conduziram ao desenvolvimento das sociedades, mantiveram a paz e prepararam para os notáveis conflitos
da
época.
As
relações
intereuropeias
tinham
fundamentalmente
determinações políticas e estratégicas, que concluíram em processos como as Unificações dos Estados europeus e desembocaram na Grande Guerra (SARAIVA, 2007, p.42). Thomas Hobbes, filósofo do período iluminista, teorizou sobre a formação dos Estados, que se baseava na população perder uma parte de suas liberdades individuais e entregar suas armas ao Leviatã, entidade que representa o Estado soberano, desse modo, ordem e segurança eram atingidos. Após o Tratado de Vestefália - tratado que definiu, entre outros aspectos, as soberanias europeias – o conceito hobbesiano foi aplicado na Europa Ocidental, o qual ainda persiste como definição Estado-nação. Porém, na Europa Central a aplicação do tratado procedeu de forma diferente, em que foram reconhecidas as soberania dos numerosos principados separadamente, e garantiu a continuidade de um sistema similar ao feudal, em que a lealdade era dada ao príncipe, ou seja, não foi implementado um sentimento de nacionalismo. Essa situação só foi alterada com as unificações do século XIX (WATSON, 1992, p.276).
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2 SISTEMA PRÉ-UNIFICAÇÕES Após a vigência da “Paz de Vestefália”, houveram tentativas de se obter a hegemonia por alguns países, porém através de artifícios da balança de poder, e tratados como Utrecht, o equilíbrio foi mantido. Apenas com o Império Napoleônico que um desequilíbrio se instaurou no sistema europeu de Estados. O imperador por 11 anos saiu do poder apenas com a sua derrota na Batalha Waterloo, e fez com que o pêndulo de Adam Watson atingisse o extremo da hegemonia. Isto posto, após sua queda foi necessário que as potências europeias se reunissem no Congresso de Viena, na capital da Áustria, entre 1814 e 1815, para reestabelecer a estabilidade no continente (SARAIVA, 2007, p.43-44). Nesse Congresso, a Europa foi reestruturada baseada nos princípios antihegemônicos e de múltipla dependência das relações internacionais, encaminhando para um sistema de entendimentos e colaboração, em que não se tinha imposição unilateral de forças. Teve como objetivo trazer o pêndulo para a extremidade das independências múltiplas, e definiu cinco grandes potências, Grã-Bretanha, França, Prússia, Rússia e Áustria, contava então com uma hegemonia coletiva, em que as potências poderiam se aliar caso precisassem interferir em parâmetros de conduta no território, implementando a Raison de Système, na qual qualquer prática era válida para se manter o sistema. Foi uma medida conservadora, por tentar recuperar as monarquias europeias, porém, pelos os ideais liberais já estarem enraizado no povo, que desejava ser cidadão, não súdito, o sistema não voltou a ser como no século XVIII (WATSON, 1992, p.337). Desencadeado pelo Congresso, foi criado o Pacto da Santa Aliança pelas monarquias absolutistas da Prússia, Áustria e Rússia, que aspiravam que as relações internacionais voltassem a se organizar como antes do Tratado de Vestfália e tivesse a linearidade e doutrina cristã. Depois, houve a adesão da Inglaterra e França, e a aliança passou a interferir em agitações liberais, porém a Áustria e França se envolveram nos movimentos na Itália, Alemanha, Portugal e Espanha por interesses próprios e não em nome do pacto em si. O sistema instaurado foi então ameaçado só por Napoleão III, que reviveu as vocações expansionistas e imperiais francesas (SARAIVA, 2007, p.49).
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Durante o período de regência do Concerto Europeu, o sentimento nacionalista, advindo da Revolução Francesa, se disseminou pelo continente. Influenciados, tanto a Itália quanto a Alemanha começaram o seu processo de unificação, muito atrasados em relação à formação dos outros Estados, que consolidaram seu território no início da Idade Moderna. Esses processos causaram diversas guerras entre os Estados em formação e as potências já consolidadas da época, impactando o sistema internacional. 3 UNIFICAÇÃO ITALIANA No caso específico da Itália, os fatores internacionais estavam enfraquecidos e desgastados e acabaram por consequência avigorando as forças nacionais insuficientes, dessa forma, afloram de maneira decisiva a preparação para o movimento do Risorgimento. Além disso, o aspecto político-territorial da Itália, no início de século XIX, foi muito influenciado pelas medidas firmadas pelo Congresso de Viena. Com os acordos consolidados, a região da Itália atual ficou dividida em oito Estados independentes, sobre domínio de Estados estrangeiros, sendo alguns pertencentes à Áustria e França (GRAMSCI, 2002, p.25). Nessa época, com a restauração da monarquia como era primordialmente, emergiram diversos movimentos nacionalistas e contra os governos absolutistas pelo país, e envolveram abrangentes estratos sociais, desde trabalhadores rurais e urbanos, até a burguesia italiana, localizada principalmente no norte do país. Um desses movimentos foi o dos carbonários, uma sociedade revolucionária patriótica e liberal, com ação principalmente no sul, sobre a liderança de Filippo Buonarotti, e com um significativo apoio popular (GRAMSCI, 2002, p.49-50). Em julho de 1831, a “Jovem Itália”, uma associação política liderada pelo político revolucionário Giuseppe Mazzini, foi fundada em prol de uma república democrática unitária. O movimento protagonizado pela associação não obteve sucesso, porém, o nacionalismo italiano foi intensificado, e as agitações se disseminaram pelo país. O auge desse foi no Reino da Lombardia, em que o rei foi obrigado a instituir um Poder Legislativo eleito pelo povo, porém, mesmo assim, a monarquia conseguiu se manter no poder. Ademais, apenas após a participação mais efetiva da burguesia que o movimento de unificação passou a adquirir suas vitórias (GRAMSCI, 2001, p.331).
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Sendo assim, uma das regiões independentes, Piemonte-Sardenha, que tinha uma burguesia industrial forte, teve esta classe social acreditando nos benefícios de um processo de unificação italiana para expandir o seu comércio. Para esse objetivo se engajou ao Camilo Benso, conde de Cavour, que pregava a unificação no jornal Risorgimento, e após foi nomeado primeiro-ministro. Cavour buscou combater a Áustria, que dominava o norte da Itália, e para isso se aliou a Napoleão III da França, que depois retirou seu apoio - ato que Marx e Engels denunciaram em artigos de jornais - por perceber tendências socialistas e republicanas na unificação. Após o conflito piamonteses firmaram um armistício com a Áustria, em 1859, o conde então conseguiu unificar uma considerável porção dos reinos do norte (GRAMSCI, 2002, p.96). No sul, região agrária de maioria católica e analfabeta, o principal articulador das agitações foi Giuseppe Garibaldi, chefe do grupo guerrilheiro conhecido com ”Camisas Vermelhas”. A fim de invadir o Reino das Duas Sicílias e depois Nápoles, reuniu voluntários que ficaram conhecidos com “Mil de Garibaldi”, mas mesmo com êxito abandonou o movimento por não concordar com as ideias defendidas pelos representantes do norte. Desse modo, sobre liderança do norte, exceto os Estado pontifícios e a Veneza, o resto já estava unificado no rei Vítor Emanuel III da Itália, Etiópia e Albânia. Quatro anos depois, em 1870, iniciou-se a Guerra Franco-Prussiana, que forçou o Napoleão III a retirar suas tropas da Santa Sé, se aproveitando dessa situação, a área foi reconquistada e Roma virou a capital do Estado. Porém, essa reconquista desencadeou na Questão Romana, em que o Papa Pio IX se recusou a reconhecer o domínio e se trancou no Vaticano, sendo essa situação regularizada apenas em 1929 com o Tratado de Latrão, já no fascismo de Mussolini. Após, a unificação foi consagrada por plebiscitos, porém os problemas sociais permaneceram. Ainda assim, houve uma ligeira industrialização, que se limitou ao norte, mantendo o sul agrário, menos prospero e mais pobre. Além disso, o país passou por uma crise de crescimento, com atrasos econômicos, pela falta de recursos energéticos e minerais, insuficiência dos meios de transportes e falta de capital. E no plano de inserção externa, o país recém-formado, não era eficaz por não ter uma tradição diplomática, e nem um exército forte e organizado. Esse processo também resultou na emigração de povos italianos para o Brasil, tanto motivados pelas guerras para a reestruturação do território, quanto pela discrepância
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econômico-social depois do processo. Mesmo assim, o país tinha ambição de unificar as regiões de Trentino e Tirol, da Áustria, e interesses na região austríaca nos Bálcãs e francesa no Mediterrâneo (MILZA, 2007, p.16). 4 UNICAÇÃO ALEMÃ Já no caso da Unificação Alemã, o desejo de um Estado unificado foi se fortalecendo desde o Congresso de Viena, em que o Sacro Império RomanoGermânico foi dissolvido, e o atual território da Alemanha ficou dividido em 39 Estados e sobre domínio austríaco e prussiano. Apenas em 1820, a primeira onda de revoluções na Europa despertou, e teve característica nacionalista e liberal nos Estados germânicos. Nesse contexto, e com influência da Primavera dos Povos de 1848, foram criados dois projetos partidários, o kleindeutsch, que consistia na “pequena Alemanha”, sem a parte austríaca do país, e o grossdeutsh, “grande Alemanha”, abrangendo toda a Germânia. Essa diferença foi muito relevante durante a tentativa de unificação do Parlamente de Frankfurt, em que os participantes se dividiram entre as duas perspectivas (OLIVEIRA, 2016, p.270). A liga aduaneira germânica, o Zollverein, criado formalmente em 1834, mas atuante desde 1818, teve um papel importante na criação de um sentimento de unidade, principalmente por excluir a Áustria, e possibilitou a industrialização e investimentos no exército da região. Esse fator, além da cultura em comum, fez com que um sentimento de pertencimento eclodisse nas terras germânicas. No clássico estudo, The Customs Union Issue, Jacob Viner afirmou que o Zollverein foi "o pioneiro e de longe a mais importante união alfandegária" e argumentou que "generalizações sobre a origem, natureza e consequência da unificação de tarifas tendia a ser baseada principalmente ou unicamente na experiência germânica". Ele também aponta que o Zollverein foi uma interessante exceção para a regra histórica geral de que união política precede à econômica (DUMKE, 1994, p.277).
O Zollverein teve um papel importante na industrialização da Prússia, desta forma já eram observáveis as mudanças inseridas pelo capitalismo industrial que veio a se instalar. Houve uma ruptura no caráter moral corporativo, nos modos e nos estilos de vida dos trabalhadores, levando a uma instabilidade econômica e de perspectiva profissional. Nascem desta forma as novas relações de produção, na qual a ocorrência de uma melhoria de estrato social não era viável, e uma instabilidade de mercado foi imposta, e mesmo a burguesia, que se encontrava em
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um stato reconhecido, não tinha a estabilidade concreta, e assim havia o receio de se rebaixarem ao proletariado (ANDRADE, 2007, p.78). Por sua vez, o proletariado era formado em maioria por trabalhadores não qualificados, com condições de vida precárias e baixos salários, e nesse âmbito da revolução, como classe desfavorecida, começava a lutar por direitos e salários mais justos, e a classe dominante concentravam em questões como uma reforma liberal moderada e, ambas as classes reivindicavam contra os príncipes dos Estados Germânicos. No ano de 1849 a burguesia acaba se rendendo a aristocracia fazendo com que a revolução, que durou um ano, se enfraquecesse. Da mesma maneira, a adesão burguesa contra revolução levou ao fracasso do movimento liberaldemocrático na Alemanha, essa aquiescência tem caráter de interesses, pois a burguesia não queria abrir mão de certos benefícios e temia o radicalismo popular (ANDRADE, 2007, p.78-79). Após a conquista aristocrata, Guilherme IV prossegue com o ideal de unificação, contando com o apoio dos Junkers, aristocracia rural que rejeitava os aspectos mais radicais do liberalismo, bem como da democracia. Esse grupo também sustentava uma visão de mundo elitista e aristocrática, de acordo com os ideais também defendidos pela monarquia prussiana, e eram liderados por Guilherme I, o sucessor da coroa em 1862. Se aproveitando desse sentimento nacionalista alemão, Otto Von Bismarck, o chanceler de ferro da Prússia, investiu na integração da Alemanha ao implementar de ferrovias, além de explorar os conflitos que ocorriam na Europa em favor da unidade nacional (BARREIROS, 2015, p.41). Com a morte do rei da Dinamarca na época, a Áustria e a Prússia, mesmo com suas divergências, se aliaram para recuperarem as regiões Schleswig e Holstein, de maioria germânica e incialmente austríacas pelo Tratado de Viena, mas sobre domínio dinamarquês. Após, Bismark acusou os austríacos de má administração do território, o que deu início a Guerra Austro-Prussiana, com vitória da Prússia, o que resultou, além da independência da Hungria e da Península Itálica, na fortificação, substituindo o Sacro Império Romano-Germânico, da Confederação Germânica do Norte, em que os territórios alemães do norte legitimavam o rei prussiano, Guilherme I (SARAIVA, 2007, p.57). Nessa
mesma
dinâmica
de
Bismarck,
porém
na
região
oeste,
o
expansionismo de Napoleão III passou a ser temido, e o reinado prussiano passou a incentivar o nacionalismo nas regiões próximas à França, como Baviera, Baden,
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Württemberg e Hesse-Darmstadt. Outro fator colaborador para a tensão entre os dois Estados foi à sucessão do trono espanhol, que estava vago em decorrência da Revolução Espanhola de 1868, e contou com a candidatura do primo do rei da Prússia, fazendo com que a França temesse uma aliança entre esses dois países. Logo, Bismarck, com apoio do Estado Meridional da Alemanha, deliberadamente não faz uma retirada perpétua dos envolvimentos na questão espanhola, para arrancar da França uma declaração de guerra, e em 1870, iniciasse a Guerra Franco-Prussiana, unificando o sentimento alemão (SARAIVA, 2007, p.57). A vitória alemã foi definida na Batalha de Sedan, em 1870, o que desencadeia no rendimento francês e captura de Napoleão III, seguido do fim Segundo Império Francês, e anexação dos quatro territórios do sul alemão, mais a Alsácia-Lorena, à Confederação Germânica, formando o Segundo Reich. O fim da guerra, em 1871, foi concretizado com o Tratado de Frankfurt, humilhando o perdedor, por ter que pagar uma indenização e pela perda de territórios, e levou a hegemonia do vitorioso na Europa (SARAIVA, 2007, p.57). Em observação ao movimento coordenado por Bismarck, o alemão, considerado o “pai da geopolítica”, Friedrich Ratzel, elabora suas obras. O autor defendia o pangermanismo, que consistia na autodeterminação dos povos nas terras alemãs, resultando na unificação abrangendo todos os territórios ocupados por aqueles que se designavam germânico, principalmente por defender o espaço vital, necessidade de um território extenso para atender as demandas do povo, se assemelhando a Teoria Malthusiana. Além disso, pela formação na área das Ciências Naturais, implementava uma influência darwiniana nos estudos sociais e o senso geográfico, modo de estudar o Estado como uma analogia a organismos vivos (COSTA, 1992, p.29-41). 5 HEGEMONIA ALEMÃ NA EUROPA A Alemanha,
posteriormente
a
sua
unificação,
foi
levada
a
um
desenvolvimento econômico com uma pesada industrialização, pelo crescimento demográfico, além do capital francês que entrou no país com a indenização pela guerra, território rico em carvão, e o melhor exército terrestre mundial da época. Isso causou a restauração do sistema europeu de Estados, e transformou o vácuo de
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poder no centro da Europa em uma superpotência continental, influenciando as relações na época (MILZA, 2007, p.11-14). A perspectiva realista consiste em uma visão pessimista das relações internacionais, ceticismo com relação ao progresso, apreciação pelos valores da segurança nacional e da sobrevivência estatal, e crença de que as relações internacionais são necessariamente conflituosas. Nessa premissa, um realista clássico foi Maquiavel, que dissertava que o estadista deveria ter senso de responsabilidade e utilizar qualquer meio, mesmo contra a ética vigente no momento, para buscar vantagem e defender os interesses do Estado, explicitado por sua célebre frase “os fins justificam os meios”. Sendo assim, Bismarck agiu de acordo com o realismo, pois glorificou a unidade com uma importante vitória externa, e a fim de atingir esse objetivo até mesmo uma guerra era justificável (JACKSON & SORENSEN, 2007, p102). No âmbito internacional, após a unificação dos países, foi dada importância recente e supremacia à Alemanha e fez com que o Sistema Bismarckiano, dividido em duas fases, emergisse. Esse sistema, como um todo, tinha como pilar a exclusão da França da nova organização europeia, para evitar a tentativa de recuperação de territórios adquiridos na Guerra Franco-Prussiana. Logo, foi contraposto pela política de Delcassé, diplomata francês, que visava alianças entre a França, a Inglaterra e o Império Russo, para que o país excluído pudesse se projetar (MILZA, 2007, p.30). 5.1 Primeiro Sistema Bismarckiano O Primeiro Sistema de Bismarck teve o protagonismo de uma Alemanha satisfeita com suas conquistas durante a unificação, e, por conseguinte, disposta a manter o status quo. A primeira medida aplicada foi o garantia de que o Tratado de Frankfurt fosse cumprido, principalmente o pagamento da indenização, pois o chanceler acreditava que quando ocorresse, o exército alemão desocuparia a França, e diminuiriam então as agitações e sentimento revanchista no local. A quantia pode ser paga com adiantamento, pelo nacionalismo francês de sacrificar suas reservas em prol do Estado e também pela facilidade de empréstimos bancários por ser um negócio rentável, o que jubilou o chanceler, porém não os outros estadistas, por quererem se aproveitar mais da posição estratégica adquirida (MILZA, 2007, p. 18-19).
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Posteriormente, os esforços diplomáticos foram voltados à criação do Acordo dos Três Imperadores. Como a Áustria não foi humilhada em sua derrota para a Prússia, facilmente aliou-se com o Reich e transferiu sua tentativa de hegemonia da Alemanha para os Bálcãs. Com a Rússia a persuasão foi diferente, e foi apresentado o argumento de que as potências imperiais deveriam se alinhar para contrapor à França revolucionária, contentando o czar, que já não pretendia uma aliança gálica. Por fim, o acordado foi uma coalizão defensiva, porém, não muito estável e rentável, pois, além da Áustria, a Rússia também tinha interesses balcânicos (MILZA, 2007, p. 20). Com o fim de diminuir a influência da Igreja Católica no povo germânico, iniciaram-se diversas condutas para repressão, o KulturKampf, que incluíram as Leis de Maio, aplicadas para limitar o direito da Igreja, punir o ensino eclesiástico e expulsar os jesuítas. Essa conduta foi duramente criticada por dois bispos franceses, que solicitaram uma intervenção do país o qual eles pertenciam. Além disso, ocorreu a deposição de Thiers, acabando com a Terceira República, e a chegada ao poder dos monárquicos, ato que fortaleceu as tendências vingativas no país. Porém, o ocorrido mais relevante foi a reestruturação do exército francês, e fez com que intenções de um ataque preventivo da Alemanha, blefe de Bismark para que a França voltasse à república, surgissem. Logo, a Inglaterra tomou partido francês, porém antes de consolidar o conflito, Alexandre II da Rússia temendo uma nova hegemonia vai à Berlim se encontrar com o chanceler germânico, o qual percebe que a opinião pública internacional não aceitaria suas ações de ataque (MILZA, 2007, p.22). O começo da substituição do Primeiro Sistema de Bismarck ocorreu com a crise balcânica, em que o Império Otomano estava em declínio desde o início século XIX, e os interesses das potências se divergiam nas maneiras de como lidar com a situação. Em 1871, só a Inglaterra se mantém profundamente ligada ao dogma da integridade do Império Otomano, único meio de que despõe para se opor a uma hegemonia russa no Mediterrâneo oriental e para controlar facilmente a rota das Índias. As outras potências, ou são indiferentes, caso França e da Alemanha, sensíveis sobretudo às consequências internacionais de uma crise balcânica, ou estão dispostos, caso da Rússia e da Áustro-Hungria, a tirar partido da fraqueza do Império Turco, para estabelecer a sua influência nos Balcãs (MILZA, 2007, p.23).
Essa crise é inaugurada ao se submeter os povos do decadente império, de maioria cristã ortodoxa, aos turcos, e consequentemente ao Sultão. Algumas dessas regiões
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são reivindicadas por outros, como a Creta pela Grécia, e outras se tornam independentes, como a Romênia, sobre proteção russa, e Montenegro. Por sua vez, o principado da Sérvia almeja se tornar o Piemonte dos Eslavos do Sul e apoia os movimentos de autonomia. Desse modo, apenas a Bulgária continua submetida ao Islã, mas consegue em sequencia adquirir liberdade religiosa, o que contribui para potencializar o sentimento nacional. Já nos territórios da Bósnia-Herzegovina, de interesse Austríaco, a nobreza, para manter seus privilégios, se converteu ao islamismo, e inicia-se uma conduta de imposições e tributos sobre artesãos e camponeses, impossibilitados principalmente pelo mau ano na agricultura. Essa situação leva que a Sérvia e a Áustria incentivem o nacionalismo na região e demonstrem apoio a esses povos. Já em clima de agitações, a insurreição se concretiza em agosto de 1875, após o assassinato de um monge da Herzegovina pelos turcos. Após, as movimentações se alastram para a Bulgária, onde apresenta um caráter mais intelectual, eclesiástico e organizado. Porém, pela política de represália turca, Montenegro e Sérvia entrem no conflito em defesa dos eslavos, e seriam facilmente derrotados se não tivesses o apoio das potências (MILZA, 2007, p.24). A Alemanha por sua vez, não estava envolvida diretamente no conflito, e só focou em evitar que se fizessem alianças com a França. No caso da Inglaterra, ela não via importância nos movimentos dos Balcãs e se beneficiaria com a permanência do império. Já a Áustria-Hungria queria anexar a Bósnia-Herzegovina, porém o único país a se comprometer com uma interferência armada foi a Rússia, tanto para poder ter acesso ao mar, quanto pelo movimento pan-eslavista. Logo, após garantir a não intervenção austríaca e se comprometer a não conflitar com os interesses ingleses, mobilizou tropas e faz com que o Sultão pedisse um armistício. Entretanto, mesmo com os esforços russos, inquietações se instauraram na Europa, e o país foi forçado a estabelecer um acordo de paz, Tratado de São Stefano, que o beneficiou, e não foi aceito por Londres e Viena (MILZA, 2007, p.26). Sendo assim, o Congresso de Berlim ocorre, entre junho e julho de 1878, menos vantajoso para a Rússia que o tratado anterior, por dividir a Bulgária em dois e impedir a expansão russa à Ásia Menor. Conquanto, a Áustria conseguiu defender seus interesses e administrar a Bósnia-Herzegovina, e as províncias independentes, Sérvia e Montenegro, mesmo com a autonomia reconhecida, foram reduzidas. É possível então, perceber a importância da Alemanha no sistema pelo local em que
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os acordos foram feitos, sendo o interesse do país apenas diminuir os atritos entre os seus aliados (MILZA, 2007, p.27-28). O Congresso de Berlim modifica muitos aspectos do sistema europeu imposto por Bismarck. A região antes pertencente ao Império Otomano é repartida respeitando os interesses das potências europeias e não a autodeterminação dos povos, mesmo assim, a rivalidade austro-russa não é solucionada, pois o que ocorre é a formação de vários principados pequenos e não um Estado unificador, sendo assim os conflitos pela influência se mantêm. Além dessas, outra consequência foi a diminuição da distância da França com o sistema europeu, e também o descontentamento Russo com Bismarck pelas pequenas anexações, renuncia à Grande Bulgária e maior benefício dado à Áustria e Inglaterra (MILZA, 2007, p.29). 5.2 Segundo Sistema Bismarckiano Após esse desequilíbrio, são necessárias mudanças, logo, inicia-se o Segundo Sistema de Bismarck. Nele, o isolamento francês é reforçado e continua a ser o principal objetivo, e a Itália é trazida ao plano central. Porém, como a crise nos Bálcãs levou ao fim do Acordo dos Três Imperadores, se torna preciso que os germânicos optem entre qual dos dois impérios se aliarem, e ainda que tenham mantido boas relações diplomáticas com a Rússia, escolhem a Áustria, mesmo com divergências internas (MILZA, 2007, p.30-32). O acordo não satisfaz Bismarck, principalmente por ser contra a Rússia e não a França. Sendo um dos motivos que leva o chanceler a fingir interesse em uma aliança com a Grã-Bretanha, pois assim conseguiria inquietar os russos, fazendo-os temer a isolação diplomática, e mesmo com o risco de que buscassem uma coalizão com a França, o chanceler calculou ser mais provável que se unisse a um império e não a uma república. Logo, o Acordo dos Três Imperadores foi renovado, o que não foi de interesse da Áustria, que tinha superado de vez os atritos com os germânicos, e retardou os acordos até receber um ultimato alemão. Já para a Rússia foi vantajoso por garantir a neutralidade em uma guerra anglo-russa, e a Alemanha numa guerra contra os franceses também teria a neutralidade de seus aliados (MILZA, 2007, p.34-35). Em 1882, a Itália requesta a entrada nas alianças alemãs, para poder ascender às grandes potências e participar mais ativamente nas questões
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internacionais. Esse ato é criticado pela França, que esperava que os italianos se aliariam a ela, porém ainda havia uma aversão, relacionado aos Estados pontifícios e às medida de Napoleão III. Essa relação também é dada pela economia do país, que dependia da Alemanha para importar carvão e matéria prima, e exportar itens agrícolas. Porém, as reivindicações territoriais italianas se chocam com as austríacas, e só são abandonadas pela Itália, em prol do acordo, quando a França a humilha invadindo um de seus domínios (MILZA, 2007, p.36). Outro vetor é o medo de Humberto I que uma disseminação revolucionária provinda de terras francesas ocorra, sendo assim, a Tripla-Aliança é formada, de forma secreta e para defesa. Essa postura, mesmo não incluindo a Inglaterra, exclui de fato a França do sistema, e beneficia a política adotada por Bismarck. Ademais, a Itália se beneficia por participar no sistema e poder se contrapor ao partido católico no país, e a Áustria-Hungria numa possível guerra com a Rússia não seria atacada por duas frentes. Essa aliança leva ao que ficou conhecido com o fim do Segundo Sistema de Bismarck (MILZA, 2007, p.36). A partir de 1881, a Áustria se aproveitou da estabilidade nos Bálcãs e passou a exercer uma maior influência na região, tornando a Rússia inquieta. Na Sérvia, o príncipe desprezava o seu povo, e se mantinha no poder pelo apoio de Viena. Na Romênia, tinha-se uma relação de desconfiança com Viena, mas não mais que com São Petersburgo, e pelo rei ser Hohenzollern e primo do rei prussiano, as relações austríacas com Bucareste foram facilitadas. Diferentemente, na Bulgária, a influência foi russa, pelo príncipe ser sobrinho do czar. Nesse contexto, é concretizado o projeto russo da Grande Bulgária, porém na primeira eleição do país o eleito é próÁustria e o investimento se torna em uma grande derrota russa. Sendo assim, a Rússia não conquista o que almejava e perde os benefícios a ela dados no Congresso de Berlim, e desse modo, em 1887, o país não renova a Aliança dos Três Imperadores (MILZA, 2007, p.37-38). A fim de proteger o domínio alemão da Alsácia-Lorena, Bismarck passa a apoiar a expansão ultramarina francesa, para que se perca o interesse na região da Europa Continental. Além disso, quando o Jules Ferry assume o poder, também há uma tentativa de aproximação entre os dois países, como o esforço do chanceler de criar atrito entre França e Inglaterra. Porém, com a queda de Ferry, Boulanger, o general vingança, chega ao Ministério da Guerra, e as políticas francesas territoriais retornam ao foco original de dentro da Europa. Temendo os novos rumos, Bismarck
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organiza suas tropas e reprime violentamente os alsacianos e lorenos por serem considerados rebeldes à germanização. O momento auge de tensão entre os países ocorreu quando um policial da França, Schnaebelé, foi capturado por alemães em território francês, e a opinião pública gálica, por isso, tendeu à guerra. Logo, o general passou ser visto, por conservadores, como um novo Bonaparte, o que preocupa os republicanos, que então o substituíram, garantindo os interesses da Alemanha (MILZA, 2007, p.38-40). No fim desse período de hegemonia, as rivalidades nos Balcãs, entre a Áustria e Rússia permaneceram. E Bismarck ainda acreditava que o obstáculo à paz europeia era a vingança francesa. A França por sua vez, mesmo se expandido ao mar, ainda tinha preocupações de domínios no continente, e recusa a se relacionar com a Alemanha. Essa condição fez com que a Itália passasse a ser mais importante no cenário internacional, e mesmo com resistência austríaca, a Tríplice passa a ter um caráter ofensivo em relação à França. Além disso, é criada uma aliança anglo-italiana, com uma Itália mais empenhada, e depois, Áustria-Hungria e Espanha aderem o acordo contra a Rússia. As relações russo-alemãs, por sua vez, abaladas, firmam um tratado secreto que compromete à neutralidade no caso de um ataque francês (MILZA, 2007, p.41). O apogeu do sistema ocorre em 1887, quando a França é totalmente isolada, principalmente pelo Tratado de Contra-Segurança. Acordo o qual foi firmado entre Áustria-Hungria, Itália e Grã-Bretanha, com a Alemanha centralizada, e era instável, pois conflitava interesses, e então há a necessidade de seu segredo. Mesmo com divergências em relação à política de Bismarck, a Rússia, por fim de evitar um apoio alemão integral à Áustria, adere ao tratado. Porém, por ocorrerem desavenças entre Bismarck e o novo imperador Guilherme II, o chanceler é levado à demissão (MILZA, 2007, p.42-43). 6 SISTEMA PÓS-BISMARCK 6.1 Weltpolitik Esse ocorrido é turning point na política externa da Alemanha e também nas relações
internacionais
europeias.
Rapidamente,
o
Sistema
Bismarckiano
desmorona e inicia-se, em 1897, a Weltpolitik Guilhermina, que mesmo diferentes
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entre si, são considerados uma continuidade. Nesse novo modelo, agora liderado pelo chanceler Von Caprivi, as relações Alemanha e Rússia se deterioram e foi dado um foco às relações com a Inglaterra. A França consegue superar o seu isolamento. A política alemã após 1890 permanece com características da política europeia de segurança implantada por Bismarck (SARAIVA, 2007, p.113). Caprivi, em seus 10 anos como chanceler, não se concentrou na ruptura causada pela saída de Bismarck, e então encara o momento como uma transição na política alemã. Ademais, defendia a união aduaneira na Europa Central, como o Zollverein, o que resultou em acordos comerciais com diversos Estados. Outra característica desse modelo foi a formação de um antagonismo teuto-russo, e uma bipolaridade entre o antagonismo germânico-britânico, pela promoção de um programa de construção naval (SARAIVA, 2007, p.114). Os dirigentes da política externa alemã acreditavam que as divergências entre Rússia e França eram significativas o suficiente para que não concordassem entre si. Porém, com a declaração de guerra econômica com intermédio do Lombart, em 1887, o prolongamento do Tratado de Resseguro, e as aproximações anglo-alemãs os ânimos da Rússia se agitaram. Sendo assim, o que se sucedeu foi o contrário do previsto, uma vez que a França e a Rússia, de agosto de 1891 a janeiro de 1894, praticaram medidas diplomáticas entre si, e assinaram tratados defensivos, com prévia de ajuda mútua, em relação a ataques da Tripla-Aliança (SARAIVA, 2007, p.114). As relações, superestimadas por Caprivi, com a Grã-Bretanha, se alicerçavam na troca de apoio no continente por concessões coloniais. Todavia, a partir de 1892, a associação entre os países começou a desgrenhar, por conta da política de cessões liberais, que fracassou, essencialmente pela oposição do kaiser, o que desencadeia na demissão do chanceler em outubro de 1894. A partir de 1897, o antagonismo entre os dois países se tornou definitivo, pela nova política externa alemã, sobre os princípios da freie hand e a Weltpolitik (SARAIVA, 2007, p.115). Em 1900, Bernard Von Bühlow se torna o novo chanceler da Alemanha, e não deseja realizar aliança nem com a Rússia, nem com a Inglaterra, rompendo, assim, de vez com a política continental de Bismarck. Logo, B ühlow relocou o foco alemão do continente para o mundo, aspirando assim que o país pudesse se igualar aos outras nações europeias – ideal defendido por Weber. Sendo assim, nenhuma outra potência poderia tomar decisões na política mundial sem antes consultar a
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Alemanha. Porém, as proclamações genéricas de projeção alemã não tinham bases concretas e eram ainda muito desequilibradas. A Weltpolitik só começa a apresentar resultados com a conquista de Samoa e alguns territórios na África, e compra ilhas no pacífico da Espanha, por fim, o país, reinado por Guilherme II, também declara apoio a todos muçulmanos do mundo (OLIVEIRA, 2016, p.284). O principal aspecto da Weltpolitik era a construção de uma marinha de guerra, de potencial próximo ao da Inglaterra, para poder persuadi-la a realizar concessão ao plano imperial alemão. Em face às ameaças, os anglo-saxões melhorarem sua capacidade militar e se aproximarem da França e Rússia, o que retira o isolamento francês, país que precisava de investimento para se industrializar e militarizar. Esse novo direcionamento da política europeia é liderada por Delcassé, que implementou um sistema para fortalecer as relações com a Rússia, se afastar da Itália, e procurar uma relação mais amistosa com a Alemanha. Seguindo esse projeto, em 1899 é firmado um acordo entre a França e Rússia, de defesa contra um possível ataque inglês, mas se torna envelhecido pelas boas relações entre os três países. Após, para afastar a Itália das potências centrais, Alemanha e Áustria-Hungria, prometem dinheiro, ao país que já devia a França, para sair da Tríplice-Aliança e assinar um acordo de neutralidade em uma guerra franco-alemã. Porém, o maior feito desse sistema é a aproximação com a Inglaterra, em que os países acertam suas diferenças coloniais, e firmam um acordo em 1904 (GIRAUTI, 1997, p.337). 6.2 Crise Marroquina Sobre regência desse novo sistema ocorreu a Crise Marroquina, que teve seu estopim quando o kaiser viaja ao Tanger no Marrocos, país que não era colônia direta da França, porém era economicamente dominado por ela. Essa visita foi vista pelo Estado francês como uma tentativa de diminuir o poder gálico, já que a Alemanha questionava a influência francesa, e estava defendendo a independência no Magreb. Essa situação foi levada em pauta na Conferencia de Algeciras, 1906, em que a Alemanha perde a disputa, porém sua pressão é tanta que Declassé é demitido. Decorrente da crise, a Entente Cordiale se fortalece, e a Inglaterra preocupada com as extensões alemãs se aproxima mais da Rússia. Já a Alemanha se torna isolada, mesmo assim oferece proteção à França por acreditar que a
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Rússia, por conta da guerra contra o Japão, estava fragilizada (MOMMSEN, 1985, p.158-159). O historiador Mommsen conclui a propósito da Crise Marroquina: em lugar de fazer a Entente Cordiale [...] a política alemã produziu o efeito contrário transformando-a em um acordo que abarcava inclusive as questões de política europeia. Pela primeira vez tiveram lugar acordos militares entre a França e a Inglaterra acerca de operações conjuntas no caso de uma guerra com potências centrais (MOMMSEN, 1985, p.159).
Portanto, apesar da Crise Marroquina ter levado a demissão de Delcassé, ela não destruir as alianças e acordos feitos pelo chanceler francês. No ano de 1907, a Rússia e a Inglaterra em fim entraram em um consentimento quando seus ministros das relações exteriores se encontraram, como afirma Hobsbawm, o “implausível se tornou realidade". Esses dois países estabeleceram um tratado em que era feita uma concessão fundamental nunca antes admitida, a aceitação por parte da Inglaterra de que a Rússia pudesse se expandir para os estreitos, mais especificamente, ter o controle sobre Constantinopla (HOBSBAWM, 1998, p.434). Após dez anos da Weltpolitik, o (auto) isolamento da Alemanha estava completo e na sua percepção, o “cerco do inimigo se fechava”, portanto, a visão recorrente de que a solução para os seus problemas geopolíticos residia na guerra ganhou sobrevida. As consequências catastróficas da política alemã fizeram com que se precisasse refletir qual era realmente o objetivo da Weltpolitik, principalmente pelo incentivo ao antagonismo teuto-britânico. Além disso, relação entre Alemanha e Grã-Bretanha não se rompeu por conta dos problemas econômicos tendo em vista que, nesse âmbito, atritos haviam diminuído de maneira significativa (SARAIVA, 2007, p.118). Sun Tzu foi um pensador político da China antiga, e voltava o seu estudo para as questões da política internacional, além de também discutir a relação entre administração pública e estratégia de planejar e declarar guerras. Sendo assim, essa crença alemã de que a guerra era único modo de o país sair dessa situação prejudicial se adequa à sua perspectiva, pois o filosofo acreditava que a função do exército era proteger e garantir o bem-estar do povo e que o Estado deveria punir aqueles que o causaram dano, logo, a guerra justificada pela justiça traria aquisições. Com Primeira Crise Marroquina, voltaram a ocorrer crises internacionais na periferia do sistema mundial, que atingiam a Europa, e assim foram deteriorando a possibilidade de uma estabilidade nos compromissos entre as potências. A crise
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de anexação da Bósnia, em 1908, demonstrou claramente essa crescente instabilidade. A intervenção alemã arrastou o conflito para um desdobramento que chega como um marco para o primeiro confronto entre as grandes potências. Desde o Congresso de Berlim, a ocupação na Bósnia era aceita pelas grandes potências, e, em 1908, a Áustria-Hungria anexou a região por medo de perdê-la para a Turquia. A Sérvia reivindicava os territórios com o apoio russo, porém, a Rússia ainda
se
encontrava
de
maneira
enfraquecida
no
quesito
militar,
desta forma a Sérvia sozinha estabeleceu um confronto com a Áustria-Hungria, que se amedrontou. Entretanto, a Alemanha emitiu uma nota na qual a Rússia e a Sérvia deveriam aceitar a anexação do território em disputa, assim forçando-as a recuar. A Rússia nunca esqueceu a humilhação publica que a Alemanha lhe causou e assim começou sua corrida armamentista (OLIVEIRA, 2016, p.288). Após dois anos do ocorrido, em 1912, teve inicio a Primeira Guerra Balcânica. Sérvios e montenegrinos, ao perceberem a fragilidade turca, entraram em guerra com o Império Otomano ocupando a região do Sandzak de Novi Pazar, Kosovo e Macedônia. A Bulgária se sentiu insatisfeita com os ganhos que havia conquistado na guerra, e acabou por entrar em conflito, em 1913, com seus próprios aliado a Sérvia e a Grécia, e esses dois últimos receberam apoio da Romênia. Incapazes de defender essa colisão, os búlgaros acabaram sendo derrotados na Segunda Guerra Balcânica. Essas guerras fortaleceram a Sérvia que teve seus territórios dobraram ao fim delas. Algo que não era, de fato, aceitável para Viena, que via a formação da Grande Sérvia como um ameaça, pois seu sucesso poderia torna-la um polo de atração para os sentimentos nacionalistas de suas populações eslavas do sul (TAYLOR, 1990, p.46). Em 28 de junho de 1914, já durante as intensas disputas imperiailistas, o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria foi assassinado por um jovem bósniosérvio, e Viena viu uma oportunidade para resolver sua desavença com a Sérvia. Desta forma, a Áustria responsabilizou o governo de Belgrado pelo atentado, e enviou uma série de exigências que foram divididas em dez pontos, dos quais apenas um não foi atendido, que se referia a uma investigação que tornaria a soberania sérvia nula. Diante da negação de Belgrado, a Áustria declarou guerra a Sérvia acarretando na entrada da Rússia. A Alemanha exigiu que os russos retirassem a sua mobilização, contudo a Rússia passou a exercer uma mobilização geral e no dia primeiro de agosto do ano de 1914 os alemães declaram guerra ao
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país czarista. Havia começado assim Primeira Guerra Mundial (OLIVEIRA, 2016, p.289). 7 CONCLUSÃO Após a análise feita do período descrito, contempla-se que a formação de Estados nacionais na Europa Central só foi possível na Idade Contemporânea. Sendo assim, é perceptível que as unificações tardias tiveram um grande impacto na sociedade internacional europeia. Esse fato ocorreu essencialmente pela emersão do Sistema Bismarckiano, que em suas duas fases, consistiu basicamente em uma aliança da Alemanha com a Rússia e Áustria-Hungria, e no isolamento diplomático francês, além de ter trazido a Itália para um plano mais central. Desta forma, podese perceber que houve um protagonismo alemão durante o século XIX, assim suas aspirações, de egocentrismo exacerbado, sempre estiveram em primeiro plano. Porém, esse sistema, mesmo visando à estabilidade no continente, se via constantemente envolvido em crises, como a Balcânica ou a Marroquina. Logo, concebesse que os novos Estados europeus não tiveram dificuldades para se transformar em potências continentais, mas no plano mundial sim. Pois, quando esses países conseguiram se organizar para tentar uma projeção internacional, as outras potências europeias já dominavam maior parte da África e Ásia. Desse modo, as tensões imperialistas instauradas rebentaram na Grande Guerra em 1914. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MILZA, Pierre. As relações internacionais de 1871 a 1914. Lisboa: Edições 70, 2007. SARAIVA, José Flávio. História das Relações Internacionais Contemporâneas. São Paulo: Editora Saraiva, 2007. GRAMSCI, Antônio. Cadernos de Cárcere. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2002. GRAMSCI, Antônio. Cadernos de Cárcere. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001.
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