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  • November 2019
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  • Pages: 95
INTRODUÇÃO À FILOSOFIA Curso de Direito - Por causa da verdade

UNIDADE I

Prof. Antonio de Pádua P. Silva

Cód. Disciplina

D -04 Turma

D -04

Período

Créditos



04

Carga Horária SEMANAL

SEMESTRAL

4 h/a

60 h/a

Nome da Disciplina

INTRODUÇÃO Período À FILOSOFIA

D. 04 - INTRODUÇÃO À FILOSOFIA Definição e Conceito da Filosofia. O Problema da Lógica: formal e material. Os Métodos da Filosofia. Conexões da Filosofia. Períodos da História da Filosofia: Filosofia Oriental, A Filosofia na Grécia, em Roma, na Idade Média, no Renascimento. Filosofia Moderna. Filosofia Contemporânea. Escola de Frankfurt. O Conhecimento. Representações Individuais e Sociais. Fato Moral. Objetividade e Subjetividade. Razão. Ética. A Consciência Individual e de Classe. A Política, Arte, e a Cultura na Filosofia.

4.1. Objetivo Geral:

O objetivo deste curso é propor aos aprendentes do 1º período de DIREITO uma experiência de iniciação à filosofia, tal que - motivados pelo fascínio da verdade – possam :

4.2. Objetivo Específico: a) Compreender melhor quem somos, em que mundo vivemos e qual o sentido da nossa existência ( SEVERINO,1994 )

Período

b) Saber pensar. Saber pensar não é só pensar. É também e sobretudo, saber intervir (DEMO,2001) c) Descobrir maravilhar, pois este é o sentido último do conhecimento filosófico (HESSEN,2002)

d) Iniciar-se num itinerário reflexivo que possibilite conversar, ler e escrever mais e melhor sobre a construção da felicidade (PÁDUA)

INTRODUÇÃO: Também somos o que pensamos. UNIDADE I : O QUE É FILOSOFIA

I.1.Filosofia: um gesto de pensar I.2.Mito: um gesto diferente de pensar

I.3.A filosofia oriental: outro modo de pensar. UNIDADE II: SOBRE O QUE TRATA A FILOSOFIA ?

II.1.História da Filosofia: a filosofia pensa ela mesma?

Período Visão geral dos períodos da história da filosofia A Filosofia na antiguidade; A Filosofia na idade média; A Filosofia no renascimento; A Filosofia moderna; A Filosofia contemporânea. II.2.Metafísica: Ser ou não ser ? II.3.Gnosiologia: O que podemos saber sobre o conhecimento? A razão

II.4.Lógica: Lógica ou jeito ?

-

O problema da lógica: formal e informal

II.5.Ética: Como agir ?

-

O fato moral

-

Objetividade e subjetividade

II.6.Axiologia: Qual é o grande valor? II.7.Estética: Gosto, a gente discute?

-

A arte ,

A cultura

II.8.Epistemologia: Ciência da ciência? II.9.Cosmologia: O mundo gira em torno de nós ?

Período II.10.Antropologia: Afinal, quem é o homem ? II.11.Filosofia da história: O que é o tempo ? II.12.Filosofia Política: Cidadania, o que é ? -

A consciência individual e de classe

Representações individuais e sociais -

A política

II.13.Filosofia da linguagem: Está tudo na maneira de dizer? II.14.Teodicéia: Deus existe ?

CONCLUSÃO: A condição pós-moderna

No projeto educativo deste Curso inclui-se:

ATIVIDADES PERMANENTES: q

Pequenas exposições temáticas

q

Prática de leitura ( compreensão de textos)

q

Debates

Período SEGUÊNCIA DE ATIVIDADES q

Pesquisa bibliográfica q

Estudo em grupo

q

Estudo de textos audiovisuais

q

Micro-apresentações

q

Produção textual

Incidindo sobre a freqüência e o aproveitamento (Cf sistemática da FEST, art. 10), a AVALIAÇÃO neste Curso visa promover o processo de. auto-regulação da aprendizagem, fornecendo ao ALUNO(S) informações sobre o seu desenvolvimento e competências, e ao PROFESSOR feed back sobre com está ocorrendo a aprendizagem.'

A cada 20 horas/aula, o aluno será informado de uma nota ( O - 10 ) parcial, obtida mediante:

Observação do professor

Período

Atividades com linguagem escrita ou oral: sinopses, esquemas e resumos, produção pessoal. Culminância de uma unidade didática: exposições e mini seminários.

ABRAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1962 ARANHA, M.L.A e MARTINS,M.H.P. Filosofando. São Paulo.Moderna,S/D ARENDT, H. A vida do Espírito. 3 ed. Rio de Janeiro: Relume, 1995 CHAUÍ, Marilena. Convite à filosfia. São Paulo: Ática, 1994

COLEÇÃO, Os pensadores, 5 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1992 . CORDI.S. et all . Para filosofar.São Paulo: Scipione,2000

DEMO,P. Saber pensar. São Paulo: Cortes,2001 Enc. "LOGOS", Lisboa - São Paulo: Ed. Verbo, s/d

GAARDER,1. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 1991

Período

GHIRALDELLI,P.Jr. Introdução à filosofia. São Paulo: Manole,2003 HESSEN,J. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes,2000 JOLlVET, R. Curso de Filosofia. 16 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1986 LEÃO, E.C. Aprendendo apensar. Petrópolis: Vozes, 1992 MARIA, J. Antropologia metafisica. São Paulo: Duas Cidades, 1971 ROJAS, H. O homem moderno. São Paulo: Mandarim, 1996

SAUTEC, M. Um café para Sócrates. 3 ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1999 SEVERINO,A.J. Filosofia.São Paulo: Cortez, 1994

SOUSA, S.M.R, Um outro olhar. São Paulo: FDT., 1995 STEVENSON,Jay. O mais completo guia sobre filosofia.São Paulo:Mandarin,2002

Quid veritas ? Perguntou Pilatos.

Para os que amam a verdade.

A Escola de Atenas, afresco do pintor Rafael (1483-1520)

Platão “ Cada um de nós é como um homem

que ver as coisas em um sonho e acredita conhece-las perfeitamente, e então, desperta para descobrir que não sabe nada”.

“ Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar . ”

kant

INTRODUÇÃO Também somos o que pensamos A Águia e a Galinha Um camponês criou um filhotinho de águia junto com suas galinhas. Tratava-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo que ela pensasse que também era uma galinha. Dava a mesma comida jogada no chão, a mesma água num bebedouro rente ao solo, e fazia-a ciscar para complementar a alimentação, como se fosse uma galinha. E a águia passou a se portar como se galinha fosse. Certo dia, passou por sua casa um naturalista que, vendo a águia ciscando no chão, foi falar com o camponês: "Isto não é uma galinha, é uma águia!" O camponês retrucou: "Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!" O naturalista disse: "Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa..."

Pegou a águia, e suspendeu-a acima da cabeça e falou: "Vamos, águia, vôe!" Mas a águia caiu pesadamente no chão. O camponês disse: "Viu só? Ela é galinha!"

No dia seguinte, o naturalista voltou à casa do camponês. Inconformado, levou a águia para cima da casa e elevou-a nos braços dizendo: "Voa, você é uma águia, assuma sua natureza!"

A águia contemplou a imensidão do espaço desconhecido, e viu lá embaixo as galinhas ciscando e comendo. Ao invés de voar para o alto como esperava o naturalista, foi disputar os grãos jogados no chão, junto com as galinhas. Então o camponês disse: "Não adianta. Eu não lhe falei que ela agora era uma galinha?!" O naturalista disse: "Amanhã, veremos..."

No dia seguinte, logo cedinho, eles subiram até o alto de uma montanha. O naturalista levantou a águia e disse: "Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima e os campos verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser suas. Desperte para sua natureza, e voe como águia que é..."

Quando a luz do sol penetrou nas retinas da águia, ela começou a ver tudo aquilo e foi ficando maravilhada com a beleza das coisas que nunca tinha visto. De início, ficou um pouco confusa, sem entender o porquê de ter ficado tanto tempo alienada. Mas a luz do sol e o espaço infinito fizeram com que ela sentisse seu sangue de águia correr nas veias. Então, perfilou devagar suas asas e partiu num vôo lindo, até que desapareceu no horizonte azul. Muitas vezes, criam as pessoas como se fossem galinhas; porém, elas são águias. Porisso, todos podemos voar, se quisermos. Voe cada vez mais alto, não se contente com os grãos que lhe jogam para ciscar. Nós somos águias, não temos que agir como galinhas, como querem que a gente seja. Pois, com uma mentalidade de galinha, fica mais fácil controlar as pessoas, elas abaixam a cabeça para tudo, com medo. Conduza sua vida de cabeça erguida, respeitando os outros, sim, mas com MEDO, nunca! (Leonardo Boff conta este mito de origem africana no seu livro "A águia e a galinha", publicado pela Editora Vozes. O Texto aqui publicado foi enviado via Internet para o "Acordabrasil").

UNIDADE I

O QUE É FILOSOFIA ? Olhos sempre despertos, a coruja é o símbolo da filosofia

I.1 – FILOSOFIA: Um jeito de pensar.

I.2 – MITO: Um jeito diferente de pensar. I.3 – A FILOSOFIA ORIENTTAL: Outro modo de pensar

UNIDADE I.1 FILOSOFIA: Um jeito de pensar. “ O homem não passa de um caniço, o mais fraco da natureza, mas é um caniço pensante. “

Pascal

Saber pensar.

Pedro Demo,2004 Podemos resumir, não sem risco, tantas pretensões na idéia de "saber pensar" (Demo, 2000b). Esta idéia pode reduzir-se apenas à face cognitiva racional. Não é o caso. É preciso ver o lado da "qualidade formal": para saber pensar é mister manejar conhecimento com devida habilidade epistemológica e metodológica, dominar conteúdos para os desconstruir e reconstruir, saber teoria e método, etc. Mas não é menos fundamental atentar para a "qualidade política: saber pensar é convencer sem vencer". Afasta-se, até onde possível, o argumento de autoridade e prefere-se a autoridade do argu-mento, com base na habilidade de questionar, fundamentar, argumentar e contra-argumentar, estudar crítica e autocriticamente, ler autor para se tornar autor, tornar-se autônomo, "contraler" (Demo, 1994). No saber pensar não se decide apenas conhecer, mas mormente ser cidadão capaz de história própria. Falando-se de cidadão, não pode restringir-se a ser cabeça pensante, mas personalidade integral, corpo e mente, espírito e matéria, competitivo e solidário.

Convencer sem vencer implica saber colocar as coisas com respeito, educação, saber escutar os argumentos contrários, responder com elegância, estudar com afinco e acatar propostas alternativas desde que bem fundadas, evitar todo e qualquer fundamentalismo. As pessoas não podem, a rigor, "ser convenci das ". Elas podem, isto si m, ser levadas jeitosamente a se convencerem. Isto pode ocorrer quando as influenciamos de tal modo que não se deixem influenciar. Há uma retórica que é insidiosa, aliciadora, como a dos politiqueiros. Mas há outra que reflete a elegância e fineza de quem sabe se comunicar bem, intercambiar conhecimentos, partilhar experiências. Saber pensar é profundamente sa-ber conviver com a autonomia do outro, dentro da regra democrática também ambígua das autonomias solidárias e competitivas. Ninguém é autônomo se não for minimamente competitivo. Mas a autonomia humana que vale a pena é a solidária (Demo, 2002c).

FILOSOFAR É PRECISO A civilização ocidental não pode ser compreendida sem a filosofia. Com efeito, foi com a filosofia que a cultura grega influenciou nossa forma de pensar e de questionar tanto a natureza quanto o ser humano e as divindades. Junto com a filosofia, surgiu a noção de cidadania, de Estado, de ciência. Quem quiser conhecer a cultura ocidental não pode furtar-se ao estudo da filosofia.

O exemplo dos filósofos gregos nos deixou uma grande lição: nunca se conformar com as estruturas existentes como se fossem as únicas possíveis. Quem quer ser criativo no seu momento histórico deve refletir atenta e criticamente: é preciso filosofar. De fato, não houve época em que não tivéssemos filósofos buscando a verdade e combatendo a ignorância, o obscurantismo, a dominação do homem pelo homem, as guerras e outros atos irracionais que infelicitam a humanidade. Filosofar é preciso para participar criativamente da luta pela humanização.

Se você quiser, poderemos ser amigos! - diz a SOFIA. 1. Etimologia A palavra “FILOSOFIA" é grega: " ". - PHILO FILO => amigo (amor, amizade)

- SOPHIA - SOFIA => sabedoria (saber) O CRIADOR DA PALAVRA:

PITÁGORAS DE SAMOS Séc. V a.C. Motivação: Os deuses, somente eles, possuíam a Sabedoria... Os homens, no máximo, poderiam ser FILÓSOFOS = amigos da Sabedoria Ou seja: PROCURAR, BUSCAR, QUERER AMAR... (e não ser "dono"... da Sabedoria) Que SABEDORIA estavam, os gregos, querendo dizer? SABEDORIA

Não é "inteligência", capacidade intelectual, QI... E: SABER VIVER BEM Sábio é o homem realizado, feliz!

o que dizem sobre mim? - Pergunta a FILOSOFIA 2. EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO Filosofia é... São muitas as definições de FILOSOFIA. Muitas mesmo! Cada filósofo apresenta uma.. . Todas são verdadeiras mas nenhuma é (completamente) A VERDADE! As definições são partes, parcelas da verdade.

FILOSOFIA NÃO É: . Um "ESTILO DE VIDA"; . Um conjunto de "idéias abstratas"; . Uma explicação plausível das coisas complicadas.

- "Filosofia de Vida";

-

Resposta pronta e acabada.

Religião, credo, crença

FILOSOFIA É: (?) ANÁLISE REFLEXÃO

(volta da consciência sobre si mesmo)

-CRÍTICA (das ilusões, dos preconceitos, das teorias, das práticas...) -BUSCA DO FUNDAMENTO (alicerce, raiz) do Sentido da Realidade.

OS CONCEITOS DE FILOSOFAR O verbo filosofar pode ser usado com três significados distintos:

. Como simples sinônimo de "pensar". Às vezes, doenças ou morte de pessoas próximas, decepções, perdas irreparáveis e outros problemas existenciais nos fazem pensar ("filosofar") sobre o sentido de nossa vida. Mas esse significado é por demais vago e amplo para caracterizar o verdadeiro sentido do filosofar. . Como sinônimo de "saber viver" virtuosamente. Aqui, filosofar é viver com sabedoria. O sábio é aquele que se torna um exemplo vivo das virtudes apreciadas em uma sociedade e é tomado como ponto de referência para fortalecer o valor das tradições vigentes. É nesse sentido que as sabedorias orientais são também chamadas "filosofias" . . Como" o filosofar propriamente dito" , que teve início na Grécia, em torno dos séculos VI e V a.C. Por essa época, começou-se a repensar a natureza, o ser humano e as divindades com um olhar crítico. Procurava-se saber a validade dos próprios conhecimentos.Até que ponto a cultura era fruto de fantasias e crenças dos antepassados? O que garantia que as tradições recebidas dos anciãos eram verdadeiras? A filosofia, por-tanto, questiona os fundamentos da cultura. É o que veremos em seguida. OS CONCEITOS DE FILOSOFAR

CORDI,et all.2000c

Por que perguntar por quê? Temos de admitir: é difícil ganhar dinheiro com a filosofia. Será que ela é basicamente inútil? O fato é que a filosofia é inevitável. Na verdade, você tem uma filosofia, mesmo que ache que não. Como todos os outros, você vive a vida de acordo com idéias e suposições sobre a natureza do mundo as quais você foi recolhendo ao longo da estrada. Caso não esteja satisfeito com a maneira de ser das coisas - e quem está? -, talvez você queira repensar suas idéias sobre a realidade. Esse repensar é, justamente, o que os filósofos vêm fazendo ao longo dos séculos. Por exemplo, as pessoas costumavam pensar que, sempre que algo ruim acontecia, os deuses estavam zangados. Pensavam que os deuses queriam que elas demonstrassem sua fidelidade e obediência realizando grandes sacrifícios, até dos próprios filhos!

Gradualmente, as pessoas de mentalidade filosófica começaram a questionar essas suposições. Talvez os deuses ficassem igualmente satisfeitos se deixássemos nossos filhos viverem. Isso exigiu que se repensasse a noção de vida, de Deus e da natureza humana justamente o tipo de reflexão que os filósofos realizam. Hoje, é claro, a incidência de sacrifícios humanos reduziu-se muito. Agradeça a um filósofo.

Você é o que você pensa As pessoas têm muitas idéias boas, e idéias tolas, sobre a realidade. Desemaranhar essas idéias e entender-lhes o sentido ajudará você a compreender melhor sua própria realidade. Este curso pretende exatamente isto: ajudar a reconhecer e entender idéias filosóficas ao deparar com elas e ver quais fazem sentido para você e quais pertencem à lata de lixo da história.

Sabedoria em ação Sócrates, antigo filósofo grego, oferece o bom conselho: "Conhece-te a ti mesmo". Mas essa idéia admite várias interpretações: conhece o que queres; conhece teus limites e fraquezas; conhece como outras pessoas te vêem. Esses são apenas alguns dos significados possíveis dessa máxima. A idéia reforça a famosa declaração de Platão, seu aluno: "A vida não-examinada não vale a pena ser vivida".

Ao fazer este curso, você verá que já pensa muitas coisas. Muitos pensamentos de filósofos importantes podem ter ocorrido a você. Ver a origem de suas idéias e como os outros as usaram poderá ajudá-lo a compreender melhor quem você é e qual o sentido de sua vida. Embora não possa fazer tudo, a filosofia pode fazer algumas coisas importantes. Em particular, ela pode ajudar a pensar sobre o pensamento. Todos fazem isso, e convém fazê-lo bem, tanto por si mesmo como pelos benefícios práticos que podem advir. Para esclarecer seu pensamento sobre o pensamento, e lançar uma luz sobre as grandes e profundas questões da vida. STEVENSON,2002

Alô?! Por favor, uma definição de "Filosofia" ! a) "É A CIÊNCIA DO "POR QUÊ?" - É a ciência do questionamento; ela pergunta sobre tudo; Busca os fundamentos últimos das coisas b)"ÉA CIÊNCIA DA TOTALIDADE" - Estuda tudo, é abrangente. Não tem um objeto definido (como as ciências), seu objeto é o REAL, a REALIDADE.

d)"É SABER ABSOLUTO / UNlVERSAL"

- A filosofia não é parcial; não faz cortes no real; ela é TOTALIZANTE.

c)"É A CIÊNCIA DOS PRIMEIROS PRINCÍPIOS E DOS ULTIMOS FINS DE TODAS AS COISAS“ - Estuda as causas e as FINALIDADES das coisas. ARISTÓTELES

e) "E O ESTUDO DAS CAUSAS HUMANAS E DIVINAS DAS COISAS“ -A filosofia busca o sentido das coisas, os fundamentos, a radicalidade, as raízes, a origem das coisas. Hegel g) "UM SABER VERDADEIRO QUE DEVE SER USADO EM BENEÁCIO DOS SERES HUMANOS“ PLATÃO

f) "É A CIÊNCIA DO ENTENDIMENTO ,DA COMPREENSÃO" - A filosofia busca compreender; busca, quer, saber.. . Ensina a RACIOCINAR BEM.

- A filosofia não é inútil. É para servir ao humano. Busca a verdade para favorecer o homem. h)"E O ESTUDO DA SABEDORIA, DO CONHECIMENTO PERFEITO DE TODAS AS COISAS QUE OS HUMANOS PODEM ALCANÇAR PARA O USO DA VIDA, A CONSERVAÇÃO DA SAÚDE E A INVENÇÃO DAS TÉCNICAS E DAS ARTES“ DESCARTES

- É um conhecimento abrangente, não estéril. Produz-se filosofia visando construir a dignidade humana.

i)"E O CONHECIMENTO QUE A RAZÃO ADQUIRE DE SI MESMA PARA SABER O QUE PODE FAZER TENDO COMO RNALIDADE A FEUCIDADE HUMANA" - É a razão a serviço da vida O pensamento correto, a autocompreensão das coisas para um VIVER FELIZ.

J) “É UM DESPERTAR PARA VER E MUNDAR O NOSSO MUNDO”. MERLEAU-PONTY - É acordar... do sono da inutilidade A filosofia é criativa!

l)“ E UM CAMINHO ÁRDUO E DIFCÍIL, MAS QUE PODE SER PERCORRIDO POR TODOS, SE DESEJAREM A LIBERDADE E A FELICIDADE" - A filosofia exige esforço: busca, pesquisa, sistematização, análise, crítica, leituras, debates...

Jaspers, Karl - (1883-1969)

A Filosofia no Mundo

TEXTO 1

Mas como se põe o mundo em relação com a filosofia? Há cátedras de filosofia nas universidades. Atualmente, representam uma posição embaraçosa. Por força da tradição, a filosofia é polidamente respeitada, mas, no fundo, ,objeto de desprezo. A opinião nada tem a dizer e carece de qualquer utilidade prática. E nomeada em público, mas-existirá realmente? Sua existência se prova, quando menos, pelas medidas de defesa a que dá lugar. A oposição se traduz em fórmulas como: a filosofia é demasiado complexa; não a compreendo; está além de meu alcance; não tenho vocação para ela; e, portanto, não me diz respeito. Ora, isso equivale a dizer: é inútil o interesse pelas questões fundamentais da vida; cabe abster-se de pensar no plano geral para mergulhar, através de trabalho consciencioso, num capítulo qualquer de atividade prática ou intelectual; quanto ao resto, bastará ter "opiniões"e contentar-se com elas. A polêmica torna-se encarniçada. Um instinto vital, ignorado de si mesmo, odeia a filosofia. Ela é perigosa. Se eu a compreendesse, teria de alterar minha vida. Adquiriria outro estado de espírito, veria as coisas a uma claridade insólita, teria de rever meus juízos. Melhor é não pensar filosoficamente.

E surgem os detratores, que desejam substituir a obsoleta filosofia por algo de novo e totalmente diverso. Ela é desprezada como produto fina e mendaz de uma teologia falida. A insensatez das proposições dos filósofos é ironizada. E a filosofia vê-se denunciada como instrumento servil de poderes políticos e outros. Muitos políticos vêem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usam de um inteligência de rebanho. É preciso impedir que homens se tornem sensatos. Mais vale, portanto, que a filosofia seja vista como algo entediante. Oxalá desaparecessem as cátedras de filosofia. Quanto mais vaidades se ensinem, menos estarão os homens arriscados a se deixar tocar pela luz da filosofia. Assim, a filosofia se vê rodeada de inimigos, a maioria dos quais não tem consciência dessa condição. A autocomplacência burguesa, os convencionalismo, o hábito de considerar o bem-estar material como razão suficiente de vida, o hábito de só apreciar a ciência em função de sua utilidade técnica, o ilimitado desejo de poder, a bonomia dos políticos, o fanatismo das ideologias, a aspiração a um nome literário - tudo isto proclama a antifilosofia. E os homens não o percebem porque não se dão conta do que estão fazendo. E permanecem inconscientes de que a antifilosofia é uma filosofia, embora pervertida, que, se aprofundada, engendraria sua própria aniquilação.

O problema crucial é o seguinte: a filosofia aspira à verdade total, que o mundo não quer. A filosofia é, portanto, perturbadora da paz. E a verdade o que será? A filosofia busca a verdade nas múltiplas significações do ser-verdadeiro segundo os modos do abrangente. Busca, mas não possui o significado e substância da verdade única. Para nós, a verdade não é estática e definitiva, mas movimento incessante que penetra no infinito. No mundo, a verdade está em conflito perpétuo. A filosofia leva esse conflito ao extremo, porém o despe de violência. Em suas relações com tudo quanto existe, o filósofo vê a verdade revelar-se a seus olhos, graças ao intercâmbio com outros pensadores e ao processo que o torna transparente a si mesmo. Quem se dedica à filosofia põe-se à procura do homem, escuta o que ele diz, observa o que ele faz e se integra por sua palavra e ação, desejoso de partilhar, com seus concidadãos, do destino comum da humanidade. Eis por que a filosofia não se transforma em credo. Está em contínua pugna consigo mesma.

(Karl Jaspers, Introdução ao pensamento filosófico, p. 138.)

RESUMO DINÂMICO DO TEXTO: "A FILOSOFIA NO MUNDO" de Karl Jaspers

MUNDO (ANFILOSOFIA) -Sou contra a filosofia!

X

FILOSOFIA -Existem as cátedras de filosofia nas Universidades. -Tradicionalmente é respeitada

-Desprezo a Filosofia

-A Filosofia é inútil, não é prática -É demasiado complexa, não a compreendo, está além do meu alcance, não tenho vocação para ela...

-Basta a gente ter “opinião”... -Melhor é não pensar filosoficamente! -Vamos substituí-la por algo novo e diverso

-É nomeado em público! -Isso equivale a dizer: É UNÚTIL O INTERESSE PELA QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA VIDA!

-Se compreendessem a filosofia, teriam que MUDAR de VIDA! -Muitos políticos facilitam seus nefastos trabalhos pela ausência de filosofia... -Muitos funcionários e a massa são mais fáceis de manipular quando não pensam. (INTELIGÊNCIA DE REBANHO)

O PROBLEMA É ESTE:

A FILOSOFIA QUEM SE DEDICA À FILOSOFIA PÔE-SE A PROCURA DO HOMEM

Busca a

VERDADE TOTAL AUTOCOMPLACÊNCIA BURGUESA OS CONVENCIONAUSMOS

O HÁBITO DE CONSIDERAR O BEMESTAR MATERIAL COMO A RAZÃO SUFICIENTE DA VIDA O HÁBITO DE APRECIAR A CIÊNCIA EM RJNÇÃO DE SUA UTIUDADE. O ILIMITADO DESEJO DE PODER

A BONOMIA DOS POLÍTICOS O FANATISMO DAS IDEOLOGIAS A ASPIRAÇÃO A UM NOME UTERÁRIO (a antifilosofia é uma filosofia invertida)

Meu berço é a Grécia! - diz a FILOSOFIA 3. O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

A GRÉCIA

"Nenhuma civilização da Antiguidade se apresenta de modo tão fascinante e atraente como a CIVILIZAÇÃO GREGA". ALGUMAS CARACTERÍSTICAS: Cultor da razão Apreciador da beleza A mente da liberdade.

Nos mais diversos setores do saber humano, a cultura grega deixou uma herança de magníficas realizações, que empolgam os homens desde a Antiguidade até os dias atuais.

Na ESCULTURA, a figura principal é FÍDIAS (500 a.C.): Na ARQUITETURA, destacam-se ICTINOS E CALÍCRATES, construtores do Panteon, em mármore branco, levou 9 anos para ser concluído. Cerca de 2.000 m2. TEATRO: Os gregos foram os criadores da tragédia e comédia. Os principais dramaturgos gregos: ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES... HISTÓRIA – HERÓDOTO (484 a.C.) é considerado o "Pai da História". Viajou por todo o mundo conhecido em sua época. Na MEDICINA, HIPÓCRATES, é conhecido como o "Pai da Medicina". Viveu no séc. Va. C.. As primeiras regras a serem seguidas pelos médicos foram por ele estabelecidas.

espírito da civilização Helênica impregna os mais diferentes setores da nossa vida moderna. O

O povo

grego conquista nossa simpatia por seus excepcionais dotes físicos e intelectuais, impressos na literatura, filosofia, artes, política, etc.

?

Sobre o que perguntavam os primeiros filósofos?

Porque os seres nascem e morrem? Por que os semelhantes dão origem aos semelhantes, de uma árvore nasce outra árvore, de um cão, outro cão, de uma mulher nasce uma criança? Por que tudo muda? Por que a doença invade nossos corpos, rouba-lhes a cor, a força? De onde vêm os seres? Para onde vão? Por que se transformam? Por que tudo parece repetir-se? O dia... a noite... o inverno... a criança... a velhice? Foram perguntas como estas que os primeiros filósofos fizeram e para elas buscavam respostas! O MITO já não explicava satisfatoriamente.. O QUE ERA O MITO? (explicação mitológica)

Características da filosofia: RACIONAL A razão (racionalidade) com seus princípios e regras é o critério de explicação das coisas....

CRÍTICA A capacidade de emitir julgamento (criticidade) faz da filosofia um saber exigente e analítico.

RADICAL A busca dos fundamentos (radicalidade) caracteriza esse saber que não quer ser superficial...

TOTALIZANTE A tendência ao questionamento de tudo (totalidade), faz a abrangência da filosofia.

Condições históricas para o surgimento da Filosofia Resolvido esse problema, temos ainda um último a solucionar: O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século VII e no início do século VI antes de Cristo? Quais as condições materiais, isto é, econômicas, sociais, políticas e históricas que permitiram o surgimento da Filosofia? Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia:

● As viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer; ● A invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível; ● A invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização;

● O surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um ambiente onde a Filosofia poderia surgir; ● A invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, diferentemente de outras escritas - como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses -, supõe que não se represente uma imagem da coisa que está sendo dita, mas a idéia dela, o que dela se pensa e se transcreve; ● A invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da Filosofia: 1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O aspecto legislado e regulado da cidade - da polis - servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional.

De Marilena Chaui Ed. Ática, São Paulo, 2000.

UNIDADE I.2

MITO: Um jeito diferente de pensar.

Mitologia é linguagem poética.

MITO È uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem, do mal, da saúde, da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, da guerra, do poder...)

A palavra MITO VEM DO GREGO "mythos" e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo - contar, narrar, falar alguma coisa para os outros. do verbo mytheo - conversar, contar, narrar, anunciar, nomear. Para os gregos, É UM DISCURSO PRONUNCIADO ou PROFERIDO PARA OUVINTES QUE RECEBEM COMO VERDADEIRA A NARRATIVA, PORQUE CONAAM NAQUElE QUE NARRA. Quem narra oMito?

O poeta -rapsado. Acredita-se que o poeta é um escolhido pelos deuses, é instruído por eles... Sua palavra - O MITO- é sagrada porque vem de uma revelação divina.

Como o MITO narra a origem do mundo e de tudo o que existe nele?

De três maneiras principais:

. ENCONTRANDO o pai e a mãe das coisas (GENEALOGIA), isto é, narrativa de geração dos seres, das coisas, das qualidades... . ENCONTRANDO uma rivalidade ou uma aliança entre os deuses que faz surgir alguma coisa no mundo. . ENCONTRANDO recompensas ou castigos que os deuses dão a quem desobedeceu ou a quem obedece.

A FILOSOFIA, percebendo as contradições e as limitações dos mitos, foi reformulando e transformando-os numa explicação inteiramente nova e diferente.

Mito e filosofia A palavra "filosofia" vem do grego philos + sophia, onde philos tem a ver com filiação, amizade, e sophía designa sabedoria. Considerando exclusivamente a etimologia do termo filosofia, o que se obtém é que o filósofo é amigo da sabedoria, está filiado à em-presa que busca a sabedoria, procura o conhecimento - o saber verdadeiro. O filósofo é aquele que isola a mentira, que aponta o que é falso. Sendo assim, o verdadeiro e o falso, dicotomicamente falando, estão na raiz da conversação que se instalou, no Ocidente, como a Filosofia. Pode ser que a filosofia, hoje mais do que ontem, não seja a "busca por um saber último, a Verdade", mas não se pode negar que o par verdadeiro-falso ou, de modo mais preciso, a discussão sobre a natureza da verdade, ainda faz sucesso em certas conversações, e que tais conversações são as que atribuímos àqueles que chamamos de filósofos. Todavia, hoje, algumas disputas atribuídas ao campo da filosofia não seriam levadas tão a sério como no passado recente. A idéia tradicional de que a filosofia espelha a razão na disputa "mito versus razão", e que tal disputa é a mesma que "ficção versus filosofia", não é mais algo que se possa endossar sem ressalvas. O que se pode dizer então, atualmente, sobre a relação entre mito e filosofia?

A filosofia, na perspectiva dos pensadores da Grécia antiga, mediante relações causais e relações racionais. O mito, por sua vez, não trabalha com a explicação por causa ou a explicação por razão. Qual é, então, sua função? A palavra mito vem do grego mythos. Dois verbos confluem para mythos: mytheo, que é a conversação e a designação, e mytheyo, que é a narração, o contar algo para outro. O mito narra algo que é inquestionável para quem está inserido fielmente na atividade de ouvi-lo. O papel do mito é o de informar as pessoas e dar sentido à existência delas, as que crêem nele, mas, principalmente, o mito deve socializar os que vivem em uma comunidade que é mantida unida, em grande parte, por tal função de agregação que ele proporciona. A comunidade que forma o "nós", os que se organizam socialmente a mesma forma e se tomam como “semelhantes”, possui em comum, exatamente, o mito. Assim, o mito é um ele-mento forte na Grécia antiga porque fornece cimento interno e, além disso, é a narrativa (única) que diz o que é comum para este "nós" - os gregos. Todavia, quando a filosofia cobra do mito explicações de eventos, situações, ocorrências, e não obtém uma cadeia causal ou uma cadeia de razões, decepciona-se. O mito cai na berlinda como narrativa explicativa. Não sendo uma narrativa explicativa, perde prerrogativas também em algum outro campo além do conhecimento - não tem mais sua função socializadora reconhecida (função esta só observada, em detalhes, bem recentemente, por sociólogos do século XIX) e torna-se aos olhos de vários homens apenas mentira, falsidade etc. A filosofia fica responsável por tudo que passa a importar, intelectualmente, para as camadas letradas: a explicação.

Autoridade do mito O mito é uma história religiosa re-velada com autoridade supostamente indiscutível. O passado é descrito como as tradições que não admitem nenhuma crítica: "É assim, porque foi dito que é as-sim", O texto a seguir nos fala um pouco sobre isso "o mito conta uma história sagrada, quer dizer. um acontecimento primordial que teve lugar no começo do Tempo, ob initio ("desde o início"), Mas contar uma história sagrada equivale a revelar um Mistério, porque as personagens do mito não são seres humanos: são Deuses ou Heróis civilizadores, e por esta razão as suas gesto (" ações memoráveis ") constituem Mistérios: o homem não poderia conhecê-los se lhos não revelassem. O mito é pois, a história do que se passou in iIIo tempore (" naquele tempo "), a narração daquilo que os Deuses ou os Seres divinos fizeram no começo do Tempo. 'Dizer' um mito é proclamar o que se passou ob origine ("desde a origem"). Uma vez 'dito', quer dizer. revelado, o mito torna-se verdade apodítica: funda a verdade absoluta. 'É assim, porque foi dito que é assim', declaram os Eskimo netsilik("tribo de esquimós") a fim de justificarem a validade da sua história sagrada e de suas tradições religiosas."

UNIDADE I.3 A FILOSOFIA ORIENTAL : Outro de pensar.

modo

O fascínio do Oriente: a religião influenciada pela Filosofia.

Filosofia oriental Enquanto isso, no outro lado do mundo, a filosofia tomava um rumo totalmente diferente. Para muitos ocidentais, a filosofia oriental parecia superior à sua própria filosofia por estar mais sintonizada com a natureza, tanto a natureza humana quanto a natureza da sociedade humana. Essa sintonia está ligada ao fato de que a filosofia oriental normalmente não conta com a complexa metafisica desenvolvida no Ocidente, que aos olhos de muitas pessoas atrapalha a visão da realidade. Além disso, na filosofia oriental costuma não haver a distinção rígida, imposta por grande parte da filosofia ocidental, entre subjetividade e objetividade. Em decorrência disso, a filosofia oriental tende a não buscar o controle da realidade, mas reconhecer que fazemos todos parte dela. Há três grandes tradições na filosofia oriental: uma do Extremo Oriente, outra da fndia e a terceira do Oriente Médio. Elas tiveram forte impacto na forma de pensar dos ocidentais.

Filosofia do Extremo Oriente Neste capítulo •As duas grandes filosofias da China: confucionismo e taoísmo •Como a filosofia de Confúcio tenta melhorar a sociedade •A idéia de cerimônia aplicada à vida diária •A unidade com a natureza para o taoísmo Grande parte da filosofia ocidental é fortemente influenciada pela religião. No Extremo Oriente, dá-se o contrário: a religião é influenciada pela filosofia. A filosofia teve um profundo impacto nas culturas asiáticas, assim como a religião nas culturas européias.

Na verdade, a filosofia oriental influenciou os ocidentais também. Os europeus começaram a ter conhecimento da filosofia oriental no século XVII e, desde então, os filósofos ocidentais vêm se inspirando no Oriente. Dessa forma, Confúcio é pelo menos tão familiar quanto Pia tão para a maioria dos ocidentais e o conceito oriental de Tao (o caminho) tão familiar quanto o conceito ocidental de empirismo. O confucionismo e o taoísmo são as duas princípais correntes da filosofia do Extremo Oriente. Embora bastante diferentes uma da outra, ambas partem da idéia de que natureza e cultura devem funcionar juntas.

Um cavalheiro erudito Confúcio, nome dado pelos ocidentais ao filósofo conhecido na China como K'ung Fu-tze (551-479 a.c.), preocupou-se especialmente com o problema da corrupção no governo. Ele observou que a classe dirigente da China, a nobreza aristocrática, tirava proveito das pessoas que eram governadas, impondo pesados tributos para sustentar seu estilo de vida luxuoso.

Devido às extremas desigualdades entre os poucos governantes e o resto da população da China, a maior parte do povo tinha pouquíssimos meios de subsistência e levava uma vida de privações. Por isso, ninguém confiava em ninguém. O povo não respeitava os governantes, que por sua vez o tiranizavam. As coisas estavam difíceis na China.

Filosofato Quando os ocidentais descobriram a filosofia chinesa, era costume latinizar os nomes de pessoas importantes e porisso chamaram K'ung Fu-tze de 'Confúcio'. Outro famoso nome latinizado é 'Nicolaus Copernicus', para o astrônomo polonês Mikolaj Kopernik.

Estamos todos no mesmo barco Confúcio, que visava os melhores interesses do povo, desenvolveu uma forma de pensamento que achava poder ajudar a resolver os problemas da China. Sua abordagem pretendia fazer com que governantes e autoridades do governo parassem de tirar proveito do povo e conquistassem seu respeito sem recorrer à força. Suas idéias, dirigidas aos problemas governamentais, acabaram resolvendo muitos outros problemas também.

A idéia de Confúcio para um bom governo incluía todas as pessoas, não apenas os governantes. Embora alguns chineses (particularmente os de sangue azul!) achassem que somente quem tivesse raízes aristocráticas deveria governar, Confúcio discordou deles. Os mais capazes é que deveriam governar, tivessem ou não nascido em berço de ouro.

Essa era uma importante inovação. Até então, acreditavase que as famílias governantes eram enviadas pelo firmamento. Mas essa crença começava a ser contestada, pois via-se que os governantes não eram muito hábeis para cuidar das coisas e dependiam da força militar, não da intervenção divina, para manterem o poder. Mesmo assim, persistia a idéia de que somente pessoas de certas famílias deveriam governar, sobretudo por concordar com a tradição chinesa de reverência aos ancestrais. Esperava-se que os filhos imitassem os pais e seguissem a tradição. A idéia de Confúcio de que a função de governar deveria simplesmente caber aos mais capazes rompeu com a longa tradição do governo familiar herdado. Confúcio sabia que, se levasse sua posição ao extremo, não iria muito longe; portanto, afirmou que a família de governantes deveria permanecer como autoridade simbólica e deixar a tarefa de governar aos mais qualificados.

Filosofato Confúcio queria se torna r uma Autoridade do governo, mas não estava disposto a obedecer às ordens injustas de seus superiores. Assim, em vez de governar, passou a vida ensinando os outros muitos dos quais tornaramse autoridades do governo.

Liderança pelo exemplo As pessoas não precisam ser ameaçadas e intimidadas para obedecerem, argumentou Confúcio. Elas mostrarão respeito e fidelidade aos governantes que, pela experiência e estudo, aprenderam a governar bem e entendem o povo.

Para Confúcio, a idéia de influenciar pelo exemplo funcionava em duas direções. Não apenas os governantes deveriam ser bons modelos, mas o povo deveria também mostrar aos líderes como liderar, sendo seguidores fiéis. Ou seja, o povo deveria agir conforme seu julgamento e recusar-se a obedecer a ordens insensatas ou más, ao mesmo tempo em que obedecia fielmente a todas as outras ordens.

Governo baseado em li

Léxico Li é a palavra chinesa para 'cortesia e cerimônia'. Confúcio usou o termo Para reunir as idéias de ritual e respeito e aplicá-las às relações diárias com os outros.

O bom governo de Confúcio baseia-se no princípio conhecido como li: comportar-se com cortesia e cerimônia. Em sua época, a palavra costumava ser aplicada à prática de venerar os ancestrais. Os ancestrais eram considerados extremamente importantes; na verdade, era costume oferecer sacrifícios aos ancestrais mortos. Confúcio não interferiu nessa prática, mas tentou dar-lhe uma aplicação mais produtiva. Ele disse que as pessoas deveriam mostrar umas às outras o mesmo respeito que mostravam aos ancestrais.

Respeito e bom... Por exemplo, Confúcio ensinou que, se alguém vem visitá-lo, você deve tratá-lo com o mesmo respeito que mostraria. se estivesse presidindo um importante ritual de sacrifício. Convenção, ritual e respeito devem sempre ser observados nas relações com os outros.

Mas a ênfase de Confúcio na convenção não significava que as pessoas não devessem pensar por si próprias. Embora ele acreditasse que todos precisavam aprender a valorizar as formas convencionais de agir e a ocupar seu lugar na sociedade, ele não pensava que as pessoas devessem seguir as convenções cegamente ou limitar-se às aparências. Exibições de respeito espalhafatosas e insinceras não seriam tão boas como demonstrações simples e sinceras. Além disso, é válido fugir da convenção quando se tem um bom motivo.

Lidar com a tradição Por exemplo, se é costume servir molho de ameixas nos jantares especiais de família, mas você detesta esse molho, pode substituí-lo por molho de amoras. A idéia é que as pessoas podem influenciar e mudar a tradição.

Na verdade, Confúcio acreditava que é importante que todos estejam envolvidos nos acontecimentos. Se você estiver insatisfeito com a forma convencional de agir, não tem o direito de se isolar; você deve adaptar a convenção para tentar encontrar um modo de agir que faça sentido e seja satisfatório para você. Desse modo, todos estão envolvidos no li, na busca de um modo de agir com que todos fiquem contentes e que todos possam reconhecer como importante. Foi exatamente isso que Confúcio fez na tentativa de reformar o governo chinês. Embora tivesse várias idéias para transformar as coisas, nunca condenou a maneira tradicional. Ele recorreu à tradição sempre que possível. Por exemplo, ele não disse que era perda de tempo oferecer sacrifícios aos mortos. Pelo contrário, reconheceu o valor da devoção e da cerimônia e percebeu que tais hábitos poderiam se voltar para fins práticos.

Sabedoria em ação Use a prática confucionista de lidar com a tradição para se adaptar a qualquer grupo de pessoas que age diferentemente de você.

Bons hábitos mentais O valor de li não está apenas no fato de mostrar respeito pelas outras pessoas, mas também de prepará-las mentalmente para a tarefa a realizar. As atividades das pessoas são importantes e requerem concentração e atenção para serem bem-feitas. Isso é especialmente válido na condução dos assuntos do Estado, mas aplica-se igualmente a outros aspectos da vida.

Respeito pelo que você faz A idéia de li significa não apenas agir respeitosamente, mas momento e lugar apropriados, de acordo com o costume. Se você tiver muitas coisas por fazer e elas não parecerem particularmente importantes ou interessantes, tenderá a fazê-las às pressas e realizará um trabalho ruim. Além disso, você estará pensando em outras coisas durante o trabalho, tomando-se ineficiente. Você ficará insatisfeito e não gostará do resultado. Além disso, vai procurar maneiras de escapar ao trabalho; por exemplo,empurrá-lo para outra pessoa ou deixá-lo pela metade, mesmo que isso acarrete problemas para você e para os outros.

Sabedoria em ação Aplique o conceito de li ao trabalho que tem de realizar. Isso o ajudará a reconhecer sua importância e prepararse mentalmente para desempenhá-lo bem.

Se, por outro lado, você se preparar mentalmente para o que tem de fazer, o trabalho será mais tranqüilo, mais agradável e o resultado, mais satisfatório para todos. Para isso, ensinou Confúcio, pense por que o trabalho é importante, e como e quando irá realizá-lo. É aí que entra a convenção. Ela pode ajudar a decidir como e quando agir. Se, por qualquer motivo, a convenção atrapalhar mais do que ajudar, você pode simplesmente mudá-la sem fazer grande alarde a respeito.

Confúcio versus confusão Fazendo as coisas ponderadamente e de acordo com a convenção, as pessoas podem criar menos problemas para si e para os outros. Todos estão de acordo, se há uma compreensão comum do que é importante, mas podem decidir por si próprios a melhor maneira de realizá-la. Pense quão bem tudo funcionaria em um mundo onde todos tivessem essa atitude. Confúcio achou que tal mundo funcionaria melhor do que aquele em que vivia, de modo que ensinou às pessoas sua filosofia. Embora nova em vários aspectos, ela também se baseava em antigas idéias com que os chineses já estavam familiarizados. Uma dessas idéias é o Tao. Tao é uma palavra chinesa que significa 'caminho'. Para Confúcio, o Tao implicava encontrar a dose certa de convenção e consciência pessoal.

Fifosofato Embora taoísmo e confucionismo sejam Filosofias distintas e se oponham em vários tópicos, ambas baseiam-se na idéia de 'o caminho'.

Taoísmo

A noção de Tao não costuma ser associada a Confúcio, embora ele usasse os conceitos do Tao em seu ensinamento. O Tao tornou-se a base do taoísmo, um importante ramo da filosofia chinesa que em muitos casos se opõe ao confucionismo. O taoísmo difere dos ensinamentos de Confúcio por enfatizar a sintonia com a natureza, em vez de se preocupar fundamentalmente com as questões práticas do relacionamento com os outros.

À semelhança da filosofia de Confúcio, o taoísmo surgiu a partir de várias concepções chinesas durante o século VI a.c. Atribui-se ao antigo filósofo ('o velho mestre') o estabelecimento e o ensino do taoísmo. Ao contrário de Confúcio, que acreditava na importância da convenção, Lao-tse ensinou que a convenção costumava ser prejudicial, por interferir em nossa capacidade natural de viver em harmonia com o Tao. Para Lao-tse e os taoístas, o Tao é natural e não social- muitos taoístas isolaram-se para levar uma vida mais natural. O objetivo do taoísmo não é criar uma sociedade ideal, mas atingir a unidade com o Tao, 'o caminho', que é compreendido como um princípio natural. A pessoa capaz de harmonizar-se com 'o caminho', capaz de desligar-se das preocupações da sociedade, será feliz e saudável, e viverá uma vida longa.

Seguir o fluxo Lao-tse ensinou que a melhor maneira de viver de acordo com o Tao era seguir um princípio denominado wu-wei. Wu-wei pode ser traduzido aproximadamente como 'receptividade'. Agir de acordo com wu-wei é aceitar as coisas como elas 'são, ir com o fluxo e tentar não se fazer valer ou mudar o curso natural das coisas. Digamos, por exemplo, que você deseja comprar um produto difícil de achar. Finalmente, uma loja para onde você telefona informa que dispõe do produto. Como a loja fica a 15 quilômetros de sua cidade, você tem que percorrer o trajeto especialmente para isso. Ao chegar lá, descobre que a pessoa com quem falou entendeu maIo que você disse que queria. Você explica de novo o que quer, mas a loja não dispõe do produto. Se você for como muitas pessoas, poderá ficar furioso, reclamar, discutir e fazer um escândalo. Se, por outro lado, você seguir o princípio do wu-wei, além de não se aborrecer, achará graça do ocorrido.

Um taoísta consideraria que realmente não importa se você atinge ou não seus objetivos. O importante é, simplesmente, fazer parte do processo da vida. Por esse motivo, os taoístas adoram a natureza. A natureza funciona espontaneamente e o que quer que aconteça nela sempre acaba funcionando corretamente.

Essa visão da natureza distingue o taoísmo do estoicismo helenístico (ver o Capítulo 8). Taoístas e estóicos acreditam no desprendimento e na sujeição aos acontecimentos, mas os taoístas vêem a natureza como benevolente, enquanto os estóicos crêem em um 'destino' hostil. Na verdade, se você acha que as coisas estão dando errado, é apenas seu ponto de vista. Para você, pode parecer ruim perder tempo viajando para fora da cidade. Para o taoísta, não faz nenhuma diferença. A vida continua. Já que está fora da cidade, que tal passear no bosque e observar como tudo na natureza coexiste em um estado de constante mudança?

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Léxico Tao é uma palavra chinesa que significa 'caminho'. Wu-wei é um princípio taoísta que significa receptividade, implica também aceitação e espontaneidade.

Sabedoria em ação Use o princípio do wu-wel numa situação em que não souber o que esperar. Em vez de se sentir ansioso, você estará disposto a aceitar o que quer que aconteça e a reagir de maneira espontânea.

Preocupe-se menos e viva mais tempo As coisas vivem, crescem e morrem. Mesmo a morte não é algo ruim, é parte do que acontece. O fato de que nossa consciência cessa quando morremos não deve nos preocupar. Devemos ser receptivos em relação à morte, no espírito do wu-wei. Os taoístas acreditam que, quanto mais você aceitar a morte e outros acontecimentos naturais, mais saudável será e mais tempo viverá. Ao não se preocupar com o rumo da natureza, você pode tornar-se parte dela de uma forma mais plena. Esse paradoxo - que quanto menos você se preocupar com a morte mais tempo viverá - é típico do modo de pensar taoísta. Os ensinamentos taoístas estão cheios de paradoxos. Na verdade, os taoístas acreditam que o Tao nunca pode ser explicado em palavras, pois elas, como todo o resto, existem em um estado de fluxo constante.

Léxico Paradoxo é uma Afirmação que combina duas idéias aparentemente opostas, produzindo uma verdade mais sutil.

Os taoístas acreditam que tudo que existe caminha para transformar-se em seu oposto. A vida está sempre se tomando morte e a morte, se tornando vida. Coisas úmidas estão sempre se tomando secas, coisas secas, se tomando úmidas; coisas fortes, se tornando fracas e coisas fracas, se tomando fortes. Verão e inverno se alternam. O mundo mantém-se unido em um estado de equilíbrio mutável.

Quanto mais as coisas permanecem as mesmas

mudam,

mais

Essa condição de opostos mutáveis equilibrados ilustra o conceito taoísta do yín e yang. Yín e yang são princípios opostos que fazem parte da mesma realidade. O todo constituído de yin e yang é representado por um conhecido símbolo. Nesse símbolo, a parte preta e a parte branca formam um círculo, representando a completude. Elas parecem estar se movendo uma em direção à outra, como se tentassem se transformar em seus opostos. Além disso, a parte preta possui um ponto branco no meio, assim como a parte branca possui um ponto preto. Isso mostra que as coisas se constituem de seus opostos. Os taoístas vêem o mundo como constituído de coisas que podem ser classificadas como yín ou yang. Yín é feminino: a Terra, a água e o inverno. Yang é masculino: o céu, o fogo e o verão. Os taoístas acreditam que aprender a reconhecer a interação entre yín e yang pode ajudar a nos ajustarmos harmoniosamente ao constante processo de mudança.

Léxico Vin e yang são princípios taoístas complementares. Yin é o aspecto feminino e yang, o masculino.

Filosofia ou leitura da sorte? Os conceitos do yín e yang são usados pelos taoístas para compreender os processos naturais. Alguns taoístas aplicam essa compreensão da natureza também ao mundo social, vendo situações cotidianas e assuntos práticos a partir de aspectos do yín e yang.

Um exemplo do modo como yín e yang podem ser aplicados à vida social está no antigo livro I Chíng, ou Livro das mutações. Esse livro combina conselhos práticos sobre etiqueta e administração com pensamentos sobre o mundo natural, além de um sistema ordenado de prever o futuro.

o I Ching assemelha-se às vezes ao horóscopo ocidental, só que, em vez de analisar o alinhamento de estrelas e planetas para ler sua sorte, você interpreta uma combinação particular de características yin e yang. Usando uma linha pontilhada para representar yin e uma linha contínua para representar yang, o I Ching baseia-se em 64 diferentes combinações possíveis de seis linhas yin e yang. Cada uma dessas combinações, conhecidas como hexagramas, representa uma conjuntura diferente que é aplicada à sua vida e interpretada.

Filosofato Segundo a tradição, Confúcio só começou a estudar o Livro das mutações aos 70 anos.

O sentido de cada hexagrama é explicado por interpretações poéticas e filosóficas. Após selecionar um hexagrama, você pode aplicar suas interpretações a determinada situação e tirar conclusões sobre como agir em relação a ela.

Acredita-se que muitas dessas interpretações foram escritas pelo próprio Confúcio. O I Ching, portanto, representa uma combinação de confucionismo prático e taoísmo natural, bem como uma combinação de filosofia e oráculo. o mínimo que você precisa saber A filosofia confucionista enfatiza que todas as pessoas são responsáveis por sua parte na sociedade. Confúcio buscou uma mudança gradual das formas tradicionais de agir. Li é o conceito de cortesia e cerimônia que Confúcio aplicava ao trabalho e às relações do dia-a-dia. O taoísmo enfatiza a unidade com a natureza. Wu-wei é o princípio taoísta de receptividade e aceitação. A visão de mundo taoísta, simbolizada por yin e yang, vê as coisas em um constante estado de mudança. O I Ching é um antigo livro que combina as sabedorias confucionista e taoísta, além de filosofia e leitura da sorte.

Filosofia Indiana Neste capítulo q Como a filosofia indiana busca a libertação do sofrimento q Carma e respeito por todos os seres vivos q Filosofia e sistema de castas q Budismo e libertação da individualidade q A filosofia de Gandhi da resistência A filosofia na Índia é pelo menos tão antiga quanto a filosofia grega e continua influenciando milhões de pessoas atualmente, inclusive os ocidentais. Você já deve estar familiarizado com o conceito de carma - a idéia de que aquilo que você faz agora poderá afetar acontecimentos que se darão com você mais à frente. Você já deve ter ouvido falar na tentativa de alcançar um estado de consciência superior pela meditação ou ioga. Essas idéias vêm da filosofia indiana. Entre os filósofos indianos importantes cujos nomes nos são familiares estão Sidarta Gautama (o Buda) e Mohandas 'Mahatma' Gandhi. A maior parte da filosofia indiana procede de antigos textos conhecidos como os Vedas. O pensamento expresso nos Vedas - conhecido como Vedanta - foi reformulado, revisado e reafirmado de diferentes formas ao longo dos séculos, resultando em uma das mais importantes coletâneas filosóficas do mundo.

Acima do sofrimento Uma das principais idéias por trás da filosofia indiana é que a existência, repleta de sofrimento, pode ser transcendida - podemos nos elevar acima dela. Esse estado de transcendência costuma ser associado à felicidade e à paz, ele acontece quando o indivíduo se liberta da realidade. Os hindus denominam esse estado mocsa e os budistas, nirvana.

Muitos hinduístas e budistas acreditam que é possível transcender as preocupações mundanas por meio de estudo, meditação, ioga ou uma combinação dos três. (A ioga é uma forma de exercício para controlar mente e corpo.) A idéia de transcendência deriva de uma idéia mais antiga, pela qual só nos libertamos de tais preocupações após a morte, após termos vivido sabiamente e renunciado ao mundo durante esta vida.

Filosofato Nirvana literalmente significa 'extinção', como a extinção de uma chama. Refere-se à extinção da chama do desejo egoísta, resultando em um estado de felicidade.

De acordo com essa idéia, a melhor coisa que podemos esperar ao morrer é a libertação da existência mundana. Estamos ligados à existência pelo carma,o princípio de que nossas ações determinam o que acontece conosco. Se vivermos bem, poderemos ser libertos após a morte. Se não vivermos bem, reencarnaremos em uma nova vida. Esta será determinada pelo carma praticado na encarnação anterior.

É carma! Seu carma determina não apenas se você reencamará ou não, mas que tipo de existência terá caso reencame. Você poderá retomar como pássaro, árvore ou escaravelho, dependendo de como viveu a vida anterior. Muitos hinduístas e budistas encaram todos os seres vivos como dotados de almas essencialmente iguais e ligadas umas às outras. Por isso, eles consideram errado matar qualquer ser vivo. Mesmo matar um inseto pode resultar em um carma ruim, pois, como ser vivo, ele é tão importante quanto uma pessoa. Esse respeito por todos os seres vivos expressa-se no princípio de ahimsa, ou não-violência.

Embora o pensamento védico veja todos os seres vivos como essencialmente iguais, todas as coisas diferem entre si. Isso se aplica principalmente às pessoas, que, na sociedade indiana, tradicionalmente ocupam diferentes posições determinadas pelo nascimento.

Léxico Ahimsa é O princípio hinduísta e budista de não-violência que estimula o respeito por todos os seres vivos .

De fato, segundo os Vedas, seu carma determina a posição que você ocupará na sociedade. A sociedade indiana era estruturada pelo sistema de castas, que dividia as pessoas em quatro grupos. A casta inferior constituía-se de criados e trabalhadores, depois vinham os mercadores, os soldados e, finalmente, no topo, os sacerdotes.

Léxico A maior parte da filosofia Indiana baseia-se em antigos textos conhecidos como os Vedas. A partir dos Vedas desenvolveu-se a idéia hinduísta de mocsa, ou libertação do sofrimento, que os budistas denominam nirvana. Outra idéia védica importante é o carma, a totalidade de nossas ações que determina o que nos acontecerá no futuro. Ioga é uma forma de exercício mental e físico que, conforme acreditam muitos hinduístas, ajuda a levar à

mocsa.

Castas híndus Acreditava-se que nascer na casta sacerdotal em vez de na casta dos trabalhadores devia-se a um carma melhor resultante das ações em uma vida passada. Se você estivesse em uma casta inferior, poderia esperar melhorar de posição na próxima vida vivendo bem -mantendo-se na linha e não causando problemas. •Brâmanes Sacerdotes e sábios •Xátrias Guerreiros e administradores •Vai xás Mercadores •Sudras Criados e trabalhadores

A prática leva à perfeição

Léxico

Os Vedas fornecem uma série de regras de como as pessoas e os vários deuses hindus devem viver; elas são conhecidas como darma. Seu darma - que descreve seus deveres para com os deuses, os vizinhos, a família e você próprio - é determinado por sua casta, ocupação, idade e posição na família. Embora o darma seja um princípio unificador que liga as pessoas entre si e aos deuses, cada um pode praticá-lo de maneira diferente. Seguindo fielmente seu darma, você pode se libertar do ciclo do carma.

O sistema de castas, segundo o qual cada um nasce para ocupar uma posição específica na sociedade, definiu a estrutura da índia durante séculos. Cada casta tem uma maneira diferente de satisfazer o darma, os deveres que temos de cumprir com os deuses, nossas famílias, nossos vizinhos e nós próprios.

Dever hindu Sua maneira específica de seguir o darma depende não apenas de quem você é, mas da altura da vida em que você está. O darma apropriado muda com a idade. Geralmente, quando você é jovem, deve se dedicar ao estudo. Ao ficar mais velho, deve se concentrar em sua profissão e em cuidar da família. Mais tarde, deve se retirar da sociedade para meditar e talvez praticar ioga. Desse modo, no final da vida, você terá dominado os desejos mundanos e estará pronto para se libertar definitivamente da existência material.

Seguindo o darma cuidadosamente, você poderá atingir o estado de mocsa durante esta vida e se libertar do ciclo de reencarnações de volta a este mundo de sofrimento. Além disso, você estará seguindo regras de existência baseadas na essência da realidade.

o carma é uma boa idéia? Vários benefícios advêm de acreditar no carma, seguir o darma e tentar atingir a mocsa. Se você tiver uma vida dura, será mais fácil desligar-se dos problemas e enxergar além deles. Além disso, você dificilmente prejudicará as outras pessoas, pois estará concentrado em sua própria paz interior. Por outro lado, acreditar no carma induz as pessoas a se sujeitar às dificuldades, em vez de procurar transformá-las. Isso se aplica especialmente aos membros das castas inferiores. Essas pessoas aprendem que são socialmente inferiores devido aos próprios erros cometidos em uma vida anterior. Assim, muitos consideram os conceitos tradicionais de carma e darma não apenas falsos, mas também injustos.

Sabedoria em ação

Use a idéia de carma para Explicar por que coisas boas acontecem com você aparentemente por acaso. Diga que você foi especialmente virtuoso em uma vida passada, sendo portanto recompensado nesta vida.

Teste da realidade

Muitas pessoas acreditam que a idéia de carma ajudou a manter durante séculos o injusto sistema de castas da índia. As pessoas forçadas a realizar os piores trabalhos estão sendo punidas pelas ações em uma vida passada? Ou o carma é uma maneira de culpar as vítimas?

O iluminado Um dos que quiseram modificar as crenças hinduístas foi Sidarta Gautama, o mestre que passou a ser conhecido como Buda. Embora muitas idéias de Buda sejam provenientes da antiga filosofia hinduísta, ele acrescentou algumas inovações importantes. A principal é a rejeição ao sistema de castas. Além disso, acreditava na renúncia não apenas aos prazeres mundanos, como ensinavam os Vedas, mas à própria idéia do eu.

Buda Buda foi um príncipe indiano que cresceu cercado de proteção e luxo. Querendo saber mais sobre a vida, saiu ao mundo e impressionou-se com o sofrimento que viu. Por toda parte, encontrou pessoas pobres, famintas, doentes, velhas e resignadas a uma vida de trabalho duro. Motivado pela necessidade de aliviar tal sofrimento, dedicou-se à religião. Dominou todos os princípios religiosos que estudou, inclusive a meditação e o 'ascetismo'.

Segundo a lenda, ainda insatisfeito, sentou-se sob uma árvore para meditar. Enfim, encontrou a resposta: a maneira correta de viver não consistia em buscar o prazer nem em privar-se das necessidades físicas, mas em atingir a sabedoria que permite enxergar além da idéia enganadora do 'eu'. Buda obteve essa sabedoria e passou o resto da vida ensinando-a aos outros. O termo Buda significa '0 desperto' ou '0 iluminado'. O budismo não enfatiza a fé em um Deus incognoscível ou em uma vida após a morte, mas o conhecimento voltado para a transcendência do eu.

Libertar o eu de si próprio Como grande parte da filosofia hinduísta, o budismo parte da idéia de que a vida é sofrimento. Mesmos os deuses sofrem. De acordo com o budismo, o sofrimento faz parte da estrutura da realidade, estamos todos presos ao sofrimento por nossos desejos.

O problema não é apenas que dificilmente obteremos o que desejamos da vida, mas que, mesmo que o obtenhamos, não seremos realmente felizes em conseqüência disso. Satisfazer nossos desejos apenas levará a novos desejos, em última análise, nunca ficaremos satisfeitos. Pelo contrário, apenas nos ligaremos mais intimamente ao sofrimento decorrente do desejo incessante e continuaremos nos iludindo com a idéia do eu.

Léxico Ascetismo é a prática de privar-se de confortos e necessidades físicos, geralmente visando transcendê-las, e se concentrar em coisas mais elevadas. Vem sendo praticado ao longo dos tempos por muitos hinduístas e cristãos.

Se você estiver preocupado consigo próprio, estará propenso a experimentar o sofrimento. O desejo é essencialmente egoísta e só leva as pessoas a acharem que são importantes como indivíduos e não como parte de uma realidade de sofrimento que pode ser transcendida. Para os budistas, o eu é uma ilusão que impede as pessoas de atingirem o nirvana. A solução para o sofrimento, portanto, é eliminar o desejo egoísta. Para mostrar às pessoas como fazer isso, Buda descreveu o que se conhece como Senda Octupla - oito passos para atingir a iluminação e libertar o eu de si próprio e seus anseios.

Fifosofato Sidarta Gautama, o Buda, é apenas um dos vários budas, ou 'despertos', reconhecidos pelos budistas. De acordo com eles, houve vários budas - mestres iluminados -no passado e muitos ainda virão.

A senda óctupla •Visão Correta •Pensamento Correto •Palavra Correta •Ação Correta •Modo de Vida Correto • Esforço Correto •Atenção Correta •Concentração Correta

Diferentes budistas oferecem interpretações diferentes do que significa ser 'correto'. A Senda Óctupla não é um dogma, tem a finalidade de auxiliá-lo a se concentrar na iluminação. Seguir a Senda Óctupla, de acordo com Buda, pode ajudar a atingir o nirvana e a libertar-se da cadeia do sofrimento que caracteriza a existência.

Disseminação do budismo O budismo espalhou-se pela Índia e, de lá, para a Tailândia, Birmânia, Tibete, China e Japão. Muita gente na Europa e nas Américas pratica o budismo, como religião e filosofia. Sua popularidade deve-se, em parte, ao fato de o budismo poder coexistir facilmente com todos os tipos de práticas e crenças. Embora muitos reverenciem Buda como uma espécie de santo, ele próprio deixou claro que sua capacidade de transcender o eu não o tomava divino. Ele não acreditava que houvesse algo particularmente divino em si próprio, mas sentia que compreendia as coisas com mais clareza que os outros. Em conseqüência disso, os rituais budistas, que incluem cânticos e meditação, procuram ajudar as pessoas a concentrar suas mentes e corpos, e não a demonstrar fé, como muitos rituais cristãos, judaicos e islâmicos.

Filosofato

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O budismo declinou na índia durante a Idade Média à medida que o hinduísmo e o islamismo tornavam-se proeminentes. Nessa época, porém, disseminou-se mais para leste e tornouse extremamente popular

O poeta indiano Rabindranath Tagore descreveu Gandhi como "a grande alma em andrajos de mendigo". A palavra que usou para grande alma foi 'Mahatma', e o apelido pegou.

Luta pacífica A Índia teve uma história longa e difícil. Os indianos foram submetidos ao domínio estrangeiro de arianos, antes da época de Buda, persas, durante a expansão do Império Persa na Idade Média e, finalmente, britânicos, nos anos do colonialismo inglês.

Alguns vêem a filosofia indiana como tendo parte da responsabilidade pelos séculos de subjugação. Sua ênfase no desprendimento e na transcendência do sofrimento mundano compele as pessoas a se sujeitarem às adversidades - inclusive o domínio estrangeiro em vez de lutarem para mudar as coisas.

A Filosofia indiana, no entanto, mostrou-se um instrumento precioso em prol da mudança que levou à independência de seu povo. Em particular, o desprendimento e a idéia de libertação foram aspectos importantes do movimento contra o domínio britânico nas décadas de 40 e 50, encabeçado pelo filósofo e ativista social Mahatma Gandhi.

Uma mocsa admirável Mohandas 'Mahatma' Gandhi (1869-1948) cresceu praticando uma forma de hinduísmo que enfatizava o desprendimento, jejuns e outras práticas ascéticas visando levar à mocsa, o estado de libertação. Ele também aprendeu o princípio de ahimsa - não-violência em relação a todos os seres vivos -, prática observada em toda a Índia. Essas idéias foram valiosas para Gandhi quando ele se tomou um ativista contra o domínio estrangeiro. Ele aplicou a idéia de mocsa, ou libertação pessoal, em nível político, sustentando que as pessoas deveriam buscar a liberdade política, além da espiritual. A não-violência fortalecia a importância moral de sua causa e o ajudava a obter o apoio de indianos e não-indianos.

Gandhi também se valeu de seu treinamento em abnegação para ressaltar o aspecto mortal da independência indiana. Ele não tinha medo de se deitar no meio da rua diante de carros que se aproximavam ou de realizar longas greves de fome a fim de chamar a atenção para a sua causa. Reverenciado por milhões, obteve grande repercussão no esforço pela independência da Índia. Seus métodos foram depois adotados por Martin Luther King, Nelson Mandela e pacifistas do mundo inteiro. o mínimo que você precisa saber • • • • •

A filosofia indiana enfatiza a libertação do sofrimento. O carma é a idéia de que o que você faz influencia o que acontecerá com você no futuro - e em suas vidas futuras. O darma, o conceito hinduísta e budista de dever, depende da casta, posição na família, ocupação e idade. No budismo, a individualidade é uma ilusão, transcende-se o sofrimento eliminando o desejo egoísta. Gandhi, o filósofo e ativista social do século XX, aplicou idéias da filosofia indiana à luta pela independência de seu país da Grã-Bretanha.

Filosofia religiosa do Oriente Médio Neste capítulo • Como judaísmo, cristianismo e islamismo estão relacionados • Como a crença em um Deus justo constituiu a base da igualdade e da justiça • Como judaísmo, cristianismo e islamismo interpretam o pecado, o mal e a salvação O Oriente Médio deu origem a três das maiores religiões do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo. Essas religiões diferentes compartilham algumas idéias filosóficas fundamentais que tiveram uma profunda e ampla influência. Todas as três adotam a idéia de um Deus único e todo-poderoso que é justo e se importa com a humanidade. Essa crença leva a fortes concepções filosóficas sobre bem e mal, justiça, igualdade e história.

Um só Deus A crença de que só há um Deus é conhecida como 'monoteísmo'. Nas tradições judaicocristã e islâmica, Deus, todo-poderoso e bom, criou o. universo. Ele tem a suprema autoridade divina, mas se separou da autoridade humana aqui na Terra. Com o monoteísmo, a autoridade humana pode ser vista como boa ou até desejada por Deus, mas não é vista como divina em si.

Quem detém o poder? A idéia de que a autoridade humana não faz parte da autoridade divina abala antigas atitudes romanas e egípcias em relação aos reis e imperadores, muitas vezes vistos como deuses. É lógico: quando só há um Deus todo-poderoso, é difícil convencer os outros de que você próprio é um deus!

Léxico Monoteísmo é a crença em um Deus único e todo-poderoso. Judaísmo, cristianismo e islamismo são religiões monoteístas, embora às vezes reconheçam outros seres divinos e poderosos, como a trindade cristã, os santos cristãos e islâmicos, o diabo.

O monoteísmo, portanto, plantou a semente que deu origem às idéias ocidentais de justiça e igualdade. Por ter criado todas as pessoas iguais, Deus se preocupa igualmente com todos e dá o mesmo valor a todos, não importa quem esteja no comando na Terra. A separação entre os poderes terreno e divino faz com que pessoas sem poder na Terra possam ser tão boas quanto os soberanos humanos, ou até melhores do que,eles. Por isso, a justiça, para a qual todos têm o mesmo valor e os mesmos direitos, é um aspecto primordial do governo nas sociedades monoteístas. Temos de ser justos no governo porque Deus se importa igualmente com todos.

Apesar dessa noção intrínseca de justiça, o monoteísmo não eliminou totalmente o problema da desigualdade material. No decorrer da história, muitos crentes em um Deus único acreditaram que os infiéis deveriam ser convertidos à sua religião ou derrotados em batalha.

Filosofato Judaísmo, cristianismo e islamismo são as principais, mas não as únicas, religiões monoteístas. Crenças monoteístas também foram formuladas pelo profeta persa Zoroastro (c. 628-520 a.C.) e pelo faraó egípcio Amenotep IV, 'Akhenaton' (século XIV a.C.).

Alguém lá em cima gosta de mim Os judeus, os cristãos e os muçulmanos (seguidores do islamismo) acreditavam que sua religião os tomava especialmente importantes para Deus. Os judeus referiam-se a si próprios como o 'povo escolhido' por Deus, os principais responsáveis por realizar o propósito divino para a humanidade na Terra. Essa atitude foi em grande parte transmitida aos cristãos e aos muçulmanos, causando todo tipo de problemas e conflitos, inclusive 'guerras santas' travadas em nome de Deus em todas as três religiões.

Livros sagrados A justiça no monoteísmo baseia-se em um conjunto de regras escritas aplicáveis a todos. Essas regras, além de crenças, mitos e histórias, encontram-se nos livros sagrados que fundam cada uma dessas três grandes religiões: a Bíblia judaica (Antigo Testamento), a Bíblia cristã (Antigo e Novo Testamento) e o Corão muçulmano. Essas regras, ou leis, mostram o que Deus espera dos crentes. Viver segundo elas é sinal de obediência a Deus e. preserva a justiça entre as pessoas. Não obstante as diferentes e muitas vezes conflitantes.interpretações desses livros sagrados, eles são tradicionalmente considerados a suprema fonte da verdade.

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O Corão islâmico é mais do que a palavra revelada por Deus: é a palavra de Deus, pois existe supostamente uma cópia exata no céu. Por essa razão, ele só é considerado confiável na língua árabe original.

Teste da realidade Às vezes, as pessoas resolvem punir pelas próprias mãos os transgressores. Elas acham que conhecem o desejo de Deus e impõem as regras correspondentes a esse desejo. O julgamento das bruxas de Salem é um exemplo notório. Desse modo, o monoteísmo teve uma grande influência - tanto boa como má - sobre a prática judicial em geral.

Punição A desobediência às regras dos textos sagrados deixa Deus zangado e pode trazer a punição divina aos desobedientes. Essa punição irá ocorrer nesta vida - você pode ser atingido por um raio ou ser castigado por pragas - ou aguardar os transgressores após a morte. Alguns judeus - e a maioria dos cristãos e muçulmanos - acreditam em uma vida após a morte em que as pessoas serão recompensadas ou punidas por suas ações na Terra.

Sabedoria em ação Use a de que ter de trabalhar resulta do pecado original como desculpa para trabalhar menos. Diga que você quer experimentar a realidade como Deus pretendeu que fosse antes da queda do homem.

Pecado Nas religiões que acreditam em vários deuses, o mal pode resultar de conflitos entre deuses ou do fato de nem todos os deuses se preocuparem com o bem-estar humano. Nessas religiões, o mal não é necessariamente culpa das pessoas. Já no monoteísmo, como Deus é bom e as leis divinas são boas, qualquer mal que aconteça resulta, de alguma forma, da desobediência à lei de Deus. Essa transgressão da lei é conhecida como pecado. No cristianismo e no judaísmo, o pecado original- a desobediência praticada pelo primeiro homem e pela primeira mulher, Adão e Eva - é responsável por todo o mal no mundo, inclusive doenças, morte e a necessidade de trabalhar para sobreviver.

Explicação do mal sob um Deus justo O que é o mal e o que se deve fazer em relação a ele é um problema central do monoteísmo. Por que um Deus bom e todo-poderoso permitiria a existência de tanto mal no mundo? Os monoteístas apresentam várias respostas:  Não sabemos o que Deus deseja; o mal que sofremos mostra quão dependentes somos de Deus.  Satã, o diabo, é a fonte do mal.  Só podemos reconhecer a bondade de Deus se experimentamos também o mal.  Deus quer que vejamos quão insignificante é a realidade terrena em comparação com o reino do céu.  O mal resulta dos resíduos acidentais da criação: é a ausência de Deus.  Deus está nos testando para que possamos aprender a nos aproximar do que ele é, assumindo a responsabilidade por como as coisas são.  O mal humano permite que Deus demonstre sua natureza indulgente e misericordiosa.  O plano de Deus se desenrolará e com o tempo se cumprirá, de modo que o mal atual será eliminado ou transformado em bem.

Muitas dessas explicações do mal, tomadas em conjunto, apontam para um paradoxo no núcleo do monoteísmo sobre a importância da existência terrena. Por um lado, os seres humanos e sua existência na Terra são insignificantes em comparação com Deus e a perfeição do céu. Assim, o que parece terrível de nossa perspectiva terrena pode não ser importante para Deus no céu. O mal, portanto, está aqui para nos ajudar a olhar além da existência terrena em antecipação da vida futura. Por outro lado, a humanidade e a vida de cada um são importantíssimas. Deus se preocupa conosco e quer que exerçamos o livre-arbítrio para resistirmos ao mal, de modo que ajudemos a proporcionar uma transformação da existência terrena.

Teste da realidade O mal nem sempre é culpa de alguém, mas muitas vezes se condenam certas pessoas por problemas que todos têm. Trata-se do 'bode expiatório', nome devido ao antigo ritual hebreu de atribuir simbolicamente todos os pecados da sociedade a um bode e depois sacrificá-lo ou expulsá-lo.

O fim está próximo Urna explicação especialmente importante para o problema do mal está ligada à idéia do destino humano. O mal faz parte de uma situação que mudará com o tempo de acordo com o plano de Deus para a humanidade. Diferentes versões desse plano dizem que os seres humanos estão se tomando progressivamente melhores, ou mais pecadores.

Em ambos os casos, a idéia é que, no momento certo da história, ou em vários momentos, algo realmente importante acontecerá: um apocalipse em que o mundo como o conhecemos acabará, levando ao milênio, quando todas as pessoas boas serão recompensadas e o Messias virá para salvar-nos do mal. A idéia do destino humano é comum ao judaísmo, ao cristianismo e ao islamismo, e recebe interpretações diferentes de cada religião.

Léxico Apocalipse, a palavra grega para 'revelação', passou a significar a época em que o mundo como o conhecemos será destruído. No pensamento cristão, será seguido do milênio, quando Cristo reinará sobre a Terra. Enquanto os cristãos reconhecem Jesus Cristo como o Messias, o salvador da humanidade, os judeus continuam esperando que o Messias surja pela primeira vez.

A história somos nós A história é um aspecto importante do pensamento monoteísta em geral. Isso acontece especialmente no judaísmo, com seus rituais celebrando eventos da história do povo judeu. Esses rituais ressaltam a identidade singular dos judeus como povo e a importância da sociedade judaica como comunidade religiosa. Os judeus não celebram apenas eventos passados, mas também aguardam um evento futuro: a vinda do Messias, ou ungido, quando o propósito de Deus para a humanidade será esclarecido. Nesse ínterim, porém, não se conhecem exatamente os desígnios divinos. Deus escolheu os judeus corno seu povo e forneceu-lhes leis rigorosas para obedecerem. Ele lhes prometeu uma terra (que veio a ser Israel), mas o que Deus planejou para o futuro é um mistério.

Você sempre fere quem você ama Uma das principais indicações da preocupação de Deus com os judeus em particular são as desgraças que eles sofreram por causa de Deus. As provações pelas quais os judeus passaram no decorrer da história são muitas vezes interpretadas como sinal de que Deus se preocupa especialmente com eles. Mesmo quando os inimigos dos judeus os derrotam em batalha, diz-se que Deus está punindo seu povo por não obedecer às suas leis. Muitos judeus acreditam que, de certa forma, essa punição é preferível à indiferença de Deus.

A tendência dos judeus de se culparem - ou de culparem uns aos outros - quando as coisas dão errado é o tema do Livro de Jó, da Bíblia. Deus decide testar Jó, que é fiel e devoto, destruindo todas as suas propriedades e matando os membros de sua família. Os amigos de Jó chegam à conclusão de que este fez algo errado e o culpam por sua desventura.

Uma interpretação moral da história é que nem sempre conhecemos as intenções de Deus quando as coisas não acontecem como queremos. Outra interpretação, porém, é que Deus pode estar testando as pessoas ao fazê-las passar por períodos difíceis. De qualquer modo, os judeus tradicionalmente acreditam que Deus se preocupa com eles, apesar - e por causa - das provações que tiveram de sofrer.

Sabedoria em ação Use a idéia de que Deus pune as pessoas com quem se preocupa para explicar as coisas ruins que acontecem com você. Se você for demitido do cargo de alto executivo de uma grande empresa, convença-se de que Deus vem observando seus maus hábitos alimentares e não está satisfeito com isso.

Cristianismo O cristianismo, um dos vários desdobramentos do judaísmo, interpretou a Bíblia judaica -ou o Antigo Testamento - à sua própria maneira e acrescentou-lhe um novo conjunto de escrituras, o Novo Testamento.

Novo advento? À semelhança dos judeus, os cristãos acreditam que o propósito de Deus se realizará com a vinda do Messias. O Messias cristão, Jesus Cristo, já veio uma vez e, segundo o Livro da Revelação, retomará para governar seu reino na Terra. Como, para os cristãos, o Messias já veio e salvou-os do pecado, eles não precisam esperar pelo milênio, vão para o céu assim que morrem.

Embora as pessoas sejam inerentemente pecadoras, Deus é misericordioso e enviou à Terra seu filho, Jesus, em forma humana, para expiar os pecados da humanidade. Por isso, os bons cristãos podem ir para o céu. O mal continua sendo um problema, mas apenas temporário para aqueles que receberam a misericórdia de Deus.

Embora as pessoas sejam inerentemente pecadoras, Deus é misericordioso e enviou à Terra seu filho, Jesus, em forma humana, para expiar os pecados da humanidade. Por isso, os bons cristãos podem ir para o céu. O mal continua sendo um problema, mas apenas temporário para aqueles que receberam a misericórdia de Deus. Os cristãos reconhecem muitas das leis seguidas pelos judeus, mas as interpretam com menos rigor. Eles vêem Deus mais como perdão do que como culpa. Em conseqüência disso, a idéia de responsabilidade comum e identidade social tende a ser menos importante para os cristãos do que para os judeus. A salvação pessoal toma-se mais importante.

Fifosofato Há um antigo debate entre os cristãos sobre o que é preciso para ir para o céu. As duas principais respostas são fé (acreditar em Deus e Jesus) e boas obras (comportar-se bem e praticar o bem, o que inclui converter outras pessoas).

Interpretação metafórica Essa ênfase à identificação pessoal, e não histórica, com a religião condiciona a interpretação cristã das histórias da Bíblia judaica, o Antigo Testamento. Eles vêem essas histórias não apenas como lei, profecia e história religiosa como os judeus as vêem - mas também como metáforas da provação e salvação pessoais. Os judeus, por exemplo, interpretam a história de Moisés conduzindo os israelitas para fora do Egito, através do deserto e rumo à terra prometida, literalmente como a história do que aconteceu com seus ancestrais. Os cristãos, além dessa visão, também a interpretam como uma metáfora da salvação pessoal do pecado. . De acordo com a interpretação cristã, a escravidão no Egito simboliza a escravização ao pecado. Vagar pelo deserto é a incerteza da crença do indivíduo em Jesus. Chegar a Canaã, a terra prometida, é aceitar Cristo e ser salvo.

Fifosofato Tanto os judeus como os árabes muçulmanos remontam sua linhagem a Abraão. Os judeus vêem o filho de Abraão, Isaac, como o escolhido por Deus para continuar a linhagem, enquanto os muçulmanos vêem o outro filho de Abraão, Ismael, como o escolhido.

A última palavra O islamismo, assim como o cristianismo, baseia-se no judaísmo. Porém, de acordo com os muçulmanos, em vez de escolher os judeus como seu povo, Deus, que é chamado de Alá, escolheu os árabes. Mesmo assim, os muçulmanos reconhecem os profetas judeus e vêem Jesus também como profeta. O islamismo foi fundado pelo profeta Maomé (570-632), o mais importante do islamismo. Embora não seja considerado divino pelos muçulmanos ortodoxos, alguns o veneram e rezam para ele. Segundo a tradição islâmica, Maomé retirou-se para os morros ao redor do Meca, sua cidade natal na Arábia, a fim de meditar. Ali, recebeu a visita do anjo Gabriel e a palavra de Alá, mais tarde codificada no Corão. Os cinco pilares do islamismo São fundamentais no Corão "Os Cinco Pilares do Islamismo", as regras básicas que todo muçulmano deve seguir: •Afirmar que Alá é o único Deus e Maomé seu profeta. •Rezar diariamente voltado para Meca. •Dar esmolas aos pobres e ser generoso com os necessitados. •Observar o mês santo do Ramadã, abstendo-se de comer ou beber durante o dia. •Peregrinar a Meca ao menos uma vez na vida Os cinco pilares, a.o enfatizarem a observação dos rituais, promovem a obediência e a comunidade. Ao enfatizarem a caridade, promovem a idéia da igualdade, independentemente de sua posição na sociedade.

Um Deus, muitos pontos de vista À semelhança dos judeus, os muçulmanos dão grande importância à lei e à comunidade religiosa. Eles acreditam na justiça e na punição a quem desobedece. Ao mesmo tempo, como os cristãos, os muçulmanos ressaltam o livre-arbítrio do crente e a importância da luta íntima pela fé. Essas tendências conflitantes do pensamento islâmico levaram a discussões ao longo da história da religião. Elas giram em torno do conflito entre os direitos dos indivíduos e o poder da comunidade, da relação entre a lei estabelecida pelo Corão e a lei civil e de como e por quem o Corão deve ser interpretado. O islamismo, assim como o judaísmo e o cristianismo, passou por desavenças internas e dividiu-se em várias seitas diferentes. Na verdade, essas três religiões podem ser vistas como uma única religião que se dividiu em três troncos principais e, depois, em várias partes menores, todas baseadas na crença em um só Deus. O mínimo que você precisa saber •Monoteísmo é a crença em um Deus único, todo-poderoso e justo. •As três principais religiões monoteístas são o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. •O monoteísmo tende a atribuir aos seres humanos a culpa pelo mal, enquanto enfatiza a lei e a justiça. •Os judeus, por se considerarem o 'povo escolhido' por Deus, possuem um forte sentimento de identidade social e responsabilidade. •Os cristãos enfatizam a misericórdia de Deus e a salvação pessoal pela fé e pelas boas ações. •Os muçulmanos dão grande importância à comunidade e à obediência, mas também ao livre-arbítrio e à luta pessoal.

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