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  • November 2019
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UNIDADE II

SOBRE O QUE TRATA A FILOSOFIA ?

SOBRE O QUE TRATA A FILOSOFIA? - INTRODUÇÃO A FILOSOFIA tem, pelo menos, 2.500 anos! São vinte e cinco séculos de BUSCA DA SABEDO-RIA... Como "filia" (busca amorosa) que é, a "filosofia" nasce do conhecimento prévio da própria ignorância em que vivem os homens e da qual o preceito "conhece-te a ti mesmo!" é a mais solene advertência. Esse paradoxo saber-e-não-saber percorre toda a história da filosofia. Mas, pensar que FILOSOFIA fica apenas no "desejo" de saber é uma atitude reducionista. Ela é conhecimento: é CIÊNCIA, é LOGOS. É a arte da demonstração da verdade: é LÓGICA, é retórica. É o saber acerca do próprio saber: é CRÍTICA e EPISTEMOLOGIA. É a procura dos fundamentos e causas do ser: é ONTOLOGIA. Ciência do ser enquanto ser, a Filosofia é a mais universal e desinteressada de todas as ciências: é METAFÍSICA. Na procura da compreensão abre-se para perceber o mundo: é COSMOLOGIA. No mundo, encontra o homem e interroga sobre ele: é ANTROPOLOGIA. Dá critérios ao agir humano: é ÉTICA. E quando, querendo ser como a teologia, busca a compreensão da realidade por excelência, Deus: é TEODICÉIA, coroa e ápice.

A Filosofia é isso e muito mais. Ela é totalizante. Podemos, entretanto, distinguir quatorze CAMPOS, sobre os quais tratou a filosofia, nesta sua longa caminhada: 1. HISTÓRIA DA FILOSOFIA 2. METAFÍSICA 3. GNOSIOLOGIA 4. LÓGICA 5. ÉTICA 6. AXIOLOGIA 7. ESTÉTICA 8. EPISTEMOLOGIA 9. COSMOLOGIA 10 ANTROPOLOGIA 11. FILOSOFIA DA HISTÓRIA 12. FILOSOFIA DA POLÍTICA 13. FILOSOFIA DA LINGUAGEM 14. TEODICÉIA

UNIDADE II. 1

HISTÓRIA DA FILOSOFIA : A Filosofia pensa ele mesma ?

HISTÓRIA DA FILOSOFIA VAMOS CONVERSAR SOBRE 1. O QUE É ISSO? É o estudo da Filosofia na sua dimensão histórica, a análise das diferentes orientações filosóficas, sua influência recíproca, a sua origem, apogeu e declínio, as suas transformações no tempo. A Filosofia engloba como momento essencial a sua própria história. 2. APROFUNDANDO...

Não há cortes radicais entre as épocas. Cada uma é herdeira dos temas e métodos da anterior e, deste modo, é possível uma unidade da História da Filosofia. A Filosofia será a história do SABER FILOSÓFICO! Daí ser o estudo dos diversos sistemas de pensamentos, uma fonte de inspiração. HISTÓRIA DA FILOSOFIA não é cultura nem erudição filosófica, mas sim "o encontrar-se com os demais filósofos nas coisas sobre que se filosofa".

3. OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA A filosofia ESTÁ na História e TEM HISTÓRIA. ESTÁ na História: A Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões que, em cada época de uma sociedade, os homens colocam para si mesmos, diante do que é novo e ainda não foi compreendido. TEM HISTÓRIA: As respostas, as soluções e as novas perguntas que os filósofos de uma época oferecem tornam-se sabores que outros filósofos prosseguem. Vejamos nos quadros sinóticos da Parte n, os principais períodos.

A DIVISÃO DA FILOSOFIA INTRODUÇÃO Assim como as definições, as divisões da FI-LOSOFIA são igualmente várias. Dependem da conceituação adotada. A FILOSOFIA terá no decorrer dos séculos, um conjunto de preocupações, indagações e interesses específicos... Deste ponto de vista, sugerimos a seguinte divisão: I = FILOSOFIA ANTIGA, compreendendo os principais períodos da Filosofia grega, pois tais períodos definiram os campos da investigação FILOSÓFICA na Antiguidade; II = AS OUTRA ETAPAS, onde a Filosofia manifesta e exprime os problemas e as questões em cada época em uma sociedade. Em qualquer tempo, a FILOSOFIA enfrentando o NOVO e oferecendo caminhos, respostas e pro-pondo perguntas, faz sua história. E assim pode-mos dividi-Ia. PERÍODOS DA FILOSOFIA I - A FILOSOFIA ANTIGA I Do séc. VI a.C ao séc. Vil d.C É o período GREGO da Filosofia. Compreende as distinções: período PRÉSOCRÁTICO (referência ao filósofo SÓCRATES de ATENAS), SOCRÁTICO, SIS-TEMÁTICO e HELÊNICO.

1. PRÉ-SOCRÁTlCO Do final do séc. VII a.c. ao final do séc. V a.c., quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da Natureza. Por isso é um período COSMOLÓGICO. Nega que o mundo tenha surgido do nada. Por isso diz: "Nada vem do nada e nada volta ao nada". O fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retoma é o elemento primordial da Natureza e chama-se "FHYSIS. A "physis" é a Natureza eterna em perene transformação. A mudança - nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade - chama-se MOVIMENTO. Tudo muda. O movimento do mundo chama-se DEVIR. Devir é a passagem contínua de uma coisa a seu estado contrário e essa passagem não é caótica, mas obedece às leis da "fhysis". 2. PERÍODO SOCRÁTlCO Do final do séc. V a.c. e todo o séc. IV a.c., quando a Filosofia investigava as questões humanas, isto é, a ÉTICA, a POLÍTICA e as TÉCNICAS. Por es-tas questões, o nome período ANTROPOLÓGICO. Sócrates e seu discípulo Platão, dão ênfase ao AUTOCONHECIMENTO e às IDÉIAS. Floresce a democracia e surge a figura política do CIDADÃO. OS sofistas, professores remunerados, pela arte da persuasão, ensinavam aos jovens que o mais importante era ser cidadão e que a filosofia era inútil.

3. PERÍODO SISTEMÁTICO Do final do séc. IV a.c. ao final do séc. III a.c., quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado sobre a Cosmologia e a Antropologia, interessandose sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do CONHECIMENTO filosófico, desde as leis do pensamento (LÓGICA) aos critérios da verdade e da Ciência. Cada campo do conhecimento é uma CIÊNCIA (ciência em grego, é "episteme"). A lógica é um instrumento para a ciência. E a ciência das coisas divinas é a TEOLOGIA. Este período chama-se SINTÉTICO porque busca a síntese dos conhecimentos de então e ARIS-TÓTELES é o nome principal. 4. PERÍODO HElÊNICO O período helênico ou helenismo, ou ainda grego-romano, vai do final do séc. II a.c. até o séc. VI d.C. Neste longo período, que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros Padres da Igreja, a Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos com Deus.

II - AS OUTRAS ETAPAS I Do séc. I d.C até hoje Compreende seis grandes etapas: a Filosofia PATRÍSTICA, a MEDIEVAL, a Filosofia da RENASCEN-ÇA, a Filosofia MODERNA, o ILUMINISMO e a Filosofia CONTEMPORÂNEA. Assim, pelo fato de estar na História e ter uma história, a Filosofia costuma ser apresentada em grandes períodos. Vejamos. 1. FILOSOFIA PATRÍSTlCA I Do séc. I ao séc. Vil Patrística porque os primeiros "PADRES" da Igreja buscavam estabelecer e explicar racionalmente a doutrina cristã. Inicia-se com as Epístolas de S. Paulo e termina com o início da Filosofia Medieval. A Patrística resultou do esforço dos primeiros Padres da Igreja em conciliar a nova religião - o Cristianismo - com o pensamento filosófico grego-romano. Ou seja, o grande desafio era ligar FÉ e FILOSOFIA.

2. FILOSOFIA MEDIEVAL / Do séc. VIII ao séc. XIV É a Filosofia na Idade Média. Também chamada "ESCOLÁSTICA". Escolástica porque caracteriza-se como uma espécie de "escola" filosófica onde se buscava a harmonia fé cristã e razão. Abrange pensadores europeus, árabes e judeus. Teve como influências principais PLATÃO e ARISTÓTELES. Conservando e discutindo os mesmos problemas que a patrística, acrescenta-se a chama-da "Filosofia cristã". Um dos seus temas mais constantes são as provas da existência de Deus.

3. FILOSOFIA DA RENASCENÇA / Do séc. XIV ao séc. XVI "Renascença" porque um "renascimento" estava acontecendo, um novo estilo de vida tomava conta.. . A Filosofia é marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na Idade Média, de novas obras de Aristóteles, bem como pela recuperação das obras dos grandes autores e artistas gregos e romanos. Os temas abordados: A Natureza é viva, o homem é artífice do seu destino, a Política, as técnicas, as artes. 4. A FILOSOFIA MODERNA / Do séc. XVII a meados do séc. XVIII Esse período é conhecido como o Grande Racionalismo Clássico. O tema central é o conhecimento, a racionalidade humana. Predomina assim, neste período, a idéia de conquista científica e técnica de toda a realidade, a partir da explicação matemática e mecânica do Universo e da invenção das máquinas. Existe também a convicção de que a razão humana é capaz de tudo e a mesma convicção orienta o racionalismo político. 5. A FILOSOFIA DO IlUMINISMO Também chamada "Filosofia da Ilustração", Meados do séc. XVIII ao começo do séc. XIX. Esse período também crê nos poderes da RAZÃO, chamada "a grande luz". Por isso, ILUMINIS-MO. O iluminismo afirma: Pela razão o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política; a razão é capaz de gerenciar eficazmente o progresso, a economia, a sociedade, etc.

6. A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Abrange o pensamento filosófico que vai de meados do séc. XIX e chega até nossos dias. Esse período, por ser o mais próximo de nós, parece ser o mais complexo e o mais difícil de se definir, pois as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque estamos vendo surgir diante de nós. O séc. XIX é, na Filosofia, o grande século da descoberta da História ou da historicidade humana. Entusiasmada com as CIÊNCIAS e as técnicas, a Filosofia afirma sua confiança plena e total no saber científico e na tecnologia para dominar e controlar a Natureza, a sociedade e os indivíduos. Surge o SOCIOLOGIA. Descobre-se a CULTURA: modo próprio e específico de existência dos seres humanos. No séc. XX, a Filosofia afirma que a história é descontínua e não há CULTURA, nas culturas. Vol-ta a Filosofia como compreensão e interpretação crítica das ciências. Surge o estudo da LINGUAGEM. Descobre-se a IDEOLOGIA, esse poder social. A Filosofia quer reabrir discussões éticas e morais. Descobre-se o valor da existência humana, o EXISTENCIALISMO. Nomes: HEGEL, COMTE, KARL MARX, KIERKEGA-ARO, NIETZSCHE, SARTRE, JASPERS, HEIDEGGER, MERLEAU-PONTY, G. MARCEL, MOUNIER etc., (existencialistas); H. MARCUSE, HABERMAS etc., (escola de Frankfurt) Seguem-se dois quadros sinóticos para complementação.

FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE

VISÃO GERAL

FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE A filosofia nasce na Grécia, no século V a.C., com os filósofos pré-socráticos procurando encontrar o princípio do universo e com os sofistas praticando a retórica... A atividade filosófica enquanto abordagem racional surge no contexto cultural grego se expressando inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à mitologia e à religião. É o período dos chamados filósofos pré-socráticos, de cujas obras nos restaram apenas alguns fragmentos.

Dentre esses filósofos, alguns vão explicar o mundo apelando para uma arqué, ou seja, o elemento constitutivo básico do qual a totalidade do universo seria constituída. Note-se que a grande preocupação é que haja um princípio ordenador, que dê ordem ao universo. Esses filósofos são chamados de fisiólogos, pois buscam explicar a fisis, a natureza material. Assim, para Anaxágoras, o elemento primordial são as sementes que se encontram misturadas no caos e são, em seguida, ordenadas pela Inteligência, formando o cosmos; já para Anaximandro, esse princípio é o infinito; para Anaxímenes, é o ar; para Tales de Mileto, a água; para Heráclito, o fogo; para Parmênides, é o ser; para Empédocles são quatro elementos em combinação: a terra, a água, o ar e o fogo; para Demócrito, era o átomo; e para Pitágoras, o número. Um outro grupo de filósofos pré-socráticos já tinha uma preocupação mais voltada para a vida dos homens. Foram os chamados sofistas, porque eram professores ambulantes de retórica e oratória e foram acusados de estarem mais interessados em convencer pela persuasão, com sacrifício atéda verdade, do que pela demonstração rigorosa da mesma. Entre os sofIstas se destacaram Górgias, que era cético, achando que não se pode conhecer a verdade, e Protágoras que entendia ser o homem a medida de todas as coisas, todo conhecimento dependendo de cada indivíduo que conhece, não se podendo chegar, pois, a uma verdade universal.

Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores clássicos da Grécia dos séculos V e IV a.C. e que constituíram a filosofia como metafísica, fornecendo os alicerces de toda a tradição filosófica do Ocidente Retomam as preocupações de seus antecessores, criticando severamente os sofIstas. São os primeiros fIlósofos a criarem sistemas mais completos de filosofia, instaurando-a como metafísica.

Sócrates é um "educador dos homens" e acredita que a verdade existe e pode ser conhecida desde que se proceda a uma interrogação metódica, através do processo que chama de maiêutica, arte de partejar idéias verdadeiras. E o homem, conhecendo a verdade, pode agir moralmente bem se estiver de acordo com ela. Essa sua posição é o chamado intelectualismo moral, de acordo com o qual basta o homem conhecer o bem para praticá-lo.

Platão, discípulo de Sócrates, desenvolve um sistema fIlosófico completo. Para ele, as coisas concretas deste mundo nada mais são do que sombras, cópias imperfeitas de modelos perfeitos e únicos, as Idéias, que existem eternamente num mundo à parte, superior, o Mundo das Idéias. Como nossa alma, que é inteligente, partícipe do logos, conviveu com essas Idéias antes de se encarnar, ela pode conhecer as coisas deste mundo, reconhecendo por lembrança, por reminiscência, a Idéia que elas realizam imperfeitamente. O objetivo de toda filosofIa e de toda a educação é desenvolver um esforço dialético no sentido de se elevar da visão das coisas terrenas, concretas e mutáveis, à contemplação das Idéias. A contemplação das. Idéias fornecerá também critérios para o agir moral dos indivíduos e para a organização da vida em sociedade. Aristóteles, discípulo de Platão mas aluno crítico, não concorda com esse idealismo exagerado de seu mestre. Para ele, de fato, todo ser concreto é a realização de uma essência, mas essa essência está presente em cada indivíduo em particular, desaparecendo com a morte desse indivíduo. Ela é a mesma em todos os indivíduos de uma mesma espécie porque todos são formados por dois co-princípios básicos: a matéria-prima e a forma especifica, que, unidos, formam a substância do ser. Quando o indivíduo morre, dá-se a separação desses co-princípios, que não subsistem isolados. Não existe, assim, um modelo prototípico ideal, como defendia Platão: apenas o conceito, que representa a substância, é universal. Por isso mesmo, o saber deve ser constituído pelo processo de abstração, o intelecto humano sendo capaz de ir apreendendo, a partir da experiência sensível, a essência das coisas mediante os conceitos universais.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

1

FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE ( Séc. V a.C. – Séc I d.C.

ARISTOTELISMO ARISTÓTELES( 385 – 322 )

M Í T

I C A HOMERO HESÍODO

PRESSOCRATISMO TALES ( 640 – 547 )

SOFÍSTICA

HELENISMO

PROTÁGORAS ( 480 – 411 ) GÓRGIAS ( 485 – 380 )

SOCRATISMO SÓGRATES (479 – 399 )

PLATONISMO PLATÃO( 420 – 348 )

FILOSOFIA NA ERA CRISTÃ

Santo Agostinho ( 354-430 )

VISÃO GERAL

FILOSOFIA NA ERA CRISTÃ Os romanos entram em cena e a filosofia grega se expõe a um mundo cosmopolita e se envolve com o cristianismo nos séculos 111 a.C. a 111 d.C. A filosofia dos três grandes fIlósofos representou o apogeu da filosofia grega. Nos últimos séculos antes de nossa era e nos primeiros séculos da era cristã (de 300 a.C. a 300 d.e.), aparece no cenário histórico o povo romano. Os romanos conquistam militarmente e organizam política e administrativamente todos os "países" da bacia do Mediterrâneo. Eles se apropriaram da cultura grega e a expandiram por todo o seu vasto império. É o período do helenismo. Só que, nesse processo de expansão e de ampla divulgação, a fIlosofia acaba se dissipando em pequenas escolas, perdendo a força das grandes sínteses. As condições de vida e da cultura não lhe são propícias.

Surgem assim pequenas escolas filosóficas, tais como: o estoicismo, cuja maior preocupação é com a ética, que concebe fundada na harmonia e no equilíbrio dos elementos éticos, de modo análogo ao que ocorre com o cosmos, harmonizado pelo logos; o epicurismo, também preocupado com o viver humano, defende uma ética fundada no prazer, considerado o bem autêntico; o ceticismo, escola filosófica que acha impossível o conhecimento da verdade, sendo inútil tentar encontrá-la. Destaca-se ainda nesse período um outro importante filósofo, Plotino, seguidor de Platão, sendo o seu pensamento conhecido como o neoplatonismo. É nesse contexto helenístico, universalizado pela ação político-administrativa dos romanos, que a filosofia grega vai se encontrar com o cristianismo. Desde o início da era cristã, pensadores ligados à nova religião estudam o pensamento dos gregos e estabelecem relações com ele, incorporando alguns elementos e rejeitando outros. Iniciase então um grande processo de simbiose que vai durar séculos! Na realidade, como vimos no capítulo anterior, nesse processo que se inicia com São Paulo, no século I, e culmina com Santo Tomás de Aquino, no século XIII, o racionalismo grego leva a melhor sobre a mística judaica, fonte originária do cristianismo. Assim, já os primeiros padres da Igreja (Santo lrineu, Tertuliano, Orígenes, Clemente de Alexandria), mas sobretudo Santo Agostinho, desenvolvem suas reflexões teológicas assumindo elementos da filosofia racionalista grega. Santo Agostinho apropria-se das inspirações de Platão, por intermédio do neoplatonismo, colocando, no entanto, no lugar do Mundo das Idéias, a consciência de Deus, que assume as qualidades e as prerrogativas da Idéia do Bem.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

2

FILOSOFIA NA ERA CRISTÃ ( Séc. I. - 450 d.C. ESTOICISMO

EPICURISMO

CETICISMO

ARISTIPO (280-208) ZENÃO DE CÍTIO (340-284)

EPICURO ( 341-269)

PIRRO DE ELIS ( 360-270)

NEO PLATONISMO PLOTINO (203-259)

AGOSTINISMO IRINEU (140-202)

TERTULIANO (160-223)

PATRÍSTICA

ORÍGENES (183-253) CLEMENTE A . (150-216)

AGOSTINHO (354-430)

FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA

São Tomás de Aquino ( 1227-1274

)

VISÃO GERAL

FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA Na Idade Média, a filosofia grega é utilizada pela Igreja como base da pedagogia civilizadora dos povos bárbaros, a escolástica, nos séculos V a XIV. Com a queda do Império Romano, sob o impacto da invasão dos povos vindos do Norte da Europa, a Igreja Católica assumiu a tarefa de civilizar e educar esses povos, assimilando-os à cultura greco-romana. Foi nesse clima que se formou a escolástica, método pedagógico por excelência, fundado na lógica aristotélica e que serviu tanto como instrumento de educação quanto como veículo de evangelização, cujo conteúdo era uma teologia vazada na filosofia neoplatônica, cristianizada por Santo Agostinho.

No final do primeiro milênio, graças às traduções que se faziam na Espanha, do árabe para o latim, de textos de física e de metafísica de Aristóteles - textos esses que ainda não haviam chegado ao Ocidente -, ocorrerá uma influência do naturalismo aristotélico concorrendo então com o idealismo platônico que dominava até esse. momento. É a vez então da grande síntese que fará de Santo Tomás de Aquino o principal filósofo do período. Nessa mesma época, surgiam as primeiras universidades, verdadeiros centros de pesquisas e de estudos também em filosofia. o tomismo representou uma tentativa de harmonizar as posições básicas do cristianismo com os pressupostos ontológicos do aristotelismo. Sem dúvida, isso provocou reações da parte dos pensadores/teólogos ligados à Igreja, adeptos da fundamentação platônicoagostiniana. Santo Tomás de Aquino acabou prevalecendo, tendo conseguido com sua extensa obra fornecer fundamentos filosóficos aristotélicos para a teologia cristã. O tornismo foi então considerado a base filosófica da teologia da Igreja Católica.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA ( 450 - 1400 ) ESCOLÁSTICA ALBERTO MAGNO ( 1206-1230)

TOMISMO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274)

NOMINALISMO AL FARABI (872-950)

GUILERME DE OCCAM (1295-1350)

AVICENAS (980-1037) AVERRÓIS (1126-1198)

STO. ANSELMO (1023-1109) ROGER BACON (1210-1294)

3

FILOSOFIA NO RENASCIMENTO

MONALISA

VISÃO GERAL

FILOSOFIA NO RENASCIMENTO O Renascimento promove uma volta direta à cultura grega, rejeitando as contribuições da Idade Média e inaugurando a era moderna: séculos XV a XVII. O naturalismo aristotélico que Santo Tomás pôs à disposição dos pensadores ocidentais dos séculos XIV e XV foi, na realidade, um dos elementos substantivos para a revolução cultural e filosófica que iria ocorrer com o Renascimento. É que, no aristotelismo, a natureza para existir e funcionar prescindia da intervenção divina, sendo assim incompatível com a visão teocêntrica da Idade Média. Abriam-se assim as portas para o cosmocentrismo e para o antropocentrismo: os elementos centrais da realidade e, conseqüentemente, da reflexão filosófica são o mundo natural e o homem, e não mais Deus. A era moderna se caracterizará, com efeito, por desenvolver uma concepção na qual a natureza física e o homem ocuparão o centro.

Mas estavam influindo também outros elementos que atuam no contexto sociocultural dessa época e que ajudam a explicar as grandes trans-formações que ocorreram. Assim, é grande a contribuição que dará a matemática árabe, que é introduzida na Europa pelas invasões dos árabes na península ibérica. A matemática herdada da Grécia era muito limitada, com poucas possibilidades enquanto instrumental técnico-operativo e lógico; seu poder se multiplica com as contribuições da álgebra. Ocorreu ainda uma grande transformação sócio-econômica: o feudalismo entrando em declínio e desenvolvendo-se o mercantilismo e o colonialismo. Esse desenvolvimento no plano econômico estimula inventos e descobertas no plano tecnológico, ampliando-se o poder de manipulação que o homem exercia sobre a natureza. Estavam lançadas as bases do capitalismo, que surgia como novo modo de organização da produção.

Por outro lado, houve significativas reformulações também no plano político, os príncipes começando a se unir à burguesia e a se opor ao poder centralizado dos reis e dos papas. Começaram a se formar as nações que se contrapunham aos grandes impérios. Cabe referir-se ainda às transformações que se deram na própria religião. A Reforma Protestante se insere nesse quadro de afIrmação do racionalismo individualista. A grande revolução cultural que deu início à época moderna é marcada assim, no plano filosófico, por um incisivo racionalismo e pelo naturalismo que se expressam: no âmbito econômico, pelo capitalismo; no âmbito religioso, pelo protestantismo; e no âmbito social, pelo individualismo burguês.

Estavam assim dadas as condições para o redimensionamento geral da perspectiva filosófica. Apesar das pretensões alardeadas pelos renascentistas, não havia como reproduzir a cultura grega, fazendo-a renascer. Na realidade, o que se retomou, com renovado vigor, foi o racionalismo naturalista grego, agora instrumentalizado à altura para possibilitar a superação da metafísica enquanto ciência das essências.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

4

FILOSOFIA NO RENASCIMENTO (Séc. XIV - XVI ) NATURALISMO POMPONAZZI (1462-1525 G. BRUNO (1548-1600) CAMPANELLA (1538-1639) TELÉSIO (1509-1584)

HOBBES (1588-1676) BACON (1561-1626) LOCKE ( 1632-1794) BERKELEY ( 1565-1753)

HUMANISMO ERASMO ( 1469-1536) T. MOURS ( 1473-1535) MAQUIAVÉL (1469-1527) LUTERO (1488-150) CALVINO (1532-1592) MONTAIGNE (1532-1592)

PLATONISMO PLETON ( 1365-1450) PICO DELLA M. (1403-1494) FICÍNO (1433-1499

COPÉRNICO ( 1473-1543) NICOLAU DE CUSA ( 1401-1464

FILOSOFIA NA MODERNIDADE

René Descartes (1596-1650)

VISÃO GERAL

FILOSOFIA NA MODERNIDADE A era moderna elabora um grande projeto de revolução cultural: o projeto iluminista que se marca pela consolidação de uma filosofia racionalista e pelo surgimento da ciência (séculos XVII e XVIII) A Idade Moderna se caracterizou no plano filosófico-cultural por um projeto iluminista: tudo o que se faz é feito com a convicção de que as luzes da razão natural iluminam os homens, eliminando as trevas da ignorância. Por meio dos conhecimentos obtidos racionalmente, os homens não apenas se esclarecerão individualmente como ainda poderão construir uma sociedade mais adequada e justa.

Esse projeto iluminista da filosofia, conduzido sob o mais exigente racionalismo, se iniciou por duas grandes vias. De um lado, praticando-se uma filosofia crítica, encarregada de superar a metafísica no plano teórico, mostrando a sua inviabilidade; de outro, criando uma nova forma de conhecimento, a ciência, que substituiria o saber das essências pelo saber dos fenômenos.

Assim, enquanto as preocupações da filosofia antiga e medieval eram ontológicas, as preocupações da filosofia moderna são epistemológicas, ou seja, tratava-se, antes de tudo, de avaliar qual a verdadeira capacidade de o homem conhecer a realidade que o circunda. Duas foram as orientações pelas quais se expressou a nova postura crítica da filosofia: uma, a do racionalismo idealista que defendeu a posição de que o conhecimento verdadeiro só é possível na intuição intelectual que se dá no ato de reflexão, ou seja, no momento em que o sujeito pensante apreende seu próprio ato de pensar. É nesse momento que se tem a evidência racional, único critério capaz de garantir a certeza do conhecimento. Tomaram essa orientação Descartes, Malebranche, Espinosa e Wolff. Uma vez garantida a evidência, é até possível reconstruir a metafísica, uma metafísica idealista... A outra orientação, assumida por pensadores como Bacon, Locke, Berkeley e Hume, consistiu, ao contrário, na defesa da posição segundo a qual o único conhecimento possível e válido é aquele que se tem por intermédio de idéias formadas a partir das impressões sensíveis. Trata-se de um racionalismo empirista.

Para além dessas orientações filosóficas, formou-se ainda um saber novo, a ciência. Tratava-se de um conhecimento diferente do conhecimento metafísico, pois, embora seja impossível à razão atingir a essência das coisas, ela pode atingir os fenômenos das mesmas, ou seja, sua manifestação empírica à consciência dos homens. Nomes como Copérnico, Galileu, Kepler e Newton, entre tantos outros, nos lembram pesquisadores trabalhando fora das universidades e produzindo novas explicações dos vários aspectos da natureza, mediante uma postura ao mesmo tempo teórica e prática. Adotam uma nova metodologia para seu conhecimento: um método simultaneamente matemático e experimental. Esse novo conhecimento, além de seu alcance explicativo, no plano teórico, revelava-se também muito fecundo pelo seu alcance técnico, no plano prático. Permitia ao homem construir equipamentos por meio dos quais se ampliava seu poder de manipulação do mundo.

N o século XVIII, o criticismo de Kant representou a tentativa de sintetizar essas várias orientações e movimentos do iluminismo. Kant desenvolveu uma teoria do conhecimento tal que integrava aspectos do idealismo e do empirismo. Insistia em que o conhecimento pressupõe formas lógicas anteriores à experiência sensível, mas estas só exerciam alguma função se aplicadas sobre conteúdos empíricos fornecidos pela experiência. Mas a síntese kantiana também se desdobrou, deixando uma dupla herança: uma que, via Fichte, Schelling e Hegel, voltou à metafísica idealista, priorizando novamente o sujeito e a intuição intelectual; a outra, priorizando o objeto e a experiência sensível, se desenvolve como uma justificativa epistemológica da ciência, sobretudo com Comte.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

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FILOSOFIA NA MODERNIDADE (Séc. XVI - XVIII)

RACIONALISMO

LEIBNIZ ( 1646-1716) ESPINOSA ( 1632-1677)

IDEALISTA

ROUSSEAU ( 1712-1779)

DESCARTES ( 1596-1650) MALEBRANCHE ( 1638-1715) PASCAL ( 1513-1632)

ILUMINISMO

CRITICISMO

VOLTAIRE ( 1694-1773)

GALILEU ( 1564 –1642) KEPLER ( 1571-1630)

RACIONALISMO EMPIRISTA

WOLFF ( 1659-1754)

KANT ( 1724-1804) CIÊNCIAS NATURAIS

COMTE ( 1789-1854)

POSITIVISMO

FILOSOFIA CONTEMPORÂNIA

Karl Marx (1818-1883)

VISÃO GERAL

FILOSOFIA CONTEMPORÂNIA No século XIX, assistimos ao fecundo desdobramento da ciência, o surgimento de novas perspectivas filosóficas que lançam as raízes da filosofia contemporânea O século XIX foi talvez o século mais fértil para a cultura filosófica, uma vez que ciência e filosofia adquiriram sua autonomia plena e grandes , desdobramentos se dão em ambas as frentes. No âmbito da ciência, três aspectos se destacam: 1. grande desenvolvimento das ciências naturais, sobretudo das ciências físico-químicas; 2. , as ciências biológicas adquirem uma dimensão histórica em função da descoberta do caráter evolutivo da vida; e 3. formam-se as ciências humanas (psicologia, sociologia, economia, política, história, antropologia, geografia etc.) pela extensão do uso do método científico aos diversos aspectos da vida dos homens.

Essa fecundidade do conhecimento científico toma igualmente fecundo o positivismo que vai inspirar várias vertentes filosóficas que repercutiram no século XX: o evolucionismo, o pragmatismo, o vitalismo e o cientificismo. Já no âmbito da fIlosofia, multiplicam-se as novas orientações: na linha do subjetivismo, surge a fenomenologia (Husserl, Scheler); a genealogia (Nietzsche); procurando unir a dialética hegeliana com o naturalismo, a sociologia e a economia, surge o marxismo (Feuerbach, Marx, Engels); buscando explorar a psicologia e o naturalismo, surge a psicanálise (Freud, Jung).

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

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FILOSOFIA NO SÉCULO XIX HEGEL ( 1770- 1831

IDEALISMO DIALÉTICO SAHELLING ( 1775-1854) FICHTE (1762-1814

MARXISMO CIÊNCIAS HUMANAS

MARX ( 1818-1883) ENGELS ( 1820-1895) FEUERBACH ( 1804-1872)

NIETZSCHE ( 1844-1900) PIAGET ( 1900-1980 DURKHEIM ( 1858-1917)

TRANS-POSITIVISMO

FILOSOFIA CONTEMPORÂNIA

Friedrich Nietzsche (1844 - 1900)

VISÃO GERAL

FILOSOFIA CONTEMPORÂNIA O século XX: acentua-se a preocupação com o conhecimento e com o sentido da existência do homem O século XX foi e continua sendo um período marcado por conquistas, contradições e retrocessos em todos os planos. Duas guerras mundiais e centenas de conflitos bélicos regionais o abalaram diuturnamente. As conseqüências desses conflitos são cada vez mais desastrosas devido ao desenvolvimento e à sofisticação tecnológica dos armamentos. Os esforços diplomáticos não impedem os conflitos políticos e econômicos que opõem entre si as nações. Fortes ideologias provocam confrontos radicais: fascismo, nazismo, socialismo, capitalismo. Se o sistema colonial desmoronou, a exploração econômica dos países periféricos pelos países centrais se amplia e se aprofunda, dividindo os povos em ricos dominantes e pobres dominados. Ocorre um incontrolável desenvolvimento técnicoindustrial que, ao mesmo tempo que resolve problemas básicos do homem, cria outros tantos novos, dos quais perde o controle.

A ciência está na base de toda essa revolução permanente em que se transformou a civilização ocidental no século XX. É o século da terceira revolução industrial, a da tecnologia eletrônica e da cibernética, pela qual os homens ampliam o poder do próprio cérebro. No âmbito fIlosófIco, ocorre também uma multiplicidade de manifestações. Sem dúvida, a ciência parece ser a principal preocupação da maioria dos filósofos. Assim, quase todas as tendências filosófIcas contemporâneas dedicam espaço à discussão do conhecimento científico, de modo especial àquele relacionado com as ciências humanas.

Assim, é florescente a orientação neopositivista da filosofia que aborda especialmente o discurso da ciência como seu tema, tratando das questões formais da linguagem e da lógica utilizadas nesse discurso. Pensadores como Carnap, Popper, Wittgenstein, Ayer, Russell, entre outros, além de manterem um pressuposto cientifIcista de base - "só a ciência é conheci-mento verdadeiro e válido" -, entendem que a única atividade especifIca-mente filosófIca é proceder à análise técnica e rigorosa da linguagem da ciência. Mas uma outra tendência, também herdeira do positivismo, dedica-se à compreensão da atividade científIca, embora se preocupando menos com seus aspectos formais. Trata-se do racionalismo transpositivista e é praticado no âmbito da reflexão ftlosófica iniciada por filósofos/cientistas como Bruns-chvicg, Koyré, Poincaré, Meyerson, Piaget, Bachelard, Kuhn, Feyerabend.

As preocupações relacionadas com o objeto e o método das ciências humanas provocaram a emergência de tendências filosóficas que desenvolvem reflexões tanto sobre os fundamentos epistemológicos como sobre o seu objeto. É o caso do estruturalismo, que se formou a partir da inspiração da metodologia das ciências semiológicas, especialmente da lingüística. Busca construir uma epistemologia válida para todo o campo das ciências humanas. Assim, Lévi-Strauss o aplica à antropologia e à etnologia; Godelier, à economia; Lacan, à psicologia; Dumezil, à história.

SUPERVISÃO FILOSÓFICA

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FILOSOFIA NO SÉCULO XX NEO - TOMISMO MARITAIN (1882-1973) HUSSERL (1859-1938)

FENOMENOLOGIA

EXISTENCIALISMO

KIERKEGAARD (1813-1855) HEIDEGGER (1905-1982) SARTRE (1905-1980)

HERMENÊUTICA

RICOEUR ( 1913) MERLEAU-PONTY (1808-1961)

MAX SCHELLER (1874-1928)

DIALÉTICA GRAMSCI (1891-1937) FREUD (1856-1939)

TEORIA CRÍTICA

PSICANÁLISE ESTRUTURALISMO

HABERMAS (1929) MARCUSE (1908-1980) ADORNO ( 1903-1959) LÉVI-STRAUSS (1908) POPPER (1902)

SAUSSURE (1857-1913)

LINGUÍSTICA

WITTGENSTEIN (1859-1951)

NEO POSITIVISMO CARNAP (1891-1970)

UNIDADE II. 2

METAFÍSICA : Ser ou não ser ? “A metafísica não é uma filosofia. Ao contrário ! A filosofia é que é metafísica.” ( Emanuel C. Leão,Aprendendo a Pensar.1991)

METAFÍSICA 1. QUE É ISSO? Um sentido primitivo (ANDRÔNICO DE RODES, Séc. I a.c.) usou o termo "METATÀFÍSICA" para indicar o conjunto de escritos de Aristóteles depois da Física. A etimologia dá-nos a primeira indicação: "O QUE ESTÁ ALÉM DA FÍSICA", da natureza no sentido grego. Meta: para além de; depois. Física: (em latim natura; em Português Natureza) é o que nasce e morre, o que está sujeito à geração e à corrupção, o que aparece e desaparece, o que se move no espaço e no tempo, no mundo dos homens. As-sim, METAFÍSICA significa: a ciência acerca daqueles seres que estão para além da experiência imediata ou possível. 2. PROCURANDO CONCEITUAR... É a ciência do transcendente, do que está para além do mundo da experiência. É a ciência dos fundamentos, ciência fundamental. Aristóteles propõe como objeto da filosofia primitiva as primeiras causas e princípios, o ente conquanto ente, a primeira substância. A Metafísica é, ao mesmo tempo, LÓGICA, ONTO-LOGIA, e TEOLOGIA. Por outras palavras, a METAFÍSICA é "ONTO-TEO-LÓGICA".

É Ontologia porque é a ciência do ente enquanto ente, e enquanto busca os primeiros princípios e causas do ser; é Teologia por-que na busca de compreender depara-se com o "ato puro de ser" (Deus) a fonte dos seres; é Lógica porque procura conhecer os princípios e as causas das coisas que é o "lógos" dos seres. E "Lógos" é a inteligibilidade. 3.ONTOLOGIA Vem do grego "on" e "lógica". Estudo do ser. Ontologia, num sentido comum é o tratado do ser, ou mais exatamente do ente enquanto ente. Estuda as propriedades mais gerais do ente enquanto tal; e busca nos entes, saber o que é o ser. A Ontologia tem por objeto, pois, o ENTE enquanto ente. A Ontologia converte-se em METAFÍSICA: inteligibilidade integral dos entes do mundo da nossa experiência. 4. CONCLUSÃO... É a ciência primeira, isto é, a ciência que tem por objeto, o objeto comum a todas as ciências: o Ser. Metafísica é a filosofia buscando os fundamentos do Real, da realidade.

Entrada da metafísica Os filósofos também criaram termos metafísícos, que não se referem àquilo de que se constitui a realidade, mas a como está organizada e como funciona. Alguns dos termos metafísicos mais famosos são 'idéias' ou 'formas', 'substância', 'essência', 'categorias', 'espírito', 'mônadas' e 'númeno'. Deus também é um conceito metafísico. Os filósofos, é claro, criaram todo tipo de teoria sobre a realidade. Cada novO sistema filosófico requer um novo conjunto de termos metafísicos para descrever sua versão da realidade. Alguns desses termos metafísicos são bem estranhos! Para você compreender a filosofia do ser e a metafísica, seguese uma sinopse de como as idéias metafísicas surgiram e se transformaram no decorrer da história. Isso o ajudará a ver por que as idéias metafísicas são importantes.

Léxico Metafísica é um ramo da filosofia que estuda a constituição. a função e a organização da realidade em geral. O termo também é usado mais especificamente para se referir aos aspectos da realidade que não podem ser observados e medidos. como Deus e a virtude.

Ser leva a conhecer Esse argumento, conhecido como 'prova ontológica' da existência de Deus, mostra que, quando você aprofunda a idéia de ser, a questão do conhecer vem à tona. Em outras palavras, aceitar ou não determinada explicação da realidade depende em parte de como você conhece as coisas e de corno a capacidade de conhecer as coisas se adapta à questão do ser.

Mas eu estou me adiantando. Você terá de esperar até o Capítulo 3 para ver como o estudo do conhecimento se enquadra na filosofia em geral. Por enquanto, a idéia é que o que pensamos sobre o conhecimento influencia nosso pensamento sobre Deus.

Ser e pensamento Muitos filósofos no Ocidente associaram Deus com o conhecimento. Alguns afirmaram que o conhecimento humano não é capaz de compreender Deus, de modo que temos de aceitar sua existência com base na fé. Outros sustentaram que o conhecimento revela a existência de Deus.

Um dos exemplos mais espantosos desta segunda visão foi apresentado pelo filósofo Baruch Spinoza, que acreditava que a própria matéria conseguia pensar! Ele acreditava que coisas como rochas e água e árvores e azulejos - toda a realidade - estão vivas e são capazes de conhecer - uma visão denominada 'vitalismo'. Não apenas a realidade consegue pensar, disse Spinoza, mas a própria realidade é Deus. Deus e natureza, para Spinoza, são dois lados da mesma moeda.

Sabedoria em ação Use o vitalismo para explicar por que as coisas vivem se perdendo ou se quebrando. Diga que o vaso antigo de sua mãe estava tão desesperado que não quis mais existir; ele saltou da mesa e se espatifou no chão enquanto você passava por lá.

Formas de ser Eis algumas das idéias mais importantes propostas pelos filósofos para compreender o ser e seu funcionamento: Platão Formas perfeitas, imutáveis e ideais dão ordem e inteligibilidade à realidade física.

Aristóteles Cada coisa identificável possui uma essência que a dota de um propósito, culminando no primeiro motor.

Santo Tomás de Aquino A realidade foi criada por Deus de acordo com Seu plano (confirmado pela 'prova ontológica'). Spinoza A realidade constitui-se de uma única substância, que inclui Deus e a natureza; tudo que existe faz parte dessa substância única, capaz de pensar ('vitalismo'). Descartes A realidade física funciona de acordo com princípios mecânicos. Além dela, há a realidade espiritual, incluindo Deus e a mente, que consegue pensar ('dualismo'). O dualismo de Descartes traçou uma separação clara entre a realidade física e a metafísica. Um resultado importante dessa separação foi que os filósofos e cientistas puderam estudar o mundo natural sem terem de se preocupar com questões sobrenaturais. Na verdade, desde a época de Descartes, muitos filósofos têm sustentado que devemos parar de fazer perguntas metafísicas - perguntas sobre Deus ou qualquer outra coisa não verificável pela observação.

Mesmo assim, outros filósofos continuaram vendo o próprio conhecimento como metafísico, à semelhança de Descartes. A partir da época de Descartes - o século XVII - os filósofos começaram a defender ou atacar duas formas diferentes pelas quais o ser se relacionava com o conhecimento. Elas são conhecidas como 'racionalismo' e 'empirismo'. O racionalismo vê o conhecimento como metafísico, existindo independentemente da realidade física. O empirismo, por sua vez, vê o conhecimento como baseado na realidade observável, física. Aprenderemos mais sobre racionalismo e empirismo no Capítulo 3, que aborda a epistemologia, ou estudo do conhecimento.

O mínimo que você precisa saber •Os primeiros filósofos gregos fizeram uma distinção entre realidade física e realidade social e humana. •Metafísica é o ramo da filosofia que estuda como a realidade funciona. O termo também é usado em referência ao que não pode ser verificado pela observação, incluindo Deus. •Idéias sobre Deus muitas vezes dependem de idéias sobre o conhecimento.

•Descartes estabeleceu uma clara separação das realidades física e metafísica no século XVII.

A metafísica A metafísica é a investigação filosófica que gira em torno da pergunta "O que é?". Este "é" possui dois sentidos:

1. significa "existe, de modo que a pergunta se refere à existência da realidade e pode ser transcrita como: "O que existe?"; 2. significa "natureza própria de alguma coisa", de modo que a pergunta se refere à essência da realidade, podendo ser transcrita corno: "Qual é a essência daquilo que existe?". Existência e essência da realidade em seus múltiplos aspectos são, assim, os temas principais da metafísica, que investiga os funda-mentos, as causas e o ser íntimo de todas as coisas, indagando por que existem e por que são o que são. A história da metafísica pode ser dividida em três grandes períodos, o primeiro deles separado dos outros dois pela filosofia de David Hume:

UNIDADE II. 3

GNOSIOLOGIA : O que podemos saber sobre o conhecimento ? “Parece óbvio e evidente, mas, ainda assim, precisa ser dito: O conhecimento isolado, obtido por um grupo de especialistas em um campo restrito, não tem valor em si mesmo, mas somente em sua síntese com todo o resto do conhecimento e apenas na medida em que contribui realmente para esta síntese a fim de responder à pergunta : “QUEM SOMOS NÓS ?”

( E. SCHRODINGER apud GOLEMAN,1997)

GNOSIOLOGIA 1. O QUE É ISSO? É a parte da Filosofia que estuda o CONHECIMENTO (humano). Como o próprio termo indica, ("GNOSIS" = CONHECIMENTO), gnosiologia é o estudo, a doutrina, o tratado sobre o conhecimento. Etimologicamente, GNOSIOLOGIA, vem do grego: "gnoses = conhecimento; "logia" = estudo, tratado. O estudo desse problema - o conhecimento chama-se "TEORIA DO CONHECIMENTO" ou simples-mente, GNOSIOLOGIA. 2. PROCURANDO CONCEITUAR... TEORIA DO CONHECIMENTO vem a ser o estudo reflexivo e crítico da origem, da natureza, dos limites e do valor do conhecimento. Estudo reflexível e crítico. Certo é que o estudo do Conhecimento (a Gnosiologia no sentido genérico) abrange o estudo dos vá-rios aspectos sob os quais o conhecimento se pode considerar: o aspecto lógico, psicológico e crítico. Mas, é desse último - o crítico - que se ocupa a Gnosiologia, tal como a entende a maioria dos autores que no séc. XX se servem dessa palavra, atual-mente em voga. Em sentido mais restrito, a gnosiologia vale o mesmo que crítica, ou teoria do CONHECIMENTO: parte da filosofia que trata do problema crítico, isto é, do valor objetivo do Conhecimento. Daí surge o CRITICISMO.

3. CRITICISMO Essa palavra vem de "CRÍTICA". A palavra "crítica" vem de "crisis", julgar, juiz (grego). É a posição dos filósofos que reconhecem a legitimidade do problema crítico e para os quais, portanto, a crítica, ou a Teoria do Conhecimento é legítima ou até necessária, como pressuposto e base de toda a ulteriores investigações filosóficas. Ou seja, CRITICISMO é um julgamento apurado que inicia o ato de filosofar. Neste sentido o Criticismo, aparece em to-dos os filósofos. 4. GNOSE Como vimos, GNOSE é, etimologicamente, CONHECIMENTO (clássico). É, originalmente, a ação de conhecer, aprender. Características dominantes: a) é uma forma de conhecer a verdade; b) é uma dádiva, um Dom iluminativo; c) esse conhecimento é de origem divina. A questão do conhecimento é permanente na própria experiência e determinação racional do homem e, universal na reflexão filosófica. O conhecimento representa o fundamento da vida mental e consciente e seu significado central. Para ARISTÓTELES, o conhecer é a relação entre o sujeito conhecedor e o objeto conhecido.

5. CONCLUINDO... Tudo começa com uma pergunta: Podemos ter um conhecimento exato do mundo em que vivemos? As respostas são muitas: o homem pode conhecer tudo; não podemos conhecer nada, conhecemos apenas parte da realidade; etc. Conhecer é APRENDER um objeto... Essa apreensão se verifica mediante uma construção que o sujeito elabora a partir dos elementos sensíveis deter-minados pelo objeto. O conhecimento resulta, pois, primeiramente da atividade de EU sobre a realidade. Atualmente surgem os problemas: Conhecimento e comunicação; Conhecimento e vida; Conhecimento e Ideologia; Conhecimento e História, etc. A Teoria do Conhecimento constitui-se como par-te autônoma de Filosofia a partir da KANT (1724-1804) que elaborou a mais completa teoria filosófica sobre o conhecimento.

O CONHECIMENTO “O conhecimento não é crença, mas o reconhecimento da Verdade”

( ELIZABETH NAICH )

(CHAUI,2000; GHIRALDELLI,2003)

Em grego, verdade é aletheia. •O não-oculto; o não escondido •O que não está dissimulado •A evidência / “O que é revelado” ( Heidegger)

•O oposto de pseudos; falso.

A verdade está nas coisas: SÃO ( PRESENTE) Dizer a verdade é falar do que está no fenômeno, coerentemente

Verdadeiro é o que se manifesta tal qual é.

Em latim, verdade é veritas.

•Exatidão de um relato. Precisão. Rigor •Narrativa acurda, exata, pormenorizada •Fidelidade ao que aconteceu •O oposto da mentira

A verdade está nos FATOS: FORAM ( PASSADO) Dizer a verdade é enunciar correspondentemente aos fatos acontecidos Verdadeiro é o que tem linguagem autenticada.

Em hebraico, verdade é emunah.

•Pacto, aliança, esperança, confiança •O que se combinou, acontecerá •Fidelidade a um pacto •É o mesmo que “Amém”. É um acreditar

•Relaciona-se com a presença/espera de que aquilo que foi prometido acontecerá •O oposto é a omissão/infidelidade A verdade está nas PESSOAS/DEUS: SERÃO (FUTURO)

Dizer a verdade é profetizar: provocar esperança e confiança Verdadeiro é o que cumpre o que promete

A Verdade

..........A verdade é um dos temas mais difíceis de tratar, e não apenas em filosofia. Todo o ser humano, de alguma forma, julga estar de posse da verdade, pelo menos naquilo que é fundamental para ele: a sua religião, o seu partido, a sua equipa de futebol, os seus amigos, etc. Por outro lado, os poucos exemplos apontados bastam para ficarmos conscientes das divergências que podem existir no que respeita à verdade: as guerras religiosas, as guerras partidárias, a oposição entre adeptos, etc., tudo em nome de verdades diferentes.

..........Comecemos por analisar as coisas tomando como ponto de partida o conhecimento científico; é ele que aparece muitas vezes como o mais verdadeiro, aquele que obtém o maior consenso, tendo em conta sobretudo a eficácia das suas realizações no nosso quotidiano. Vamos tomar como guia um especialista, o epistemólogo Karl Popper.

Verdade como correspondência. ..........Popper subscreve a posição clássica, já formulada por Aristóteles: a verdade é o acordo, ou correspondência, do pensamento com a realidade. Uma teoria científica é verdadeira se está de acordo com a realidade. Como podemos saber se isso acontece? O problema é que, de uma forma absoluta, nunca o podemos saber: as teorias científicas são sempre hipotéticas, sempre sujeitas a revisão devida a novos factos ou novas formas de encarar os factos. Donde decorre que nunca podemos ter certeza da verdade de uma teoria. Verdade e certeza são coisas diferentes. Assim, se esta é talvez ainda uma das melhores definições de verdade, deixa em aberto outra questão tão ou mais importante: o critério. Como distinguir o verdadeiro do não verdadeiro? (Cf. texto de García Morente, Critérios de verdade). ... como coerência. ..........Davidson analisa estes problemas e avança com a coerência como forma de solucioná-los (cf. Verdade como coerência). Não podemos sair de nós mesmos e pôr de um lado os nossos conhecimentos, do outro a realidade, para conferirmos se esta corresponde àqueles. Tudo aquilo a que temos acesso é aos nossos conhecimentos, às nossas opiniões ou crenças. Todavia, na medida em que o conjunto dessas opiniões, conforme revelado na nossa comunicação com os outros, se revela coerente, podemos admitir que o mesmo é em geral verdadeiro.

... como processo.

..........Existem outras formas de ver a questão da verdade. Hegel, por exemplo, chamando a atenção para as divergências entre os diversos sistemas filosóficos, rejeita a verdade como algo estático, vendo nela um processo contínuo, em que os diversos aspectos da verdade, por vezes contraditórios mas sempre necessariamente ligados entre si, se vão manifestando (cf. A verdade como processo). O saber absoluto corresponderia ao resultado desse processo, manifestado na arte, na religião e na filosofia; com a reserva de que, ainda aqui, é necessário continuar a ter presente o carácter dinâmico da verdade. ... e outras verdades. ..........Poder-se-iam multiplicar as concepções de verdade. A título de exemplo, podíamos apontar Heidegger, fazendo da verdade o desvelamento do ser na e através da linguagem; Nietzsche, que rejeita o próprio conceito, afirmando que não há factos em si em relação aos quais se pudesse estabelecer uma verdade, mas unicamente pontos de vista, valorizações, interpretações; e isto leva-nos diretamente para a perspectiva céptica de que, como diria o nosso Francisco Sanches, nada se pode saber.

..........Tal como em relação à realidade (cf. Ontologias da contemporaneidade), o nosso problema com a verdade pode dever-se a pensarmos nela numa perspectiva de apropriação, de redução ao Mesmo. Sem pretender uma verdade absoluta, da mesma forma que parece não ser possível um conhecimento (apropriação) absoluta da realidade, podíamos no entanto reconhecer lugar para a verdade, uma verdade da qual todos nós, de vez em quando, temos experiência, nem sempre de forma agradável. Isto pode ser compreendido melhor através de um exemplo prático: pensemos na nossa relação com os outros. Muitas vezes convivemos anos com determinada pessoa sem a encontrarmos, quer dizer, sem sabermos realmente o que ela é. Por fim, às vezes por um mero acaso, descobrimos a verdade! A realidade, qualquer coisa, entrou pelo nosso pensamento adentro e impôs-se, e a partir daí já não somos os mesmos (cf. texto de de Aldo Gargani, O encontro com a necessidade).

Teoria do Conhecimento É necessário antes de tudo, esclarecer a relação entre Teoria do Conhecimento e Gnosiologia, a fim se de evitar equívocos e esclarecer o que seja cada uma. Deve-se ressaltar que gnosiologia não é exatamente a mesma coisa que a chamada Teoria do Conhecimento, embora às vezes possamos encontrar esta identificação em alguns livros de filosofia. A gnosiologia, também chamada por vezes de gnoseologia, ou Filosofia do Conhecimento, estuda a capacidade humana de conhecer. A raiz filológica do termo vem das palavras gregas gnosiV (conhecimento) e logia (verbo, palavra, discurso). Desde a filosofia clássica a gnosiologia constituía uma parte da metafísica, juntamente com a ontologia e a teodicéia. Numa visão de filosofia sistemática mais lógica, podemos classificar a gnosiologia como uma das partes principais da filosofia, como filosofia intelectual, ao lado da ontologia (filosofia existencial) e da deontologia (filosofia comportamental). Assim temos uma divisão da filosofia em três grandes partes: •Ontologia – Filosofia Existencial •Gnosiologia – Filosofia Intelectual •Deontologia – Filosofia Comportamental

E assim como a filosofia divide-se em partes fundamentais, também a gnosiologia divide-se em Lógica, Crítica e Epistemologia. •Lógica – filosofia da forma e método do conhecimento •Crítica – filosofia da possibilidade, origem, essência e valor do conhecimento. •Epistemologia – filosofia da ciência e conhecimento científico.

Como se pode constatar, aquilo que se estuda nos cursos de graduação em filosofia com o nome de Teoria do Conhecimento corresponde mais exatamente à chamada Crítica, estando separada da Lógica e Filosofia da Ciência, como disciplina autônoma. A Teoria do Conhecimento tem por objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecimento, da faculdade de conhecer. Às vezes o termo usado ainda como sinônimo de epistemologia, o que não é exato, pois a mesma é mais ampla, abrangendo todo tipo de conhecimento, enquanto que a epistemologia limita-se ao estudo sistemático do conhecimento científico, sendo por isso mesmo chamada de filosofia da ciência.

1. Os principais problemas da Teoria do Conhecimento

Pode-se fazer uma divisão didática da Teoria do Conhecimento, baseada nos problemas principais enfrentados por ela: •A possibilidade do conhecimento •A origem do conhecimento •A essência do conhecimento •As formas do conhecimento •O valor do conhecimento (o problema da verdade)

Se há conhecimento humano, existe a verdade, porque esta nada mais é do que a adequação da inteligência com a coisa (segundo a concepção aristotélico-tomista). Com a existência da verdade, há conseqüentemente a existência da certeza, que é passar a inteligência à verdade conhecida. A inteligência humana tende a fixar-se na verdade conhecida. Metodologicamente, há primeiramente o conhecimento, depois a verdade, e finalmente a certeza. Tal tomada de posição perante o primeiro problema da crítica, é chamado de dogmatismo, sendo defendida por filósofos realistas, como por exemplo, Aristóteles e Tomás de Aquino.

Se, ao contrário, se sustentar que a inteligência permanece, em tudo e sempre, sem nada afirmar e sem nada negar, i.é, sem admitir nenhuma verdade e nenhuma certeza, sendo a dúvida universal e permanente o resultado normal da inteligência humana, está se defendendo o ceticismo. O problema crítico representa um passo além do dogmatismo e do ceticismo. Uma vez que admite-se a existência da verdade (valor do conhecimento), e da certeza, perguntase então onde estão as coisas: só na inteligência, como querem Platão, Kant , Hegel (idealismo), só na matéria, como ensina Marx (materialismo), no intelecto humano e na matéria, como dizem Aristóteles, Tomás de Aquino (realismo), ou só na razão, como diz Descartes (racionalismo). Para o idealismo o ente, i.é, o ente transcendental compões-se somente de idéias. Para o materialismo, somente matéria. Para o realismo, idéias e matéria. Para o racionalismo, é razão. Investigando o fundamento de todo o conhecimento, pois critica o conhecimento do ente transcendental, a Crítica é a base necessária de todo o saber científico e filosófico, inclusive da própria Ontologia.

2 - Tipos de Conhecimentos Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um fato ou fenômeno qualquer. O conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em nossa vida cotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e artigos diversos. Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e transformar o conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por diversos meios, numa situação de mudança do conhecimento; somos os únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como a linguagem, e com ele registrar nossas próprias experiências e passar para outros seres humanos. Essa característica é o que nos permite dizer que somos diferentes dos gatos, dos cães, dos macacos e dos leões.

Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução da espécie humana, permitimo-nos também ao pensar e, por conseqüência, a ordenação e a previsão dos fenômenos que nos cerca.

Existem diferentes tipos de conhecimentos: 2.1 - Conhecimento Empírico (ou conhecimento vulgar, ou senso-comum) É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não planejadas. Exemplo: A chave está emperrando na fechadura e, de tanto experimentarmos abrir a porta, acabamos por descobrir (conhecer) um jeitinho de girar a chave sem emperrar. 2.2 - Conhecimento Filosófico É fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência.

Exemplo: "O homem é a ponte entre o animal e o além-homem" (Friedrich Nietzsche) 2.3 - Conhecimento Teológico Conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. Exemplo: Acreditar que alguém foi curado por um milagre; ou acreditar em Duende; acreditar em reencarnação; acreditar em espírito etc..

2.4 - Conhecimento Científico É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Podemos então dizer que o Conhecimento Científico: - É racional e objetivo. - Atém-se aos fatos. - Transcende aos fatos. - É analítico. - Requer exatidão e clareza. - É comunicável. - É verificável. - Depende de investigação metódica. - Busca e aplica leis. - É explicativo. - Pode fazer predições. - É aberto. - É útil (GALLIANO, 1979, p. 24-30). Exemplo: Descobrir uma vacina que evite uma doença; descobrir como se dá a respiração dos batráquios.

UNIDADE II. 4

LÓGICA : Lógica ou jeito ? “Toda certeza é ilusória, porque a vida é essencialmente incerta . . . Aprender a argumentar significa (. . . ) Combinar lógica e democracia . . .

( DEMO, 2004)

1. O QUE É ISSO? Pode definir-se LÓGICA, segundo a etimologia, como CIÊNCIA DO LOGOS. Por sua vez, LOGOS significa palavra, proposição, oração, e também pensa-mento, argumento, discurso, razão etc., o que torna possível a noção de lógica. Lógica indica a idéia da "a arte de raciocinar bem". Ou melhor: é aquela parte preliminar da Filosofia que estuda, e, ao mesmo tempo, prescreve as leis do pensamento em todas as suas fases; formação das idéias, divisão, definição, juízo, raciocínio, construção das sínteses científicas.

2. PROCURANDO CONCEITUAR Para Aristóteles, a lógica não era uma ciência, mas um instrumento para as ciências. Eis porque o conjunto das obras lógicas aristotélicas recebem o nome de ORGANON, palavra grega que significa instrumento.

A Lógica caracteriza-se como: INSTRUMENTAL: é o instrumento do pensamento para pensar corretamente e verificar a correção do que está sendo pensado. FORMAL: se ocupa da forma pura e geral dos pensa-mentos, expressa através da linguagem

PROPEDÊUTICA: é o que devemos conhecer antes de iniciar uma investigação científica ou filosófica, pois somente ela pode indicar os procedimentos (métodos raciocínio, demonstração) que devem empregar para cada modalidade de conhecimento.

NORMATIVA: fornece princípios, leis, regras e normas que todo pensamento deve seguir se quiser ser ência entre dois termos (conceitos). O que caracteriza essencialmente o juízo é o ato de afirmar positivo ou negativo uma síntese de dois conceitos. Ex: O conceito (ou termo) "homem" O conceito (ou termo) "morte"

Síntese positiva: 'Todo homem é mortal" - (Juízo DOUTRINA DA PROVA: estabelece as condições e os fundamentos necessários de todas as demonstrações. GERAL E TEMPORAL: as formas do pensamento, seus princípios e suas leis não dependem do tempo e do lugar, nem das pessoas e circunstâncias, mas são universais, necessárias e imutáveis como a própria razão.

3. RESUMO O objeto da Lógica é a proposição, que exprime, através da linguagem, os juízos formulados pelo pensamento, constituindo um argumento. O encadeamento dos juízos constitui o raciocínio e este se exprime logicamente através da conexão de proposições ou premissas. Essa conexão chama-se silogismo, e o processo pelo qual chegamos a uma conclusão chama-se inferência.

4. A PROPOSIÇÃO A proposição é um DISCURSO DECLARATIVO que enuncia ou declara verbalmente o que foi pensado e relacionado pelo juízo. A proposição reúne ou separa verbalmente o que o juízo reuniu ou separou mentalmente.

Ex: 'Todo homem é mortal" - premissa ou proposição. "Pedro é homem" - premissa ou proposição.

5. JUÍZO Juízo é o ato pelo qual a inteligência afirma, ou nega, uma coisa de outra ou, segundo a Lógica, o ato pelo qual se afirma ou nega uma relação de conveniência

6. ARGUMENTO É produto lógico. Conceito geral de "prova", Argumentação é a representação lógica do raciocínio utilizando as premissas ou proposições. É um tipo de operação discutiva do pensamento que consiste em encadear logicamente juízos e deles tira uma conclusão, Esse processo chama-se também INFERÊNCIA.

Ex.: Todo homem é mortal. 1 a premissa ou proposição. Pedro homem é. 2a premíssa Logo, Pedro é mortal. Conclusão verdadeiro.

7. INFERÊNCIA Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Inferir é tirar uma proposição como conclusão de uma outra ou de várias proposições que a antecedem e são sua explicação ou causa.

A idéia geral de inferência é: A é verdade de B. de C.

B é verdade de C. Logo, A é verdade

8. RACIOCÍNIO O raciocínio é uma operação realizada por meio de juízos e enunciada lingüística e logicamente pelas proposições encadeadas formando um SILOGISMO. Raciocínio e Silogismo são operações mediatas de conhecimentos, pois a inferência significa que só conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio ou pela mediação de outras coisas.

Lógica Aristóteles, filósofo grego (384 - 322 a.C.), foi o fundador da ciência da lógica, e estabeleceu um conjunto de regras rígidas para que conclusões pudessem ser aceitas logicamente válidas. O emprego da lógica de Aristóteles levava a uma linha de raciocínio lógico baseado em premissas e conclusões. Como por exemplo: se é observado que "todo ser vivo é mortal" (premissa 1), a seguir é constatado que "Sarah é um ser vivo" (premissa 2), como conclusão temos que "Sarah é mortal". Desde então, a lógica Ocidental, assim chamada, tem sido binária, isto é, uma declaração é falsa ou verdadeira, não podendo ser ao mesmo tempo parcialmente verdadeira e parcialmente falsa. Esta suposição e a lei da não contradição, que coloca que "U e não U" cobrem todas as possibilidades, formam a base do pensamento lógico Ocidental.

Definição e Evolução da Lógica 1.Não há consenso quanto à definição da lógica. Alguns autores definem-na como o estudo do processos válidos e gerais pelos quais atingimos a verdade, outros como a ciência das leis do pensamento, ou somente como o estudo dos princípios da inferência válida. Esta pluralidade de definições dá-nos conta da diversidade de estudos que são abrangidos pela Lógica.

2. A lógica foi criada por Aristóteles, no século IV a.C., como uma ciência autônoma que se dedica ao estudo dos actos do pensamento - Conceito, Juízo, Raciocínio, Demonstração- do ponto de vista da sua estrutura ou forma lógica, sem ter em conta qualquer conteúdo material. É por esta razão que esta lógica aristotélica se designa também por lógica formal. 3. Em contraposição a este conceito de lógica formal, surgiu um outro - o de lógica material - para designar o estudo do raciocínio no que ele depende quanto ao seu conteúdo ou matéria. 4. Esta distinção entre lógica formal e lógica material permite-nos agora perceber porque:

Tendo em conta a sua forma, o raciocínio é correto ou incorreto ( válido ou invalido). Mas se atendermos à sua matéria, a conclusão pode ser verdadeira ou falsa. Exemplo: Nenhum homem sabe dançar Este dançarino é homem logo, este dançarino não sabe dançar. Este raciocínio é formalmente correto, uma vez que a conclusão está corretamente deduzida. Mas a conclusão é falsa, uma vez que é falsa a primeira proposição ("Nenhum homem sabe dançar"). Estamos perante um raciocínio que tem validade formal, mas não tem validade material. Logo temos que concluir que é falso

5. Desde a sua criação a lógica tem registrado enormes aperfeiçoamentos, sobretudo, a partir de meados do século XIX . É costume dividir-se a sua história em três períodos: Período Clássico, Período Moderno e Período Contemporâneo. 5.1.Período Clássico ( Séc.IV a.C) até ao século XIX). A lógica formal aristotélica domina por completo este período. A lógica exprime-se numa linguagem natural. Dava uma enorme importância ao estudo dos raciocínios dedutivos, isto é, aqueles onde passamos do geral para o particular, do conhecido para o desconhecido. Os estudos de lógica davam grande ênfase à analise de enunciados que continham exatamente dois termos, dos quais se extraia uma dada conclusão. A lógica foi vista até ao século XVI como o principal instrumento do conhecimento científico: a)

Os filósofos haviam estabelecido um conjunto de princípios, de natureza metafísica, que eram considerados não apenas verdadeiros, mas também como a explicação para tudo o que existia. Tudo havia sido deles derivado; b) Com base nestes princípios, os cientistas raciocinando de uma forma dedutiva, procuravam explicar todas as coisas que existiam e ocorriam. c) A lógica procurava definir as leis do pensamento que nos permitiam chegar à Verdade. 5.2. Período Moderno (Século XIX a princípios do matemática como modelo, lógicos como George Boole, construíram uma linguagem artificial -simbólica para a pensamento lógico. O raciocínio é visto como cálculo denomina lógica matemática ou simbólica.

século XX). Tomando a Frege ou Bertrand Russell expressão do conteúdo do matemático. Esta lógica é

5.3. Período Contemporâneo (Século XX ). Assiste-se neste período à expansão e diversificação da lógica matemática, o que se traduz no aparecimento de novos ramos no estudo da lógica, tais como: - Lógica Combinatória (estuda certos processos relacionados com variáveis),

- Lógica Modal ( estuda as conexões entre os enunciados tendo em conta a sua modalidade); - Lógica Polivalente (estuda os cálculos que contemplam mais de dois valores (verdadeiro ou falso) para o mesmo enunciado.

-Lógica Deontica (estuda os enunciados normativos sob o ponto de vista lógico) A lógica matemática veio a exercer uma influência decisiva no em muitos domínios, como na Eletrônica, Cibernética, Informática, Neurofisiologia, Lingüística, Inteligência Artificial...

LÓGICA

Lógica Formal

Lógica Material

( Estuda os actos do pensamento sem ter em conta qualquer conteúdo material

(Estuda o raciocínio tendo em conta os conteúdos materiais)

Raciocínio Válido / Invalido

Raciocínio Verdadeiro / Falso

UNIDADE II. 5

ÉTICA : Como agir ? “Os píncaros da santidade contracenam com os abismos da humana fragilidade. As virtudes são eminentes porque as tentações vencidas foram grandes. Não se bebe a santidade como se bebe na infância o leite materno. Por detrás do santo se esconde um homem que conheceu os infernos dos abismos humanos e a vertigem do pecado, do desespero e da negação de Deus". "A santidade é um dom de uma conquista penosa". "Não é sem razão que os santos representam o que há de melhor na raça humana". Leonardo Boff (1981, p. 157)

1. O QUE É ISSO? Ética ou Filosofia Moral. Ética é um adjetivo substantivado em cuja origem

etimológica encontramos dois termos gregos: "éthos": costume, uso, maneira (exterior) de proceder, e "êthos": morada, habitação, toca, maneira de ser. Moral, do latim "moves" = costume. É a ciência dos costumes e concepção expressamente normativa.

2. PROCURANDO CONCEITUAR... A ÉTICA pode ser definida como "CIÊNCIA DO ETHOS". Ethos como "morada" estuda o "lugar" do homem, a maneira de ser do homem, a ser construí-da por ele mesmo; Ethos como "costume", estuda nosso modo de viver, os valores que norteiam nossa vida. Ética é a explicitação das razões implícitas no "ethos" de uma determinada cultura para organizá-Ias sistematicamente e criticamente na forma de uma ciência do ethos. Em resumo, é a transcrição num dis-curso racionalmente ordenado, das razões normativas, axiológicas e Teológicas presentes no mundo da vida. A ética estuda o SER, o Verdadeiro e o Bom.

3. OS VALORES ÉTICOS Uma definição simples de ÉTICA é esta: o estudo da atividade humana com relação a seu fim último, que é a realização plena da humanidade. Ou seja, a ética estuda os VALORES que norteiam o fim último, a finalidade do homem: ser feliz, realizado. Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, veremos que nele a ÉTICA firma três grandes princípios de vida moral: a) Por natureza, os seres humanos querem o bem e a felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa

b) A virtude é uma força interior do caráter, guiada pelo bem e pela razão e esta controla os impulsos. c) A conduta ética é aquela que o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar.

A BUSCA DO BEM E DA FELICIDADE SÃO A ESSÊN-CIA DA VIDA ÉTICA.

O que é Ética ? Pode se conceituar Ética como "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal , seja relativamente a determinada sociedade , seja do modo absoluto. A Ética encara a virtude como pratica do bem e esta como a promotora da felicidade dos seres ,quer individualmente ou coletivamente , onde são avaliados os desempenhos humanos em relação às normas comportamentais pertinentes O caminho da virtude é sempre possível . Enquanto o homem existir , tem ele a possibilidade de modificar sua conduta e imprimir direção diferente às suas ações . E todos os homens orientam-se na vida por um critério valorativo , conferindo assim um sentido pessoal em suas vidas . Nem sempre é tranqüilo atingir-se o conceito de bem , principalmente vivenciá-lo de maneira coerente . Por mais rígidas sejam as convicções morais , pode permear a consciência sensível cera insegurança quanto à fixação dos padrões e o balizamento concreto das atitudes humanas.

Não se pode exigir tanto da ética . Esperar prova absoluta dos princípios gerais ou certeza objetiva de julgamentos , morais específicos , o importante é a busca de boas razoes para a opção moral concreta .

Como agir

Os filósofos empregam os termos 'moral' e 'ética' para se referir ao modo como as pessoas deveriam agir. Um ato moral ou um ato ético é o que é certo de se fazer. Um ato imoral ou antiético é errado. Perguntas sobre como agir, portanto, são também perguntas sobre o bom e o ruim.

O campo da ética é uma área filosófica vital atualmente, como foi para os gregos antigos. Das questões relacionadas aos Dez Mandamentos à clonagem genética, os temas morais e éticos interessam não apenas àqueles que têm como profissão pensar nessas coisas, mas também às pessoas comuns como você. As punições judiciais deveriam ser aplicadas com base nas circunstâncias particulares de uma pessoa? Ou, independentemente das diferentes situações, existem padrões e julgamentos ideais aplicáveis a todos os casos? As pessoas nascem com traços que as fazem agir diferentemente - talvez até imoralmente segundo alguns critérios - das outras? Os filósofos abordam estas e outras questões de ética baseados em seus pressupostos sobre a realidade e suas prioridades como filósofos.

Porque sou tão importante Vários fatores têm promovido o individualismo no Ocidente ao longo dos séculos: •A religião ocidental focaliza a relação individual com Deus. •A filosofia ocidental, de Pia tão ao século XVII, focaliza a relação individual com verdades ideais. •A ciência ocidental tem, em grande parte, focalizado a relação individual com as leis físicas da natureza. •O capitalismo ocidental tem focalizado o indivíduo como uma unidade econômica. Todos esses fatores agem como um véu impedindo as pessoas de verem a importância da sociedade.

Reação à convenção A opção entre o individualismo e o coletivismo está muito ligada a como você se sente em relação à convenção social. Confúcio acreditava que a convenção social era vital. Ele a associava ao que denominou o Tao,ou "o caminho". Outros filósofos tiveram diferentes atitudes em relação a ela. A convenção social é útil ou prejudicial? Eis alguns modos, recomendados pelos filósofos, de lidar com ela: Confúcio Siga-a em prol de uma sociedade harmoniosa. Platão Descubra se ela corresponde a formas ideais de virtude. Descartes e os racionalistas Despreze-a e obedeça à razão. Locke e os empiristas Concorde em segui-Ia para evitar problemas. Kant e os idealistas Obedeça à única convenção verdadeira, a saber, tratar os outros como gostaria de ser tratado. Kierkegaard e os existencialistas Olhe através dela para seu eu verdadeiro. Marx Descubra como ela promove as forças de produção e rebele-se contra ela. Foucault e os pós-estruturalistas Não pare de lutar contra ela; não há como escapar de seu poder. Até agora, examinamos algumas questões-chave dos três ramos principais da filosofia a fim de obtermos um panorama. Os capítulos restantes falam de filosofias específicas - da Grécia antiga, Índia e China até o presente.

UNIDADE II. 6

AXIOLOGIA : Qual é o grande valor ? “Não é difícil tomar decisões quando você sabe quais são seus valores” (Roy Disney )

1. O QUE É ISSO? Ou TEORIA dos VALORES. A acepção da palavra "Axiologia" é relativamente recente na história da Filosofia, mas o tema do VALOR (que em grego se diz "áxios" e que significa aquilo que é precioso, digno de ser estimado ou preferido, aquilo que tem um peso ou vale a pena) é tão antigo quanto a vida. É a parte a Filosofia que estudo os VALORES de ação e conduta. É também chamada Filosofia dos Valores. 2. PROCURANDO CONCEITUAR...

Essa "Teoria geral do valor", vem a ser a teoria crítica dos valores. O que é Valor? Valor é tudo aquilo que faz o objeto de uma atividade de adesão ou recusa, ou ainda de um juízo crítico. Ou ainda, Valor é a não-indiferença de alguma coisa relativamente a um sujeito ou uma consciência motivada. Assim, a indiferença é o ponto Zero, ausência de valor. Por conseguinte, quando se constitui um valor, este si-tua-se sempre num dos pólos, no positivo ou no negativo. Os valores são, em outras palavras, negativos ou positivos. 3. OS VALORES Em geral valor é o que deve ser objeto de preferência ou de escolha. Os estudos contemporâneos iluminam os seguintes pontos: 1. O valor não é somente a preferência ou o objeto

da preferência, mas é o preferível, o desejável, o objeto de uma antecipação ou de uma espera normativa.

2. Este ideal de preferência é o guia ou a norma das próprias escolhas e em cada caso, o seu critério de juízo. 3. Uma teoria do valor tende a determinar as autênticas possibilidades de escolha. 4. HIERARQUIA DE VALORES Existem entre os valores uma hierarquia, ou seja, uma ordem de superior ou inferior. De um modo apenas abrangente os valores são:

- do ponto de vista formal: POSITIVO, NEGATIVO, PESSOAIS e REAIS (das coisas), AUTÔNOMOS E DE-PENDENTES. - do ponto de vista material: sensíveis (hedônicos, vitais e de utilidade) espirituais (éticos, estéticos e religiosos). 5. CONCLUINDO Axiologia ou teoria dos valores é uma disciplinarecente. Se o valor foi, sem dúvida, uma das descobertas fundamentais da filosofia, as correntes da FILOSOFIA DOS VALORES são também numerosas contando-se entre eles, o empirismo lógico dos valores, o personalismo crítico dos valores e a sociologia dos valores.

Axiologia Muitas respostas diferentes podem ser dadas à pergunta "o que é intrinsecamente bom?" Os hedonistas dizem que é o prazer; os pragmáticos, a satisfação, o crescimento ou a adaptação; os humanistas, a auto-realização harmoniosa; os cristãos, o amor a Deus. Axiologia, ou teoria do valor, é a abordagem filosófica do valor em sentido amplo. Sua importância reside principalmente no novo e mais extenso significado que atribuiu ao termo valor e na unidade que trouxe ao estudo de questões econômicas, éticas, estéticas e lógicas que eram tradicionalmente consideradas em separado. Originalmente, o termo valor referia-se principalmente ao valor de troca, como na obra do economista inglês do século XVIII Adam Smith. Durante o século XIX, o termo passou a ser empregado em outras áreas do conhecimento, sob a influência de diversos pensadores e escolas: os neokantianos Rudolf Lotze e Albrecht Ritschl; Friedrich Nietzsche, autor de uma teoria sobre a transposição dos valores; e Eduard von Hartmann, filósofo do inconsciente que usou pela primeira vez o termo axiologia no título de uma obra, Grundriss der Axiologie (1909; Esboços de axiologia).

Hugo Münsterberg, considerado o fundador da psicologia aplicada, e Wilbur Urban, autor de Valuation, Its Nature and Laws (1909; A valoração, sua natureza e suas leis) divulgaram as novas concepções nos Estados Unidos, onde o livro General Theory of Value (1926; Teoria geral do valor), de Ralph Perry, foi considerado a obra máxima sobre a nova disciplina. Perry definiu valor, inicialmente, como "qualquer objeto, de qualquer interesse", e logo explorou os oito domínios do valor: moralidade, religião, arte, ciência, economia, política, lei e costumes. Alguns autores distinguem valor instrumental de valor intrínseco, ou seja, o que é bom como meio e o que é bom como fim. John Dewey, em Human Nature and Conduct (1922; A natureza e a conduta humanas) e Theory of Valuation (1939; Teoria da valoração) tentou, sob um enfoque pragmático, acabar com a distinção entre meios e fins. Seu propósito, na verdade, era afirmar que existem, na vida das pessoas, coisas como saúde, saber e virtude que são boas em ambos os sentidos. Outros autores, no caminho inverso, multiplicaram as categorias de valor e opuseram, por exemplo, o valor instrumental (ser bom para alguma finalidade) ao valor técnico (ser bom para fazer alguma coisa) e o valor contribuinte (ser bom como parte de um todo) ao valor final (ser bom como um todo).

Uma vez que "fato" se relaciona com objetividade e "valor" implica subjetividade, a relação entre os dois conceitos é de fundamental importância para uma teoria objetiva do valor e dos juízos de valor.

Enquanto as ciências descritivas como a sociologia, a psicologia e a antropologia procuram determinar com critérios práticos o que é dotado de valor e as qualidades do que é valorizado, a filosofia permanece dedicada à tarefa de questionar a validade objetiva daqueles critérios. Ao filósofo cabe discutir se algo tem valor porque é desejado, como afirma Perry, ou se é desejado porque tem valor, como querem os objetivistas como Nicolai Hartmann. Ambas as abordagens supõem que os juízos de valor têm uma propriedade cognitiva. Elas divergem quanto à existência independente do valor como atributo de um objeto, sem interferência do interesse humano. Os nãocognitivistas negam a qualidade cognitiva aos juízos de valor e atribuem a eles uma função emotiva. Os existencialistas, como Jean-Paul Sartre, destacam a liberdade de escolha dos valores de cada pessoa e rejeitam uma relação lógica ou ontológica entre fato e valor.

Tipos de valores Os valores não são coisas nem simples idéias que adquirimos, mas conceitos que traduzem as nossas preferências. Existe uma enorme diversidade de valores, podemos agrupá-los quanto à sua natureza da seguinte forma: Valores éticos: os que se referem às normas ou critérios de conduta que afetam todas as áreas da nossa atividade. Exemplos: Solidariedade, Honestidade, Verdade, Lealdade, Bondade, Altruísmo... Valores estéticos: os valores de expressão. Exemplo: Harmonia, Belo, Feio, Sublime, Trágico. Valores religiosos: os que dizem respeito à relação do homem com a transcendência. Exemplos: Sagrado, Pureza, Santidade, Perfeição. Valores políticos: Justiça, Igualdade, Imparcialidade, Cidadania, Liberdade. Valores vitais: Saúde, Força.

UNIDADE II. 7

ESTÉTICA : Gosto, a gente discute ? “A arte é um modo extraordinário de ser real. Não se trata de um saber fazer. Trata-se do sabor de fazer”.

( E.C. Leão,1992)

1. O QUE É ISSO? O termo "ESTÉTICA" é tirado do grego "aisthésis", que significa "sensação". É, pois, a parte da Filosofia que trata da análise e formação do SENTIDO do belo, do gosto. 2. PROCURANDO CONCEITUAR... A ESTÉTICA não pode ser entendida somente como no sentido de substantivo, por exemplo, quando em-pregada no seu uso vulgar: estética corporal (ginástica), estética ambiental (ornamentação) etc. Em Filosofia, Estética significa um ramo da Filosofia que estuda radicalmente o Belo e o sentimento que sus-cita nas pessoas.

A fortuna da Estética ocidental está ligada não só à raiz etimológica grega, como também a um genuíno sentimento dos gregos que este termo evoca: SEN-SIBILIDADE. Significa, pois, teoria sobre a natureza de percepção sensível. Estética é o estudo do Belo e da Arte em geral, do ponto de vista histórico, científico e filosófico. É a Filosofia da Arte. A sensibilidade estética é a capacidade de perceber as coisas como belas.

3. A BELEZA, O BELO O belo é subjetivo (somente) ou objetivo? Pia tão foi o primeiro a levantar a questão, justificando a objetividade da arte e da beleza. Para ele, o belo é a única idéia que resplandece no mundo. Assim, ele afirma a essência do belo em si.

Beleza é um "fato" que, diante de certos seres, naturais ou artificiais, nos sentimos particularmente atingidos. São Tomás de Aquino dizia: "Belo é aquilo que provoca um conhecimento gozoso." O Belo decorre do equilíbrio resultante da perfeita combinação de todos os elementos esteticamente relevantes: forma, cor, traços, expressividade, luminosidade, movimentos, sons etc. 4. A ARTE A sensibilidade estética, como todo sentimento in-tenso, tende a se exteriorizar: é a ARTE (exteriorização da sensibilidade estética). A arte, em qualquer de suas modalidades é uma EXPRESSIVIDADE, uma espécie de linguagem sublime. Para a filosofia a arte é um caso privilegiado de entendimento interno do mundo, tanto para o artista que cria suas obras concretas e singulares, quanto para o apreciador que se entrega a elas para penetrar-lhes o sentido. Arte é a produção de beleza por parte de um ser consciente.

Breve História da Estética O belo e a beleza têm sido objeto de estudo ao longo de toda a história da filosofia. A estética enquanto disciplina filosófica, surgiu na antiga Grécia, como uma reflexão sobre as manifestações do belo natural e o belo artístico. O aparecimento desta reflexão sistemática é inseparável da vida cultural das cidades gregas, onde era atribuída uma enorme importância aos espaços públicos, ao livre debate de idéias e aos poetas, arquitetos, dramaturgos e escultores era conferido um grande reconhecimento social. Platão foi o primeiro a formular explicitamente a pergunta: O que é o Belo? O belo é identificado com o bem, com a verdade e a perfeição. A beleza existe em si, separada do mundo sensível.Uma coisa é mais ou menos bela conforme a sua participação na idéia suprema de beleza. Neste sentido criticou a arte que se limitava a "copiar" a natureza, o mundo sensível, afastando assim o homem da beleza que reside no mundo das idéias. Aristóteles concebe a arte como uma criação especificamente humana. O belo não pode ser desligado do homem, está em nós. Separa todavia a beleza da arte. Muitas vezes a fealdade, o estranho ou o surpreendente converte-se no principal objetivo da criação artística. Aristóteles distingue dois tipos de artes: a) as que possuem uma utilidade prática, isto é, completam o que falta na natureza.

b) As que imitam a natureza, mas também podem abordar o que é impossível, irracional, inverosímil. O que confere a beleza uma obra é a sua proporção, simetria, ordem, isto é, uma justa medida.

Belveder de Apolo. Cópia romana

Discóbolo. c.430 a.C

Durante a Idade Média, o Cristianismo, difundiu uma nova concepção da beleza, tendo como fundamento a identificação de Deus com a beleza, o bem e a verdade.

Santo Agostinho concebeu a beleza como todo harmonioso, isto é, com unidade, número, igualdade, proporção e ordem. A beleza do mundo não é mais do que o reflexo da suprema beleza de Deus, onde tudo emana. A partir da beleza das coisas podemos chegar à beleza suprema (a Deus).

São Tomás de Aquino identificou a beleza com o Bem. As coisas belas possuem três características ou condições fundamentais: a) Integridade ou perfeição ( o inacabado ou fragmentário é feio); b) a proporção ou harmonia (a congruência das partes); c) a claridade ou luminosidade. Como em Santo Agostinho, a beleza perfeita identifica-se com Deus. No Renascimento (séculos XV só em Itália, e XVI em toda a Europa), os artistas adquirem a dimensão de verdadeiros criadores. Os gênios têm o poder de criar obras únicas, irrepetíveis. Começa a desenvolver-se uma concepção elitista da obra da obra de arte: a verdadeira arte é aquela que foi criada unicamente para o nosso deleite estético, e não possui qualquer utilidade. Entre as novas idéias estéticas que então se desenvolvem são de destacar as seguintes: a) Difusão de concepções relativistas sobre a beleza. O belo deixa de ser visto como algo em si, para ser encarado como algo que varia de país para país, ou conforme o estatuto social dos indivíduos. Surge o conceito de "gosto". b)Difusão de uma concepção misteriosa da beleza, ligada à simbologia das formas geométricas e aos números, inspirada no pitagorismo e neoplatonismo. c) Difusão de uma interpretação normativa da estética aristotélica. Estabelecem-se regras e padrões fixos para a produção e a apreciação da arte.

Miguel Ângelo

Rafael

Entre os séculos XVI e XVIII predominam as estéticas de inspiração aristotélica. Procura-se definir as regras para atingir a perfeição na arte. As academias que se difundem a partir do século XVII, velam pelo seu estudo e aplicação.

Na segunda metade do século XVIII, a sociedades européia atravessa uma profunda convulsão. O começo a revolução industrial, a guerra da Independência Americana e a Revolução Francesa criaram um clima propício ao aparecimento de novas idéias. O principal movimento artístico deste período, foi o neoclássico que toma como fonte de inspiração a antiga Grécia e Roma. A arte neoclássica será utilizada de forma propagandistica durante a Revolução Francesa e no Império napoleônico. É neste contexto que surge I. Kant, o principal criador da estética contemporânea. Para Kant os nossos juízos estéticos tem um fundamento subjetivo, dado que não se podem apoiar em conceitos determinados. O critério de beleza que neles se exprimem é o do prazer desinteressado que suscita a nossa adesão. Apesar de subjetivo, o juízo estético, aspira à universalidade. Ao longo do século XIX a arte atravessa profundas mudanças. O academismo é posto em causa; artistas como Courbet, Monet, Manet, Cézanne ou Van Gogh abrem uma ruptura com as suas normas e convenções, preparando desta maneira o terreno para a emergência da arte moderna. Surge então múltiplas correntes estéticas, sendo de destacar as seguintes:

a) A romântica que proclama um valor supremo para a arte (F. Schiller, Schlegel, Schelling, etc). Exalta o poder dos artistas, os quais através das suas obras revelam a forma suprema do espírito humano, o Absoluto. b) A realista que defende o envolvimento da arte nos combates sociais. As obras de arte assumem muitas vezes, um conteúdo político manifesto.

Courbet,Atelier de Artista

Friederic

O século XX foi a todos os níveis um século de rupturas. No domínio das práticas artísticas, ocorrem importantes mudanças no entendimento da própria arte, em resultado de uma multiplicidade de fatores, nomeadamente: a) A integração no domínio da arte de novas manifestações criativas. Umas já existiam mas estavam desvalorizadas, outras são relativamente recentes. Esta integração permitiu esbater as fronteiras entre a arte erudita e a arte para grandes massas. Entre as primeiras destacam-se as artes decorativas, a art naif, a arte dos povos primitivos actuais, o artesanato urbano e rural. Entre as segundas destacam-se a fotografia, o cinema, o design, a moda, a rádio, os programas televisivos, etc. Todas estas artes são hoje colocadas em pé de igualdade com as artes consagradas, como a pintura, escultura etc., denominadas também por "Belas Artes". b) Os movimentos artísticos que desde finais do século XIX tem aparecido, em todo o mundo, tem revelado uma mesma atitude desconstrutiva em relação a todas as categorias estéticas. Todos os conceitos são contestados, e todas as fronteiras entre as artes são postas em causa. A arte foi des-sacralizada, perdeu a sua carga mítica e iniciática de que se revestiu em épocas anteriores, tornando-se freqüentemente um mero produto de consumo. Quase tudo pode ser considerado como arte, basta para tanto que seja “consagrado” por um artista..

c) No domínio teórico aparecem inúmeras as teorias que defendem novos critérios para apreciação da arte. No panorama das teorias estéticas predominam as concepções relativistas. Podemos destacar três correntes fundamentais: - As estéticas normativas concebem a beleza fundamentada em princípios inalteráveis. Entre elas sobressaí a estética fenomenológica de Edmund Husserl. - As estéticas marxistas e neomarxistas marcadas por uma orientação nitidamente sociológica. O realismo continuou a ser a expressão que melhor se adequa às idéias defendidas por esta corrente. A arte nos países socialistas, por exemplo, cumpria através de imagens realistas uma importante função: antecipar a "realidade" da sociedade socialista, transformando-a numa utopia concreta. - A estética informativa que deriva das teorias matemáticas da informação. Esta estética procura constituir um sistema de avaliação dos conteúdos inovadores presentes numa obra de arte.

UNIDADE II. 8

EPISTEMOLOGIA : Ciência da Ciência ? “E vadeamos a ciência, mar de hipóteses”. (C.D. de Andrade) Todo conhecimento é atuo-conhecimento” (Boaventura Santos )

1. O QUE É ISSO? EPISTEMOLOGIA quer dizer, etimologicamente, "discurso sobre a ciência". De: "EPISTEME = para os gregos significa "conhecimento verdadeiro ou ciência" em oposição à percepção sensível ou à simples opinião; é LÓGICA = estudo, discurso, tratado, etc. O termo "logos", emprega-se para, preferentemente, designar o estudo crítico das ciências naturais e matemáticas. 2. PROCURANDO CONCEITUAR...

Epistemologia é o estudo crítico da forma (não do conteúdo) da ciência. Isto é, estuda a estrutura racional que confere o caráter científico. O conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade: tem apenas 300 anos e surgiu no séc. XVII com a revolução galileana. Define-se como o conjunto de conhecimento obtido por método rigoroso e coerentemente sistematizado. A própria pa-lavra, EPISTEMOLOGIA, com que os gregos designavam tal saber, indica um conhecimento fundamental, caminho para a verdade, e não simplesmente opinião. A EPISTEMOLOGIA estuda a natureza e a fundamentação dos vários conhecimentos

científicos

3. CIÊNCIA

Diz-se, com alguma razão, que a CIÊNCIA nasceu na Grécia, por volta do séc. VI a.c., com a preocupação de fundamentar e sistematizar o saber. Há um título de nobreza que a Ciência reivindica: os seus enunciados formam um conjunto logicamente coerente e corroborado pela experiência. Ciência, em grego "EPISTEME" e em latim "SCIEN-TIA" é um conhecimento que inclui, em qualquer for-ma ou medida, uma garantia da própria validade. 4. CONCLUINDO... Ciência é o conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os objetos apreendidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método próprio. Processo pelo qual o homem se relaciona com a natureza visando à dominação e em benefício próprio. Há, hoje, um movimento que se opõe à uma dominação destruidora da natureza: o movimento ecológico. O crescente interesse atual pela ECOLOGIA resulta dos numerosos e graves problemas ecológicos com que os homens de hoje se defrontam e ameaçam a própria sobrevivência da humanidade. Com efeito, as diversas intervenções do homem na natureza tem originado muitos efeitos negativos: poluição, dilapidação dos recursos naturais, perturbação do equilíbrio dos ecossistemas.

Teoria do Conhecimento: O que é Epistemologia Filosofia da Ciência e da Tecnologia (ANDRADE FILHO, 1986:1) nos fornece algumas categorias que nos situam o lugar, os limites e a natureza do conhecimento científico e sua relação com a técnica. Trata-se de fazer uma indagação crítica sobre as afirmações científicas, de Filosofia e sua aplicação em Administração e Ciências Contábeis, por exemplo. Examinar o aparato científico, discutir suas teorias, seus princípios; saber aquilo que faz, o faz com "cons-ciência", critérios e cientificidade, eis, entre outras, as tarefas da Epistemologia. Epistemologia significa, etimologicamente, discurso (logos) sobre a ciência (episteme). Ao lado da epistemologia lógica e genética, surge, recentemente, um novo tipo de epistemologia, a "epistemologia crítica", fruto da reflexão que os próprios cientistas estão fazendo sobre a ciência em si mesma: "Trata-se de uma reflexão histórica feita pelos cientistas sobre os pressupostos, os resultados, a utilização, o lugar, o alcance, os limites e a significação sócio-culturais da atividade científica". (JAPIASSU, Hilton, 1977:26).

Iniciaremos nosso debate epistemológico. O que é ciência? O que é conhecimento científico? O que é uma verdade científica? Em que condições há verdade? Em que limites podemos falar de verdade científica? Quais os desafios éticos e políticos da ciência? Qual é o papel da experiência na pesquisa? Por que existe, hoje, um movimento de anticiência? Definições, é o que não falta (MARCOVITCH, 1983:18-19). Algumas amplas, outras restritas. Todas, idealistas. A verdadeira ciência seria o conhecimento da essência das coisas. Conhecer a estrutura ontológica de cada ente e o lugar da coisa na escala hierárquica, eis o que era a ciência na Idade Média. Hoje, o "modelo metafísico" cedeu o passo ao "modelo científico". A ciência moderna é pesquisa. Requer hipóteses e métodos de verificação e de exatidão. A realidade fica reduzida à pura objetividade: real é tudo aquilo e só aquilo que é objetivo. Ciência e Técnica modernas (e a pós-modernidade?) tendem a converter a realidade em objeto. A técnica visa efeitos, resultados. A técnica visa a eficácia. A técnica, como desafio, provoca a natureza obrigando-a a liberar energias. Essas são acumuladas, comercializadas e convertidas em moeda. A questão dos sentidos e da essência nem sequer lhes ocorre. Muito menos, a dimensão axiológica. Existe o mito da ciência pura e neutra. Como uma instituição-sistema, a ciência não pode ser neutra nem pura. Basta pensar na "irresponsabilidade social" dos cientistas e, do outro lado, no fornecer ao Estado uma justificação do apolitismo da pesquisa científica.

É verdade, não se pode negar, a dimensão social da Ciência e da Tecnologia. Quer queiramos, quer não, a ciência tem uma função social crescente no desenvolvimento da sociedade e no progresso tecnológico. Hoje, mais do que nunca, existe uma tomada de consciência dos problemas ecológicos, a destruição da terra, a "degradação das relações individuais nas sociedades industrializadas (tecnoglobalizadas), a utilização das pesquisas científicas para fins destruidores, a possibilidade de manipulação crescente dos indivíduos, a utilização maciça dos cientistas, de seus métodos e de seus produtos para fins repressivos e recessivos, a obsessão patológica pelo consumo..." (JAPIASSU, 1977: 139). São as conseqüências do desenvolvimento científico para o homem. Torna-se então falso e ilusório falar da ciência como se fazia outrora, como um domínio de conhecimento objetivo desinteressado, neutro com relação as suas aplicações e independente com relação às finalidades da ação (...) é fazer dela um uso ideológico..." (LADRIÈRE, 1979: 53). A ciência torna-se não somente um instrumento nas mãos dos membros dos poderes econômicos e políticos, mas também a cobertura ideológica de todo o sistema do "capitalismo global" (MARX, 1978: 325-326). Assume papel ideológico. Essas questões epistemológicas servem como pontos de partida para se trabalhar a "Filosofia e Epistemologia em sua relação com as propostas pedagógicas dos cursos envolvidos, no encontro do saber simbólico com o saber científico na atual sociedade tecnoglobalizada".

UNIDADE II.9

COSMOLOGIA : O mundo gira em torno de nós ? A astronomia compele a alma a olhar mais longe ... Parafraseando Platão

1. O QUE É ISSO? No campo filosófico, é um ramo da filosofia que investiga o SER-MUNDO, como tal.

O Termo COSMOLOGIA vem de "cosmo", em grego Ordem ou Mundo + "Logia", tratado, estudo. Significa TRATADO DO UNIVERSO.

2. PROCURANDO CONCEITUAR...

COSMOLOGIA é um ramo da filosofia geral que estuda os entes materiais da física teórica enquanto tais. O objeto material da Cosmologia é dado pelo conjunto universal dos entes físicos. ENTE FÍSICO é qualquer objeto real da análise física. A história da Cosmologia divide-se em três períodos:

a) ANTIGO (de Platão a Descartes): dois problemas, a origem e o princípio primordial da natureza(física) ou Cosmos. b) CLÁSSICO (de Descartes a Einstein): problemática da astronomia e da física. c) MODERNO (de Einstein até hoje): problemática da física moderna e da lógica.

3. COSMOS Vem de "COSMOS", ordem; é o UNIVERSO como sistema unitário, bem ordenado, de galáxias, estrelas e o sistema planetário do Sol. Foi Pitágoras o primeiro a usar o termo de COSMOS para designar a ordem e harmonia matemática do sistema planetário e sideral. Depois passou a significar o próprio MUNDO ordenado (PLATÃO). A palavra (Cosmos) é usada indiferentemente em lugar de "mundo". ]aspers, porém, estabeleceu uma distinção entre MUNDO e COSMOS, o "Mundo" é a imagem do mundo que cada um forma, mas por isso mesmo não é o COSMOS como a soma total de todas as coisas e os "eu existentes", isto é, a totalidade.

A ESTRUTURA DO UNIVERSO O SISTEMA SOLAR Nosso planeta se encontra a 150 milhões de quilômetros do Sol. A velocidade da luz no vácuo é de 300.000 quilômetros por segundo; o que faz com que a luz gaste 8 minutos para sair do Sol e chegar à Terra. Dizemos assim que a nossa distância ao Sol é de 8 minutos-luz ou 0,000.016 anos-luz (8 minutos é igual a 16 milésimos de milésimo do ano). O planeta mais distante no sistema solar, Plutão, está a 0,000.62 anos-luz do Sol. Se tomamos o sistema solar como nossa casa, dizemos que essa tem um diâmetro de 0,001.24 anos-luz. A VIA LÁCTEA

À noite, olhando o céu, percebemos que estamos avizinhados em todas as direções por um número incalculável de estrelas, semelhantes a nosso Sol. A estrela mais próxima do Sol se chama Próxima Centauro e está a 4,2 anos-luz de nós. Encontramos 20 estrelas dentro de um raio de 20 anos-luz do Sol, distribuídas de forma aleatória. Essas estrelas são como que casas em nosso quarteirão.

Houve uma época que a humanidade pensava estarem as estrelas distribuídas aleatoriamente por todo o universo. Hoje sabemos que as estrelas se reúnem em grupos imensos, com formas e movimentos característicos. A esses grupos damos o nome de galáxias. A nossa galáxia, que recebe o nome de Via Láctea, é constituída por centenas de milhões de estrelas e tem um diâmetro de 100.000 anos-luz. A Via Láctea está para o universo assim como nossa cidade está para o planeta Terra. Também as galáxias se reúnem em grupos. A Via Láctea faz parte de um extenso aglomerado de 20 galáxias ao qual chamamos Grupo Local. O diâmetro do Grupo Local é de aproximadamente 4 milhões de anos-luz. Próximos ao Grupo Local, também em todas as direções, encontramos vários e vários outros aglomerados. Os aglomerados galácticos também se reúnem em grupos. O Grupo local juntamente com algumas dezenas de outros aglomerados constituem o que chamamos Super Aglomerado Local. O Grupo Local se encontra próximo à borda do Super Aglomerado Local que tem um diâmetro de 150 milhões de anos-luz. Dentro da analogia que estamos fazendo o Aglomerado Local seria equivalente a nosso Estado, Minas Gerais, e o Super Aglomerado Local a nosso país, Brasil

O UNIVERSO CONHECIDO Como uma conseqüência da "Grande Explosão" que deu origem ao universo, vemos todo o universo em expansão. (Veja abaixo) O Super Aglomerado Local é também avizinhado em todas as direções por outros aglomerados e super aglomerados, que se movem afastando-se uns dos outros. Quanto mais distante um corpo se encontra de outro, maior essa velocidade de afastamento. Através do horizonte observável detectamos, além de uma radiação uniforme também proveniente da "Grande Explosão Cósmica", pontos de grande intensidade de radiação aos quais denominamos quasares. São esses os objetos mais distantes observados. Os mais longínquos, a aproximadamente 16 bilhões de anos-luz, estão se afastando de nós com uma velocidade superior a 90% da velocidade da luz. Pela ciência atual a velocidade da luz é uma velocidade limite; atingível apenas por corpos muito especiais, como o fóton, que não têm massa. Os quasares estariam assim próximos ao limite do universo.

UNIDADE II.10

ANTROPOLOGIA : Afinal, quem é o homem “Como diz MORIN, o ser humano é “homo sapiens demens” : conjuga racionalidade com demência” (P.DEMO,2004)

1. O QUE É ISSO? É a parte da filosofia que tem uma exposição sistemática dos conhecimentos a respeito do homem. A palavra ANTROPOLOGIA vem do grego, "ANTRO-POS" que significa homem, e "logia": estudo, trata-do, etc. É a reflexão filosófica sobre o homem, no sentido global, PESSOA HUMANA (homem e mulher). Podemos dizer ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA. 2. APROFUNDANDO

O problema que a Antropologia filosófica coloca, é o HOMEM. Este, como ser dotado de reflexão, "vive-se" como ser problemático, interroga-se sobre si mesmo e procura de alguma forma responder à pergunta: "Que é o homem?" Esta questão formulada, vem já de origem helênica (grega) e passou à antropologia moderna... 3. O HOMEM Em grego, "ANTROPOS"; em latim, "HOMO".

A Filosofia clássica tem três fórmulas: a) O Homem é um microcosmo (inspiração pitagórica).

b) O Homem é um animal racional (caráter aristotélico ). c) O Homem é um ser para a verdade (essência tomista).

O Homem sempre busca uma compreensão radical de si mesmo (Antropologia) de maneira global. Nesta busca descobre-se, ao mesmo tempo, "sujeito e objeto" de conhecimento. E também descobre-se "MISTÉRIO" que só é atingível na medida em que se revela.

Como se nota, são vastos e complexos os conheci-mentos sobre o Homem. Assim aparecem tão diversificadas as antropologias, que continuam em desenvolvimento e abertas... 4. RESUMO DE TEMAS 1. BIPOLARIDADE. São aspectos duais do homem (não dualismo) o homem é finito e vivo, matéria

e energia, radical novidade! 2. SER-CORPÓREO-ESPIRITUAL. (Unidade). Somos corpo, somos espírito. 3. SER DETERMINADO-LIVRE. O homem é livre e tem situações, limites.

4. SER INDIVIDUAL PESSOAL. O homem é EU e um EU que se relaciona.

5. SER DE EXPERIÊNCIA E PENSAMENTO. O homem age e pensa; ação e reflexão. 6. SER HISTÓRICO E TRANS-HISTÓRICO. O homem

vive e realiza-se temporalmente e abre-se para além da história. 7. SER PARA DEUS. O homem está ligado (aberto)

ao SER sem limites; é um TU ligado a um TU infinito. Vejamos as posições de alguns filósofos: O HOMEM É... - Sócrates Sábio - Aristóteles Animal Racional - Platão Alma e Corpo - Agostinho Alma Racional - Descartes Ser Racional - Kant Ser Conhecedor - Kierkegaard Ser Angustiado - Jaspers Mistério; Ser Relação - Heidegger Eis-Aí-Ser! - Mounier Pessoa - Chardin Ser-Para-a-Vida

A Antropologia Filosófica surgiu por volta de 1920, com os estudos de Scheler, Plessner e Gehlen. Ela tem um objetivo: saber o que é o homem.

Mas para saber o que é o homem, ela precisa utilizar métodos e, de fato, usa de muitos métodos: fenomenológico, transcendental, dedutivo, histórico e ainda outros.

Scheler disse que o homem possui espírito, pode amar, admirar, contemplar. Os outros animais não dispõem de nada disso. Eles contam com o instinto, não contam com a razão.

São limitados em sua participação nas coisas do mundo.

Vamos refletir aqui. O homem experimenta sentimentos, é um bicho social, faz cultura, inventa máquinas e sonhos e idéias, cria e modifica o tempo. Vai, portanto, muito além dos instintos. Tem liberdade suficiente para construir e alterar a realidade construída.

E mais: consegue se conhecer analisando os próprios atos.

Se voltarmos no tempo, constatamos que o homem primitivo não alcançava ainda uma vida em coletividade. Somente aos poucos, com a cultura, começou a ter consciência da coletividade e da individualidade. Conhecendo-se, descobriu-se um animal que se utiliza da razão, que é livre para tomar suas próprias decisões, e sua espiritualidade. Sócrates foi um dos primeiros filósofos a estudar o homem. “Conhece-te a ti mesmo” – passou a ser a intenção. Para ele o homem é alguém que pode responder com racionalidade a uma indagação racional.

Platão, seu esforçado aluno, afirmou que o homem é alma e que, com isso, é imortal. O corpo seria uma espécie de prisão para a alma Este filósofo achava que o corpo e a alma não se entendem muito bem. Exemplo: o corpo pode ter sono, mas o espírito pode precisar que ambos fiquem acordados.

A verdade é que já foi muito comum a definição do homem com sendo um animal racional. Muitos filósofos aceitaram esta definição: Agostinho, Descartes, Spinoza, Kant, Hegel e outros.

Mas hoje isso mudou.

São muitas as definições baseadas em características do homem. Exemplos: para Sartre, o homem é um ser livre; para Gabriel Marcel, problemático; para Luckmann, religioso. E ainda há tantas definições...

Descartes, Locke, Leibnitz achavam que quando um corpo humano se forma, Deus cria uma alma para ele. Outros, porém, como Marx e Comte duvidaram disso. Para estes últimos, a alma seria como um pensamento (que é o resultado das operações mentais). A alma então seria somente o resultado do próprio corpo, conseqüência da existência dele. Kant supunha apenas que a mente do homem não é competente para falar tanto a respeito da alma. Seria como, mais ou menos, uma formiga querer explicar o funcionamento de um computador.

O homem apresenta algumas peculiaridades que indicam como ele é, apresenta sinais de como anda vivendo e de quem ele é.

Vamos ver mais de perto, está bem? Usando de símbolos, o ser humano construiu a linguagem. Com ela tornou-se possível a comunicação.

As pessoas se uniram, criaram regras e formaram a sociedade. Por isso, Aristóteles definiu o homem também como um “animal social”.

O desenvolvimento é realmente intenso: elabora-se a ciência, aprimora-se a religiosidade, incrementa-se a arte. E, relacionando suas invenções e descobertas, o homem passa a viver conforme as posições morais que acata ou que segue como um dever (Ética).

Movendo-se no tempo e no espaço, o homem faz e refaz a própria história. Exerce seu direito, seus deveres, seu destino pela política. Sempre, em cada caso, dono de sua razão e de sua liberdade.

Existe uma constante atividade nas pessoas para aprender, crescer, usufruiu melhor de suas possibilidades. Cada pessoa atua querendo estar bem, atua querendo ser mais e ir mais além de si mesma. Platão, Descartes, Hegel, Nietzsche, Sartre e muitos outros filósofos sugeriram que de fato é assim.

Mas Blondel, Rahner e Gabriel Marcel entenderam que o caminho para qualquer coisa melhor nesta vida está sempre relacionado a uma presença de Deus.

Vimos a vida. E a morte?

O que acontece quando a pessoa morre, segundo os filósofos?

Feuerbach, Comte, Nietzsche achavam que tudo termina com a morte, até mesmo a alma. Esses primeiros filósofos são ainda hoje seguidos por uma quantidade enorme de pensadores.

No entanto, outros filósofos diagnosticaram que a alma continua a viver, mesmo após a morte do corpo. Filósofos como Platão, Agostinho e Descartes. Mas alguns filósofos, como Kant, escreveram que não podemos afirmar nem uma coisa nem outra. O assunto é misterioso e não dispomos de uma resposta satisfatória.

Na Antropologia Filosófica, o homem é o ator que anima as ações. Observando atentamente como o homem se comporta, como vive, como se relaciona com o mundo, temos indícios sólidos do que, enfim, é o homem.

Cada filósofo, como vimos aqui, acrescenta um pedacinho a este estudo. Cada filósofo chama a nossa atenção para aspectos que ele considera importante, e geralmente para alguma característica humana.

Mas uma mudança imensa tem acontecido na Filosofia. Ultimamente, filósofos existencialistas e estruturalistas opinaram de maneira distinta da usual; para eles o homem é o que ele mesmo quiser e puder ser.

Enquanto a Antropologia Filosófica se desenvolve, o ser humano tem nela uma companhia de viagem, um espelho para poder se ver.

A Antropologia Filosófica é uma tentativa de o homem se encontrar e de se entender. Não se trata de uma certeza, mas de uma possibilidade.

UNIDADE II.11

A FILOSOFIA DA HISTÓRIA : O que é tempo? “Eu sempre sonho que uma coisa gera, nunca nada está morto. O que me parece vivo, aduba. O que me parece estático, espera. (Adélia Prado)

“O tempo é algo bastante familiar e comum até que alguém pergunte “O que é o tempo ?” - momento em que se transforma em um enigma . . . “ (Agostinho, Confissões)

1. O QUE É ISSO? A FILOSOFIA DA HISTÓRIA é a ciência da Historicidade. Historicidade do ponto de vista filosófico: modo de ser histórico do espírito humano. Ou, como afirma HEIDEGGER, a temporalidade radical da existência humana. 2. APROFUNDANDO...

Que é História? História é o mundo histórico: a totalidade dos modos de ser e das criações humanas no mundo. O objeto da Filosofia da História é o passado humano como preparação do presente e este como preparação do futuro. O homem é o sujeito e o objeto da HISTÓRIA. Sendo assim parece ser próprio da Filosofia da História estudar: a temporalidade, a facticidade e a memoralidade (o tempo, a ação-criatividade e memória) humanas. É bom destinguir de HISTORIOGRAFIA: que é a arte de escrever corretamente a história. É obra do historia dor. Enquanto que Filosofia da História é obra do filósofo.

3. HISTÓRIA

Na filosofia de JASPERS, historicidade (História Humana) é uma relação com existência humana: o histórico é o acontecimento que faz um anel da cadeia de fatos do patrimônio humano. É a unidade do homem e da existência.

História é o mundo histórico: a totalidade dos modos de ser e das criações humanas no mundo ou a totalidade da vida cultural.

4. CULTURA Foi HEGEL, e depois dele MARX, que enfatizaram a CULTURA como HISTÓRIA. Para o primeiro, o TEMPO é a RAZÃO se manifestando e criando cultura, num processo contínuo. Para Marx, a História-Cultura é o modo como os homens produzem materialmente sua existência e dão sentido a essa produção material: a história-cultura reproduzem as RAZÕES SOCIAIS.

•O RELÓGIO •(adereço conceptual para usar no pulso) •Para-me um tempo por dentro Passa-me um tempo por fora •O tempo que foi constante no meu contratempo estar passa-me agora adiante como se fosse parar Por cada relógio certo no tempo que sou agora há um tempo descoberto no tempo que se demora. Fica-me o tempo por dentro passa-me o tempo por fora. •(Poema de Ary dos Santos Adereços, Endereços. Ilustração: Salvador Dali - A persistência da memória).

REDESCOBRIR A COMPLEXIDADE DO TEMPO O tempo não se deixa capturar pelo mercado O que é o tempo? Se ninguém me perguntar, então eu sei. Mas se eu quiser explicar a quem me pergunta. já não sei. (Santo Agostinho. Confissões. livro 11. capo 14)

Cada um de nós provavelmente consegue evocar com facilidade alguns tipos de experiência pessoal do tempo. Mas definir em que consiste o tempo não é nada fácil. Todos temos. ao menos vagamente. a sensação de que o tempo não é sempre a mesma coisa. Um aspecto parece óbvio à nossa experiência: o tempo flui. E ao correr, transforma o presente em passado. Ou haverá até nisso algo daquela nossa mania dualista de dividir tudo em à direita ou à esquerda. em cima ou embaixo, à frente ou atrás, antes e depois? Se ligarmos esses dualismos espaço-temporais com o problema grosso que representam todos os demais dualismos clássicos. o assunto engorda bastante. De qualquer modo. em nossa inculturação ocidental existe uma obsessão peculiar com o aspecto medível do transcurso do tempo. Mesmo quando lemos sobre teorias acerca do tempo que insistem em outros aspectos do mesmo.

a urgência pragmática de contar o tempo não nos abandona de todo. O eficientismo mercadológico acrescentou doses de obsessão à nossa mania de avaliação quantitativa do tempo. o tempo tem muitos nomes O tempo perguntou ao tempo: quanto tempo o tempo tem? O tempo respondeu ao tempo: todo o tempo que o tempo tem. Rima Escolar

A sinopse, que se apresenta a seguir, não aspira a ser uma supervisão completa, mas apenas uma ajuda introdutória para situar-se na variada terminologia e no vasto conceituário acerca do tempo. O elenco de expressões se amplia ainda mais em seções específicas deste texto.

ALGUNS DOS MUITOS NOMES DO TEMPO Chrónos, tempo cronológico Derivados

Tempo do relógio; tempo medido, contado; referente ao deus do tempo: Chrónos; tempo-valor mercantil: time is money; o just.in.time (estoque zero, plena oferta e demanda) da Qualidade Total; tempo publicitário; teletempo, telessegundo. - cronologia. cronograma, cronômetro, sincronia, sincronicidade. diacronia, ucronia (cf. utopia), etc.

tempo vivo (durée)

No grego bíblico há distinção nítida entre chrónos e kairós: tempo do dom, hora da graça, da salvação; tempo propício, dia da libertação; hora da "visitação"; momento em que "o anjo passa"; dia do Senhor; shabat; jubileu (HESCHEL. 1964; REHFELDP. 1988; SCHOLTISSEK. 1995; CULLMANN, 1972).

Derivados:

- tempo subjetivo, tempo vivencia!.

Kairós.

- cairologia, cairológico (Kairologie. em alemão).

A junção chrónos + kairós

Tempo real

- Cf. o poema bíblico Tudo tem o seu tempo (Eclesiastes 3,18).

- A coincidência. no instante presente, entre os acontecimentos e seu registro perceptivo pelo ser humano ou pelas máquinas "inteligentes". mesmo a grande distância. A noção de tempo real. inuentada pelos informa tas. resume bem a característica principal. o espírito da informática: a condensação no presente. na operação em andamento (Pierre LÉVY. 1993: 115). A mundialização. à qual se refere o cibermundo. uem acompanhada por uma uirtualização do espaço. É o tempo real que é mundializado. Trata.se de um único tempo (Paul VIRILlO). Nossa uisão do mundo já não é "objetiua" como a de outra. O tempo da perspectiua do espaço real do Quattrocento euidentemente já era uma construção do real. Mas nossa uisão se tomou teleobjetiua (no sentido estrito. e não para brincar com palauras). Nossa perspectiva é, doravante. a do tempo real (Paul VIRILlO). - BERGSON deslocava a ênfase para o presente do tempo vivo: O tempo real, que tem um papel fundamental na filosofia da evolução. é algo que escapa aos matemáticos (La pensée et te mouvant. PUF, 1938),

tempo absoluto

-Que flui uniformemente em todo lugar: categoria abstrata da nossa percepção do mundo.

tempo relativo

-Dependente dos parâmetros espaciais do movimento da massa/energia (cf. teoria da relatividade).

tempo natural

-Referente ao tempo na "natureza" (física. química, processos biofísicos), em contra posição - discutível - à "história": a presença do tempo irreversível na natureza implica historicidade da natureza (PRIGOGINE).

tempo histórico

-Referente a cultura, ideologias, projetos humanos. Creio que convém estar atento ao declínio do tempo local e ao declínio da história. Não o fim da história, mas essa espécie de oposição à história representada por um presente permanente. Refiro-me, é claro, ao presente dos multimeios (VIRllIO).

tempo delico

-Que "retoma" (círculo, ciclo, roda do tempo): eterno retorno.

tempo mítico

- A temporalidade, geralmente cíclica. contida nos mitos.

tempo cósmico

-Na Antiguidade, o girar das "esferas celestes", que regulam o curso do tempo: "imagem móvel da eternidade imóvel" (Platão, Timeo).

tempo cosmológi co - O fator tempo nas teorias cosmogônicas e cosmológicas.

tempo astronômico

-Tempo dos cálculos astronômicos, p. ex., anos-luz (cf. HAWKING).

tempo estático

-O das estátuas, dos dogmas, simulacro do eterno.

tempo dinâmico

- Com textura dinâmica (dynamic time warping: cf. DEL RISO).

tempo biológico

- Referente a processos auto-organizativos da vida. Hoje,... viver em simbiose com as redes e os sistemas. dos quais subtraímos uma parte do fluxo de informação para poder viver nossa vida como seres humanos com nosso tempo biológico (Joel de ROSNAY).

tempo fractal

tempo curto/ tempo longo

- A fragmentação da experiência temporal na pós-modernidade (VIRllIO. BAUDRILLARD, ROSNAY). "Tempo fractal": um tempo que cria bolhas temporais muito densas para uns, muito diluídas para outros. Há pessoas que vivem em bolhas de tempo diferentes. Surgem, assim, exclusões. Algumas se encontram em hiper. aceleração, outras em hiperdiluição" (ROSNAY).

- O tempo curto é o tempo do clip, do spot publicitário. Ele se desfaz e é substituído permanentemente. - O tempo longo é o da educação, da cultura, das carreiras. Trata.se de um tempo seqüencial (ROSNAY). A diferença entre o tempo curto das novas tecnologias e o tempo longo da educação é um problema que se coloca hoje fortemente para a escola (FINKELKRAUT),

visão negativa do tempo

visão positiva do tempo

padrões de temporalização (pat/erro of temporalization)

-O tempo visto apenas como destruidor; o tempo como degradação da eternidade; o temor da morte térmica do cosmo; tempo entrópico.

- O tempo que também constrói; neguentropia; Darwin; o tempo é também o "Grande Construtor".0

- Ordem por flutuação, estruturas dissipativas. simultanei-dade de ordem e caos (PRIGOGINE); -- hiperciclos (Manfred EIGEN); -- sinergética: comportamento cooperativo da matéria e da vida (Herman HAKEN. Univ. de Stuttgart); -auto-organização da vida; autopoiesis (MATURANA. VARELA); -- em outro plano conceitual. os padrões formalizadores (midia) de simbolizações.linguagens. práxis. techné. aís/hesis.

UNIDADE II.12

A FILOSOFIA POLÍTICA : Cidadania, o que é ? Filosofia que tem por objete a Polis. A Filosofia Política procura, antes de mais, dar resposta a duas interrogações :

I – O que é a Polis ? II - O que deve ser a Polis ? (H.B.Ruas )

1. O QUE É ISSO?

O homem é "ZOON POLITICON" (animal político). A palavra "POLÍTICA" vem de "POLIS", que quer dizer "MUITOS", "cidade", "Cidade-estado". A política concerne, em geral, no governo dos homens e a administração das coisas, e em particular, a organização e a direção dos Estados (pólis). A Política é um fazer, e é, sobretudo, um agir. 2. APROFUNDANDO...

Política e Filosofia nasceram na mesma época. Mui-tos dos primeiros filósofos foram chefes políticos e legisladores. Para os gregos, a finalidade da VIDA POLÍTICA era a JUSTIÇA NA COMUNIDADE. Os vocábulos gregos são empregados para compor as palavras que designam os regimes políticos: arehé = o que está à frente, o que tem comando, princípio: (arquia). kratos = o poder ou autoridade suprema: (cracia).

Do ponto de vista da arché os regimes políticos são: Monarquia governo de um só. Oligarquia governo de alguns. Poliarquia governo de muitos. Anarquia governo de ninguém.

Do ponto de vista dos Kratos: Autocracia poder de uma só pessoa, o rei. Aristocracia poder dos melhores. Democracia poder do povo. 3. IDEOLOGIA A política que vise a instaurar-se em determinado regime, que procure manter-se no regime instaura-do, tem habitualmente necessidade de recorrer à IDE-LOGIA. Essa funciona como arma e justificativa do poder. A ideologia procurará naturalmente exaltar as próprias virtudes e ocultar os próprios defeitos.

4. CONClUINDO... Se a política tem como finalidade a vida justa e feliz, isto é, a vida propriamente humana digna de seres livres, então é indispensável a Ética.

A Política

A política é a atividade que diz respeito à vida pública. Etimologicamente, polis, em grego, significa "cidade". A política é portanto a arte de governar, de gerir os destinos da cidade. O homem político é aquele que atua na vida pública e é investido de poder para imprimir determinado rumo à sociedade, tendo em vista o interesse comum. A ação política não é exclusividade de alguns seres especiais. Cada individuo, enquanto cidadão (filho da cidade) deveria ter espaços de participação efetiva que em absoluto não se restringem apenas ao exercício do voto! Este é apenas um dos instrumentos da cidadania na sociedade democrática. Portanto, todos nós temos uma dimensão política que precisa ser atuante. Embora não se confunda com as atividades comuns do homem (na família, trabalho, lazer etc.), a política de certa forma permeia todas as atividade humanas o tempo todo. Interfere na vida de cada um de múltiplas maneiras: na regulamentação legal das ações dos cidadãos, já que as leis são feitas pelos representantes escolhidos pelo povo; na gestão dos assuntos relativos à educação, saúde, abastecimento, transportes; nos aparelhos repressivos como tribunais, polícia, prisões. E impossível pensar em um setor sequer onde, de uma forma ou de outra, em maior ou menor grau, a influência da política não se exerça na vida de cada um.

Por exemplo, nas esquinas movimentadas das grandes cidades costumamos ver vendedores de balas, limões, panos de pó. Na maioria das vezes são crianças. A primeira impressão é de que certas pessoas escolhem de livre e espontânea vontade esse tipo de serviço, mas a análise cuidadosa revela a realidade cruel do desemprego e conseqüentemente de formas marginais de sobrevivência, como o subemprego. Diante das taxas de escolarização, ficamos sabendo que pelo menos um terço das nossas crianças em idade escolar se encontra fora da escola. Não é possível analisar tal situação como simples decorrência da vontade cada um: as crianças não freqüentam escola e estão soltas na rua não por vontade própria, nem porque seus pais relapsos. Antes, é preciso tentar entender por que o Brasil tem um dos índices mais vergonhosos de distribuição de renda, ao mesmo tempo que se situa entre os oito ou dez países mais ricos mundo! É por estas situações e muitas outras ninguém pode se considerar apolítico pena de a pretensa neutralidade justificar a política vigente. O homem despolitizado compreende mal o mundo em que vive e é facilmente manobrado por aqueles que detêm o poder.

A formação social capitalista e a organização

tecnocrática do Estado Mas a reflexão filosófica contemporânea, esclarecida pelas descobertas das ciências sociais, mantém-se muito atenta aos processos de opressão que se insinuam disfarçadamente mesmo no interior das formas democráticas de governo. Procede a uma severa análise das mesmas, sob o prisma da perspectiva ideológica. Assim, em que pese toda sua retórica liberal, o Estado burguês moderno não assegura efetivamente os direitos de todos os seus supostos cidadãos. Não constitui, de fato, um Estado autenticamente democrático, uma vez que para ser tal precisaria assegurar a todos os indivíduos as efetivas condições de existência: o exercício do poder social, a obtenção dos bens naturais da produção e o usufruto dos bens simbólicos da cultura.

Ora, com efeito, não é isso que vem ocorrendo na sociedade contemporânea. Com efeito, ela está predominantemente organizada sob uma formação social capitalista, em virtude da predominância do modo de produção próprio do capitalismo. É que as relações sociais que os indivíduos estabelecem entre si são diretamente influenciadas em decorrência do intercâmbio que, mediante o trabalho, eles praticam com a natureza. O desenvolvimento das forças produtivas (processo tecnológico) e a divisão social do trabalho é que vão determinando as relações sociais, especialmente as relações de classes.

Mas as classes, contrapondo-se mutuamente, vivem em situação de permanente conflito. Os conflitos, contudo, não podem ocorrer efetivamente, pois isso ameaçaria o funcionamento do conjunto social. Por isso mesmo, a classe dominante vai criar um instrumento propriamente político para sustentar o conjunto das relações sociais que são do seu interesse. Esse instrumento é o Estado. O Estado é o instrumento pelo qual a classe economicamente dominante se faz também politicamente dominante. E o Estado faz isso mediante dispositivos jurídico-administrativos, bem como por meio de processos propriamente ideológicos. Enquanto superestrutura jurídico-:administrativa, o Estado pode até adquirir alguma autonomia, escapando ao controle dos grupos economicamente dominantes. Por isso mesmo, na história política do Ocidente, a burguesia esposou, desde o século XVIll, o liberalismo como sua ideologia, no sentido de defender suas atividades contra uma excessiva intervenção do aparelho de Estado, quando ela pudesse ameaçar-lhe os interesses.

Não há dúvida de que, desde Platão, a natureza política da sociedade e o papel do Estado vêm sendo discutidos pela filosofia e pelas ciências sociais. Mas até hoje os homens não conseguiram nem encontrar um sentido completo para o Estado nem constituir uma forma adequada de organização da sociedade que atendesse efetivamente aos interesses de todos os indivíduos. Isso porque os homens ainda não conseguiram resolver a questão do poder que entre eles vigora.

O fato é que as experiências históricas de Estado, inclusive em sua forma moderna de Estado liberal capitalista, não instauraram uma real democracia, entendida essa como a forma de organização social que assegurasse o máximo de igualdade entre as pessoas.

A realidade histórica é que milhões de indivíduos não encontram sua realização humana nessa esfera da mediação social de sua existência. Marginalizados e excluídos, são totalmente desumanizados. Só poucas pessoas encontram aí condições de infra-estrutura para uma existência mais humana.

UNIDADE II.13

A FILOSOFIA DA LINGUAGEM : Está tudo na maneira de dizer ?

“O homem é um ser que fala”.

(Sentença Oracular)

1. O QUE É ISSO? É a filosofia buscando compreender o fenômeno da linguagem humana. O que é linguagem? Durante muito tempo a filosofia preocupou-se em definir a origem e as causas da linguagem. No seu livro "POLÍTICA", Aristóteles afirma que o homem é um ser social porque somente ele é dotado de linguagem. Os animais possuem voz e com ela exprimem dor e prazer, mas só o homem possui a PALAVRA (LOGOS) - daí língua, linguagem - e com ela exprime o bem e o mau, o justo e o injusto. A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, de relação com o mundo e com os outros, da vida social, do pensamento e das artes 2. APROFUNDANDO...

No seu livro "FEDRO", Platão dizia que a LINGUA-GEM é "Pharmakon" que, em português se traduz por: remédio, veneno e cosmético. Ou seja, linguagem é remédio, pois, pelo diálogo conseguimos curar nos-sa ignorância; é veneno, quando, pela palavra feri-mos e mentimos; é cosmético, quando a linguagem é máscara para ocultar a verdade.

Para referir-se à PALAVRA e à linguagem, os gregos possuíam duas palavras: Mythos e Logos. Diferentemente de Mythos, Logos é a síntese de três pa-lavras ou idéias: Fala/Palavra. Pensamento/Idéia. Realidade/Ser. Logos é a palavra racional do conhecimento do real. É discurso, pensamento e realidade. Logos é palavra-pensamento verdadeiro: Lógica. É palavra conhecimento de alguma coisa: lógica que colocamos no final de alguma palavra.

3. A ORIGEM DA LINGUAGEM Perguntas sobre a origem da linguagem levou a quatro tipos de respostas: 1. A linguagem nasce por imitação, isto é, os homens imitam os sons da natureza. ONOMATOPÉIA.

2. A linguagem nasce por imitação dos gestos. PANTOMIMA. 3. A linguagem nasce da necessidade: fome, sede... 4. A linguagem nasce da emoção: grito, choro, riso... Essas teorias não são excludentes. É possível que a linguagem tenha nascido de todas essas fontes.

4. O QUE É LINGUAGEM? A linguagem é um sistema de signos ou sinais usa-dos para indicar coisas, para a comunicação entre as pessoas e para a expressão de idéias, valores e senti-mentos. (Definição complexa).

Palavra em português; Barah em hebráico: força criadora; Logos em grego: fala, pensamento, ser; Verbum em latim: palavra de ação.

LINGUAGEM (gr. j,óyo;; lat. Sermo; ingl. Language, Speech; franco Language; aI. Sprache). Em geral o uso dos sinais inlersubjetivos. Por intersubjetivos se el1~onde os sinais que tornam possível a comunicação. Por uso se entende:

1. Q a possibilidade de escolha (instituição, mutação, correção) dos sinais; 2. Q a possibilidade de combinação de tais sinais em modos limitados e repetíveis. Este segundo aspecto diz respeito às estruturas sintáticas da L., enquanto o primeiro se refere ao dicionário da própria L. A ciência moderna da L. tem (como veremos) cada vez mais insistido sobre a importância das estruturas lingüísticas, isto é, das possibilidades de combinações que a L. delimita. Elementos como "Sócrates" "homem" "é" "e" "todos" "não" etc., são igual-mente palavras, isto é. sinais intersubjetivos, mas podem entrar num período somente com uma função determinada: isto é podem combinar-se com os outros sinais somente em modos que são limitados e reconhecíveis. A L. se distingue da língua que é um particular conjunto orgil11izado de sinais intersubjetivos. A distinção entre L. e língua foi estabelecida na ciência da L. por Ferdinando de Saussure, que a definia da seguinte forma: "A língua é um produto social da faculdade da L. e ao mesmo tempo um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir o exercício desta faculdade junto dos indivíduos.

Tomada em seu conjunto, a L. é multiforme e heteróclita; por cima de domínios diversos - aquele físico, aquele fisiológico e aquele psíquico - ela pertence também ao domínio individual e ao domínio social; não se deixa classificar em categoria alguma de fatos humanos porque não se sabe como determinar a unidade" (Cours de lingllistique générale, 191 6, pág. 1 5) . Do ponto de vista geral ou filosófico o problema da L. é o problema da intersubjetividade dos sinais, isto é, do fundamento desta intersubjetividade. Não é senão uma forma deste problema aquele da "origem" da L. debatido no séc. XVII e no séc. XIX: as duas soluções típicas não são de fato senão dois modos de garantir a intersubjetividade dos sinais lingüísticos. Que a L. se origine da convenção significa simplesmente que aquela intersubjetividade é fruto de uma estipulação, de um contrato entre homens; e que a L. se origine da natureza significa simplesmente que aquela intersubjetividade é garantida pela relação do sinal lingüístico com a coisa, ou com o estado subjetivo, a que ela se refere. Podem-se distinguir quatro soluções fundamentais do problema da intersubjetividade da L. e, portanto, quatro interpretações da L.: I." L. como convenção; 2." a L. como natureza; 3." a L. como escolha; 4." a L. como acaso. As três primeiras interpretações já haviam sido distingui-das e notadas .por Platão.

UNIDADE II.14

TEODICÉIA : Deus existe ? “Se Deus existe ? Sim. E podemos provar por cinco caminhos . . .”

( Tomas de Aquino)

“O pensamento não pode ter mais alto objeto do que Deus” (JOLIVET)

1. O QUE É ISSO?

Etimologicamente vem de "Teos" = DEUS + DIKÉ = DOUTRINA, DIREITO. É a doutrina do Direito e dajustiça de Deus. TEODICÉIA é título de uma obra de Leibniz: Ensino de Teodicéia, sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem de Deus. A partir do séc. XIX, o termo generalizou-se e passou a designar, como sinônimo, de TEOLOGIA NATURAL: a partir da metafísica que trata da Ciência filosófica de Deus como SER ABSOLUTO e Infinito, existência e atributo de Deus e suas relações com o mundo ou providência divina. No entanto, essa designação foi sendo substituída pelas designações mais apropriadas de TEOLOGIA FILOSÓFICA ou TEOLOGIA RACIONAL. 2. APROFUNDANDO... Teologia filosófica, teologia racional ou natural é a ciência de DEUS à luz natural da RAZÃO, ou mais explicitamente, a parte da Metafísica que estuda a existência e os atributos de Deus na sua qualidade de SER ABSOLUTO e INFINITO.

A Teologia filosófica como discurso racional sobre Deus é um fato na história do pensamento humano. A sua legitimidade está na experiência da gratuidade do ser, ou seja, na experiência da finitude e contingência do homem que apela para um PRINCÍPIO ABSOLUTO. Segundo alguns autores, a Teologia Filosófica é o último capitulo ou conhecimento da Metafísica, que busca causa suprema, a primeira e a última deste mundo. O problema de Deus é colocado, de maneira melhor e mais compreensível, pela RELIGIÃO e pela CONSCIÊNCIA MORAL de cada pessoa. Deste modo, a Teologia filosófica não é apenas o coroamento da Metafísica geral, mas também, o coroamento de toda a ANTROPOLOGIA.

TEODICÉIA PRELIMINARES 1.Natureza da Teodicéia. a) Definição nominal. A palavra Teodicéia vem de duas palavras gregas que significam justificação de Deus, e era reservada inicialmente às 'obras destinadas a defender a Providência contra as dificuldades que ~ levantam com o problema da existência do mal. . b) Definição real. Hoje. o nome Teodicéia tomou-se sinônimo de Teologia natural e se aplica ao conjunto do tratado de Deus. A ciência de Deus pela razão. c) Teodicéia e Teologia. A Teodicéia é então uma ciência racional; quer dizer que não recorre senão às luzes da razão natural. Difere por isto da Teologia, que toma por primeiros princípios, não os princípios da razão, mas os dados da Revelação.

2. Importância da Teodicéia. É quase desnecessário assinalar a importância e a utilidade da Teodicéia. A excelência de uma ciência está na razão da excelência de seu objeto. Ora, o pensamento não pode ter mais alto objeto do que Deus, Ser supremo, princípio primeiro e fim derradeiro de todas as coisas.

É no conhecimento e no amor de Deus que reside nossa perfeição e, por conseguinte, nossa verdadeira felicidade. Por outro lado, nosso conhecimento do mundo e do homem jamais poderá. ser completo, se não remontarmos a Deus como a causa de tudo o que existe, e a Moral não poderá ter fundamento sólido se não recorrermos a Deus, soberano Legislador. Enfim, a Teodicéia, demonstrando a existência de Deus, fornece à fé a primeira de suas bases racionais. 3. Método da Teodicéia.

Deus não é acessível aos sentidos. Por isto, a Teodicéia não pode ser uma ciência propriamente experimental. Ela é, por excelência, uma ciência metafísica, na proporção em que seu objeto ultrapassa absolutamente a experiência sensível, e deverá por conseguinte usar o método racional (43). Mas como Deus só pode ser conhecido por nós através dos efeitos de seu poder, a Teodicéia de-verá partir da observação dos fatos, para elevar-se daí até Deus, razão suprema destes fatos.

Prova da existência de Deus Enquanto perduravam as tensões entre filosofia e fé religiosa, vários filósofos valeram-se da lógica aristotélica para demonstrar a existência de Deus. Um deles foi Santo Anselmo da Cantuária, cuja 'prova ontológica' de que Deus existe tomou-se famosa. Essa prova sustenta que, se algo é perfeito, deve existir, pois a inexistência é sinal de imperfeição. O ente mais perfeito que podemos conceber é Deus. Como Deus é perfeito, ele deve existir.

Léxico Santo Tomás de Aquino foi outro filósofo influente que formulou provas lógicas da existência de Deus, apresentando cinco delas. Santo Tomás de Aquino também forneceu a mais completa explicação filosófica desenvolvida até então da relação entre Deus e a humanidade.

A prova ontológica da existência de Deus, de Santo Anselmo, afirma que, se algo é perfeito, deve existir, pois a: inexistência é sinal de imperfeição. Deus é perfeito, logo deve existir.

Ele explicou não somente como os seres humanos e outras criaturas foram criados por Deus como derivações da perfeição divina, mas também como poderíamos retomar à unidade com Deus por meio de seu poder de nos assimilar e de nosso desejo por ele. Para isso, lançou mão do conceito aristotélico de causalidade. Tudo possui uma finalidade, e, para Santo Tomás de Aquino, essa finalidade está ligada a Deus. Santo Tomás de Aquino também incorporou idéias neoplatônicas ao seu pensamento. Por exemplo, ele via a alma humana como a forma platônica do eu.

Segmentação lógica Santo Tomás de Aquino também se valeu, como os outros filósofos escolásticos, dos conceitos e procedimentos lógicos de Aristóteles. Essa lógica tomou-se notória por ser intricada e desnecessária. Com isso, os acadêmicos medievais adquiriram a reputação de absortos em si mesmos e obsessivamente fixados no uso de terminologia obscura. Embora Santo Tomás de Aquino fizesse um uso bem-sucedido e influente da lógica aristotélica, vários filósofos, ao associar Aristóteles e neoplatonismo, chegavam a conclusões absurdas. Eles se fixavam tanto na terminologia lógica de Aristóteles que passaram a acreditar que essa terminologia determinava, em vez de apenas refletir, a maneira de ser das coisas. Isso os levou a se engajar em discussões estéreis sobre categorias e causas, o que eram e como deveriam ser aplicadas. A idéia de que o logos, ou verbo, podia levar a uma visão da unidade estava se perdendo em meio às querelas sobre palavras, que tinham pouca relação com a realidade.

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