Happy hour By Osair de Sousa
Mal terminou de fechar a braguilha para atender ao celular. Encostou-se na parede azulejada, perto da pia. Telefone no ouvido, mirava-se no espelho. Os outros fregueses entravam esbaforidos e a saiam aliviados. Havia muito movimento. Não notava ninguém. - Alô, Reginaldo?... - Sim... Querida, é você? - Onde cê tá, Reginaldo? - Tô com o pessoal do trabalho, meu bem... - ...Com quem? - Você conhece, querida. O Fausto, o Otavinho... Todo mundo – ajeitou o cabelo com a mão desocupada. Avaliou o resultado mexendo com a cabeça, olhos fitos no espelho. - Deixa eu falar com o Otavinho, então... Não confio em você, Reginaldo, e você sabe bem disso. - ...Não, não dá pra falar com ele agora, meu bem... - Mas você não disse que está com ele? Ele está ou não está, Reginaldo? - Está, está aqui, sim... Não aqui, aqui mesmo... É... Ele está no bar comigo, já te falei, mas eu tô falando do banheiro... - Tudo bem, Reginaldo, mas se eu descobrir que você tá mentindo pra mim eu te mato! - Tá legal, amor, pode matar. Mas você tem que confiar em mim, cê sabe que eu te amo... - Eu também te amo, apesar do carma de galheira... Vou dormir, volta logo, hem!? - ...Tudo bem! Não precisa ficar acordada, daqui a pouco tô indo embora... Beijos, tchau! Ele, ao desligar: Fez uma última avaliação no cabelo e saiu. Parou na porta do banheiro, pensativo. Desligou o celular, retirando a bateria. Caminhou em direção à mesa e constatou que estava meio bêbado. Sentou-se à mesa. - Você demorou, tá se sentindo bem? - Tô ótimo, coração... Com você eu tô sempre melhor. - Por que cê demorou, então? - Tava falando com o Otavinho no celular. Ela, ao desligar: Pôs o fone no gancho, se aconchegando, com um longo e prazeroso suspiro, debaixo dos lençóis. Com a cabeça descoberta, ficou olhando-o enquanto ele saía do banheiro, enrolado em uma toalha. Sorriu-lhe, abrindo os braços num gesto mais do que convidativo. - Acho que quero mais: tô queimando! - Eu também, minha gata fogosa!... Mas, cê num acha que tá na hora do Reginaldo chegar? - Liguei pra ele... Disse que está numa reunião chata e que não tem hora de acabar. - O Reginaldo em reunião? Com quem? - Com você, meu garanhão... Pelo menos, foi o que ele me disse.
[do livro "Enquanto isso..."] © Copyright 1996-2009 by Osair de Sousa. All Rights Reserved. This story may not be reproduced in any form or distributed without the author's explicit written permission. Email the author. mailto:
[email protected] Goiânia, Goiás, Brazil - 1996,