Hans_jonas_as_bases_filosoficas_para_uma.pdf

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5(6802 O objetivo deste ensaio é, através de uma pesquisa de caráter teórico, apresentar resumidamente o esforço de Hans Jonas para fundar uma ética – uma ética de responsabilidade para com as gerações futuras – com vistas à sobrevivência planetária. A ampliação do conceito de responsabilidade, agora englobando a própria natureza e também as gerações futuras, faz com que os trabalhos desse filósofo mereçam uma atenção redobrada por parte de todos que estejam envolvidos com as questões ambientais globais. Defende-se aqui, que nenhum outro autor tenha chegado tão próximo de estabelecer as bases filosóficas para uma ética da sustentabilidade. 3DODYUDVFKDYH: ética, responsabilidade, gerações futuras, sustentabilidade.

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Engenheiro, Especialista em Filosofia (PUC-PR) e Mestre em Tecnologia (CEFET/PR). Professor na Universidade Tuiuti do Paraná. Aluno do Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná. [email protected] Biólogo e Doutor em Filosofia da Educação. Professor Sênior no Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR. [email protected]

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 ,1752'8d­2 A crise ambiental contemporânea, maior sintoma do uso desmedido da tecnologia, tem provocado o debate sobre a necessidade da adoção de princípios éticos que possam mediar os atos humanos em relação ao meio circundante. Ou seja, e aqui se recorre ao filósofo KarlOtto Apel, os conflitos atuais conduzem necessariamente à "exigência de uma ética de responsabilidade solidária em face da crise ecológica da civilização técnico-científica" (APEL, 1994, p.172). Para ele, é urgente essa "ética de responsabilidade solidária" que sirva de orientação ético-política fundamental para uma era marcada pelo agravamento da crise ambiental e que leve em consideração a responsabilide para com as gerações futuras. As preocupações com as gerações futuras foram ratificadas num documento publicado pela Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente em 1987, sob o título "Nosso Futuro Comum", também conhecido como Relatório Brundtland. O texto, ao defender um desenvolvimento capaz de "suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas" (BRUNDTLAND, 1987), está sugerindo uma ética de responsabilidade para com o futuro. Nesse contexto, um dos autores que chama a atenção é Hans Jonas, filósofo cuja contribuição teórica parece responder aos crescentes desafios trazidos pela modernidade tecnológica e, de uma forma muito específica, às questões impostas pela atual crise ambiental. Ao ser referir à responsabilidade, Jonas vai muito além do que se costumeiramente se estabelece nos encontros internacionais que discutem o futuro da humanidade e seu trabalho é visto por muitos como sendo a base filosófica de qualquer discussão ética neste campo. Considerado um dos pensadores mais importantes do ambientalismo, Hans Jonas ocupa um papel central no debate das idéias ecológicas, tendo encontrado aceitação nos mais variados círculos. Luc Ferry (1992) o vê como um dos alicerces do pensamento ambientalista contemporâneo, possuindo, na Europa e no restante do mundo, partidários de destaque. Hans Jonas tenta responder ao desafio da articulação de uma ética de responsabilidade solidária capaz de servir como orientação para o agir humano face a problemática ambiental. Em 1979, teve publicada sua obra "O Princípio da Responsabilidade: ensaio de uma Ética para a Civilização Tecnológica", que logo se transformaria numa referênca para as mais diversas discussões no campos do ambienalismo, com reflexos nas esferas políticas, jurídicas, científicas, etc. O objetivo desse pequeno ensaio é, através de uma pesquisa de caráter teórico, apresentar resumidamente o esforço de Hans Jonas para fundar uma ética universal, embasada no seu Princípio da Responsabilidade, norteador para o agir humano na era da civilização tecno-científica, uma ética de responsabilidade para com as gerações futuras, com vistas à sobrevivência planetária. Defende-se aqui, que nenhum outro autor tenha chegado tão próximo de estabelecer as bases filosóficas de uma ética para a sustentabilidade.

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 $2%5$ Em seu "Princípio da Responsabilidade",Hans Jonas, através de diversos princípios e paradigmas, se propõe a edificar uma ética nova, já que as éticas tradicionais não eram mais capazes de responder aos desafios da modernidade tecnológica. Para ele, as questões éticas suscitadas pelo progresso da tecnologia – cujo poder é imenso e perigoso – dizem respeito aos efeitos remotos, cumulativos e irreversíveis de sua intervenção sobre a natureza, aliás, vista pelas éticas tradicionais como de menor importância, pois que "a atuação sobre os objetos não humanos não constituía uma questão de relevância ética" (JONAS, 1995, p.21), ou seja, "toda ética tradicional é antropocêntrica" (Id., p.29). Para Jonas, porém, a ação humana, tecnologicamente potencializada, pode danificar irreversivelmente a natureza e o próprio homem. Surge assim uma nova dimensão para a responsabilidade – não prevista pelas éticas tradicionais –, e que seja capaz de interagir com novas ordens de grandeza em termos de conseqüências futuras para a ação humana. Todo cuidado é pouco, e ele propõe uma "heurística do temor", na qual, deve-se conceder, em situações de incerteza, precedência ao pior prognóstico no que diz respeito às conseqüências da ação. Ele sugere um novo imperativo ético para a civilização tecnológica, que é "agir de tal maneira que os efeitos de tua ação não sejam destruidores da futura possibilidade de vida humana" (JONAS, 1994, p.40).  235,1&Ë3,2'$5(63216$%,/,'$'( Historicamente é possível identificar distintas teorias de fundamentação para as normas morais. Para Vazquez (2002, p. 26), a maioria das doutrinas éticas, sem excluir

aquelas que se apresentam como uma reflexão sobre o IDFWXP da moral, procura explicá-la à luz de princípios absolutos e a priori. Jonas não foge à regra. Sua ética se funda no princípio da responsabilidade. Para Jonas, a humanidade deverá compreender o mecanismo de uma nova responsabilidade, se quiser preservar os direitos e as oportunidades de uma sobrevivência futura. Mais poder, maiores responsabilidades! Responsabilidade entendida como a possibilidade de prever os resultados do próprio comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão. Uma pessoa responsável é aquela que inclui nos motivos de suas atitudes e comportamentos a previsão dos possíveis efeitos deles decorrentes (ABBAGNANO, 1998).

Dessa forma, Hans Jonas mostra os caminhos para a formulação de um HWKRV da

sustentabilidade, fundado no princípio da responsabilidade. Com sua "heurística do temor", aborda a questão da responsabilidade de uma forma radical, ultrapassando em muito a teses dos relatórios internacionais que colocam em questão a preocupação com as gerações futuras. A colocação de Jonas não é pragmática, ela é radical, imperativa, ontológica, ou seja, ou o ser

humano assume a responsabilidade como seu PRGXVYLYHQGL, ou não terá muitas chances de

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sobrevivência no futuro. Na falta do "conhecimento sábio" para se lidar com perspectivas que fogem da capacidade humana de previsibilidade, as únicas alternativas disponíveis seriam o comedimento e a responsabilidade. Aparentemente não há um outro caminho para uma ética de sobrevivência planetária que não passe por uma incorporação da responsabilidade para com o futuro. A ética aqui significa a ilimitada responsabilidade por tudo que existe e vive. Comportamento ético é responsabilidade para com o mundo, num sentido agora muito mais amplo. A responsabilidade em Jonas refere-se ao futuro longínquo da humanidade, estendendo-se até descendentes muito afastados no tempo, abarcando um futuro ilimitado. Deve-se ter responsabilidade para com uma humanidade que ainda não existe, é ser responsável por outras pessoas que ainda estão por nascer e que, por conta disso, não podem reivindicar para si um ambiente saudável para viver. Não é uma relação de reciprocidade, tal como prescrito nas éticas tradicionais. O dever para com os descendentes é muito profundo e só pode ser entendido quando se compara com o que as éticas tradicionais sugerem no caso dos deveres dos pais para com os filhos, um dever de total entrega e não reciprocidade para com o outro (JONAS, 1995 p.83). A responsabilidade para com as gerações vindouras não admite pausas, é contínua e refere-se ao futuro. Só tendo como base uma responsabilidade construída desta forma, é que se pode afirmar, com segurança e coerência filosófica, as necessidades das gerações futuras, tal como cogitado pelo Relatório Brundtland.  &216,'(5$d®(6),1$,6 A crise ambiental é a expressão da crise cultural, civilizacional e espiritual que a

humanidade está atravessando. Fritjof Capra (1988, p.19), em seu famoso livro, 2 3RQWR GH

0XWDomR, já via as últimas décadas do século XX marcadas por essa profunda crise mundial. Uma crise que afetaria todos os aspectos da vida humana – saúde, relações sociais, economia, tecnologia e política. Uma crise de dimensões espirituais, intelectuais e morais, em tal escala que, pela primeira vez na história, a humanidade estaria sendo obrigada a se defrontar com a real ameaça de sua extinção e de toda a vida no planeta. Esta crise obriga a um novo posicionamento sobre o papel do ser humano no planeta, obrigando-o a repensar a dimensão da responsabilidade que deve ter para com tudo o que existe e vive, inclusive para aqueles que estão temporalmente distantes. Num horizonte em que até mesmo as ações bem intencionadas podem resultar em consequências dramáticas para seus destinatários, proposições como as de Jonas buscam uma orientação moral para a ação humana e pretendem articular coerentemente a ética e a política. São formulações preciosas, pois abordam sistematicamente uma questão que não tem sido tradicionalmente trabalhada pelos filósofos da moral, ou seja, a conduta humana diante dos imensos desafios trazidos pela tecnologia e pela ciência moderna.

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Assim, é forçoso aceitar a importância do trabalho de Jonas, pois que trata, de forma inequívoca, da importância de uma responsabilidade que se projete no tempo e que contemple a humanidade futura. Esta responsabilidade para com as gerações futuras e com a natureza, é, indubitavelmente, um marco de referência para a construção de uma ética da sustentabilidade. 5()(5Ç1&,$6 ABBAGNANO, Nicola. 'LFLRQiULRGHILORVRILD. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

APEL, Karl Otto. (VWXGRVGHPRUDOPRGHUQD. Petrópolis: Vozes, 1994.

BRUNDTLAND, Harlen G. 2XU&RPPRQ)XWXUH (The Brundtland Report). Oxford: Oxford University Press, 1987.

CAPRA, Fritjof. 2SRQWRGHPXWDomR: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1988. p. 19.

FERRY, Luc. 7KHQHZHFRORJLFDORUGHU. Chicago: The University of Chicago Press, 1995.

JONAS, Hans. (OSULQFtSLRGHUHVSRQVDELOLGDG: ensayo de una ética para la civilización tecnológica. Barcelona: Editorial Herder, 1995

JONAS, Hans. eWLFDPHGLFLQDHWpFQLFD. Lisboa: Veja, 1994.

VAZQUEZ, Adolfo Sanchez. eWLFD. 23.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

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