Fernando Pessoa

  • November 2019
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Fernando Pessoa Biografia: · Fernando Antônio Nogueira Pessoa. · 1888– Nasce no dia 13 de junho em Lisboa, Portugal. · 1893– Em julho, morre seu pai. · 1895– Em dezembro sua mãe casa-se com João Miguel Rosa, cônsul de Portugal em Durban, África do Sul. · 1896– Começa a estudar em Durban, freqüentando escolas de língua inglesa. Revela-se um ótimo aluno e começa a escrever seus primeiros poemas em inglês. · 1905– Regressa sozinho a Lisboa e matricula-se no Curso Superior de Letras, indo viver com a avó paterna e duas tias(em 1907 abandona o curso). · 1908– Começa a trabalhar como correspondente estrangeiro em casas comerciais. Essa modesta atividade será o seu ganha-pão até o fim de sua vida. · 1910– Advento da República. · 1914– Primeira Guerra Mundial(1914-1918). · 1915– Participa das discussões literárias que agitam o panorama cultural português e tem alguns de seus poemas publicados em revistas. Trabalha durante muitos anos em sua obra, produzindo bastante, mas sem publicá-la. Ajuda a fundar a revista Orpheu. · 1934– participa de um concurso literário com seu livro Mensagem e obtém o segundo lugar. · 1935– Com a saúde enfraquecida pelo vício de beber, é internado no dia 28 de novembro num hospital em Lisboa. No dia 30 desse mês, morre, aos 47 anos de idade. · A riqueza de sua obra poética o colocou como um dos maiores nomes da literatura portuguesa. Homem culto, de incrível curiosidade intelectual, Fernando Pessoa se desdobrou em várias personalidades (heterônimos), com biografias diferentes e modos de escrever diferentes. Os mais importantes são: Álvaro de Campo, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. · Outros Heterônimos que podem ser citados são: Bernardo Soares, Alexander Search (só escrevia em inglês), Vicente Guedes, Antônio Mora, entre outros.

ALBERTO CAEIRO

· O mais conhecido dos heterônimos criados pelo poeta. · Voltado para a natureza, procura se livrar dos vícios adquiridos na vida civilizada. "Mas se Deus é as árvores e as flores E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus? Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar..." · Caeiro é o poeta inocente que deseja ter a alma simples de um pastor, integrado a vida natural. · É o homem do campo, puro, ingênuo, natural. "Pensar numa flor é cheirá-la... ...E ao lerem os meus versos pensem Que sou qualquer coisa natural." · Quase sem instrução, escrevia mal o Português, era órfão. · Pensava com os sentidos.

"Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama é amar..."

Nem sabe por que ama, nem o que

· Caeiro condena a mania que as pessoas têm de classificar e analisar as coisas, em vez de simplesmente apreciá-las. Por isso que nega a ver a cor, movimento nas borboletas e perfumes numa flor. Passa uma borboleta por diante de mim E pela primeira vez no universo eu reparo Que as borboletas não têm cor nem movimento Assim como as flores não têm perfume nem cor. A cor é que tem cor nas asas da borboleta, No movimento da borboleta o movimento é que se move, O perfume é que tem perfume no perfume da flor. A borboleta é apenas borboleta E a flor é apenas flor.

Seguem alguns trechos da carta que Pessoa enviou ao seu amigo Adolfo Casais Monteiro: "Passo agora a responder à sua pergunta sobre a origem dos meus heterônimos. Começo pela parte psiquiátrica. A origem dos meus heterônimos é o fundo traço da histeria que existe em mim. Seja como for, a origem mental dos meus heterônimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalizarão e para a simulação. Desde criança tive tendência para criar em torno de mim um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. Eu me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, caráter e história , várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como a vida real. Aí por 1912, veio-me a idéia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei uma coisas em verso irregular e abandonei o caso. Imaginei então um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo ( Tinha nascido sem que eu soubesse, Ricardo Reis) Dois anos depois, inventei um poeta bucólico de espécie complicada. Um dia tomei um papel e comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso, trinta e tantos poemas a fio. Foi o dia triunfal da minha vida; abri com um título " O Guardador de Rebanhos". E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa sensação imediata que tive. E tanto assim que imediatamente peguei noutro papel e escrevi os seis poemas que constituem a " Chuva Oblíqua", de Fernando Pessoa. Foi o regresso de Fernando Pessoa Alberto Caeiro a Fernando Pessoa ele só. Ou melhor, foi a reação de Fernando Pessoa contra a sua inexistência como Alberto Caeiro. Aparecido Alberto Caeiro, tentei logo de lhe descobrir uns discípulos . Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri o nome e ajustei-o a si mesmo, porque nesta altura já o via. E de repente em oposição a Ricardo Reis, surgiu-me um novo indivíduo. Numa máquina de escrever surge " Ode Triunfal" de Álvaro de Campos. Como escrevo em nome desses três? Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem sabe ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis depois de uma deliberação abstrata, que se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente, Reis melhor do que eu, mas com purismo que considero exagerado." RICARDO REIS

"Se é impossível o conhecimento da realidade, o melhor é "viver simplesmente ",cuidando de seu jardim. A sabedoria é inútil pois a verdade "está além dos deuses". · Poeta pagão, materialista, faz estudos clássicos: Latim, Grego e Mitologia. · Adepto do lema Horaciano ( do poeta latino Horácio) -– O Carpe Diem ( gozar a vida). "Mas tal como é, gozemos o momento

Solenes na alegria levemente E aguardando a morte como quem a conhece..." · Poeta intelectual, que herda de Caeiro o gosto pela natureza. · Sua poesia é recheada de figuras mitológicas e de citações a um modo de vida típico do passado. · Utiliza um vocabulário clássico. · Poeta sereno, austero, procura fugir a miséria da vida, cultuando os deuses e conformando-se com seu destino. "Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade Sempre é mais ou menos Do que nós queremos Só nós somos sempre Iguais a nós próprios. Suave é viver só. Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses.

Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam. ÁLVARO DE CAMPOS

· Engenheiro de profissão, é o heterônimo mais moderno de Pessoa. · Poeta urbano, moderno, angustiado. "Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com os mistérios das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o

Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada." · Poeta do desespero, faz de sua angústia a razão de viver. "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo." · O poeta do NÃO, "histericamente histérico" no dizer de Fernando Pessoa. "Não, não quero nada Já disse que não quero nada Vão para o diabo sem mim Para que havemos de ir juntos?" · Pensa com a emoção. · Um cão raivoso, muitas vezes irônico, cruel. · Revela-se como a face mais heterodoxa de Pessoa. "Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido. Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota. Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados Até a vida só desejada me farta–até essa vida..."

FERNANDO PESSOA

Quando assina Fernando Pessoa, produz uma obra em que notam-se traços do Simbolismo, Futurismo, do Paulismo, do Interseccionismo e do Sensacionalismo. Mas o experimentalismo logo cede lugar a uma poesia racional, que reflete sobre perturbadoras dualidades: a relação entre o mundo dos sonhos e a realidade vulgar, entre o sentir e o pensar, etc. Fechado em si, angustiado, Pessoa experimenta a dor, o sofrimento oriundo de suas reflexões sobre o mundo. Dessa perspectiva, ele expressa a crise de identidade do homem moderno, que parece não mais encontrar soluções para seu drama existencial. · poeta nacionalista volta às origens de Portugal às grandes navegações. · Versos em redondilha. · Pensa com a imaginação. Autopsicografia O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração. Autopsicografia = descrição da própria alma. Pessoa faz a descrição do poeta (e mesmo do leitor,), procurando mostrar o mecanismo e a expressão do sentimento. "O poeta é um fingidor" no sentido que o poeta é capaz de convencer o leitor, que no momento da composição estava sentindo a dor expressa. A última estrofe mostra a relação entre o coração e a razão. Dizendo que o poeta necessariamente deve controlar os sentimentos para melhor convencer o leitor. EROS E PSIQUE Conta lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante, que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem, Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A Princesa Adormecida, Se espera, dormindo espera. Sonha em morte a sua vida, E orna-lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado. Ele dela é ignorado. Ela para ele é ninguém. Mas cada um cumpre o Destino Ela dormindo encantada, Ele buscando-a sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E, vencendo estrada e muro, Chega onde em sono ela mora. E, ainda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a mão, e encontra hera,

E vê que ela mesmo era A princesa que dormia. ( Fernando Pessoa "ele-mesmo") Conclusão

Fernando Pessoa, foi um dos maiores escritores da literatura portuguesa. Um dos introdutores do Modernismo em Portugal, foi um dos mais ativos participantes da revista Orpheu. O autor evoluiu do Saudosismo para o Paulismo e daí para o Interseccionismo , isto é, o culto do ‘vago’, do ‘sutil’, do ‘complexo’, e teve influência direta do Cubismo e do Futurismo. Procurava em suas obras a reconstrução do mundo, conhecer o universo. Cada um de seus heterônimos tinha uma personalidade diferente, ele quis com isso, tentar ver o mundo por visões diferentes, para tentar entender a complexidade do Universo.

"Multipliquei-me para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo, Transbordei-me, não fiz senão extravasar-me." (Fernando Pessoa)

Editado por: Carolina Fernandes (email: [email protected]) Texto gentilmente cedido por Carolina Fernandes ([email protected])

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