essas fotos são do sebastião salgado, claro. olhando assim, impossível não perguntar a si mesmo e ao mundo: como? como? agora que trabalho com narrativas de histórias de vida e com a preservação dessas memórias, as fotografias acima me doem ainda mais. fico pensando que tipo de lembranças essas pessoas poderiam guardar… não quero enveredar pelo viés político da questão, apesar de achar que esse é um assunto extremamente político, mas não exclusivamente - assim como são as divisões de fronteiras e seus fechamentos, que vêm se contrapor à globalização, assim como são as guerras e a conseqüente formação de milhares de refugiados. num contexto geral, como separar a política de qualquer outra questão que envolva o homem? e nessas horas, como excluir a fome e a miséria? nessas horas, como nos excluir?
bom, mas se ainda existe nisso tudo uma parcela de humanidade, é possível manter a crença. o museu da pessoa, baseado na nova história francesa (que procura ver a história sob o ponto de vista do cotidiano), tem feito um trabalho admirável na captação de histórias de vidas de pessoas anônimas como nós, para que não passemos tão despercebidos pela vida. e muito provavelmente o fariam de pessoas como essas das fotos, se elas tivessem ao menos a oportunidade de falar, de comer, de sorrir, de construir qualquer memória - mas não são, sequer, tratadas como gente. e por quê não? o que de fato nos separa dessas pessoas? estamos realmente tão distantes? outro museu que me parece promover um trabalho interessante - porém bizarro - na preservação das memórias de todos nós, é o museum of broken relationships. uma mostra itinerante (não chegou ao brasil, nem chegará) de objetos que representam, pra cada um que faz a doação ao museu, o rompimento de suas relações amorosas. é aí que percebemos quão próximos estamos uns dos outros. sem pieguices, mas só o amor é anterior ao homem e ao mundo: “amor é muito mais que amor: amor é antes do amor ainda”, diria clarice, no seu livro a paixão segundo g.h. e não somos todos gente, afinal? a solução é bem mais simples do que pensamos, e caetano já gritava isso há tempos: gente quer comer, gente quer ser feliz!