Vias públicas
Saúde
Segurança
Educação
Trabalho
Bairro convive com vias públicas mal estruturadas, buracos e falta de iluminação. Pág 3
Unidade de saúde é interditada e substituída por casa em situação precária. Pág 4
Moradores sofrem com a falta de segurança e abuso de autoridade por parte da PM. Pág 7
Creches da comunidade não atendem à demanda e mães não podem trabalhar. Pág 5
Catadores de lixo também sofrem com a crise financeira e vendem os materiais mais barato. Pág 6
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Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Unisul Tubarão | Ano 15 | Número 2 | Junho de 2009
Retrato de uma comunidade
Foto: Samira Pereira
JARDIM FLORESTA
extra Junho de 2009
Preocupação de todos Gislaine Fernandes
Todos sabemos da fundamental importância que os cuidados com o saneamento básico representa em nosso dia adia. Vivemos em dias surpreendentes. Sentindo o planeta terra esquentando intensamente a cada dia. Mas sabemos que as causas das agressões do meio ambiente são de ordem política, cultural e econômica. Estamos cientes que temos uma parcela de culpa nesses fenômenos que vêm ocorrendo, por não contribuirmos tanto quanto o necessário na preservação da natureza. São lixos e esgotos jogados a céu aberto, que a gente vê em alguns locais de nossa cidade. Para minimizar o problema do aquecimento global, precisamos nos reeducar, aprender a valorizar o nosso planeta, esse tão precioso lar. Não devemos ficar apenas culpando as autoridades e órgãos públicos, deixando a responsabilidade de preservação ambiental e social só com os mesmos.
Contribuição Logicamente, não podemos esquecer de ir atrás das autoridades, cobrar das mesmas uma solução para a falta de saneamento adequado. Estamos cientes que devemos fazer nossa parte, contribuindo de forma positiva, abraçando essa causa, que é compromisso de todos nós. Precisamos acordar enquanto ainda há tempo, nos conscientizando
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OPINIÃO
e ensinando as crianças desde pequenas a cuidar da “mãe natureza”, jogando o lixo nos locais apropriados e plantar árvores. Não podemos esquecer da importância em economizar a água, pois presenciamos a escassez da mesma, diariamente. Devemos fazer mobilizações, incentivando, a população e os empresários, a por em prática ideias com ações de projetos ambientais, como, por exemplo, o reflorestamento.
Bem comum O meio ambiente vem sendo considerado, desde a década de 1970, um “bem comum da humanidade”, evoluindo no sentido em que se refere ao nosso “interesse comum”. Principalmente neste momento contemporâneo, industrial, capitalista, globalizado e muito consumista. Precisamos, em nossos lares e através de palestras para alunos e funcionários nas escolas, enfatizar a importância de reciclar os lixos, separando os orgânicos dos tóxicos, isso será uma grande contribuição para minimizar a degradação ambiental. Sabemos que cuidando do planeta terra hoje, contribuiremos para um saudável mundo do amanhã, onde nossos filhos e netos, assim como nós, poderão viver vidas mais saudáveis e prolongadas. Um país tão lindo e rico por natureza, que é o nosso Brasil, deve ser conservado e valorizado.
Saneamento básico: mais um problema do Jardim Floresta Chênia Cenci Editado por Sandra Neckel
Um problema que cada vez mais indigna brasileiros, incomoda também parte da população da comunidade Jardim Floresta. Cerca de 60% das casas já tem saneamento correto, mas os outros 40% ainda sofrem com o problema. A falta de rede de saneamento pode ser vista nas casas, onde o esgoto corre a céu aberto, causando mal cheiro e deixando os moradores, principalmente as crianças, sujeitas às doenças como cólera, amebíase e hepatite. Segundo o morador Luiz Augusto da Silva, em dias de chuva as bocasde-lobo entopem, gerando um grande transtorno para os moradores. “Precisamos que a comunidade tenha rede de esgoto correta em todas as casas. Já procuramos a prefeitura diversas vezes e sempre prometem ajudar, mas até agora nada foi feito”,
enfatiza Silva. Segundo a moradora Helena Batista, no início do ano, com as fortes chuvas, o nível de água em alguns pontos da comunidade chegava na cintura. “Tínhamos que nos arriscar e passar pelo meio da água. É uma situação delicada e precisamos de solução o mais rápido possível”. Conforme a vigilância sanitária, diversos pedidos já foram encaminhados à prefeitura para que o problema seja resolvido. Em contato com a prefeitura, a funcionária Amanda Roberta Torres afirma que o problema será resolvido o mais rápido possível, sabendo que existem outras áreas da cidade que também estão na mesma situação. “Sabemos que tudo isso é muito grave, que vidas podem estar em perigo, mas não podemos atender todas as pessoas de uma só vez, temos que impor prioridades e fazer as coisas bem feitas e com calma”, afirma a funcionária. Foto: Denise Medeiros
BOCAS-DE-LOBO entupidas geram alagamentos em várias ruas do loteamento
Jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – da Unisul, Campus Tubarão Textos e fotos: alunos do 6º semestre/Prof. Cláudio Toldo | Edição: alunos do 7º semestre/Prof. Ildo Silva | Opinião: alunos do 7º semestre/Profª. Darlete Cardoso | Diagramação: alunos do 7º semestre/Jornalismo | Capa: Bruna Borges e Kelley Alves, foto de Samira Pereira, 6º semestre/Jornalismo | Contracapa: Danielle Zabotti, aluna do 4º semestre de PP/Profª. Valéria Braga Coordenadora do Curso de Comunicação Social: Profª. Darlete Cardoso Coordenador do Jornal-laboratório: Prof. Cláudio Toldo | Impressão: Gráfica Soller
Reitor: Ailton Nazareno Soares | Vice-Reitor: Sebastião Salésio Herdt | Pró-Reitor Acadêmico: Mauri Luiz Heerdt | Chefe de Gabinete: Willian Corrêa Máximo | Secretário-Geral da Reitoria: Albertina Felisbino | Pró-Reitor de Administração e Assessor de Desenvolvimento Humano e Profissional: Fabian Martins de Castro
Curso de Comunicação Social
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VIAS PÚBLICAS
Situação das ruas preocupa cidadãos Ruas esburacadas, falta de pontos de ônibus e postes sem luz atrapalham o bem-estar da comunidade Mariana Alcântara Editado por Caroline Bitencourt e Fabiana Pangrácio
A última obra feita nas vias públicas da comunidade Jardim Floresta foi em 2003, desde então não arrumaram mais nada. Algumas ruas do local são asfaltadas, mas parecem inacabadas, muitas são estradas de terra esburacadas. Existem muitas bocas coletoras, conhecidas também como “bocas de lobo”, são estruturas hidráulicas para captação das águas superficiais transportadas pelas sarjetas. São buracos no chão que ficam cheios de lixo impedindo a absorção da água da chuva. Os moradores locais estão preocupados, já que quando acontecem chuvas fortes tudo fica alagado, e a água entra para os quintais, chegando a invadir algumas casas. Além do estrago aos móveis, existe a preocupação com a leptospirose que é uma doença infecciosa transmitida pela urina de rato. Essa doença é perigosa e pode matar. “As crianças brincam na rua alagada, se divertem com isso e podem acabar ficando doentes”, preocupa-se seu Manoel membro da Associação de Moradores do loteamento Jardim Floresta. Outra reivindicação de
Fotos: Samira Pereira
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REIVINDICAÇÃO: moradores sugerem que lajotas retiradas de outras vias sirvam para pavimentar ruas do loteamento Jardim Floresta
Manoel é a pavimentação das ruas, já que a prefeitura asfaltou várias, tirando as lajotas antigas. “Tem rede de esgoto em tudo, mas falta terminar a pavimentação. Eles tiram lajotas boas
para colocar asfalto, deveriam dar para nós essa lajota usada, seria muito bem vinda”, diz. Os ônibus passam regularmente, faltam abrigos na maioria das paradas de ônibus.
Em alguns locais as lâmpadas dos postes eram quebradas com pedras para que o tráfico de drogas e a prostituição ficassem camuflados. Mas a Associação de Moradores
entrou em contato com aqueles que quebravam as lâmpadas e pediu para que parassem, porque prejudicava os próprios moradores e a situação foi resolvida.
Os moradores reclamam Vera Lúcia Batista, auxiliar de cobrança, mora no Jardim Floresta há 17 anos com seus dois filhos. Ela diz que a última chuva forte que aconteceu alagou as ruas por causa do entupimento das bocas de lobo. “Encheu o pátio todo, faltou pouco para entrar em casa, só não entrou porque a casa é alta”, conta. Quando este tipo de situação acontece fica difícil ir para a escola e trabalhar, porque a água fica na altura da canela. Vera tem medo da “doença do rato” que pode atingir os seus filhos.“A prefeitura tem que vir arrumar isso logo”, reivindica. Cíntia Alves, estudante de 19 anos que mora na rua Dalmari Luciano Luiz junto com a mãe, padrasto e um irmão, conta que a chuva é um transtorno e incomoda muito sua rotina. “A própria comunidade é que teve que desentupir as bocas de lobo, porque se depender das autoridades nada acontece” relata. Os vizinhos tiveram que ajudar a levantar os móveis, já que a casa fica no mesmo nível da rua. “Queria que calçassem a rua e arrumassem os bueiros para que não tivéssemos mais que passar por isso”, pede Cíntia. BECOS: além das estradas, moradores criam ruelas mal conservadas
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CO TIDIANO COTIDIANO
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Sem área de lazer e diversão Crianças precisam deixar o loteamento e ir até o bairro vizinho em busca de brincadeiras Fotos: Denise Medeiros
A RUA se torna local de lazer
Denise Medeiros Editado por Mariana Alcântara e Rafaela Pereira
Sábado, para quem não estuda ou trabalha, é um dia propício para dormir até tarde, certo? Errado. Ao menos não é assim que funciona no Jardim Floresta em Tubarão. Lá, as crianças acordam logo cedo e, ou vão brincar nas ruas ou vão jogar futebol. Até aí tudo bem, a prática de esportes é muito saudável e deve ser incentivada sempre. O problema é que o bairro não conta com um lugar apropriado para isso. Lá não tem praça nem campinho. Este mês, alguns garotos que frequentam a escola municipal da localidade foram sorteados para participar de um campeonato de futebol. A competição acontece nos fins de semana em uma escolinha
particular do bairro vizinho, o Andrino. Sábado de sol, por volta das nove da manhã, os contemplados se reúnem no local combinado para juntos irem até o campo. A bola começa a rolar já no meio da rua e enquanto a diretora não chega – é ela quem leva a molecada até o destino – eles testam as chuteiras e luvas. Gustavo de oito anos veio acompanhado da mãe, a donade-casa Jane de Godoi Rosa. “Foi uma bênção meu filho participar desse campeonato, antes disso acontecer ele só ficava dentro de casa brincando sozinho”, diz Jane. O menino não se relacionava com outras crian-ças da sua idade. “Agora ele adora vir jogar com os coleguinhas. O único problema é que aqui no bairro mesmo não temos um campo ou pracinha.
Com uma estrutura aqui seria mais fácil”, completa Dona Jane diz ainda que não é só uma praça que falta no bairro. “Eu participo do clube de mães daqui e não temos uma sede da comunidade, as reuniões tem que ser feitas na escola e à noite. Por causa disso o número de vagas é limitado e temos que fazer um rodízio para que mais mulheres possam freqüentar”. Ela lamenta ter que sair no próximo ano, já que seu tempo no clube está se esgotando. O presidente da associação de moradores do loteamento, Odimar Luiz, diz que a comunidade tentou um acordo com a prefeitura. “Aqui no loteamento tem uma associação de funcionários de uma fábrica que não existe mais. Conver-samos com os responsáveis para usar
o espaço e eles pediram a troca de um ano do IPTU por um ano de aluguel, mas a prefeitura negou”, afirma. Ao ser questionado sobre a construção de alguma área de lazer no Jardim Floresta, o secretário de serviços públicos de Tubarão, Fabiano Bittencourt, relata que a prefeitura está realizando o corte de várias árvores na beira-rio que estão oferecendo risco à população. “Toda a madeira será utilizada em obras públicas, queremos construir praças em diversos bairros, incluindo o loteamento Jardim Floresta”. Mas, quando a pergunta é sobre prazos, o secretário não sabe responder. Enquanto isso, as crianças da localidade continuam acordando cedo no sábado para se divertirem no bairro vizinho.
Prefeitura interdita unidade de saúde João Pedro Alves Editado por Mariana Alcântara e Suellen Souza
Uma solução que começou com um grande problema. O posto de saúde Passagem II foi inaugurado no ano 2000, na gestão do prefeito Carlos Stüpp. De acordo com um agente de saúde desta unidade que prefere não se identificar, o local apresentava rachaduras. “Na inauguração fizeram remendos para não aparecer para a imprensa”, afirma. A ação do tempo ampliou as fendas na estrutura do prédio até ficar impossível a manutenção dos serviços com segurança. “No ano passado nós interditamos o lugar porque tinha risco de cair”, confirma o secretário municipal de Planejamento, Edvan José Nunes. Para manter o atendimento à população, a Prefeitura decidiu fazer a mudança para uma casa na frente do posto, em março deste ano. Os moradores atendidos pelo Passagem II reclamam que a
residência adaptada não dispõe de condições básicas de conforto. “A situação é precária. A casa não tem espaço e muita gente que fica na fila se molha quando chove”, diz o aposentado Francisco Nazário. Segundo ele, muitas pessoas chegam de madrugada para conseguirem agendar um horário de consulta. “Às 4h da manhã já tem gente lá. Eles esperam na rua até a primeira enfermeira chegar, às 7h, quando ela abre o portão da casa”, relata. O quadro reduzido de funcionários dificulta o atendimento à população. O agente de saúde informa que no posto trabalham, além dele e dos onze colegas de função, “uma enfermeira, uma auxiliar de enfermagem, um médico (quando tem), e uma dentista”. Conforme o funcionário, a auxiliar de enfermagem ainda acumula a função da limpeza. O secretário de Saúde de Tubarão, Roger Vieira e Silva, diz que situação semelhante
ocorre em outros locais. “Pelo quadro reduzido da prefeitura, as profissionais dos serviços gerais atendem a mais de uma unidade, portanto não podem estar todos os dias da semana lá”, explica. “É questão de política pública. A administração municipal foca no Programa Saúde da Família (PSF), onde há mais profissionais contratados”, justifica. Dados da Secretaria Municipal de Saúde apontam Tubarão como a cidade com a maior cobertura de PSF entre as 18 maiores de Santa Catarina. O aposentado de 62 anos vive no bairro Jardim Floresta e conhece as filas da “casa de saúde”. Para ele, a falta de organização resulta nas madrugadas de espera dos pacientes. “Se fosse marcado por telefone, igual a consultório particular, acabava com esse problema”, pensa. Em contrapartida, o agente de saúde adverte: “por telefone, em duas horas marca o mês todo”. O Passagem II abrange uma
Fotos: João Pedro Alves
RACHADURA deixou visível problema de estrutura no Passagem II
região onde vivem aproximadamente 4,2 mil pessoas. “Muita gente vai ao posto porque não possui plano de saúde”, salienta. Os atendimentos devem permanecer na residência por um longo tempo. Segundo o secretário de Planejamento de Tubarão, Edvan José Nunes, o
assunto ainda não foi discutido com o prefeito Manoel Bertoncini e com o secretário de Saúde, Roger Vieira e Silva. “Não há previsão de projeto. Recuperar o prédio antigo é inviável e o correto é fazer um novo. A diferença entre os dois lados da fundação”, revela Nunes.
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EDUCAÇÃO
Mães pedem vagas em creches CEI que atende crianças do loteamento recebe pedidos o ano inteiro, mas não tem berçário e pré-escola Viviane Slussarek Editado por Bruna Borges e Kelley Alves
“Para conseguir vaga na creche, a mãe já tem que estar trabalhando. Não adianta ficar na fila de espera se não tiver serviço. Mas aí se conseguir o emprego depois, não tem onde deixar a criança”. O desabafo é de Viviane Abreu Helena, de 30 anos, mãe de quatro filhos. Ela conseguiu emprego para fazer serviços gerais no consultório de um dentista em Tubarão. Trabalha das 6 horas da manhã até as 2 da tarde. Nesse período, os três filhos maiores - de oito, 12 e 15 anos – ficam numa escola no Bairro Humaitá. Estudam de manhã e à tarde participam de atividades na Combemtu (Comissão Municipal de Bem-Estar do Menor de Tubarão). A preocupação mesmo é com Crislaine, a filha menor, de quatro anos. Normalmente, ela fica com a avó. Quando dá tempo, Viviane a deixa no Centro de Educação Infantil Estrelinha Brilhante antes de ir para o trabalho. O problema é que a criança não pode ficar o dia inteiro na escola. Tem que almoçar em casa. “O bom seria se tivesse onde deixar o dia todo, pra não se preocupar com a comida. Na única creche do bairro, a Joanna De Angelis, não tem mais vaga”. Crianças na rua Viviane assume as dores das mães que moram no Jardim Floresta e estão na mesma situação. “Aqui tem bastante mãe que precisa. Tem mãe de cinco filhos que não consegue trabalhar porque não tem onde deixar as crianças”. Ela diz que o ideal seria abrir uma nova creche no bairro, para atender as famílias. Uma das preocupações é deixar as crianças pela rua. É grande o risco de envolvimento com drogas, já que o tráfico está presente no dia-a-dia do bairro.
“Graças a Deus, meu filho é consciente. Ele viu meu sofrimento com o pai dele que era viciado e morreu de overdose. O problema é mãe e pai que usam drogas dentro de casa e não têm condições de cuidar dos filhos. Essas crianças teriam que ser afastadas do convívio da família”, sugere. A diretora do CEI Estrelinha Brilhante, que atende 150 crianças, concorda com a mãe. Margareth de Medeiros da Silva diz que até quem não trabalha precisa ter um local para deixar os filhos. “A família não consegue dar educação, alimentação, condições de higiene e cuidados de saúde”, acrescenta. A instituição recebe pedidos de vagas o ano inteiro. Precisaria ter pelo menos mais duas salas para turmas de berçário e de pré-escola. Além disso, o ideal seria que uma equipe médica prestasse atendimento na creche durante determinados dias da semana, porque muitas crianças chegam adoentadas e sem tratamento. Ajuda e doações A administradora escolar da Fundação Educacional Creche Joanna De Angelis, Nilce Margotti, também concorda que é necessário ampliar as vagas. Ela diz que “hoje é feito um estudo entre as famílias para selecionar as que mais necessitam deixar as crianças, mas todo dia chegam pedidos”. A creche presta atendimento integral. Oferece até cinco refeições por dia, mas precisa da ajuda de doações para manter o funcionamento. O município paga os salários dos professores. Outras necessidades como despesas fixas de manutenção, alimentação e materiais de higiene são mantidos com a ajuda da comunidade. A secretária adjunta de Educação do município, Rosimeri da Cunha Galvani, informou que existe um projeto
Foto: Samira Pereira
CONSEGUÊNCIA: crianças nas ruas, dificuldade no aprendizado e uso de drogas
de ampliação de vagas e, talvez, a construção de novas unidades nos bairros. No caso do atendimento das crianças que chegam doentes, a única saída por enquanto é encaminhar aos postos de saúde. “Tem muita coisa a ser feita. Precisamos adaptar as construções de acordo com o que o Ministério da Educação exige. O desejo da prefeitura é que o atendimento melhore, mas na administração pública, as mudanças dependem de verbas”, complementa. A Escola Municipal de Educação Básica Manuel Rufino Francisco atende 319 alunos do Loteamento Jardim Floresta, Bairro Passagem e arredores. Durante o dia, oferece ensino fundamental e, à noite, o EJA (Educação para Jovens e Adultos) com mais 47 alunos. A professora Alair Martins Ghisi trabalha na escola há 13 anos e assumiu a direção no início de 2009. Ela relata que as situações encontradas são as mais diversas. Desde alunos que não têm o que calçar ou vestir, até aqueles que aparecem com roupas de grife. Nesses casos, não é novidade para ninguém que o dinheiro veio do tráfico. Mesmo consciente dessa realidade, a professora diz que dentro do pátio da instituição, a
ordem está garantida. “Temos vigilante dia e noite para dar segurança aos alunos. O ambiente é normal, como de qualquer outra escola.” Aulas de reforço Os alunos têm dificuldade no aprendizado. Muitos não fazem tarefa de casa e nem podem contar com a ajuda dos pais – muitos deles são analfabetos. Um dos índices que reflete essa realidade é o da Provinha Brasil (avaliação adotada pelo Ministério da Educação para medir a qualidade do ensino nas séries iniciais), aplicada nas turmas de segunda e terceira séries. Em 2007, foi de 2,9% e em 2008, 4,3% quando a meta era 6%. Este ano a expectativa também não é das melhores. “Nós precisamos de aulas de reforço para esses alunos, principalmente nas disciplinas de Português e Matemática. Já temos para a primeira série, onde um professor dá aulas duas manhãs por semana para ajudar aqueles que têm mais dificuldades”. Segundo a diretora, há salas disponíveis para essas aulas de reforço. O município teria que colocar apenas um professor, que poderia ser um estagiário. Sobre essa necessidade, a secretária adjunta de Educação
do município acredita que é possível proporcionar o reforço. Apenas teria que ser estudada a melhor forma para isso. Entre os adultos que estudam à noite, a desistência e o abandono da sala de aula preocupam. O vigilante Manoel Francisco de Jesus, pai de Daniel, um jovem de 20 anos, procurou a diretora para saber se o filho poderia voltar a frequentar o EJA depois de um mês sem aparecer na escola. “Ele frequenta o equivalente a sétima e oitava séries do ensino fundamental e não gosta muito dos estudos, não. Até fiquei feliz quando ele veio me dizer que era pra perguntar se podia voltar agora. Se tiver uma chance, tem que aproveitar”, diz o pai, esperançoso. Entre as atividades extracurriculares, os alunos participam do Projeto Construtores da Paz com aulas de informática, grupos de dança e rádio-escola. Para integrar a comunidade ao convívio escolar, são desenvolvidas atividades para grupos de mães como pintura e artesanato. Até mulheres que não têm filhos estudando costumam ter interesse em participar dos cursos, que ampliam o conhecimento geral e ocupam essas pessoas.
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TRABALHO
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Comunidade sobrevive de resíduos Moradores do Jardim Floresta enfrentam dificuldades no mercado de trabalho
Samira Pereira Editado por Alexandra Blazius
“Tem hora que dá um desânimo. Vontade de parar com tudo e largar o trabalho, mesmo que eu saiba que não vá adiantar nada”. É isso o que diz Luiz Gonzaga, 52 anos, residente no Loteamento Jardim Floresta. Seus olhos tristes denunciam a atual situação financeira. Ele trabalha na coleta de material reciclável há quatro anos e garante que nunca passou por tamanha crise. O telefone está cortado, todas as contas atrasadas e gasta com remédios. Sem falar do aluguel, alimentação, energia, água e combustível. “Está muito difícil de continuar desse jeito, muito difícil mesmo!” Gonzaga residia na capital do Estado, Florianópolis, e lá trabalhava como caminhoneiro. Na época que se mudou para Tubarão, o segmento de material reciclável era bastante rentável. Comprou uma Kombi, que ainda hoje usa como meio de transporte, e alugou um galpão nos fundos da casa. Também investiu na compra de equipamentos, para diminuir a dificuldade em desmanchar algumas peças e contratou um ajudante para que o trabalho rendesse mais. Comprava de vizinhos e amigos o material para que pudesse revender. Arrecadava plástico, alumínio, cobre, vidro, ferro e papel. Tudo ia de vento em popa até novembro do ano passado, quando a crise financeira passou a assolar também este segmento comercial. Até então a situação era estável e lucrativa. Gonzaga mantinha a família com dignidade, dando-lhes o que
precisava dentro de suas condições. Os preços começaram a baixar, e consequentemente os lucros também diminuíram. “Imagina só, eu vendia o quilo do ferro por 30 centavos, e hoje a empresa compra por apenas cinco. Geralmente no fim do ano os valores abaixam mesmo, mas voltam ao normal um ou dois meses depois. Mas isto não aconteceu, os preços continuam muito baixos”, ressalta. Gonzaga vai praticamente toda semana para Florianópolis vender o vidro que arrecada. Coloca o material na Kombi e vende cada garrafa por 10 centavos. O automóvel é usado para trabalhar, e sem ele, garante, a tarefa seria muito menos lucrativa. “Nunca passei pela crise que estou passando hoje. Está cada vez pior, não sei mais o que fazer. Vou ser obrigado a vender minha Kombi, já que não tenho dinheiro para pagar o financiamento. Os preços ainda estão baixos, mas as contas continuam no mesmo valor”, relata. Para piorar a situação, ao manusear uma máquina de desmontar peças o ajudante de Gonzaga decepou um dos dedos da mão enquanto trabalhava. “Isto me entristeceu mais ainda. Dá um desespero passar por essa crise, ninguém queira imaginar como estamos vivendo”, ressalta ele. O coletor de material reciclável tem duas filhas, uma de oito anos e outra de apenas cinco meses. É casado, e a esposa passou por uma difícil depressão pós-parto. Recuperam-se juntos, apoiando um ao outro nas horas mais difíceis. E assim seguem suas vidas, acreditando num amanhã mais digno, com melhores condições financeiras. Foto: Samira Pereira
GONZAGA deixou Florianópolis, onde era caminhoneiro, para trabalhar com resíduos
Foto: Samira Pereira
NOÊMIA e o companheiro saem todos os dias em busca de material para revenda
Negócio é pouco rentável Cerca de 20 famílias do Loteamento Jardim Floresta vivem da coleta de material reciclável. Os objetos arrecadados são revendidos para as empresas especializadas na área. “A gente vende para quem paga mais”, afirma um dos moradores. Geralmente esta atividade resulta da falta de oportunidade de trabalhar em outro ramo profissional. O negócio já foi bastante rentável, mas hoje a situação é inversa. A baixa naos preços assusta os coletores que ficam sonhando com o aumento do valor pago pelas empresas. A crise neste segmento dificultou a vida de muitos moradores da localidade. E é isto o que ocorreu com Noêmia Marcílio Borges, 52 anos. Ela e o companheiro saem todos os dias em direção ao centro da cidade em busca do material para revenda. Têm uma carrocinha, puxada por um cavalo, que utilizam como meio de transporte. “Gastamos mais com o animal do que com a gente”, diz Noemia. Há 11 anos trabalham neste segmento, e garantem que esta é a pior fase que já passaram. “Parece um castigo isto. Eu e meu companheiro vamos até a praça central duas vezes por dia, puxando tudo o que conseguimos. Para ter uma ideia, entregamos na semana passada uma carga com mais de dois mil quilos de papelão. Sabe quanto nos pagaram? Somente 170 reais. Dá
vontade de parar com isso, mas não consigo trabalho. Eles dizem que já estou velha, que não tenho idade para fazer outro tipo de atividade. Será que imaginam que quem tem mais de 40 anos não come, não bebe, não se veste? Ou pensam que não precisam de remédios? Pelo contrário, são essas pessoas as que mais precisam de dinheiro e de um trabalho fixo para se manter”, enfatiza Noêmia. A mulher sofre com labirintite crônica, e não pode pegar sol. Por este motivo, além de todas as despesas da casa, tem um gasto mensal e fixo na farmácia. “O remédio mais barato custa 23 reais. E eu tenho que tomar todos os dias, senão capoto no meio da estrada. Como diz o ditado, ‘tiro dado, burro deitado’, esclarece. Noêmia vive com o companheiro em uma casa pequena e simples, e compartilham dos mesmos ideais de vida. Não desejam ter ótimas condições financeiras, mas sim poder desfrutar de uma situação em que ao menos possam satisfazer suas necessidades básicas e pessoais. “Sabe quanto tenho na carteira para passar a semana? Quatro reais, que vão ser usados para comprar nosso pão. Que Deus me ouça agora; e ele sabe que não estou mentindo. Desta forma não dá de viver, só pode ser castigo. Não tem outra explicação”, fala Noemia.
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SEGURANÇA
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Moradores reclamam dos policiais Segundo as mulheres, os PMs abusam da autoridade nas visitas ao loteamento Foto: Samira Pereira
INFRAESTRUTURA precária e vielas de difícil acesso fazem do loteamento local propício para o comércio ilegal de entorpecentes, gerando insegurança na comunidade Vivian Sipriano Editado por Sandra Neckel
Na primeira quinzena de maio deste ano, a Polícia Militar de Tubarão ocupou por dois dias e meio o loteamento Jardim Floresta, no bairro Passagem. A operação, intitulada Fecha Quarteirão, manteve os moradores sob vigilância contínua durante 60 horas. O patrulhamento constante da PM em operações como essa tem o objetivo de inibir a criminalidade em locais como o Jardim Floresta, conhecido principalmente pelo tráfico de drogas. A intenção dos PMs é realizar uma espécie de varredura na comunidade, recolhendo armas de fogo portadas ilegalmente e impedindo qualquer atividade relacionada ao narcotráfico. Isso na teoria. Na última operação, não foi somente isso que aconteceu.
Uma mulher que prefere não se identificar, seguia na direção de casa quando foi abordada por dois policiais militares. “Quando eles fazem revista, sempre tem uma mulher junto, a gente já está acostumada com essas coisas. Mas dessa vez, não”. A pedido do mais velho, ela se aproximou da viatura para ser revistada. “Levanta a blusa”, pediu o outro. “A blusa, não!”, revidou. Segundo os moradores da Área Verde, como é conhecida a comunidade, não são raras as vezes em que policiais masculinos fazem esse tipo de abordagem, principalmente em mulheres, sem distinção de idade. Em uma noite de terçafeira, Odimar Antônio Luiz deixou a comunidade onde vive, da qual é o maior representante. Encontro marcado com professor e um
grupo de alunos de Jornalismo na universidade. Na pauta, os problemas do Loteamento Jardim Floresta. Não sabiam eles que esse dia era 5 de maio, Dia do Líder Comunitário. Morador da Área Verde desde que os filhos eram crianças, ele conta que uma das filhas tinha vergonha de dizer onde morava. “É difícil tirar a imagem de Área Verde”, lamenta. A mudança de nome, feita há 6 anos, foi proposital. “A cidade tem vários outros lugares pesados, não é só aqui”, reclama outra moradora, mãe de duas filhas, grata por nunca ter acontecido nada de mau à família. Manoel Francisco de Jesus é vigilante aposentado e conta que, pela experiência na profissão, pode ‘reconhecer bandido de longe’. “Mau elemento a gente conhece só pelo andar”. A preocupação
com os jovens da comunidade é evidente. “Nem todos podem ser discriminados”, argumenta o membro da associação de moradores do bairro. A maior necessidade dos moradores do Jardim Floresta é a segurança. De acordo com aquelas pessoas, a falta de segurança não está somente em viver perto do comércio de drogas, mas também da iminente violência quando há ocupações da Polícia Militar. “O GRT (Grupo de Resposta Tática) faz o trabalho e sai, a PM não. A PM é suja”, desabafa um morador. “O contexto em que vive inserido o policial militar é um dos motivos de, muitas vezes, se igualar aos bandidos”, conta o tenente coronel Eduardo Mendes Vieira. Segundo o comandante do Batalhão da Polícia Militar de Tubarão, a vistoria na área
enfrenta dificuldades como a falta de urbanização, nível cultural e econômico dos habitantes. “Alguns moradores agem com a intenção de proteger amigos ou parentes que são traficantes de drogas. É comum esconderem narcóticos, inclusive, embaixo das roupas”, revela. A maior reclamação dos moradores não é dividir o espaço com comerciantes de drogas, mas conviver com os abusos da polícia, quando esta ocupa a comunidade. A orientação do comando da Polícia Militar é de que o cidadão que se sinta lesado procure a Corregedoria do Batalhão para oficializar a queixa. “Não podemos adivinhar quem comete os abusos, mas se isso realmente acontece, a população precisa denunciar, mesmo que fique anônimo, através do 190”, orienta o comandante Eduardo.