Estranha Moral

  • November 2019
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Estranha Moral (Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 23) 1 – Odiar Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher e a seus filhos, a seus irmãos e irmãs, mesmo a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. (LUCAS, cap. XIV, v. 25) -

O problema da Tradução e das cópias

Non odit, em latim: Kaï ou miseï em grego, não quer dizer odiar, porém, amar menos. O que o verbo grego miseïn exprime, ainda melhor o expressa o verbo hebreu, de que Jesus se há de ter servido. Esse verbo não significa apenas odiar, mas, também amar menos, não amar igualmente, tanto quanto a um outro. “Se alguém vem a mim e me ama menos...” Outro exemplo: É mais fácil que um camelo passe pelo buraco de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus. No idioma hebraico, a mesma palavra designa cabo ou corda e camelo. É mais fácil que uma corda passe pelo buraco de uma agulha...

2 – Abandonar pai, mãe e filhos. - As parábolas na tradição oriental e o verdadeiro sentido daquilo que dizia Jesus. Na parábola do semeador: Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem... Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados. - Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna. (MATEUS, cap. XIX, v. 29.) - Então, disse-lhe Pedro: Quanto a nós, vês que tudo deixamos e te seguimos. Jesus lhe observou: Digo-vos, em verdade, que ninguém deixará, pelo reino de Deus, sua casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos - que não receba, já neste mundo, muito mais, e no século vindouro a vida eterna. (S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 28 a 30.)

O que quis dizer Jesus? "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as considerações humanas", porque esse pensamento está de acordo com a substância da doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina. Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo nolas faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte docorpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida. (ESE, Cap. IV, nº 18; cap. XIV, nº 8.) O que nos diz Emmanuel a respeito? (Livro Caminho, verdade e vida, no 154) “ Neste versículo de Mateus, o Mestre divino nos induz ao dever de renunciar aos bens do mundo para alcançar a vida eterna. Há necessidade, proclama o messias, de abandonar pai e mãe, mulher e irmãos do mundo. No entanto, é necessário esclarecer como renunciar. Se os pais são incompreensíveis, se a companheira é ingrata, se os irmãos parecem cruéis, é preciso renunciar à alegria de te-los melhores ou perfeitos, unindo-nos, ainda mais, a eles todos, a fim de trabalhar no aperfeiçoamento com Jesus. Permanece ao lado deles mesmo assim, esperando para mais tarde o júbilo de encontrar os que se afinam perfeitamente contigo. Somente desse modo renunciarás aos teus, fazendo todo o bem por dedicação so Mestre, e, somente com semelhante renúncia, alcançarás a vida eterna.”

Mateus 12:46-50 Falava ainda Jesus ao povo, e eis que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. E alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te. Porém ele respondeu ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe.

3- Deixar aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos - Disse a outro: Segue-me; e o outro respondeu: Senhor, consente que, primeiro, eu vá enterrar meu pai. - Jesus lhe retrucou: Deixa aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos; quanto a ti, vai anunciar o reino de Deus. (LUCAS, cap. IX, vv. 59 e 60.) A passagem tem, no entanto, um sentido profundo, que só o conhecimento mais completo da vida espiritual podia tomar perceptível. A vida espiritual é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor

e à atividade da outra. O corpo não passa de simples vestimenta grosseira que temporariamente cobre o Espírito, verdadeiro grilhão que o prende à gleba terrena, do qual se sente ele feliz em libertar-se. O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira; é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde.

4- Não vim trazer a paz, mas, a divisão - Não penseis que eu tenha vindo trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; - porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; - e o homem terá por inimigos os de sua própria casa. (MATEUS, cap. X, vv. 34 a 36.) Toda idéia nova forçosamente encontra oposição e nenhuma há que se implante sem lutas. Ora, nesses casos, a resistência é sempre proporcional à importância dos resultados previstos, porque, quanto maior ela é, tanto mais numerosos são os interesses que fere. Jesus vinha proclamar uma doutrina que solaparia pela base os abusos de que viviam os fariseus, os escribas e os sacerdotes do seu tempo. Imolaram-no, portanto, certos de que, matando o homem, matariam a idéia. Esta, porém, sobreviveu, porque era verdadeira; engrandeceu-se, porque correspondia aos desígnios de Deus e, nascida num pequeno e obscuro burgo da Judéia, foi plantar o seu estandarte na capital mesma do mundo pagão, à face dos seus mais encarniçados inimigos, daqueles que mais porfiavam em combatê-la, porque subvertia crenças seculares. Em sua profunda sabedoria, ele tinha a previdência do que aconteceria. Mas, essascoisas eram inevitáveis, porque inerentes à inferioridade da natureza humana, que não podia transformar-se repentinamente. Quando Jesus declara: “Não creais que eu tenha vindo trazer a paz, mas, sim, a divisão", seu pensamento era este:"Não creais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente; ela trará lutas sangrentas, tendo por pretexto o meu nome, porque os homens não me terão compreendido, ou não me terão querido compreender.”

Segundo Emmanuel, no Livro Caminho, Verdade e Vida (no. 104) “Na expressão comum, ter paz significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa o corpo vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores, apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida. Jesus não poderia endossar tranqüilidade desse jaez, e, em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe consigo a espada simbólica do conhecimento interiorpela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha do aperfeiçoamento em si mesmo. Na verdade Cristo trouxe ao mundo a espada renovadora da guerra contra o mal, começando o combate de salvação, para a humanidade, representando, ao mesmo tempo, o sustentáculo da paz sublime para todos os homens bons e sinceros.”

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