Escola

Sem título Os corredores da escola sentem cansavelmente meus passos. Minha voz é ouvida pelas paredes das salas de aula com relutância. Minha vida já não cabe mais ali. Minha história já não mais pertence àquelas janelas. O vento do tempo me empurra para fora dela, deixando em mim apenas a saudade. Lembro daqueles dias em que procurava confuso a porta do banheiro. Hoje, meus pés já sabem de cor seu caminho. Naqueles dias, meus ouvidos esperavam perdidos pelo próximo sinal. Hoje, eles já não o esperam. Nem ao menos ouço seu aviso alertando o começo das aulas. Já me acostomei com a forma como o tempo corre aqui. Isso é um aviso das horas: este lugar espera por novas pessoas, novos tênis, novas idéias. Mas tenho inveja das pessoas que aqui continuarão a sobreviver. Há dias em que gostaria de ser um dos novos meninos que nessas carteiras se sentarão, que por estes portões entrarão com medo pela primeira vez, que aqui encontrarão pessoas a quem amar. Porém, a minha obrigação é seguir meu caminho, mostrar à vida que cresci e que não aceito mais as lições que aqui são ensinadas. Fiz meu papel da melhor forma possível. A máquina do tempo que se instala nos ares deste lugar conseguiu realizar seu objetivo: entrei como um menino, uma criança. Estou saindo um homem, uma pessoa. Talvez deslizei por caminhos piores, diferentes daqueles que pensava em seguir. Estou em uma estrada que não imaginava viajar. Mas este lugar me mostrou que apenas eu escolhi esta estrada e não posso culpar nada nem ninguém mais por essa escolha. Não sei para onde esta estrada me levará. Posso, a qualquer momento, escolher um desvio, sair dela ou até descansar em um hotel. Prefiro, porém, continuar andando devagar por todas as paisagens que ela me mostra, dando carona para as pessoas mais interessantes e continuar aprendendo o que ela tiver que me ensinar. Tenho certeza que, sempre que precisar, acharei abrigos, postos de gasolina, restaurantes ou motéis para que eu possa me reabastecer de energias, alegrias e risadas. Essa escola me ofereceu pessoas para que eu possa levar junto de mim pelo caminho. Sei que, a qualquer momento, elas desejarão seguir uma curva para outro lugar. Mas, enquanto estivermos no mesmo carro, poderemos ver juntos o que o caminho nos quiser mostrar ou o que o vento de fora das janelas quiser nos fazer sentir. Estas portas e janelas assistiram minhas lágrimas, meus sorrisos, meus beijos, meus amores. Assistiram meus erros, minhas escolhas, minhas felicidades. Deixo aqui pessoas competentes e capazes de sempre lembrar de quem e do que fui. Usarei este uniforme pela última vez. Esta roupa modelou meu curpo durante três primaveras e já quer descansar. Já cumpriu seu papel de me identificar como morador deste lugar. Guardarei esta roupa em um armário para nunca mais a vestir. Agora, vestirei novas roupas, usarei um novo cabelo, um outro perfume. Mudarei a hora em que meu despertador me acorda. O mesmo ônibus que pego todos os dias com as mesmas pessoas não mais verá meu rosto baixo lendo um livro. Minha foto no crachá conhecerá o lixo e minha mochila conhecerá o canto frio do chão do meu quarto. Meus olhos não mais verão o azul e branco que impera o pátio da escola. Não mais fumarei nos pátios largos e nas arquibancadas do campo de futebol. Meu All Star não mais pisará neste chão. Somente a nostalgia e as mais lindas lembranças me acompanharão pela última vez que rodarei a catraca da minha escola, minha casa.

Página 1

Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.