Ergonomia Montmollin Vocabulario De Ergonomia

  • June 2020
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Texto traduzido para uso acadêmico do Grupo de Pesquisa Actividade (coord. por Milton Athayde), vedado seu uso comercial O texto é uma composição. Baseou-se em última instância no texto original (neste caso trata-se dos verbetes Ergonomia e Ergonomias) presente no Vocabulaire de l’Ergonomie, org. por M. de MONTMOLLIN, publicado em 1995 pela ed. Octarès de Toulouse (consideramos aqui a 2ª edição revista e ampliada, de 1997, pp. 135-142). Em 1998 o mesmo texto (relativo apenas ao verbete Ergonomias) foi publicado em espanhol como capítulo do livro Ergonomía: conceptos y métodos, org. por J. J. Castilho & J. Vilhena, pela ed. Complutense de Madri (pp. 69-77). Optamos por iniciar a tradução pela edição espanhola (mais recente), trabalho realizado pelos psicólogos Ilana Teixeira Zenaide e Vladimir Athayde. Em seguida o texto foi cotejado com o francês para dirimir dúvidas, trabalho realizado por Vladimir Athayde/ENSP-Fiocruz. Concluímos com revisão técnica e notas de Milton Athayde/UERJ.

__________________________________________________________________ Ergonomia Maurice de Montmollin O termo Ergonomia, em francês, foi inicialmente uma tradução do vocábulo inglês ergonomics (fundação da Ergonomic Research Society, Oxford, 1949). O vocábulo foi forjado a partir do grego ergon (trabalho) e nomos (lei). Não é possível dar em algumas palavras a definição de um termo que remete a diferentes abordagens, às vezes opostas. Daí a preferência pelo vocábulo Ergonomias (no plural). É neste sentido que o conjunto deste Vocabulário constitui-se em uma tentativa de definição da ergonomia, cujos problemas de fronteira são discutidos no Prefácio.

Ergonomias Maurice de Montmollin O plural aqui caracteriza a abordagem prática: parece impossível definir Ergonomia no singular, como se pode – ao que parece – fazer com disciplinas cuja história se estabilizou dentro de fronteiras reconhecidas, de forma majoritária, como a Física, a Psicologia ou a Sociologia. Ainda que seja cômodo e necessário, por necessidades editoriais, dar como título A Ergonomia no caso das obras “comuns” e Ergonomia no caso das enciclopédias, aqui o termo as Ergonomias se impõe, no sentido descritivo e não normativo. O plural, aqui, contudo, é modesto: propomos distinguir – tanto na história como nos conceitos e práticas – dois principais conjuntos de Ergonomias, referindo-se a dois grandes modelos ou quadros teóricos gerais. O primeiro corresponde à Ergonomia

clássica – mundialmente majoritária, sob domínio americano e britânico – que qualificaremos como centrada no componente humano dos sistemas HomemMáquina*1 (SHM). O segundo, hoje presente sobretudo nos países francófonos (França, Bélgica, Quebec) –, ainda que afortunadamente tenda a se universalizar – qualificamos como centrado na atividade humana, e mais precisamente, na atividade situada. Estas duas grandes correntes não estão em oposição (ainda que às vezes os ergonomistas que as represente estejam...), mas se complementam. Esta dicotomia entre as duas principais famílias de Ergonomias reside em modelos, marcos teóricos e métodos diferentes. Ela é transversal com relação às Ergonomias, quando identificadas em função dos diferentes âmbitos de intervenção*. Pode se distinguir entre Ergonomias de aviação, de hospitais, de salas de controle em processos contínuos, de escritórios, de mineração, de computação, de deficientes... Estas distinções são necessárias quando os especialistas destes diferentes domínios querem confrontar seus resultados e seus métodos, como se faz em colóquios e publicações especializadas. Mas, no seio de cada um destes âmbitos, encontramos uma linha de separação entre a Ergonomia do componente humano2 e a Ergonomia da atividade humana. Para citar um exemplo, podemos dizer que o clássico estudo acerca das dores de coluna das enfermeiras está mais próximo ao estudo acerca das dores de coluna dos agricultores que da análise da atividade da equipe de enfermeiras, a qual recorre a modelos análogos à análise da atividade da equipe de turno de trabalhadores embarcados em um navio. 1. A Ergonomia do “componente humano” “Componente humano” é aqui a tradução proposta para Human Factors*, como a Associação americana e a revista de mesmo nome. Sim, pois “fator humano” seria uma denominação ambígua, pois se refere sobretudo, em francês, às correntes de orientação humanista da Psicossociologia das Organizações, concernindo às relações humanas. Nas empresas esta abordagem é o oposto da corrente denominada Fatores Humanos, bem mais mecanicista, incorporando nos anos cinqüenta e sessenta a Engineering Psychology, denominação que caiu um pouco em desuso atualmente, mas que é representativa de uma orientação tecnicista “dura”, sempre muito apreciada. 1

O asterisco aponta para a presença destes conceitos como verbetes no Vocabulário. [Nota dos tradutores – NTs]. 2 Vamos aqui alterar na forma o texto original, colocando em itálico algumas palavras, como o objetivo didático. [Nota de revisão técnica de M. Athayde - NRT].

Os componentes humanos dos sistemas industriais, militares e, mais recentemente, administrativos, não são tanto os homens, mas certas funções destes homens. Funções isoladas por uma démarche3 analítica voluntária, permitindo assim respeitar as duas maiores exigências de toda démarche científica (segundo as normas sempre em vigor nos centros de investigação e universidades): a generalização* e a medida quantitativa. O trabalhador (ou operador*, como hoje se diz) é então descrito em suas relações com seu ambiente de trabalho (sua “máquina” no vocabulário de origem dos Sistemas Homem-Máquina), segundo as funções elementares que compartilha com a grande família humana à qual pertence: às vezes todo o gênero humano (certas funções implicadas nas sensações visuais, por exemplo), mas freqüentemente limitada aos adultos jovens e com boa saúde; uma distinção se operando, todavia, entre os dois sexos. A generalização dos resultados é assim obtida desde o início pela eliminação de todas as variáveis estranhas às funções consideradas. Este mesmo método de análise autoriza a medida quantitativa, permitindo a interpretação dos resultados por comparação das variações obtidas. Os ergonomistas do componente humano acumularam, desta maneira, uma impressionante quantidade de dados, valorada por sua grande generalidade, pertinentes às principais funções elementares utilizadas no trabalho. Durante muito tempo deu-se prioridade às funções que se referiam ao “motor humano” (temos que assinalar aqui a importância histórica da Fisiologia do Trabalho francesa), estudado, por exemplo, quando se pede a alguém que levante cargas pesadas (lifting), ou quando se o submete a horários altamente exigentes4 (trabalho por turnos*). No entanto, muito rapidamente os estudos das funções elementares, relacionados sobretudo à sensação e à percepção visuais (particularmente nas tarefas ditas de vigilância) ocuparam um lugar importante, seguindo nisto a à evolução das próprias tarefas, mesmo as que exigiam a detecção e a discriminação de sinais*, mesmo no caso dos trabalhadores considerados “manuais”. Só muito recentemente as funções ditas cognitivas* (ou de interpretação de sinal) foram levadas em conta, para responder às exigências de tratamento da informação (information processing). Entretanto, no essencial, a Ergonomia do Componente Humano não mais evolui, como o demonstra, por exemplo, a 7ª edição da obra 3

Mantivemos o vocábulo em francês, conforme frequentemente se faz. Em espanhol foi traduzido por processo. Preferiríamos traduzir por perspectiva. (NRT). 4 Horaires contraignants, em francês. O vocábulo transformou-se em um conceito da Ergonomia e vem sendo traduzido por pressão, exigência, etc. Há quem tenha preferido criar um neologismo (contrante) ou manter o vocábulo em francês (como se fez com input/output), como muitas vezes venho fazendo. [NRT].

fundadora de McCormick, cuja primeira edição remonta a 1957 (Sanders & McCormick, 1993), ou ainda a 3ª edição (1995) do manual do britânico Oborne. Uma lista significativa dos componentes humanos tradicionalmente estudados está dada no sumário da obra de vulgarização de Dul e Weerdmeester (9ª edição revisada de 1993):  -

Posturas e movimentos Bases biomecânicas, fisiológicas e antropométricas Posturas: deitado, sentado, de pé, mãos e braços, mudanças de postura Movimentos: levantar, transportar, empurrar, estirar

 -

Informações e operações Informações visuais: caracteres, diagramas, percepção de informações visuais Informações oriundas de outros sentidos: audição... Comandos: teclados, distinções entre teclas, teclas que dão informações, diálogo homem-máquina, diferentes formas de diálogo

 -

Fatores do meio ambiente Ruídos Vibrações Luminosidade Clima Substâncias químicas As exigências de generalização e de medida quantitativa quanto aos componentes

humanos elementares (fala-se também de “mecanismos de base”*, ou até “primitivos”) têm conseqüências metodológicas imediatas: só a experimentação em laboratório permite um controle suficiente das variáveis independentes e dependentes selecionadas pelo plano experimental. Além disto, dado que as funções estudadas não são específicas de situações* naturais de trabalho, não há outras exigências para a escolha dos sujeitos experimentais senão ser representativo da espécie humana, eventualmente restrito aos jovens adultos de boa saúde. É por isso que a grande maioria dos sujeitos das experiências publicadas são estudantes, mais disponíveis e menos custosos que os próprios trabalhadores. A Ergonomia do Componente Humano não necessita, em absoluto, de uma análise do trabalho. Ela é substituída pela construção de uma lista de exigências da tarefa, em geral estabelecida através de perguntas realizadas aos chefes, a partir de questionários pré-elaborados, com bases de dados sobre as características humanas supostamente presentes nas tarefas em foco. Experimentações mais específicas são conduzidas quando

os dados padrões são insuficientemente precisos; mas se trata sempre de funções isoladas. Ciência em primeiro lugar (mas uma ciência a-teórica), aplicações em seguida. O contraste com a abordagem anterior é claro. Atividade, nesta Ergonomia, significa que não são mais funções gerais que são levadas em conta, de forma isolada, mas comportamentos* (gestos, olhares, palavras) e raciocínios*..., tais como se apresentam nas situações naturais de trabalho, atuais ou por conceber. Situações e não somente postos de trabalho*, ou dispositivos técnicos (como máquinas, ferramentas, software). Não é só o usuário* destes dispositivos que é levado em conta, como antes, mas sua utilização pelo operador. A dimensão temporal (ver o verbete Tempo*) é fundamental nesta abordagem (enquanto ela está ausente nas taxonomias clássicas). Daí a importância dada à análise da atividade – e análise de campo, sempre que possível. Uma análise do trabalho que não se contente apenas com o estatuto dos métodos, mas que busque a construção de modelos específicos, resultantes de marcos teóricos específicos; não se confundindo – ao menos não sempre – com os modelos das ciências-mães (como a Psicologia, por exemplo). Tal orientação permite chegar a resultados de grande riqueza e de grande pertinência para a ação, mas, freqüentemente, têm um débil poder de generalização. Temos que destacar, no entanto, que esta importância dada à análise da atividade não significa que a Ergonomia aí se identifique inteiramente. A Ergonomia é uma tecnologia, cujo objetivo final é a melhoria do trabalho. Ela pode, em certos casos, alcançar este objetivo sem passar por uma minuciosa análise da atividade. E certas generalizações são possíveis, portanto, a partir dos resultados anteriores. Além do mais, a análise da atividade pode ser utilizada em outros domínios que não o trabalho – por exemplo, a psicoterapia – e levar em conta outras variáveis – por exemplo, do âmbito do afetivo, da “vivência”, etc. –, variáveis até aqui descartadas pela Ergonomia.

3. Ergonomias complementares, embora com ambigüidades As duas abordagens acima descritas podem ser consideradas complementares ou, mais exatamente, hierarquizadas. A Ergonomia dos componentes humanos permite conceber dispositivos tecnológicos (da escova de dentes à cabine espacial, para citar dois exemplos reais) adaptados às “características e limites” dos seres humanos (uma das definições da Ergonomia clássica). Isto considerando função por função, dentro da

grande tradição da Psicologia Geral (ou da Fisiologia Geral), antes mesmo que se saiba exatamente quais operadores e em quais contextos integrarão estas funções para atuar. É possível assim estabelecer normas*. Poderíamos dizer que se trata de uma “Ergonomia de primeiros socorros” que evita as dificuldades e erros devidos, por exemplo, a assentos muito baixos, calor excessivo, ruídos insuportáveis, legendas ilegíveis, telas deslumbrantes e, mais recentemente, “interfaces” insuficientemente amigáveis. Todos eles elementos de um posto de trabalho individual, abstraído de seu contexto.Pode-se dizer que a Ergonomia centrada sobre a atividade vai adiante, uma vez asseguradas estas bases indispensáveis. Ela considera um operador bem sentado, bem iluminado, que dispõe de informações acessíveis e legíveis, podendo então se interessar por sua atividade real, temporal, complexa, inesperada, bizarra, aparentemente inventiva e às vezes imperfeita...Tal como ela aparece na análise de campo, ou tal como pode ser antecipada quando da concepção* de situações futuras. Hoje são, sobretudo – ainda que não exclusivamente – as atividades ditas cognitivas que são estudadas (a Ergonomia Cognitiva constituindo assim uma certa autonomia). Ou seja, para ser breve, as atividades em que o essencial é constituído pela compreensão*, por parte do operador, de situações às quais ele dá uma significação. Situações que comportam quase sempre uma dimensão coletiva*. É aqui onde a complementaridade entre as duas Ergonomias pode, às vezes, levar a um conflito. Pois os ergonomistas que analisam as atividades cognitivas complexas (por exemplo, os diagnósticos* de incidentes por parte da equipe de turno em uma sala de controle de processo contínuo, para dar um exemplo conhecido) aceitam, claro, a necessidade preliminar de que as informações sejam apresentadas de maneira legível. Em compensação, não aceitam – pois contraria a evidência de campo – que a solução de problema* que constitui o diagnóstico de disfuncionamento da instalação possa se reduzir a alguns “mecanismos de base”, tal como certos psicólogos cognitivistas o descreveram, a partir de experiências simplificadas de “solução de problemas”, como a Torre de Hanói. Este reducionismo ilusório foi batizado por alguns como “metáfora de Lego”, por analogia com o jogo de montagem que permite – a partir de um número finito de peças tiradas de um “pote” – construir qualquer objeto, mas com a condição de renunciar ao realismo que a vida industrial exige. É preciso entretanto reconhecer que, com muita freqüência, os ergonomistas do componente humano renunciam prudentemente a aventurar-se sobre áreas de grande complexidade.

A complementaridade das duas Ergonomias está assim assegurada pelas duas partes, mas de uma maneira assimétrica. A Ergonomia clássica ignora amplamente a Ergonomia da atividade, e atribui os domínios que esta reivindica – a atividade em sua verdadeira grandeza – a outras disciplinas, como as ciências da organização, ou certas abordagens das ciências da comunicação. O que é contestado, é claro, pelos ergonomistas centrados na atividade. Com ainda mais energia do que alguns dissidentes dos Human Factors eles tentaram – primeiro com referência na abordagem sistêmica, e mais recentemente sob o rótulo de Macroergonomia* – elevar a Ergonomia clássica, mas economizando tanto nos rigores de laboratório quanto nas riquezas da análise da atividade em situação natural. Na realidade, é claro, as partes não estão assim tão separadas, e o oportunismo ateórico é não somente praticado, como também às vezes reivindicado. 2. Objetivos diferentes Para complicar um pouco a descrição das Ergonomias, pode ser útil introduzir a diversidade de objetivos perseguidos. A Ergonomia clássica, desde suas origens, se define como A adaptação da máquina ao homem (retomando o título de uma das primeiras obras publicadas em francês5). Falou-se, em seguida, de “melhoramento das condições de trabalho*”. As ideologias tecnicistas americanas aí conduzem, tanto quanto as ideologias humanistas francesas, mais preocupadas com a proteção da saúde do que com a produção. A Ergonomia centrada na atividade nasceu, também ela, deste projeto geral, mas pretende chegar a uma maior eficácia graças a um maior realismo. Recentemente, no entanto, a análise da atividade levou alguns ergonomistas a introduzirem em seus objetivos não somente a adaptação da máquina ao homem, mas – o que seria até então considerado como sacrilégio – a adaptação do homem à máquina, não somente concebendo assistências ao trabalho* (em particular assistências em linha), como também remontando à formação6. São, sobretudo, as exigências cognitivas das tarefas, induzidas pelas ”novas tecnologias de informação”, que levaram a esta ampliação (devido também, talvez, às debilidades teóricas dos profissionais de formação). A simplificação do trabalho (postura tomada de empréstimo pelos ergonomistas ao taylorismo primitivo) é cada vez menos possível (e desejável, por outro 5

O autor se refere a Faverge, J. M. ; Leplat, J. & Guiguet, B. L’ addaptation de la machine a l’Homme. Paris: PUF. 1958. (Nota dos editores do livro em espanhol). 6 Em português, conforme uma influência norte-americana utiliza-se geralmente a expressão treinamento e desenvolvimento – T&D. [NRT].

lado), e uma competência rica, que permita adaptações múltiplas a situações complicadas exige que as ferramentas postas à disposição dos operadores compreendam também suas próprias “ferramentas cognitivas”. 5. Âmbitos de intervenção que se diversificam Durante muito tempo os domínios de intervenção dos ergonomistas situaram-se nas indústrias e nas forças armadas, principalmente nas manufaturas, nas indústrias de processo contínuo e nos transportes (sobretudo aviação). Hoje, particularmente devido aos desenvolvimentos da informática, as atividades terciárias (os escritórios, os guichês de atendimento ao público, o setor de serviços em geral, principalmente os hospitais, as escolas...) vieram somar-se. Enfim, alguns ergonomistas começam a interessar-se, ainda que timidamente, pelas atividades não-assalariadas, principalmente as dos usuários de atividades de utilizadores de produtos* de grande consumo. Seria errôneo, no entanto, dar muita importância à diversidade destes âmbitos de evolução da Ergonomia. Ela certamente afeta as práticas de intervenção, que exigem uma certa especialização, mas não diretamente os modelos* e métodos de análise do trabalho. 6. A Ergonomia nos campos disciplinares É necessário, ainda, distinguir a Ergonomia do componente humano da Ergonomia centrada na atividade. A primeira se quer completamente tributária das disciplinas-mãe, das quais ela faz a gestão de seus domínios de aplicação. Ela não tem qualquer escrúpulo dessa ordem que afete a sua identidade acadêmica. As tentativas recentes de abrir para as aplicações os níveis sistêmicos e “macro” não colocam problemas de princípio, nesta perspectiva. Basta ampliar a biblioteca de base, nas sessões de “ciências humanas” e “ciências da organização”. Os problemas de identidade, portanto, são somente de ordem profissional: como, em particular, tornar reconhecida a especificidade da Ergonomia para os engenheiros, sempre e em qualquer parte persuadidos em poder assumir sozinhos a integração dos fatores humanos. A Ergonomia centrada na atividade, ao contrário, tem problemas de identidade frente a diferentes disciplinas, pois não se trata simplesmente de aplicar seus métodos e seus modelos, mas de integrar alguns de seus modelos e de seus métodos aos seus próprios. Vai-se falar de transdisciplinaridade mais que de multidisciplinaridade. É

preciso citar aqui as Ciências Cognitivas (e em primeiro lugar a Psicologia Cognitiva), as diversas Ciências da Linguagem, as diversas Sociologias, assim como correntes em fronteiras menos precisas, como a Psicologia do Trabalho, quanto aos domínios de intervenção, o behaviorismo e a antropologia* quanto aos modelos e os métodos7. Problemas de identidade que não são somente científicos, mas também profissionais (os problemas atuais de fronteiras são lembrados no Prefácio do presente Vocabulário). 7. Clientes diferentes Para compreender as evoluções das Ergonomias e, sobretudo, dos ergonomistas, é também proveitoso falar de suas relações com seus clientes. As exigências de ordem industrial – produção, qualidade, segurança – são moduladas aqui pelo fato de que o essencial da credibilidade, e do crédito, que possuem os que ensinam e pesquisam em Ergonomia, lhes é dado primeiramente pelo meio acadêmico, defensor da Ciência, e sempre um pouco desconfiado no que concerne às aplicações, salvo quando há referência ao menos quanto aos métodos, ou aos critérios operados pelos avaliadores8 das revistas científicas. Sem dúvida, é isto que explica a persistência, nos estudos publicados, de experimentações muito bem concebidas, mas sem relação com as demandas da indústria ou do setor de serviços. Ao contrário, os ergonomistas preocupados com modelos e métodos realmente eficazes, se têm êxito como consultores, graças ao sucesso de suas intervenções, são pouco reconhecidos como cientistas no sentido forte pelas instituições acadêmicas e científicas. Estas posições, nos dois casos, são felizmente suscetíveis de evoluções, que começam a atenuara a oposição entre a Ergonomia como disciplina e a Ergonomia como profissão. Bibliografia9 1. Relacionada à Ergonomia do “componente humano” DUL, J & WEERDMEESTER, B. 1993. Ergonomics for beginners: A quick reference guide. Londres, Taylor & Francis. OBORBE, D. J. 1995. Ergonomics at work: human factors in Design and Development. Chichester, Jonhn Wiley & Sons.

7

No texto do Vocabulário, em francês, após a referência à Psicologia do Trabalho o autor agrega a Antropologia e encerra. No texto em espanhol o autor se estende, na forma como está no texto traduzido para o português, exceto a referência ao Prefácio. [NTs]. 8 Experts, em francês. [NTs]. 9 O texto do Vocabulário só faz referência à bibliografia concernente à Ergonomia do “componente humano”. A bibliografia seguinte só está presente no texto contido no livro em espanhol. [NTs].

SANDERS. M. & MCCORMICK. E. J., 1993. Human Factors in Engineering and Design (7ª edição). Nova York, McGraw Hill. 2. Relacionada à Ergonomia “centrada na atividade” (Análise do Trabalho) AMALBERTI, R.; DE MONTMOLLIN. M.; THEUREAU, J. (Eds.), 1991. Modèles en analyse du travail. Bruxelas, Mardaga. LEPLAT, J. (Ed.), 1992. L’ analyse du travail en psychologie ergonomique. 2 vols. Toulouse: Octares. MONTMOLLIN, M. de, 1967. Les systèmes Hommes-Machines. Paris: PUF. OMBREDANE, A & FAVERGE, J. M., 1955. L’ analyse du travail. Paris: PUF. VATIN. F. (Ed.), 1990. Organisation du Travail et Economie des Entreprises. Paris, Les Editions d’ Organisation.

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