Entrevistajoseroquetteabola17042009

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O medo de ver o clube decidido por uma minoria O antigo presidente 'regressa' nove anos depois para defender o projecto da actual Direcção Roquette ainda acredita numa solução Soares Franco HÁ cerca de nove anos que José Roquette não tinha significativa intervenção pública sobre o Sporting. Ele, que dera o nome a um projecto que ainda hoje se mantém como sinónimo de viragem dos clubes portugueses para uma gestão de rigor, capaz de compatibilizar a emoção e os afectos próprios dos tradicionais clubes desportivos com o racionalismo da gestão das sociedades anónimas desportivas. Roquette surge, agora, nove anos depois da sua saída da presidência do Sporting, na defesa de um projecto e do que considera ser a própria sobrevivência do Sporting «como uma instituição, ao mesmo tempo capaz de honrar os seus compromissos e de ter um elevado padrão de competitividade desportiva». Escolheu A BOLA para dar conta, a todos os sportinguistas, da sua profunda preocupação com o futuro. Teme que a assembleia de hoje não aprove a proposta da actual Direcção e que, segundo ele, poderá proporcionar que um universo mais alargado de sportinguistas decida sobre um assunto decisivo para o futuro do Sporting. Preocupao que um retrocesso leve ao vazio de pessoas e de ideias e tem um profundo receio: «Que cinco ou seis anos da minha vida, dados ao Sporting, tenham sido desperdiçados». Não tem dúvidas de que o momento é histórico e que o Sporting não pode perder mais esta oportunidade de resolver o problema essencial do clube: manter-se como uma instituição credível e, ao mesmo tempo, garantir condições para ter, enfim, o futebol profissional ao mais alto nível. Acredita que não há alternativa e que a oposição, se conseguir inviabilizar um projecto tão essencial ao futuro do clube, deverá ser responsabilizada. Quanto ao vazio que se perspectiva na sucessão de Soares Franco, acredita que, apesar de lhe reconhecer as razões, o ainda presidente do Sporting será o primeiro a aceitar ser protagonista de uma solução que impeça que o clube caia no vazio ou na armadilha de um aventureirismo destruidor. É, enfim, a entrevista de um notável que, de repente, se vê na necessidade de regressar à ribalta em defesa do seu clube, do seu projecto e de uma ideia renovadora para o Sporting e, mais do que isso, para o futebol português. «Franco não deixará Sporting num vazio» Nove anos de silêncio quebrados, aqui e agora, por uma forte preocupação com o futuro do Sporting. José Roquette explica, hoje, em A BOLA, por que razão está ao lado de Soares Franco no projecto de reestruturação do clube: Essencial para a sustentabilidade do Sporting e a única maneira do futebol vir a ser desportivamente mais forte. Entrevista de VÍTOR SERPA Há quem veja na nova tentativa de reestruturação do Sporting um meio de levar o clube a perder o domínio accionista da SAD. Existe, ou não, esse perigo? — Não existe esse perigo, mas também não é essa a questão fundamental, até porque nessa matéria, na minha opinião, não deve haver qualquer tipo de fundamentalismos. Aliás, chamo a atenção para o exemplo do FC Porto, que, tanto quanto eu sei, não

detém a maioria da sua SAD. O FC Porto já não será o accionista maioritário da Porto SAD. No entanto, há por trás do núcleo duro que detém essa maioria um envolvimento com o clube que retira os riscos que, de outra forma, poderiam surgir. — Seria possível e, eventualmente, aconselhável que um grupo de sportinguistas viesse, no futuro, a deter a maioria da SAD do Sporting? — É sempre possível um modelo desse tipo e no caso do Sporting, até poderia haver, em tese, uma dúzia de pessoas, com suficiente sentido de sportinguismo, capazes de assegurar o tipo de estrutura que existe no FC Porto e que tem tido sucesso. Não sei se virá, um dia, a ser possível. — Mas reafirma que não existe, para já, essa intenção. — Para mim, é claro, tanto quanto consigo ver no quadro da actual reestruturação que está em curso, o Sporting vai continuar a ser o maior accionista da SAD. Mas devemos deter-nos no ponto que é, de facto, o essencial. — E que é... — Não me parece haver outra possibilidade de reforçar os capitais da SAD que não seja pela via proposta pelo actual Conselho Directivo. Aliás, é importante que se diga que ninguém apareceu a protagonizar uma alternativa. — Há, ao que parece, uma maioria que não entende ainda bem o que está em causa na proposta — A solução globalmente considerada tem, em si mesma, uma equação financeira complexa, mas que reflecte esta realidade essencial: Uma instituição como o Sporting Clube de Portugal não é gerível, pelo menos na actual conjuntura, com o nível de passivo que carrega. Pura e simplesmente não tem viabilidade e isso é o que é mesmo fundamental entender. Ou seja, tal como hoje existe, um Sporting desportivamente forte não é viável. — Não existe alternativa? -A alternativa que pode existir é qualquer coisa de tão dramático como de indefensável. Será dizer: não pagamos! não pagamos! Ora, o Sporting tem uma história e uma credibilidade que não o pode deixar de honrar os seus compromissos. Isso é um dever de todos os sportinguistas para com a história do seu clube e de todas as gerações de sportinguistas que nos antecederam. — O dr. Soares Franco afirma-se farto e cansado de ser ofendido. Foi o mesmo motivo que levou, afinal, o dr. Roquette a afastar-se da direcção do Sporting, há nove anos... — Eu disse, no conselho leonino, que se alguém sente profundamente aquilo que o dr. Soares Franco deve estar a passar sou eu, porque passei exactamente pelo mesmo. Ser presidente de uma instituição como o Sporting é, quanto a mim, ainda mais desgastante do que ser líder político, ou responsável por uma grande empresa. Eu entendo bem o cansaço, a amargura, a desilusão do actual presidente do Sporting.

— É um defensor acérrimo da gestão do dr. Soares Franco... — Não é fácil encontrar um bom perfil para presidente do Sporting. Depois das alterações profundas conseguidas em 1995, a liderança do Sporting obriga a altos níveis de exigência. São precisas qualidades muito específicas de alguém com visão estratégica, com experiência empresarial e, fundamentalmente, com credibilidade. Não é possível gerir uma instituição com um nível de endividamento de qualquer um dos grandes clubes nacionais se não houver um mínimo de credibilidade e de certeza de capacidade de resposta em relação às responsabilidades assumidas. Parece que há pessoas que consideram isto como qualquer coisa de ultrapassável. Ainda julgam que tudo isto é a feijões. Há aqui um sentido de impunidade enorme, que me causa o maior espanto. — Há sempre quem acredite que, mesmo nas piores situações, os clubes terão sempre pontos de fuga... — Pois. Há quem entenda que os bancos nunca teriam a coragem de executar o Sporting e que nunca acontecerá nada. Isto, em 2009, é de uma irresponsabilidade e de um autismo alarmante. Essa gente esquece-se que colossos como a General Motors entram em falência e continuam a achar que nada pode acontecer a uma instituição desportiva. É dramático. — Acredita que será possível convencer o dr. Soares Franco a continuar se as decisões das assembleias lhe forem favoráveis? — Alguma coisa poderá acontecer que possa transmitir ao dr. Filipe Soares Franco um género de bálsamo e que o leve a acreditar que o Sporting não irá percorrer um caminho de atracção por um estilo de destruição a que já temos assistido noutros momentos da vida do clube. A verdade é que por vezes parece que há uma praga que cai sobre os dirigentes desportivos quando têm altos níveis de qualidade e de credibilidade. — Dizia o dr. Roquette, há anos, que o Sporting tem uma tendência destruidora tremenda. Ainda é assim? — Não é só o Sporting. Com excepção dos últimos trinta anos do FC Porto, isso acontece nas instituições desportivas, porque há um contexto de envolvimento emocional que não é possível ultrapassar. — O dr. Roquette estará na Assembleia a defender a posição do conselho directivo... — Vou lá defender essa posição, como já fui. — Não acha que houve um défice de informação aos sócios ? — Admito que sim. Isto é uma coisa complexa, mas reconheço que deveria ter havido um maior esforço para se tentar explicar, mais terra a terra, o que se estava aqui a tratar. No essencial o que deveria ter sido dito é que não é possível o Sporting carregar o passivo que actualmente carrega e que temos de encontrar soluções para que o Sporting,

no futuro, possa cumprir as suas obrigações, como entidade de bem que é e sempre foi e, ao mesmo tempo, criar condições para se elevar os seus níveis competitivos. — Esta será terceira assembleia geral onde essa questão será posta. Há o risco da proposta voltar a não ser aprovada. — E é um risco profundamente perigoso para o Sporting. Tanto mais que não há alternativa. Certa oposição diz que não quer isto, mas não diz o que quer, em alternativa. Isso não é sério, não é responsável. — A questão de uma aprovação por referendo, que estará em causa nesta primeira assembleia, é também essencial? — Entendo que sim, mas tenho um receio fundado de que as coisas não corram bem. — Porque defende o referendo para este tipo de decisões? — Há uma realidade que está a necessitar de uma mudança estrutural e de paradigma. As assembleias gerais de instituições desportivas, como o Sporting, têm a presença de uns poucos milhares de sócios. No caso do Sporting, dois mil e tal, três mil. Ora, o Sporting Clube de Portugal tem, actualmente, cerca de 43500 sócios com capacidade de voto. Não chega a dez por cento. Como é possível alguém de boa fé aceitar que um assunto decisivo para o futuro do clube possa vir a ser decidido, apenas, por um universo tão reduzido? — Daí a solução referendária... — Os estatutos do Sporting não permitem, nem o voto por correspondência, nem a utilização do voto electrónico, que permitiria a votação de muito mais gente e que incluiria a participação de cerca de 250 núcleos do Sporting espalhados por todo o país. Hoje em dia o voto electrónico pode fazer-se com a maior segurança e torna-se inaceitável que as novas tecnologias não sejam aproveitadas no interesse dos clubes, sobretudo em decisões tão importantes como esta.

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