Entrevista Aduni

  • June 2020
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  • Words: 1,071
  • Pages: 3
:. Repórter: Bàbálórìsà Claudinei de Aganjú

ADUNI BENTON - Diretora da Peça Teatral "Uma Rede Para Iemanjá" Nome? Aduni Benton Significado? A que conquista com suavidade (Informação passada pelo professor José Beniste) Origem? Benin Idade? 39 anos Estado civil? Solteira Iniciada? Sim Por quem? Já faleceu, hoje sou filha do Professor e Doutor José Flávio Pessoa de Barros Onde? Cachoeiras de Macacu Quando? 1973 Qual seu Orixá? Oyá O que tens feito em prol da religião? Sou pesquisadora da cultura afro-brasileira, Bacharel em Artes Cênicas, faço através da minha arte que é o Teatro. Seus trabalhos ou espetáculo? A Mitologia dos Deuses Africanos de Luiz Motta, com minha Direção e Produção; Uma Rede para Iemanjá de Antonio Calado. O que gosta de ler? De revista em quadrinhos até os grandes clássicos, leio tudo que me chega. Como você vê o candomblé de hoje? Uma religião tradicional, que os mais novos tem que respeitar e aprender com os mais antigos, que estão indo embora e não passando os seus conhecimentos. Os avôs deveriam cuidar mais de perto dos seus filhos, para que os netos não saiam por aí, causando um monte de desatinos com a cabeça das pessoas inocentes e vulneráveis, deveria haver uma espécie de sindicância dos mais antigos nas casas dos mais novos para coibir os irresponsáveis, ou seja,cuidar da sua árvore genealógica para que a tradição não se perca, por que entendo também, que os mais antigos hoje, não tenham mais tanta paciência para ensinar da forma como aprenderam, então, acredito, que caiba aos seus filhos, cuidar desta continuação da raiz ou tronco, como se diz. Serem responsáveis por cada Ilê que é aberto.

Alguns "Zeladores" em nome da Hierarquia dentro dos terreiros humilham seus abiãs ou iaôs (obrigando-os a referenciá-los,não sentar na mesma altura, ficarem descalços, etc... Os orixás ficam contente com esse comportamento? É correto os "zeladores se comportarem assim? Eu acredito em hierarquia sim, você pode ser humilde e respeitoso, sem ser subserviente. É igual na família, antigamente as crianças não ficavam na sala ouvindo a conversa dos mais velhos, e quando ficavam, só um olhar do mais velho, já se sabia que era para sair, isto é respeito. Dentro de um Ilê é a mesma coisa, se você não foi convidado para sentar-se a mesa junto com os mais velhos, quando você tiver seus tempos, conquistará este direito, a meu ver é uma questão de conquista. Quanto a andar descalço, faz parte do ritual,você se veste e se comporta conforme o ambiente, você não vai a uma festa de black-tie, vestido de calça jeans,você não vai entrar na casa do orixá de salto agulha, é uma questão de comportamento, saber se colocar corretamente nos lugares. Você acha que luxo do candomblé do RJ é causador de algum tipo de desvantagem espiritual com relação à simplicidade do candomblé da Bahia. Afetando fatores como: Concentração, invocação em ambientes típicos, e etc...? É difícil esta pergunta, pois não visito as casas de candomblés. Mas tenho uma opinião, festa de orixá não é desfile de escola de samba e nem de moda, o orixá e seus adeptos devem estar vestidos conforme a tradição, o resto é invenção. Orixá é simplicidade, as pessoas estão lá para invocá-lo para agradecer e reverenciar e não para usar este momento para suplantar os mais humildes. Você viu a matéria do "Fantástico"? Em que o Índio "BORORO" reclamava da falta de união, do seu povo em dar continuidade ao ritual fúnebre de sua tribo (BORORO), em ter que se obrigar a compartilhar com o catolicismo. Você tem atitude de mobilizar o mundo, mesmo sendo minoria para prevalecer o que você acredita... Se o candomblé precisar da sua mobilização,"a lei contra sacrifícios de animais foi sancionada em 21/05/03 nº 11915 por Dep. Manoel Maria (RS)". Você iria as ruas defender o que você cultua e acredita? Com toda a certeza! Alguém come animal vivo? Ou tem-se que matar para comer? Esta Lei é preconceituosa, gostaria que me fosse enviada na integra pra já conversarmos um movimento, antes que eles comecem a invadir (como era no início) as nossas casas nos impedindo de manifestar livremente nossa fé. Entendemos, que o Ensino Religioso na forma confessional, em vigor atualmente no Estado do Rio de Janeiro (lei 3459/00), está em desacordo com a Lei Federal 9.475/97, conhecida como "nova lei do Ensino Religioso", que alterou parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96-LDB), fruto de um grande consenso, atingido após longos e profundos debates que envolveram diversas Igrejas, setores educacionais do governo e organizações sociais, inclusive de professores. A LF 9.475/97 diz claramente: "Art. 33 : O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. Você concorda com o Ensino Religioso Confessional? Não conheço a Lei na íntegra, mas me parece discriminatória. Você acha necessário a realização de rituais na mata, e necessário termos espaços específicos para estas finalidades ? Ou seja, um espaço sagrado?

Eu acredito que a religião do candomblé não existe sem a natureza. É necessário o elemento da mata, cachoeira, rios, mar, fogo, ferro, terra etc. Orixá é energia viva e comunga diretamente com a natureza. Cada Ilê é um espaço sagrado. O que acha do sincretismo religioso Afro-católico? Foi necessário na época da escravidão, para que se pudesse preservar a nossa religião, hoje em dia, não é mais necessário. Jesus Cristo não é Oxalá, ok? O que você acha da criação de um conselho de ética para cada nação do Candomblé? Já falei sobre isto, na pergunta anterior. É extremamente necessário, só que cada raiz é que tem que cuidar dos seus galhos e folhas, e não um grupo de fora. O que você acha sobre a africanização do candomblé? Não entendi a pergunta! As origens da religião está na África, é o berço das nações, orixá se cultua em sua língua de origem (banto, gege, yorubá). Faça suas considerações finais. Estou muito agradecida, de ter tido esta oportunidade de expressar as minhas opiniões. Quero deixar uma sugestão. Que se faça uma mesa redonda com os mais antigos e respeitados Yalorixás e Babalorixá do Rio de Janeiro e Salvador, com estas mesmas perguntas, cada um respondendo, e poderíamos ter um grande debate, e que fosse tudo registrado para o futuro.

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