Em que Acreditam os Judeus? Nuno Guerreiro Depois duma explicação justa e sintética diz Nuno Guerreiro sobre a impossibilidade dum acordo práxico do sentido último dos limites da crença: A este respeito, há um velho provérbio hebraico que diz “onde há dois judeus tem de haver duas sinagogas”. E acrescenta um linha dodecalogal sobre a fé Judaica: O Credo do Judaísmo 1.Deus: Deus é o Criador. Eterno, omnisciente, omnipotente, infinito e incorpóreo. Deus não tem género no sentido humano do termo, o pronome masculino é-Lhe atribuído apenas por convenção. Deus é único. Deus é um e não composto por diferentes personalidades. 2.Instrução: O Criador concedeu ao Homem instruções de comportamento destinadas a promover a vida e a evolução espiritual. As instruções são baseadas em constantes universais criadas por Deus, e como tal imutáveis. As instruções encontram-se contidas na Bíblia Hebraica (Torá Escrita, ver Tanakh, conhecida entre os cristãos como “Antigo Testamento”). 3.Futuro: Seguindo as instruções, o Homem, ao longo dos séculos, produzirá mudanças positivas no Mundo, restaurando a sua essência primordial (ver conceito de Tikkun haOlam, no primeiro parágrafo). Esta mudança (restauração) é um esforço colectivo dos povos ao longo de muitas gerações. 4.Julgamento: Cada pessoa é julgada com base apenas nos seus actos, independentemente de outros factores, tais como crença, etnia ou orientação sexual. Os actos de outras pessoas – quer sejam familiares, antepassados ou homens santos – são irrelevantes. O Homem possui total e inquestionável livre arbitro bem como controlo sobre todas as suas acções. 5.Expiação: A correcção dos erros individuais quotidianos é feita através da oração (meditação), observância anual do Dia do Perdão (Yom Kippur); e arrependimento, corrigindo os erros sempre que possível, resolvendo não os repetir e cumprindo as Instruções – incluindo a ajuda aos mais necessitados, tida como a maior de todas elas. 6.Recompensa: Deus não promete recompensas individuais (ver Futuro), mas sim colectivas. 7. O Bem e o Mal: Deus é o Criador de todas as coisas. O judaísmo não tem o conceito de Diabo. Enquanto em hebraico existe a palavra satan, e ela de facto é mencionada várias vezes na Bíblia Hebraica, o seu significado é completamente diferente do atribuído pelos cristãos – em hebraico satan quer dizer oponente, referido por regra no contexto da luta interior individual entre dois opostos. O “Mal” é produto exclusivo das acções, individuais
e colectivas, do Homem, assumindo-se como o resultado de um processo cósmico de “causa e efeito” equiparável às teorias da física newtoniana. 8.Depois da Morte: No judaísmo não existem os conceitos de Céu, Inferno ou Salvação. As preocupações devem ser centradas unicamente nesta vida; não temos qualquer tipo de controlo sobre o que nos irá acontecer depois da morte. Uma vez que o objectivo da evolução espiritual individual só pode ser alcançado com a imersão na sociedade e a interacção com o semelhante, também não existe no judaísmo o conceito de isolamento monástico. Na prática, o objectivo é viver a vida da melhor e mais justa forma possível. 9.Messias: A palavra hebraica moshiach (messias) não tem a mesma conotação que lhe é atribuida pelo cristianismo. No judaismo não existem homens-deus, semideuses ou filhos literais de Deus. Uma pessoa não pode tomar ou absolver os pecados de outra (ver Julgamento). Os judeus não estão à espera da vinda de alguém. O Futuro chegará através das acções do conjunto da Humanidade. Um dos sinais contidos na Bíblia Hebraica para a chegada da era messiânica é a paz universal. 10.Povo Eleito: A Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) refere-se poucas vezes aos judeus como “o povo eleito”, mas a expressão tem sido destorcida ao ponto de se fazer crer que os judeus se julgam intrinsecamente superiores aos não-judeus. Esta leitura é completamente falsa. Os judeus são “escolhidos” apenas enquanto portadores da Mensagem (Instrução), e seus guardiões através dos séculos. Não existe qualquer sentimento de superioridade ou inferioridade implicita. (ver também Julgamento) 11. Sacrifício e Expiação: O sacrifício não é necessário para a expiação. O propósito do sacrifício é expressar o sentimento de afinidade pessoal para com o Criador. Na ausência do sacrifício, o mesmo sentimento pode ser expresso através da oração (meditação) e correcção dos erros cometidos. 12.Dez Mandamentos: Os conhecidos “Dez Mandamentos” são apenas uma parte da Instrução, ainda que importante. A palavra hebraica usada significa literalmente “declaração” (“dez declarações”). No judaísmo, em vez de apenas dez, existem 613 mandamentos (mitzvot). Este “credo” foi elaborado (traduzido e largamente editado) com base numa lista do site Am ha-Aretz: Judaism of the masses. posted by Andy at 4.7.04