Do Mdb Ao Pmdb

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DO MDB AO PMDB 40 ANOS DE HISTÓRIA EM MATO GROSSO DO SUL

ERONILDO BARBOSA DA SILVA

TITO CARLOS DE OLIVEIRA MACHADO

FUNDAÇÃO ULYSSES GUIMARÃES DE MATOGROSSO DO SUL

0

DADOS DE CATALOGAÇÃO GRÁFICA

A ser preenchido pela editora... Silva, Eronildo Barbosa; Oliveira, Tito Carlos Machado de, Do MDB ao PMDB - 40 anos de história. Campo Grande: ___________, 2006.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

1

Dedicatória

Este trabalho é uma homenagem a todos os militantes do MDB e do PMDB que, ao longo desses 40 anos, muitas vezes em condições adversas, tiveram a coragem e a sabedoria de construir uma das mais importantes agremiações políticas da história do Mato Grosso do Sul e do Brasil.

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Agradecimentos

Ao deputado federal Waldemir Moka, ao economista Alfredo Sulzer, ao exdeputado federal Valter Pereira, aos jornalistas José Rangel Neto, Fernanda Nascimento Prochmann e Raimundo Edmário Galvão, pelas críticas e sugestões que fizeram a esse livro. A Fundação Barbosa Rodrigues e ao Arquivo Histórico de Campo Grande. Aos servidores do Diretório Estadual do PMDB de Mato Grosso do Sul pelo apoio logístico.

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Sumário

Prefácio

Apresentação

Capítulos 1)

O golpe militar de 1964

2)

A Gênese do PMDB

3)

Navegar é preciso

4)

A campanha pela anistia

5)

A criação do PMDB em Mato Grosso do Sul

6)

A conquista do governo em 1982

7)

Lúdio Coelho na Prefeitura de Campo Grande

8)

Diretas Já

9)

Juvêncio na Prefeitura de Campo Grande

10) Marcelo Miranda no Governo 11) Eleição para prefeito em 1988 12) Eleição para governo em 1990 13) Juvêncio volta à prefeitura de Campo Grande 14) Wilson Martins volta ao Governo 15) André Puccinelli na Prefeitura de Campo Grande 16) Eleição para o Governo em 1988 17) Reeleição de André Puccinelli 18) O pleito de 2002 19) Nelson Trad Filho na Prefeitura de Campo Grande 20) Fotos dos entrevistados

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Prefácio

”Política não se faz com ódio, pois não é função hepática. É filha da consciência, irmã do caráter, hóspede do coração. Eventualmente, pode até ser açoitada pela mesma cólera com que Jesus Cristo, o político da Paz e da Justiça, expulsou os vendilhões do Templo. Nunca com a raiva dos invejosos, maledicentes, frustrados ou ressentidos. Sejamos fiéis ao evangelho de Santo Agostinho: ódio ao pecado, amor ao pecador. Quem não se interessa pela política, não se interessa pela vida”. Este trecho de discurso proferido no Congresso Nacional em março de 1985 por Ulysses Guimarães, o maior nome do PMDB em todos os tempos, reflete o ideal dos que defendem o uso do diálogo no pensamento político. Quem transgride tal preceito, desvia-se do caminho, aumentando o risco de ser excluído de qualquer debate em que os atores envolvidos buscam, antes de tudo, o entendimento, a harmonia, convergir idéias, aparar arestas. Por outras palavras, política é, além da arte de bem governar os povos, como definem os dicionários da língua portuguesa, a “habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados”. Por conseguinte, não se faz política sem conversa, sem paixão. “Do MDB ao PMDB em Mato Grosso do Sul: 40 anos de História”, procura resgatar parte da história da política em Mato Grosso do Sul a partir da criação do MDB, em 1966, de sua dissolução pelos militares em 1979 e sua recriação em seguida como PMDB, até os dias atuais. Por mais de ano, os autores desta obra - os professores campo-grandenses Eronildo Barbosa da Silva e Tito Carlos de Oliveira - pesquisaram os principais fatos deste período em Mato Grosso do Sul. Ouviram relatos das 35 maiores lideranças políticas do Estado. Com efeito, tem-se um trabalho de ótima qualidade, insofismável, editado com o apoio do PMDB e da Fundação Ulysses Guimarães em Mato Grosso do Sul. São relatos pouco conhecidos de grande parte do público que estuda ou se interessa pelo assunto. Os acontecimentos trazidos à tona neste livro ganham evidência pelo fato de terem sido relatados por personagens que ajudaram a construir esse conjunto de eventos. Nesta obra, não há espaço para ficção. 5

Depoimentos de figuras que são a própria história sul-mato-grossense em que se destacaram Wilson Barbosa Martins, Bezerra Neto, Plínio Barbosa Martins, Plínio Rocha, Nelly Bacha, Cleomenes Nunes e tantas outras. Mostra, em detalhes, a tensão que marcou o Golpe Militar de 1964 em Mato Grosso, situações narradas por quem viveu (e sobreviveu) aquele duro período da história contemporânea brasileira. Em meio a dezenas de testemunhos, extraí o do ex-governador Wilson Barbosa Martins - o maior expoente dessa linhagem de nomes da nossa história - exemplo de ética e decência, com quem tive o orgulho de dar meus primeiros passos na política. Dr. Wilson Martins descreve no livro, entre outros acontecimentos, como se deu a cassação de seus direitos políticos, em fevereiro de 1969: “Eu fui cassado pelo ato institucional número 5. Não havia formação de culpa, mérito, nada que pudesse me condenar. Tudo foi feito pela vontade dos militares. Quem autorizou minha cassação foi o presidente Costa e Silva. (...) O povo da velha UDN é que pediu. Fiquei sem poder dar aula na universidade e fazer política que eram duas coisas que eu gostava muito. (...) Ficava no meu escritório, advogando. Assim mesmo, de vez em quando, eles me levavam preso. Eu acho que era para amedrontar os companheiros que com dificuldade continuavam a luta do MDB.” Em “Do MDB ao PMDB em Mato Grosso do Sul: 40 anos de História”, os bastidores da nossa política são revelados. A cada página, o leitor vai se deparando com fatos que, à época, ajudaram a compor o cenário político mato-grossense, além de acontecimentos que levaram à criação do MDB, com a finalidade de combater o governo ditatorial dos militares. O livro traz ainda episódios que permearam as disputas políticas nas eleições para governador, senador, deputado federal, deputado estadual, prefeito e vereador em Mato Grosso. Números e bastidores de uma época privilegiada, de homens notáveis. A luta travada no Estado em favor da anistia “ampla e irrestrita” e pela democratização no País, eventos que levaram milhões de brasileiros às ruas, às praças públicas.

O leitor, enfim, encontrará páginas com narrativas inéditas. É mais que um livro. É acervo histórico da maior importância para militantes da velha e da 6

jovem guarda do PMDB e porque não dizer para historiadores, professores e estudantes da história política de Mato Grosso do Sul. A trajetória do MDB e do PMDB é indissociável da sul-mato-grossense. É, sobretudo, riquíssima. Não somente pelos fatos dos quais o partido participou nesses 40 anos, mas, essencialmente, por sua entrega absoluta nas lutas contra o Regime Militar e na consolidação da democracia no Brasil. O PMDB foi o condutor do combate corpo a corpo, sem armas, travado pelos movimentos sociais contra o autoritarismo. Em síntese, o livro é a verdade sobre os 40 anos do MDB e PMDB em Mato Grosso do Sul - legenda que se constituiu nesse período no grande instrumento das oposições, como destaca trecho do Manifesto dos Fundadores do PMDB, divulgado à Nação Brasileira em dezembro de 1979: “O PMDB será o caminho das oposições que compreendam que a luta contra o

autoritarismo



de

ter

o

seu

desfecho

não

apenas

na

reconstitucionalização do Estado, mas na democratização da sociedade, através do engajamento cada vez mais combativo e organizado de todos os brasileiros”.

Deputado federal Waldemir Moka Presidente Regional do PMDB em Mato Grosso do Sul

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Apresentação Da história contada neste livro, fui testemunha muito próxima de sua primeira metade e participei ativamente da segunda - melhor dizendo - participo, pois essa história continua. Lembro-me bem do dia em que fui procurar o Dr. Wilson Barbosa Martins, na sede da OAB de Mato Grosso do Sul, instituição presidida por ele, e na qual eu ocupava o cargo de conselheiro. Estávamos já no período da chamada “abertura lenta, gradual e segura”, comandada pelos Generais Geisel e Golbery e, no âmbito civil, pelo senador e Ministro da Justiça Petrônio Portela. Antevendo e preparando - para adequá-la a seus propósitos - a próxima redemocratização do país, esses dirigentes haviam decidido que era hora de encerrar a instituição do bipartidarismo. O pluripartidarismo, regime da plena liberdade de associação política, é por definição o mais adequado à democracia. Mas o principal objetivo dos homens do regime ao implantá-lo, era na verdade o de impedir o acesso do MDB ao poder. Depois dos momentos iniciais, em que encontrara muitas dificuldades para afirmar-se como partido de oposição ao regime, o MDB vinha conquistando gradativamente a confiança do povo brasileiro, e tudo levava a crer que, com a redemocratização, chegaria finalmente ao poder central. Isso é o que os estrategistas do governo buscavam impedir. Com o pluripartidarismo, o partido certamente perderia quadros importantes e, mesmo que mantivesse a sua penetração popular, levaria algum tempo para reorganizar-se. A fim de diminuir a força da legenda, lançaram mão, até mesmo, de um expediente esdrúxulo - que, aliás, ainda hoje persiste em nossa legislação eleitoral: exigiram que os novos partidos assim se chamassem - “partidos” - e que, portanto, usassem a letra “P” no início de sua sigla. A solução encontrada pelos dirigentes do MDB foi, ao mesmo tempo, simples e genial: o partido passou a chamar-se PMDB. E aqui voltamos ao que eu contava no início. Como disse, encontrei-me com o Dr. Wilson Barbosa Martins. Eu era então deputado estadual pela Arena e, várias vezes, fora convidado pelo próprio Dr. Wilson e por outras lideranças do antigo MDB a ingressar no partido. A extinção do bipartidarismo pareceu-me o momento adequado para fazê-lo, 8

atendendo àqueles honrosos convites e, principalmente, às minhas convicções e sentimentos. Foi isso o que eu disse naquele dia ao Dr. Wilson, e a partir daí, junto com ele e com outros valorosos companheiros - Plínio Martins, Roberto Orro, Sultan Rasslan, Onevan de Matos, Valter Pereira -, começamos a percorrer o Estado, criando e instalando, com as dificuldades inerentes à época, o PMDB, partido no qual me encontro até hoje. Esta é a história que se conta, com fidedignidade e competência neste livro: a de como um partido, criado por imposição de um regime autoritário para exercer o papel de “oposição consentida”, transforma-se, pela dedicação e bravura de seus líderes, numa oposição de fato; de como esse partido, mudando de nome, mas não de alma, credencia-se como o grande articulador e fiador do processo de redemocratização do país, processo esse que alcança o seu apogeu durante a Assembléia Nacional Constituinte, presidida pelo saudoso Ulysses Guimarães; de como esse partido finca profundas raízes no coração do povo brasileiro, o que o faz permanecer, até os dias de hoje, como uma das mais importantes organizações partidárias do Brasil, e certamente a maior. O livro, obviamente, procura circunscrever-se história do PMDB sul-matogrossense, mas não se furta, quando se faz necessário para o entendimento do processo histórico, a abarcar o panorama nacional mais amplo. Espero que ele sirva de exemplo para os demais diretórios estaduais do Partido, e para a própria Direção Nacional: a História do Brasil das últimas décadas não pode ser contada sem a decisiva participação do MDB e do PMDB, e a tarefa de contá-la e de garantir que não se percam tantos personagens e momentos memoráveis, cabe antes de tudo a nós, peemedebistas, que fazemos parte dessa história e que dela tanto nos orgulhamos. Repito: a história continua. Por isso, ao finalizar, quero deixar manifesta, mais uma vez, a minha profunda convicção de que o nosso partido, o PMDB, é hoje um patrimônio de todo o povo brasileiro, e de que ele reúne todas as condições para se firmar como a grande ferramenta de que dispõe a nossa gente para a construção do país livre, justo e progressista que é o nosso sonho e a nossa maior missão histórica.

Senador Ramez Tebet 9

1) O GOLPE MILITAR DE 1964

No dia 1º de abril de 1964, os militares assumiram o comando político do Brasil. A justificativa era de estar agindo em defesa da democracia e dos interesses nacionais, ameaçados com a política adotada pelo Presidente João Goulart. Os fatos mostraram mais tarde que o golpe de 1964 foi operado com o objetivo de atender aos interesses localizados da elite mais conservadora, formada, entre outros, por políticos ligados à UDN - União Democrática Nacional -, por alguns militares da ativa e da reserva, por parte do empresariado e por setores reacionários da Igreja. Além desses, estava engajado no golpe o Departamento de Estado Norte Americano, que não via com bons olhos a política independente implementada pelo Presidente João Goulart.

O golpe foi o ápice de uma luta política travada durante anos entre duas concepções

políticas

de

governo:

os

chamados

progressistas

que

advogavam um Brasil autônomo com ampla participação popular e os conservadores que defendiam um Brasil integrado ao sistema Norte Americano, isto é, uma espécie de alinhamento automático às ações dos EUA. No centro desse debate, estavam três partidos: PTB - Partido Trabalhista Brasileiro, PSD - Partido Social Democrata e UDN - União Democrática Nacional.

A UDN, desde 1945, quando foi formada, como qualquer agremiação política, almejava conquistar a Presidência da República do Brasil. A diferença dela dos demais partidos estava no método adotado. Constava da cartilha udenista aceitar qualquer meio que facilitasse o seu caminho ao poder central. O suicídio de Getúlio Vargas, em agosto de 1954, teve como base, entre outros fatores, a forte pressão exercida pelos udenistas. Ainda que haja discordâncias, a maioria dos historiadores entende que eles (udenistas) queriam banir Vargas do poder, baseados na alegação de que um servidor público estava envolvido com a morte do Major Vaz (oficial da Aeronáutica e segurança de Carlos Lacerda).

Após a morte de Getúlio, a UDN arriscou colocar na Presidência da República, Carlos Luz, desafeto de Vargas e Presidente da Câmara dos Deputados. A justificativa era de que o vice-presidente de Vargas, Café Filho, 10

estava gravemente enfermo e não podia assumir a administração do país. A estratégia da UDN era colocar alguém de confiança, com o objetivo de dificultar a eleição e a conseqüente posse de Juscelino Kubistchek do PSD, candidato que detinha a preferência dos eleitores para o pleito marcado para 1955.

Parte importante do Congresso Nacional e de setores das forças armadas não aceitou a fórmula criada pela a UDN. O Marechal Teixeira Lott e alguns parlamentares lideraram uma campanha cívica com o objetivo de convencer os congressistas a indicarem o Presidente do Senado, Nereu Ramos, para completar o mandato de Getúlio Vargas. Essa alternativa garantiu a realização do pleito, conforme programado, e a posse do novo Presidente: Juscelino Kubistchek.

O

governo

Juscelino

Kubistchek

deu

continuidade

à

política

de

industrialização iniciada com Getúlio Vargas em 1930, acelerando a substituição de importações e a modernização da indústria nacional. O sucesso (reconhecido pela maioria) da administração de Juscelino adiou os planos da UDN de ganhar a Presidência da República. A habilidade de Kubistchek desarmou as principais “armadilhas” colocadas nos cinco anos de seu governo.

Em 1960, realizou-se nova eleição para Presidente do Brasil. Foi eleito Jânio da Silva Quadros. Em 1961, ele renunciou ao mandato. O vice, João Goulart, ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, eleito constitucionalmente, foi impedido de assumir a Presidência por interferência de setores mais conservadores (UDN à frente) e de alguns militares. A alegação deles era a suposta ligação de João Goulart com os comunistas.

Para resolver o impasse, costurou-se um entendimento político que desencadeou na criação do parlamentarismo no país. Ou seja, quem comandaria o executivo seria o Primeiro Ministro e não o Presidente, este assumiria o papel de Chefe de Estado, apesar de ter sido eleito com plenos poderes de Chefe de Governo. Tancredo de Almeida Neves foi o nome de consenso para o cargo de Primeiro Ministro do Brasil, enquanto era resguardado João Goulart na presidência.

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A mudança do regime político se revelou inócua. Novas crises políticas e econômicas continuaram a brotar no país, aumentado ainda mais a desconfiança da população no regime parlamentarista. O efeito desta crise culminou com a organização de um plebiscito nacional para aferir a opinião da população sobre o novo regime. O resultado foi uma esmagadora vitória do presidencialismo no dia 6 de janeiro de 1963. Poucos dias depois, João Goulart

tomou

posse

como

presidente

do

Brasil.

E

com

ele,

inadvertidamente, adentraram ao Palácio do Planalto algumas crises fabricadas nos laboratórios das forças conservadoras, agravando ainda mais a situação política do país.

João Goulart tinha muita dificuldade para antever as crises. Não percebia como deveria, que algumas ações, aparentemente ousadas, acabavam criando problemas com as forças sociais mais conservadoras que viam seu governo com desconfiança. O Presidente, diferentemente de seu antecessor Juscelino, tinha dificuldade de detectar as “armadilhas” colocadas por seus inimigos políticos ao longo do seu caminho.

A crise atingiu seu ápice no início de 1964. A defesa das chamadas reformas de bases, como a nacionalização de algumas refinarias de petróleo particulares, a reforma agrária, a desapropriação de propriedades às margens das ferrovias, rodovias, açudes, o aumento da inflação e a ameaça de controle das ações dos capitais internacionais aguçaram ainda mais os ânimos da UDN e de outras forças que achavam que o Brasil caminhava, a passos largos, rumo à instalação de uma república socialista. O medo do comunismo inflou, mais ainda, os setores descontentes com o governo.

Em março de 1964, milhares de pessoas ligadas à Igreja Católica, desfilaram pelas ruas das principais cidades do Brasil, na chamada Marcha da família com Deus Pela Liberdade, protestando contra as reformas de base e a pretensa “comunização” do Brasil. Outro fato que serviu para fortalecer a oposição em torno da proposta golpista foi o discurso pronunciado por João Goulart, no clube dos sargentos no Rio de janeiro, em 13 de março de 1964, em que anunciou seu compromisso com as reformas de base e confirmou outras iniciativas claramente nacionalistas.

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O discurso repercutiu negativamente junto aos oficiais das Forças Armadas, porém novos fatos iriam criar novos problemas para o Governo. Os cabos e sargentos anunciaram uma greve para os primeiros dias de Abril. A pretensa greve significou para os comandantes militares, uma forte violação da disciplina e da ordem nos quartéis. A quebra da hierarquia militar foi a senha que os militares precisavam para participar e consolidar o golpe de estado.

Na noite de 31 de Março de 1964 os militares assumiram o comando político do País. O presidente João Goulart e seus ministros foram obrigados a abandonar o Brasil. Na seqüência, o que se viu foi a banalização da violência e um período de escuridão democrática que assolou o país por 21 anos.

O golpe de 1964 no Sul de Mato Grosso

No dia 3 de abril de 1964, o jornal “Correio do Estado” de Campo Grande estampou uma longa manchete onde se lia uma proclamação do Comando do Exército explicando os procedimentos adotados pelos militares para manter a ordem e a calma na cidade:

A ordeira e operosa população de Campo Grande e de todo o Estado de Mato Grosso pode confiar na ação patriótica do exército brasileiro, mantendo-se calma, prosseguindo em seus afazeres normais, certo de que a tropa da região militar lhe garantirá a tranqüilidade que todos almejamos, entretanto, se elementos mal avisados tentarem perturbar a ordem, todas as medidas necessárias serão tomadas com o máximo rigor.

Antes desse comunicado, no dia 1º de abril, numerosas pessoas, sem culpa formada, foram presas arbitrariamente em Campo Grande e nas demais cidades do Sul de Mato Grosso. O vice-prefeito de Campo Grande, hoje deputado federal, Nelson Trad estava em casa, à procura de informações sobre o desenrolar do golpe, quando chegou uma patrulha do exército e o prendeu. Antes, porém, reviraram toda a casa em busca de livros, documentos, fotografias, filmes, algo que o vinculasse às idéias comunistas. Conta Nelson Trad, que eles “queriam informações sobre comunistas e outras pessoas com quem me relacionava”. Trad ficou preso durante um mês e depois teve seus direitos políticos cassados. 0

Além de Nelson Trad, os militares prenderam e cassaram os direitos políticos dos vereadores de Campo Grande, Willian Maksoud e Antônio Roberto de Vasconcelos. Alguns dias antes, em 23 de abril de 1964, o major do exército Júlio de Oliveira procedeu a diligência na Câmara Municipal, na busca de documentos e outras pistas que indicassem atividades comunistas dos vereadores da cidade morena (Série Campo Grande, 2003, p. 38).

Alberto Neder, médico, militante do PCB, também foi preso. Após a notícia do golpe, ele procurou se refugiar em lugar seguro porque sabia que era uma das principais lideranças procuradas pela repressão.

Escondeu-se na

fazenda de um amigo, na região de Rio Brilhante, mas, delatado, foi localizado e preso por uma patrulha do exército. Em Campo Grande, de acordo com Jornal “Diário da Serra” de 31/04/1994, alguns militares “desfilaram” com Alberto Neder pelas ruas do centro, com intuito de mostrar para a população que o famoso comunista estava preso.

O ex-deputado estadual Alarico Reis D’Avila, na época presidente do PTB, ficou 30 dias na cadeia. O motivo de sua prisão foi o fato de ele ter intercedido, junto ao comando do exército, por um grupo de amigos do PTB do município de Rio Verde. ”Eram comerciantes, fazendeiros, donos de cartório, gente que não tinha nada com as idéias comunistas, por isso, justamente, fui defendê-los”, lembra (Silva. 2005.p.135).

Em 25 de Abril de 1964, o Jornal “Correio do Estado” divulgou um novo comunicado, com a relação de algumas pessoas que estavam presas, lavrado nos seguintes termos:

“O Comando do Exército informa que os senhores Alexandre Tognini, Diomedes Araújo, Radio Maia e Lafayete Coutinho estiveram detidos para serem averiguados e submetidos à verificação sobre suas atitudes e participação em atividades subversivas, tendo sido postos em liberdade em 20 de abril de 1964. Alerta ainda que os referidos senhores não poderão deixar a cidade.”

Em outro comunicado, o exército divulgou que os senhores “José Domingos, Heitor Samaniego, João de lima Couto, José Ribeiro de Melo, Edberto 1

Celestino e Reginaldo de Oliveira estavam detidos no Comando do Exército para averiguação sobre as suas atividades políticas”.

Enquanto os quartéis recebiam novos presos, os homens da ADEMAT Associação Democrática Mato-grossense -, organização paramilitar de direita, versão do IBAD no estado, mantinham um insistente trabalho de provocação contra pessoas e propriedades. O jornal “O Democrata”, por exemplo, foi invadido por eles, armados de metralhadora, aos gritos, quebrando tudo que viam pela frente. As máquinas e outros equipamentos foram jogados no córrego da Rua Maracaju.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de Campo Grande foi ocupado pelo exército e os sindicalistas que se encontravam nas suas dependências foram presos. O ex-presidente desse Sindicato, Ezequiel Ferreira, ficou encarcerado durante 120 dias. Sua filha, Evanize Barros, historiadora, conta que “esse período foi de profundo sofrimento para sua família que foi obrigada a conviver com intimidações de toda ordem perpetradas pelos adversários políticos do seu pai”.

Harrison Figueiredo, advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Dourados e oito camponeses foram presos e espancados. No caso deles, a prisão foi feita por civis em nome da “revolução”, segundo alguns depoimentos.

Lembra o ex-deputado federal Valter Pereira, atual secretário-geral do PMDB do MS:

“Quando os militares queriam comemorar algum fato ou mostrar serviço para seu superior ou para um dirigente civil importante, promoviam o que ficou conhecido regionalmente como a “gincana”, temporada de caça, isto é, selecionavam algumas pessoas e prendiam sem que houvesse qualquer motivo”.

O cidadão entrava e saía da cadeia sem saber a causa da sua prisão. Numa dessas “gincanas”, em Junho de 1965, foram presos os advogados Cleómenes Nunes, Juvêncio da Fonseca, João Pereira da Silva e o sindicalista Amaro da Costa Lima. 2

Com a consolidação do golpe, os militares colocaram para responder interinamente pela Presidência da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazilli. Porém, o poder de fato, era exercido por eles.

Só em 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu indiretamente o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, Presidente da República do Brasil. O novo presidente tinha fama de legalista e jurava que os civis voltariam ao poder em 1965, por ocasião das eleições gerais que estavam marcadas para aquele ano, mas a promessa não se realizou. Por isso mesmo, um movimento oposicionista passou exigir o retorno da democracia.

Mesmo os militares tendo, à sua disposição, um arsenal jurídico e militar que permitia manter a oposição sobre pressão, não conseguiam evitar protestos contra o governo, principalmente contra a política econômica que se ancorava numa violenta contração econômica, casada com repressão política e inflação. Essa política gerou insatisfação social e contribuiu para que a oposição mantivesse ganhos expressivos nas eleições de 1965.

Os militares foram derrotados em São Paulo, na capital, por Faria Lima, apoiado por Jânio Quadros. Depois, ainda em 1965, na eleição solteira que se realizou para governador, o PSD, liderado por Juscelino Kubitschek, elegeu cinco governadores, inclusive Israel Pinheiro em Minas Gerais e Negrão de Lima no Rio de Janeiro (Couto, 1999, p.69).

A derrota da ditadura nas eleições de 1965, aliada ao crescimento da oposição, serviu de pretexto para o endurecimento do regime autoritário. Como resultado, em outubro de 1965, foi editado o famigerado AI-2 que, entre outras coisas, aumentou o poder do executivo impondo novas leis de exceção e extinguiu o pluripartidarismo criando apenas dois partidos políticos: a ARENA e o MDB.

Em 27 de outubro de 1965, por força de ato institucional, foi criado o MDB Movimento Democrático Brasileiro -, com a missão, segundo os estrategistas do golpe, de ser uma espécie de “oposição autorizada”. No outro lado, para dar sustentação ao Governo, foi criada a ARENA - Aliança Renovadora

3

Nacional. Até 1979, quando aconteceu a reformulação partidária, eram esses os partidos legais que havia no Brasil.

4

2) A GÊNESE DO PMDB

Entre outubro de 1965 e março de 1966, várias lideranças políticas e populares, contrárias ao regime militar, desenvolveram articulações em todo Brasil, objetivando construir as bases para formar o MDB. Entre elas destacam-se Ulysses Guimarães, Oscar Passos, Tancredo Neves, Osvaldo Lima Filho, Franco Montoro, Pedro Ludovico, Argemiro de Figueiredo, Ivete Vargas, Ruy Carneiro, Freitas Nobre, Pedro Simon, Evilácio Vieira, Alceu Colares, Thales Ramalho, Camilo Nogueira da Gama, Wilson Martins, Bezerra Neto, entre outros que, anonimamente ou não, contribuíram para organizar e divulgar os princípios do PMDB.

Embora a ditadura tenha criado o MDB em outubro de 1965, a fundação, de fato, só aconteceu em 24 de março de 1966, no antigo Estado da Guanabara, quando vários dirigentes nacionais se deslocaram para aquela cidade e providenciaram o registro no Tribunal Superior Eleitoral, da primeira comissão provisória do partido, tendo como Presidente o senador do Acre, Oscar Passos e como vice-presidente, o deputado Ulysses Guimarães, de São Paulo.

A primeira convenção nacional do MDB foi realizada em 06 de agosto de 1966, no Palácio Tiradentes, no Estado da Guanabara, com a presença de 146 deputados e senadores e 35 delegados das comissões eleitorais regionais, com o objetivo de deliberar sobre a posição do partido acerca das eleições de 1966 e sobre a escolha do Presidente e do Vice-presidente da República.

A posição dos convencionais do partido, nesse evento, desapontou os intelectuais da ditadura que torciam pelo MDB, em função de pressão e algumas benesses. Felizmente para a democracia, não foi o que aconteceu. A decisão, por unanimidade, assegurou que o papel do MDB era consolidar uma postura oposicionista no Brasil com missão de devolver ao povo o estado de direito pleno, a democracia e a esperança. Em linhas gerais, foram essas as principais deliberações do referido congresso:

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“1º Não participar das eleições indiretas no âmbito nacional, recomendando o mesmo comportamento político no plano regional, e denunciar tais pleitos como desrespeito à vontade popular; 2º Participar das eleições diretas marcadas para novembro próximo, exigindo garantias efetivas para sua realização; 3º Reafirmar sua linha de ação política em defesa das liberdades democráticas e dos direitos fundamentais da pessoa humana; 4º Aprovar o manifesto à Nação, no qual se faz a análise da situação política e se consubstanciam os pontos de vista do MDB sobre os diversos aspectos da conjuntura brasileira”

O PMDB em Mato Grosso

Em Mato Grosso, o MDB começou a se formar nos primeiros dias de abril de 1966, em Campo Grande, como parte da estratégia adotada pela direção nacional que recomendou aos militantes que formassem o partido em todos os municípios e disputassem as eleições. Essa era a forma para o partido se tornar conhecido e conquistar representação parlamentar.

O MDB começou no Estado pelas mãos de dois importantes políticos: Vicente Bezerra Neto e Wilson Barbosa Martins. Bezerra Neto era corumbaense, advogado e iniciou sua vida política no PSD. Depois, na eleição de 1947, filiou-se ao PCB para disputar uma vaga de Deputado Estadual. Mais tarde, no final década de 1940, ajudou a construir o PTB, tornando-se liderança dessa agremiação.

Wilson Barbosa Martins é natural de Rio Brilhante, porém, adotou como domicílio eleitoral e profissional a cidade de Campo Grande, onde se tornou Prefeito, Deputado Federal, Governador do Estado por dois mandatos e Senador da República. Wilson Martins começou sua vida política na UDN, em 1947.

As primeiras reuniões para formar o MDB começaram em fevereiro de 1966, em Campo Grande, de forma discreta, como relata Wilson Martins:

“Fazíamos reuniões pequenas para sondar o terreno, para ver como estava o ânimo do pessoal. Nessa época, tínhamos muito cuidado para não expor 6

as pessoas à sanha dos nossos adversários, porque, freqüentemente, nossa casa era vigiada por olheiros da ADEMAT.. Eles queriam saber quem entrava e saía da minha casa”.

A perseguição aos quadros do MDB era algo muito habitual. Plínio Rocha conta, com certa mágoa, que um dia, quando passava em frente à Associação dos Criadores de Campo Grande, onde funcionava a ADEMAT, um conhecido seu iniciou uma conversa muito esquisita. “Plínio Rocha, gostamos muito de você. Queremos que você venha para cá, para nossa organização, porque Wilson Martins está fazendo muita besteira na oposição e não sabemos o que vai acontecer com ele”. “Eu respondi para ele que o meu lugar era com Wilson Martins.”

O advogado Estácio Eudociak, também fundador do MDB de Campo Grande, vereador eleito no pleito de 1966, relata que algumas reuniões do partido foram realizadas numa casa na Avenida Mato Grosso, ainda em construção, de propriedade de Artur D’Avila.

“A escolha dessa casa,

discreta, sem muito conforto era uma forma de despistar o pessoal da ADEMAT, que diariamente seguiam os passos dos principais dirigentes do MDB”.

A primeira reunião realizada no Estado para oficializar a criação do MDB, aconteceu no dia 23 de abril de 1966, um sábado, na sede da Associação dos Proprietários de Imóveis de Campo Grande. O jornal “Correio do Estado” de 25 de abril de 1966 informa que a direção dessa reunião ficou a cargo dos Deputados Wilson Martins e Edison de Brito Garcia, que informaram aos presentes sobre o esforço que as lideranças do partido estavam fazendo para organizar o MDB no Brasil e no Estado. Também tratou do calendário eleitoral e dos possíveis candidatos às eleições que ocorreriam naquele ano. No final da reunião, foi escolhida a executiva estadual do Partido, a qual foi formada por Bezerra Neto, Edson de Brito Garcia, Plínio Martins, Plínio Rocha, Artur D’Avila entre outros. A presidência da comissão ficou sob o comando de Wilson Martins.

Em função do tamanho do Estado e da deficiência de comunicação, na época, coube a Bezerra Neto a responsabilidade de organizar o partido na região Norte. Wilson Martins ficou com a região Sul. Essa não era uma 7

divisão formal. Tinha como objetivo racionalizar o trabalho político, pois era muito difícil fazer política na oposição e em um Estado carente de estradas.

O trabalho de conquista de novos filiados era algo difícil. A estratégia adotada pelo partido, na maioria das vezes, diante das dificuldades de comunicação, consistia em visitar uma região para tentar criar comissões provisórias nos principais municípios. Em algumas ocasiões, criava-se uma comissão e informava-se sobre os procedimentos básicos que deveriam ser adotados pelos novos dirigentes, mas, no retorno àquela cidade, às vezes na mesma viagem, as pessoas escolhidas para dirigir a agremiação tinham mudado de idéia. Não queriam mais militar no partido.

Há casos em que as pessoas se ausentavam da cidade com medo de represália. Os adversários espalhavam ameaças informando que quem se filiasse ao MDB poderia ser preso. Plínio Rocha conta um caso que retrata muito bem o receio de algumas pessoas de se filiarem ao partido.

“Eu e Wilson Martins fomos participar de uma reunião no município de Camapuã. Como íamos passar em Bandeirante, onde estávamos tentando criar o partido, resolvemos convidar uma professora, nossa amiga, para assumir a direção do MDB. (...) No dia combinado, fomos direto à casa dela, que já nos esperava, com algumas pessoas. Wilson fez uma explanação falando da importância do partido, do estatuto, das eleições e outras coisas. (...) Pegamos o nome de algumas pessoas e elegemos a comissão provisória ficando a professora como Presidente. Seguimos viagem para Camapuã. Na volta, resolvemos procurar a professora, mas, não a encontramos. Fomos informados por seus vizinhos que ela tinha viajado para Campo Grande, com medo de ser presa, pois foi ameaçada por um chefe político da ARENA.”

Wilson Martins conta muitas histórias sobre as dificuldades para formar o MDB em Mato Grosso:

“Eu saía com um livro na mão, procurando pessoas para se filiarem ao partido, mas era muito difícil alguém se manifestar favorável. A fiscalização era grande. Os “dedos-duros” caíam em cima do pessoal e não deixavam que as pessoas tivessem liberdade de pensamento e se filiassem ao partido. 8

Foi aos trancos e barrancos que montamos a nossa primeira comissão provisória”.

Cleómenes Nunes, Deputado Estadual na época, conta que, muitas vezes, quando estava fazendo política pelos municípios menores, “parava o carro nos postos de gasolina para abastecer, porém, quando as pessoas viam os adesivos do MDB, discretamente, saíam de perto do carro”.

Carlos Bezerra, ex-governador de Mato Grosso, lembra como ajudou a organizar o partido no Estado em plena ditadura militar.

“A dificuldade era muito grande. Era preciso ter coragem para enfrentar os desafios de ser oposição à ditadura militar. Havia comício nosso que tinha como platéia apenas a policia militar. Os políticos da ARENA mandavam a polícia nos intimidar, ficava um batalhão de soldados com a mão no cabo do revólver, para nos afrontar, mas, mesmo assim, fazíamos o comício, colocávamos nossa mensagem. (...) Outra coisa ruim era a distância: tínhamos que percorrer longos percursos no barro puro, comendo farinha com sardinha, pois era a comida que encontrávamos nos bolichos. Foi assim que nasceu e cresceu o nosso querido MDB”.

Sérgio Cruz, ex-deputado federal pelo MDB, conta um fato que aconteceu no início dos anos 70 e que indica o grau de dificuldade para se fazer política na oposição.

“Fui escalado para ajudar a montar a comissão provisória do MDB em Sidrolândia. Aprontei os papéis e rumei em direção àquele município que na época não tinha rodovia asfaltada. Reuni-me com o pessoal e passei as informações necessárias para que eles tocassem o partido. Dias depois fui informado de que a comissão não existia mais. (...) Voltei e montei outra comissão, mas, dias depois, também não existia mais. Fui a esse município 28 vezes para montar essa dita comissão provisória.”

Nessas condições era muito difícil fazer política, mas, como destaca Ulysses Guimarães, o “partido superou os obstáculos e se tornou a principal força de oposição aos militares. Tornou-se o porto seguro daqueles que queriam o retorno do estado de direito”. 9

O teste das urnas

Em maio de 1966, o MDB recebeu novas e importantes adesões. Aproximavam-se as eleições e algumas pessoas queriam disputar os cargos de Vereador, Prefeito, Vice-Prefeito, Deputado Estadual, Deputado Federal e Senador. No Sul de Mato Grosso o partido estava relativamente forte. O diferencial, inicialmente, era o prestígio político da família Barbosa Martins que carreava muitos votos para o partido. No caso concreto da eleição de Campo Grande, as chances do MDB ganhar eram imensas.

Arquivo do Jornal Correio do Estado

Ganhar a eleição em Campo Grande era fundamental para o novo partido. Todas as fichas foram jogadas em Campo Grande, não por ser só um pólo irradiador de idéias, mas, também, por ser nessa cidade onde as forças políticas ligadas à ditadura estavam mais organizadas e sedentas de vitória. Um ano antes, em 1965, Lúdio Coelho, chefe da UDN, tinha perdido as eleições para o PSD de Pedro Pedrossian, que se sagrou Governador do Estado. 10

O primeiro candidato do MDB a se lançar candidato a Prefeito de Campo Grande, em 1966, foi Artur D’Avila Filho, conceituado empresário na cidade. O jornal “Correio do Estado” de 14 de maio de 1966 anunciou, com certo destaque, a sua postulação. Dois dias depois, o mesmo jornal anunciou a candidatura do também empresário, Nelson Borges, a prefeito de Campo Grande pelo MDB. Nessa data, como de costume, Borges ofereceu um suculento churrasco aos moradores da Vila Bandeirante.

A disputa pela indicação dos pré-candidatos a prefeito de Campo Grande foi importante, pois serviu para oxigenar a estrutura do MDB que estava em início de formação. Nem a comissão provisória municipal existia. Artur D´Avila foi quem montou a primeira direção municipal do partido, em 27 de julho de 1966, numa reunião que se realizou em sua residência.

Arquivo do Jornal Correio do Estado

No início de junho de 1966, além de Nelson Borges e Artur D’Ávila Filho, surgiu o nome de Plínio Martins como pré-candidato do MDB a Prefeito de Campo Grande. Plínio Martins era irmão de Wilson Martins e possuía as credencias de ser um dos fundadores do partido.

11

Dos três candidatos, Plínio Martins era o mais forte eleitoralmente. Após muitas consultas, recheadas de algumas tensões, como toda disputa, o partido decidiu lançar uma chapa com dois candidatos a prefeito: Plínio Martins e Artur D’Ávila Filho. A legislação da época permitia o voto de sublegenda, ou seja, o partido podia lançar até três candidatos. Essa foi uma fórmula que a ARENA encontrou para resolver o problema das suas disputas internas.

Arquivo do Jornal Correio do Estado

A ARENA, nesse pleito, apresentou dois candidatos a Prefeito de Campo Grande: Levy Dias e Cândido Rondon. A eleição foi programada para 15 de novembro e ocorreu num clima de muita tensão. O advogado Plínio Martins foi o vitorioso. Ele teve 9.913 votos contra 6.488 do seu principal adversário, Levy Dias. Artur de D’Ávila obteve 2.348 votos. O vice do MDB foi o médico Hélio Mandetta.

O partido também conquistou uma forte bancada de vereadores, composta por Plínio Soares Rocha, Estácio Eudociak, Jéferson de Almeida e Levy Campanhã de Sousa. Nas demais cidades do sul de Mato Grosso, considerando

a

incipiente

estrutura,

o partido

apresentou razoável 12

performance. Elegeu 62 vereadores em 18 municípios e conquistou as prefeituras de Campo Grande com Plínio Martins; Rochedo com Altino Pereira Dias; Três lagoas com Michel Tomé e Guia Lopes da Laguna com Amyntas Mônaco.

Para a Assembléia Estadual, o partido elegeu Júlio de Castro, Carlos Medeiros, Américo Porfírio, Altair Brandão, Agapito Bueno e Walter de Castro. Para a Câmara Federal, elegeu os deputados Wilson Martins e José Feliciano.

No plano nacional, o MDB elegeu 132 Deputados Federais e 20 Senadores. A ARENA que detinha o poder de cassar mandatos, prender adversários, liberar verbas e promover outros favores, conquistou 57% do Senado e 64% dos deputados federais.

Em 1966, o nome do General Costa e Silva foi indicado para Presidente da República, permitindo, assim, que a “linha dura” incrustada nas forças armadas assumisse a hegemonia da política nacional. Com Costa e Silva, infelizmente, vieram novas formas de repressão política.

Castelo Branco cassou os direitos políticos de mais de 2.000 brasileiros, porém, diante do que aconteceu na seqüência, notadamente a partir de 1968, o estrago pode ser considerado modesto. Em 15 de março de 1967, Costa e Silva assumiu a Presidência da República escudado numa constituição encomendada por Castelo Branco, feita e aprovada em 44 dias, que concedia poderes ilimitados ao Executivo Federal.

O ano de 1967, levando-se em consideração a tensão gerada nos dois anos anteriores, foi relativamente tranqüilo para o Governo Federal. A oposição tinha sido derrotada nas urnas, os principais sindicatos estavam fechados ou sob intervenção, a economia começava a dar sinais de crescimento, e parte importante dos políticos mais combativos estava cassada. Na verdade, 1967 foi um ano em que o movimento popular acumulou força para as grandes movimentações de 1968.

Conjuntura política em Mato Grosso

13

Em Mato Grosso havia pouca novidade no campo político. Uma falsa calma estava no ar. A novidade era uma peleja entre a Assembléia Legislativa e o Governador Pedro Pedrossian. Um grupo de Deputados, inclusive com participação de três do MDB, liderado por Cleómenes Nunes, decidiu, em agosto, abrir um processo de cassação contra o governador Pedro Pedrossian. Alegavam os deputados que o Governador tinha cometido improbidade administrativa ao doar alguns bens públicos a terceiros na época em que ele era diretor da Ferrovia Noroeste do Brasil. Essa rusga, na verdade, tratava-se de ressentimentos da velha UDN que, a todo custo, queria sacar Pedro Pedrossian do Governo. Não tinham se esquecido da derrota de 1965.

Após muita pressão, o Governador resolveu solicitar seu afastamento do Executivo Estadual até que as acusações fossem investigadas, porém, relata Cleómenes Nunes, “na hora que o Governador redigia a carta, no Palácio, entrou em sua sala o senador do MDB, Bezerra Neto, e o convenceu a não assinar o pedido de afastamento”. De acordo com Cleómenes Nunes, se “Pedro Pedrossian tivesse solicitado afastamento, dificilmente voltaria ao cargo”. Soube-se depois que o senador Filinto Muller, padrinho político de Pedrossian, intercedeu junto ao líder da ARENA Daniel Krieger para evitar que Pedrossian fosse cassado (Martins, 1980, p.289).

Numa situação menos conturbada estava o Prefeito de Campo Grande, Plínio

Martins,

que

fazia

uma

administração

marcada

por

êxitos

reconhecidos: construiu escola na periferia; criou o plano diretor da cidade; planejou e apoiou a construção da rodoviária e da estação de captação de água guariroba; melhorou o salário dos funcionários. Enfim, dirigiu a cidade com responsabilidade e dignidade.

Aliás, o quesito honestidade é o que os parceiros e adversários mais destacavam no perfil de Plínio Martins. O advogado Carmelino Resende, dirigente do antigo PCB, define Plínio “como um homem com cara e com prática de honesto”. O ex-deputado Federal Antônio Carlos de Oliveira diz que “Plínio Martins era o político que não gostava de ser político, pois nunca lutava para ser candidato. Ia sempre para o sacrifício quando o partido precisava”. O deputado federal Nelson Trad diz que “Plínio Martins era o mais puro de todos nós”. 14

A vida de Plínio foi sempre ao lado da democracia e da justiça social. Em 1973, por exemplo, lutou sozinho pela absolvição do padre francês François Jacques Jentel que, injustamente, foi acusado de crime contra a segurança nacional, pelo fato de defender as comunidades indígenas de Barra do Garça, Goiás, que estavam sendo espoliadas pela empresa CODEARA. Nessa oportunidade Plínio Martins era juiz castrense e votou pela absolvição do Padre contra os demais pares (Série Campo Grande, 2003, p.69/73).

Anos de chumbo

Em 1968, o quadro político mudou em todo Brasil. O ano começou com os estudantes

europeus

liderando

fortes

protestos

em

vários

países,

especialmente na França. No Brasil, desde 1967, ainda timidamente, surgiam greves e passeatas pelas ruas das principais capitais. Os estudantes protestavam contra a ditadura, exigiam melhores condições de ensino e mais vagas nas universidades.

No rastro desses movimentos, um grupo de estudantes da Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso, liderado pelo acadêmico de direito Juarez Marques, decidiu organizar um protesto em Campo Grande contra a falta de Universidade Pública no Sul do Estado. Juarez Marques buscou apoio do prefeito Plínio Martins e do deputado federal Wilson Martins.

A idéia era fazer algo voltado apenas para a causa estudantil, contudo, aos poucos, a coisa foi encorpando e ganhou uma dimensão política muito acima do esperado, com a participação de alguns quadros do MDB que se juntaram à comissão organizadora.

Numa tarde do mês de julho de 1968, de acordo com Juarez Marques, mais de 10 mil pessoas saíram às ruas de Campo Grande com cartazes e faixas solicitando

a

instalação

de

uma

universidade

na

cidade,

porém,

inadvertidamente, alguns protestavam contra a ditadura militar.

Os líderes da passeata, alertados, tiveram o cuidado de conferir cada faixa e cada cartaz para evitar problemas com a repressão, mas para surpresa geral, logo após a passeata, quando Juarez Marques já estava em sua 15

residência, uma patrulha do exército chegou e o “convidou” a se dirigir até o comando do exército.

O oficial de plantão, aos gritos, queria saber quem era o responsável por duas faixas, com as frases: “viva Cuba” e “viva China” que apareceram na passeata. Juarez explicou que não sabia e que tinha tido o cuidado de não misturar o ato estudantil com uma ação política propriamente dita, porém, seus sinceros argumentos não convenceram os militares e ele teve que “dormir” na cadeia.

Passados alguns dias, os estudantes ficaram sabendo que as duas faixas foram colocadas e fotografadas na passeata pelos próprios militares, ou seja, um ato comum de manobra, com o intuito de desmoralizar qualquer movimentação popular, anexando às “palavras de ordem” comunistas. A famosa passeata de 1968 em Campo Grande teve uma importância relativa para a história do MDB de Mato Grosso. Vários estudantes entusiasmados com a repercussão do evento procuraram o partido para se filiar. Juarez Marques tornou-se presidente do MDB de Campo Grande, assim como outros assumiram cargos de direção no partido.

Nesse ano ainda, os trabalhadores encontraram meios para criticar a política econômica do governo por meio de greves e outras lutas. Alguns partidos políticos, também com atividade clandestina, começaram a organizar focos guerrilheiros em vários pontos do país, deflagrando uma luta que resultou na morte e desaparecimento de muitos brasileiros. Com o crescimento da oposição, os militares endureciam e respondiam com mais repressão. A morte do estudante Edson Luis, no Rio de Janeiro, foi um exemplo simbólico da luta contra a ditadura militar, com repercussões internacionais.

Em agosto de 1968, a situação ficou mais tensa. O deputado do MDB da Guanabara, Márcio Moreira Alves, fez um duro pronunciamento no Congresso Nacional, denunciando a invasão por forças militares de uma universidade e a prisão e espancamento de alguns estudantes. O discurso foi considerado ofensivo às forças armadas, por isso o Governo solicitou autorização da Câmara Federal para cassar o mandato parlamentar do citado deputado. A Câmara, corretamente, negou a referida autorização, e,

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em função disso, como pretexto, a ditadura fechou, no dia 13 de dezembro, o Congresso Nacional.

Na seqüência, a ditadura decretou o terrível Ato Institucional número 5 (AI-5), mecanismo que pela sua ação nefasta tornou-se o símbolo do governo militar, a insígnia da repressão e do arbítrio. O AI-5 foi usado para cassar e intimidar os políticos de oposição em todo país. Por todo Brasil, principalmente a partir de 1969, centenas de pessoas tiveram seus direitos políticos cassados ou foram proscritos das suas atividades públicas. Nas universidades imperava o medo e a delação.

Os homens da ditadura procuravam meios para criar novas dificuldades ao MDB. O método mais usado, embora não fosse o único, era cassar uma liderança importante do partido. Não necessitava de culpa formal, bastava aplicar o AI-5. Foi com ele que, em 10 de fevereiro de 1969, a ditadura cassou uma das principais lideranças do MDB de Mato Grosso, Wilson Martins. Eis o seu relato:

“Eu fui cassado pelo ato institucional número 5. Não havia formação de culpa, mérito, nada que pudesse me condenar. Tudo foi feito pela vontade dos militares. Quem autorizou minha cassação foi o presidente Costa e Silva. (...) O povo da velha UDN é que pediu. Fiquei sem poder dar aula na universidade e fazer política que eram duas coisas que eu gostava muito. (...) Ficava no meu escritório, advogando, assim mesmo de vez em quando, eles me levavam preso. Eu acho que era para amedrontar os companheiros que com dificuldade continuavam a luta do MDB.”

A cassação dos direitos políticos de Wilson Martins representou um prejuízo enorme para o partido. Os quadros mais recalcitrantes ficaram com medo de serem os próximos cassados ou presos. Para dificultar ainda mais a situação, o ano de 1969 era eleitoral. Tinha o pleito municipal. Como fazer uma campanha sem a participação da sua principal liderança? Essa dúvida tomou o partido de assalto.

O MDB tinha tido relativo êxito na eleição de 1966, porém a situação em 1969 era outra. A ARENA estava mais organizada e, na opinião de muitos, mais raivosa. Tanto que bem antes da eleição, começou a circular uma 17

conversa maquinada no laboratório da velha UDN, a qual provocou a sensação de que, mesmo que o MDB ganhasse, o eleito não tomaria posse. O governo Federal usaria o AI-5 para cassar o prefeito eleito como fez com Wilson Martins.

O MDB apresentou três candidatos a Prefeito de Campo Grande: Cleómenes Nunes, advogado, professor universitário e deputado estadual; Nelson Borges que era comerciante e tinha bom trânsito na área empresarial, e o coronel da reserva da aeronáutica, Adone Sotovia Collaço. A ARENA apresentou dois candidatos: o advogado Antônio Mendes Canale e o pecuarista Italívio Coelho.

Nelson Borges. Arquivo do Jornal Diário da Serra

A eleição aconteceu em 15 de novembro. O resultado do pleito foi desfavorável tanto em Campo Grande quanto nos outros municípios onde o MDB tinha perspectiva de ganhar. O candidato da ARENA, Antonio Mendes Canale, conquistou 10.850 votos e foi vitorioso. Cleómenes Nunes conquistou 3.768. Nelson Borges, 2.135 e coronel Adone Colaço Sotovia, 611. O MDB elegeu dois vereadores: Antônio Carlos de Oliveira e Walter de Castro. 18

Arquivo do Jornal Diário da Serra

O MDB, em 1969, ganhou quatro prefeituras: Pedro Gomes com Onilton de Mello; Aparecida do Taboado com Sebastião Freitas; Glória de Dourados com Roberto do Nascimento e Bataguassu com Ênio Martins (irmão de Wilson Martins). Elegeu, também, 32 vereadores distribuídos em 13 municípios.

Novos desafios

Em 1969, a ditadura nomeou para Presidente da República o General Emílio Garrastazu Médici, em substituição ao Costa e Silva, que por motivo de saúde ficara impossibilitado de governar o país. Antes da posse de Médici, foi criada uma junta militar composta por três membros para administrar o Brasil, enquanto o presidente convalescia. Esse triunvirato foi chamado por Ulysses Guimarães, adequadamente, de “os três patetas”, em face das trapalhadas que fizeram nos meses em que ocuparam o Palácio da Alvorada. 19

O novo Presidente, a exemplo dos seus colegas, deu continuidade à política traçada pelos militares, ou seja, continuou e ampliou a política de repressão às oposições e aprofundou a política econômica do regime que ganhou a denominação de milagre brasileiro, o que lhe rendeu popularidade. O MDB teve muita dificuldade na eleição de 1970.

O MDB de Mato Grosso promoveu algumas mudanças objetivando enfrentar os novos desafios advindos com a eleição de 1970. O senador Bezerra Neto assumiu o diretório regional do partido em substituição a Wilson Martins que fora cassado. O diretório de Campo Grande, por sua vez, voltou para as mãos do advogado Juarez Marques, tendo como vice o empresário Alarico Reis D’Ávila. Essa dupla dirigiu o partido em Campo Grande por muitos anos.

Em abril, timidamente, começaram as consultas para ver quais os nomes que o partido apresentaria para as eleições proporcionais desse ano. Plínio Martins, que vinha de uma destacada administração em Campo Grande, embora não tivesse feito seu sucessor, surgiu como principal nome para o Senado. Outra opção era Bezerra Neto, que completava seu período de oito anos no Senado. O partido, por unanimidade, resolveu lançar Plínio Martins como candidato ao Senado.

A idéia era concentrar os votos em um só candidato, pois os adversários vinham com uma chapa muito forte para o Senado, formada pela dupla Filinto Muller e Rachid Saldanha Derzi.

Para a Câmara Federal, com alguma possibilidade de vitória, o MDB lançou o médico Walter de Castro, Ranulfo Marques, Aguilar Vieira e Juarez Pinto. Eram políticos conhecidos e poderiam conquistar uma ou duas vagas. Para a Assembléia Legislativa, o partido apresentou 12 nomes.

As eleições ocorreram num clima de muita disputa. Não faltaram acusações de compra de votos e de alteração dos mapas por parte do partido oficial. O advogado do MDB, Juarez Marques, comprovou na justiça eleitoral que parte importante dos votos da ARENA, em alguns municípios, tinha sido produto de alteração de mapas. Evidenciou também que várias pessoas haviam 20

votado em nome de falecidos. No geral, a justiça eleitoral não tomou providências para apurar os fatos. A despeito dos fortes indícios de fraude, o partido não conseguiu evitar a posse dos beneficiados dos abusos.

O resultado do pleito para o Senado em Mato Grosso foi o seguinte: Plínio Martins 80.451 votos, Rachid Saldanha Derzi 146.257 votos e Filinto Muller 170.365 votos. Para a Câmara Federal, o MDB não elegeu nenhum representante. Para a Assembléia Legislativa, foram eleitos Cleómenes Nunes e Cecílio Jesus Gaeta.

Naquela eleição para o Congresso Nacional, o MDB elegeu 87 deputados federais e 13 senadores, ou seja, perdeu 38 cadeiras na Câmara e 7 no Senado. Dos 22 governadores eleitos indiretamente, só um era do MDB, Chagas Freitas, governador da Guanabara.

A derrota provocou uma profunda crise no partido. Não foram poucas as pessoas da direção que defenderam a auto-dissolução do MDB. Estava muito difícil enfrentar a popularidade do governo, o bom desempenho da economia e a ação implacável da censura.

Em decorrência da tensão interna do partido, surgiram duas tendências políticas que passaram a disputar a hegemonia do MDB: os moderados, liderado por Tancredo Neves, e os autênticos, liderados por Alencar Furtado e Paes de Andrade. A primeira defendia o diálogo com a ditadura e votava com o Governo em determinados projetos. A segunda, mais radical, advogava oposição pura e simples ao Governo Militar que, por sua vez, respondia com a cassação de mandatos dos autênticos, como fez com o Deputado Federal Alencar Furtado, um dos quadros mais combativos da história do partido.

Em 1971 morreu o presidente do PMDB Oscar Passos. Em seu lugar assumiu Ulysses Guimarães. Em 1972, produto da luta interna, surgiram duas chapas para disputar a presidência do partido, sendo uma encabeçada por Ulysses Guimarães e outra pelo deputado federal Josafhat Marinho. Ulysses Guimarães foi o vencedor.

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Com Ulysses na presidência, o partido ganhou novo ânimo num novo cenário político. A crise do petróleo de 1973 mudou o percurso da história em todo o mundo. No Brasil não poderia ser diferente. O período do “milagre” havia passado, a popularidade dos militares governantes começa a ser abalada, as guerrilhas urbana e rural haviam sido praticamente desmontadas pelos organismos de repressão, de modo que estavam dadas as condições para ampliação da luta democrática, a fim de romper os grilhões da ditadura. O quadro que dessa realidade se abstraía era, ainda que persistissem abusos (os casos Vladimir Herzog e Fiel Filho são bons exemplos), de reestruturação política do país. O MDB passou a ser, naturalmente, o centro da resistência democrática.

Em Mato Grosso, o partido iniciou o ano de 1972 completamente desorganizado e sem candidatos para concorrer às eleições seguintes para prefeito de Campo Grande e na maioria dos municípios. Plínio Martins, possuidor das melhores condições para disputar o pleito, não aceitou o desafio.

Reunião do MDB. No destaque Valter Pereira, Adoni Sotovia e Nelly Bacha. Arquivo do Jornal Diário da Serra

Sem alternativa, num momento em que os nomes históricos do partido estavam fora de combate, lideranças emergentes como o vereador Valter Pereira, a vereadora Nelly Bacha, o advogado João Pereira, o deputado estadual Antônio Carlos de Oliveira, o jornalista Sérgio Cruz, o também advogado Carmelino Resende, o engenheiro Fausto Mato Grosso, entre

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outros, passaram a dirigir, com o apoio da velha guarda, a nova política do MDB.

O resultado dessa reorganização foi a construção de um discurso e de uma prática política mais combativos. O MDB começou a mostrar para a população algumas caras novas ancoradas em discursos duros e competentes contra a ditadura e seus representantes no Estado. Isso não quer dizer que o discurso das antigas lideranças fosse menos combativo. A questão naquele momento é que existia uma nova conjuntura que exigia o novo, um discurso diferente, preciso, crítico e radical do ponto de vista político.

Essa renovação, a princípio, contou com o apoio do PCB na clandestinidade, que nesse ano orientou Carmelino Resende, Euclides de Oliveira, Onofre da Costa Lima, Fausto Mato Grosso e outros, a se filiarem ao MDB. A idéia do PCB, de acordo com Carmelino Resende, “era que todos os militantes entrassem no MDB e colaborassem na sua organização. O MDB era um instrumento importante de luta para derrubarmos a ditadura”.

A nova formação do MDB em Mato Grosso era algo muito parecido com o que estava acontecendo com o partido em todo o Brasil. Ulysses Guimarães e outros militantes mais experimentados, como Pedro Simon, Tales Ramalho, Barbosa Lima Sobrinho, Mário Covas, Franco Montoro e Osvaldo Lima Filho, percorriam o Brasil de norte a sul, denunciando a ditadura e organizando o partido. Esse trabalho se refletia no Estado.

O sonho de mudar o Brasil e derrubar a ditadura foi o combustível que empurrou o MDB nas eleições de 1972. O partido não apresentou candidato a Prefeito em Campo Grande e em outras cidades do Mato Grosso, porém, fruto de um grande esforço, sustentou uma votação expressiva para vereadores. Nelly Bacha, vereadora eleita nesse pleito, lembra as dificuldades para montar a chapa de vereador.

“Foi uma eleição difícil. Nós não conseguimos preencher nem o número de vagas disponíveis para vereador. Não tivemos nem candidato a prefeito, porque Plínio Martins estava doente e Wilson Martins cassado. Mas, assim, saímos de peito aberto para conquistar a democracia para o Brasil. 23

Elegemos quatro vereadores: Valter Pereira, Walter de Castro, Henrique Pires Freitas e eu.”

Arquivo do Jornal Diário da Serra

A ARENA, por sua vez, lançou o coronel do Exército Hércules Maimone, o empresário David Balaniuc e o advogado Levy Dias para disputarem a Prefeitura de Campo Grande. O eleito foi Levy Dias.

Na oportunidade, o MDB ganhou apenas a prefeitura de Guia Lopes da Laguna com Ranulfo Pereira da Silva. No plano nacional, o partido só conseguiu eleger 12% dos prefeitos. Essa eleição, principalmente nas grandes e médias cidades, onde a população apresentava maior grau de informação, teve importância muito significativa para a grande vitória eleitoral do pleito seguinte. A nova linguagem apresentada pelo partido, centrada em denúncias reais da ditadura e na defesa das liberdades democráticas, surtiu efeito muito positivo junto ao eleitor que queria escolher seus candidatos livremente.

Por outro lado, os quatro vereadores eleitos em Campo Grande, pela capacidade de combate e trabalho, converteram seus mandatos em postos avançados da luta do MDB por justiça social e democracia. Assim, de forma mais organizada, em parceria com os movimentos populares, eles foram decisivos para a sobrevivência do partido.

Ao longo da década de setenta, o MDB concentrou sua atuação na esfera legislativa. Eleições após eleições, o partido conquistava um bom número de vereadores, deputados estaduais e federais. A tarefa desses parlamentares, 24

entre outras, era fustigar a ditadura com o objetivo de enfraquecê-la e cooptar para o MDB aquelas lideranças políticas desencantadas com a ARENA.

Fausto Mato Grosso, que fez parte da direção do partido em 1972, comenta a nova linha adotada pelo MDB para conquistar o estado de direito.

“Fomos buscar intelectuais, estudantes, sindicalistas, pessoas que queriam fazer política, que estavam descontentes com o regime. A idéia era ter muitos companheiros de viagem, mesmo que não fossem companheiros de destino. Foi essa a estratégia, de tirar de lá e botar cá, que permitiu várias vitórias do MDB na década de 1980”.

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3) NAVEGAR É PRECISO

1973 foi um ano de muita “costura” política tanto para o Governo como para a oposição. O general do Exército Garastazul Médici, embora não fosse do grupo político liderado pelos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, encetou um conjunto de articulações políticas objetivando indicar Ernesto Geisel como seu sucessor na Presidência da República.

Essa decisão, a grosso modo, mostrou que a “linha dura” do exército estava com dificuldades para prosseguir no comando do governo. Notam-se sintomas de isolamento dessa facção no núcleo de poder das forças armadas. Em outras condições, esses radicais não permitiriam que um militar com o perfil de Ernesto Geisel, assumisse a Presidência do país.

A Eleição de Geisel tinha que ser aprovada por um Colégio Eleitoral formado por senadores, deputados federais e delegados das Assembléias Estaduais. Esse fato facultava a possibilidade de outros candidatos disputarem o cargo, ainda que com chance muito reduzida, em face do controle que os militares exerciam sobre os votos desse colegiado. Mesmo sabendo que as possibilidades de êxito eram mínimas, o MDB indicou Ulysses Guimarães para disputar a Presidência do Brasil. Na verdade, era o anticandidato.

Ulysses Guimarães e o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, candidato a vice, viajaram o Brasil inteiro fazendo campanha com o objetivo ideológico e de sensibilização pública. Em cada cidade, em cada lugar, com as condições que tinham, falavam das razões que motivavam o MDB a disputar a eleição de Presidente. Com a firmeza, que sempre caracterizou esses personagens, denunciavam os abusos contra as instituições democráticas e os desmandos econômicos e sociais que a ditadura vinha cometendo contra a Nação. Ulysses Guimarães se apresentava como o “anticandidato para denunciar a anti-eleição imposta pela anticonstituição” (Couto, 1999, p. 125). Em 22 de setembro de 1973, no Congresso Nacional, o MDB promoveu o lançamento das candidaturas de Ulysses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho à Presidência do Brasil. Na oportunidade, disse Ulysses, inspirado em Fernando Pessoa:

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“(...) posto hoje no alto da gávea, espero em Deus que em breve possa gritar ao povo brasileiro: alvíssaras, meu capitão. Terra à vista. Sem sombra, medo e pesadelo, à vista a terra limpa e abençoada da liberdade. Navegar é preciso. Viver não é preciso” (Guimarães, 1978, p.47).

Em 15 de janeiro de 1974, a eleição foi realizada. A chapa liderada por Ernesto Geisel obteve 400 votos no colégio eleitoral e Ulysses Guimarães conquistou 76 votos. Na oportunidade, Ulysses fez um novo discurso lavrado nos seguintes termos:

“(...) o Movimento Democrático Brasileiro sairá deste recinto nem vencido nem muito menos convencido, pois haverá esperança para a liberdade enquanto restar um homem sobre a face da terra e a democracia é o povo, e o povo, sendo eterno, é indestrutível” (Guimarães, 1978, p.55).

A derrota no colégio eleitoral já era esperada. O mais importante foi o uso da televisão e do rádio para levar a mensagem do partido a todas as regiões do país. Esse objetivo foi alcançado.

Em abril de 1974, o MDB iniciou os contatos para escolher os candidatos ao Senado, deputado federal e estadual. Apesar de o partido ter recebido várias adesões, estava difícil montar uma chapa competitiva. O ex-deputado federal Valter Pereira conta como foi organizada a chapa nesse ano:

“Nessa eleição tínhamos que capturar candidatos “a laço”. Ninguém queria ser candidato. Aí surgiu a idéia de que todos os vereadores do Estado disputassem uma vaga nessa eleição. Isso ajudava a somar votos. Não foi possível encorajar a todos, mas um número considerável de companheiros garantiram a nossa legenda”.

Para o Senado o MDB apresentou o nome de Bezerra Neto. A chapa de deputado federal foi composta por 8 candidatos e 17 para Deputado Estadual. No dia 24 de Agosto de 1974, de acordo com o Jornal “Diário da Serra”, a convenção foi realizada em Cuiabá com a presença de muitos militantes e candidatos.

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Da esquerda para a direita: Bezerra Neto, Juarez Marques Batista e Plínio Martins. Arquivo do Jornal Diário da Serra.

A eleição se realizou em 15 de novembro. Mais uma vez a ARENA ganhou, no entanto, o MDB que voltou a crescer desde 1972 conseguiu eleger dois Deputados Federais: Antônio Carlos de Oliveira e Walter de Castro.

Arquivo do Jornal

Arquivo do Jornal

Diário da Serra

Diário da Serra

Elegeu, também, 6 Deputados Estaduais: Valter Pereira, Cleómenes Nunes, Cecílio de Jesus Gaeta, Sérgio Cruz, Carlos Bezerra e Henrique Freitas. 28

O candidato ao Senado, Bezerra Neto, em que pese ter tido uma excelente votação em Campo Grande, perdeu a eleição para Antônio Mendes Canale que obteve 187.605 votos, incluindo os votos de sublegenda. Bezerra Neto obteve 153.064 votos.

O partido, em termos nacionais, experimentou nessa eleição acelerado crescimento. Conseguiu conquistar 20 vagas no Senado e 165 na Câmara Federal.

Em seis Estados da Federação, a oposição fez maioria na

Assembléia Legislativa: São Paulo, Rio de janeiro, Paraná Acre e Amazonas. O prejuízo não foi maior para a ARENA porque os governos dos Estados e dos municípios, considerados de Segurança Nacional, eram indicados pelo Governo Federal.

Um fato importante nesse ano, foi a declaração de voto feita pelo Deputado Estadual Cleómenes Nunes no dia 3 de outubro de 1974, por ocasião da eleição indireta de Garcia Neto ao Governo do Estado. Cleómenes Nunes, líder do MDB na Assembléia Legislativa, negou-se a homologar o nome do governador e, corajosamente, fez um voto em separado lavrado nos seguintes termos:

“Recuso-me a votar por entender que não pode ser chamada de eleição um ato simplesmente homologatório como este que em nada favorece o fortalecimento das instituições democráticas além de atentar, frontalmente, contra a vocação política do nosso povo, em nome simples e unicamente de um “consenso” que sequer soube ser definido por quem inventou’. Em outra parte ele fala: “Devolvo esse voto em homenagem ao povo da minha terra que, se já era obrigado a calar, agora também está obrigado a não ouvir e a não saber, por força da censura imposta aos meios de comunicação. Devolvo esse voto, finalmente, em homenagem àqueles que não hesitaram em dar inclusive a própria vida em favor da democracia, da independência e da liberdade de nossa pátria”.

A eleição de 1976

Entre 1974 e 1976, a ditadura militar continuou perdendo apoio tanto interno como externo. Era cada vez maior o número de vozes que se levantavam 1

para denunciar os crimes políticos e pedir o retorno ao estado de direito. A derrota política de 1974 e a crise econômica que se iniciou em 1973, continuaram se ampliando como um rastilho de pólvora nos anos seguintes, colocando a ditadura “em xeque”.

Aferrado ao conceito de abertura lenta e gradual, Ernesto Geisel respondia ao crescimento do MDB, ora com medidas que apontavam para a redemocratização, ora com medidas repressivas: com cassações de mandatos, como fez com os deputados Francisco Pinto, Lysâneas Maciel, Marcelo Gato, Nelson Fabiano Sobrinho, Nadyr Rosseti, Amaury Muller, Júlio Leonel e outros (Couto, 1999, p.194).

Além da ação repressiva do aparelho formal do Estado, havia os grupos paramilitares que agiam dentro do aparelho de estado, para fazer o “trabalho sujo”, aquele que tinha como missão trabalhar fora da lei, matar, seqüestrar, torturar, intimidar, sem ter que dar qualquer informação ao judiciário. Os paramilitares, em muitos casos, prendiam, julgavam e matavam os adversários como fizeram com dezenas de vítimas.

O livro, Brasil Nunca Mais, 1983, p. 68, informa que, ao final do governo Geisel, aproximadamente 10 mil pessoas tinham sido exiladas, 4.682 cassadas e 245 estudantes foram expulsos das universidades por força do decreto 477. O número de mortos e desaparecidos passou da casa das três centenas. O referido livro relata ainda, com detalhes, como agiam os grupos paramilitares e quais as técnicas usadas para torturar os prisioneiros.

As mortes do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975 e a do operário Manoel Fiel Filho, em janeiro de 1976, dentro do DOI-CODI de São Paulo, com certeza, foram produtos do trabalho sujo feito pelos grupos radicais dentro do próprio governo e do aparato de segurança que tinham como missão desaparecer com eventuais opositores do regime.

As denúncias da oposição e outros segmentos organizados da sociedade repercutiram no mundo todo. Isso levou o regime a agir. Geisel demitiu o general Ednardo D’Ávila Melo, comandante do II exército, sediado em São Paulo, e outros militares envolvidos com a repressão.

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O Governo trabalhava como um pêndulo que oscilava entre a dureza interna sobre as ações desmedidas de seus radicais de farda e a dureza externa ao criar mecanismos institucionais, anteparando as possibilidades da oposição chegar ao poder. Em julho de 1976, por exemplo, percebendo que poderia sofrer nova derrota se as eleições marcadas para esse ano fossem realizadas com as mesmas regras eleitorais de 1974, editou a Lei Falcão, um “monstrengo eleitoral” que, entre outras coisas, proibiu que os candidatos usassem livremente a televisão e o rádio para se comunicar com a população. O candidato se limitava a ler o nome, número, sigla, além de mostrar na televisão uma pequena foto.

O novo formato do horário eleitoral prejudicou substancialmente o MDB. O discurso certeiro e carregado de emoção no qual a oposição se especializou em fazer, com certeza, arrebanharia um percentual muito grande de votos. Mesmo com as regras adversas, o MDB foi à luta nas eleições de 1976.

Em Campo Grande, o partido tinha todas as condições de reconquistar a prefeitura, pois possuía os melhores candidatos e o melhor discurso. Porém uma disputa interna, culminando na desistência do deputado federal Walter de Castro de participar do pleito, comprometeu duramente as chances do partido.

O deputado Federal Walter de Castro era o nome mais forte para disputar a prefeitura de Campo Grande. Desde 1975, vinha costurando sua candidatura junto aos comandos nacional e estadual do partido. Porém, em junho de 1976, poucos dias antes da convenção, começou a ser divulgada uma crítica dura contra ele. Era acusado de ter feito um entendimento com o exGovernador Pedro Pedrossian para ser, dentro do MDB, o candidato dele. Esses falatórios se espalharam e em pouco tempo provocou a desconfiança dentro do partido.

Sobre esse episódio, é importante o depoimento de Plínio Rocha que foi o escolhido pela direção do partido para disputar com Walter de Castro uma das sublegendas.

“O candidato de maior possibilidade, naquela época, era Walter de Castro. Médico, com bom nome, político já provado nas urnas, mas acontece que ele 3

fez um entendimento com Pedro Pedrossian. Na época, os companheiros denunciaram que o acordo ocorreu numa viagem para São Paulo, ou de São Paulo para cá. Com isso o partido não aceitou mais a indicação de Walter de Castro. Nas conversações chegaram à conclusão de que o único candidato que podia bater Walter na convenção era eu. De fato, o meu nome foi consagrado.”

Arquivo:Jornal Diário da Serra

Walter de Castro nega qualquer entendimento com Pedro Pedrossian nessa eleição.

“Eu tinha uma votação muito boa na cidade. A ARENA estava apavorada. O SNI – Serviço Nacional de Informação – fez uma pesquisa que me colocava na frente de todos os candidatos. Por isso, comecei a perceber que alguma coisa estava errada (...). Comecei a perder alguns apoios. Assim, divididos, fomos para a convenção e eu perdi a indicação. Fiquei muito magoado com essa história que Pedro Pedrossian ia me apoiar (...). Aí, fui embora para Brasília e fiquei fora da eleição”.

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Arquivo do Jornal Diário da Serra

Sobre a possibilidade de o MDB ter ganho aquela eleição é muito esclarecedor o depoimento de Sérgio Cruz, um dos candidatos a Prefeito pelo MDB.

“Nós tínhamos a fórmula para ganhar aquela eleição. Podíamos lançar três candidatos: Walter de Castro, Plínio Rocha e eu. As pesquisas indicavam que eu era o candidato com maior potencial de voto, mas, em função da minha condição social e da minha independência, minha candidatura foi condenada pela cúpula do partido. O Walter de Castro também, foi rifado (...). Ai foi aquela lambança toda na convenção em que o Walter deixou de ser candidato por um voto. Sendo que os votos de Walter de Castro eram importantes para ganharmos a eleição.”

A saída de Walter de Castro gerou uma crise na campanha. O deputado estadual Cleómenes Nunes também se retirou do pleito. No entanto, publicou antes na imprensa um longo artigo em que analisava o problema criado pelo veto ao nome de Valter de Castro e outros erros do partido.

O MDB, ao final, lançou Sérgio Cruz e Plínio Rocha a Prefeito de Campo Grande. Em 3 de setembro, na Vila Pioneira, foi feito o primeiro comício da campanha de Sérgio Cruz. Aliás, Sérgio, nessa campanha, lançou um jeito diferente e inovador de fazer política em Campo Grande. Mandou fazer uma púlpito, móvel, onde fazia comícios relâmpagos pelas principais ruas da cidade. Em seus comícios também era apresentado o famoso “saco da verdade”, pelo deputado estadual Valter Pereira, que colhia denúncias contra 5

os arenistas e colocava nesse saco, de lona, relativamente grande, para serem apresentadas à população. Esse era um quadro muito esperado pelo público que ia aos comícios de Sérgio Cruz.

Comício relâmpago da campanha de Sergio Cruz a Prefeito de Campo Grande.No destaque o famoso púlpito. Arquivo Valter Pereira.

A fissura do partido nessa eleição beneficiou o candidato da ARENA, Marcelo Miranda, que obteve 19.919 votos e venceu o pleito. Eloi Pereira teve 6.061, Sérgio Cruz obteve 9.688 e Plínio Rocha 3.674 votos.

Para a Câmara Municipal, o MDB elegeu cinco vereadores: Plínio Martins, Nelly Bacha, Odilon Nakasato, Aurélio Pires e Aurélio Cance Júnior. Também conquistou as prefeituras de Anaurilândia com Napoleão de Lima; Aparecida do Taboado com Orálio Pereira de Queirós e Jardim com Fernando Freitas. Além desses, o partido elegeu 53 vereadores em 22 municípios.

A eleição constituinte em 1978

O MDB era o partido favorito para ganhar as eleições parlamentares de 1978. Já detinha o controle das Assembléias dos Estados de São Paulo, Rio de janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Acre e Amazonas. A bancada no Congresso Nacional vinha se ampliando com a migração dos dissidentes da ARENA. O Governo Federal percebeu que poderia perder a eleição e inviabilizar a indicação do seu sucessor General João Batista de Figueiredo à Presidência da República. 6

Portanto, para evitar surpresa, urdiu mais uma manobra: fechou o Congresso Nacional em 1° de abril de 1977, por um período de 15 dias, usando como pretexto o veto do MDB à reforma do judiciário. Nessa oportunidade, à revelia, decretou o pacote de Abril que, entre outras coisas, criou mais duas vagas para o Senado em cada Estado, sendo que uma delas o senador seria eleito indiretamente, mais conhecido como “Senador biônico”. O mandato presidencial foi estendido para seis anos.

A resposta do MDB ao pacote veio por meio da televisão e do rádio em junho de 1977, quando os deputados Ulysses Guimarães, Alencar Furtado, Franco Montoro e Alceu Colares, numa noite brilhante, criticaram a política econômica do governo, a questão salarial e social e o pacote de Abril. (Couto, 1999, p.240). A mensagem do MDB foi feita sem medo e sem ódio, como gostava de dizer Ulysses Guimarães, mas, em função da grande repercussão, o Governo, encurralado, cassou os mandatos dos deputados Alencar Furtado e Marcos Tito e tentou enquadrar Ulysses Guimarães na Lei de Segurança Nacional.

No caso de Mato Grosso do Sul, a eleição de 1978 foi constitucional, serviu para escolher os parlamentares que deveriam representar o novo Estado no Congresso Nacional e no poder legislativo estadual.

Ao todo foram

escolhidos 2 senadores, 6 deputados federais e 18 deputados estaduais.

Inicialmente o MDB apresentou, para disputar as vagas para o Senado, os senhores Plínio Martins, Bezerra Neto e o empresário do ramo de telefonia Humberto Neder. A ARENA apresentou os nomes de Pedro Pedrossian, José Frageli e Rachid Derzi. O pecuarista Italívio Coelho foi indicado Senador Biônico (em eleição indireta) pelo Executivo Federal.

Logo no início da campanha, antes mesmo da convenção, Bezerra Neto foi acometido de uma pneumonia e os médicos recomendaram repouso absoluto, assim, sem ter condições de viajar para fazer campanha, o velho senador teve que se retirar da eleição, ficando como candidatos Plínio Martins e Humberto Neder. 7

Os candidatos do Governo, com vergonha da sigla, já que o nome ARENA soava como algo impositivo, ditadura, coronelismo, militarismo, entre outros adjetivos considerados pejorativos, retiraram dos cartazes e das faixas o nome do partido.

Antônio Carlos de Oliveira, presidente do MDB, entrou com uma denúncia junto ao Tribunal Eleitoral, por intermédio do advogado Círio Falcão, para exigir dos candidatos da ARENA que dessem visibilidade a sua sigla. Essa era uma das formas que o MDB usava para fragilizar a campanha do adversário que, cada vez mais, sentia que os dias da Ditadura estavam acabando.

Em 9 de outubro, visitou Campo Grande e Dourados o presidente do MDB, Ulysses Guimarães. Foi recebido no aeroporto internacional de Campo Grande por milhares de militantes do partido. À noite, na Avenida Afonso Pena, Ulysses participou de um comício que, de acordo com o jornal “Diário da Serra” de 17 de outubro, havia mais de 10 mil pessoas.

O encerramento da campanha em Campo Grande aconteceu no Bairro Guanandi, no antigo campo de futebol, no dia 23 de outubro, com a presença do ex-senador Bezerra Neto e todas as lideranças do Estado. Wilson Fernandes, líder comunitário, esteve nesse comício e contou que foi uma “das grandes festas de que participou na sua vida. O povo estava entusiasmado com a possibilidade do partido eleger um grande número de candidatos.”

Em 15 de novembro, embora o partido tenha conseguido uma grande votação, Plínio Martins e Humberto Neder não conseguiram se eleger. Os eleitos foram Pedro Pedrossian, com 134.399 votos, e seu colega de Chapa José Fragelli, com 45.885 sufrágios. Plínio Martins teve 130.652 votos e Humberto Neder 11.456.

O MDB lançou L37 candidatos à Assembléia Estadual e 7 à Câmara Federal. Destes, elegeu 6 para o Legislativo Estadual: Odilon Nacasato, Onevan de Matos, Roberto Orro, Sérgio Manoel da Cruz, Cecílio Jesus Gaeta e Getúlio

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Gedeão. Para o Legislativo Federal elegeu Antônio Carlos de Oliveira e Walter de Castro.

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4) A CAMPANHA PELA ANISTIA

No final da década de 1970, ganha corpo a campanha pela anistia. Alguns familiares de presos políticos vinham exigindo que o regime concedesse anistia aos presos políticos e aos brasileiros que estavam exilados ou na clandestinidade. A reivindicação tinha como base uma velha tradição brasileira de se conceder anistia aos “crimes” tipificados como políticos. A história registra que até 1964 já haviam sido aprovadas pelo Congresso Nacional, 47 iniciativas do executivo concedendo anistia a participantes de vários movimentos políticos.

A campanha pela anistia, inicialmente, era liderada por um grupo de mães que procurou a Igreja Católica para ajudar a encontrar seus filhos e maridos presos ou desaparecidos. Através da Comissão de Justiça e Paz, já na década de 1970, a Igreja Católica começou a visitar os quartéis e prisões em busca de informações que ajudassem a localizar os desaparecidos. À frente da comissão estava a senhora Terezinha Zerbini, esposa do major Zerbini, que se opôs ao golpe de 1964 e, por isso, foi preso e processado com base na Lei de Segurança Nacional.

A conjuntura política na segunda metade da década de 1970, com algum cuidado, permitia que familiares de presos políticos e outros se organizassem para lutar por suas reivindicações. A expressiva maioria dos presos e desaparecidos era formada por militares, funcionários públicos, políticos, sindicalistas e estudantes universitários, portanto, pessoas de classe média que, no geral, era composta de familiares esclarecidos. Isso facilitava em parte o trabalho de organização dos comitês pela anistia tanto no Brasil como no exterior.

A luta pela anistia era uma bandeira com forte apelo popular. O próprio candidato à Presidência da República do Brasil pelo Colégio Eleitoral, João Batista de Figueiredo, filho de exilado político, gostava de dizer que “lugar de brasileiro era no Brasil”.

No início de 1978 eram cada vez maiores e mais constantes os atos políticos em defesa da Anistia. No Congresso Nacional, também crescia o número de defensores da medida. O discurso proferido por Ulysses Guimarães por 10

ocasião do lançamento da sua candidatura à Presidente da República, no final de 1973 no Congresso Nacional, teve como centro a questão das liberdades democráticas. Disse ele: “Existe hoje no Brasil a palavra oracular, limpa como a verdade e translúcida como o cristal, para que através dela se divise e surja a figura reparadora da justiça. Esta palavra, eu vou pronunciála, agora: anistia, anistia, anistia” (Guimarães, 1987, p.52).

A SBPC – Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – se reuniu em 1976, em Brasília, para discutir com intelectuais de várias partes do Brasil o rumo da política e das ciências no país. O tema da anistia hegemonizou os debates. Ao final do conclave, como de praxe, a SBPC divulgou um documento exigindo do regime o retorno do país ao estado de direito e a reincorporação dos professores e alunos que foram arbitrariamente expulsos das universidades.

No início de 1978, o Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Raimundo Faoro, divulgou um manifesto aos brasileiros com a palavra de ordem: “volta ao estado de direito” (Kucinski, 1982, p.109). O manifesto da OAB teve um grande peso nessa campanha, pois, em várias cidades, gratuitamente, importantes advogados passaram a trabalhar na defesa dos presos políticos.

Em 1978, produto do trabalho que estava sendo feito pelos exilados fora do Brasil, foi criada uma rede de apoio à luta pela anistia formada, entre outros, por influentes políticos e Chefes de Estados da Europa e da América do Norte, entre eles Jimmy Carter que, em 1979, assumiu a presidência dos EUA com um discurso comprometido com os direitos humanos.

Em fevereiro de 1978, no Rio de Janeiro, foi criado o CBA – Comitê Brasileiro pela Anistia -, formado por integrantes da Igreja Católica, profissionais liberais, familiares de presos, políticos, intelectuais, entre outros. Em pouco tempo os CBA’s foram organizados na Bahia, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e São Paulo, com o lema: “anistia ampla, geral e irrestrita”.

Inspirado nesse trabalho que tinha o apoio da Igreja Católica, foi criado em Campo Grande o Comitê Pelos Direitos Humanos e pela Anistia. Um dos 11

articuladores desse trabalho no Estado foi o economista Alfredo Sulzer, militante do MDB que, com o apoio do padre Antônio de Barros, um dos professores da Faculdade Dom Bosco, dirigiu-se a São Paulo para ter um encontro com o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns com a intenção de obter informações que ajudassem a criar a Comissão de Justiça e Paz no Mato Grosso.

Nesse período, alguns militantes do PCB iniciaram gestões para criar em Campo Grande o Comitê pela Anistia. O líder desse trabalho era o advogado Ricardo Brandão. O engenheiro Fausto Mato Grosso conta que uma das primeiras reuniões objetivando criar o Comitê da Anistia no Estado, foi feita no fusca do Carmelino Resende:

“Na época éramos magros, por isso foi possível caber, com certo conforto, eu, Carmelino, Ricardo Bacha, Onofre e Ricardo Brandão. O automóvel rodava em torno da universidade e nós íamos traçando nosso plano para organizar a luta pela anistia no Estado”.

No início de 1978, Alfredo Sulzer entrou em contato com Ricardo Brandão para tratar do trabalho pela anistia em MT. Depois de algumas reuniões, surgiu a idéia de se criar uma entidade mais geral, que reunisse a luta pelos direitos humanos e pela anistia. Assim nasceu a Comissão Pelos Direitos Humanos e pela a Anistia de Mato Grosso.

O lançamento formal dessa entidade aconteceu no dia 31 de julho de 1978, no anfiteatro da antiga FUCMAT, oportunidade em que compareceram àquela casa de espetáculo mais de 500 pessoas para assistirem a posse da primeira diretoria, cujo presidente foi o advogado Ricardo Brandão. O secretário geral foi o economista Alfredo Sulzer além de outros diretores e sócios como Carmelino Resende, Plínio Martins, Marcelo Barbosa, Sá Cavalcante, Padre Antônio Barros, Nelly Bacha, Claudionor, Fauze Gathaz, Fausto Mato Grosso, Ricardo Bacha, Emília Sulzer, Humberto Neder, Alair Neder, Salvador Sá e outros.

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Solenidade de posse dos diretores do Comitê pelos Direitos Humanos e pela Anistia de Mato Grosso. Arquivo Alfredo Sulzer

Participaram dessa solenidade a presidente do Movimento Feminino pela Anistia, Terezinha Zerbini, Flávio Bierrenbach, vereador de São Paulo, o exMinistro de João Goulart e ex-prefeito de Campo Grande, Wilson Fadul, além do bispo diocesano de Campo Grande, Dom Antônio Barbosa, e o presidente da OAB municipal, Abdala Jalad, entre outras autoridades e pessoas do meio político e intelectual. O economista Alfredo Sulzer lembra como era o trabalho naquele tempo:

“O nosso trabalho estava integrado com os demais grupos nacionais que lutavam pela anistia. Eu e o Ricardo Brandão viajávamos para os encontros nacionais em São Paulo, Rio de janeiro, Recife, Salvador, além de outras cidades. Visitávamos os presos políticos, divulgávamos os manifestos, e organizávamos atividades em Campo Grande (...). Trouxemos para o Estado para fazer palestra, gente como Miguel Arraes, Terezinha Zerbini, Paulo Brossard, Evaristo Arns, José Ibraim e outros”.

Uma importante manifestação pela anistia em Campo Grande aconteceu em 28 de dezembro de 1978, quando mais de 2.000 pessoas percorreram as principais ruas da cidade, distribuindo um manifesto com informações sobre a luta pela anistia no Brasil e em Mato Grosso do Sul. Participaram desse ato os deputados do MDB Antônio Carlos de Oliveira, Onevan de Matos, Sérgio Cruz e o vereador Aurélio Cance Júnior. 13

Em fevereiro de 1979, mais uma vez o comitê pela anistia lançou um novo boletim de notícias com reportagens sobre a prisão irregular da brasileira Flávia Shiling no Uruguai, do economista paraguaio Domingo Laino que foi seqüestrado e preso pela polícia de Alfredo Stroesner do Paraguai, além de outros comunicados de destaque como a criação de duas sucursais do movimento pela anistia, a de Ponta Porã e a de Dourados.

No mês de junho de 1979 o Comitê lançou um manifesto “ao povo de Mato Grosso do Sul”, denunciando que o projeto de anistia do executivo restringia grande parte dos atingidos sob alegação de crime de “terrorismo”, assalto, seqüestro, ou atentado pessoal.

“Entendemos que ação terrorista foi

praticada pelo governo ao coibir, com violência crescente, as manifestações da oposição”. Ademais, em 22 de agosto 1979, o Jornal “Diário da Serra” publicou outro manifesto em defesa da anistia ampla, geral e irrestrita, assinado por mais de 20 entidades da sociedade civil e por diversos parlamentares, entre eles, Sérgio Cruz, Aurélio Cance, Antônio Carlos, Gerson Ferreira de Sousa, Paulo Yanomine, Sultan Raslan e Plínio Martins.

Apesar de tudo, o governo militar, em surdina, mandou para o Congresso Nacional, em 28 de agosto de 1979, um decreto que concedeu anistia parcial, ou seja, deixou de fora muita gente conforme foi denunciado pelos comitês de anistia em vários fóruns. Por isso mesmo, a luta pela anistia continuou até 1988, quando a Constituinte desse ano ampliou os direitos dos anistiados. É importante ressaltar que, embora a Lei de Anistia, decretada pelo Governo Federal, fosse restritiva, permitiu o retorno da grande maioria dos exilados.

Em Campo Grande, continuou a luta pela anistia. Com efeito, em 20 de janeiro de 1980, por exemplo, Alfredo Sulzer assumiu a presidência do comitê pelos direitos humanos e pela anistia do Mato Grosso do Sul. A posse aconteceu no teatro Dom Bosco, com as presenças do sindicalista José Ibraim e de Miguel Arraes.

O fato de Alfredo Sulzer ter assumido a direção estadual da Anistia provavelmente deixou alguns setores do Governo Marcelo Miranda incomodado. Por isso, poucos dias depois, ele foi destituído da Secretaria de 14

Planejamento de MS. A sua mulher, Maria Emília, também foi demitida do Estado.

O Estado de Mato Grosso do Sul cumpriu um papel importante na luta pela anistia no Brasil. Ricardo Brandão e Alfredo Sulzer em várias oportunidades foram homenageados por terem liderado esse trabalho que, na medida do possível, pode ser simbolizado por uma singela carta enviada por Altino Dantas, sul-mato-grossense, ex-presidente da UNE, que estava preso em São Paulo.

“Caro Alfredo Sulzer,

Antes tarde do que nunca, né? Mas o atraso deve-se única e exclusivamente a minha imprevidência, pois me esqueci de anotar o endereço de vocês quando aqui estiveram. Tive que escrever ao Ricardo pedindo... Tens visto a Suely? Como está ela? Continuo aguardando uma carta da ingrata... Mas de qualquer forma eu a quero muito bem, como a uma irmã, por isso mando um grande beijo a ela e a Leila... Aqui a vidinha não se altera. Apenas o número tem diminuído, somos 14 atualmente (saíram Pacheco, Nei e Marco Antonio) e isso é sempre uma boa coisa. Dizem que ano que vem devem acabar com os presos, vamos ver... Espalhe a notícia para virem nos visitar antes que acabe... Tenho recebido notícias através do Ricardo que como sempre anda bastante animado. E não é pra menos com a vitória na OAB... Escrevi hoje para Mariza também e faço a você o mesmo pedido de transmitir a todos um grande abraço. Receba você também o abraço do amigo de sempre.

São Paulo, 18 de dezembro de 1977”

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5) A CRIAÇÃO DO PMDB EM MATO GROSSO DO SUL

As derrotas que a ARENA vinha sofrendo desde 1974, mesmo com as constantes mudanças nas regras eleitorais, ensejaram que seus caciques promovessem mais uma reforma eleitoral com o objetivo de acabar com o bipartidarismo, isto é, para acabar com o MDB que, ao longo dos anos, defendeu com bravura o retorno do Brasil à democracia. Eles sabiam que em condições normais, o MDB ganharia a Presidência da República e a maioria dos Governos de Estado.

Assim, em meio às negociações que culminaram com a aprovação do projeto parcial de anistia, surgiu discretamente a idéia de criar novos partidos políticos no Brasil. A explicação do governo militar, em princípio, tinha fundamento, pois permitia que os exilados políticos e outros que já atuavam no interior da ARENA e do MDB tivessem outras alternativas partidárias, porém, da forma como foi feito o decreto, ficou claro que a iniciativa tinha como objetivo específico esvaziar o MDB.

Os primeiros passos rumo ao retorno do pluripartidarismo foram dados em outubro de 1978, oportunidade em que o Governo, através do Ministro Petrônio Portela, enviou ao Congresso Nacional projeto de reforma política que garantia, comprovada algumas formalidades, que novos partidos fossem criados. Os estrategistas da ARENA sabiam que, abrindo a possibilidade para a formação de novos partidos, o MDB, evidentemente, perderia muitos de seus quadros políticos. Haveria fragmentação.

De fato o PMDB perdeu muitos quadros. A formação dos novos partidos aconteceu com o concurso de antigos militantes do MDB, mas o partido continuou crescendo e com chance de ganhar as eleições municipais marcadas para 1980. Esse favoritismo incomodava a ditadura.

Por isso eles queriam que o MDB se dissolvesse, mudasse de nome. Nestes termos tentaria apagar o papel vergonhoso cumprido pela ARENA e a gloriosa trajetória do MDB. Assim, em 20 de dezembro 1979, o Governo Federal decretou o fim do MDB e da ARENA.

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Na noite de 20 de dezembro de 1979, por iniciativa de Ulysses Guimarães, um grupo de parlamentares se reuniu em Brasília para discutir o nome do novo partido. Sem muito debate, porque não havia necessidade, de acordo com o ex-deputado Sérgio Cruz, líder do MDB na Assembléia Legislativa de Mato Grosso, que participou dessa reunião. O partido resolveu colocar apenas um “P” antes do MDB e tornou-se PMDB. Os militares não contavam com essa astuta manobra de lucidez e criatividade.

Nessa mesma noite, o PMDB divulgou o manifesto dos fundadores do PMDB reafirmando a missão do partido de prosseguir com a luta travada pelo MDB em prol das grandes teses democráticas:

“Manutenção do calendário eleitoral, eleições diretas em todos os níveis, defesa da autonomia dos municípios e da federação, democratização do ensino, anistia ampla, geral e irrestrita, além da convocação da Assembléia Nacional Constituinte” (Revista do PMDB, 1981, p.13).

Em 15 de janeiro de 1980 em Brasília, na sala da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, foi oficializada a criação do PMDB. Ulysses Guimarães foi eleito Presidente Nacional. Em Mato Grosso do Sul foi eleito presidente do PMDB o deputado federal Antônio Carlos de Oliveira.

No início de 1980, o partido começou a receber importantes políticos da antiga ARENA, entre eles, Levy Dias e Ramez Tebet. O primeiro permaneceu no partido por pouco tempo, pois logo foi convidado pelo governador Pedro Pedrossian para assumir a Prefeitura de Campo Grande no lugar de Albino Coimbra. O segundo tornou-se destacado quadro do partido influindo nas suas decisões até os dias de hoje.

Por outro lado, produto da dança partidária que aconteceu no ano de 1980, oportunidade em que as pessoas procuravam se vincular aos partidos que melhor representassem seus interesses ideológicos, o presidente do PMDB Estadual, Antônio Carlos de Oliveira, sem qualquer explicação, abandonou a direção do partido e se filiou ao PT. O partido rapidamente convocou Wilson Martins para assumir a direção formal da sigla. Aliás, Wilson Martins mesmo cassado tinha grande influência sobre o partido. Agia com muita desenvoltura nos bastidores. 17

Com receio de perder as eleições municipais marcadas para novembro de 1980, o Governo Militar, por sua vez, cancelou as eleições de 1980 e remarcou para o ano de 1982. A explicação oficial dizia que os partidos não tinham tempo hábil para se organizar e participar das eleições marcadas para aquele ano. Para diminuir as resistências parlamentares, o presidente João Figueiredo prometeu ampliar por dois anos o mandato dos vereadores e prefeitos (Kucinski, 1982, p.139).

A idéia de mudar o calendário eleitoral tinha como base o fato do PDS ter maior capilaridade, estar presente em quase todos os municípios do Brasil, diferentemente dos demais partidos, inclusive do PMDB. Como nas eleições de 1982 haveria o voto vinculado de vereador a senador (“cabo a rabo” como se dizia na época), havia possibilidade do PDS ter êxito na sua manobra.

Em eleição normal, sem casuísmo, a situação do Governo era considerada crítica, principalmente depois dos atentados terroristas ao RioCentro, em maio de 1981, quando militares do exército tentaram explodir duas bombas nessa casa de show no Rio de Janeiro.

A incorporação do PP ao PMDB

Desde o início de 1981, havia especulação sobre a possibilidade do PP, liderado por Tancredo Neves, partido com forte base em Minas Gerais, fundir-se ao PMDB. Essa alternativa atingia em cheio o governo que, por muito tempo, apoiou a criação do PP para ser um partido de centro, com a missão de disputar com o PMDB a hegemonia dos votos da oposição.

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Reunião do PMDB de Mato Grosso do Sul com Ulysses Guimarães. Arquivo do Diário da Serra

Porém o PP, por força da legislação eleitoral que instituiu o voto vinculado, precisava estar presente nos principais municípios do país. O partido de Tancredo Neves teria que fazer um grande esforço para conquistar o interior do país e se tornar uma agremiação nacional. Por isso Tancredo e Ulysses Guimarães, que eram parceiros de longa data, iniciaram conversações para unir os dois partidos.

A fusão do PP ao PMDB não era uma tarefa fácil. No passado recente, a maioria dos políticos do PP tinha feito parte da base de apoio da ditadura. O presidente de honra do PP, Magalhães Pinto, por exemplo, tinha sido um dos mentores do Golpe de 1964, por isso os líderes do MDB que estiveram na oposição, normalmente sentiam-se incomodados com a possibilidade dos quadros do PP se beneficiarem do prestígio do partido. Daí que a tese de fusão, inicialmente, não prosperou.

Porém com a nova legislação eleitoral de maio de 1980, que instituía o voto de legenda, o quadro mudou. Aí o PP e o MDB precisavam estar presentes nos grandes e nos pequenos municípios. Precisavam ter capilaridade eleitoral. Essa situação ensejou que o debate sobre fusão ou incorporação entre os dois partidos voltasse ao centro do debate.

As lideranças do PMDB, na sua grande maioria, eram favoráveis à incorporação do PP ao PMDB, mas existia o grupo dos “autênticos” que não 19

via com bons olhos essa alternativa. O deputado Valter Pereira, um dos líderes desse grupo, explica como se processou essa discussão:

“No início éramos contra a proposta de fusão. Ela não ajudava a oxigenar o partido, ao contrário, parecia mais uma composição conservadora, que inibia a ascensão do PMDB, depois a proposta passou a ser a incorporação do PP ao PMDB. Aí era outra coisa porque preservava o capital político do PMDB que era o que havia de mais importante (...) O que queríamos era garantir que o PMDB continuasse com a hegemonia política do processo. A incorporação se revelou se suma importância para ganharmos a eleição de 1982”.

O deputado Antônio Carlos, também do grupo autêntico na Câmara Federal, informou que deixou o partido porque não estava de acordo com a proposta de fusão ou incorporação desses dois partidos.

“A famosa incorporação do PP ao PMDB foi o motivo principal da minha saída do partido. Eu era o presidente estadual. Passei o ano de 1980 viajando pelo Estado, organizando o partido no interior junto com os deputados Sérgio Cruz e Valter Pereira, de repente ficou mais interessante para o pessoal egresso da ARENA disputar a eleição de 1982 pelo PMDB. Aí vieram todos. Foi aquele inchaço e eu não agüentei e resolvi sair do partido”.

O Presidente Municipal do PMDB, Juarez Marques, foi outro dirigente que combateu abertamente a proposta de incorporação. “Eu era contrário a esse entendimento. Contra a minha vontade, manifestada em várias ocasiões, o pessoal do PP terminou entrando no PMDB”.

Para Wilson Martins a incorporação do PP ao PMDB foi importante porque o PP era:

“Um partido formado por homens experientes como Tancredo Neves no plano nacional, e, no plano Estadual, pessoas como José Frageli, Rachid Saldanha Derzi, Antônio Mendes Canale, Marcelo Miranda, João Leite Schimidt, entre outros, que valorizaram a nossa luta e reforçaram a nossa carga política, o que facilitou a vitória no pleito de 1982.”

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João Leite Schimidt, um dos responsáveis pelas negociações que culminaram na fusão dos dois partidos, comenta a importância desse evento:

“A incorporação foi uma solução perfeita para aquele momento. Nem o PMDB nem o PP tinham capilaridade. O PMDB tinha os nomes do Wilson Martins e do Plínio Martins, mas se você chegasse nos pequenos municípios não existia o partido. Como se vence uma eleição? Não é com a soma dos pequenos e grandes municípios. (...) O PP também não tinha capilaridade, éramos poucos, embora com cargos (...) Assim, como a famosa fábula francesa do cego e do aleijado, fizemos a incorporação e foi fundamental para o Mato Grosso do Sul e para o Brasil. Tanto que disputamos a eleição de 1982 e outras com sucesso”.

Em Defesa do Pantanal

Enquanto a questão da incorporação era discutida, o PMDB, impulsionado pela conjuntura dos anos 1980 que trouxe o tema ecologia para o centro do debate ao lado de outros partidos, iniciou no Mato Grosso do Sul uma luta muito importante contra a instalação de usina de álcool na bacia Pantaneira.

Um grupo de empresários queria montar indústrias de álcool no frágil ambiente da região do pantanal. Uma em especial, de grande porte, na região da Serra de Bodoquena. Parte importante da população do Estado e de outros locais contribuiu para o surgimento de um forte movimento contrário à instalação de usinas na região pantaneira.

As primeiras críticas contra a instalação de usinas de álcool no pantanal começaram com a realização do 30º Congresso Nacional de Botânica que aconteceu em junho de 1979, na UFMS. Nessa oportunidade foi aprovado um manifesto contra as usinas e outras iniciativas populares. Arnaldo de Oliveira, professor de Botânica da UFMS, lembra como se iniciou o movimento.

“Além do manifesto fomos orientados a procurar a imprensa regional e nacional para denunciarmos esse grave fato. Eu e o Astúrio Ferreira nos deslocamos a São Paulo e Rio de Janeiro onde tivemos audiência com a direção da Rede Globo de Televisão e outros veículos de comunicação como 2

Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e o Pasquim. Fruto desses contatos foram realizadas várias matérias sobre o tema em foco, inclusive no programa Globo Rural que estava começando naquele tempo. Essas matérias tiveram repercussão nacional e internacional e ajudou a nossa luta”.

Para reforçar o movimento no Mato Grosso do Sul foi criado o Comitê de Defesa do Pantanal, entidade suprapartidária que passou a funcionar numa casa na esquina das ruas Barão do Rio Branco com 14 de Julho, no centro de Campo Grande.

No segundo semestre de 1981 o movimento ganhou projeção nacional e internacional. Para contribuir com a luta vieram para o Mato Grosso do Sul artistas e políticos como Gilberto Gil, Fernando Gabeira, Bety Mendes, Silvia Popovic entre outros.

A reação da opinião pública teve grande força no sentido de barrar a instalação das usinas. Em agosto de 1981 o ex-Deputado Estadual Valter Pereira entrou com uma ação popular objetivando proibir as usinas no Pantanal. Outras iniciativas nesse sentido também surgiram da sociedade civil fortalecendo cada vez mais o movimento.

Em 26 de março de 1982, por iniciativa do Governo Pedro Pedrossian, escudado em um anteprojeto mandado àquela casa de lei pelo Comitê de Defesa do Pantanal, foi aprovada uma lei apresentada pelo Deputado Ari Rigo, proibindo a instalação de usinas de álcool na bacia pantaneira.

O economista Alfredo Sulzer, militante do PMDB e integrante desse Comitê, relembra como foi esse movimento e qual sua importância para o Estado:

“O farmacêutico Astúrio Ferreira dos Santos e Arnaldo de Oliveira perceberam que era preciso fazer algo para barrar a construção das usinas de álcool no Pantanal. Em pouco tempo houve uma forte mobilização objetivando criar o Comitê de Defesa do Pantanal. Aí alguns companheiros do PMDB como Valter Pereira, Juarez Marques Batista, Maria Emilia, Pedro Cútis Dias, entre outros, passaram a participar ativamente desse comitê ao lado de militantes de outros partidos. Fazíamos atos públicos pela cidade, 3

íamos às universidades, pressionávamos os deputados, enfim, fazíamos o trabalho político contra as usinas no pantanal. Trabalho que foi muito importante para a eleição dos candidatos do PMDB no pleito de 1982.”

Esse trabalho foi, sem dúvida, o maior movimento popular realizado no Mato Grosso do Sul. Com pouquíssimos recursos financeiros foi possível reunir pessoas que, no cotidiano, possuíam posição antagônica (sindicalistas, estudantes, profissionais liberais, pecuaristas, industriais e políticos de várias ideologias).

Esse movimento, sua estrutura organizacional de mobilização, foi muito bem incorporado pelo PMDB para ganhar as eleições de 1982, ou seja, contribuiu para essa eleição e continua servindo de exemplo para as novas gerações que tem o dever de proteger esse importante ecossistema.

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6) A CONQUISTA DO GOVERNO EM 1982

O pleito de 1982 foi realizado com as novas regras eleitorais. A ditadura teimava em complicar a vida dos partidos de oposição. A nova legislação foi forjada no famoso “pacote de maio”, alguns meses antes do pleito, e entre outras coisas, reabriu as filiações partidárias para que o PDS pudesse receber alguns deputados, flexibilizou a legislação para que os partidos menores disputassem o pleito, nesse caso, com medo de que os pequenos partidos se fundissem com o PMDB. Também ampliou o número de deputados, criou o Estado de Rondônia, aumentou de 4 para 6 anos o mandato do Presidente da República e alterou o número de delegados ao Colégio Eleitoral (Couto, 1999, p.308/309). Para impedir que a população de baixa escolaridade escolhesse seu candidato livremente, o governo proibiu o voto de legenda com medo que este fosse canalizado para o PMDB, assim como, criou a exigência de o eleitor ter que escrever o nome ou número do candidato na cédula.

As conversas objetivando formatar a chapa do PMDB começaram em abril, embora discretamente, Wilson Martins, com o apoio do PCB, já estivesse em campo articulando a sua candidatura ao Governo de Mato Grosso do Sul. Um passo importante nessa caminhada foi a indicação de Wilson Martins para a presidência da OAB de Mato Grosso do Sul. Esse cargo somado ao de presidente do PMDB aumentou sua visibilidade política.

Wilson Martins articulava a sucessão do então governador Pedro Pedrossian com muito cuidado. Ele sabia que o candidato de consenso do PMDB e de outras forças para Governo do Estado era seu irmão Plínio Martins. Plínio, em março de 1982, alegando dificuldades de foro íntimo e outras conforme depoimento de seu filho Marcelo Martins, desistiu da sua candidatura ao governo. Eis o que informa Wilson Martins sobre esse episódio:

“Não era o meu nome o mais forte para aquela eleição. O nome mais forte era o do meu irmão, Plínio Martins. A população queria recompensá-lo pelos serviços prestados como vereador e Prefeito de Campo Grande. Ele resistiu muito a aceitar a candidatura, mas, certa ocasião, ele disse que ia ser candidato. Isso ele falou em um dia, mas no dia seguinte voltou aqui a esse escritório e disse: Wilson, não tenho condições de sair candidato, estou 5

numa dificuldade muito grande, solicito que você me ajude, explique para os companheiros a minha situação. Aí que o meu nome veio à baila. Os companheiros que insistiam com Plínio Martins, então, passaram a insistir comigo. Então eu empunhei a bandeira e fui para a campanha”.

Com a desistência do Plínio Martins, em princípio, surgiram outros nomes que também queriam disputar o cargo de Governador pelo PMDB. O pessoal egresso do PP tentou indicar Marcelo Miranda. Ramez Tebet por sua vez, foi lembrado em várias ocasiões para ser o candidato, porém o nome escolhido foi o de Wilson Martins.

A disputa pelo nome do vice foi renhida, pois, supostamente, existia um acordo entre Wilson Martins e os políticos advindos do PP que garantia a vaga de vice para o ex-prefeito de Campo Grande, Antônio Mendes Canale.

Aconteceu que os autênticos, liderados por Sérgio Cruz, Nelly Bacha, Juarez Marques e Valter Pereira, não aceitaram o nome de Antônio Mendes Canale que, naquele momento, enfrentava certa rejeição popular. Eles queriam um nome do PMDB.

João Leite Schimidt, um dos articuladores do nome de Antônio Mendes Canale, relembra as discussões que culminaram com a indicação do deputado Ramez Tebet para vice de Wilson Martins.

“O escolhido na reunião que fizemos no escritório do Wilson Martins para compor a chapa de governador foi o senador Antônio Mendes Canale. Aí Ramez Tebet, Valter Pereira, Sérgio Cruz e mais alguns diziam que Antônio Mendes Canale não poderia ser o vice. Essa discussão durou dias até que cedemos e o Ramez Tebet virou vice”.

Valter Pereira lembra que:

“O veto ao nome de Antônio Mendes Canale estava relacionado com o desempenho eleitoral dele. Antônio Mendes Canale era um velho arenista e vinha de uma má administração na Prefeitura de Campo Grande, portanto, naquele momento, não era uma boa solução. Por outro lado, precisávamos de um vice que representasse o interior do Estado. O nosso partido era forte 6

em Campo Grande, mas não tinha a mesma força nos demais municípios. Daí que surgiu o nome de Ramez Tebet, ex-prefeito de Três Lagoas e líder importante da região do Bolsão.”

Ramez Tebet relata como aconteceu a sua indicação para vice de Wilson Martins:

“No início de 1980, eu me filiei ao PMDB e passei a participar ativamente do trabalho de incorporação do PP ao PMDB e de outras lutas do partido. Quando fomos formar a chapa de Governador o meu nome foi lembrado para ser vice de Wilson Martins, mas não era o cargo que eu queria. Eu queria ser deputado federal. Esse era o meu sonho, ser constituinte, mas tive que ceder às circunstâncias políticas daquele momento histórico para o país e para o Mato Grosso do Sul.”

Escolhido o nome do candidato majoritário, o partido concentrou seus esforços na definição dos candidatos a senador, deputado federal, deputado estadual e vereador.

Para disputar o Senado, o PMDB lançou Marcelo

Miranda e Antônio Mendes Canale. A chapa de deputado federal foi composta com 10 candidatos e a de deputado estadual apresentou 21 nomes. A chapa de vereadores para a Câmara de Campo Grande apresentou 25 nomes. Nessa eleição não teve candidato a prefeito de Campo Grande, já que o mesmo era escolhido pelo Governador do Estado.

O PDS lançou como candidato ao governo o ex-prefeito de Dourados José Elias Moreira e para o Senado lançou Italívio Coelho, Valdomiro Gonçalves e Walter de Castro. O PDT lançou para o Governo o jornalista Wilson Fadul Filho e para o Senado o advogado Wilson Grunewald. O PT lançou Antonio Carlos de Oliveira para Governador e para o Senado, José Mirra.

A campanha de 1982 foi vibrante e difícil. Vibrante porque o partido conseguiu organizar o movimento comunitário, o movimento sindical, a juventude e as mulheres para participar ativamente da campanha. Em todas as cidades tinha gente do partido fazendo campanha.

Oswaldo Mochi Júnior, então líder da juventude do PMDB, ressalta que na eleição de 1982, a juventude do partido fez um trabalho ideológico muito 7

importante. Esse trabalho serviu de base para depois alguns jovens seguirem a carreira política. “Eu mesmo me tornei prefeito do município de Coxim”.

O advogado João José de Sousa Leite conta que no início dos anos oitenta o PMDB era um partido com pequena representação política formal.

“Tínhamos poucos prefeitos e parlamentares. Por outro lado contávamos com o apoio das associações de bairros, dos estudantes e dos principais sindicatos. O movimento sindical que estava começando naquele tempo aderiu às bandeiras do PMDB. A construção e implantação do projeto Sindicalizando Muda foi produto do compromisso de Wilson Martins com os sindicatos. Esse movimento nasceu dentro dos sindicatos e ajudou a organizar o novo sindicalismo de Mato Grosso do Sul pós 1964.”

Lairson Palermo, presidente municipal da juventude do PMDB em 1982, militante do PC do B, lembra o trabalho ideológico e político que fazia junto ao movimento estudantil e a outros setores organizados da sociedade civil, como as associações de bairros.

“Eu era o presidente da JPMDB de Campo Grande e o Waldir Neves, hoje deputado estadual, era o presidente da Juventude Estadual. O nosso trabalho consistia em organizar os estudantes para participarem das atividades políticas e culturais daquele tempo. Íamos às universidades, aos grêmios estudantis e às associações de bairros a fim de conversar com o pessoal sobre a importância de eleger os candidatos do PMDB. Também viajávamos para montar a juventude em outras cidades. A luta da juventude do PMDB foi importante. Lembro que tinha militante do PC do B, do MR-8 e do PCB”.

O advogado Esacheu Nascimento participou do pleito de 1982 no setor de comunicação da campanha.

“Eu era advogado e fui convidado pelo também advogado José Augusto Sobrinho, ativista político de muita competência e um dos organizadores do movimento comunitário do PMDB, para trabalhar na agência dele, a Stúdio Comunicação que, junto com a Arte Traço e a Nova Fronteira, faziam a mídia 8

do PMDB. O lema da campanha era: A hora é agora. Lembro do entusiasmo da equipe quando Wilson Martins saiu do patamar de 10% dos votos para 20% em menos de um mês de campanha. Esse pleito inaugurou uma nova forma de comunicação política no Estado.”

Waldemir Moka, professor, eleito vereador em Campo Grande nesse pleito, hoje deputado federal, destaca que:

“Era incrível a relação da população com o PMDB. Bastava você dizer que era do PMDB para ser recebido pelo eleitor de uma forma alegre. A população do Estado queria uma mudança na política que veio com a vitória de Wilson Martins em 1982”.

Além dos estudantes que desde 1974 votavam majoritariamente com o PMDB, participaram ativamente dessa eleição lideranças de bairro e sindicalistas. Como ponto de apoio para o trabalho dos comunitários, foi organizado o famoso barracão, localizado na Rua Maracaju, onde aconteciam as reuniões. Wilson Fernandes, líder comunitário, ex-presidente do PMDB de Campo Grande, conta como foi a participação dos comunitários na campanha de 1982.

“Os líderes comunitários tiveram uma participação ativa na campanha de Wilson Martins. Saíamos em grupo pelas ruas da cidade, nos nossos bairros, para pedir votos em favor dos nossos candidatos. Não tinha esse negócio de salário. Era uma coisa ideológica. Nós queríamos mudar as coisas.”

O ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli, que nessa eleição disputou a prefeitura de Fátima do Sul, não ganhando por uma diferença de 65 votos, lembra que o PMDB só tinha um prefeito filiado ao partido, o poeta Altevir Alencar, da cidade de Nioaque.

Ao longo da campanha, as pesquisas indicavam que havia um empate técnico entre Wilson e Zé Elias, com uma ligeira vantagem para o candidato do PMDB, que tinha como principal reduto eleitoral a cidade de Campo Grande. Quando as urnas foram abertas se confirmou o que diziam as pesquisas, ou seja, Zé Elias ganhou em quase todas as cidades do interior e Wilson Martins conquistou uma grande vantagem em Campo Grande, o que 9

lhe garantiu a vitória. Há que se registrar alguns candidatos do PDS, como Levy Dias, por exemplo, que defenderam o “voto camarão” (sem cabeça), ou seja, não votaram para governador. Esse tipo de voto beneficiou o PMDB.

O resultado da eleição foi o seguinte: Wilson Martins (PMDB) obteve 258.192 votos; José Elias (PFL) 237.144 votos; Wilson Fadul (PDT) 5. 414 e Antônio Carlos de Oliveira (PT) 4.541 votos. Para o Senado o partido elegeu Marcelo Miranda, com 158.280 votos, e na suplência ficou Antônio Mendes Canale que conquistou 138.412 votos. Italívio Coelho teve 92.106 votos; Valdomiro Gonçalves 73.404; Walter de Castro 18.869; Wilson Grunewaldi 4.953; e José Mirra 4.260 votos.

Para a Câmara Federal o PMDB elegeu 4 deputados: Plínio Barbosa, Sérgio Cruz, Rubem Figueiró e Harry Amorin Costa. Para a Assembléia Legislativa o PMDB elegeu 12 deputados: Jonatan Barbosa, Onevan de Matos, Roberto Orro, Akira Otsubo, Valter Pereira, João Leite Schimidt, Ayres Marques, Ivo Cerzózimo, Aniz Faker, Benedito Leal, Nelson Buainain e Cecílio de Jesus Gaeta.

Para a Câmara de Vereadores de Campo Grande o PMDB elegeu: Nelly Bacha, Waldemir Moka, Américo Nicolati, Antônio Pereira, Fausto Mato Grosso, Jairo Fontoura, Moacir Scândola, Marcelo Barbosa Martins, Manoel Lacerda, Wilson Oshiro e Antônio Aranda.

O PMDB conquistou o Governo em vários estados: Wilson Martins em Mato Grosso do Sul; Franco Montoro em São Paulo; Tancredo Neves em Minas Gerais; José Richa no Paraná; Jader Barbalho no Pará; Gilberto Mestrinho no Amazonas; Íris Resende em Goiás e Gerson Camata no Espírito Santo.

Para Senado o PMDB elegeu 21 representantes e para a Câmara Federal 200 deputados.

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7) LÚDIO COELHO NA PREFEITURA DE CAMPO GRANDE

A prefeitura de Campo Grande que deveria ter sido reconquistada em 1976 pelo voto direto, voltou para o PMDB em 1983 pelo voto indireto. Nessa oportunidade, a professora Nelly Bacha, presidente da Câmara de Vereadores de Campo Grande, assumiu o Executivo Municipal por indicação do governador Wilson Martins.

A vereadora Nelly Bacha assumiu a prefeitura de Campo Grande até que o PMDB chegasse a um acordo sobre o nome do novo prefeito a ser nomeado.

O grupo dos autênticos defendia que o prefeito deveria ser alguém do PMDB. Wilson Martins, em determinado momento, fixou-se no nome do pecuarista Lúdio Coelho. O vereador Waldemir Moka, presidente da Câmara de Vereadores de Campo Grande, foi um dos dirigentes do PMDB que não aceitou, em princípio, a indicação de Lúdio Coelho para prefeito de Campo Grande.

“Interessante, hoje eu vejo como o governador Wilson Martins estava certo porque Lúdio Coelho foi um grande prefeito, mas eu que vinha do Movimento Estudantil não queria apoiar pessoas ligadas à oligarquia”, Lembra Moka.

Juarez Marques articulou um movimento com o apoio de líderes comunitários com o objetivo de ser indicado prefeito de Campo Grande. O pessoal do antigo PP, por sua vez, apresentou o nome de Antônio Mendes Canale para o cargo, porém, surgiu o nome de Lúdio Coelho, que inclusive tinha o apoio do PCB, corrente política com relativa força dentro do PMDB.

O nome do Lúdio Coelho surgiu como uma forma de contemplar os ruralistas que estavam desconfiados com o perfil de centro esquerda do novo governo. Indicando alguém desse setor, pretendia-se neutralizar, em parte, a ação das forças mais conservadoras.

Antes de indicar Lúdio Coelho, Wilson tentou outra saída: convidou Marcelo Miranda para ser prefeito de Campo Grande. Quem fala desse convite é o próprio Marcelo Miranda:

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“Dr. Wilson, vendo a força que tínhamos em Campo Grande, me fez o convite para eu ser o prefeito de Campo Grande. Eu achei que não deveria aceitar porque eu tinha sido eleito para o Senado. (...) Como nós não tínhamos o apoio da classe empresarial rural, eu lembrei que era importante o Lúdio ser prefeito de Campo Grande, para atrair mais gente para o nosso lado. Quando eu abri mão do convite, Dr. Wilson me pediu que eu fizesse o convite ao Lúdio Coelho para ele ser o prefeito de Campo Grande”.

Eis o que nos conta Wilson Martins sobre a escolha de Lúdio Coelho:

“O Lúdio Coelho tinha me apoiado na luta para o governo. Ele me apoiou com sua autoridade política (...) Aí, eu ofereci ao Lúdio Coelho a pasta da agricultura. Ele me falou que não tinha interesse em ocupar essa pasta. Fez sentir que desejava ser prefeito de Campo Grande. Naquele tempo as prefeituras eram cargos nomeados. Então articulamos o nome do Lúdio para Prefeito de Campo Grande (...) Havia dificuldades no PMDB, mas, essas foram removidas e ele foi escolhido e fez uma boa gestão.”

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8) “DIRETAS JÁ”

Conquistar o direito de escolher democraticamente o Presidente da República passou a ser a principal bandeira do PMDB na década de 1980. Não era uma causa nova, é verdade, a diferença, então, é que as condições políticas estavam mais favoráveis para resgatar esse direito. Algo em torno de 80% da população brasileira estava amplamente favorável ao fim das eleições indiretas marcadas para abril de 1984.

Desde 1979, parte expressiva dos exilados políticos e outros estavam anistiados. Em 1982, foram realizadas eleições para governador, prefeito, vereador, senador, deputado federal e deputado estadual, exceto para presidente da República, oportunidade em que o PMDB aumentou consideravelmente a sua bancada com a eleição de 10 governadores, feito importante para o trabalho de divulgação e pressão pelas eleições diretas, ou seja, o país estava maduro para se discutir nas ruas e praças o retorno das eleições diretas. Essa oportunidade foi enxergada por Ulysses Guimarães e outros próceres da oposição.

Não era uma campanha fácil, aliás, a luta contra a ditadura foi marcada por inúmeras dificuldades. O problema era que o PDS elegeu a maioria dos convencionais na eleição de 1982, portanto, no Colégio Eleitoral, com o PDS unido, era uma empreitada difícil.

A oposição tinha que conseguir 2/3 dos votos, ou seja, 320 de um total de 479. O PDS tinha 235 deputados e 69 senadores, o que tornava complicado, sem uma rachadura na base do Governo, eleger um candidato da oposição. Assim mesmo, o PMDB e os demais partidos foram para as ruas e para o parlamento exigir “Diretas Já”.

No segundo semestre de 1983, começaram as primeiras articulações para o lançamento da campanha pelas “Diretas”. O primeiro comício foi realizado em Goiânia, em outubro, com a presença de poucos mais de 5.000 pessoas. O ato foi tímido, porém estava presente parcela importante dos líderes de oposição. Esse comício também serviu para mostrar aos mais recalcitrantes que era possível convocar a população para empunhar a bandeira das 13

diretas. Em novembro, realizou-se um ato em São Paulo com a presença de sindicalistas, estudantes, líderes comunitários, partidos políticos, entre outros, com razoável repercussão.

Em outubro de 1983, governadores de oposição se reuniram em Foz do Iguaçu, Paraná, para debater a situação econômica e política do Brasil. Ao final do encontro foi elaborada uma nota em que os representantes dos Estados se colocavam a favor das eleições diretas para a sucessão de Figueiredo.

No início de 1984, em Brasília, foi realizada uma reunião com líderes da oposição: Lula, Brizola, Fernando Henrique, José Richa, Franco Montoro, Ulysses Guimarães, Miguel Arraes, Mário Covas, entre outros, com o objetivo de intensificar a luta pelas diretas. Alguns dias depois, em São Paulo, a convite do governador paulista Franco Montoro, foi realizado um amplo encontro com a maioria dos representantes partidários e governos de oposição para tratarem das “Diretas”.

No início de 1984, começaram a brotar nas cidades maiores, notadamente nas universidades e instituições da sociedade civil, iniciativas políticas objetivando pressionar o Congresso pela aprovação de uma emenda que recuperasse as eleições diretas para Presidente da República. A Ordem dos Advogados do Brasil criou comitês para divulgar as ações políticas que estavam em curso na época. A imprensa, na sua grande maioria, aderiu à tese das “Diretas”. Junto com ela, veio também parcela importante dos artistas e intelectuais.

“O primeiro comício de 1984 aconteceu em Curitiba em 12 de janeiro e reuniu 20 mil pessoas. No dia seguinte, oposicionistas, entre eles, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves fizeram uma caminhada pelas ruas de Porto Alegre. No dia 25, aniversário de São Paulo, 300 mil pessoas aplaudem as “Diretas Já” na Praça da Sé. Depois, vêm os comícios gigantescos de Belo Horizonte, Porto Alegre, Goiânia, Londrina, Porto Alegre, Pelotas, São Luís, Natal, Petrolina, Olinda, Fortaleza e outros.” (Couto, 1999, p.327).

As lideranças políticas de Mato Grosso do Sul estavam integradas ao trabalho político pelas “Diretas”. Dia 11 de janeiro, o vice Governador de MS, 14

Ramez Tebet, participou de uma reunião em São Paulo com representantes dos partidos políticos e governos de oposição com o objetivo de definir as principais ações da campanha pelas “Diretas Já”. Ramez Tebet rememora esse evento:

“Por iniciativa do Governador de São Paulo, Franco Montoro, houve uma convocação a todos os governadores de oposição para comparecer ao palácio Bandeirante, a fim de discutir a situação da política nacional (...) Wilson Martins não pôde comparecer ao evento e me pediu para apresentálo (...) O manifesto de convocação à nação brasileira, para a luta pelas diretas, com realização de comícios por todo país, foi assinado por 10 governadores e por um vice-governador, que era eu, representando o Estado do Mato Grosso do Sul. Isso me orgulha muito”.

Arquivo do Jornal Diário da Serra

Com o retorno de Ramez Tebet a Campo Grande, houve um entendimento dele com o advogado René Siufi, presidente da OAB, seção de MS, e com lideranças de oposição para ampliar no estado a campanha pelas diretas. Foi criado o Comitê Pró-Diretas, entidade suprapartidária composta pelo PMDB, PT, PDT e por várias entidades da sociedade civil, como associações de bairro, sindicatos, diretório estudantil entre outros.

De acordo com o Jornal “Diário da Serra” de 8 de fevereiro de 1984, milhares de pessoas:

“Saíram às ruas de Campo Grande, lideradas pelo vice-governador do Estado, Ramez Tebet e pelo Presidente da Ordem dos Advogados de 15

Campo Grande, René Siufi, com cartazes e entoando palavras de ordem para exigir as Diretas Já. A caminhada começou às 16 horas e percorreu as principais ruas do centro da cidade indo encerrar na estação rodoviária.”

No dia 20 de Agosto, na Câmara Municipal de Campo Grande, de acordo com o Jornal “Diário da Serra”, reuniu-se um grupo de 150 mulheres, tendo a frente Zilfa Andrekowski, Jussimara Bacha, Mariza Valente, Amélia Santana, Célia Maria e outras, para fundar o Comitê Feminino Pelas “Diretas Já”. Dois dias depois, as mulheres organizaram uma grande passeata pelas ruas de Campo Grande exigindo eleições diretas.

Nesse mesmo dia, milhares de estudantes secundaristas e universitários liderados pela JPMDB saíram às ruas da cidade para também exigir eleições diretas. Vieram caravanas de estudantes de Corumbá, Três Lagoas, Paranaíba, Dourados e Ponta Porã. Em fevereiro, por unanimidade, os vereadores de Campo Grande aprovaram moção de apoio às eleições diretas.

Em 26 de fevereiro, em Ivinhema, foi promovido um ato público em prol das eleições diretas com a presença de mais de três mil pessoas e as participações de Geraldo Espíndola, Beto e Betinha, João José de Sousa Leite, Edson Silva e outros artistas e políticos. Além de Ivinhema, aconteceram eventos pelas Diretas Já em Corumbá, Três Lagoas, Dourados, Aquidauana e Ponta Porã.

Além dos atos realizados no Estado, lideranças políticas de Mato Grosso do Sul participavam dos grandes comícios que se realizavam em outras capitais. Ramez Tebet discursou no comício que foi realizado na Candelária, no Rio de janeiro, no dia 10 de abril, evento que teve a presença de mais de 300 mil pessoas. Ramez Tebet também participou do comício realizado em São Paulo, em 16 de fevereiro, no Anhangabaú, que teve a presença de um milhão de pessoas.

Emenda Dante de Oliveira

A votação da Emenda Dante de Oliveira foi marcada para o dia 24 de abril. Antes, o Governo, como forma de proteger seus congressistas, aprovou uma 16

lei prevendo eleição direta para 1988, mas, mesmo assim, a oposição continuou se mobilizando para garantir o sucesso da emenda apresentada por Dante de Oliveira.

Em Campo Grande, a exemplo das demais capitais, foi marcado para o dia 24 de março, um grande comício. Ao longo da semana que antecedeu esse evento, houve várias atividades políticas pela cidade com o objetivo de convocar a população para o ato.

Comício pelas “Diretas Já” em Campo Grande. Arquivo Valter Pereira.

Os professores da Universidade Federal desenvolveram várias atividades em parceria com os alunos, como forma de mobilizar a comunidade acadêmica. Os sindicatos, através da CGT e da CUT, participaram ativamente do processo de organização do ato. O mesmo procedimento foi adotado pelos líderes comunitários que, com ajuda de simpatizantes da causa das diretas, conseguiram ônibus e outros meios de transporte para trazer a população dos bairros para o centro da cidade.

O comício em Campo Grande teve inicio às 13 horas com apresentação de artistas regionais. A partir das 19 horas, começou a segunda parte do evento que tinha como atrações: Fafá de Belém, Belchior, Cristiane Torloni, Bety Mendes, além dos políticos Íris Resende, Dante de Oliveira, Doutel de Andrade, José Richa, Tancredo Neves, Wilson Fadul, Antônio Carlos de Oliveira, Orestes Quércia, Ulysses Guimarães, Wilson Martins, Marcelo Miranda e outros.

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Comício pelas “Diretas Já” em Campo Grande. Arquivo: Jornal Diário da Serra

O comício aconteceu na Avenida Afonso Pena com a 14 de julho, e teve a participação de mais de 20 mil pessoas. Do interior vieram muitas caravanas, inclusive alguns prefeitos que fizeram questão de comparecer ao ato e anunciar suas presenças. De acordo com ex-Deputado Valter Pereira, um dos oradores da noite, “o comício, sem dúvida, foi um dos maiores da história de Campo Grande”.

Arquivo Diário da Serra

Em que pese ao esforço da população e dos políticos de oposição, a Emenda Dante de Oliveira foi derrotada na noite de 25 de abril de 1984 por 18

uma diferença de 24 votos. A Emenda precisava de 320 votos, mas só conseguiu 298, sendo 55 votos de deputados do PDS que votaram com a oposição. Logo após a votação, sem perda de tempo, o PMDB começou a juntar forças para derrotar o PDS no seu campo, ou seja, no Colégio Eleitoral.

Tudo o que aconteceu nos meses que antecederam a votação da emenda, particularmente a vontade da população em escolher diretamente seu presidente, mexeu muito com as principais lideranças do PDS, a ponto de eles não mais se entenderem sobre o candidato de consenso que iria ser apresentado no colégio eleitoral. Em pouco tempo, iniciou-se no seio do PDS, uma briga em função do lançamento da candidatura de Paulo Maluf, que rachou irremediavelmente o PDS.

Aos poucos, os principais caciques políticos do PDS: Aureliano Chaves, Sarney, Marcos Maciel, Antônio Carlos Magalhães e outros, deixaram o governo e ingressaram na campanha de Tancredo Neves ao Colégio Eleitoral, que se reuniu no dia 15 de janeiro de 1985, oportunidade em que elegeram Tancredo Neves como Presidente da República do Brasil. No entanto, Tancredo faleceu em 21 de abril de 1985, assumindo seu vice, José Sarney, que deu prosseguimento, com dificuldades, à instalação da Nova República.

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9) JUVÊNCIO NA PREFEITURA DE CAMPO GRANDE

O PMDB chegou ao ano de 1985 muito forte. O partido governava MS e algumas prefeituras, inclusive Campo Grande. No início de 1985 começou, timidamente, a disputa para escolher o candidato do partido à Prefeitura de Campo Grande. Surgiram três nomes com boas condições de competir: Valter Pereira, deputado estadual; Juarez Marques, secretário de Estado de Justiça de Mato Grosso do Sul e Harry Amorin, ex-governador e deputado federal.

A direção do partido aparentemente deixou que os três candidatos se viabilizassem. Havia alguma segurança de que qualquer candidato que o partido apresentasse ganharia o pleito. Antes, porém, o deputado federal Sérgio Cruz, que também pretendia disputar esse cargo, se sentiu desconfortado e saiu do PMDB para ser candidato pelo PDT à Prefeitura de Campo Grande.

Durante meses, foram intensas as negociações objetivando escolher o candidato de consenso do PMDB, porém os postulantes se mostravam irredutíveis. Estava em jogo a eleição de governador, marcada para 1986. Se Harry Amorin ganhasse a indicação, aumentavam as chances de Lúdio Coelho ser escolhido candidato ao governo em 1986, mas se Valter Pereira ou o Juarez Marques fossem os vencedores, o candidato poderia ser Marcelo Miranda.

Foto: Arquivo do Jornal Diário da Serra

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Para resolver o impasse, surgiu a idéia de se fazer uma pré-convenção. Pelo voto secreto seria escolhido o novo diretório do partido que, por sua vez, faria a convenção e indicaria o candidato do partido a prefeito. Com essa alternativa, na verdade, veio outra disputa: quem ganhasse o diretório, em tese, ganharia também o direito de ser indicado pelo partido para disputar a prefeitura de Campo Grande. Aí, o trabalho político se intensificou para as três chapas.

Nos dias que antecederam o evento, os pré-candidatos Valter Pereira, Juarez Marques e Harry Costa fizeram um grande número de filiações. No dia 07 de julho de 1986, no ginásio Lúcia Martins Coelho, compareceram mais de 12 mil pessoas, munidas de cartazes, faixas, instrumentos musicais e outros apetrechos típicos de uma grande festa para escolher uma das três chapas: “Novos Rumos”, liderada por Valter Pereira; “Nova República”, por Juarez Marques; e “Tancredo Neves”, liderada por Harry Amorim.

Foto: arquivo do Jornal Diário da Serra A organização do evento foi desastrosa. Valter Pereira lembra que “essa convenção foi a maior já realizada pelo PMDB para escolha do Diretório. Foi grande na quantidade de gente e generosa em erros e desorganização. Houve muita improvisação. Inclusive um recipiente de lixo foi usado como urna”.

A chapa liderada por Harry Amorim ganhou a convenção, mas em função da desorganização, o resultado foi desconsiderado pelo partido. Nem Valter Pereira, nem Juarez Marques se dispuseram a apoiar Harry Amorim. 21

A disputa continuou acesa. Uma nova rodada de negociação foi realizada com o objetivo de escolher o candidato. Desse modo, as negociações foram feitas pelos líderes partidários: Wilson Martins, Lúdio Coelho e Marcelo Miranda. A alternativa encontrada foi apresentar outro nome com capacidade para unir o partido. Eis que surgiu o nome do vereador Juvêncio César da Fonseca.

“Marcelo Miranda e Wilson Barbosa vinham tentando encontrar um candidato para a prefeitura de Campo Grande, porque não havia consenso entre os três que estavam na disputa. O meu nome sempre aparecia como vice de um ou de outro candidato. Na famosa reunião na casa de Wilson, o Marcelo pediu para inverter a chapa, ou seja, para colocar o meu nome na cabeça. Aí, o Lúdio falou: eu aceito se o vereador Francisco Maia for o vice. A proposta foi aceita e eu fui para a campanha”, lembra Juvêncio.

O nome de Juvêncio da Fonseca precisava ser referendado pela convenção do partido, organizada especialmente para esse fim, mas, como a legislação permitia, surgiu outro candidato para disputar com Juvêncio da Fonseca a indicação do partido. O vereador Américo Nicolat registrou seu nome e foi para a convenção, mas como a indicação de Juvêncio da Fonseca era produto de um grande acordo que envolvia a cúpula e as bases do partido, Américo Nicolat teve pequena votação e se contentou em ser candidato à reeleição.

Foto: arquivo: Jornal Diário da Serra 22

Além de Juvêncio da Fonseca, concorreram à prefeitura de Campo Grande Levy Dias, pelo PTB; Sérgio Cruz, pelo PDT; Euclides de Oliveira pelo PCB e Jandir de Oliveira pelo PT.

Juvêncio começou a campanha com 3% das intenções de voto contra 53% de Levy Dias, mas, pela força do partido, ganhou o pleito conquistando 63.565 votos, sendo seguido por Levy Dias com 38.136; Sérgio Cruz com 12.474; Euclides de Oliveira com 3.221 e Jandir de Oliveira com 1.057 votos.

Além de Campo Grande, nesse ano o PMDB conquistou as prefeituras de Antônio João, com Iber da Silva Xavier; Aral Moreira, com Bento Marques; Bela Vista, com Abrão Zacarias; Caracol, com Jovino Godoy; Corumbá, com Hugo Silva da Costa; Eldorado, com Guaracy de Miranda; Iguatemi, com Nilzo Peixoto; Ladário, com Nivaldo Ferreira; Mundo Novo, com José Carlos da Silva, e Ponta Porã, com Aires Marques. Nesses municípios, ou por comporem a faixa de fronteira, ou por serem, naquela época, considerados como de segurança nacional, até 1985, os prefeitos eram indicados.

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10) MARCELO MIRANDA NO GOVERNO

O PMDB nas eleições de 1986 estava vivendo um momento muito importante da sua história. Além do crédito acumulado com a população por ter liderado a luta contra a ditadura militar, o Governo Sarney, em fevereiro, sob a liderança de Dílson Funaro, criou o Plano Cruzado, iniciativa que permitiu gerar milhares empregos e dinamizar a economia.

Antes, porém, ainda em 1985, o Governo Federal tinha adotado um conjunto de iniciativas tais como: a legalização da UNE - União Nacional dos Estudantes - e das Centrais Sindicais, a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, a legalização dos partidos políticos proscritos e o rompimento com o FMI - Fundo Monetário Internacional (Sousa, 1988, p.17).

Com base nessas mudanças, a população percebeu que, embora com erros, como ficou claro mais tarde, o cruzado mudou completamente o perfil da economia e apontou um caminho diferente para atacar as causas da estagnação econômica e social do Brasil. Ao invés dos receituários do FMI que se baseavam em corte dos investimentos públicos, o Brasil preferiu crescer com uma política heterodoxa, diferente, que combinava crescimento econômico com investimento social. Isso aumentou a massa salarial e o poder de compra da população. Por isso mesmo, a população continuou votando no PMDB para a escolha de governador de Estado, Senador, Deputado Federal e Estadual.

O partido em Mato Grosso do Sul, animado com a Nova República, organizou uma forte chapa para concorrer às eleições desse ano. O candidato Marcelo Miranda vinha se preparando para essa disputa desde 1983, quando declinou do convite feito pelo Governador Wilson Martins para ser prefeito de Campo Grande.

Marcelo Miranda construiu sua candidatura com muito cuidado. O problema era que o PMDB tinha outro nome: Lúdio Martins Coelho que também queria ser candidato ao Governo. Lúdio havia sido prefeito de Campo Grande e gozava de muito prestígio, porém em função do amplo apoio, galvanizado por Marcelo Miranda, percebendo que poderia perder a indicação na

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convenção, resolveu sair do partido para ser candidato ao mesmo cargo pelo PTB.

Marcelo Miranda foi indicado candidato ao Governo do Estado, em 1986, tendo como companheiro de chapa o médico George Takimoto do PFL. Outros partidos como PDT e PCB também participaram da coligação encabeçada por Marcelo Miranda.

Para o Senado, o partido apresentou os nomes: Wilson Martins, Rachid Saldanha Derzi, Totó Câmara e Roberto Orro. Para deputado federal foram apresentados 11 nomes e para estadual, 12.

Os partidos de oposição apresentaram dois candidatos ao governo: o PTB lançou o nome de Lúdio Coelho e o PT lançou o economista Luís Landes da Silva. Para o Senado, o PTB lançou o ex-governador Pedro Pedrossian e o produtor rural Paulo Coelho Machado. O PT apresentou para o Senado o arquiteto Elvio Garabini e Geraldo Biancatelli.

A linha política adotada pelo candidato Lúdio Coelho cujo vice era Paulo Coelho Machado, teve como centro o anticomunismo. Procurou por todas as formas ligar Marcelo Miranda aos comunistas. O PMDB concentrou parte da sua campanha na defesa do plano cruzado e no debate dos problemas do Estado, estratégia que se mostrou correta e facilitou a vitória.

A coligação PMDB/PFL/PDT/PCB conquistou 412.974 votos contra 243.26 da coligação liderada por Lúdio Coelho. O candidato do PT Luís Landes da Silva, teve 16.664 votos. Para o Senado, foram eleitos Wilson Martins, com 240.468 votos e Rachid Saldanha Derzi com 215.356. Os demais candidatos vencidos foram Pedro Pedrossian, com 230.671 votos; Paulo Coelho, com 162.201; João Totó, com 119.958; Roberto Orro, com 115.428; Adir Pires, com 21.757; Marco Lúcio, com 17.713; Elvio Garabini, com 16.547 e Geraldo Biancatelli, com 13.295 votos.

O PMDB também conquistou quatro vagas na Câmara Federal, com Valter Pereira, Rubem Figueiró, Ivo Cerzózimo e Plínio Martins. Na Assembléia Estadual, a performance do partido também foi tranqüila. Das 24 vagas que o parlamento estadual ofereceu, 12 foram conquistadas pelo PMDB, com 25

André Puccinelli, Pedro Dobes, João Leite Schmidt, Akira Otsubo, Onevan de Matos, Jonatam Barbosa, Cláudio Valério, Carlos Froés, Ricardo Bacha, Valdenir Machado, Bendito Leal e Oséias Pereira.

O PMDB conquistou o Governo de quase todos os Estados: Acre, com Flaviano de Melo; Alagoas, com Fernando Collor de Mello; Amazonas, com Amazonino Mendes; Ceará, com Tasso Jereissati; Espírito Santo, com Max Mauro; Goiás, com Henrique Santillo; Maranhão, com Epitácio Cafeteira; Mato Grosso, com Carlos Gomes Bezerra; Mato Grosso do Sul, com Marcelo Miranda; Minas Gerais, com Newton Cardoso; Pará, com Hélio Gueiros; Pernambuco, com Miguel Arraes; Piauí, com Alberto Silva; Paraná, com Álvaro Dias; Rio de Janeiro, com Moreira Franco; Rio Grande do Norte, com Geraldo Melo; Rio Grande do Sul, com Pedro Simon; Rondônia, com Jerônimo Santana; Santa Catarina, com Pedro Ivo Campos e São Paulo, com Orestes Quércia. No Congresso Nacional, o partido conquistou 273 vagas para Deputado Federal e 43 para o Senado.

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11) ELEIÇÃO PARA PREFEITO EM 1988.

Em 1988, o PMDB disputou uma eleição muito difícil para a Prefeitura de Campo Grande contra Lúdio Martins Coelho. Embora o candidato do partido, Plínio Martins, fosse um dos melhores quadros da política de Mato Grosso do Sul, inclusive já tinha sido prefeito de Campo Grande, em 1966, a iniciativa não obteve êxito.

Na centro Wilson Martins e Plínio Martins. Foto: arquivo do

Jornal

Diário da Serra

Lúdio Coelho do PTB ganhou a eleição ao conquistar 111.266 votos. Plínio Martins obteve 44.402, Nilton Cezar (PDC), 7.704; Alcides Farias (PT), 7.064 e Alan Pithan (PCB), 922.

Para a Câmara de Vereadores de Campo Grande, o partido elegeu Armando Tibana, Edgar Lopes, Elias Dib, Flávio Renato, Frederico Valente, Rui de Oliveira, Vicente Maximiano e Wilson Oshiro. Ao todo, no Estado, o PMDB conquistou nessa eleição 299 vereadores em 71 municípios.

O partido conseguiu ganhar 26 prefeituras: Angélica, com José Carlos Barbosa; Antônio João, com Ovaldete Coinete; Aparecida do Taboado, com Antônio Vicente; Bandeirantes, com Nailo Soares Vilela; Bataguassu, com Antônio Machado de Souza; Bataiporã, com Jerce Eusébio de Souza; Caarapó, com Quinto di Domenico; Coronel Sapucaia, com José Elodir 27

Bender; Corumbá, com Fadah Scaff Gattas; Dourados, com Antônio Braz Melo; Iguatemi, com Darci Thiele; Itaquiraí, com Renato Tonelli; Ivinhema, com Manoel Felix Nelito Câmara; Jaraguari, com Áureo Franco Vilela; Jardim, com Joelson Martines Peixoto; Maracaju, com Luiz Gonzaga Prata Braga; Naviraí, com Onevan José de Matos; Nioaque, com Anastácio Martins Corone; Pedro Gomes, com Moisés Jajah Nogueira; Ponta Porã, com Carlos Furtado Fróes; Porto Murtinho, com Heitor Miranda dos Santos; Rio Negro, com Eronias Cândido de Rezende; Rochedo, com Adão Pedro Arantes e Sidrolândia, com Daltro Fiúza.

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12) A ELEIÇÃO PARA GOVERNO EM 1990

As eleições de 1990 aconteceram em um ambiente político e econômico muito desfavorável para o PMDB. Essa situação estava relacionada, sobretudo com o fracasso da política adotada nos últimos anos do Governo Sarney, ou seja, o entusiasmo gerado com o plano cruzado terminou em grande frustração popular, o que afetou a imagem do partido. Havia também outras dificuldades.

Para se ter uma idéia, a inflação no final do Governo Sarney, notadamente de fevereiro de 1988 a fevereiro de 1989, chegou a 2.751%. A tentativa feita por Sarney, a fim de estender seu mandato para 5 anos, serviu para que a oposição abrisse 25 CPI’s - Comissão Parlamentar de Inquérito -, todas com o objetivo de investigar o Governo Federal. Essa situação criou muitos problemas para Ulysses Guimarães, candidato à Presidência da República e para os candidatos ao Governo dos Estados.

O governo Marcelo Miranda terminou o seu mandato em meio a pesadas críticas da oposição, inclusive com o prédio da governadoria ocupado por funcionários públicos em greve, comandados pelo PT. Nesse clima, não havia condições para se lançar um candidato com chance de vitória.

Porém, as bases do partido, parlamentares e vários prefeitos, concentraram esforços para que fosse lançado um candidato ao governo do PMDB. O nome mais cogitado era o do ex-prefeito de Campo Grande, Juvêncio César da Fonseca.

O partido vivia um momento de pouca luta política interna em função da situação do Governo e, também, por ter perdido a Prefeitura de Campo Grande, além de várias lideranças importantes que migraram para o PSDB. Nessa situação, poucas pessoas passaram a decidir os rumos do partido, inclusive, o nome do candidato ao Governo.

O dirigente partidário João Leite Schimidt trabalhava com a idéia de indicar como candidato do partido ao governo do Estado, o ex-deputado federal, então Secretário de Estado da Agricultura, Flávio Derzi.

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As bases do partido queriam Juvêncio da Fonseca, porém, provavelmente porque não tinha força política para impor o seu nome, o ex-prefeito abdicou da sua candidatura e seguiu o caminho do Senado.

Por outro lado, o nome de Flávio Derzi não “decolou”. Não crescia nas pesquisas. Por isso, ele desistiu e foi candidato a deputado federal pelo PP.

Devido a uma sucessão de erros crassos, fruto da baixa participação das bases do partido nas decisões, o PMDB, contraditoriamente, decidiu apoiar o deputado Gandi Jamil, do PDT, para o Governo do Estado, tendo como vice Celina Martins, filha de Wilson Martins.

Para visualizarmos melhor esse quadro, ouvimos os principais líderes que conduziram, de alguma forma, as negociações nessa eleição.

João Leite Schimidt: “O PMDB tinha condição de lançar candidato. Eu advoguei então, a candidatura do Flávio Derzi. O Juvêncio da Fonseca queria ser candidato e eu falei para ele que o Marcelo Miranda não terminaria bem o governo e, por isso não teria condição de ele ganhar a eleição (...) Era melhor ele ser deputado federal e depois voltar para a prefeitura de Campo Grande (...) Com Flávio Derzi era possível ganhar a eleição porque ele era de outro espectro político, da fronteira, ligado aos Coelhos. Também, porque Pedro Pedrossian não estava bem. Aí o Doutor Wilson saiu do partido para não apoiar o Flávio, embora tivesse concordado, inicialmente, com o nome do Flávio Derzi em reunião que fizemos em seu escritório. (...) Depois o Gandhi Jamil saiu candidato e Wilson Martins lançou sua filha de vice, e o Juvêncio foi para o Senado”.

Wilson Barbosa Martins: “Da articulação do nome do Gandi Jamil eu não participei. (...) Eu estava em Brasília e me manifestei contrariamente à articulação do nome dele para candidato a Governador. O meu desejo era que minha filha também não ocupasse o cargo de vice na chapa de Gandi Jamil. Quando cheguei aqui para assistir à convenção do PSDB, os fatos já estavam lançados e o Gandi era o candidato de uma frente de partidos que incluía o PSDB (...) Eu votei, naquela ocasião, de acordo com meu irmão Plínio Martins. Votei no nome do deputado federal Saulo Queiroz para ser o candidato do PSDB ao Governo do Estado. Aconteceu que nossa tese foi 30

derrotada na convenção do PSDB, o partido preferiu seguir com Gandhi Jamil. (...) Essa campanha não deu resultado profícuo e nós perdemos. Perdemos também o companheiro Plínio Martins que, nessa ocasião, abandonou a atividade política”.

Marcelo Miranda: “O final da minha administração não foi um final que desse a mim a possibilidade de lançar um candidato para ganhar a eleição (...) Dificilmente alguém aceitaria ser candidato de um governo naquelas condições, com o salário dos funcionários em atraso e a governadoria ocupada por alguns sindicalistas”.

Juvêncio da Fonseca: “O meu nome foi lembrado para disputar o Governo, mas João Leite Shimidt lançava o nome de Flávio Derzi. Insistia em Flávio Derzi. Os convencionais chegaram a fazer movimento na cidade. Os prefeitos municipais fizeram um movimento em cima do meu nome, mas a articulação política passava por Marcelo Miranda e por João Leite Schimidt que

diziam

que

tinha

de

ser

Flávio

Derzi.

Isso

provocou

um

descontentamento muito grande dentro do PMDB, tanto foi assim, que Wilson Martins, André Puccinelli, Ramez Tebet e outros foram para o PSDB”.

Além de Gandhi Jamil para o governo, o partido lançou Juvêncio da Fonseca para o Senado. Para disputar a Câmara Federal, o partido lançou 4 candidatos e para a Assembléia Estadual, 16 candidatos. O candidato do PMDB à Presidência da República foi Ulysses Guimarães.

O PTB lançou Pedro Pedrossian ao Governo e Levy Dias ao Senado. O PT apresentou Manoel Camargo Bronze para o governo e Pedro Teruel para o Senado.

No meio da campanha, em setembro, Gandhi Jamil resolveu renunciar à candidatura e entregou a vaga a Wilson Martins para ele escolher um novo candidato. Wilson Martins convocou Schimidt, Marcelo Miranda, Plínio Rocha e outros próceres do partido para resolver o impasse. Ao final da consulta, ficou certo que Wilson Martins assumiria a disputa no lugar de Gandhi, porém, dois dias depois, Gandhi Jamil resolveu retomar sua candidatura. Nessa altura, ficou claro para muita gente do partido que a eleição estava perdida. Que foi um grande erro ter apostado nessa opção. 31

O resultado dessa eleição foi desfavorável para o PMDB. O candidato vitorioso foi Pedro Pedrossian que obteve 417.589 votos, seguido de Gandhi Jamil com 217.289 votos. Manoel Bronze teve 68.346 sufrágios. Para o Senado foi eleito Levy Dias, que obteve 301.752 votos, seguido de Juvêncio da Fonseca com 279.752 votos. O candidato do PT, Pedro Teruel, conseguiu 49.121.

Para a Câmara Federal, o partido elegeu Valter Pereira. Para a Assembléia Legislativa foram eleitos 3 deputados: Valdenir Machado, Waldemir Moka e Franklin Masruas.

O PMDB elegeu 7 governadores: Gilberto Mestrinho no Amazonas; Íris Resende em Goiás; Jader Barbalho no Pará; Ronaldo Cunha Lima na Paraíba; Roberto Requião no Paraná; Luiz Antônio Fleury Filho em São Paulo e Moisés Avelino no Tocantins.

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13) JUVÊNCIO VOLTA À PREFEITURA DE CAMPO GRANDE

A eleição municipal de 1992, em Mato Grosso do Sul, foi mais tranqüila que a de 1990. Nesse ano, em que pese às dificuldades, o partido apresentava boas chances de vencer o pleito municipal e conquistar uma grande bancada de vereadores.

A conjuntura era outra. Parte importante dos dirigentes do partido que foi para o PSDB em fevereiro de 1990, retornou ao PMDB em abril de 1992, a tempo de participar das eleições.

A estratégia, de acordo com o ex-deputado federal Valter Pereira, Presidente do Partido na época, consistiu em trazer os quadros do partido que estavam em outras agremiações. Voltaram lideranças como Wilson Martins, André Puccinelli, Ramez Tebet e outros. Em pouco tempo, o PMDB se preparou para conquistar a prefeitura de Campo Grande e o Governo do Estado.

Diretório Estadual do PMDB. Da esquerda para a direita Nilson Araújo, André Pucinelli, Waldemir Moka, Franklin Mashua, Valdenir Machado, Frederico Valente, Onevan de Matos, Dagoberto Nogueira, Alfredo Sulzer,

Pérsio Andrade, Edil Albuquerque, Braz Melo, Juvêncio da

Fonseca, Wilson Martins,Ramez Tebet e Valter Pereira. Arquivo: Alfredo Sulzer

O nome de Juvêncio da Fonseca era o mais forte do partido para disputar a eleição de Campo Grande. Ele tinha feito uma grande administração e com isso ganhou notoriedade como administrador que trabalhava em parceria 33

com a comunidade. Em maio de 1992 Juvêncio recebeu apoio político do Governador do Estado, Pedro Pedrossian. Com o apoio do Governo e com a força do PMDB, a sua campanha tinha tudo para ser vitoriosa.

O apoio de Pedro Pedrossian ao PMDB não era bem visto pela militância do partido e pelas principais lideranças. Havia uma velha “rusga” política entre ele e o PMDB.

Juvêncio da Fonseca, por sua vez, entendia que era

fundamental o apoio do então governador para sua eleição.

“Eu fiz questão de explicar para Wilson Martins e outros militantes do partido que havia um entendimento entre eu e o Pedro Pedrossian. Era a forma que eu tinha encontrado para enfrentar Marilú Guimarães que tinha o apoio do Lúdio Coelho. Wilson Martins, não sem reclamar, terminou entendendo a situação e apoiou a minha candidatura à Prefeitura de Campo Grande”, explica Juvêncio da Fonseca.

O entendimento foi fechado e Pedro Pedrossian indicou o engenheiro Heráclito de Figueiredo como vice de Juvêncio. O PFL apresentou Marilú Guimarães como candidata à Prefeitura da capital, o PT indicou Zeca do PT, o PSC apresentou Alberto Rondon, o PDT lançou Loester Nunes e o PV saiu com Carlos Leite.

A eleição ocorreu em dois turnos: no primeiro, Juvêncio conseguiu 73.543 votos; Marilú Guimarães, 54.145; José Orcírio, 42.042; Alberto Rondon, 23.172; Loester Nunes, 18206 e Carlos Leite, 2.883. No segundo turno, Juvêncio conquistou a prefeitura de Campo Grande ao obter 115.432 votos contra 100.123 de Marilú Guimarães.

Para a Câmara de Vereadores de Campo Grande, foram eleitos João Pereira, Abadio Resende, Elias Dib, João Samper, Márcio Matozinho, Mário Arruda, Santos Pereira e Sérgio Martins.

O PMDB conquistou as prefeituras de Alcinopólis, com Alcino Fernandes; Angélica, com Valdir Basílio de Lima; Bataguassu, com Ailton Pinheiro Ferreira; Bataiporã, com João Jamil Mello; Bela Vista, com Abraão Zacarias; Bodoquena, com Ramão Francisco; Caarapó, com Takeioshi Nakayama; Caracol, com Júnior Godoy; Chapadão do Sul, com Elo Ramiro Loeff; Costa 34

Rica com Getúlio Ribas; Coxim, com Moacir Kohl; Iguatemi, com Nilzo Otano Peixoto; Ivinhema, com Antônio de Pádua Diogo; Japorã, com Luiz Bezerra; Nova Andradina, com Francisco Dantas Maniçoba; Sonora, com Luiz Carlos Simões; Taquarussu, com Edson Guagliano e Terenos, com Alonso Rezende.

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14) WILSON MARTINS VOLTA AO GOVERNO

Em 1994, o PMDB chegou às eleições para o Governo do Estado em melhores condições. O trabalho de reorganização partidária, que começou em 1992, preparou o partido para os novos embates políticos.

O PMDB ganhou capilaridade para disputar, com chances, as eleições desse ano, que foi precedida de intensa disputa interna entre Wilson Martins e João Leite Schimidt.

O ex-deputado federal João Leite Schimidt, que na ocasião ocupava o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, foi convidado em novembro de 1993 pelo Governador Pedro Pedrossian, para ser candidato ao Governo do Estado. Surpreso com o convite, ele deu a seguinte resposta ao Pedro:

“Eu falei para ele que não estava em condições de ouvir aquela proposta porque estava fora da atividade política, mas iria procurar alguns companheiros para saber suas opiniões sobre o convite. Não descartei a iniciativa.”

Enquanto João Leite Schimidt conversava com o ex-deputado Leal de Queirós, Dagoberto Nogueira, professor Nilson Araújo, Franklin Masruas, Marcelo Miranda e outros, Wilson Martins que também queria disputar o Governo do Estado, pacientemente, “costurava” seu caminho ao governo do Estado.

Experiente, deixou que a sua candidatura fluísse naturalmente no partido. Publicamente, negava que fosse candidato, porém nos bastidores articulava sua volta ao executivo estadual. O professor Nilson Araújo de Sousa, Presidente da Fundação Ulysses Guimarães de Mato Grosso do Sul na época, conta uma conversa que teve com Wilson Martins sobre a eleição daquele ano. Essa conversa é importante porque retrata muito bem o método adotado por Wilson Martins de fazer política. Ele não veta ninguém, em princípio, mas pacientemente faz valer sua pretensão, seu ponto de vista.

“Eu perguntei ao Dr. Wilson se ele era candidato ao Governo do Estado. Ele me disse que não, que preferia retornar ao Senado”. Também falou das 36

dificuldades do segundo governo e de outras razões para não ser candidato, mas, quando eu falei que estava indo a uma reunião da Fundação Ulysses Guimarães em Brasília, em que seria tratada, entre outras coisas, a questão da eleição em Mato Grosso do Sul, ele se interessou pela conversa (...) Então, naquele momento, pedi autorização para conversar com outros companheiros sobre seu nome para o governo, ele, discretamente, falou: “você vai mexer o doce. Vamos ver o que vai dar”.

Se Wilson Martins tivesse declarado que era candidato ao Governo do Estado, a candidatura de João Leite Schimidt não se viabilizaria dentro do partido, porém, fiel ao seu método, Wilson Martins manteve o clima de suspense, embora tivesse o controle absoluto da situação. Diz o ex-deputado federal Valter Pereira, que ele “gosta de agir assim para conhecer melhor o adversário ou o parceiro”.

João Leite Schimidt continuou a procurar aliados. Recebeu apoio de parcela importante dos deputados do PMDB, do prefeito Juvêncio da Fonseca, de prefeitos do interior e de outros partidos.

O PMDB E AS PRÉVIAS

Em outubro de 1993, poucos dias antes da realização das prévias que escolheriam pelo voto direto dos convencionais, o candidato do PMDB ao governo, João Leite Schimidt procurou Wilson Martins para avaliar com ele o quadro sucessório e aparar eventuais arestas. Conta João Leite Schimidt que perguntou a Wilson Martins:

“Se ele era candidato ao Governo. Disse que se ele fosse candidato ele seria eleito e tinha meu voto. (...) A resposta de Wilson foi que não era candidato, que estava bem em Brasília que, inclusive, gostaria de indicar talvez o nome de Braz Melo, ex-prefeito de Dourados. Eu aproveitei a oportunidade e falei da conversa que tive com o Pedro Pedrossian. Expliquei em detalhes qual era o projeto, falei que ele voltaria para o Senado nesse entendimento. Foi uma conversa longa. Ele ficou de acordo”.

O Presidente do PMDB na época, Valter Pereira, lembra que o senador Wilson Martins “admitiu para ele, em Brasília, a possibilidade de João Leite 37

Schimidt ser o candidato do partido ao Governo do Estado. Era um projeto em que Wilson Martins seria candidato ao Senado”.

Porém, alguns dias depois dessa conversa, Wilson Martins resolveu disputar a vaga de candidato do PMDB ao Governo do Estado. Aí o clima esquentou entre os dois candidatos. Ambos assumiram publicamente a candidatura que ainda era discreta.

A fim de preparar o partido para a nova modalidade de escolha do candidato, o Diretório Estadual decidiu realizar vários encontros regionais. Neles, debatiam-se as questões partidárias e os problemas do Estado.

Em novembro de 1993, começaram os encontros. Desde o primeiro debate em Nova Andradina, João Leite Schimidt percebeu que tinha poucas chances.

Arquivo:Valter Pereira

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Arquivo: Valter Pereira

A militância, na sua maioria, estava a favor de Wilson Martins. Além do mais, os debates foram tornando-se tensos e agressivos. Antes das prévias marcadas para janeiro de 1994, Schimidt retirou seu nome da disputa e se filiou ao PDT. Em janeiro, conforme programação, foram realizadas as prévias entre a vereadora de Aquidauana Zildete Rodrigues e Wilson Martins. Ela obteve 157 votos, contra 12.421 de Wilson Martins.

Wilson Barbosa foi indicado candidato a Governador do PMDB, tendo como vice Braz Melo, ex-prefeito de Dourados, também do PMDB. As demais agremiações políticas apresentaram os seguintes candidatos ao Governo do Estado: Levy Dias pelo PP, Pedro Teruel pelo PT e Rita de Cássia pelo PRONA.

Arquivo:Valter Pereira

Para o Senado, o PMDB lançou Ramez Tebet. O PP lançou Rachid Derzi. O PSDB lançou o pecuarista Lúdio Coelho. Ari Rigo foi candidato pelo PTB; Alan Pitthan pelo PPS; Ricardo Brandão pelo PT e Francisca Diva representou o PRONA.

Para a Câmara Federal, o PMDB lançou 6 candidatos e para a Assembléia Estadual foram apresentados 23 nomes. Em 1994 também houve eleição para Presidente da República. O partido concorreu com Orestes Quércia, exgovernador de São Paulo.

39

A campanha de 1994 foi relativamente tranqüila. Wilson Martins ganhou no primeiro turno com 392.365 votos; Levy Dias obteve 243.366; Pedro Teruel obteve 73.164 e Rita de Cássia, 21.773 votos.

Os eleitos para o Senado foram Lúdio Coelho com 383.853 votos e Ramez Tebet com 300.777; Ari Rigo obteve 267.130 votos e Rachid Derzi 148.336; Ricardo Brandão teve 9.184 votos e Alan Pitthan 62.200; Francisca Diva ficou com 49.735 votos.

Para a Câmara Federal, o PMDB conquistou 3 vagas: André Puccinelli, Marisa Serrano e Dilso Sperafico. Na Assembléia Estadual, o partido conquistou 5 vagas: Celina Martins, Waldemir Moka, Murilo Zauith, Jerce de Sousa e Nelito Câmara.

Em 1994, o PMDB elegeu 9 governadores: Divaldo Suruagy em Alagoas; Maguito Vilela em Goiás; Wilson Martins em Mato Grosso do Sul; Antonio Mariz na Paraíba; Mão Santa no Piauí; Garibaldi Alves no Rio Grande do Norte; Antônio Brito no Rio Grande do Sul; Valdir Raupi em Rondônia e Paulo Afonso em Santa Catarina.

Para o Senado, o partido elegeu 15 parlamentares e para a Câmara Federal, 107.

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15) ANDRÉ NA PREFEITURA DE CAMPO GRANDE

Em 1996, o PMDB apresentou como candidato à Prefeitura de Campo Grande o deputado federal André Puccinelli. Ele tinha sido muito bem votado em Campo Grande no pleito de 1994. A indicação de André não foi uma tarefa fácil, pois no partido postulavam a mesma indicação, outros dois nomes: Marisa Serrano e Waldemir Moka, ambos com domicílio eleitoral em Campo Grande e com mandatos parlamentares.

André começou a articular sua candidatura em 1994, oportunidade em que, com o conhecimento do Governador Wilson Martins e do Prefeito Juvêncio da Fonseca, transferiu seu domicílio eleitoral de Fátima do Sul para Campo Grande.

Em março desse ano, começaram as consultas para definir o candidato do partido para o pleito de Campo Grande e das demais cidades do Estado. O fato de o PMDB ter o comando do Governo do Estado e de várias prefeituras era um indicativo, em princípio, de efetiva participação. No caso da capital, naturalmente, cada candidato procurava sua base de apoio.

Discretamente, o prefeito Juvêncio da Fonseca dava sinais de que o candidato da sua preferência era o deputado federal Waldemir Moka, um nome com todas as condições para representar o partido. André, por sua vez, contava com o apoio de Wilson Martins e, também, possuía todas as credencias para dirigir os destinos de Campo Grande. Marisa Serrano, mesmo sem ter influência na máquina do partido, desfrutava de inquestionável prestígio político.

Como todos os candidatos tinham o perfil para governar Campo Grande e ninguém abria mão da disputa, o partido fez várias pesquisas qualitativas e quantitativas para identificar o potencial eleitoral de cada um, ou seja, quem reunia naquele momento as melhores condições para disputar e ganhar o pleito. A postura aguerrida de André Puccinelli se destacou nas enquetes. Esse foi um dos fatores preponderantes na sua escolha.

41

Em junho de 1996, foi apresentada na convenção do Partido, a chapa para Prefeito de Campo Grande, composta por André Puccinelli pelo PMDB e o empresário Osvaldo Possari do PSDB como vice.

Os demais partidos concorreram nessa eleição com os seguintes candidatos: Levy Dias pelo PFL, Carlos Leite pelo PL, José Orcírio pelo PT e Nelson Trad pelo PTB.

As primeiras pesquisas indicavam o seguinte quadro estatístico para o segundo turno: André e Zeca estavam praticamente empatados, na faixa de 4% dos votos, enquanto Levy Dias liderava folgadamente com 47% das intenções de voto. O momento exigia do candidato peemedebista um grande esforço. Assim, André e a militância iniciaram um trabalho de corpo a corpo com o eleitor, o que permitiu alterar em pouco tempo os números de intenção de voto a favor do PMDB. Eis como André fala sobre esse trabalho.

“Ninguém supunha que eu e o Zeca fôssemos para o segundo turno. Aí resolvemos visitar cada bairro e casa da cidade (...) Eu me lembro que fazíamos 16 reuniões e 3 comícios por dia. Emagreci 10 quilos ao longo da campanha. Não digo que visitei todas as casas de Campo Grande, mas 70% eu visitei. (...) A disputa era intensa e o slogan do PT era mudança, mas a gente que tinha como slogan a mudança certa, dizíamos: temos que mudar, mas para o lugar certo. Esse slogan foi importante para nossa vitória.”

O resultado do primeiro turno foi o seguinte: Zeca do PT 101.657 votos; André Puccinelli 81.127; Levy Dias 61.505; Nelson Trad 11.957 e Carlos Leite 6.203.

Zeca e André foram para o segundo turno. André Puccinelli venceu o pleito por uma diferença de 411 votos, ou seja, teve 131.124 votos contra 130.713 de Zeca do PT.

Na eleição de 1996, o PMDB conseguiu eleger em Campo Grande os seguintes vereadores: Antônio Cruz, Celso Ianase, Edil Albuquerque, Youssif Domingos e Maria Emília Sulzer.

42

Na totalização geral do pleito, o partido conseguiu 232 vereadores no Estado e 28 prefeitos: Anaurilândia, com Edson Stefano; Antônio João, com Dácio Queiroz; Bandeirante, com Ivaldo Gonçalves Medeiros; Bodoquena, com Jun Iti Hada; Campo Grande, com André Puccinelli; Caracol, com Dilmar da Silva; Coxim, com Oswaldo Mochi; Deodápolis, com Leonardo da Silva; Dourados, com Antônio Braz Melo; Eldorado, com Pedro Deodato Balam; Fátima do Sul, com Dílson Deguti; Glória de Dourados, com José de Azevedo; Guia Lopes da Laguna, com Elizeu dos Santos; Iguatemi, com Darci Thiele; Itaporã, com Ariovaldo Maria; Itaquiraí, com Renato Tonneli; Japorã, com Sebastião Aparecido de Souza; Jardim, com Márcio Campos Monteiro; Jateí, com José Carlos Gomes; Miranda, com Ivan Paz Bossay; Andradina, com Luiz Carlos Ortega; Novo Horizonte do Sul, com Adilson José Scapin; Paranaíba, com Diogo Robalinho de Queiroz; Rio Negro, com Eronias Cândido de Rezende; Rio Verde de Mato Grosso, com José de Oliveira Santos; Tacuru, com Abel Augusto Rodrigues; Terenos, com Cláudio Nascimento da Paixão e Três Lagoas, com Issam Fares.

COLOCAR FOTO DA CAMPANHA DE ANDRÉ

43

16)A ELEIÇÃO PARA GOVERNO EM 1998

Em 1998, o partido repetiu o equívoco de 1990 ao não apresentar candidato próprio para disputar a eleição de governador. Optou por participar como coadjuvante da campanha de Ricardo Bacha, do PSDB, mesmo dispondo de bons nomes. Para a candidatura à Presidente da República, o PMDB nacional, contra a decisão das bases do partido, preferiu também se integrar à candidatura de Fernando Henrique Cardoso.

O PMDB, embora não estivesse com as melhores condições políticas, possuía os nomes de Juvêncio da Fonseca, recém-vindo de duas grandes administrações bem sucedidas à frente da Prefeitura de Campo Grande e do prefeito de Campo Grande André Puccinelli que, apesar de estar há dois anos à frente do executivo municipal, já mostrava extraordinária capacidade administrativa e despontava como um forte candidato ao governo do Estado. Havia também a alternativa da reeleição de Wilson Martins.

Todavia nenhum desses nomes foram candidatos. Apesar do esforço feito pelas bases do partido e de parte muito importante dos parlamentares que, em reuniões e depoimentos públicos, defendiam candidatura própria para governador e para Presidente da República.

Os principais atores políticos dessa disputa responderam à seguinte pergunta: Por que o partido não lançou candidato ao governo do Estado em 1988?

André Puccinelli: “Hoje, olhando para trás, reconhecemos que erramos. O PMDB deveria ter tido candidato. Deveríamos ter lançado o Juvêncio da Fonseca. Ele estava no auge porque tinha feito uma boa administração”.

Waldemir Moka: “Em 1998 eu acho que tínhamos condições de lançar candidato ao governo do Estado. Dr. Wilson Martins queria fazer uma renovação e indicou seu ex-secretário de fazenda Ricardo Bacha (...) Eu penso que, se Juvêncio da Fonseca tivesse sido o candidato, o PMDB ganharia a eleição (...) Eu me lembro de uma reunião que a gente tentou mudar o candidato. Inicialmente, Dr. Wilson aceitou, mas depois ele recuou e nós acabamos apoiando o Ricardo Bacha”. 44

Wilson Martins: “A candidatura do Ricardo Bacha de 1998 foi inspirada por mim. Teve uma oposição muito firme do nosso presidente (do PMDB) Ramez Tebet e do Lúdio Coelho que estava no PSDB. Dada a essas divergências, nós obtivemos no primeiro turno uma vitória de 40 mil votos (...) Por razões que devem ser melhor analisadas, houve retardamento na retomada da nossa luta no segundo turno e deserção de companheiros, aí acabamos perdendo o segundo turno para o PT”.

Juvêncio da Fonseca: “Em 1988 o candidato de Wilson Martins era o Ricardo Bacha contra as bases do PSDB e contra a maioria do PMDB. Até o PSDB queria me apoiar (...) Aí, o Dr. Wilson preferiu fazer o Ricardo Bacha candidato. Deu no que deu”.

O problema da candidatura de Ricardo Bacha era que o seu partido não queria o seu nome. Preferia o nome de Juvêncio da Fonseca do PMDB. Nas bases do PMDB, o nome de Ricardo Bacha também não tinha apoio. O partido

queria

disputar

a

eleição

com

candidatura

própria.

Esse

posicionamento foi expresso dezenas de vezes nos debates promovidos pelo PMDB municipal e o regional. Mesmo assim, Ricardo Bacha foi o candidato ao Governo, tendo como vice o deputado Humberto Teixeira, de Dourados.

Os demais partidos lançaram candidatos ao Governo do Estado: O PT apresentou Zeca do PT; O PTB, o ex-governador Pedro Pedrossian; o PRONA lançou Heitor de Aquino. Para o Senado, o PMDB lançou Juvêncio da Fonseca, o PPS lançou Carmelino Resende e o PFL saiu com Saulo Queiroz.

Ricardo Bacha ganhou o primeiro turno da eleição obtendo 309.330 votos, seguido de Zeca do PT com 263.350. Pedro Pedrossian com 220.362 e Heitor com 10.489 sufrágios. No segundo turno, Zeca do PT ganhou o pleito com 548 mil votos. Ricardo obteve 346.466 votos.

O PMDB conquistou uma vaga no Senado com a vitória de Juvêncio da Fonseca, que obteve 384.264 votos, seguido de Carmelino Resende que conquistou 239.500 sufrágios. Para a Câmara Federal, o partido conquistou 2 vagas que foram preenchidas por Waldemir Moka e Marçal Filho. Na 45

Assembléia Legislativa, o PMDB conquistou 4 vagas elegendo Celina Martins, Murilo Zauith, Onevan de Matos e Nelito Câmara.

No plano nacional, o PMDB elegeu 6 Governadores: Joaquim Roriz no Distrito Federal; Itamar Franco em Minas Gerais; José Maranhão na Paraíba; Jarbas Vasconcelos em Pernambuco; Mão Santa no Piauí e Garibaldi Filho no Rio Grande do Norte. O partido também elegeu 107 Deputados Federais e 15 Senadores.

46

17) ELEIÇÃO PARA PREFEITO EM 2000

A eleição de 2000 permitiu ao PMDB conquistar uma grande bancada de vereadores e prefeitos em Mato Grosso do Sul. A principal façanha foi a reeleição de André Puccinelli a prefeito da cidade morena. O trabalho feito por ele no período de 1996/2000 garantiu uma reeleição sem dificuldade.

André ganhou a Prefeitura de Campo Grande no primeiro turno, obtendo 223.312 votos, tendo, como companheiro de chapa, o empresário Osvaldo Possari. O principal opositor foi o candidato do PT, Eurídio Ben-Hur Ferreira que conquistou 69.511 votos.

Também disputaram o cargo de Prefeito de Campo Grande: Mônica Sofhie, do PV, que obteve 16.674 votos; o advogado Carmelino Resende, do PPS, que teve 13.925 votos e Bernardo Elias Lahdo do PL que conquistou 4.347 votos.

O PMDB conquistou 4 vagas na Câmara de Vereadores de Campo Grande com os seguintes candidatos: Márcio Matozinho, Antônio Ferreira Cruz, Celso Ianase e Jamal Salem. Em todo Mato Grosso do Sul, o partido elegeu 117 vereadores em 48 cidades.

Além de conquistar a prefeitura de Campo Grande com André Puccinelli, o partido ganhou as prefeituras de Alcinópolis, com Ildomar Fernandes; Anaurilândia, com Edson Stefano; Angélica, com Gabriel Ferreira; Antônio João, com Dácio Queirós; Bandeirante, com Ivaldo Medeiros; Bataiporã, com Jerce Euzébio; Bodoquena, com Ramão Francisco; Camapuã, com Moises Nery; Costa Rica, com Waldeli dos Santos; Coronel Sapucaia, com Eurico Mariano; Fátima do Sul, com Dilson Deguti; Glória de Dourados, com José de Azevedo; Juti, com Donizete Ferreira; Nova Alvorada do Sul, com Vanildo Sousa; Novo Horizonte, com Adilço José; Paranaíba, com Diogo Robalino; Rio Brilhante, com Paulo Ezio Cubel; Rio Verde de Mato Grosso, com José de Oliveira; Terenos, com Alonso Honostório; Três Lagoas, com Issam Fares e Vicentina, com Francisco Alves.

O sucesso obtido na primeira e na segunda administração de André Puccinelli permitiu que seu nome fosse lembrado para disputar o Governo do 47

Estado no pleito de 2002, mas, como ele próprio fala, em função de mudanças na conjuntura política não aceitou a empreitada.

COLOCAR FOTO DO ANDRÉ

48

18) O PLEITO DE 2002

Em 2002, o PMDB não teve candidato ao governo de Mato Grosso do Sul mesmo tendo todas as condições de ganhar aquele pleito com André, ou com outro nome, como defendiam o secretário geral do PMDB Valter Pereira e o Presidente do partido Waldemir Moka.

Em que pese ao esforço das bases, o partido não apresentou candidato majoritário. Repetiu-se o erro do passado. André Puccinelli, principal nome do partido para aquele pleito, lembra alguns motivos que culminaram com a sua decisão de não disputar a eleição de 2002.

“Em 2002 éramos para ter sido candidato. Já tínhamos seis anos de mandato em Campo Grande e estávamos muito bem. Três fatores fizeram não sermos candidato: primeiro, a população de Campo Grande não queria que eu deixasse a prefeitura para disputar o Governo do estado; segundo, a verticalização desestruturou aquela aliança partidária que tínhamos feito com PFL, PSDB, PTB, PPB e outros; terceiro, pouca estrutura para enfrentar uma batalha que, com a queda da verticalização, ia fazer sair vários partidos da nossa

coligação.

Esses

fatores

acabaram

fazendo

com

que

eu

permanecesse na prefeitura. Reconheço meu equívoco. Demorei a informar aos companheiros que não era mais candidato”.

Sem André Puccinelli ou outro candidato, o partido recorreu ao PSDB, apoiando a tucana Marisa Serrano ao Governo do Estado. Marisa teve como vice o deputado federal do PMDB, Marçal Filho, de Dourados. O pleito foi decidido no 2° turno, pois nenhum candidato obteve 51% dos votos válidos como manda a legislação eleitoral.

No 1° turno da eleição, Zeca do PT obteve 509.843 votos e Marisa Serrano, do PSDB, conquistou 447.396. Moacir Khol, do PDT, teve 55.350 e Carlos Marun, do PTB, 22.488. Cláudio Freire, do PSB ficou com 18.222 votos. No segundo turno, Zeca do PT foi eleito com 581.545 votos e Marisa Serrano conquistou 500.542 sufrágios. Para a Assembléia Estadual, o PMDB elegeu 2 representantes: Celina Marins e Simone Tebet. Para a Câmara Federal o partido elegeu Waldemir

49

Moka. Uma das vagas para Senado foi conquistada pelo PMDB com Ramez Tebet, tendo como suplente o ex-deputado federal Valter Pereira.

50

19) NELSON TRAD FILHO NA PREFEITURA DE CAMPO GRANDE

Em 2004, o PMDB também fez uma destacada bancada de prefeitos e vereadores

em

Mato

Grosso

do

Sul.

Ganhou

pela

terceira

vez

consecutivamente a Prefeitura de Campo Grande com o deputado estadual Nelson Trad Filho, que nessa ocasião contou com o apoio do pai, o deputado federal Nelson Trad, recém-saído do PTB e que ingressava no PMDB.

Reunião do PMDB/MS

A campanha foi relativamente tranqüila. O nome de Nelson Trad Filho foi escolhido após algumas pesquisas quantitativas e qualitativas. Também disputavam a indicação de candidato a prefeito de Campo Grande, o deputado federal Waldemir Moka e o secretário municipal de Obras, engenheiro Edson Giroto.

Nelson Trad Filho consagrou-se no primeiro turno obtendo 213.195 votos. Vander Loubet (PT) teve 87.981 sufrágios e Dagoberto Nogueira (PDT) conquistou 52.929. Antônio Cruz (PTB) recebeu 23.952 votos.

Para a Câmara de Vereadores de Campo Grande, o PMDB elegeu seis vereadores: Pastor Sérgio, Edil Albuquerque, Celso Ianase, Carlos Marun, Marquinho Trad e Youssif Domingos. O PMDB elegeu 106 vereadores em 52 municípios de Mato Grosso do Sul.

O partido elegeu 13 prefeitos: Alcinópolis, com Ildomar Carneiro; Bataiporã, com Jerce Euzébio; Anaurilândia, com Antônio Eduardo; Bonito, com José 51

Arthur; Sonora, com Zelir Antônio; Camapuã, com Moyses Nery; Campo Grande, com Nelson Trad Filho; Costa Rica, com Waldeli dos Santos; Ivinhema, com Renato Pierreti; Sidrolândia, com Daltro Fiúza; Três Lagoas, com Simone Tebet e Terenos, com Humberto Pereira.

52

Entrevistados

Alfredo Sulzer

André

Antônio

Puccinelli

Carlos

de

Oliveira

Carlos Bezerra

Carmelino

Cleómenes

Resende

Nunes

Esacheu

Eustáquio

Fausto

Nascimento

Eudociak

Mato Grosso

53

Humberto Neder

Juarez Marques

João José de

João

Souza Leite

Schimidt

Júnior Mochi

Juvêncio

Batista

Leite

Cezar

da

Fonseca

Leonardo Nunes

Marcelo

da Cunha

Miranda Soares

Nelly Bacha

54

Nelson

Trad

Nilson

Araújo

Plínio

Filho

de Sousa

Rocha

Ramez Tebet

Sérgio Cruz

Waldemir Moka

Walter de Castro

Valter Pereira

Wilson Barbosa Martins

55

Wilson Fernandes

56

BIBLIOGRAFIA

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