Depois Do Baile - Janet Dailey

  • June 2020
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  • Words: 46,261
  • Pages: 43
Depois do Baile (Night Of The Cotillion) Janet Dailey Julia nº 124

“Eu tinha esquecido, Amanda, que você ainda acredita nessas bobagens sobre marido, esposa e finais felizes.” As palavras zombeteiras de Jarod Colby ainda ecoavam em seus ouvidos, enquanto ele a abraçava com paixão. Uma paixão a que Amanda correspondia sem poder se dominar, tonta de amor e de desejo. Nos braços de Jarod, ela se sentia como uma viciada; não conseguia mais passar sem os beijos dele, sem suas carícias possessivas e dominadoras. Estava desesperada, perdida, fora de si... e morta de medo de que aquela felicidade terminasse. Porque viver sem ele seria uma agonia! Digitação: Zaira Machado Revisão: Cris Veiga

Copyright: JANET DAILEY Título original: “ NIGHT OF THE COTILLION “ Publicado originalmente em 1976 pela Mills & Boon Ltd.. Londres. Inglaterra Tradução: DULCE DE ANDRADE Copyright para a língua portuguesa: 198! EDITORA EDI BOLSO LTDA. — São Paulo Uma empresa do GRUPO ABRIL Composto e impresso nas oficinas da ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL Foto da capa: THREE I.IONS

Este Livro faz parte do Projeto—Romances, sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A comercialização deste produto é estritamente proibida CAPÍTULO I — Obrigada pela carona, Tobe — Amanda disse, já fora do carro, despedindo-se.

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— Não se esqueça de dizer a Brad para me telefonar esta noite — Tobe pediu, dando a partida no carro. —Não vou esquecer. Até mais tarde! O rapaz desceu a rua em disparada, fazendo os pneus cantarem no asfalto, e Amanda sorriu para si mesma ao imaginar a cara que sua mãe devia estar fazendo. Por mais que a sra. Bennet repreendesse Tobe Peterson por dirigir sem o mínimo cuidado, ele não se corrigia. Na verdade, Amanda achava que ele continuava a fazer aquilo para aborrecer a mãe dela, que o tratava como se fosse um de seus próprios filhos. E provavelmente era por se sentir mesmo como parte de sua família que Tobe passava tanto tempo em sua casa. Ele e Brad, um dos irmãos de Amanda, eram amigos inseparáveis desde o dia em que entraram no jardim de infância. Os Peterson eram uma família rica, dona de vastas plantações de algodão, que só perdiam em tamanho para as plantações da Companhia Colby. Mas Tobe não dava a mínima importância a essa riqueza. Por isso, todos os Bennet, incluindo Amanda, nem se lembravam de que ele pertencia a uma das famílias mais ricas da região. A única diferença visível entre eles e o rapaz é que as roupas e o carro de Tobe eram mais caros que os deles. Amanda subiu os degraus da varanda de dois em dois e abriu a porta da casa, deixando-a bater atrás de si. — Mamãe! Cheguei! — Psiu! — Sua mãe apareceu na porta da sala de jantar. — Seu avô está tirando uma soneca. — Estava — disse uma voz mal-humorada, — até o momento em que aquele rapazinho saiu por aí cantando os pneus. — Era Tobe — Amanda esclareceu desnecessariamente. — Ele me deu uma carona até aqui. Não me deixem esquecer de dizer a Brad para telefonar a ele esta noite. — Ela caminhou rapidamente até o homem idoso que se aproximava, com os ombros largos curvados pelo peso dos anos. — Oi, vovô — cumprimentou, beijando o rosto enrugado. — Como está? — Ah, meu reumatismo está me dando trabalho de novo — ele se queixou, piscando um olho para a neta. — Acho que o tempo vai mudar. — Há limonada na geladeira — a sra. Bennet falou. — Que bom! Alguém quer um copo? — Amanda perguntou por cima do ombro, caminhando com suas longas pernas para a cozinha. — Eu não, obrigado — o avô respondeu. — Eu quero um, sim — a sra. Bennet disse, seguindo a filha até a cozinha. — Como foi o seu dia, hoje? — Um caos! — Amanda retirou dois copos do armário e a jarra de limonada da geladeira. — Cheguei a desejar que o período de aulas não tivesse acabado e eu ainda estivesse fazendo exames. — Pelo amor de Deus, não quero nem pensar em passar por isso de novo — a sra. Bennet disse, rindo e sacudindo a cabeça que começava a ficar grisalha. — Não sei se seu pai e eu conseguiríamos sobreviver a outra semana como aquela, com você e todos os seus irmãos fazendo os exames de fim de ano ao mesmo tempo. — A coisa ficou preta por aqui, não foi? — Amanda sorriu, mostrando uma covinha de cada lado do rosto. — Todos nós estudando até tarde da noite e brigando para ver quem usava a máquina de escrever primeiro, para fazer os trabalhos de fim de ano! E estávamos todos com os nervos à flor da pele! Mas ensinar três garotas novas a servir de guia em Oak Run é bem desgastante, também. — Eu fiquei bem orgulhosa por a sra. Matthews ter mandado você treiná-las. Geralmente ela insiste em fazer isso pessoalmente. — Eu sou guia lá desde os dezessete anos. São mais de quatro anos! Acho que sei tanto a respeito daquela fazenda quanto ela. Além disso, a sra. Matthews está ocupadíssima com os planos para o baile. Foi por causa disso, também, que as coisas saíram do controle lá, hoje. Ela e a florista estavam correndo de um lado para o outro, tentando decidir quais as flores que vão ser usadas, onde devem ser colocadas, etc. — Por falar nisso, você precisa experimentar o seu vestido. Se estiver bom, podemos marcar a barra para eu terminar. Deixe sua limonada aqui — disse, quando viu que Amanda ia sair da cozinha com o copo na mão. — Não quero que nada caia naquele tafetá. — Eles vão fazer aquele baile em Oak Run? — o avô perguntou quando elas passaram pela sala de jantar, a caminho do quartinho que Berenice Bennet usava como sala de costura. — O baile é feito todos os anos, vovô. — Se Jeff Davis ficasse sabendo disso, daria voltas e mais voltas em sua sepultura — o velho declarou, zangado. — Ê um verdadeiro crime celebrar o aniversário dele na casa daquele maldito ianque! — O baile é uma tradição — a sra. Bennet tentou acalmá-lo. — E Oak Run pertencia a uma família sulista, antes de o coronel Colby comprá-la. — Isso não faz a menor diferença. Agora, ela é de um ianque. Eles deviam arrumar outro lugar para fazer esse baile. — Oh, vovô! — Amanda censurou, brincando. Ela achava graça na implicância que ele sentia por todas as pessoas nascidas ao norte da linha Mason-Dixon. — Se não fosse por causa da sra. Matthews e do dinheiro dos Colby, não haveria nenhum baile. Tente esquecer quem é o dono da fazenda e lembre-se apenas de que estamos celebrando o dia do nascimento do antigo presidente dos Estados Confederados, numa linda casa sulista. Qualquer um seria capaz de jurar que o senhor lutou na Guerra Civil, ouvindo o seu modo de falar sobre os ianques! — O meu avô lutou — o velhinho respondeu zangado, fechando a cara para a neta. — Ele costumava me colocar no colo e falar sobre o incêndio de Atlanta e o modo como o exército do general Sherman devastou tudo o que encontrou pela frente, quando estava a caminho de Savannah. — Isso tudo aconteceu há mais de cem anos e não tem sentido ficar relembrando essa guerra, nos dias de hoje — disse a sra. Bennet. — Mas ninguém se esqueceu dela! Pelo menos, ninguém da Geórgia. Se os georgianos a tivessem esquecido, não haveria nenhum baile para celebrar o dia do nascimento de Jeff Davis! A sra. Bennet encolheu os ombros, olhando para a jfilha, que sorriu. Não era possível dialogar com lógica com o velhinho sobre aquele assunto. Se dependesse dele, o Norte e o Sul ainda estariam separados. — Vamos, Amanda. Vamos experimentar o seu vestido. Foram até o quarto de costura, enquanto o avô assobiava Dixie, a música que simbolizava os Estados do Sul. E assobiava o mais alto que podia. — Vovô não tem jeito! — comentou a jovem sorrindo. Então, seus olhos caíram sobre o vestido estendido em cima de uma cadeira. — Mamãe, ficou lindo! — Não precisa colocar os saiotes para experimentá-lo, só as anquinhas. Rapidamente, Amanda tirou as roupas e pôs a armação de arame que servia para estufar as saias usadas pelas

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mulheres de cem anos atrás, enquanto sua mãe levantava com cuidado o vestido de tafetá, para passá-lo por sua cabeça. Esperou com impaciência os últimos retoques, antes de correr para se olhar no espelho que estava preso atrás da porta. — Você é um gênio, mamãe! — murmurou baixinho. Enquanto Amanda admirava o seu reflexo, Berenice Bennet ajeitava aqui e ali, o rosto mostrando que não estava satisfeita com o resultado de seus esforços na máquina de costura. — Com seis crianças para vestir, alimentar e mandar para a escola, não tive outro jeito senão aprender a costurar, para poder fazer um pouco de economia — ela comentou, ajustando as alças do vestido. — Nós nunca poderíamos comprar roupas feitas para todos vocês, muito menos um vestido de baile. — Pois nenhum vestido, de nenhuma loja, poderia me deixar mais feliz que este — Amanda respondeu com fervor. — Com ele, pareço uma verdadeira sulista. O tecido de que fora feito o vestido, um tafetá brilhante, verde-esmeralda, delineava maravilhosamente bem os seios e a cintura fina de Amanda, caindo em pregas suaves até o chão, ao mesmo tempo em que realçava sua pele perfeita e o negro de seus cabelos. — O decote está muito baixo — a sra. Bennet declarou. — Não, não está, não— Amanda protestou, voltando para a mãe seus lindos olhos castanhos. — Ele pode estar um pouco ousado, mas eu vou ficar parecendo uma puritana, se você diminuí-lo. — Vai ficar é parecendo uma moça decente e recatada — a mãe respondeu, ao mesmo tempo em que ouvia a porta da frente ser aberta e depois fechada com força. — É você, Brad? — ela perguntou. — Eu estou na salinha de costura. — Amanda também está aí? Cheryl veio comigo — falou o rapaz, aproximando-se de onde estavam a mãe e a irmã. — Eu estou aqui, Cheryl — Amanda disse alto, — provando o meu vestido para o baile. Uma garota de cabelos claros surgiu na soleira da porta, seguida por um rapaz alto e atraente. Seus olhos se arregalaram quando deram com Amanda. — Oh, sra. Bennet, foi a senhora mesma quem fez? — Cheryl exclamou. — Está maravilhoso! Com esse seu lindo cabelo preto, você vai ficar fantástica, Amanda! Que pena os seus olhos não serem verdes! — Amanda não mudaria a cor de seus olhos por nada — o irmão retrucou. — Ela gosta de ver os homens se afogarem nesses dois poços castanhos. — Eu gostaria é de afogar você! — Amanda disse, fingindo-se zangada. — Parem com isso, vocês dois. E fique quieta, Amanda, para eu poder colocar os alfinetes sem espetar você. Amanda inclinou a cabeça para o lado, com uma expressão de falsa tristeza no rostinho bonito. — Mamãe acha que o decote está muito baixo — explicou para Cheryl. — Ah, não, sra. Bennet, não mexa nele — a amiga protestou. — Os vestidos daquela época sempre mostravam uma boa parte dos seios. — Pois este vestido vai ter um decote dois centímetros mais alto — a sra. Bennet declarou enfaticamente. — Não sei o que fazer para esconder as marcas deixadas pelas alças do meu maio. Afinal, as mulheres daquele tempo não se bronzeavam — Cheryl comentou. — E se você passasse base de maquilagem nelas? — Amanda sugeriu. — Boa idéia! Vou experimentar, para ver o resultado. — Pronto! — a sra. Bennet anunciou. — Por que vocês dois não vão para a cozinha, enquanto Amanda se troca? Há uma jarra de limonada na geladeira e biscoitos no armário. — Não demore, Mandy — Cheryl pediu. — Fiquei sabendo de uma coisa fantástica e estou louca para lhe contar. — Não vou demorar. Depois de tirar apressadamente o vestido, Amanda vestiu de novo o jeans e a camiseta que usava antes. — Adorei o vestido, mamãe. Aposto que, quando Tobe me vir nele, nem vai mais ligar para o fato de estar sendo obrigado, pelos pais, a ir ao baile. — Ele foi muito gentil, convidando você para ir junto. — Deus sabe que eu praticamente o obriguei a me convidar — Amanda disse, com uma careta. — Meu sonho dourado sempre foi ir a esse baile, e tive uma sorte tremenda por Tobe não estar namorando ninguém, no momento. — E olhe que não lhe faltam pretendentes! — a sra. Bennet comentou, com um sorriso. — É melhor você ir logo se encontrar com Cheryl, se não quiser que ela se esqueça do que tem para lhe contar. Rindo, Amanda correu para a cozinha. Cheryl tinha uma certa tendência para o exagero, mas as duas sempre foram boas amigas, e essa amizade aumentou quando Cheryl começou a namorar Brad. Apesar de gostar de uma fofoca, a loirinha era digna de confiança e nunca divulgava um segredo que lhe fosse confiado. — Cheguei — Amanda declarou desnecessariamente, parando ao lado da mesa onde Cheryl e Brad estavam sentados. — O que á que você quer me contar? — Sente aí. — Cheryl indicou a cadeira ao lado da sua e esperou Amanda se sentar, antes de falar: — Você sabe que a Companhia Colby foi totalmente transferida de Atlanta para cá, no ano passado, e que a fábrica de material eletrônico que os Colby construíram aqui em Oak Springs vai começar a funcionar em junho, não sabe? — Claro! Todo mundo sabe disso. — Pois vou lhe contar uma coisa que quase ninguém sabe! — A loirinha fez uma pausa, para aumentar o suspense. — Jarod Colby vai se mudar, de vez, para a Geórgia. Falando mais claramente, ele vai passar a morar definitivamente na casa que a família tem, aqui em Oak Springs. — Tem certeza? — O coração de Amanda batia forte e ela tentou não mostrar quanto estava excitada com a notícia. — Tenho — respondeu Cheryl, fazendo o sinal-da-cruz sobre o coração. — Estão dizendo, também, que ele renunciou ao cargo de diretor que tinha numa fábrica de aço da Pensilvânia, e centralizou todos os negócios dele aqui na Geórgia. E... prepare-se para ouvir o melhor: Jarod Colby vai ser o anfitrião do baile, este ano! — Isso eu acho difícil de acreditar! — Será que ele vai anunciar a sua decisão de viver aqui, durante o baile? — É bem capaz — Brad comentou, com uma risada de desprezo. — E como é dono de praticamente a cidade inteira, no mínimo vai querer que a gente lhe faça uma reverência quando formos apresentados a ele, no baile. — Quem é esse? — vovô Bennet perguntou. Ele havia entrado na cozinha a tempo de ouvir o comentário de Brad. — Jarod Colby. Quem mais podia ser? — o rapaz respondeu. — E por que razão você devia ser apresentado a esse aventureiro ianque? — Ele vai estar no baile — Cheryl explicou, lançando um olhar cheio de subentendidos para Amanda. — Não é maravilhoso?

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— Ah! — o sr. Bennet resmungou. — Se eu encontrasse esse sujeito na minha frente, seria capaz de cuspir nele. — Acho bom o senhor se lembrar de que papai trabalha para ele, antes de fazer isso, vovô — Brad aconselhou. — Seu pai devia era cuspir na cara desse Colby e dar um jeito de arrumar, um emprego melhor, onde não tivesse que obedecer ordens de nenhum ianque. — Imagine só, Amanda! — Cheryl sussurrou no ouvido da amiga: — Finalmente você vai ser apresentada a “ele”! Houve uma época em que Amanda começaria a tremer, só de pensar nisso, mas esse tempo já ia bem longe. — Eu não ligo mais para isso — ela disse, encolhendo os ombros para mostrar indiferença. — Você não está falando sério! — Estou, sim. — O que é que vocês duas estão cochichando? — Brad perguntou. — Estamos falando sobre o baile... — Cheryl desconversou. — Amanda ainda não decidiu que jóias deve usar com o vestido dela. Vamos até o seu quarto que eu ajudo você a escolher, Mandy — disse, voltando-se para ela. Amanda sabia que, mais cedo ou mais tarde, Cheryl daria um jeito de pegá-la sozinha, por isso resolveu ceder. — Agora, conte-me a verdade, Amanda — a loirinha pediu, quando subiam as escadas na direção do primeiro andar. — A idéia de ser apresentada a Jarod Colby não deixou você excitada? — Não, não deixou. Já faz mais de três anos que nem penso nesse homem! Ele não significa mais nada para mim— Amanda respondeu, entrando no quarto e sentando-se em cima da cama coberta por uma colcha de algodão, estampada de azul e branco. — Você não pode estar dizendo a verdade! Ninguém esquece o primeiro amor, principalmente se ele vai embora quando a gente ainda está apaixonada. E, mesmo que a pessoa se case com outro homem, no fundo ela sempre vai imaginar como seria a sua vida se tivesse casado com o primeiro amor. — E como é que você sabe disso? — Amanda brincou, jogando para trás os cabelos. — É só pensar um pouco para ver que é assim. — Não deixe Brad ouvir isso! — Oh, Amanda! Você, mais do que ninguém devia saber que sempre fui apaixonada pelo seu irmão! — Cheryl riu, sacudindo os cabelos claros. — E acho que estou falando, em parte, pelo menos, por experiência própria. — Não dá para comparar Brad com Jarod Colby, Cheryl! — Como indivíduos, não. Mas pode escrever o que estou dizendo: ninguém consegue se esquecer completamente do primeiro amor. — Cheryl! — a sra. Bennet chamou lá de baixo. — A sua mãe está no telefone. Ela quer saber se você vai logo para casa. — Diga-lhe que já estou indo — Cheryl respondeu, caminhando para a porta do quarto. — Vejo você depois, Mandy. — Tobe pediu para Brad telefonar para ele esta noite. — Sabe, meu maior rival, em relação a Brad, é Tobe Peterson. E acho que seria mais fácil vencer uma garota. — Eu, se fosse você, não me preocuparia corri isso. — Amanda riu. Mas o riso morreu em seus lábios quando Cheryl sumiu de vista. Séria, ela foi até a penteadeira e começou a examinar o rosto com atenção. A imagem que via era a de uma mulher feita, uma adulta de vinte e um anos de idade. Seus olhos tinham perdido a expressão sonhadora da adolescência e seu corpo havia adquirido formas arredondadas. Mas será que as pessoas realmente amadureciam? Será que uma parte delas não continuava sempre infantil? Cinderela, Branca de Neve e Rapunzel, todas tinham encontrado os seus Príncipes Encantados. Quando ainda estava na adolescência, Amanda havia procurado ansiosamente pelo dela. Algumas de suas amigas se apaixonaram por astros de cinema e ídolos da música popular, mas Amanda se apaixonou por Jarod Colby. Estava passeando pelos bosques em volta de Oak Springs, numa linda manhã de novembro, seis anos atrás, quando o viu pela primeira vez. Antes desse dia, sabia que os Colby existiam, embora tivesse a impressão de que eles não eram reais. E só deixaram de ser as figuras nebulosas de sua imaginação quando Jarod Colby surgiu a cavalo por entre as árvores, passando a pouco mais de dois metros do lugar onde Amanda se escondia. Com o olhar fixo num ponto distante do horizonte, ele não a viu e ela só o reconheceu por causa do brasão de família dos Colby, que estava bordado na manta que cobria o cavalo. Apesar de não ter tirado os olhos dele um só momento, Amanda não conseguiu mais do que um rápido vislumbre do rosto do rapaz, cujos cabelos castanhos brilhavam à luz do sol, formando um lindo contraste com a pele bronzeada. Com seu nariz reto e os malares salientes, todo vestido de negro, Jarod era realmente uma figura romântica em cima daquele cavalo. Durante quase três horas, Amanda continuou onde estava, na esperança de que ele voltasse, mas isso não aconteceu. Sentindo que precisava saber quem era aquele rapaz, procurou o pai, que trabalhava no moinho de algodão dos Colby há muitos anos. Tímida demais para dizer que estava interessada no cavaleiro, usou a desculpa de que achara o cavalo lindo. — Você deve ter visto Jarod Colby, o filho — seu pai lhe respondera.— Ele é o único da família que anda a cavalo. É um absurdo que gastem tanto dinheiro para manter aqueles animais, quando o rapaz só vem para cá uma vez por ano! — Ninguém nunca acusou a família Colby de não ser extravagante — a sra. Bennet havia comentado com uma certa secura — Outro dia, na igreja, estavam dizendo que o sr. e a sra. Colby vão fazer outra viagem pela Europa, logo depois do Natal. É um milagre que os negócios deles continuem a dar lucro, do jeito que os dois estão sempre viajando de um lado para o outro! — Eu me encontrei com o jovem Colby, alguns dias atrás — o sr. Bennet comentara, esvaziando o cachimbo. Amanda havia esperado pelas próximas palavras do pai com a respiração suspensa, ansiosa para descobrir o que pudesse sobre o rapaz que tinha visto. — Ele foi ver, pessoalmente, como estava funcionando o moinho, uma coisa que não me lembro de ter visto o pai dele fazer nunca. E me deu a impressão de ser muito esperto e inteligente. — Quantos anos ele tem? — Acho que vinte e seis. A conversa tinha mudado de tema, daí em diante, mas Amanda já estava irremediavelmente apaixonada. O lugar onde o vira pela primeira vez havia se transformado em chão quase sagrado e ela ia lá sempre que podia, na esperança de vê-lo de novo. No entanto, isso aconteceu pouquíssimas vezes e sempre à distância. Com o passar do tempo, as visitas de Jarod foram se tornando cada vez menos freqüentes, e praticamente cessaram depois da morte

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de seus pais. Apesar dos sonhos e fantasias de Amanda terem diminuído bastante, no fundo eles continuavam vivos, e nenhum dos rapazes com quem saía chegava aos pés da imagem que fazia de Jarod Colby. Por isso, seus namoros sempre davam em nada, mais cedo ou mais tarde. Quando fez dezessete anos, conseguiu o emprego de guia na fazenda antiga dos Colby, Oak Run, mas nunca admitiu, nem para si mesma, que o havia aceitado na esperança de se encontrar com Jarod. Há mais de trinta anos que os Colby não viviam em Oak Run. Eles haviam construído uma casa nova a alguma distância dali e, como só a ocupavam durante os meses de inverno, os habitantes locais logo se acostumaram a chamá-la de Casa de Inverno. Uma tarde, a sra. Matthews, tia de Jarod, mandou Amanda até lá, para pegar alguns papéis de que estava precisando. Amanda mal tinha estacionado o carro em frente da casa, quando Jarod Colby surgiu lá de dentro. Ela nunca se esqueceria do modo como o seu coração disparou. Aquele era o momento que vinha esperando há tanto tempo... Pelo menos, foi isso o que ela pensou ao descer do carro. — O que é que você está fazendo aqui? Não sabe que esta é uma propriedade particular? De cara fechada, Jarod olhava zangado para ela, sem mostrar nada do prazer que Amanda esperava ver em seu rosto. Sua expressão não. mudou, nem mesmo quando ela finalmente recuperou a capacidade de falar e explicou por que estava ali. No momento em que recebeu os papéis e entrou no carro, Amanda estava enjoada. Jarod Colby, em carne e osso, não se parecia em nada com o Jarod Colby de seus sonhos, um rapaz bom, educado, delicado e romântico. Ela levou vários meses para se livrar da dor que a atitude dele lhe provocara, mas a sensação humilhante que havia experimentado naquele encontro nunca mais a abandonou. Voltando à realidade, Amanda deu as costas para o espelho. Quando Cheryl pronunciou o nome de Jarod lá embaixo, ela havia se lembrado imediatamente da imagem de seus sonhos. Mas, embora ainda se sentisse um pouco magoada com o fato de ter sido tratada por ele com tão pouco caso, era melhor fixar o pensamento no que acontecera naquele dia e não esquecer que Jarod Colby não passava de um bruto sem sentimentos. Já estava velha demais para se deixar levar por fantasias do passado. Pode ser até que eu cuspa na cara dele, quando o encontrar no baile, como sugeriu o vovô!, Amanda pensou. E riu gostosamente ao imaginar a expressão ultrajada de Jarod Colby, se ela realmente fizesse isso! CAPÍTULO II Uma batida impaciente soou na porta do quarto de Amanda. — Ande logo, Amanda! — Brad disse, zangado, — Você está atrasando todo mundo! — Ela já vai descer — a sra. Bennet respondeu pela fiiha. — Agora fique quieta, Amanda, para eu poder colocar este último grampo. Obediente, Amanda permaneceu imóvel, observando a mãe ajeitar o grampo incrustado com pedrinhas verdes em seus cabelos, que caiam em ondas suaves em torno do rosto, acentuando a perfeição de sua pele. A maquilagem dava-lhe um ar ligeiramente sofisticado, valorizando sua beleza. — Estou tão nervosa, que esse até parece o meu primeiro baile — ela comentou, colocando as longas luvas verdeclaras, que a mãe lhe estendia. — É porque esse baile é o acontecimento mais importante da nossa cidade. Você vai estar lado a lado com a elite da sociedade da Geórgia. — A sra. Bennet deu um passo para trás, para contemplar o resultado de seus esforços. — E todos eles vão olhar para você, querendo saber quem é a linda morena, vestida de verde — falou, os olhos brilhando, cheios de amor. — Mamãe, você é capaz de fazer maravilhas pelo ego de uma pessoa! Agora, é melhor eu descer. Pode ser que Tobe resolva ir embora e me largue para trás, se eu demorar mais. A enorme saia rodada do vestido dava a impressão de que Amanda estava deslizando pelo chão, quando ela desceu apressadamente a escada na direção da sala de visitas, onde Brad, Cheryl e Tobe estavam esperando. — Você está chique demais para ir comer pizza numa cantina — Tobe brincou, estendendo-lhe um raminho de flores, que devia ser colocado na cintura do vestido. — Depois de todo o trabalho que tive para fazer esse vestido, Tobias Peterson, é melhor você não se atrever a levála a qualquer outro lugar que não seja Oak Run! — a sra. Bennet advertiu, fingindo-se zangada. — Se nós fôssemos para outro lugar com essas roupas, seríamos internados no hospício mais próximo — Tobe garantiu, sorrindo para Amanda. — Você está maravilhosa. Eu não me importaria nem um pouco se nos trancassem juntos em algum lugar. — Vocês dois também estão muito bonitos com esses ternos! — a sra. Bennet comentou. — Seria muito melhor se estivéssemos com roupas comuns — Tobe resmungou. — Mas a sra. Matthews tinha que inventar essa história de fazer um baile igualzinho aos de antigamente, e exigir que os convidados fossem vestidos a caráter! — Pois eu gostei da idéia — Cheryl declarou. — Você não gostou, Amanda? — Claro que sim. Essas roupas fazem a gente se sentir tão feminina! Amanda prendeu o raminho de flores na cintura justa do vestido, com a ajuda da mãe. As pétalas azul-esverdeadas da orquídea formavam um contraste maravilhoso com o tafetá de um verde bem vivo — Eu devia ter pego um dos caminhões da firma do meu pai — Tobe disse. — Um caminhão? Para quê? — Cheryl quis saber. — Não sei se vocês duas vão caber no meu carro. Essas saias vão tomar o assento inteiro! — Nós damos um jeito— Amanda garantiu, sorrindo. — Estou morrendo de medo de me esquecer das anquinhas e sentar, fazendo esta saia vir parar na minha cara -— Cheryl murmurou. —Você já se acostumou com elas, não é, Amanda? Afinal, você usa este tipo de roupa desde que conseguiu o emprego de guia, em Oak Run. — A sra. Mattheyvs tem medo de que algumas mulheres se esqueçam mesmo de ajustar as anquinhas corretamente, quando forem se sentar e é por isso que só vai fornecer cadeiras para as senhoras mais idosas — Amanda explicou. — Quer dizer que vamos ter que ficar em pé a noite inteira? — Brad gemeu. — Quando você não estiver dançando comigo, vai, sim — Cheryl replicou. — Mas eles só tocam valsas — o rapaz resmungou. Então, vendo o olhar fulminante da namorada, sorriu. — Se

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bem que estou começando a achar que isso não deve ser tão ruim assim... Cheryl virou-se para Tobe, sorrindo abertamente. — Eu ainda não lhe agradeci por ter arranjado um convite para Brad e eu irmos a esse baile, Tobe. — Você não pensou que eu fosse capaz de ir a uma coisa aborrecida como essa sozinho, pensou? — Se vocês não andarem logo — o pai de Amanda entrava na sala com um jornal nas mãos, — vão chegar a Oak Run no fim do baile. Já estão bem atrasados. — Ninguém chega na hora marcada, sr. Bennet — Cheryl informou. — Tome, Amanda, leve isso com você. Pode esfriar, mais tarde — a sra. Bennet falou, entregando para a filha um xale de três pontas, feito do mesmo tecido do vestido. — Você acha que já estamos atrasados o suficiente para ir agora? — Brad brincou com Cheryl. — Quanto mais cedo formos, mais cedo poderemos voltar — Tobe declarou, piscando para a sra. Bennet, que fingia estar exasperada com eles. No meio de um coro de “até logos” e “divirtam-se”, os quatro saíram de casa, dirigindo-se para o carro de Tobe. Os pais de Brad e Amanda ficaram acenando para eles da porta, ternamente abraçados. Os dois eram mais que marido e mulher; eram amigos, e ninguém conseguia imaginar um sem o outro. Quando os quatro chegaram a Oak Run, a histórica mansão já estava totalmente iluminada, por dentro. Do lado de fora, vários holofotes tinham sido escondidos entre as plantas do jardim, e sua luz atingia as seis enormes colunas brancas que davam tanta graça e beleza ao pórtico da casa. — Estou me sentindo como uma garotinha usando roupas de adultos — Cheryl declarou num sussurro nervoso, quando ela e Amanda subiam a escada da mansão, um pouco na frente de Tobe e Brad. — Eu deveria estar com uma peruca. — Você está um encanto — Amanda afirmou, olhando o vestido rosa que realçava tão bem o corpo pequeno e bem-feito da amiga. As portas duplas da mansão, pintadas de branco, davam para um hall magnífico, que devia ser pelo menos três vezes maior que a sala de visitas dos Bennet. Dali, uma escada em forma de “Y” levava ao andar superior. Amanda viu logo que o lustre antigo, feito de latão e cristal, havia passado por uma boa limpeza, e que uma mesa muito valiosa, que costumava ficar naquele local, fora removida e substituída por outra de menor valor. O retrato do coronel Colby, no entanto, continuava em seu lugar de honra, bem no centro do hall. Como seu avô ficaria furioso, se soubesse que o retrato de um soldado ianque estava em exposição numa mansão sulista! O som suave de uma melodia tocada por um quarteto de cordas chegou até eles. Depois que as moças entregaram os xales a um dos empregados uniformizados que esperavam no hall, os quatro se dirigiram para o salão de baile, cujas portas estavam abertas de par em par. Cheryl estava tão excitada, que seu entusiasmo acabou contagiando Amanda. No momento em que atingiram as portas abertas de par em par, dois homens estavam saindo; Amanda ficou atordoada de emoção quando viu que um deles era Jarod Colby. Todos pararam. O homem na frente de Amanda irradiava vitalidade! Suas feições eram firmes, sem nada que fizesse lembrar a fraqueza da juventude, e ostentavam uma expressão tão cínica e distante que chegava quase a ser rude. Os cabelos castanhos contrastavam lindamente com os olhos verde-claros, e uma aura de masculinidade emanava da figura alta e musculosa. Não havia dúvida de que ele era um conquistador, do tipo que desafia as mulheres a cada minuto. Ao mesmo tempo em que sua mente registrava instantaneamente tudo isso, Amanda estava consciente do modo como o olhar dele percorria o seu corpo, passando pela cintura fina e demorando-se por alguns segundos, cheio de insolência, no início de seus seios, revelado pelo decote generoso. Em seguida, os olhos enigmáticos pousaram novamente em seu rosto, com uma evidente expressão de prazer. O atrevimento e o cinismo daquele olhar fizeram com que ela se sentisse completamente nua. Sentiu dor no braço esquerdo, e levou alguns segundos para perceber que Cheryl o agarrara com tanta força que impedia a circulação do sangue em suas veias. — Senhoritas... — A voz grave de Jarod Colby foi acompanhada por um gesto imperioso de cabeça, enquanto ele e o homem que estava a seu lado afastavam-se para permitir que elas entrassem. Os pés de Amanda levaram-na automaticamente para o salão, pois seu cérebro, com toda a certeza, não lhes deu essa ordem. Só apelando para toda a sua força de vontade ela conseguiu acalmar as batidas desordenadas do coração e resistir ao impulso de se virar para ver se ele a observava. — Viu o modo como ele olhou para você? — Cheryl perguntou baixinho. — Jarod nem me viu, a seu lado! Eu sabia que alguma coisa desse tipo ia acontecer! — Não aconteceu nada — Amanda respondeu com firmeza, mais para convencer seu romântico coração. — Daqui a cinco minutos, ele nem vai se lembrar de que existo. — Meu anjo, você está estampada na mente dele, com tinta do tipo que não sai mais. Nesse momento Tobe alcançou as duas, impedindo que continuassem a conversa. — Você tinha razão — ele disse. — Não há uma só cadeira para nos sentarmos. Olhando rapidamente pelo salão, que com suas paredes pintadas de amarelo-claro e o assoalho de tábuas largas tinha um aspecto imponente, Amanda viu que as poucas cadeiras que havia já estavam ocupadas por senhoras idosas. Para se impedir de ficar olhando a toda hora para as portas de entrada, virou-se de frente para as janelas francesas que davam para o jardim. As cortinas de damasco amarelo estavam abertas e, lá fora, várias tochas tinham sido acesas entre as árvores, o que dava a tudo um estranho ar de encantamento. Alguns pares deslizavam pelo chão polido, valsando ao som da linda Danúbio Azul, debaixo de dois magníficos lustres de cristal. Um garçom aproximou-se deles, carregando uma bandeja com bebidas. Cheryl inclinou-se para a frente e tocou o braço da amiga. — A gente pode segurar o copo com as mãos enluvadas? — perguntou. — Acho que a única coisa que não se pode fazer de luvas é comer. — Estou com medo de dar alguma gafe. Amanda pegou dois copos da bandeja e estendeu um para Cheryl. — Beba isso — mandou. — Ajuda a acalmar os nervos. A verdade é que ela mesma estava sentindo necessidade de se acalmar. Até alguns minutos atrás, Amanda não acreditava que ver Jarod Colby novamente pudesse afetá-la, muito menos de um modo tão forte. Era uma adulta, mental e legalmente, e não ia permitir que urna fantasia do passado tomasse conta de sua mente de novo. Tomando um gole de sua bebida, tentou se concentrar na conversa entre seu irmão e Tobe. E uma hora mais tarde

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descobriu que estava se divertindo muito, rindo e brincando com os amigos e as pessoas a quem era apresentada. Se isso foi possível por causa de sua firme decisão de não pensar em Jarod Colby, ou pelo fato de não tê-lo visto mais, Amanda nunca soube. Um advogado chamado Carl Grierson, que acabara de se juntar a eles, disse para Tobe: — Ainda não vi você dançando com essa linda senhorita. — Um sorriso brincalhão apareceu no rosto do rapaz. — É que não estou acostumado a dançar com esse tipo de música; e essas saias de anquinhas não permitem que um homem aproveite as vantagens de se dançar de rosto colado com uma garota. Na realidade, Tobe tinha dançado com ela uma vez, exibindo uma habilidade e uma leveza de movimentos que a deixaram surpresa. No entanto, o tempo inteiro ele lhe dera a impressão de estar envergonhado disso, como se preferisse ser como Brad, que não possuía a menor noção do que fosse ritmo. — Posso lhe pedir para que dance comigo? — o advogado perguntou então, sorrindo para Amanda. — Será uma honra ser o par de uma senhorita tão encantadora. Entrando na brincadeira, Tobe indicou com um gesto que dava permissão a Carl para dançar com seu par; Amanda, fazendo uma mesura, aceitou o convite. Com um leve sorriso de prazer nos lábios, ela se dirigiu para a pista de dança, Não havia música que não gostasse de dançar, mas o ambiente e as roupas típicas do século passado pareciam dar mais encanto ao baile, tornando tudo mais gostoso. O advogado de meia-idade mostrou-se um ótimo par, à medida que deslizavam pelo chão encerado. — Você dança maravilhosamente bem — Carl cumprimentou-a, abaixando ligeiramente a cabeça, o que permitiu que Amanda visse por que ele penteava os cabelos para a frente: já perdera uma boa parte deles. — É fácil dançar bem, com um par como você — ela respondeu, sentindo-se de repente como uma moça sulista de cem anos atrás, retribuindo habilidosamente os elogios que recebia. — Se você tivesse um cartão de danças e eu fosse dez anos mais novo, insistiria em preencher o cartão todo com o meu nome. Se bem que minha mulher seria capaz de não gostar muito disso — ele terminou, sorrindo. Amanda jogou a cabeça para trás e soltou aquele riso que vinha com tanta facilidade a seus lábios. Mas o movimento mudou sua linha de visão e ela se viu olhando dentro dos olhos verdes de Jarod Colby. Ele estava em pé ao lado da pista, conversando com um grupo de homens, e seu olhar tinha a mesma expressão fria e analítica de antes. Nada em seu rosto másculo mostrava que ele gostava do que via. Em seus olhos não havia nenhum brilho de desafio ou admiração. Mas só saber que Jarod a observava, fez o coração de Amanda bater mais depressa. Forçando-se a desviar o olhar do dele, com indiferença, ela voltou a atenção para o seu par. — Você faz bem ao meu ego!. — comentou, sorrindo. — Pode acreditar, não é nem um pouco difícil elogiá-la. Você é exatamente como eu imaginava que Scarlett O'Hara, a heroína de E o vento levou... fosse. Você mora aqui? O resto do tempo em que dançaram, eles falaram sobre Oak Springs e a família de Amanda. Nem uma vez ela olhou diretamente para onde estava Jarod Colby, embora soubesse que ele a observava, pois não saía de seu campo de visão. Um sentimento exultante invadiu-lhe o coração, apesar de Amanda tentar se convencer de que o aparente interesse dele não significava nada. Quando Carl Grierson deixou-a junto de Tobe, comentando risonho que precisava ir pacificar a esposa, Amanda começou a achar cada vez mais difícil esquecer a presença de Jarod Colby no salão. Mal conseguia lembrar que o considerava um homem arrogante e esnobe, um verdadeiro tirano, que detestava-o por tê-la tratado com tanta rudeza alguns anos atrás. Será que não o havia julgado com muita severidade, por causa de uma falta relativamente pequena? A exclamação abafada de Cheryl trouxe Amanda de volta à realidade. — Ele está vindo para cá! — disse a loirinha, numa voz cheia de excitação. Amanda não precisou se virar, para saber de quem a amiga estava falando. Tinha de ser Jarod Colby. Tentando aparentar calma, fez um esforço para controlar os movimentos de seu estômago. Quando a figura alta e máscula entrou em seu campo de visão, Amanda seguiu com os olhos a lenta aproximação dele, parando aqui e ali para cumprimentar ou falar com os convidados. Jarod estava a apenas dois passos do grupo de Amanda quando permitiu olhar diretamente nos olhos dele, mostrando um leve interesse. Mas, para seu desgosto, os olhos verdes estavam fixos em Tobe, ignorando completamente as duas moças. Com extrema delicadeza, Jarod estendeu a mão para Tobe. — Eu sou Jarod Colby — ele se apresentou. — Você é o filho de Peterson, não é? — Sim. Sou Tobe Peterson — ele respondeu. Então, virou-se para Brad, que estava a seu lado. — Este é meu amigo, Brad Bennet, a namorada dele, Cheryl Weston. Amanda Bennet, irmã de Brad e minha companheira, esta noite. Admirada com a facilidade com que Tobe fez as apresentações, Amanda observou Jarod apertar a mão de seu irmão e depois cumprimentar Cheryl e ela, com igual interesse. Estava consciente demais da presença dele ao lado de Tobe para poder prestar atenção na conversa educada que eles entabularam, logo em seguida. A potente virilidade e as feições atraentes de Jarod dominavam completamente os seus sentidos. Amanda se surpreendeu ao perceber que os olhos verdes estavam fixos cm seu rosto, depois de alguns minutos de conversa, pois até aquele momento Jarod não havia manifestado o menor interesse por ela. — Com a permissão do seu par, eu gostaria de dançar esta música com você — Jarod declarou, num tom de voz que mostrava que ele não esperava oposição nem de Tobe nem dela. — Pois não — Tobe murmurou, olhando para Amanda com uma expressão curiosa. Eu devia recusar, Amanda pensou, mas logo se censurou por esse pensamento. Era bobagem continuar a alimentar uma mágoa tola do passado. Naquele momento o chefe do quarteto de cordas anunciou que durante aquela dança, os casais deveriam trocar de pares. Será que Jarod sabia disso, antes de tirá-la? Com toda certeza, sim. — Será um prazer, sr. Colby — respondeu friamente, estendendo-lhe a mão. Sentiu os olhos deles percorrendo vagarosamente o seu corpo. Havia um brilho irônico e divertido naquele olhar, quando Jarod a tomou nos braços na pista de dança. Durante alguns segundos, as pupilas dominadores dele prenderam as dela, antes de Jarod começar a se mover ao ritmo da música. A pressão firme das mãos fortes nus costas de Amanda não deixava dúvida sobre quem comandava os movimentos, ali. — Amanda... um nome meigo e delicado, com um toque de realeza — Jarod comentou. — Combina bem com o sotaque lânguido e arrastado do Sul. — É verdade — Amanda concordou, imaginando se não havia um leve tom de zombaria na voz dele. — Vocês, ianques, sempre têm uns nomes tão duros, tão sem poesia! Como Jarod... — Do modo como você o pronuncia, ele não me parece nem um pouco duro. — As linhas em volta de sua boca

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aprofundaram-se, sem o menor sinal de humor; Jarod havia notado a agressividade escondida nas palavras dela. — Você mora em Oak Springs? — Desde que nasci — Amanda respondeu, deslizando o olhar pelas roupas de tecido caro que cobriam o peito musculoso. — É estranho que nós nunca tenhamos nos encontrado! — Oh, mas nós nos encontramos, sim. — Ela apertou os lábios durante uma fração de segundo, ao lembrar-se do golpe que ele tinha dado em seu ego. —E quando foi isso? — Seus olhos examinavam com atenção o rosto de Amanda, como se ele estivesse procurando alguma coisa familiar. — Há uns quatro anos, logo que comecei a trabalhar aqui em Oak Run — Amanda respondeu, descobrindo que era capaz de ser muito mais franca do que imaginava. — Sua tia me mandou até a Casa de Inverno, pegar uns papéis, e você me botou para fora de lá. — Ê uma vergonha que eu não me lembre de você. — Mas ele não parecia envergonhado, e nem tentou se desculpar por sua atitude. — Você pegou os papéis? — Peguei, sim, quando você parou de me insultar o tempo suficiente para eu explicar por que estava lá. Os olhos dele tinham uma expressão pensativa quando se encontraram com os dela. Pareciam ligeiramente desafiadores. — Você deve ter ficado com uma péssima impressão de mim. — Realmente. — A resposta de Amanda foi simples e direta. — Então, preciso fazer com que mude de opinião. — Um brilho divertido apareceu em seus olhos, mas ele não sorriu. A pressão de suas mãos contra as costas de Amanda aumentou, e Jarod girou com ela cada vez mais rápido, acompanhando o ritmo da valsa. Vários casais estavam se separando e procurando novos pares. — Nós temos que mudar de par, agora — disse ela. Desta vez, havia uma expressão decididamente zombeteira no rosto de Jarod — Uma das vantagens de ser Jarod Colby, da Companhia Colby, é poder fazer o que me dá vontade. — Mas... — ela começou, vendo os olhares de interesse que as pessoas presentes começavam a lhes lançar, depois que perceberam que eles ainda estavam juntos. — Eu pensei que você quisesse dançar comigo — Jarod censurou — E quero — Amanda replicou, arrependendo-se na mesma hora de ler respondido tão depressa. — O fato de todos estarem nos observando não devia deixá-la tão aborrecida — ele murmurou, examinando-a friamente, como se estivesse tentando decidir se ela era digna do seu interesse. — Muitos homens não conseguiram tirar os olhos de você, esta noite. A combinação da cor do seu vestido com a dos seus cabelos chama a atenção de qualquer um; e o fato de você ter um rosto e um corpo tão bonitos aumenta o nosso interesse. — Você é muito delicado! — Ela engoliu em seco, tentando nervosamente esconder de Jarod que ele não só era capaz de despertar o seu antagonismo, como também de perturbá-la. — Mas eles estão olhando para mim porque estou dançando com você. — Não é só porque você está dançando comigo — ele corrigiu com suavidade, — mas também porque eu não pretendo deixar que escape de mim. E é bom saber que eu estou acostumado a conseguir o que quero, Amanda. Amanda não entendeu o que Jarod queria dizer com isso. Que ele queria dançar com ela era óbvio, mas será que havia mais alguma coisa por trás desse desejo? Quantas vezes tinha se imaginado nessa mesma situação, com esse mesmo homem... E agora percebia que ele era um completo mistério e que não sabia como manejá-lo. Quando viu que Amanda não ia dizer nada, Jarod perguntou: — Está com medo de perguntar o que é que eu quero? — Sua voz rouca e profunda vibrou no ar. — Você já me disse. — Ela tentou forçar uma nota de despreocupação na atmosfera carregada. — Quer que eu mude a minha opinião a seu respeito. Outro sinal para mudança de pares foi dado, mas Jarod o ignorou. — E vou conseguir. Como era irritante a certeza que ele tinha de seu poder de atração! — Vai mesmo? — Já consegui, pelo menos em parte. Você está dançando comigo. — Pois eu tive a impressão de ter recebido uma ordem para dançar com você. — A atração tinha sido substituída pelo antagonismo. Não pensei que fosse possível ignorar um comando real. — O brilho divertido que apareceu nos olhos de Jarod mostrou que ele não acreditara em uma só de suas palavras. — Você aceitou o meu convite para dançar porque sabe quanto me atrai, e achou que essa seria uma boa chance de tentar se desforrar de mim pelo que aconteceu alguns anos atrás. E também porque estava um pouco curiosa. “Quanto me atrai!” Essas palavras atingiram-na como um golpe físico. Não era mais preciso quebrar a cabeça, tentando adivinhar as razões de Jarod para estar ali, dançando com ela. Estava claro: ela o atraía! Apesar de todos os seus esforços para permanecer impassível, por dentro Amanda tremia como uma garotinha de escola. Suas pernas estavam tão fracas, que foi um alívio quando a música acabou. Precisava de tempo para se controlar e encarar Jarod Colby como um homem de carne e osso, esquecendo-se da imagem de sonho que fizera dele. No momento em que pararam de dançar, Jarod guiou Amanda gentilmente para fora da pista, segurando-lhe o braço com firmeza. Ela procurou Cheryl, Brad e Tobe no lugar onde os deixara, mas não os encontrou. — Quer tomar alguma coisa? — Jarod perguntou. O bufê tinha sido armado a poucos passos de onde estavam, e sobre a mesa havia uma poncheira, cheia de um líquido vermelho e brilhante. Vários pratos de hors d'oeuvres, artisticamente preparados rodeavam-na. — Um pouco de ponche, por favor — Amanda pediu, percorrendo o salão com os olhos, à procura dos amigos. Em alguns segundos Jarod foi até o bufê e voltou com o ponche. Nervosamente, Amanda pegou-o. — Quer comer alguma coisa? — Não — ela recusou educadamente, desviando o olhar para os pratos dispostos em cima da mesa, antes de olhar para as mãos enluvadas. — Eu me esqueci — Jarod murmurou. — Não se pode comer de luvas, não é? Mas isso não é problema. Amanda observou-o, curiosa, enquanto ele examinava os pratos, imaginando, se pretendia tirar-lhe as luvas. — Este de patê parece estar gostoso. — Jarod pegou um canapê e virou-se para Amanda. — Abra a boca. Embaraçada, ela recuou quando percebeu que ele pretendia colocar o canapê em sua boca. Essa atitude trouxe de volta o brilho divertido aos olhos verdes. Certa de que Jarod continuaria a segurar o petisco a poucos centímetros

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de sua boca, e com medo de que alguém pudesse vê-los, Amanda abriu a boca de má vontade. Os dedos dele tocaram seus lábios de leve, ao lhe entregar o canapê, e a sensação despertada por aquele toque, tão íntimo, percorreu seu corpo como um raio, transformando seu sangue em fogo líquido. — Parece que seus amigos a abandonaram — Jarod murmurou depois que Amanda acabou de mastigar. — Não sei para onde eles foram — ela disse, olhando ansiosamente em torno. — Talvez tenham ido até a varanda, para respirar um pouco de ar fresco. — É, pode ser. — Vamos procurar por eles? CAPÍTULO III Amanda hesitou, sentindo-se ridiculamente desajeitada e insegura. Não estava nem um pouco à vontade ali, em pé ao lado de Jarod numa sala cheia de gente, e ir sozinha com ele para uma varanda a deixaria mais perturbada ainda. No entanto, precisava achar Tobe e os outros. Os dois foram alvo de olhares maliciosos quando atravessaram as janelas francesas e saíram para a varanda. Havia poucas pessoas lá, na maioria homens que tinham deixado o salão para fumar um cigarro. Enquanto olhava o jardim iluminado pela luz bruxuleante tias tochas, à procura dos amigos, Amanda percebeu que Jarod estava acendendo um cigarro. — Você estuda ou trabalha? — Jarod foi o primeiro a quebrar o silêncio que os envolvia, ao mesmo tempo em que segurava o cotovelo dela com uma das mãos, guiando-a na direção do jardim. — As duas coisas — ela respondeu, prendendo a respiração ao ver três figuras embaixo de um carvalho. Mas não demorou a descobrir que eram três homens. — E depois das férias vou começar meu último ano na faculdade. — O que é que você estuda? — Literatura inglesa e jornalismo. — E onde trabalha? — Aqui, em Oak Run. Sou guia. — Então, não é de admirar que você pareça tão natural nesse vestido. Você usa roupas como essa o dia inteiro! — ele parou e a pressão de seus dedos no braço de Amanda forçou-a a fazer o mesmo. — Se você é um exemplo do tipo de pessoa que trabalha em Oak Run, não há dúvida de que preciso prestar mais atenção em meus empregados. Antes que Amanda percebesse o que estava fazendo, começou a passar em revista as outras garotas que trabalhavam em Oak Run, tentando descobrir quais as que seriam capazes de atrair Jarod. Seu coração se apertou de ciúme. — Uma das exigências para ser guia de Oak Run é ter boa aparência — conseguiu dizer, com esforço. — Você é muito bonita! A alta estatura dele intimidava um pouco Amanda, e o modo como ele examinava seu rosto e ombros tornava-a profundamente consciente do isolamento em que se achavam. — Obrigada — murmurou baixinho, sem conseguir pensar em uma frase inteligente para retribuir o elogio. Para escapar dos olhos dele, virou-se de lado. A noite estava quente e agradável. Acima da folhagem espessa dos carvalhos gigantes, via-se o céu estrelado. O som distante de uma valsa chegava até eles, trazido pelo ar noturno, misturando-se com o canto alto dos grilos, que pareciam querer competir com os músicos. Os dedos de Jarod tocaram o pescoço de Amanda, deslizando depois até o ombro dela e dando-lhe a impressão de estar sendo tocada por um ferro em brasa. — Sua pele é tão sedosa... Foi mais um comentário que um elogio. No entanto, os nervos agitados de Amanda se retesaram e ela virou-lhe as costas, tentando fugir de seu toque. — Você sabia que os grilos cantam até... acharem a companheira?— O que havia começado como uma brava tentativa de mudar de assunto terminou num murmúrio, quando os dedos de Jarod desceram pelo seu ombro, seguindo o decote do vestido e passando pela parte descoberta dos seios arredondados, até atingirem o outro ombro. — Não, eu não sabia — Jarod respondeu com indiferença. Seus olhos, enigmáticos, prendiam os de Amanda, fazendo-a sustentar o seu olhar, enquanto ele lhe acariciava a garganta com a ponta dos dedos. — Quero levar você para casa. A declaração repentina atingiu-a como um raio. — Ê impossível — respondeu, sem muita convicção. — Nada é impossível. — Um sorriso leve apareceu em seus lábios. — Eu sempre deixo uma festa com o homem que me trouxe. Ê uma regra que estabeleci para mim mesma — Amanda disse, com mais firmeza. — As regras foram feitas para serem quebradas. — Seu olhar procurou os lábios de Amanda, que ela umedeceu nervosamente com a língua. — Você pensaria do mesmo modo, se tivesse me trazido? — ela perguntou, tentando resistir à vontade de ir com ele para casa. — Eu nunca a traria para um baile desses, se você tivesse aceitado o meu convite para sair. Eu a levaria para um lugar onde pudéssemos ficar a sós. — Bem, esse não é o caso, uma vez que eu vim com Tobe. Portanto, é justo que eu vá para casa com ele. E por falar em Tobe... — Amanda continuou, lutando contra o arrepio que percorreu seu corpo quando Jarod retirou os dedos de sua garganta — ele já deve estar pensando que eu fui embora. — Talvez ele esteja lá dentro, agora. Jarod não parecia nem um pouco desapontado por não ter conseguido fazer com que ela mudasse de idéia. Ironicamente, Amanda é que estava desapontada por ele não ter insistido. Brad, Cheryl e Tobe estavam esperando por ela no salão, e com um breve gesto de cabeça Jarod deixou-a com eles. Em seguida, Amanda compreendeu que não mais o veria, pois, assim que a deixou, Jarod caminhou até onde estava uma atraente loira e tirou-a para dançar. Estranhamente, Amanda sentiu-se deprimida. Os momentos que havia passado com ele, dominada por seu potente magnetismo tinham-lhe causado uma viva impressão. Mas ela precisava se lembrar de que ele era o herdeiro da Companhia Coiby. E devia se sentir agradecida por ter recebido

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um pouco de sua atenção. Mesmo assim, doía vê-lo dançando com outra mulher, sabendo que provavelmente ele estaria sussurrando ao ouvido dela as mesmas coisas que havia sussurrado ao seu. Então Tobe convidou-a para dançar e Amanda aceitou prontamente, decidida a mostrar a Jarod Colby que não ligava a mínima para ele. — O que você achou do senhor local? — Tobe perguntou. — Um pouquinho arrogante demais — ela respondeu, forçando um sorriso brilhante. — Ele sabe o que quer, e geralmente obtém o que quer. Por acaso ele decidiu que quer você? — Eu não passo de uma garota de cidade pequena. E a minha impressão é de que ele gosta mais de loiras sofisticadas. — Amanda sabia que Tobe tinha visto Jarod dançando com a loira e seu orgulho exigia que fosse a primeira a falar sobre isso. — Imagino que trabalhar para ele deva ser o mesmo que trabalhar para um tirano. — Você e seu pai trabalham para ele. Indiretamente, pelo menos — Tobe lembrou-lhe. — Jarod Colby é um homem de negócios muito inteligente e astuto, ao contrário do pai, que parece mais interessado em gastar do que em ganhar dinheiro. Amanda não queria ouvir falar sobre as supostas qualidades de Jarod Colby. No momento, precisava afastá-lo da cabeça, se é que isso era possível. Não podia permitir que sua mente construísse outro retrato mental, totalmente falso, daquele homem. — Quando é que seus pais voltam? — perguntou a Tobe, tentando mudar de assunto. — Quem se importa com isso? — Tobe, você não deve falar assim. No fundo, não é assim que você se sente — ela o repreendeu, como sempre via a mãe fazer. — Acho que nem você nem seu irmão percebem a sorte que têm. Seus pais estão sempre por perto, quando vocês precisam deles. Eu ainda me lembro do dia em que meu cachorro morreu atropelado na rua. Eu tinha uns nove anos, naquela época, e corri para casa chorando, à procura do meu pai. E sabe o que ele fez? Deu-me dinheiro para comprar outro cachorro! Foi o seu pai quem saiu comigo, para pegar o corpo do Sultão. E foi ele quem arranjou uma caixa e cavou o buraco pára enterrarmos o bichinho. — Tobe sacudiu a cabeça com decisão. — Por mim, eu não voltaria nunca para casa. Acho que só volto por causa da sua mãe. Vocês são a única família que tive, até hoje. — Para nós, você faz parte da família Bennet — Amanda murmurou com meiguice, vendo, pela primeira vez na vida, que existiam mesmo os “pobres meninos ricos”. Mas Tobe não era do tipo que sente pena de si mesmo por muito tempo. Na verdade, ele raramente fazia isso. — Vamos mudar para um assunto mais agradável — sugeriu logo em seguida, piscando para ela, Foi então que uma mão bateu no ombro dele e uma voz disse: — Vamos trocar de pares? Tanto Amanda quanto Tobe olharam surpresos para o casal que dançava ao lado deles: Jarod e a loira! Os pés de Amanda recusavam-se a se mover e Tobe interpretou a parada dela como um consentimento para a troca de pares. Ela teve a impressão de que seu coração só recomeçou a bater quando Jarod tomou-a nos braços. Com olhos cheios de ansiedade, examinou a expressão enigmática do rosto dele. — Achou que não ia mais me ver? — ele perguntou, levemente zombeteiro. Amanda corou, reparando em seguida na loira que flertava abertamente com Tobe. —Ela é muito atraente — murmurou. — Acho que o seu par também pensa o mesmo. A maioria dos homens acha a minha prima atraente. — Sua prima? — Judith vai mantê-lo ocupado pelo resto da noite. E isso deve acabar com as objeções que você tem, a respeito de ir comigo para casa. — Não. Eu não vou para casa com você. Os dedos de Jarod apertaram-se cruelmente em volta da mão enluvada. — Não brinque comigo! Você disse antes que eu não podia levá-la para casa por causa do seu par. Ele está fora da jogada, agora. — Como é que você pode ter tanta certeza? Um som amargo, parecido com uma risada, saiu dos lábios de Jarod. — Porque, na minha família, quem controla os cordões da bolsa sou eu, e Judith precisa de dinheiro. — Seus olhos se estreitaram, examinando o rosto dela com ar possessivo. — Você quer que eu a leve para casa, ou não? Tudo o que quero é que me responda simplesmente sim ou não. Seria tão fácil dizer sim, e deixar-se levar pelo magnetismo que envolvia aquele homem, como uma aura... Mas Amanda tinha plena consciência de que estava sendo tratada com a mesma arrogância e superioridade de alguns anos atrás, quando ele a pusera para fora de sua propriedade. — A resposta é não, sr. Colby — disse com firmeza, erguendo levemente o queixo. Por um rápido segundo, o rosto de Jarod espelhou surpresa com a resposta dela. Amanda percebeu que as ocasiões em que ele não conseguia o que queria deviam ser raras, principalmente com as mulheres. — Sei — Jarod murmurou, seco. — Pois eu duvido muito que saiba. — A frieza de sua voz era tanta, que surpreendeu a si mesma. — Não creio que, alguma vez na vida, você tenha dado importância ao que os outros pensam. A música parou e os dois continuaram onde estavam, encarando-se. — Espero que a sua prima receba o dinheiro prometido. Não foi por culpa dela que você não conseguiu o que queria. Boa noite, sr. Colby — ela terminou e, com um volteio de sua longa saia, saiu, deixando-o sozinho no meio do salão. Tobe estava do outro lado da pista, conversando com a loira, e Amanda pediu ao irmão que fosse buscá-lo, dizendo que estava com dor de cabeça e queria ir para casa. A desculpa não enganou Cheryl, mas ela percebeu que Amanda devia ter uma boa razão para agir assim e não perguntou nada. Uma garota usando um vestido de organdi cor-de-rosa, feito em estilo antigo, veio correndo na direção de Amanda. — Está cheio de gente lá fora, esperando para conhecer a casa — ela declarou, preocupada. — E estão ficando impacientes. Já devíamos ter começado há quinze minutos! — Eu sei, Pam.— Amanda respondeu calmamente. — A turma da limpeza está terminando. Não vão demorar mais do que alguns minutos, agora. — Eles não deviam abrir a casa para visitação, no dia seguinte ao do baile — a garota resmungou. — Ou, então, podiam ter mandado a turma da limpeza vir mais cedo.

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— A turma da limpeza chegou bem cedo, só que não havia ninguém para abrir a porta para eles. — Amanda estava a ponto de perder a paciência, e só com muito esforço conseguia se controlar. — Susan ainda não chegou? — Ela telefonou — Pam respondeu. Acrescentou então com ironia: — Disse que o carro dela não queria pegar. O mais provável é que tenha dormido demais. Dentro de uma hora estará aqui. — Está bem. — Amanda massageava o ponto logo acima de sua sobrancelha, que latejava de dor. — Vou tomar o lugar dela, então, no tour pelo andar térreo. Você guia os turistas pelo primeiro andar e Linda mostra a eles o jardim. Onde está Linda? — perguntou, olhando em torno. Nesse momento Linda, usando um vestido idêntico ao de Pam e Amanda, a não ser pela cor, entrou no hall. — O pessoal da limpeza terminou —informou, ofegante. — Vamos abrir as portas? — Vamos — Amanda concordou, ajeitando a saia de seu vestido verde-mar. — E não deixem de explicar a razão da demora. Esses visitantes são de fora e não sabem do baile que houve aqui, ontem à noite. Ninguém reclamou da demora, depois de ouvir a explicação. Amanda achou bom que ela os estivesse guiando, durante a primeira parte da visita, pois tinha mais experiência que as outras garotas e conhecia várias piadinhas relacionadas com a história da casa. Se conseguisse fazê-los rir, eles se esqueceriam de que tinham ficado esperando. Quando o grupo entrou numa das salas de menor importância, uma senhora perguntou: — Como foi que o Sul adquiriu o nome de Díxie? Foi por causa da linha Mason-Díxon? — Não. A linha Mason-Dixon, a princípio, demarcava a fronteira entre os Estados de Maryland e Pensilvânia, embora mais tarde passasse a ser a linha de demarcação entre os Estados do Norte e do Sul — Amanda explicou. — O nome Dixie surgiu na Louisiana, que foi um Estado colonizado principalmente por franceses. Antes da Guerra Civil, o Estado da Louisiana soltou uma nota de dez dólares, com a palavra dix, que quer dizer “dez” em francês, impressa nela. Os outros americanos logo começaram a se referir à Louisiana como a terra das dixie, e aos poucos o termo foi sendo usado para designar todos os Estados do Sul. — Esta última sala — Amanda informou logo depois, fazendo os visitantes entrarem em um cômodo enorme — era o lugar de onde a fazenda era administrada. Durante a Guerra Civil, quando o Exército da União tomou posse da casa, o coronel Bartholomew Colby costumava usá-la como seu escritório particular. Os oficiais do batalhão dele ficaram aquartelados aqui nesta casa também, e os soldados rasos se acomodaram em tendas pelos'jardins. — O que foi que eles fizeram com os donos da fazenda? — uma das mulheres perguntou. — Na época, só a sra. Reagan e a filha estavam aqui. O marido dela, Sean Reagan, era um oficial de cavalaria, sob o comando do general Robert E. Lee. O coronel Colby permitiu que a sra. Reagan e a filha ocupassem o quarto principal, no andar de cima. — Por quanto tempo o coronel e seus homens ficaram por aqui? — um homem quis saber. — Algumas semanas, apenas. O general Sherman tinha dado ordens para que não destruíssem mais nenhuma casa particular, depois do incêndio de Atlanta, mas muitas vezes essas ordens foram ignoradas. Foi por isso que a maioria das fazendas sulistas foi destruída. A sorte de Oak Run foi o coronel ter se encantado com sua grandeza e extraordinária beleza, o que o levou a impedir que seus soldados a incendiassem. — Não creio que esta tenha sido a verdadeira razão. A voz que falou veio do fundo da sala. Todos, incluindo Amanda, viraram-se para ver quem estava lá. Ela levou um choque quando deu com Jarod Colby abrindo caminho por entre pequenos grupos de turistas, os olhos verdes e enigmáticos fixos nela. — Senhoras e senhores — Amanda disse, voltando com dificuldade a atenção para os visitantes, ao mesmo tempo em que se forçava a sorrir, — vão ter o raro privilégio de conhecer Jarod Colby, descendente direto do coronel Colby e o atual dono de Oak Run. Com um elegante gesto de cabeça, Jarod cumprimentou os visitantes, dizendo em seguida: — Espero que estejam gostando da visita. No meio das várias afirmações de que todos estavam gostando, uma voz; masculina perguntou: — Você ia nos dizer por que o coronel impediu seus homens de queimarem a fazenda. — Eu não duvido que o coronel tenha achado Oak Run muito bonita, como a srta. Bennet contou — Jarod respondeu. — Mas a verdadeira razão por que ele não a queimou foi a mesma que o levou a comprá-la, quando a guerra acabou: ele estava apaixonado pela sra. Reagan. — Os olhos verdes voltaram-se para Amanda, prendendo os dela por alguns segundos. — Vocês podem chamar o que vou lhes contar de segredo de família. Na época em que as tropas da União acamparam nesta casa, a sra. Reagan já tinha sido informada de que seu marido estava perdido e provavelmente morto, e o meu antepassado considerou-a viúva. Quando a guerra acabou e os prisioneiros foram libertados, a sra. Reagan e o coronel descobriram que o marido dela estava vivo, apesar de inválido. Para persuadir Sean Reagan a dar o divórcio para a esposa, o coronel comprou a fazenda, pagando por ela duas vezes mais do que valia, na época. Mas no último momento a sra. Reagan teve um ataque de consciência e não quis deixar o marido. Portanto, não houve divórcio. O coronel ficou com Oak Run e o objeto de seus amores com o dinheiro e o marido. Um silêncio desconfortável caiu sobre o grupo; um pouco mais devagar eles seguiram Amanda até o hall de entrada, onde Pam esperava para levá-los para o andar superior. Jarod permaneceu em pé na porta do escritório de seu antepassado, evidentemente esperando por ela. — Pode me conceder alguns minutos de seu tempo, srta. Bennet? — ele perguntou zombeteiramente. Quando Amanda olhou hesitante na direção da porta, onde um novo grupo de turistas estava se formando, ele enfiou a mão no bolso e tirou um bilhete de entrada. — A mocinha do portão não me deixou entrar enquanto eu não comprei uma entrada. E acho que isso me dá o direito de falar alguns minutos com você. — O senhor nunca esteve aqui antes, sr. Colby, e a mocinha está há pouco tempo conosco. É compreensível que ela não soubesse com quem estava falando, principalmente se o senhor não se identificou — ela comentou com fria dignidade. — Desculpe o meu atraso, Amanda. — Uma garota entrou correndo por uma porta lateral. — O meu carro não queria pegar. — Olhou curiosamente para Jarod, e Amanda imaginou quanto ela teria ouvido, antes de se juntar a eles. — Quer que eu mostre o andar térreo ao próximo grupo? — Quero, sim. Já há um grupo pronto para entrar. — Está bem. — Susan sorriu. — Não vai acontecer de novo... eu chegar atrasada. — Agora, posso falar com você? — Jarod perguntou de novo, enquanto a outra garota se dirigia apressada na direção da porta.

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— Na verdade, não vejo sobre o que a gente possa conversar. — Se não me engano, a minha tia usa aquela saleta ali como escritório — ele disse, apontando para uma porta a poucos passos. E, sem esperar pela resposta, agarrou Amanda pelo braço e levou-a para lá. Uma vez lá dentro, Jarod fechou a porta e encostou-se nela, como se estivesse esperando que Amanda tentasse fugir. Inquieta, ela o viu cruzar os braços sobre o peito, os olhos fixos em seu rosto, e sentiu, de repente, que a saleta tinha ficado muito pequena e abafada. — O que é que você quer me dizer? — Amanda engoliu em seco, nervosa, esforçando-se por parecer indiferente. Jarod estava usando roupas esportivas, que o faziam parecer mais alto e realçavam maravilhosamente bem seus cabelos castanhos e seus olhos verdes. — Quero que você jante comigo. — Sua expressão era completamente enigmática. — Quando? — ela perguntou, tentando esconder a surpresa que suas palavras lhe causavam. — Esta noite. — É um convite muito em cima da hora. — Seu estômago dava saltos acrobáticos. Na última noite, tinha dito para si mesma que, se Jarod estivesse mesmo interessado nela, ele a convidaria para sair. Agora, ele estava fazendo exatamente isso. — Você tem outros planos? — Jarod quis saber, desencostando-se da porta. — Se eu tivesse, aposto que você me pediria para desfazê-los. — Então, você está livre esta noite. — O que não quer dizer, necessariamente, que eu vá aceitar o seu convite. — Amanda levantou o queixo com ar de desafio, ao sentir o olhar complacente dele sobre o seu rosto. — Por que não?. — Seus olhos brilhavam, divertidos. — Está ofendida por que o convite foi feito tão em cima da hora? — Acha que eu devia me sentir grata, por você ter conseguido me incluir na sua agenda? — perguntou, sentindo os músculos da garganta dolorosamente contraídos. Ele riu baixinho e, atravessando o espaço que os separava, segurou-a pelos ombros. Seus olhos tinham uma expressão ardente. — A verdade é que eu tenho de ir para a Pensilvânia, amanhã de manhã, e só vou voltar no fim da semana — Jarod murmurou com seriedade, parecendo acariciá-la com sua voz rouca. — Se isso vai acalmar o seu orgulho ferido, posso lhe pedir para sair comigo sábado, também. — Com os polegares, ele descrevia um movimento circular e sensual nos ombros dela. — Mas jante comigo esta noite. Não quero esperai uma semana inteira, para ver você. Essa declaração deixou Amanda boquiaberta. Incrédula, ela não conseguia tirar os olhos dele, o coração batendo corno um tambor. — Verdade? — Sua voz não passava de um murmúrio quase inaudível, que implorava a confirmação de Jarod. Completamente imóvel, Jarod olhou-a bem dentro dos olhos. Depois, seu olhar deslizou para os lábios trêmulos. — Eu quero ver você esta noite. Amanda sentiu a ansiedade que havia na voz dele, e disse baixinho: — Eu saio daqui às seis horas. Posso estar pronta às sete.... sete e meia, o mais tardar. — Vou mandar um carro para pegá-la, — Um carro? Você não vai me buscar? Jarod sorriu, e aquela foi a primeira vez que Amanda viu um sorriso atingir os olhos dele. Geralmente os sorrisos dele não passavam de movimentos mecânicos da boca. — Você desaprova isso também? — Não — ela lhe assegurou rapidamente. — É só que meus pais... Bem, eles estão acostumados a conhecer as pessoas com quem saio. Não que eles coloquem alguma objeção à minha saída, se não forem apresentados a você. — Eu estarei lá às sete e quinze, então. Está bem assim? Os cabelos negros de Amanda estavam soltos e caíam em ondas suaves em torno de seu rosto. Jarod entrelaçou os dedos em uma mecha, examinou-a por alguns segundos, depois encarou-a de novo, esperando por uma resposta. — Está bem — Amanda respondeu, imaginando para onde teriam ido toda a sua sofisticação e segurança de adulta. Estava se sentindo como uma garotinha de escola, marcando seu primeiro encontro com um rapaz... — Você estará pronta às sete e quinze? — Estarei Jarod examinou mais uma vez o rosto e os ombros de Amanda, antes de se virar e sair dali. Ela continuou onde estava, resistindo ao impulso de se beliscar, para ver se não estava sonhando. Precisava parar de reagir a ele como se fosse uma garotinha apaixonada. Não havia dúvida de que estava confusa, sem saber se o que a atraía era o poderoso magnetismo pessoal de Jarod Colby, ou a imagem que tinha feito dele, no passado. Precisava parar de confundir os dois. CAPÍTULO IV O resto do dia continuou tão agitado quanto a manhã, com dezenas de turistas ansiosos para conhecer Oak Run. Já eram mais de seis e meia quando o último grupo se foi e Amanda pôde ir para casa. — Você chegou tarde hoje, querida — sua mãe comentou, quando ela entrou. — Meu dia foi um verdadeiro caos! Onde está todo mundo? — Seu pai e seus irmãos foram pescar. Eu guardei o seu jantar no forno. — Fui convidada para jantar fora, e tenho menos de meia hora para me arrumar — ela replicou, começando a subir apressadamente a escada. — Você não disse nada a esse respeito, hoje de manhã! — Eu ainda não sabia que ia jantar fora. Faça-me um favor, mamãe: encha a banheira de água para mim, enquanto eu separo as roupas que vou vestir. — Quem é o rapaz que conseguiu deixá-la tão agitada? — Eu não estou agitada, estou é atrasada — Amanda protestou. Então acrescentou, um pouco embaraçada: — Jarod Colby me convidou para sair... — Jarod Colby? — Surpresa, a sra. Bennet havia parado no meio da escada. — O que é que tem Jarod Colby? — Bonnie, a irmã caçula de Amanda, perguntou, aparecendo na porta de seu quarto.

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— Eu vou sair com ele hoje à noite — Amanda respondeu, tentando fazer isso soar como a coisa mais natural do mundo, o coração batendo apressado no peito. — Você está brincando! — Bonnie exclamou, numa voz esganiçada. — Eu não sabia que você o conhecia. — A sra. Bennet já havia dominado a surpresa. — Fomos apresentados no baile de ontem à noite, e esta manhã ele passou por Oak Run para me convidar para sair. — Entrando em seu quarto, ela começou a examinar as roupas no armário. — Esta noite? Não foi um convite muito em cima da hora? — a mãe murmurou, franzindo a testa. — Mas que coisa fabulosa! — Com um suspiro, Bonnie jogou-se sobre a cama da irmã. — Jarod Colby é apresentado a você numa noite e no dia seguinte vai à sua procura, porque não consegue tirá-la do pensamento. — Excitada, a garota sentou-se e perguntou: — O que é que você vai vestir? — Este vestido preto — Amanda respondeu, segurando o vestido cortado em linhas simples e clássicas, de alcinhas estreitas. — Ele lhe dá uma aparência tão sofisticada! — Bonnie comentou, concordando entusiasticamente com a escolha, — A que horas Jarod Colby vai estar aqui? — a sra. Bennet quis saber. — As sete e quinze. . — Então, é melhor você se apressar. Por um verdadeiro milagre, Amanda estava descendo a escada, já pronta, quando ouviu o barulho de um carro parando em frente à sua casa. Bonnie, que estava de vigia na janela da cozinha, veio correndo de lá. — Ele chegou, Mandy! — exclamou numa voz que o excitamento tornava esganiçada. — E é simplesmente maravilhoso! — Quem chegou? Quem é maravilhoso? — vovô Bennet perguntou para a nora, entrando no hall. Nervosa, Amanda correu para a porta da frente. O fato de saber que Jarod Colby estava de pé do outro lado fazia seu coração bater na garganta. — Mandy vai sair com Jarod Colby— Bonnie informou ao avô. — Imagine só, minha irmã vai sair com Jarod Colby! — Jarod Colby! — o velho repetiu. — E você vai permitir, Berenice? Amanda ouviu a voz da mãe, tentando acalmar o sogro, quando abriu a porta. Com o coração aos pulos, encarou o homem incrivelmente másculo e atraente que estava parado ali. — Oi — Jarod disse baixinho. — Entre. — Ela se afastou para deixá-lo passar, sentindo-se de repente extremamente tímida, o que não era próprio de sua natureza. Foi nesse momento que a voz de seu avô, com embaraçosa clareza, chegou até eles. — Você está tentando me dizer que vai permitir que Mandy saia com esse aventureiro ianque? — Fale baixo, sr. Bennet — a sra. Bennet pediu, aflita. Amanda olhou para Jarod com ar de quem pedia desculpas, mas ele parecia divertido com o que tinha ouvido. — Meu avô — ela explicou baixinho. — Para ele, a Guerra Civil terminou apenas alguns anos atrás. — Não se preocupe, eu entendo — Jarod replicou. A sra. Bennet caminhou rapidamente para eles, o rosto queimando de vergonha. Estendeu a mão para Jarod, que a segurou. — Preciso pedir desculpas pelas palavras rudes do meu sogro, sr. Colby — ela disse em voz baixa. — Ele nunca foi mesmo um homem discreto. — Não é preciso se desculpar — Jarod respondeu, sorrindo. — Já fui chamado de coisas piores que aventureiro ianque. Amanda ouviu o avô resmungando alguma coisa e virou-se rapidamente para a mãe. — Nós vamos embora, agora. Não espere acordada por mim. — Divirtam-se!— a sra. Bennet exclamou, quando Jarod e Amanda estavam saindo. — O seu pai também sente essa antipatia pelos ianques? — ele perguntou enquanto a ajudava a entrar no carro, os olhos verdes risonhos. — Não, graças a Deus. Ele saiu para pescar com os meus irmãos. — Você tem mais que um irmão? — O olhar que ele lhe lançou parecia dizer que estava interessado em tudo o que dizia respeito a ela. — Na verdade, nós somos seis. Minha irmã mais velha, Marybeth, está casada e tem duas lindas filhinhas. Ela e o marido vivem em Atenas... Na Atenas da Geórgia, e não da Grécia — esclareceu, rindo. — Brian estuda medicina, por isso não está em casa. Teddy está fazendo direito, e Brad, o que você conheceu ontem à noite, pretende ser arquiteto. O bebê da família é a minha irmã Bonnie. Graças a Deus, ela ainda está no ginásio. — Por que está dizendo isso? — Porque é muito duro, para os meus pais, manter quatro filhos na universidade. Nós todos trabalhamos para ajudar, mas são eles quem pagam quase tudo. — E o que você vai fazer, quando tirar o diploma? — Jarod quis saber, levantando uma das sobrancelhas ironicamente. — Casar? — Logo em seguida, não. Acho que vou trabalhar durante alguns anos, para retribuir o investimento que meus pai fizeram em mim. — Casamento não era uma coisa que Amanda tivesse vontade de discutir com Jarod, principalmente quando ele parecia estar analisando cada uma de suas palavras. — Você poderia se casar com um homem rico e não se preocupar mais com isso — ele sugeriu secamente. Sua coxa encostou na dela, quando ele diminuiu a marcha do carro para fazer uma curva. Arrepiada, Amanda virou-se para a janela. — Acho que poderia — respondeu. Não queria que Jarod pensasse que estava atrás dele. — Mas eu não sou uma pessoa interesseira. E o dinheiro não está entre a lista de coisas que quero conseguir na vida. Ele olhou para ela pensativamente, com uma expressão descrente nos olhos verdes. Amanda bem podia entender por quê. Provavelmente a maioria das pessoas que passavam pela vida de Jarod só estava interessada em seu dinheiro. — A noite está linda! — Ela suspirou, olhando para o céu estrelado. — Está, sim, e eu achei que seria agradável jantar na varanda. — Varanda? — Amanda repetiu. — É um restaurante novo? Jarod riu suavemente. — Eu lhe disse, ontem à noite, que se você saísse comigo eu a levaria a um lugar onde pudéssemos ficar sozinhos. — Seu olhar acariciou o corpo dela, antes de se voltar para a estrada novamente. — Eu estava me referindo à

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varanda da minha casa, e não a um restaurante. — Oh! — ela exclamou baixinho. — Ainda quer jantar comigo? — Jarod perguntou, zombeteiro. As mãos de Amanda, que estavam cruzadas em seu colo, de repente ficaram frias e suadas. Sentia-se um pouco atordoada. Nunca pensara que ele pudesse querer levá-la até a Casa de Inverno! Se se recusasse a ir, daria a impressão de ser antiquada e infantil... No entanto, a idéia de partilhar um jantar íntimo com Jarod Colby, os dois apenas, era um pouquinho amedrontadora. Mas não, estava sendo tola! Ele não era do tipo que se impõe a uma mulher. O sorriso com que ela se virou para Jarod, era aberto e confiante, apesar de não ser o reflexo exato do que sentia por dentro. — Espero que você tenha uma boa cozinheira. Estou morrendo de fome! Os olhos de Jarod desviaram-se para o rosto de Amanda, demorando-se um pouquinho sobre a sua boca. — Eu também — ele confessou. Mas ela percebeu, pelo tom de sua voz, que ele não estava falando sobre comida. — O jantar estava uma delícia! — Com um suspiro, Amanda recostou-se na cadeira que ocupava. — Eu adoro morangos. . — E creme de leite — Jarod acrescentou, soltando vagarosamente a fumaça do cigarro por entre os lábios bemfeitos. — Eu sempre pensei que as garotas sulistas comessem alguma coisa antes de sair de casa, para convencer seus acompanhantes de que tinham pouco apetite, — Antigamente era assim mesmo, mas agora não é mais — ela explicou, sorrindo. — Pode tirar tudo, Hannah — Jarod disse para a mulher idosa, que acabava de entrar na varanda, vinda do interior da casa. — Não vamos precisar de mais nada, esta noite. Não querendo atrapalhar o serviço da governanta, Amanda levantou-se da mesa e caminho até a balaustrada da varanda consciente de estar sendo seguida por Jarod. O sol havia desaparecido no horizonte, mas o céu ainda apresentava vários tons de rosa e dourado, no local onde ele sumira. A fumaça de cigarro que passou por cima de seu ombro, desaparecendo no ar quente da noite, mostrou-lhe que Jarod estava bem atrás dela. O cheiro do tabaco e da intoxicante colônia masculina parecia tê-la envolvido completamente, no momento em que ouviu a governanta deixar a sala, empurrando o carrinho com os talheres e louças usados durante o jantar. De repente, Amanda tomou consciência do fato de que estavam sozinhos, pois Jarod lhe dissera que sua tia morava, agora, numa casa menor em Oak Springs. A noite caía cada vez mais depressa; sentindo que não podia continuar ali, imóvel naquela escuridão, ela se virou abruptamente, dando de frente com os olhos verdes que a observavam, belos e indecifráveis. Automaticamente sorriu de leve, ao mesmo tempo em que procurava pensar em alguma coisa para dizer. — Está ficando escuro — Jarod disse, com um ligeiro tom de zombaria na voz. — Quer entrar? — Quero, sim — ela concordou, hesitante. A sala de estar, que dava para a varanda onde tinham jantado, era um lugar espaçoso e decorado em estilo masculino, onde vários tons de marrom e laranja se misturavam. Aqui e ali havia enfeites de metal dourado, o que servia para dar mais colorido ao ambiente. — Quer ouvir música? — Jarod perguntou por cima do ombro. Ele estava parado em frente a um magnífico aparelho de som, evidentemente dos mais caros. — Quero. Na mesma hora, uma melodia lânguida e suave, que saía de caixas de som estrategicamente colocadas pela sala, encheu o ambiente. Sentindo-se insegura, sem saber onde se sentar, Amanda aproximou-se de um enorme quadro pendurado numa das paredes internas, fingindo interesse pelo navio retratado ali em tons de cinza, verde, amarelo e branco. — Você se interessa por pintura? A voz que soou exatamente atrás dela tinha um tom rouco e cinicamente divertido. Amanda virou-se, apertando inconscientemente as mãos em frente ao corpo, com força. O olhar com que Jarod examinava suas formas bemfeitas era sombrio e, depois do que lhe pareceu uma eternidade, deteve-se em seu rosto. — Está nervosa? — Os ângulos duros de seu rosto bronzeado de sol pareciam mais escuros ainda, em contraste com os olhos verdes e os cabelos castanhos, o que tornava maior seu poder de atração animal. — Um pouco —admitiu, esfregando as mãos uma de encontro à outra e esforçando-se para relaxar. Jarod Colby observava seu gesto com indiferença, e foi isso que a tornou consciente, de repente, da largura dos ombros dele e de sua altura intimidante. Atordoada, com o coração batendo acelerado no peito, Amanda sentiu um estranho calor espalhar-se por todo o seu corpo. A música suave, que enchia o ar, só servia para tornar mais perturbador e íntimo o ambiente, e ela teve a impressão de que o silêncio que os envolvia ia sufocá-la. — Você vai sair de viagem muito cedo, amanhã? — perguntou, esforçando-se para falar com naturalidade. Os olhos verdes fixaram-se novamente em seu rosto. — Bem cedo. — Deve ser ruim estar sempre viajando de um lado para o outro. — É. A resposta breve de Jarod fez com que Amanda começasse a pensar, desesperadamente, em mais alguma coisa para dizer. Como é que ela podia manter uma conversa, quando ele não fazia nada para colaborar? Talvez ele não estivesse interessado em falar de negócios... — Você tem uma casa linda! — murmurou baixinho. Foi nesse momento que Jarod lhe estendeu a mão, parecendo não ter ouvido o seu comentário. Por alguns segundos, Amanda olhou incerta para aquela mão bronzeada de sol, antes de segurá-la. Os dedos fortes fecharam-se com delicadeza em torno dos dela, puxando-a para junto do peito másculo, ao mesmo tempo em que um braço musculoso envolvia a sua cintura. Enquanto percorriam a sala, ao ritmo lento da música, Jarod levou os dedos de Amanda aos lábios e beijou-os. No entanto, a expressão sombria de seus olhos não se alterou quando ele examinou possessivamente o rosto dela. Na noite anterior eles haviam dançado distantes um do outro, por causa do tipo de roupa que Amanda usava. Mas agora Jarod a segurava com firmeza junto ao corpo, e ela podia sentir a pele das coxas queimando de encontro às pernas dele, ao mesmo tempo em que seus seios se comprimiam contra os botões da camisa.

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Amanda não estava preparada para o efeito que o contato com o corpo de Jarod, rijo, musculoso e muito másculo, causou nela. Com a cabeça jogada para trás, o que deixava à mostra toda a sua garganta, ela observava o movimento dos lábios dele sobre sua mão, numa carícia que fazia todo seu braço latejar. Havia uma certa irrealidade naquele momento, como se estivesse vivendo um sonho que transformava suas emoções num verdadeiro caos. De repente, Jarod parou de beijar-lhe os dedos e, virando a palma da mão dela para cima, colocou os lábios na parte sensível que ficava bem no centro, acariciando-a com a língua. Esse toque sensual provocou em Amanda uma avalanche de sensações. Soltando aos poucos o ar que estava preso em seus pulmões, ela encostou a cabeça no peito dele, ao mesmo tempo em que sentia a resistência abandonar seu corpo, enfraquecido pelo desejo. Pousando a mão dela em seu rosto bem barbeado, Jarod esfregou os dedos de leve no braço de Amanda, numa carícia suave. Gomo se tivessem vontade própria, os dedos dela começaram a explorar a linha firme do maxilar dele. Não havia pressa na paixão lânguida que os envolvia, apesar de a chama do desejo se tornar cada vez maior dentro deles, à medida em que a boca de Jarod deslizava pelo rosto de Amanda, na direção do lóbulo da orelha rosada. Depois de alguns momentos intermináveis, sua boca procurou a dela, desta vez não numa carícia gentil e delicada, mas num beijo ardente, que exigia uma resposta. Os braços de Amanda envolveram-lhe o pescoço e instintivamente ela arqueou o corpo para trás, tentando se aproximar ainda mais do corpo dele, rijo e musculoso. Amanda não se lembrava de ter correspondido a nenhum beijo, antes, com tanto ardor. Uma campainha de aviso tocou em sua cabeça, repentinamente, arrancando-a daquele turbilhão de desejo. — Jarod, por favor! — protestou, movendo os lábios de encontro aos dele. Seus sentidos estavam drogados pelos beijos apaixonados que recebia e sua mente parecia não ser mais capaz de raciocinar com clareza. Ele deixou-a afastar-se um pouco, mas a chama que brilhava em seus olhos verdes quase fez com que ela se jogasse em seus braços novamente. — O que foi? — ele quis saber. Jarod estava com a respiração alterada e a voz rouca, mas Amanda pôde sentir o controle férreo que ele exercia sobre as próprias emoções. Estranhamente, isso a magoou. Gostaria que seu toque o abalasse tanto quanto o dele a abalava. — O disco acabou — murmurou, incapaz de admitir, até para si mesma, quanto as carícias dele a tinham afetado. Uma expressão de aborrecimento surgiu no rosto dele, mas foi logo substituída por outra, completamente indecifrável. Deixando as mãos caírem ao lado do corpo, Jarod virou-se de costas, enquanto Amanda tentava se firmar nas pernas ainda moles, que não haviam se recuperado completamente da fraqueza devastadora que tomara conta delas, alguns momentos atrás. — Vá trocá-lo, então — ele ordenou com suavidade. Amanda ouviu o barulho de um isqueiro sendo aceso; logo depois viu uma coluna de fumaça erguer-se acima da cabeça de Jarod. Forçando suas pernas trêmulas a sustentá-la, caminhou até o aparelho de som e colocou o disco do outro lado. Quando se voltou, viu que ele estava se servindo da bebida que havia numa garrafa de cristal, que ficava em cima de uma das mesinhas que decoravam a sala. — Quer beber alguma coisa? — Jarod perguntou, quando seus olhos se encontraram. Amanda meneou a cabeça. — Não, obrigada. Ele arqueou de leve uma das sobrancelhas, antes de tomar um bom gole da bebida que estava em seu copo. Depois, caminhou até uma poltrona larga, onde sentou-se. Amanda continuou ao lado do aparelho de som, incapaz de mostrar o mesmo ar de quem está completamente à vontade. — Venha cá — Jarod ordenou, depois de examiná-la abertamente, o que provocou em Amanda uma onda de calor. Engolindo em seco, ela caminhou para ele e parou junto da poltrona, olhando-o. Seus longos cabelos caíam de ambos os lados do rosto e, num gesto nervoso, Amanda empurrou-os para trás das orelhas, subitamente consciente de que apenas uma camisa de seda branca cobria o peito de Jarod. Ele tinha tirado o Casaco enquanto ela virava o disco. Ainda em silêncio, Amanda observou-o remover com impaciência a gravata, jogando-a sobre uma mesinha ali perto, e desabotoar os primeiros botões da camisa. A visão dos pêlos escuros e crespos que cobriam o peito dele fez o coração dela bater na garganta, disparado. Apressadamente, tentou se afastar, mas Jarod agarrou-lhe o punho, detendo-a. — Seu pulso está batendo acelerado — ele disse. — Eu sei. — Eu perturbo você? Com os olhos dele observando-a de tão perto, Amanda não conseguiu responder. Se dissesse que sim, ficaria muito vulnerável, mas ao mesmo tempo era impossível mentir. Jarod deslizou a mão pelo ventre dela, até alcançar o quadril, arredondado. — Não precisa responder — falou com voz complacente. — Posso sentir o modo como você treme quando eu a toco. Os olhos assustados de Amanda voaram para o rosto dele, mas Jarod estava com a atenção presa aos movimentos agitados de seus seios e ao jeito como o tecido que os cobria se estirava, de acordo com sua respiração. — Jarod, por favor... — começou. — Por favor, o quê? — ele praticamente rosnou, levantando os olhos ardentes para ela. — Há vinte e quatro horas, eu só consigo pensar no modo como seus lábios me provocam. — Não diga isso! — Por que não? — ele perguntou com violência, puxando-a com brutalidade para o colo. — Nesse momento, você se sente exatamente como eu. Por que não podemos admitir isso? — Sua mão moveu-se com rudeza do quadril para as costas de Amanda, que sentiu o coração dele bater acelerado debaixo das palmas das próprias mãos. — Eu senti vontade de segurar você assim, ontem à noite. É capaz de dizer que não queria isso, também? — Não — ela murmurou. — Eu não conseguia tirar da cabeça o cheiro do seu perfume, ou a sensação de suavidade que tive, quando toquei a sua pele — Jarod continuou, entrelaçando os dedos de uma das mãos nos cabelos dela. — E esta manhã, então, não pode imaginar o que senti, sozinho no escritório da minha tia com você, sem poder abraçá-la. E ainda agora há pouco, desperdiçamos tanto tempo com um jantar idiota! Desde ontem à noite; eu só consigo pensar em ver e tocar cada centímetro de seu corpo.

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Amanda deixou escapar um gemido baixo ao perceber a paixão que havia na voz dele. Uma onda de desejo invadiu seu corpo quando os dedos de Jarod deslizaram automaticamente até sua boca, entreabrindo-lhe os lábios. Esmagando-a de encontro ao peito, ele exigia, possessivamente, uma entrega total. O jeito másculo e dominador com que suas mãos acariciavam-lhe as coxas e os quadris, as costas e os ombros, levou Amanda a um ponto febril de desejo. Ela se sentia como uma viciada que não conseguia satisfazer a necessidade que tinha dos beijos dele, mesmo quando os lábios firmes de Jarod violentaram e exploraram-lhe a boca e o pescoço, fazendo com que torrentes de fogo líquido percorressem suas veias. De repente, Amanda percebeu que todas as suas inibições tinham desaparecido. Jogando a cabeça para trás, permitiu que Jarod percorresse livremente, com os lábios, todo seu pescoço e colo, e nem sentiu quando ele afastou as alças de seu vestido, fazendo-as escorregar pelos braços. Atordoada, perdida num turbilhão de emoções, ela prendeu a respiração quando ele acariciou com os dedos o vale entre seus seios. Foi só quando notou que seu vestido deslizava para o chão, que Amanda se enrijeceu. Instantaneamente alerta, livre da sensação de que estava sendo drogada pelos lábios de Jarod, ela percebeu que a mão dele se movia em suas costas, descendo por sua espinha nua. O gesto brusco com que se afastou dele foi completamente inesperado. Aos tropeções, Amanda ficou em pé, apertando o vestido de encontro ao corpo, os olhos brilhando, cheios de lágrimas de vergonha e insegurança. O desejo ainda ardia nos olhos que Jarod ergueu para ela, mas foi logo substituído por uma expressão de zanga, quando Amanda se afastou ainda mais. Ela tremia de desprezo por si mesma, pensando em como estivera perto de permitir que ele a seduzisse. Na certa, Jarod devia estar achando que ela era uma espécie de vagabunda da cidade! Afinal, havia se comportado como tal, respondendo sem a menor vergonha às carícias dele! CAPÍTULO V — Quero ir para casa. — Sua voz saiu por entre soluços mal controlados de humilhação. Jarod levantou-se e parou ameaçadoramente na frente dela, o rosto sombrio. Naquele momento, Amanda teria fugido dali, se achasse que suas pernas poderiam sustentá-la. — Por que está se fazendo de ofendida? — ele perguntou com violência, examinando com desprezo as lágrimas penduradas nas pontas dos cílios de Amanda. — Eu deixei bem claro que queria você. Deixara mesmo? É, devia ter deixado. Só que ela era inexperiente demais e estava cega pela extraordinária atração que sentia por ele, para entender o significado exato de suas palavras. A zanga de Jarod era justificada; incapaz de encará-lo, Amanda murmurou, olhando para todos os lados da sala, menos para ele: —Desculpe, mas eu não sou desse tipo de moça. Jarod explodiu num riso áspero e cheio de desprezo, que se espalhou pela sala. — Está tentando me dizer que ainda é virgem? — perguntou com ironia. — Não acredito que eu seja o primeiro homem a tocar seu corpo desse modo! — O fato de você acreditar nisso, ou não, não tem a menor importância. — Amanda murmurou com dificuldade. Jarod moveu-se com uma rapidez tão grande, que ela não conseguiu evitá-lo. Agarrando-a com força pelos ombros, ele puxou-a segurando-a brutalmente de encontro ao corpo. — Você está mentindo! — exclamou com voz rouca. — Eu não ligo para isso! Não tenho que ser o primeiro homem! Não há necessidade de você fazer o papel da virgem inocente! — Eu não estou fazendo papel nenhum! — Amanda gritou com amargura. Agora, os soluços de dor escapavam livremente de sua garganta. — Estou falando a verdade! Solte-me! Ele a sacudia com violência. — É dinheiro o que você quer? Está com medo de não receber o seu pagamento? Parou de sacudi-la e Amanda se apoiou em seus braços, completamente mole. — Que prova quer que eu lhe dê? — soluçou baixinho. — Quer que eu deixe você me violentar? Jarod agarrou um punhado dos cabelos negros e puxou-os para trás, forçando Amanda a levantar o rosto para ele. Um músculo se contraía perto do canto de um de seus olhos, onde brilhava uma expressão de dúvida. — Está me dizendo a verdade? — Sua voz tinha um tom extraordinariamente calmo. — Estou. — Amanda sussurrou. Soltando uma série de palavrões, ele a largou e virou-lhe as costas, passando uma das mãos por entre os cabelos, com violência. — De agora em diante — Jarod murmurou baixinho, ainda de costas para ela, — é melhor você se manter em águas rasas, até aprender a nadar. Lutando com dedos trêmulos para recolocar as alças do vestido no lugar e fechar o zíper, Amanda estava embaraçada demais para replicar. Mas, com seus movimentos desajeitados e descoordenados, não estava conseguindo nada. Depois de alguns minutos, Jarod virou-a de costas para ele, empurrando suas mãos para o lado. — Eu tenho mais prática nisso do que você — ele zombou, subindo o zíper com facilidade. Seus dedos fecharam-se em torno da cintura dela, virando-a com firmeza de frente para ele. Por um louco momento, Amanda chegou a pensar que ele ia abraçá-la de novo e, enxugando as lágrimas do rosto, percebeu que era isso mesmo o que seu coração desejava. — Vamos esquecer a nossa saída de sábado que vem — Jarod disse com frieza. — Quanto menos eu vir você, melhor será. — Claro. — Amanda murmurou, sentindo-se como se alguém estivesse enfiando uma faca em seu coração. — Venha, vou levar você para casa. Com passos rápidos, Jarod se afastou na direção da porta, seguido por uma abatida Amanda, que tentava desesperadamente se apoiar na pouca dignidade que ainda lhe restava. Ele não disse uma palavra, nem enquanto segurava a porta do carro aberta para ela entrar, nem quando se sentou atrás da direção, alguns minutos depois. As nuvens escuras que bloqueavam a maior a parte das estrelas tornavam o céu quase negro, permitindo que a lua aparecesse apenas de vez em quando. Assim que chegou à estrada principal, Jarod acelerou o carro até que a paisagem em volta se tornou um borrão indistinto. Amanda sabia que ele mal podia esperar para deixá-la em casa. Quando finalmente chegaram, ela viu que todas as luzes do andar térreo estavam acesas. — Que horas são? — perguntou, nervosa. — Quase dez. — Jarod não havia desligado o motor do carro. Certa de que toda a família estava acordada,

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esperando para ouvir sobre o seu encontro daquela noite, Amanda começou a passar os dedos pelos cabelos despenteados, ao mesmo tempo que, com a outra mão, tentava acabar com os vestígios de lágrimas em seu rosto. Com uma exclamação impaciente, Jarod desligou o motor e abaixou o quebra-sol que ficava na frente de Amanda, revelando o espelho colocado em sua parte interna. — Você está um horror — ele murmurou, sério. Abrindo o porta-luvas, remexeu lá dentro até encontrar um pente, que estendeu para ela. A imagem no espelho confirmava a declaração dele. Mesmo na escuridão em que estavam, Amanda podia ver os borrões causados em sua maquilagem pelas lágrimas que tinha derramado. Seus cabelos estavam tão despenteados e embaraçados, que mais parecia que ela havia acabado de se levantar da cama. Enquanto tentava dar um jeito neles com o pente, viu Jarod abrir um desses pacotinhos que contêm uma toalhinha úmida. — Vire-se. — Com os dedos, ele agarrou o queixo de Amanda, para garantir que sua ordem fosse obedecida. — Por que está fazendo isso? — Amanda murmurou. O aroma ácido da toalhinha agia sobre ela como um sal revigorante, enquanto Jarod retirava rudemente todos os traços de maquilagem de seu rosto. — Que importância pode ter, para você, o que a minha família vai pensar? Os olhos dele procuraram os dela, brilhando cinicamente. — Não quero ser forçado a achar um novo gerente para o moinho de algodão. — Você sabe quem é meu pai? — ela perguntou baixinho. — Existem várias famílias com o sobrenome Bennet, em Oak Springs. — Mas só um Bennet tem uma filha que é guia em nossa casa. — Jarod olhou para Amanda com pouco caso. — Você achou que eu não ia mandar investigar a sua família? Os nomes das suas duas sobrinhas são Tereza e Jennifer. Quer que eu lhe diga o dia do nascimento delas, ou prefere que eu fale sobre as suas notas na faculdade? Um riso histérico saiu da garganta de Amanda. — Eu devia me sentir honrada por você me considerar uma companhia adequada. Foi uma pena você ter resolvido me escolher justamente para os seus divertimentos noturnos. — Quem poderia imaginar que uma mulher chegaria virgem aos vinte e um anos de idade, nesta época tão liberal? Você devia entrar para um convento — ele zombou. Aquela zombaria não podia ficar sem uma represália, e Amanda levantou a mão para as feições que pareciam esculpidas em bronze. A barba que começava a nascer espetou-lhe a pele, quando sua palma atingiu o rosto dele, que logo se transformou numa máscara de fúria. Com o coração batendo acelerado, de medo, ela abriu a porta e saiu do carro, mas Jarod deslizou pelo banco e segurou-a, antes que pudesse dar um passo. Com selvageria, ele puxou-a de encontro ao corpo alto e musculoso. Tremores violentos percorriam Amanda, enquanto ela lutava para evitar a boca que descia sobre a dela, tomando posse de seus lábios e comprimindo-os numa punição. De repente, um clarão de luz os atingiu, ao mesmo tempo em que as vozes risonhas dos pais de Amanda chegavam até eles, logo seguidas por um chocado silêncio. Ao ouvir o primeiro som, Jarod a afastara de si, mas não antes que os pais, a irmã e o avô dela vissem o modo como estavam colados um ao outro. Só a dor causada pelo aperto cruel de Jarod, cujos dedos se enterravam em sua cintura, impediu Amanda de fugir para dentro de casa. — Boa noite, sr. Bennet — Jarod cumprimentou com calma. — Boa noite, sr. Colby — o pai dela respondeu, recuperando-se tão depressa quanto Jarod. — Espero que desculpe a nossa intromissão. Nenhum de nós ouviu o seu carro chegando, e Amanda não volta tão cedo de um encontro desde os dezesseis anos. — Eu vou viajar amanhã bem cedo — Jarod replicou, como se estivesse dando uma explicação. — Foi um prazer conhecer a senhora, sra. Bennet — ele disse ainda, antes de se virar para Amanda. Só ela estava perto o suficiente para ver a expressão gelada que havia nos olhos verdes. — Boa noite, Amanda — ele murmurou, com extrema polidez. — Boa noite! Amanda usou os preciosos momentos que Jarod levou para entrar em seu carro e ir embora para se dominar um pouco, antes de se dirigir à varanda, onde toda a sua família esperava. Quando subiu lentamente os degraus da escada, vovô Bennet estava resmungando alguma coisa baixinho, ao mesmo tempo em que caminhava, arrastando os pés, para a cadeira de balanço. Ninguém disse nada. — Eu... eu tive um dia muito cansativo. Acho que vou para á cama — ela murmurou, sabendo que não estava enganando ninguém. Seus pais a deixaram entrar sem fazer perguntas, desejando-lhe boa-noite, apenas. Só Bonnie, a irmã caçula, foi atrás dela. — Onde é que vocês foram? O que fizeram? — a garota perguntou, excitada. — Eu ficaria completamente perdida, se ele me abraçasse daquele modo! Quando é que ele vai voltar? Você acha que ele vai lhe telefonar, enquanto estiver fora? Amanda apertou os dedos de encontro à testa, sentindo que sua cabeça ia se despedaçar. — Bonnie, por favor. Estou com uma terrível dor de cabeça, e a última coisa que quero, agora, é falar. Uma expressão surpresa e magoada apareceu no rosto da garota. Sempre, depois que uma delas voltava de um encontro, as duas passavam um bom tempo falando sobre o que havia acontecido. Agora, Amanda estava rejeitando a sua companhia. — Desculpe — Amanda murmurou e subiu correndo para seu quarto. Com a porta fechada seguramente atrás de si, tentou esquecer o papel de tola que tinha feito naquela noite. Como gostaria de poder apertar um botão e varrer de sua memória tudo que acontecera entre eles! Caminhando de um lado para o outro, com os braços apertados em torno do corpo, Amanda se esforçava para tirar da cabeça as sensações que havia experimentado, sob as carícias experientes de Jarod. Mas bastava que fechasse os olhos para sentir de novo a pressão sensual dos lábios dele sobre os seus, ao mesmo tempo em que uma onda de calor a percorria, de alto a baixo. A leve batida que a sra. Bennet deu na porta, antes de entrar, permitiu que Amanda descesse o zíper do vestido e fingisse que estava se trocando. — Oi, mamãe — ela disse, esforçando-se para aparentar indiferença. — Bonnie me contou que você está com dor de cabeça. O que foi que aconteceu? — Nada, é só tensão. — Acabando de tirar o vestido, Amanda pegou um cabide no armário, para pendurá-lo. — Espero que você não tenha ficado zangada com a nossa intromissão, esta noite. Sinceramente, nós não sabíamos que vocês estavam lá. — Eu sei.

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— O seu Jarod Colby me deu a impressão de ser um bom rapaz. — Ele não é o meu Jarod Colby — Amanda retrucou asperamente, cobrindo logo em seguida a boca com as mãos. — Desculpe... eu não queria ser rude com você, mamãe. A sra. Bennet franziu de leve a testa. — Você vai se encontrar com ele de novo, Mandy? De repente, a farsa ficou pesada demais para ela. Amanda não conseguiu continuar fingindo que não havia nada de errado. Seus ombros caíram para a frente e ela apertou os braços contra o estômago nauseado. — Não, mamãe. — Num gesto cheio de mágoa, moveu a cabeça de um lado para o outro. — Eu não vou mais me encontrar com ele. Sentindo as mãos da mãe em seus ombros, Amanda virou-se instintivamente, procurando consolo. De repente, teve a impressão de que não era mais uma adulta. — E você gostaria de se encontrar de novo com ele, Mandy? — a sra. Bennet perguntou baixinho, aconchegando a filha de encontro ao peito, sentindo a dor que lhe era transmitida silenciosamente. — Gostaria... Não, não gostaria. — Amanda endireitou o corpo e inspirou profundamente. Não ia chorar de novo. De jeito nenhum! — Esta noite... — a sra. Bennet começou, hesitante, ciente das emoções conflitantes que tomavam conta de sua filha. — Esta noite foi um erro, que nem eu nem Jarod queremos repetir. — Ela suspirou. — Estou realmente cansada, mamãe. — Está bem, querida. Não vou lhe perguntar mais nada. — Sorrindo, a sra. Bennet beijou-a e saiu do quarto. — Qual de vocês duas vai buscar o seu pai? — a sra. Bennet perguntou da porta da cozinha. Amanda olhou para Bonnie. — Não olhe para mim — a garota disse. — Assim que eu terminar de regar o jardim, vou entrar e tomar um bom banho. Vá você buscar o papai. — Está bem — Amanda concordou, esfregando os músculos doloridos das costas. — Jogue água nas minhas pernas, mas, pelo amor de Deus, não molhe o meu short. Não pretendo trocar de roupa agora. Bonnie virou o esguicho na direção da irmã, deixando a água escorrer pelas pernas dela, com cuidado para não molhar o short azul. Os sapatos de lona de Amanda ficaram ensopados, mas ela adorou a sensação refrescante que isso lhe deu, depois de duas horas no sol escaldante. — Onde estão as chaves do carro, mamãe? — Amanda perguntou. — No próprio carro. — Eu volto logo. Acenando para Bonnie, Amanda retirou o carro da garagem e seguiu para o moinho. O homem com, quem seu pai geralmente ia e voltava do trabalho estava em casa, com um forte resfriado; não querendo deixar a família a pé, o sr. Bennet decidira que o melhor era que um dos filhos o levasse até o moinho, todas as manhãs, e fosse buscá-lo à tarde. Estacionando o carro em frente ao prédio da gerência, ela deu uma olhada rápida no espelhinho retrovisor, para ver se não estava com o rosto sujo de terra, depois de tantas horas trabalhando no jardim. Era uma delícia poder se dedicar à jardinagem, vestida apenas com short e camiseta, nos dias em que Oak Run estava fechada aos turistas. Muitas vezes, era um verdadeiro martírio passar o dia inteiro com aqueles longos vestidos de babados, principalmente no verão. Tirando a chave da ignição, ela saiu do carro e caminhou alegremente para uma porta em que estava escrito “Gerência”, numa pequena tabuleta. Batendo de leve, girou a maçaneta e entrou, sem esperar por uma resposta. — Oi, papai! Está pronto para ir? Amanda parou abruptamente, ao dar com Jarod Colby ao lado da escrivaninha de seu pai. Apesar de ele não ter manifestado a menor reação à sua entrada, ela sabia que devia estar pálida como cera. Percebendo o estado da filha, o sr. Bennet disse rapidamente: — Sente-se, Amanda. Não vou demorar mais que alguns minutos. Depois de lhe lançar um rápido olhar, no momento em que Amanda entrou na sala, Jarod voltara a atenção para os papéis espalhados à sua frente, em cima da escrivaninha. Vendo que ele não ia cumprimentá-la, ela resolveu seguir o exemplo e ignorá-lo também. Aceitando a sugestão do pai, procurou uma cadeira è sentou-se. Durante três semanas, Amanda havia feito tudo para esquecer aquela noite humilhante na casa de Jarod, e logo agora que suas lembranças estavam começando a tomar a forma de um vago sonho ruim, lá estava ela na mesma sala que ele, tremendo como uma maria-mole, só de ver suas feições másculas e bem-feitas. As roupas claras que ele usava acentuavam o seu físico musculoso, fazendo-a perceber que nunca seria capaz de varrer da memória a sensação que o contato com aquelas formas rijas e tão masculinas havia despertado nela. Os dois homens estavam discutindo o conteúdo dos papéis que Jarod examinava, mas Amanda estava perturbada demais para ouvir uma só palavra do que diziam. Quando bateram na porta da saía, ela quase deu um pulo na cadeira, de tão tensa. — Posso falar com o senhor um pouco, sr. Bennet? — um empregado do moinho perguntou, pela porta entreaberta. — É importante, Joe? — É, sim, senhor. O sr. Bennet deu uma olhada para a filha, depois virou-se para Jarod, que estava concentrado num dos papéis. — Com licença, sr. Colby — disse. — Não vou demorar. — Não há pressa, Sam — Jarod replicou, levantando os olhos para ele por um breve momento. Assim que a porta se fechou atrás de seu pai, Amanda começou a sentir-se pouco à vontade. Sentada na beiradinha da cadeira, ela mal respirava, com medo de chamar a atenção daqueles olhos verdes. Então, Jarod largou os papéis, deu a volta na escrivaninha e apoiou-se nela. Com as mãos nos bolsos, deixou que seu olhar percorresse Amanda vagarosamente, passando pelas pernas nuas e indo se deter no rosto pálido. — Oi, Amanda — disse. — Como vai, sr. Colby? — ela murmurou, sentindo-se embaraçada. — Acho que passamos do ponto de “senhor”, depois do nosso último encontro. — Eu... eu não me sinto muito orgulhosa do modo como agi naquela noite — Amanda declarou, com o rosto em chamas. Tentando escondê-lo do olhar penetrante de Jarod, abaixou a cabeça. — Depois do modo como me comportei, era natural que tivesse uma impressão errada de mim. Agora, se me dá licença — continuou,

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levantando-se agitadamente, — vou esperar por meu, pai no carro. — Não, espere — ele mandou. — Olhe — ela disse, nervosa, — eu não sabia que você ia estar aqui. Se eu soubesse, não teria entrado. — Eu sei — Jarod replicou com suavidade. — Eu cheguei quando seu pai estava telefonando para uma de vocês vir buscá-lo. Como tive o pressentimento de que você viria, esperei. Amanda voltou os olhos castanhos, cheios de surpresa, para ele. — Você esperou? Por quê? — Porque descobri que queria, ver você de novo. — Seu olhar frio examinava-a novamente, da cabeça aos pés. Por um momento, Amanda não conseguiu nem respirar. Suas têmporas latejavam e ela sabia que Jarod estava analisando sua reação ao que ele dissera. Mas já havia se humilhado uma vez e não ia fazer isso de novo. Esticando o corpo, o que ainda a deixava muito mais baixa que Jarod, replicou: — Você estava certo quando disse, da última vez: em que nos vimos, que, quanto menos nos encontrarmos, melhor será. Indolentemente, Jarod cruzou a pequena distância que os separava. — Se uma pessoa se priva de chocolate, vai se lembrar sempre de seu paladar, com saudade. No entanto, se ela o comer até ficar doente — havia um brilho duro e zombeteíro nos olhos verdes, — vai perder completamente o gosto por ele. — Eu não sou uma barra de chocolate — Amanda declarou, dando um passo para trás, ao mesmo tempo em que ele dava um para a frente. Jarod continuou avançando e Amanda recuou até sentir o metal frio de um arquivo contra as costas. — O princípio é o mesmo. Quero me encontrar com você de novo. Quando ela tentou escapar pela lateral, Jarod colocou um braço de cada lado de seu corpo, impedindo-a de fugir. — Mas eu não quero ver você novamente — Amanda declarou com firmeza, pressionando o corpo de encontro ao arquivo. — Você sabe como é forte a atração que sentimos um pelo outro. Não pode enterrar a cabeça na areia, como um avestruz, e fingir que ela não existe. Com as pernas moles como geléia, Amanda tentou se agarrar à pouca dignidade que ainda lhe restava, lutando contra a onda de desejo que a proximidade de Jarod despertava em seu corpo. Como se adivinhasse o poder que exercia sobre as emoções dela, ele chegou mais perto, pressionando-a com as coxas contra o arquivo. Seu cheiro másculo agia como um estimulante erótico, excitando-a e obrigando-a a reconhecer que nunca poderia ser indiferente a ele. Amanda fechou os olhos, numa fraca defesa, quando viu a cabeça morena e arrogante movendo-se inexoravelmente na direção da sua. Os lábios de Jarod deslizaram suavemente por uma de suas faces, até alcançar-lhe a boca. — Sexta-feira à noite podemos ir de carro até Atlanta, assistir a um show. — O movimento de seus lábios, junto ao canto da boca de Amanda, era sensual e provocante. — Não — ela sussurrou com voz fraca, virando a cabeça numa tentativa inútil de fuga. — Vai haver uma festa no clube daqui, sábado à noite, — Jarod murmurou. A espessura de um fio de cabelo separava seus lábios dos de Amanda, agora, e ela não teve forças para nova tentativa de fuga. — E domingo podemos ir passar o dia na praia. Estava ficando cada vez mais difícil não fazer aquele pequeno gesto, que daria a Jarod a posse de seus lábios. Mal podendo respirar, lutando contra o rodamoinho de emoções que ameaçava engolfá-la, Amanda respondeu: — Eu tenho que trabalhar no sábado. — Jarod riu baixinho. — Eu sou o dono de Oak Run — lembrou. — Posso fechar a fazenda no sábado. Vamos nadar no oceano Atlântico e tomar banho de sol na praia... com roupas, se o seu pudor exigir. Amanda deixou escapar um gemido baixo por entre os lábios rosados. Quase ao mesmo tempo, o som de passos se aproximando chegou até eles e Jarod se afastou dela, virando-se de frente para a porta. Na mesma hora ela levantou os olhos perturbados, fixando-os no perfil implacável do homem a seu lado. Depois, voltou-os para o pai, corando intensamente ao perceber a expressão interrogativa no rosto dele. — Eu... eu vou esperar no carro, papai — gaguejou. E, evitando o olhar de Jarod, saiu apressada. Quando Amanda chegou ao carro, ainda respirava com dificuldade. Mais um minuto... mais um segundo, e teria cedido. Com força, apertou os lábios que ainda queimavam pela leve carícia dos de Jarod. Ele estava jogando um jogo no qual era mestre! O fato de ela afetá-lo fisicamente não tinha a menor importância, pois não possuía o poder de anular o controle férreo que ele exercia sobre as próprias emoções. No entanto, com que facilidade Jarod acaba com o meu controle, pensou. Sua respiração já estava normal quando os dois homens saíram da sala da gerência. Sem um olhar para Amanda, Jarod passou por ela e entrou em seu próprio carro. Só quando ele desapareceu na estrada é que percebeu que o pai já estava sentado a seu lado, a mão estendida em sua direção, à espera das chaves do automóvel. — Você parece bem cansado, papai — Amanda murmurou, forçando um sorriso, ao mesmo tempo em que tirava as chaves do bolso. — Teve um dia duro? Ele sorriu, divertido. — Não pensei que você pudesse enxergar alguma coisa à sua volta, além daquele rapaz. Mas, sim, tive um dia muito cansativo. Amanda remexeu-se no banco, inquieta, olhando mais uma vez para a nuvem de poeira deixada pelo carro de Jarod. — Não é bem assim — protestou, sem muita convicção. — Não é? Pois a impressão que eu tive foi a de ser a pessoa a mais. — Jarod... o sr. Colby fez algum comentário a meu respeito? — O único comentário que ele fez foi que eu tinha uma filha linda. Saber disso não melhorou em nada o estado de tensão em que Amanda se achava. Distraída, ela contemplava a paisagem pela janelinha do carro. — O que é que o senhor acha dele, papai? — perguntou de repente. Seu pai levou alguns minutos para responder, mas quando o fez foi com firmeza: — Você já é uma adulta, Amanda. O que é que você acha dele? — Ele é demais, para mim. — O que é isso? Esnobismo às avessas? Ele havia interpretado de modo errado sua resposta, mas Amanda se sentiu contente com isso. Seria difícil explicar o impacto físico que Jarod lhe causava. Ela mesma ainda não havia se acostumado à sensação.

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— Não podemos deixar de admitir que o mundo dos Colby é bem diferente do nosso — murmurou. — Não é tanto assim — o sr. Bennet ponderou. — Se você tem vontade de se encontrar novamente com Jarod Colby, não deixe que sentimentos desse tipo a impeçam, minha filha. Isso era fácil de dizer, mas difícil de fazer. No caso dela, a insegurança andava de mãos dadas com a inexperiência e, apesar do triunfo que sentirá ao saber que Jarod queria vê-la de novo, Amanda não tinha certeza de poder sair sem um arranhão de outro encontro com ele. E a última coisa que queria era perder o controle de suas emoções, caindo numa armadilha da qual não poderia fugir. Por isso, a melhor coisa a fazer era não sair com Jarod Colby, não importava quanto ele a atraísse. CAPÍTULO VI Sua força de vontade foi testada naquela mesma tarde, quando o telefone tocou e Bonnie anunciou que era para ela. Antes de pegar o aparelho, Amanda já sabia que era Jarod. — Sete horas é muito cedo para eu pegar você, sábado à noite? — ele perguntou, assim que ela atendeu. — Eu não vou sair com você — Amanda respondeu em voz baixa. — Domingo, então? — Não. — Não se faça de difícil comigo, Amanda -— A distância não suavizou a aspereza que havia em sua voz. — Eu não estou fazendo isso. — Ela estava respondendo do modo mais curto e seco que podia, para esconder a emoção. — A resposta é não! Hoje! Amanhã! A semana que vem! No mês que vem! Não! Ele encheu os pulmões de ar com tanta violência, que deu para Amanda ouvir perfeitamente do outro lado da linha. — Não aceito essa resposta. E você não quer que eu a aceite — Jarod disse rudemente. — Já provou isso hoje. Não havia resposta para isso. Ele estava acostumado demais a vencer as objeções de uma mulher, para não saber quanto ela estivera perto de ceder, naquela tarde. Bem devagarinho, Amanda recolocou o fone no gancho, pois estava com medo de acabar aceitando o convite dele, se continuassem a conversar: — Era Jarod Colby, não era? — A voz de Bonnie fez Amanda se virar abruptamente. — E você teve coragem de recusar um convite dele? Deve estar louca ou doente! Amanda apertou os lábios com força, antes de responder: — Não quero embarcar num trem que não vai a lugar nenhum, Bonnie. Se ele chamar de novo, diga-lhe que saí. Mas Jarod não chamou de novo. E, à medida que os dias passavam, Amanda se convencia mais e mais de que ele havia tomado a sua resposta como definitiva. No entanto, seu segundo encontro com ele tinha diminuído bastante a humilhação do primeiro. Recusando-se a sair com Jarod, ela readquirira boa parte de seu orgulho e dignidade, embora muitas vezes se surpreendesse desejando ter dado uma resposta menos categórica. Ele sentira vontade de vê-la novamente, e ela também gostaria muito de revê-lo, sabia disso. Amanda já não dava mais tanta importância ao fato de que qualquer relacionamento entre ela e Jarod estava destinado, fatalmente, a dar em nada. Não havia a menor dúvida de que, se ele tinha planos de se casar algum dia, não seria nunca com uma garota de cidade pequena, como ela. E nem ficaria satisfeito com um relacionamento inocente que, comparado com os que tivera com outras mulheres, poderia mesmo ser chamado de platônico. Até àquela data, Amanda tinha se considerado uma mulher liberada, que estudava para se dedicar a uma carreira que não pretendia abandonar, nem depois de casada. Encarava com naturalidade os relacionamentos íntimos de suas amigas com os namorados, e atribuía a sua castidade ao fato de nunca ter encontrado um homem pelo qual se sentisse realmente atraída. Agora, frente a frente com a possibilidade de ter um caso desses com Jarod Colby, se saísse de novo com ele, ela se perguntava o que sentia por Jarod, na realidade. Será que as ilusões do passado ainda a influenciavam? E a atração entre eles, seria puramente física? Ou havia a chance de emoções mais profundas estarem envolvidas? Se havia, Amanda tinha a triste impressão de que isso só acontecia da parte dela. Mas que pensamentos deprimentes!, Amanda se censurou. No entanto, eles combinavam com o dia cinzento e frio e com a garoa que caía sem cessar. Poucos turistas se arriscariam a ir até Oak Run, com um tempo daqueles. — Pam! — Amanda deu as costas parada janela onde estava e dirigiu-se às três garotas, que conversavam num canto. — Por que você e Susan não vão para casa? Linda e eu podemos ficar, para fechar a casa. Não creio que algum turista tenha coragem de enfrentar este tempo, para vir conhecer Oak Run. — Certo! — Pam respondeu, enquanto ela e Susan se levantavam mais do que depressa das cadeiras onde estavam sentadas. — Eu estou precisando mesmo lavar a cabeça e não sabia de onde ia tirar tempo para fazer isso, hoje. — Está chegando um carro — Linda anunciou, desanimada. — Sempre existe alguém que gosta de passear, num tempo como esse! Amanda soltou um suspiro, mas de alívio. Não gostava de ficar muito tempo à toa, para não pensar em Jarod Colby. Todo mundo na cidade sabia que ela saíra com ele, inclusive suas companheiras de trabalho. Cada vez que tentava participar das conversas delas sobre homens, roupas ou música, elas mudavam o assunto para Jarod, mostrando curiosidade, inveja, e uma certa maldade cheia de malícia quando ficavam sabendo que Amanda não tinha mais saído com ele. E nem mesmo para salvar o seu orgulho ela poderia lhes contar que havia recusado um convite dele. As três não entenderiam, e talvez nem acreditassem. — Quantas pessoas chegaram? — Amanda perguntou, acenando para Susan e Pam que saíam rapidamente, ao mesmo tempo em que pegava os catálogos que costumavam oferecer aos visitantes. — Dois. Um homem e uma mulher — Linda respondeu, espiando por entre os panos da cortina. Então, soltou uma exclamação abafada, dizendo logo em seguida: — Amanda! Acho que é Jarod Colby! Involuntariamente Amanda se enrijeceu, embora percebesse que Susan e Pam haviam parado e olhavam para ela, esperando a sua reação. O sangue tingiu rapidamente as suas faces, mas desapareceu com a mesma rapidez no momento em que a porta da frente se abriu. Jarod não foi o primeiro a entrar. Uma loira maravilhosa, usando um terninho que Amanda sabia que nunca poderia comprar, nem que economizasse um ano inteiro, precedeu-o. O fato de descobrir que, além de ser linda e sofisticada, a moça evidentemente conhecia muito bem Jarod não ajudou nem um pouco a melhorar o seu animo. — Boa tarde, srta. Bennet. A voz zombeteira de Jarod fez Amanda voltar os olhos para ele. Uma onda de dor invadiu-a quando viu a expressão dura e indiferente do olhar dele.

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— Boa tarde, sr. Colby. É uma surpresa vê-lo por aqui! — Até mesmo Amanda notou o tom falso e animado demais com que havia falado. E não precisou olhar em volta para saber que sua conversa com Jarod estava sendo observada com indisfarçado interesse pelas outras garotas. Jarod virou-se para a loira, que estava firmemente agarrada ao braço dele. — Vanessa nunca esteve em Oak Run, e eu achei que este seria o dia perfeito para ela conhecer tudo sem pressa, já que vocês estão recebendo pouquíssimos visitantes. — É por causa do mau tempo — Amanda murmurou, na defensiva. — O senhor e... — interrompeu-se durante alguns segundos, para se controlar — vão ter o lugar só para vocês. Espero que gostem do passeio. — A última frase foi dirigida à loira, que a observava com mal disfarçado divertimento. Havia um brilho irônico nos olhos de Jarod quando ele os fixou em Amanda. — Acho que a senhorita me entendeu mal, srta. Bennet — disse com secura. — Eu vou usar o escritório da minha tia para dar alguns telefonemas, e como não quero que a srta. Scott se aborreça, esperando por mim... — Como se eu pudesse, querido! — Vanessa murmurou, sorrindo provocante para ele. — ...Achei que ela poderia se distrair, visitando Oak Run — Jarod terminou, depois de corresponder ao sorriso convidativo. — Claro! — Amanda concordou secamente. Suas unhas estavam deixando marcas nas palmas de suas mãos. Cada centímetro de seu corpo gritava de ciúme, e o desejo primitivo de arrancar aqueles olhos azuis e reluzentes, que não se despregavam de Jarod, tomou conta de si. Rigidamente, Amanda virou-se para dizer a Linda que guiasse a loira pela casa. — Linda, você... A voz de Jarod interrompeu-a: — Como a senhorita é a chefe das guias, eu gostaria que acompanhasse Vanessa, srta. Bennet. Amanda virou-se abruptamente para ele, os olhos brilhando de raiva e indignação. — Isso é uma ordem, sr. Colby? — perguntou. Ela não precisava ouvir as exclamações abafadas de suas companheiras de trabalho para se dar conta de que o tom de voz com que falara não era o que devia ser usado com o patrão. A máscara de cínica indiferença caiu do rosto de Jarod, cujas narinas fremiam de raiva. — É, srta. Bennet, é uma ordem — ele respondeu com aspereza. Lutando contra o desejo que sentia de sair correndo daquela casa, em vez de servir de guia para a amante dele, Amanda moveu-se, para cumprir a ordem que acabara de receber. A longa saia de seu vestido de babados dava uma graça toda especial ao seu andar, realçando o modo orgulhoso e cheio de desafio com que ela levantava a cabeça. — Quer vir por aqui, srta. Scott? — perguntou num tom de voz frio e educado e, sem esperar pela resposta da outra, começou a caminhar. A necessidade de fugir do olhar irônico de Jarod levou Amanda a mudar o roteiro usual da visita; em vez de começar pelos cômodos do andar térreo, ela se dirigiu ao andar superior. Na sua melhor voz profissional, começou a recitar: — Enquanto subimos a escada que conduz ao primeiro andar, a senhorita pode notar as marcas e buracos que existem nos degraus originais de carvalho. Acredita-se que eles foram feitos pelos soldados da União, quando eles entraram a cavalo na casa, para tomar posse dela. A visita ao primeiro andar foi feita em pouco tempo, e Vanessa Scott mostrou pouquíssimo interesse pela magnífica mobília e pelos raros objetos de arte. A atitude dela foi principalmente de indiferença, até o momento em que Amanda levou-a para o andar de baixo. — Onde fica o salão de bailes? — ela perguntou, olhando as várias portas que davam para o hall. — Eu gostaria de conhecê-lo. Geralmente o salão era o último dos cômodos do andar térreo a ser mostrado aos visitantes, mas como Amanda já tinha modificado o roteiro uma vez, não viu nada de mal em modificá-lo novamente. — É aqui — disse, abrindo uma das portas. Já ia começar a descrever as antigüidades conservadas ali, quando a loira perguntou: — É aqui que é feito o Cotilhão? — É, sim — Amanda respondeu educadamente. — Desde o início deste século, todos os anos é feito nesta casa um baile, o Cotilhão, como costuma ser chamado, no dia do nascimento de Jefferson Davis. — Já esteve em algum? — Pela primeira vez, desde que haviam saído do hall, a loira fixou o olhar em Amanda. — Já, sim. É uma ocasião bastante festiva. As músicas são tocadas por um quarteto de cordas e todos os convidados comparecem usando roupas antigas, do tempo do Velho Sul. — Inteligentemente, ela usou a pergunta pessoal para descrever a atmosfera do baile, esperando que a outra não desse por isso. — O estilo dos vestidos é bem semelhante ao dos que nós, guias, usamos, só que bem mais luxuoso. — Com os seus cabelos pretos, você deve ter escolhido um vestido verde — Vanessa comentou. — Escolhi, sim. Agora, se olhar com atenção os lustres colocados em cada extremidade do salão, vai ver que... — Você conhece a prima de Jarod, Judith? Amanda parou de falar e virou-se vagarosamente para encarar de frente a loira, a ponto de explodir de raiva. — Não, não conheço — respondeu, e esperou pela próxima pergunta. — Até que ponto você conhece Jarod? — Eu mal o conheço, srta. Scott — Amanda falou com frieza, sem mentir. — Fui empregada pela companhia dele para ser guia nesta casa. — Só isso? — Seus olhos azuis percorreram arrogantemente o rosto de Amanda, irônicos e provocantes. — Pois pelo que Judith, que é uma grande amiga minha, me contou, Jarod causou uma enorme sensação na noite do baile, com a atenção que dedicou a uma certa morena, que usava um vestido verde. Poderia ser você, por acaso? — Se bem me lembro, eu realmente dancei uma vez com o sr. Colby — sua voz era gelada. — Isso é uma coisa da qual você dificilmente poderia se esquecer, não é? — Vanessa sugeriu secamente. — Ele convidou você para sair? Amanda apertou os dentes com força, tentando se controlar, antes de dizer: — Esse é um assunto pessoal, que não é da sua conta. — Pois parece que é da conta da cidade inteira. E tudo o que se refere a Jarod é da minha conta, sim. O sorriso doce que apareceu nos lábios de Vanessa deixou Amanda, que já estava começando a ficar nauseada com aquela conversa, doente de raiva. — Sabe — a outra continuou, — Jarod costuma dar umas “escapadinhas” de vez em quando. — E como elas não duram muito e Jarod volta sempre correndo para você — Amanda murmurou com ironia, —

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não vejo qual é o propósito dessa discussão. — Realmente, não há sentido nessa nossa conversa. — Vanessa encolheu os ombros com negligência. — Eu só estava curiosa para saber quem era a caipirinha que despertou a atenção dele. — E agora que já sabe, não existe mais razão para continuar com esta visita. — Normalmente, Amanda nunca permitiria que sua zanga a levasse a ser rude com um visitante de Oak Run, mas o tom de superioridade da loira fez com que retrucasse: — Acho que a brincadeira já foi longe demais. Você está tão interessada em ver a casa, quanto eu em mostra-la. Tenho certeza do que prefere voltar para junto do seu querido Jarod. — Sua voz estava começando a tremer, por causa da raiva que sentia. — Uma coisa tenho que reconhecer: vocês dois formam o par perfeita. Ambos são arrogantes, convencidos, egoístas... — Chega, srta. Bennet! — uma voz áspera vociferou, atrás dela. Amanda virou-se abruptamente, dando de frente com Jarod, que a olhava com uma expressão homicida no rosto. Seu coração disparou de medo quando viu a dureza que havia nos olhos verdes. — Oh, querido! — Vanessa Scott aproximou-se rapidamente dele, apoiando uma das mãos em seu braço. — Sinto que você tenha ouvido... — Por favor, espere por mim no carro. Quero falar com a srta. Bennet a sós — ele a interrompeu, com frieza. — Pois não — a moça murmurou, lançando um olhar triunfante para Amanda, antes de sair. Amanda não conseguiu sustentar o olhar de desprezo de Jarod e abaixou rapidamente os olhos, assim que Vanessa os deixou sozinhos. — Vou lhe poupar o trabalho de me despedir — falou com aspereza. — Eu peço demissão! — Eu pouco me importo com a sua demissão! O que quero é que você me explique por que foi tão rude com a srta. Scott! — Eu perdi a paciência! — Amanda berrou. — Isso é uma desculpa, não uma explicação. — Jarod abaixou um pouco o tom de voz. — Eu quero saber por que a senhorita tratou uma visitante de Oak Run com tamanha grosseria, srta. Bennet! Desanimada, ela empurrou para trás os cabelos que lhe caíam na testa. — Pare de me chamar assim — murmurou frustrada, sem querer admitir que a discussão que a levara a atacar Vanessa era a respeito dele. Tinha medo de que ele pensasse que ela começara tudo. — Como sugere que eu a trate? — Jarod zombou com ironia. — Amanda? O desprezo na voz de Jarod feriu-a mais do que ela gostaria de reconhecer. — Na verdade, acho que isso não tem importância. — Não tem, mesmo — ele respondeu asperamente. Durante alguns segundos, o silêncio os envolveu. — Estou esperando pela sua explicação. — O que quer que eu diga? — Amanda perguntou, zangada. — Como espera que eu reaja, vendo você desfilar com a sua última amante na minha frente? O que é que eu devia fazer? Sorrir e conversar, como se ela fosse igual a qualquer outra estranha?. — E o que lhe importa o que eu faço ou deixo de fazer? — Jarod jogou a cabeça morena para trás e olhou-a com arrogância. — Você deixou bem claro, na última vez em que nos falamos, que não queria mais nada comigo. Era verdade? — Era — ela confirmou, nervosa, lamentando sua explosão de ciúme de alguns segundos atrás. As mãos de Jarod fecharam-se em torno da cintura de Amanda, ao mesmo tempo em que um brilho constrangedor aparecia nos seus olhos verdes. — Era verdade? — repetiu. — Era — ela reafirmou, numa voz quase inaudível. — Acho que não era, não. — Uma sobrancelha escura arqueou-se, complacente. — Você bem que gostaria de sair comigo, de novo. Sentindo-se desamparada, Amanda ergueu o olhar para o rosto dele, tão másculo, tão viril. A magia de seu toque estava começando a atingi-la. — Eu não vou lhe implorar — Jarod continuou. — Vou lhe pedir pela última vez. E a resposta tem que ser sim ou não. Era um ultimato. Amanda sabia que ele nunca mais lhe pediria. Esta era a segunda oportunidade, que ela tanto havia desejado. No entanto... — Quer sair comigo? — Eu gostaria, mas... — ela começou, nervosa. — Então escolha o dia, o lugar e a hora. — Segunda-feira. — Inspirou profundamente, enfrentando o olhar dele. — À uma hora. Podemos passar a tarde na montanha Stone. Uma exclamação de desgosto escapou da garganta de Jarod, que, largando a cintura dela, começou a se afastar. Amanda agarrou uma das mãos dele e segurou-a entre as suas, acariciando-a inconscientemente. — Jarod, eu... — Engoliu em seco, tentando desfazer o nó que lhe apertava a garganta. — Eu quero vê-lo num lugar público. Jarod observou o movimento das mãos dela durante alguns segundos, antes de voltar o olhar para o rostinho ansioso. — Onde eu não possa tirar vantagem da situação, não é? — É ..... mais ou menos — Amanda admitiu. A zombaria dele fazia com que se sentisse tão criança! — Eu pego você na segunda-feira, então, à uma hora. — E, retirando a mão das dela, caminhou para a porta. — Jarod? A voz de Amanda o deteve na soleira da porta. Com uma expressão fria no rosto, ele virou um pouco o corpo, para olhá-la. — Eu ainda sou guia aqui? — perguntou, nervosa. — Francamente, isso não tem a menor importância, para mim. Amanda jogou a cabeça para trás ao perceber o tom de pouco caso na voz de Jarod. Rapidamente virou-lhe as costas, para que ele não pudesse ver o efeito que sua cruel indiferença causava nela. — Maldição! — Jarod murmurou baixinho e, aproximando-se com passadas largas e zangadas, virou-a de frente para si, bruscamente. Sua expressão sombria quase fez Amanda derramar as lágrimas que lhe marejavam os olhos. — Eu não interfiro com a direção de Oak Run. Isto aqui é um projeto da minha tia, e é ela quem faz as admissões e demissões. Se você quer mesmo apresentar um pedido de demissão, apresente-o a ela.

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— Eu tenho que trabalhar, para ajudar a custear as minhas despesas na faculdade — ela explicou, com voz fraca. Jarod apertou os lábios e estreitou os olhos, exasperado. — Eu não consigo decidir se você é uma garotinha de escola ou uma mulher — vociferou. — Fique com o seu emprego, se é isso o que quer. O sangue invadiu o rosto de Amanda. — O seu trabalho e o seu dinheiro são importantes para você. Por que razão o fato de eu sentir o mesmo me transforma numa garotinha de escola? — respondeu com rudeza. — Ou você está dizendo isso porque já se arrependeu de ter convidado uma caipira como eu para sair? — Quem a chamou de caipira? Amanda apertou os lábios com força, decidida a não dizer nada. — Foi Vanessa, não foi? Foi por isso que você explodiu com ela daquele modo, então... Bem, eu passo para pegar você, na segunda-feira. E, sem dizer mais nada, Jarod virou-lhe as costas e saiu da mansão. Lentamente, Amanda deixou o salão de bailes, entrando no hall no momento em que ele dava a partida no carro. — Você foi despedida? — Linda perguntou, ansiosa. — Sem querer, eu ouvi uma parte do que vocês disseram. — Não, não fui. Amanda tinha certeza de que, dentro de poucas horas, toda a cidade saberia do que tinha acontecido entre Jarod e ela, naquela tarde. Seria inútil pedir a Linda para não dizer nada. O preço que tinha que pagar, por sair com ele, era mais alto do que pensara. O fato de ser a primeira garota da cidade por quem ele havia mostrado interesse transformara Amanda no alvo dos comentários mais maldosos e maliciosos das pessoas do local. CAPÍTULO VII Erguendo-se acima da copa dos pinheiros da Geórgia, existe um monolito enorme, que lembra os restos petrificados de uma gigantesca baleia cinzenta. Em um de seus lados foram esculpidos os bustos de três dos mais famosos homens da curta história dos Estados Confederados da América: Jefferson Davis, presidente da Confederação; Stonewall Jackson, um general do exército rebelde, e Robert E. Lee, o general comandante de todo o exército confederado. O trabalho inteiro, do tamanho de um quarteirão, com a figura de Lee quase tão alta quanto um edifício de nove andares, é realmente magnífico, mas assume as proporções de um selo quando seu tamanho é comparado ao da montanha Stone, onde está encravado. Amanda recostou-se contra o braço de Jarod, cuja mão estava apoiada em seu quadril, próxima do cós de sua calça verde. Por mais que já tivesse visto a escultura antes, ela sempre ficava impressionada com o seu tamanho. — Não é irônico — ela disse, olhando para ele, — que Gutzon Borglum, o primeiro homem contratado para realizar esse trabalho, em 1920, tenha saído daqui frustrado por não conseguir fazer nada que prestasse nessa rocha, tornando-se mais tarde famoso por suas esculturas no monte Rushmore, nas colinas Negras de Dakota do Sul? Lá, ele esculpiu os bustos de quatro famosos presidentes dos Estados Unidos, incluindo Abraham Lincoln, não é isso? — Você já esteve no monte Rushmore? — Jarod perguntou. — Não.. Nesse momento uma mulher chocou-se com ela, pedindo desculpas logo em seguida. — Isto aqui está ficando muito cheio de gente. Vamos para outro lugar — ele sugeriu, empurrando-a delicadamente na direção do mirante, localizado logo abaixo da escultura. — O que você quer ver, agora? Quer visitar a fazenda onde os próprios turistas podem alimentar os animais ou prefere dar uma volta de trenzinho pelo local? A secura de sua voz não escondia uma ironia sutil. Olhando a multidão de turistas em volta deles, Amanda admirou a coragem que tivera, pedindo a ele para visitarem aquele lugar. — Nós podemos ir até o Carrilhão — sugeriu, encolhendo os ombros com indiferença. — Você acha que é melhor ir a pé, ou de carro? — Prefiro ir a pé. Contornaram o Memorial Hall, às vezes seguindo o fluxo dos turistas, às vezes indo contra eles. — Sinto muito, Jarod. Não foi uma idéia muito boa vir para cá, não é? — Se levarmos em consideração que você queria se proteger de mim, no meio de uma multidão, a idéia não foi boa; foi excelente! — ele zombou. — Estou surpreso com o fato de você ter me deixado segurar a sua mão! — Pare com isso! Está me deixando mais deprimida do que eu já estava! — Sentindo-se miseravelmente infeliz, Amanda olhou em torno. — A idéia foi sua — Jarod lembrou. — O que é que você esperava conseguir com isso? — Eu queria conhecer melhor você, saber o que existe por irás da sua fachada de dono da Companhia Colby — respondeu com voz trêmula. — Pois eu posso pensar em vários lugares melhores do que este, para você me conhecer — ele murmurou com amargura. — Vamos esquecer o Carrilhão e voltar para casa. Este nosso passeio foi um verdadeiro desastre. — Nem tanto — Jarod comentou, mas mudou a direção de seus passos para o pátio de estacionamento. — Na verdade, você aprendeu alguma coisa a meu respeito, hoje. — Que você não gosta de multidões — Amanda disse, com uma careta. — Isso, e também que estou disposto a suportá-las, para convencer você a me encontrar no meio do caminho, como se diz. — Uma estranha luz brilhou por um rápido momento nos olhos verdes, antes de Jarod se virar para ela. — Por mais bonito que este lugar seja, não posso dizer que esteja triste por ir embora. — Foi por isso que você veio hoje comigo? — Amanda ergueu o rosto para ele, incrédula. — Eu sei que você tem medo de mim. Ele aparece de vez em quando nesses seus olhos castanhos. Jarod abriu a porta do carro e ajudou-a a entrar, enquanto ela pensava no que havia acabado de ouvir. A verdade é que tinha mais medo de si mesma do que dele. — Nós não temos muita coisa em comum — comentou, observando-o dar a partida. — Eu respiro, como e durmo, igualzinho a você. A única diferença entre nós é que eu como filé mignon com mais freqüência. — Ele sorriu, divertido. — Ter dinheiro não torna um homem diferente, nem o faz melhor do que os outros. O rosto de Amanda era a própria imagem da surpresa quando Jarod olhou para ela. — Você está surpresa!

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— Nunca pensei que pudesse ouvir Jarod Colby dizer uma coisa dessas! — Outro dia, você me chamou de arrogante e convencido. Eu sei que estou acostumado a conseguir o que quero — admitiu secamente, — mas isso acontece porque geralmente eu não aceito um “não” como resposta. — E quando você consegue o que quer, não perde o interesse? — O que é que está querendo saber, na verdade? — Os olhos escuros fixaram-se, por um breve momento, no rosto dela. — Quer saber por quanto tempo vamos ficar juntos, depois que eu a conhecer melhor? Ainda não tenho uma resposta para essa pergunta. — Pelo menos, você é honesto — Amanda murmurou lentamente. — Eu tento ser honesto sempre. Eu lhe disse, no início, que a queria. E não estaria aqui, agora, se isso não fosse verdade. O comentário foi feito quase com indiferença, mas Amanda corou. — O que é que você sente por mim, Amanda? — Eu não sei se gosto de você — ela respondeu hesitante, olhando firmemente para a frente, enquanto ele dirigia no meio do pesado tráfego. — Você me atrai fisicamente, mas eu não consigo resolver o que quero. — Não demore muito. Atrás de seu tom de voz brincalhão, havia uma ameaça disfarçada, uma declaração de que ele não esperaria para sempre que Amanda tomasse uma decisão. Durante a viagem de volta para Oak Springs, eles pouco conversaram. Depois de parar o carro em frente à casa de Amanda, Jarod acomodou-se melhor e, estendendo um braço ao longo do encosto do banco, virou-se para ela. — Agora que um pouco do seu medo já passou, o que acha de jantar comigo, amanhã à noite? Pode ser num restaurante, se isso a deixar mais sossegada — ele acrescentou, com os olhos brilhando maliciosamente. — Eu gostaria muito — Amanda concordou, com um sorriso que fez duas covinhas aparecerem em seu rosto. — Obrigada por hoje. — Não deixe a minha paciência sem recompensa. — Os dedos dele, agarraram-lhe o ombro, puxando-a para mais perto. Jarod beijou-a com ardor, antes de afastá-la delicadamente de si, empurrando-a para o outro extremo do banco. — A que horas você vem, amanhã? — Seis e meia. — Eu estarei pronta — Amanda disse sorrindo e sentindo-se, de repente, muito feliz. As próximas vinte e quatro horas passaram voando para Amanda. Antes que percebesse, ela já estava descendo as escadas correndo, para se encontrar com Jarod. Dessa vez, não havia tensão em sua conversa. Eles falaram despreocupadamente sobre vários assuntos, durante a ida até o restaurante. E, à medida que o jantar transcorria, ela se impressionava mais e mais com o senso de humor dele. No fim, Amanda já tinha certeza de que não estava confundindo o seu entusiasmo de adolescente com a atração que sentia, agora, por Jarod Colby. — Para onde vamos? — ela perguntou, quando saíam do restaurante. — Você — ele sublinhou de leve a palavra você — vai para casa. Amanda olhou para o relógio. Eram pouco mais de nove horas. Como se pudesse ler o que lhe ia pela cabeça, Jarod acrescentou: — Eu vou viajar amanhã bem cedo, e tenho algum trabalho para fazer, antes de ir. — Ah, sei — ela murmurou, incerta. E perguntou, sem pensar: — Quando é que você volta? — Sábado, espero. Por quê? Vai sentir saudades de mim? — Seus olhos verdes zombavam dela. — Não brinque, Jarod. Você sabe que vou. — Como acha que eu posso saber, se não me disse? — Eles já estavam dentro do carro e Jarod acendeu a luz interna, para estudar o rosto dela. — Você é sempre tão seguro de si! — Embaraçada, Amanda afastou os cabelos do rosto. — Pois eu nunca me sinto seguro, quando se trata da sua pessoa. Acho que é por isso que você me intriga tanto... — Você vai para a Pensilvânia de novo? — Vou. E vou fazer tudo para voltar no sábado. Pode ser que possamos sair juntos, no sábado mesmo. — Seus dedos fecharam-se sobre a mão dela. — Você tem de ficar encolhida contra essa porta? — Eu não estou fazendo isso! — Você está longe demais de mim. Venha, sente-se aqui. — Com um puxão delicado, Jarod a trouxe para junto de si e, envolvendo-a com um dos braços, aninhou a cabeça dela de encontro ao ombro. Depois, sem dar a menor indicação de que Amanda o atrapalhava, deu a partida e, dirigindo com uma só das mãos, saiu do estacionamento do restaurante. — Você sabe há quanto tempo não a seguro tão perto de mim? A última vez foi no escritório do seu pai. Amanda sentiu Jarod apoiar o queixo no topo de sua cabeça, e uma onda de calor se espalhou por todo seu corpo, à lembrança daquele encontro. Arrepiada, resistiu ao impulso de se achegar mais a ele e suspirou, contente. — Você se divertiu esta noite? — Jarod perguntou baixinho, acariciando-lhe o braço. — Muito. — Sua voz saiu num sussurro. — O que vai fazer, enquanto eu estiver fora? — Por quê? — Ele ignorou a pergunta dela. — Pode ser que eu não possa voltar no sábado. Se isso acontecer, eu lhe telefono. Certo? — Certo — Amanda concordou, percebendo com tristeza que já estavam na rua onde morava. Relutantemente, começou a endireitar o corpo, quando Jarod brecou o carro em frente da casa de seus pais, desligando o motor. Mas um “não”, dito em voz baixa, impediu-a de continuar o movimento. Os dedos longos e morenos de Jarod seguraram-lhe a cabeça, inclinando-a para trás, para que sua boca pudesse explorar a dela. Um desejo cego e ardente tomou conta de Amanda, fazendo-a tremer entre os braços que a seguravam. — Sábado ainda está tão longe — Jarod murmurou, esfregando os lábios no rosto de Amanda, o que a deixou mais trêmula ainda. — Longe demais — ela gemeu baixinho. — Você tem mesmo de ir? Ele mordeu de leve o lóbulo da orelha rosada, causando-lhe uma sensação excitante, misto de dor e prazer. — Já me perguntei isso várias vezes, mas a resposta é sempre a mesma: preciso ir. A direção impedia que Amanda se aproximasse mais do corpo rijo e musculoso de Jarod, apesar de suas tentativas. A boca masculina movia-se sem parar por suas faces, procurando seus lábios macios com uma ânsia tão violenta, que a deixava trêmula e totalmente submissa nos braços fortes dele.

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— A vontade que tenho é de não deixar você entrar em casa — Jarod murmurou selvagemente, esfregando os lábios nos dela. — É melhor você ir, enquanto ainda tenho força de vontade suficiente para permitir que se vá. — Daqui a pouco — ela pediu, acariciando-lhe o pescoço. Mas os dedos de Jarod enterraram-se em seus ombros, afastando-a dele com violência. — Agora, Amanda! —Pela expressão tensa de seu rosto e pelo modo como seus olhos escuros pareciam arder, era fácil deduzir que o controle férreo que ele costumava exercer sobre as próprias emoções estava por um fio. — Está bem. — A voz de Amanda tremia tanto quanto seu corpo, que ainda não havia se recuperado do abraço apaixonado de Jarod. Mas de algum lugar ela tirou forças para deslizar para o outro extremo do banco, reparando, ao mesmo tempo, que a respiração dele estava tão alterada quanto a dela. — Vou esperar por você no sábado... não importa a hora em que chegue. Jarod correu os dedos por entre os cabelos escuros dela. — Não diga coisas como essa,. Amanda. Agora, não. Nem mesmo se você estiver sendo sincera. Vá embora. Saia do carro! A voz dura atingiu-a como uma chicotada. — Não era minha intenção fazer você se zangar, Jarod. — Eu não estou zangado. — Mas havia um tom de desgosto em sua voz. — Pelo menos, não com você. Acho que estou zangado comigo mesmo, porque no fundo sei que posso fazê-la dizer “sim”. Não estou acostumado a tomar banhos frios de chuveiro, Amanda — terminou secamente. Amanda inclinou a cabeça, deixando que seus cabelos caíssem para a frente, escondendo-lhe o rosto. Mais alguns minutos sob as carícias das mãos e da boca de Jarod e provavelmente teria implorado pela satisfação que ele lhe prometia. No entanto, para ela, aquele homem ainda era um desconhecido. Não fazia a menor idéia da razão por que ele, que reconhecidamente estava acostumado a conseguir tudo o que queria, permitia que ela o rejeitasse. — Você telefona para mim, se não puder voltar no sábado? — Amanda não conseguiu esconder a necessidade que tinha, dele, quando levantou a cabeça para olhá-lo. Jarod estendeu os braços e, trazendo-a novamente para junto de si, beijou-a com ardor. — Eu já lhe disse que sim, amor. E não costumo prometer o que não pretendo cumprir. Agora, faça o favor de sair deste carro. Não me obrigue a tocá-la de novo. Inclinando-se, ele abriu a porta e forçou-a a sair. Em pé, ao lado do carro, Amanda olhou de um modo quase faminto para o rosto moreno, cujos olhos verdes ardiam de desejo. — Volte logo — sussurrou e afastou-se rapidamente, enquanto ainda tinha forças para isso. Jarod já havia partido antes que ela chegasse à porta de casa. O ambiente lá dentro era incrivelmente barulhento, depois do silêncio da rua. O som de um rádio ligado no último volume, no andar de cima, juntava-se às vozes que vinham da sala onde estava a televisão. Não querendo perder logo a magia daqueles momentos de êxtase experimentados nos braços de Jarod, Amanda dirigiu-se para a cozinha, que, àquela hora, estava vazia. Distraída, enchia para si, mesma um copo de leite quando ouviu o som de passos que se aproximavam. Olhando por cima do ombro, viu o pai surgir na soleira da porta. — Olá! — O sr. Bennet estava surpreso. — Voltou cedo para casa esta noite. Aconteceu alguma coisa? — Não. Jarod precisa viajar amanhã, bem cedo. Mas volta no sábado. — Você vai sair com ele novamente? — Vou. No sábado — Amanda declarou, sorrindo abertamente ao ver o brilho divertido que surgiu nos olhos do pai. — Não está mais preocupada com o fato de ele ser quem é? — o sr. Bennet perguntou. — Não. — Ela tomou um gole do leite, subitamente pensativa. — Ontem eu disse a ele qualquer coisa sobre não termos muito em comum. Sabe o que ele me respondeu, papai? Que um homem não é melhor do que os outros só por ter mais dinheiro. A única diferença é que esse homem vive melhor. — Eu sempre achei que Jarod tinha os pés firmes no chão. E, pelo que parece, não me enganei. — Eu bem que gostaria que os meus pés estivessem firmes no chão — Amanda comentou com um suspiro. Então, percebendo quanto havia revelado de seus sentimentos com essas palavras, corou. — Você está se apaixonando por ele? — seu pai perguntou delicadamente. Um sorriso sem alegria surgiu nos lábios dela. — Acho que já me apaixonei — admitiu. — Você conhece todos os boatos sobre Jarod e as mulheres que têm passado pela vida dele, não conhece? — Amanda riu, divertida. — Está me avisando para tomar cuidado, depois de me encorajar a decidir se devia ou não aceitar os convites dele, papai? — Acho que estou. — Sorrindo, ele passou um braço pelos ombros da filha. — Eu sei que Jarod não a convidaria para sair, se não estivesse interessado em você. No entanto, não quero que saia ferida dessa história. — Eu sei. — Amanda beijou afetuosamente o rosto do pai. Ela sabia que Jarod tinha o poder de feri-la, mas não queria pensar além de sábado. — Amanhã é dia de trabalho, papai. Vou para a cama. — Acho que será um desperdício de tempo desejar-lhe bons sonhos — o sr. Bennet comentou, rindo. — Isso mesmo! — Os olhos de Amanda brilhavam de felicidade quando ela acrescentou, já no hall: — Não existem outros tipos de sonhos. O telefone negro continuava em silêncio. Amanda ajeitou o livro sobre os joelhos e olhou para o espaço, dizendo a si mesma que Jarod voltaria no sábado, como havia prometido, e por isso não precisaria telefonar para ela. Mas quanto mais o sábado se aproximava, mais apreensiva ela ficava, com medo de que algum problema impedisse Jarod de voltar da Pensilvânia. — Nós vamos até uma lanchonete, tomar um sorvete, Mandy. — Parando ao lado do sofá, de mãos dadas com Cheryl, Brad deu um tapinha na perna da irmã. — Pare de ficar chocando esse telefone e venha conosco. — Tobe também vai — Cheryl disse, suplicando a Amanda, com os olhos, que fosse junto. Só assim ela não teria de competir com Tobe pela atenção de Brad. Nesse momento Tobe entrou na sala e Brad chamou-o. — Veja se consegue convencer Amanda a ir conosco. — Eu não estou com vontade de sair esta noite — Amanda falou, sentindo a necessidade de deixar bem claro o que queria, antes que eles a arrastassem para fora dali. Tobe tirou o livro dos joelhos dela e jogou-o sobre a mesinha do telefone. Depois, sentou-se no sofá e passou o

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braço, com familiaridade, pelos ombros de Amanda. — Ouça o conselho do seu irmão — ele disse, piscando um dos olhos. — Você pode ficar velha, sentada pelos cantos da casa, de ficar esperando pelo poderoso Jarod Colby. Além disso, hoje é sexta-feira e você mesma disse que ele não ligaria antes de sábado. Quem pode querer ficar em casa, numa noite como esta? — Eu posso — Amanda insistiu, rindo. — Nós voltamos logo — Brad falou. — Pode ser que Jarod fique sabendo que você saiu comigo e tenha uma crise de ciúme — Tobe brincou. — Não estou interessada em provocar ciúme em Jarod — ela declarou, retirando delicadamente, mas com firmeza, o braço que Tobe apoiava em seus ombros. — Podemos ir dançar em algum lugar. — O rapaz não estava disposto a desistir. — Você gosta de dançar. Vai ser gostoso! Aí talvez Cheryl pare de sentir vontade de me estrangular. Cheryl lançou um olhar zangado para Tobe, antes de se virar com ar de culpa para Brad. — Eu não tenho vontade de fazer isso — ela se defendeu, antes de pedir novamente: — Venha conosco, Amanda. Nós não vamos demorar. — Amanda! — A voz da sra. Bennet soou na porta. — Você tem uma visita. Todos olharam para a porta. O coração de Amanda deu um pulo quando viu Jarod em pé ao lado de sua mãe, os olhos verdes brilhando friamente no rosto tenso. Rapidamente ela se levantou e caminhou para ele, sem esconder a felicidade que sentia. — Eu não estava esperando por você esta noite — murmurou baixinho, olhando-o nos olhos. O olhar duro de Jarod passou rapidamente por Tobe, antes de voltar a se fixar no rosto dela. — Eu terminei tudo mais cedo do que esperava — ele comentou, com aquela odiosa expressão distante no rosto. — Mais quinze minutos — Tobe falou, completamente à vontade — e nós teríamos tirado Amanda de casa. Foi bom ter chegado agora. Ela teria nos matado se você passasse por aqui enquanto estivéssemos fora, e eu sou jovem demais para morrer. — Você teria mesmo ficado aborrecida se não me visse esta noite? — Jarod perguntou com cinismo. Ela abriu a boca para lhe assegurar que sim, mas antes que pudesse falar, Brad disse: — Meu Deus, e como! Amanda não sai de casa desde terça-feira à noite, a não ser para ir trabalhar! E não deixou ninguém usar o telefone por mais de cinco minutos, para não atrapalhar, caso você resolvesse ligar! — Bradley Bennet! — Amanda protestou, embaraçada, lançando um olhar para Jarod, antes de se virar para os pais, que observavam, divertidos, a cena. — Mamãe, papai, Jarod e eu vamos até a varanda. Jarod deu um passo para o lado e segurou-a pelo braço quando ela passou, seguindo-a até a varanda. Lá fora, Amanda sentou-se na balaustrada de madeira. — Espero que você não tenha entendido mal o que Brad disse — ela murmurou, nervosamente, jogando os cabelos para trás. — Ele está sempre brincando comigo, — Quer dizer que você não sentiu falta de mim? — Jarod perguntou. — Claro que senti. Ouvindo o riso suave de Jarod, Amanda percebeu que ele estava brincando com ela, e corou, pensando na rapidez com que havia respondido. — Se você dissesse qualquer outra coisa, eu a estrangularia! — Um sorriso sem alegria apareceu na boca máscula. — Na verdade, foi isso que senti vontade de fazer, quando entrei na sala e vi você sentada no sofá ao lado daquele garoto, o Peterson. — Ele é como um irmão para mim — Amanda murmurou, o coração batendo acelerado. — É melhor que seja, mesmo. A voz de Jarod tinha exatamente a aspereza necessária para mostrar que estava falando a sério. À luz da lua, ela observou-o acender um cigarro, adorando a sua proximidade depois de três longos dias de ausência. — O que é que a sua família pensa de mim? — ele perguntou, exalando vagarosamente a fumaça do cigarro. — A minha irmã caçula está um pouco impressionada com você, mas para os meus irmãos você é igual a qualquer outra pessoa com quem já saí. — Por que será que ele estava perguntando aquilo? — E os seus pais? — Eles admiram e respeitam você. Um sorriso irônico curvou os lábios de Jarod, enquanto ele examinava a ponta acesa do cigarro. — Mesmo sabendo que eu tenho alguns planos em relação à filha deles? — zombou. — É claro que eles sabem que nós sentimos atração um pelo outro — Amanda disfarçou. — Você acredita, honestamente, que eles aprovariam um relacionamento sexual livre entre duas pessoas adultas, se uma delas fosse você? — Jarod caçoou. — Não. — A voz dela era tensa e os músculos de sua garganta se contraíram de dor. Não era assim que esperava que fosse a volta dele. — E você, como encara isso? — Jarod, por favor! Você está tornando a situação difícil para mim... — Difícil para você? — ele exclamou numa voz baixa, mas cheia de violência. — Eu passei trinta e seis horas sem dormir, realizando o trabalho de quatro dias em menos de três! Deixei meu advogado lá, tratando dos últimos detalhes, peguei um avião para Atlanta e dirigi de lá até aqui sem parar, porque não agüentava ficar outro minuto longe de você, e você não faz idéia do inferno que enfrento, cada vez que a toco! Difícil! Você não tem a menor noção do significado dessa palavra! Com uma exclamação de desprezo e desgosto, Jarod jogou o cigarro fora e começou a se afastar. Ele já estava no jardim quando Amanda se recuperou e correu atrás dele, com pernas trêmulas. — Jarod! — Quando seus dedos tocaram-lhe o braço, ele parou. — Eu sinto muito! Acredite em mim! —: implorou, os olhos espelhando o amor que sentia por aquele homem. Em seu coração não havia lugar para o orgulho. O brilho duro levou alguns segundos para desaparecer dos olhos verdes. — Eu não devia ter falado daquele jeito com você — Jarod admitiu. E, sorrindo sem alegria, continuou: — Estou cansado e frustrado. Nada saiu como eu havia planejado, esta noite. Primeiro eu a encontro no sofá com aquele... Amanda encostou os dedos nos lábios dele, para silenciá-lo. — Não vamos falar sobre isso de novo — murmurou. — Quer dar uma volta de carro? — ele sugeriu, segurando-lhe uma das mãos. — Quero — Amanda sussurrou desnecessariamente, pois já estava caminhando na direção do carro.

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CAPÍTULO VIII A lua parecia um disco de prata, suspensa acima dos pinheiros, e as estrelas brilhavam, espalhadas pelo céu quase negro. Amanda não tinha idéia de para onde iam, mas não se importava, desde que continuasse com a cabeça aninhada no ombro de Jarod, o corpo bem junto ao dele. Durante alguns segundos ela tinha achado que ia perdê-lo para sempre e percebera o golpe que isso representaria em sua vida. Arrepiava-se só de pensar nessa possibilidade. — Você está com frio? — Jarod perguntou, ao senti-la estremecer. — Não. Só estava lembrando de como faltou pouco para eu perder você, esta noite. Jarod entrou com o carro em uma área de descanso ao lado da estrada, parando-o debaixo dos galhos de uns pinheiros. — Talvez fosse melhor para você, se isso tivesse acontecido — ele comentou, desligando o motor. — Você tem razão, a meu respeito. — Como assim? — Amanda deslizou uma das mãos pelo peito dele. Jarod gemeu com a carícia e segurou o braço dela, como se pretendesse impedi-la de prosseguir. E, depois de um segundo de hesitação, empurrou-a rudemente de encontro ao encosto do banco, virando-se para examinar-lhe o rosto, com olhos que ardiam, cheios de desejo. Amanda correspondeu ao seu olhar sem medo, com uma expressão confiante nos olhos castanhos. Seus lábios se entreabriram, ansiosos para sentir o toque dos dele. Jarod segurou-a a uma certa distância, por alguns momentos, e então, ignorando o convite da boca macia, enterrou o rosto nos cabelos brilhantes que caíam em torno das faces de Amanda. Continuando a mantê-la imóvel, deslizou os lábios pela garganta e pelos ombros dela, cobrindo-lhe depois as faces, os olhos e as orelhas com beijos ásperos, até que ela começou a virar a cabeça de um lado para o outro, num esforço para encontrar a boca que fugia da sua. Percebendo-a ardente de desejo, Jarod finalmente permitiu que os lábios de Amanda se colassem aos dele. Cada centímetro do corpo dela ansiava por ser possuído, e Amanda gemeu baixinho de encontro à boca que magoava a dela com beijos ardentes, que dominavam totalmente suas emoções. Jarod recostou-se na porta, levando-a junto, permitindo que suas mãos trêmulas o acariciassem, ao mesmo tempo em que as dele se moviam com intimidade pelo corpo dela. Resistir era impossível, e nem passou pela cabeça de Amanda protestar quando os dedos de Jarod desabotoaram a sua blusa, tocando-lhe a pele nua com ardor. Ela parecia cera mole nas mãos dele, aceitando, submissa, a todos os seus movimentos, desejosa de lhe dar o que ele quisesse. Vagarosamente, Jarod empurrou-a para trás, até deitá-la no banco, impedindo-a de se mover com o peso de seu próprio corpo. Quando suas pernas deslizaram intimamente por entre as dela, um estremecimento de prazer percorreu Amanda, da cabeça aos pés. — Vou tentar não machucar você, querida — ele murmurou, de encontro às pálpebras semi-cerradas. O som da voz rouca e máscula acabou com as últimas inibições de Amanda, que liberou a torrente de amor que havia em seu íntimo. Ternamente segurou o rosto de Jarod, encostando os lábios nos dele. — Eu amo você, Jarod — murmurou com voz trêmula, mais do que nunca certa do que sentia. — Muito, para sempre! Eu amo você! Eu amo você! Amanda levou um minuto inteiro para perceber que o corpo dele havia enriquecido, repentinamente. No minuto seguinte Jarod já se afastava dela, sem dar atenção às mãos que tentavam detê-lo. Confusa, viu-o abrir a porta do carro e sair, parando logo adiante com as mãos nos quadris, inalando profundamente o ar da noite. Magoada, Amanda o seguiu aos tropeções, tocando-lhe o braço timidamente, enquanto tentava se recuperar da surpresa causada pela atitude inesperada dele. — Jarod? O braço que ela tocava moveu-se e, envolvendo-lhe a cintura, puxou-a de encontro ao corpo másculo. Mas Amanda podia sentir a tensão e a rigidez que o dominavam. — O que foi que eu fiz? — Ela voltou os olhos cheios de mágoa para Jarod, ainda incapaz de acreditar que o desejo que estivera estampado em cada linha do rosto dele havia desaparecido, substituído por uma enorme frieza. — Eu desejo você, mas não vou mentir, Amanda. Eu não a amo. Ela sufocou o grito de dor que ameaçava sair de seus lábios, virando cegamente o rosto para o outro lado, tomada de vergonha e humilhação. Tentou se livrar do braço que a segurava, mas ele a impediu. — Você não se importa comigo... nem um pouquinho? — perguntou, com voz agoniada. — Eu quero você — Jarod disse com amargura, — do mesmo modo que já quis dúzias de outras mulheres. — Você não sente nada diferente, em relação a mim? — Que diferença poderia haver? — ele zombou. — Amor. — Isso não existe. O amor não passa de desejo disfarçado. Ele não dura mais do que o desejo, porque ambos são a mesma coisa. O amor é uma ilusão. — Não é verdade! — Jarod riu com ironia. — Existem dois divórcios para cada casamento. Isso não prova nada? — E o que me diz das pessoas que vivem juntas trinta, quarenta anos? — Sua tola sentimental! Primeiro eles são presos nas armadilhas que os filhos, as dívidas e os impostos representam. Depois, com o passar do tempo, acostumam-se um com o outro e não têm mais ânimo para se separar, — Oh, Deus! — Enjoada, Amanda não queria aceitar o desprezo de Jarod pelas coisas que ela tinha sido ensinada a valorizar. — Daqui a alguns meses, você vai descobrir que não me ama mais — Jarod continuou, cínico. — A novidade vai acabar e eu não vou mais conseguir excitá-la como agora. É sempre assim. — Alguns meses — ela murmurou com amargura. — É esse o tempo que os seus casos com outras mulheres costumam durar? — É.. — Vanessa também? — Vanessa Scott? Meu caso com ela não durou tanto. — Mas você sempre volta para ela... — Foi ela quem lhe disse isso? — Jarod perguntou, com voz zombeteira. — Vanessa quer se casar por dinheiro.

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Não é a mim que ela quer; é ao meu dinheiro. — Não consigo acreditar no que estou ouvindo! — Os olhos castanhos, cheios de incredulidade, voltaram-se para ele. — Não posso crer que eu tenha lhe declarado meu amor, e você tenha rido de mim! — Eu não ri, nem estou rindo de você. O que houve foi que você se deixou levar pelas emoções e começou a acreditar em uma coisa que não existe — Jarod explicou com aspereza. — Você me deseja e eu a desejo; não construa sonhos românticos em cima disso. — Eu amo você, Jarod, e o que sinto não é nenhuma ilusão. — Amanda fez uma pausa, depois continuou, num tom de voz surpreendentemente calmo: — Pensei que eu não tivesse amor-próprio no que se refere a você, mas se tudo o que lhe interessa é um relacionamento desse tipo comigo, minha resposta é “não”. E se tudo o que sente por mim é desejo, não quero que me toque nunca mais. Jarod examinou com atenção a expressão dela, vendo nos olhos castanhos a confirmação do que ouvira. — Está bem — ele disse com seriedade. — Vou levá-la para casa. — Sinto pena de você, Jarod — ela murmurou, entrando no carro. — O fato de não acreditar no amor, deve tornálo o homem mais solitário do mundo. Mas o brilho zombeteiro dos olhos verdes parecia dizer que ele é que sentia pena dela, por ser tão cheia de ilusões. No caminho de volta, Amanda tinha a impressão de estar no Pólo Norte, tão gelada estava. A dor que sentia era insuportável, tão profunda, que não poderia ser aliviada por meio de lágrimas, por mais que chorasse. Encolhida de encontro à porta, olhava pela janela, sem ver a paisagem que passava. A única imagem que sua mente registrava era o rosto de Jarod, cujas feições bem-feitas não se suavizavam nunca. E agora ela sabia por quê. Um homem incapaz de amar não pode mostrar ternura por nada, nem por ninguém. Vários dias se passaram, antes que Amanda se livrasse do choque inicial. Depois ela começou a tentar, desesperadamente, odiar Jarod Colby. Mas, naquelas circunstâncias, tudo o que conseguiu foi sentir por ele uma mistura de amor, compaixão e até mesmo de piedade. Não acreditava que pudesse haver sentido em uma vida sem amor. Amanda mantinha a sanidade mental, dizendo a si mesma que assim que as aulas recomeçassem, ela teria outras coisas para ocupar a mente e acabaria por esquecer as imagens que a perseguiam. O fantasma de Jarod não mais a atormentaria e seus sonhos tempestuosos de estar sendo sufocada pelos beijos ardentes dele teriam um fim. Mas, no fundo, sabia que a ferida em seu coração nunca cicatrizaria. No início, sua família brincou muito sobre a ausência de Jarod, depois do modo como ele a havia procurado. Mas eles logo começaram a enxergar a verdade por trás das respostas corajosas de Amanda e a tensão que seus sorrisos escondiam. Passaram, então, a evitar de falar nele. Para Amanda, o mais difícil era ignorar as perguntas que os olhos dos pais lhe faziam. Só uma vez sua mãe lhe perguntou, com palavras, o que tinha acontecido. Amanda disse apenas que ela e Jarod haviam brigado por motivos pessoais. Seus pais o tinham em alta conta, como homem e como patrão, e ela não queria destruir essa imagem, por mais que Jarod a tivesse ferido. A vingança não fazia parte de sua natureza. Amanda virou-se para acenar para Linda, que tinha lhe dado uma carona após o trabalho, quando seu pai não apareceu para pegá-la. Um sorriso leve surgiu em seus lábios quando viu o carro da família ainda estacionado na garagem. Provavelmente ele tinha se distraído com algum programa de televisão e esquecido de ir buscá-la. No entanto, a casa estava em silêncio quando entrou. Não havia rádio, nem televisão ligados, e nenhum aroma de comida sendo preparada chegou até suas narinas. Na verdade, não se ouvia nem mesmo som de vozes. — Mamãe! Papai! Vovô! Não há ninguém em casa? Bonnie, você está aí em cima? — gritou, parada ao pé da escada, mas só o silêncio lhe respondeu. Nesse momento, ouviu o barulho de um carro brecando em frente da casa e correu para a porta, alcançando-a ao mesmo tempo em que uma figura alta pisava na varanda. O sangue fugiu-lhe do rosto, deixando-a completamente branca. — O que é que você está fazendo aqui? — sussurrou, quando viu Jarod Colby na porta. — Eu fui até Oak Run buscá-la, mas você já havia saído — ele disse, como se isso respondesse à sua pergunta. Os olhos de Amanda examinavam ansiosamente o rosto dele, tentando memorizar cada linha de suas feições, como se pudesse ficar cega a qualquer momento e aquele fosse o último rosto que quisesse ver. — O que você quer? — perguntou, virando-lhe as costas antes que a tentação de se atirar nos braços dele fosse grande demais para resistir. — Amanda... — Jarod começou, estendendo a mão para segurar um dos braços dela, que o vestido antigo deixava nu. Soltando uma exclamação de agonia, Amanda livrou-se dele com um safanão. — Não me toque! Não chegue perto de mim! Ainda não me feriu o suficiente? — Pare com isso! — Desta vez ele segurou os ombros dela com força, impedindo que se afastasse. — Seu pai está no hospital, e eu prometi à sua mãe que a levaria para lá, assim que a encontrasse. Ela parou de lutar. — O que é isso? Uma brincadeira de mau gosto? — Uma expressão amedrontada surgiu-lhe nos olhos quando ela os fixou no rosto duro de Jarod. — Não estou brincando. Os médicos disseram que seu pai teve um derrame. — Não acredito em você. — Amanda sacudiu a cabeça de um lado para o outro, vigorosamente. — Como ficou sabendo disso? Jarod inalou profundamente, tentando se controlar como se estivesse zangado. — Eu faço parte da diretoria administrativa do hospital, e estava lá esta tarde, quando a ambulância chegou com o seu pai. — Não! Não pode ser! — ela protestou horrorizada, acreditando nele, finalmente. — Pare com essa histeria, Amanda — Jarod ordenou, vendo o pânico surgir nos olhos dela. — O estado do seu pai é crítico, mas ele está vivo. Seu irmão e seu avô estão no hospital com a sua mãe, mas acho que ela precisa do apoio de uma mulher. Agora, suba e vá trocar de roupa. Onde está a sua irmã? — Bonnie? — ela perguntou bobamente, tentando reagir com calma. — Eu... acho que ela... está trabalhando. Ela é garçonete em uma sorveteria... a sorveteria do Shorty. Eu... eu não consigo... me lembrar da hora em que ela sai... Um soluço escapou de seus lábios tensos e Jarod aumentou ligeiramente a pressão dos dedos nos ombros dela,

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numa ordem silenciosa para que não entrasse em pânico. — Vou telefonar para lá, enquanto você se troca — ele disse, virando-a para a escada e empurrando-a de leve. Depois de alguns passos vacilantes, Amanda agarrou a saia do vestido e correu para cima, as lágrimas escorrendolhe pelas faces. Seus pais tinham sempre lhe parecido indestrutíveis, pessoas que ganhavam idade, sem envelhecer. Não conseguia nem se lembrar de alguma ocasião em que um deles tivesse ficado de cama! Seus dedos tremiam tanto, que ela mal podia desabotoar o vestido. Soluçando desesperadamente, tentou forçar o tecido. — Amanda? — A voz de Jarod soou no patamar da escada. — Eu... eu estou aqui — ela respondeu com voz fraca. Logo em seguida, a porta de seu quarto se abriu. — Bonnie saiu da sorveteria há cinco minutos. Ela logo estará aqui — Jarod lhe informou. — Não consigo desabotoar o meu vestido — murmurou, sufocando os soluços e enxugando as lágrimas com as costas das mãos. Em outras circunstâncias, Amanda teria notado os movimentos seguros das mãos dele, ao desabotoar-lhe o vestido, e se sentido excitada. Mas, agora, a única coisa que sentia era gratidão pela ajuda. A necessidade de se arrumar rapidamente afastou de sua cabeça qualquer idéia de pudor e, sem hesitar, tirou o vestido cheio de babados. Apenas parcialmente consciente de suas transparentes roupas de baixo, que pouco deixavam à imaginação, pegou o terninho de linho que Jarod tinha tirado de seu armário, evitando os olhos verdes e penetrantes, que pareciam ver tudo. — Oi! Tem alguém em casa? Ainda com as roupas na mão, Amanda correu para a porta do quarto. — Eu estou aqui em cima, Bonnie! Suba! Quando ela se virou, os passos de Bonnie já soavam na escada. Seus olhos amedrontados procuraram Jarod, implorando ajuda. — Vista-se — ele disse com calma, e seu tom de voz diminuiu um pouco a agitação que Amanda havia sentido com a chegada da irmã. — Onde está todo mundo? — Bonnie perguntou, entrando no quarto. Mas parou de sopetão, quando viu Jarod lá dentro e Amanda vestindo as calças do terninho. Apressadamente, deu um passo para trás, o rosto vermelho de embaraço. — Bonnie, espere! — Amanda gritou, lançando um olhar de culpa para Jarod, ao perceber a impressão de intimidade daquela cena. — Jarod está aqui porque... papai... papai está no hospital. — Como assim? — Bonnie olhou de um para o outro, sem entender. — Eu também não conseguia acreditar, no começo, mas é verdade. — Seu pai teve um derrame. — Jarod caminhou até Amanda e entregou-lhe a blusa que formava conjunto com o terninho, dizendo-lhe com gentileza para acabar de se vestir. — Assim que Amanda estiver pronta, vou levar vocês duas até o hospital, para fazerem companhia à sua mãe. — Mas papai nunca ficou doente! — Bonnie protestou. — Deve haver um engano. Vendo que a garota estava entrando em pânico, Jarod voltou-se e com voz calma começou a dizer que ela não podia se descontrolar, pois sua mãe ia precisar de todo o apoio dos filhos. Durante todo o tempo ele acompanhou, com os olhos, os movimentos de Amanda, de modo que quando ela acabou de se vestir, ele e Bonnie já se dirigiam para a escada. No hospital, as duas ficaram chocadíssimas com a aparência abatida e assustada da mãe, que parecia ter envelhecido vinte anos em apenas algumas horas. — Como está ele? — Amanda perguntou, abraçando a mãe e sentando-se ao lado dela. — Não sei. — Os médicos ainda estão com ele. — Brad estava em pé ao lado do sofá, os olhos brilhando com as lágrimas que se esforçava para não derramar. A sra. Bennet voltou-se para Jarod, implorante. — Você seria capaz de descobrir? — perguntou, ansiosa. — Eu sei que não devia lhe pedir isso, Você já fez tanto... — Não se preocupe com isso, Berenice. Vou ver o que posso fazer. — Jarod sorriu, ignorando o olhar surpreso de Amanda ao vê-lo falar com a mãe com tanta familiaridade. Depois que ele saiu, um silêncio pesado envolveu a família Bennet. Vários minutos se passaram antes que Amanda se dirigisse ao irmão: — Você telefonou para Marybeth e Brian? Onde está Teddy? — ela perguntou. — Jarod já avisou todo mundo. Mandy... Mandy, eu não sei o que nós teríamos feito se ele não estivesse aqui no hospital, quando papai chegou. Mamãe estava arrasada e vovô... ele não disse uma palavra, desde que ficamos sabendo. E eu não ajudei em nada! Não sabia o que fazer, com mamãe chorando daquele jeito. Foi aí que Jarod surgiu e tomou conta de tudo. Eu não sei o motivo da briga de vocês dois, mas seja qual for, o que Jarod fez hoje por nós desculpa tudo. As palavras de Brad fizeram Amanda sentir uma onda de amor e orgulho por Jarod, e seus olhos espelhavam esses sentimentos quando ele voltou alguns minutos depois, trazendo a notícia de que os médicos achavam que seu pai estava saindo, pouco a pouco, do estado crítico. — Mas ainda vai se passar um bom tempo antes que possa vê-lo — Jarod disse para a sra. Bennet, — apesar de o pior já ter passado. Suspiros de alívio ecoaram por toda a sala de espera, enquanto os Bennet diziam suas preces silenciosas de agradecimento. No entanto, nenhum deles teve coragem de expressar sua alegria em voz alta, pois sabiam que ainda havia perigo. Amanda tocou o braço de Jarod, desejosa de lhe agradecer tudo o que ele tinha feito; sorriu timidamente quando os olhos verdes examinaram-lhe pensativamente o rosto. — Posso falar com você, a sós? — perguntou baixinho. E quando Jarod inclinou ligeiramente a cabeça, concordando, disse para a mãe: — Eu volto logo, mamãe. Com um sorriso dirigido aos dois, igualmente, a sra. Bennet garantiu que tudo estaria bem, então Jarod e Amanda saíram da sala de espera. CAPÍTULO IX Com a mão apoiada de leve nas costas de Amanda, Jarod conduziu-a até uma sala próxima, onde não havia ninguém. Agora que estavam sozinhos, ela se sentia embaraçada, e levou alguns segundos para criar coragem e

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falar: — Eu queria lhe agradecer por tudo o que fez — Amanda estava hesitante, os olhos baixos. — Talvez seja melhor você guardar esses agradecimentos até descobrir o que eu realmente fiz. A voz de Jarod tinha um tom vivo e duro, que a fez levantar a cabeça abruptamente. — O que quer dizer com isso? — murmurou, reparando no brilho zombeteiro que apareceu nos olhos dele. — O que é que você sabe da situação financeira de seus pais? — ele perguntou. — O que uma coisa tem a ver com outra? — Você sabia que tudo o que eles têm está sob duas e até três hipotecas? E que todos os seguros de saúde foram cancelados? Que seus pais não têm economias, com quatro filhos na faculdade, tenho certeza de que você sabe. Neste momento, tudo o que vocês possuem é o pagamento referente a duas semanas de trabalho, que seu pai tem direito de receber da minha companhia. — Jarod fez uma pausa, para deixar Amanda assimilar a gravidade da situação. — Em menos de um mês, não vai haver dinheiro para comprar alimentos, pagar as contas do hospital, as suas mensalidades e as dos seus irmãos na universidade, ou para qualquer outra coisa. — Oh, meu Deus! — Amanda cambaleou, como se tivesse recebido um golpe físico. Não havia pensado que a doença do pai pudesse ter conseqüências tão graves. — Mamãe sabe disso? — Foi principalmente por causa disso que ela entrou em pânico. Mas depois que eu soube de tudo, eu a convenci de que minha companhia assumiria todas as despesas. O que eu não lhe contei foi que isso ia depender de você. — De mim? Como assim? — ela murmurou, amedrontada pela ameaça escondida nas palavras dele. — Porque... Maldição! Eu ainda quero você, Amanda! — Jarod disse com aspereza. Amanda sentiu o estômago revirar. — O que é que você quer de mim? — perguntou, surpreendendo-se com o tom calmo da própria voz. — Quer que eu concorde em ser sua amante? — Eu ficaria contente com um arranjo desses — Jarod admitiu cruamente. — Infelizmente, seus pais logo descobririam, e acho que se recusariam a aceitar dinheiro do amante da filha. Amanda virou-lhe as costas cegamente, tentando, desesperada, pensar em outro modo de arranjar dinheiro. — Eu não preciso voltar para a faculdade, este ano. Brad já economizou o necessário para pagar o primeiro semestre do curso dele, e pode ser que Teddy e Brian tenham feito o mesmo — disse, quase em pânico. — Mesmo que vocês conseguissem resolver essa parte do problema, não teriam como pagar as contas de hospital do seu pai. E nem adianta pensar em pedir ajuda ao Tobe. O sr. Peterson não aprova a amizade do filho com vocês, e jamais lhe daria o dinheiro necessário. — Os olhos de Jarod brilhavam ironicamente, examinando-a com complacência. — Creia em mim, já pensei em todas as possibilidades abertas à sua família. Se você quer que tudo continue como até agora, Amanda, vai ter de aceitar a minha proposta. Amanda estremeceu ao perceber a frieza calculista que havia na voz de Jarod. — Como é que você pode esperar que eu concorde com uma coisa dessas? — Estive estudando a sua família. Vocês têm um desses relacionamentos antiquados, na base do um por todos e todos por um. O sacrifício faz parte da natureza de vocês. Sei que, se for preciso, ninguém vai pensar duas vezes antes de largar os estudos e ir trabalhar, para ajudar nas despesas da sua casa. Era fácil notar, pelo tom de desprezo na voz de Jarod, que ele considerava essa atitude uma rematada tolice. Ele não admirava a união de sua família e estava mesmo caçoando dela. — E os seus irmãos logo descobririam que é mais fácil abandonar a faculdade do que voltar a estudar, depois de alguns anos. O futuro deles vai depender da resposta que você der à minha proposta. — De me tornar sua amante — ela repetiu, com voz trêmula, o coração apertado de dor. — Minha amante, minha esposa, pode chamar do modo que você quiser. — Jarod encolheu os ombros, num gesto arrogante e másculo. — Sua esposa? — Amanda levantou os olhos para o rosto dele, que mais parecia uma máscara de bronze. — Pensei que você tivesse entendido — ele zombava da surpresa dela. — O orgulho tolo dos seus pais e irmãos não permitirá que aceitem a caridade do seu amante; mas se eu for seu marido, eles não terão a menor objeção. — Você está me pedindo em casamento? — ela perguntou, ainda sem acreditar. — Estou — Jarod respondeu, sem a mínima emoção. — O que há? Você já deixou de me amar? Ou eu consegui lhe mostrar que o desejo e o amor são a mesma coisa, e não duram mais que alguns meses? Por alguns segundos, Amanda tinha alimentado a esperança de que ele fosse lhe dizer que a amava e que não podia suportar uma separação. Mas, para ele, Amanda não passava das uvas que estavam fora do alcance, como dizia a fábula. E no momento em que pertencesse a Jarod, de corpo e alma, o interesse que provocava nele começaria a diminuir, até acabar de todo. Então, seria trocada por outra. — Você está demorando demais para responder — ele caçoou. — O que foi? Descobriu, finalmente, que o amor é uma ilusão? Amanda não conseguia sustentar o olhar irônico de Jarod. — O amor existe, Jarod. E eu estava tão cega pelo que sinto por você, que nem percebi que enganava a minha mãe, enquanto a tranqüilizava. — Mas se você concordar com a minha proposta, não terá havido engano nenhum — ele rebateu cinicamente. — Você sabe que não me deixou escolha. — Você diz isso porque também me quer. Se me achasse repulsivo, garanto que não levaria a minha proposta em consideração, nem mesmo pela sua família. — Segurando-lhe o queixo, Jarod obrigou-a a levantar a cabeça para examinar-lhe o rosto. — Por favor, não me humilhe ainda mais — ela sussurrou, tentando afastar da mente a dolorosa certeza de que o que ele dizia era verdade. Livrando-se com um gesto brusco, começou a se mover na direção da porta. — Espere! — Jarod exclamou, fechando os dedos de leve em torno do braço de Amanda. — Nossa discussão ainda não acabou. — Discussão? — Agora era a vez de Amanda caçoar. — Não sabia que estávamos discutindo alguma coisa. E não creio que o fato de eu concordar ou não com as suas sugestões faça a menor diferença. — É mais ou menos isso, mesmo — Jarod admitiu, complacente. — Eu só queria que você começasse a se acostumar com a idéia de que, no sábado que vem, já estaremos casados. Naturalmente, vamos esperar até amanhã para dar a notícia à sua família. — Sábado que vem? Mas é impossível! Como pode sugerir uma coisa dessas, com o meu pai tão doente? — Seu pai já superou o pior. O estado dele ainda é crítico, mas ele vai melhorar. Se você está alimentando a idéia tola de que não vai se casar comigo enquanto seu pai não puder levá-la até o altar, pode tirá-la da cabeça. Sam vai

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levar vários meses para se recuperar a esse ponto, e eu não vou esperar tanto tempo — Jarod esclareceu, com uma franqueza brutal. — E, desde que o nosso casamento é uma farsa, uma festa para celebrá-lo não tem o menor sentido. Um casamento discreto, com uma pequena recepção só para os parentes mais chegados, é tudo o que precisamos. Nas atuais circunstâncias, todos vão entender o porquê de não estarmos fazendo grandes celebrações. E o fato de seu pai estar no hospital vai nos livrar da idiotice de uma lua-de-mel. — Você planejou tudo como se fosse uma batalha. Todos os movimentos do inimigo foram antecipados e bloqueados. — Amanda sentia-se nauseada, olhando para o homem impiedoso que logo seria o seu marido. — Como o general Sherman, você destrói tudo o que está em seu caminho para atingir os seus objetivos. E Sherman não levou mais do que dois ou três meses para abandonar as cidades que havia conquistado para sair com o seu exército à procura de novas vitórias. — Nada dura para sempre, Amanda — ele disse sem rodeios, nem um pouco aborrecido com o tom irônico da voz dela. — Você pode se consolar com a idéia de que, dentro de alguns meses, estará livre de mim e dos meus modos grosseiros de ianque. E, afinal, o que são alguns meses de sua vida? — O casamento não significa mesmo nada para você, não é? —Amanda murmurou, abismada com o fato de ele estar planejando a separação. — Não. E isso a choca, não é? Um pedaço de papel ou umas poucas palavras ditas em uma igreja não mudam a caprichosa natureza humana. Essa é a diferença entre nós: você é uma romântica, tentando mudar o que não pode ser mudado; e eu sou um realista, que aceita as coisas como elas são e que não podem mudar. — E filhos? Você nunca pensou em ter filhos? — Uma expressão indefinível surgiu no rosto dele, mas desapareceu logo em seguida. — Não. Não tenho vontade nenhuma de deixar herdeiros — Jarod respondeu com aspereza. — Mais alguma pergunta? — Não, nenhuma. — Amanda sacudiu a cabeça com tristeza. — O médico do seu pai deve estar falando com a sua família agora. Vamos até lá? O derrame do sr. Bennet tinha sido muito grave, deixando-o parcialmente paralisado, além de temporariamente mudo. Naquela noite mesmo ele recuperou a consciência e os médicos permitiram que os membros da família, um por um, lhe fizessem uma rápida visita. Jarod Colby entrou no quarto com Amanda, e nem os Bennet nem o pessoal do hospital questionaram o direito de estar ali. Amanda sentiu o coração se apertar ao ver o pai largado sobre uma cama, rodeado pelos vários aparelhos que o mantinham vivo. Com um nó na garganta, fixou os olhos nos dele, que pareciam vidrados de medo. Percebendo o seu estado, Jarod passou um dos braços pela cintura dela, e praticamente a carregou até junto da cama. — Como vai, Sam? — ele perguntou. — Mas talvez seja melhor eu chamar você de pai, já que a sua filha finalmente concordou em se casar comigo. Amanda lançou um olhar surpreso para o futuro marido. Jarod tinha dito que não diriam nada a ninguém, até o dia seguinte! Foi então que viu os olhos do pai fixos nos dela, com uma expressão ansiosa e interrogativa. Os dedos de Jarod enterraram-se dolorosamente na carne macia de sua cintura, quando ela hesitou. —— É verdade, papai — respondeu com os olhos cheios de lágrimas, embora não soubesse dizer se estava chorando pela futilidade de seu amor por Jarod ou pela dor que os dedos dele lhe inflingiam. — Não quero que você se preocupe com nada, Sam — Jarod falou, naquele tom de voz autoritário de pessoas acostumadas a mandar. — Fazemos parte da mesma família, agora, e eu vou tomar conta de tudo até você se recuperar. A enfermeira que estava no quarto olhava-os surpresa, mas Amanda não notou. O olhar amedrontado tinha desaparecido dos olhos de seu pai e um suspiro de alívio escapou por entre os lábios pálidos. O medo que ele sentira estava relacionado com a família, não com o seu próprio bem-estar. Amanda sentiu uma certa satisfação em saber que sua decisão o livrara desse peso. Instintivamente levantou os olhos para Jarod, agradecendo por ele ter tranqüilizado seu pai. Mas a expressão daquela arrogante máscara de bronze mostrou-lhe que todas as atitudes dele faziam parte de um plano. Jarod Colby estava manipulando as emoções de todos eles para conseguir seus próprios objetivos... — É melhor deixarmos o seu pai descansar agora. Ela se afastou, andando rapidamente, mas no hall ele a alcançou, agarrando-lhe o braço e forçando-a a parar. — O que foi que aconteceu? — Você está nos usando. Está usando a todos, sem a menor consideração pelos nossos sentimentos ou orgulho — Amanda acusou, com amargura. — Vocês todos serão bem recompensados. —— Os lábios dele curvaram-se num sorriso frio. — Espero que algum dia você pague por tudo o que está fazendo! — O corpo todo de Amanda tremia de ressentimento. O ódio, o lado escuro do amor, estava mostrando a sua face. Mas Jarod riu, apenas. — Minha linda feiticeirazinha! Está tentando profetizar a minha queda? — Você não pode ter sucesso sempre. E só espero estar por perto, para ver, quando você finalmente não conseguir realizar um dos seus desejos. — Eu gostaria de saber se você juntaria os meus pedaços — ele comentou, com um sorriso estranho, fechando uma das mãos em torno do pescoço de Amanda. Seu toque a amedrontava e excitava, queimando-a ao mesmo em que a fazia tremer, só de pensar na época em que deixaria de interessá-lo. Os olhos verdes e indolentes perceberam facilmente as emoções contraditórias que a consumiam. — Minha corajosa Amanda, está vendo como as suas reações com relação a mim já estão se tornando ambivalentes? Neste exato momento, você não é capaz de decidir se quer me beijar ou me arranhar. Era verdade. Amanda não conseguia se decidir. Então, Jarod se afastou e ela não pôde fazer nenhuma das duas coisas. Na semana seguinte, Amanda tomou conhecimento de muitas outras facetas da personalidade de Jarod. Para os rapazes da família Bennet, ele se tornou um irmão mais velho, impondo sua autoridade com tanta diplomacia, que mais dava a impressão de os estar consultando. Para a sra. Bennet, Jarod era um sábio, capaz de acalmar seus temores e resolver os seus problemas. Até mesmo o vovô Bennet parou de fazer comentários depreciativos sobre os ianques. Onde havia desorganização, Jarod punha ordem. Suas atitudes eram sempre decididas e ele nunca explicava o porquê delas, embora sempre desse a impressão de fazer isso. Charme, diplomacia, compaixão, lealdade, autoridade, ele mostrou todas essas qualidades, durante a semana que antecedeu o casamento.

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Amanda tinha pensado que Jarod não os deixaria esquecer de sua generosidade, comprando assim um lugar na família, mas ele manejou a transação de dinheiro com tanta discrição, que ninguém achou necessário falar a esse respeito. Ela ficou maravilhada com a facilidade de ele persuadir os outros a seguir as suas sugestões, nunca lançando ultimato ou fazendo com que se lembrassem do quanto ele era poderoso, como dono e presidente da Companhia Colby. Era irônico que Jarod fosse também honesto. Se ele quisesse enganá-la, Amanda teria sucumbido ao seu enorme magnetismo pessoal, certa de que era amada. Muitas vezes ela se pegou imaginando o que poderia ser pior: ter um caso com um homem e depois descobrir que ele não a amava; ou casar-se com ele, já sabendo disso. A luz refletida pelo aro de metal dourado em seu dedo chamou-a atenção. Agora, Amanda não tinha mais motivos para fazer comparações imaginárias. Era a sra. Jarod Colby, para o melhor e para o pior. E, no momento, parecia que era para o pior. Mas era o medo que lhe dava essa sensação. Amanda estava tão tensa, com os nervos tão à flor da pele, que se a tocassem inesperadamente com uma pena, seria capaz de gritar. Em pé, na frente do altar, ao lado do homem que amava, havia repetido os Votos matrimoniais que sempre encarara como sagrados. A voz clara e firme de Jarod tinha feito seu coração doer. Ele lhe parecera tão sincero! No entanto, quando seu olhar cheio de esperança procurou o dele, não encontrou lá nenhum brilho de ternura, só uma expressão fria e possessiva que parecia marcá-la como mais uma propriedade dos Colby. Até o dia da cerimônia de casamento, o tempo passara numa velocidade espantosa. Agora, parecia estar se arrastando. A cortina fina de renda escapou-lhe das mãos. A única coisa que Amanda via era a própria imagem, que retribuía o seu olhar, na vidraça da janela. As mangas longas do penhoar de cetim que usava pareciam-lhe tão geladas quanto as apreensões que a atormentavam. Sabendo que nenhum laço de amor os unia, ela estava começando a achar que a certidão que haviam recebido e a cerimônia a que tinham se submetido, naquela tarde, não tinham significado algum. E o fato de que, a qualquer momento, Jarod, seu marido, entraria naquele quarto para reclamar os seus direitos, só servia para piorar tudo, transformando-lhe as emoções num verdadeiro caos. A não ser pelo beijo frio e indiferente, logo após a realização do casamento, Jarod não a tocara até aquele momento. Isso era outra coisa que Amanda não conseguia entender. Ele vivia dizendo que a desejava e, no entanto, não dera a menor demonstração disso desde que ela concordara em se casar com ele. Amanda esfregou os braços, tentando se livrar dos calafrios que percorriam o seu corpo esbelto. Uma onda de sangue invadiu-lhe o rosto quando pensou em encarar Jarod. Ele a comprara, e por um alto preço. E aquela era a noite em que ia inspecionar a mercadoria, pensou com cinismo. — Não tem medo do escuro, Amanda? A voz zombeteira fez com que ela se virasse de sopetão, segurando as lapelas do penhoar e apertando-as de encontro ao peito, automaticamente. Distraída, não tinha ouvido a água do chuveiro parar de correr, no banheiro ao lado. Agora todas as luzes do quarto estavam acesas. A pergunta de Jarod ainda ecoava no ar quando os olhos de Amanda caíram sobre ele, que usava um robe atoalhado curto. O tom bronzeado do rosto másculo repetia-se por todo o corpo rijo e musculoso. O peito largo era coberto por uma camada de pelos escuros e crespos, os quadris eram estreitos e o estômago chato. Os músculos das pernas dele pareciam tensos, como se estivessem à espera da ordem que os faria atravessar o quarto, na direção de Amanda. Ela ficou vermelha como um pimentão quando levantou os olhos apreensivos para o rosto do marido e viu que ele sorria divertido, consciente de que fora examinado da cabeça aos pés. Respirando com dificuldade, quase em pânico, Amanda virou-se de novo para a janela. — Qual é a causa desse rubor que lhe vai tão bem? O carpete cor de ouro velho não traiu os passos de Jarod, mas o barulho das luzes sendo apagadas, uma a uma, avisou-a dos movimentos dele. Pouco depois, apenas a luz do abajur ao lado da cama continuava acesa. Amanda enrijeceu ao sentir o cheiro gostoso de limpeza e sabonete, bem às suas costas. — Está embaraçada porque Cheryl me contou da sua paixonite por mim, quando era uma adolescente? — ele caçoou baixinho, com a boca colada à orelha de Amanda. Ela inclinou a cabeça para a frente, lembrando-se da vergonha que sentira quando Cheryl falara de sua paixonite infantil por ele, durante a pequena recepção, que haviam oferecido aos parentes mais chegados, logo após a cerimônia de seu casamento. Amanda nunca mais conseguiria se esquecer do brilho cínico e divertido, que tinha aparecido nos olhos dele. — Você precisava falar nisso? — perguntou em tom baixo e queixoso, jogando os cabelos para trás, num gesto cheio de nervosismo. — Na noite do baile eu notei que a antipatia que você sentia por mim não tinha nada a ver com a minha posição social, supostamente superior à sua. Achei também que aquele incidente na Casa de Inverno não era tão importante assim, para ter provocado tanto ressentimento em você. Mas nem me passou pela cabeça que eu pudesse ter sido o ídolo de sua adolescência. — Não precisa me lembrar da tola que eu fui! — Afinal, o seu sonho se tornou realidade. Não nos casamos esta tarde? — ele caçoou. Amanda virou-se abruptamente, para manifestar o arrependimento que sentia pelos juramentos vazios que tinham feito, juramentos que pareciam cortar-lhe o coração como facas afiadas, quando pensava neles. E deu de frente com Jarod. Não havia percebido quanto estavam próximos! Os poucos centímetros que os separavam tornavam o impacto dá virilidade dele ainda maior, e ela engoliu em seco, respirando com dificuldade. Seu olhar voltou-se para o rosto moreno e enigmático que observava com indolência. Rapidamente virou a cabeça para o lado, dando inadvertidamente com a cama de casal, que já estava preparada para recebê-los. A súbita visão dos cabelos castanhos de Jarod em contraste com a brancura da fronha de linho, surgiu-lhe na mente, levando-a a fechar os olhos com força. — Eu não posso continuar com isto — Amanda sussurrou. — Pensei que pudesse, mas não posso. — Por quê? :— Havia uma nota de divertida curiosidade na voz de Jarod, sem nada da arrogância e da zanga que ela esperava. — Nós fizemos um trato. — Eu sei, mas... Você não vê? — Seus olhos tinham uma expressão implorante e os nós dos dedos, apertando o penhoar de encontro ao corpo trêmulo, estavam brancos. — Você não me quer. Eu sou só uma mercadoria pela qual você pagou, e que agora acha que deve usar, para receber de volta o valor do seu dinheiro. — E como foi que a sua mente astuta chegou a essa conclusão? — Havia um ar de satisfação no rosto de Jarod, como se ele estivesse contente por ela ter descoberto aquilo. — Oh, Jarod, eu não sou totalmente ignorante! Em nenhum momento, na semana passada, você deu a menor

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demonstração de que queria me tocar, quanto mais fazer amor comigo! — Você teria preferido que eu manifestasse o desejo que sinto por você? — Teria, sim — ela admitiu baixinho, inclinando a cabeça para fugir do olhar penetrante dele. — Esta noite seria mais fácil para mim, se você tivesse demonstrado que ainda me queria. Com dedos firmes, Jarod obrigou-a a levantar a cabeça para poder ver-lhe o rosto. — Você sentiu vontade de me beijar? Quer que eu a segure nos braços, agora? — Quero. — Desta vez, Amanda não tentou esconder as lágrimas que deslizaram por suas faces. — Por quê? — Você sabe por quê — respondeu com voz agoniada. — Eu amo você. As mãos dele fecharam-se sobre os ombros dela, deslizando em seguida pelos braços bem torneados até alcançarlhe os pulsos. Com um ligeiro puxão, Jarod forçou-a a apoiar as mãos na pele nua de seu peito moreno. Amanda não teria conseguido desfazer aquele contato, mesmo que quisesse. Então, ele começou a desatar o cinto, que era a única coisa que mantinha seu penhoar fechado, e ela não foi capaz de esboçar a menor reação. — Por que você não me beijou nem uma vez? — ela perguntou num quase gemido, pois Jarod acariciava-lhe agora a cintura, com movimentos lentos e sensuais. — Porque jurei que a faria me desejar tanto quanto a desejei durante estes últimos meses. — Uma expressão selvagem brilhava nos olhos verdes; ele a puxou de encontro ao peito com violência, deixando mais do que evidente a necessidade física que sentia por ela. — Jarod, por favor! — Como sempre, Amanda perdeu toda a vontade de resistir, quando seu corpo esbelto entrou em contato com o dele. — Por favor, faça de conta que você me ama, nem que seja só por esta noite! — implorou sem a menor vergonha, espalhando beijos leves pelo tórax musculoso.— Faça de conta que os juramentos que trocamos esta tarde têm algum significado para você, também. Com incrível facilidade, Jarod tomou-a nos braços e carregou-a até a cama, apagando a luz do abajur depois de colocá-la sobre os lençóis muito alvos. Quando o peso do corpo de Jarod afundou o colchão ao lado dela, o coração de Amanda estava dividido entre duas emoções igualmente fortes e violentas: o amor e a vergonha. — Eu não preciso fingir, pois um dos juramentos que fizemos significa muito, para mim, e pretendo cumpri-lo — Jarod declarou com voz rouca, a boca de encontro ao rosto dela. — “Com o meu corpo eu te honro.” Com um pequeno gemido, Amanda virou-se para ele, entregando-lhe os lábios e rendendo-se ao desejo que o toque daquelas mãos másculas despertava em seu corpo. CAPÍTULO X O trinado alegre de um pássaro saudando o nascer do sol chegou até o quarto silencioso. Amanda moveu-se ligeiramente, em protesto contra o som que a fazia acordar. Na mesma hora, os braços que a envolviam se enrijeceram para impedir novos movimentos, tornando-a consciente do levantar e abaixar do tórax musculoso que lhe servia de travesseiro. Com uma deliciosa sensação de bem-estar, ela pôs-se a observar as próprias mãos deslizando com intimidade por entre os pêlos escuros e crespos que cobriam o corpo de Jarod. — Jarod — murmurou com amor, adorando o som da palavra. — Jarod, Jarod... Ela poderia repetir o nome dele mais um milhão de vezes, mas não o fez, com medo de acordá-lo. A sensação proporcionada pelos braços fortes que a envolviam era boa demais, para querer que terminasse tão depressa. Cuidadosamente, Amanda inclinou a cabeça para trás, para poder ver melhor o rosto de Jarod, que parecia bem mais suave em repouso. O desejo de tocá-lo, explorando com a ponta dos dedos cada ângulo, cada linha de suas feições, tornou-se quase insuportável e ela fechou os olhos, aconchegando-se mais a ele. Foi então que a mão que repousava no ombro de Amanda deslizou para junto de seu rosto. Os dedos morenos ficaram tão perto de sua boca, que ela não resistiu e encostou os lábios neles, num beijo leve. Na mesma hora, eles se fecharam em torno de seu queixo e, num movimento rápido, ela se viu puxada para cima, até ficar com o rosto a poucos centímetros do de Jarod. Pelo brilho dos olhos verdes que a fitavam, foi fácil ver que ele estivera ciente de cada um de seus movimentos. — Bom dia. — Sua voz soou levemente tímida. Jarod sorriu e inclinou-se para depositar um beijo longo e delicado nos lábios dela, que se entreabriram assim que sentiram o contato dos dele. Depois, ele se afastou e examinou-a com atenção, antes de dizer sorrindo: — Este é o modo certo de se dizer “bom-dia”. — Eu não queria acordar você. — Não? Então, por que ficou repetindo o meu nome? — Suas mãos começaram a repetir as carícias da noite anterior, demorando-se deliberadamente nos quadris e na espinha de Amanda. — Eu gosto dele — Amanda explicou baixinho, sentindo as chamas do desejo se reacenderem em seu corpo. — E ontem à noite? — Jarod puxou-a para mais perto, para mordiscar a pele macia de seu ombro. — Ficou satisfeita? — Fiquei. — Amanda respirou fundo. — E você... ficou? — Não. — Ao ver a expressão magoada que apareceu imediatamente nos olhos dela, Jarod riu e com o peso do próprio corpo prendeu-a de encontro ao colchão. — Ontem à noite eu fiquei satisfeito, mas agora não estou mais. — Acho que está na hora de eu me levantar e preparar um bom café da manhã para você — ela murmurou, corando. — Por quê? — ele perguntou, com a boca de encontro à garganta dela. Amanda passou os dedos de leve pela pele nua dos ombros do marido. — Acho que isso é uma coisa que todas as esposas fazem... — Sim, até que se cansem. Aí, elas começam a mandar o marido para o trabalho com apenas uma xícara de café no estômago e um beijinho no rosto — Jarod comentou com cinismo. — Nem todas as esposas. — Eu tinha me esquecido. —Ele levantou a cabeça e olhou-a bem dentro dos olhos, com zombaria. — Você ainda acredita em todas aquelas idéias românticas sobre maridos, esposas e casamentos felizes para sempre. — Não caçoe de mim, Jarod — Amanda insistiu, envolvendo o rosto dele com ambas as mãos. — Eu o amo, mesmo. E não posso nem pensar em me separar de você. — Pois conserve os seus sonhos, Amanda. Não pretendo tirá-los de você — ele murmurou com seriedade. — Agarre-se a eles pelo máximo de tempo que puder.

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— O que foi que o tornou tão amargo, Jarod? — ela quis saber, o coração doendo de amor por ele. — Eu não sou amargo. Sou realista. E, neste exato momento, estou contente por poder exercer a minha autoridade de marido e dizer-lhe para parar de falar. A sombra de um sorriso brincava nos cantos da boca de Jarod, quando ele se inclinou para beijá-la. — Jar... O sr. Colby disse a que horas chegaria esta noite, quando telefonou, Hannah? — Amanda perguntou, quando a governanta entrou na sala de jantar onde ela estava polindo algumas peças de prata e cantarolando alegremente. — Não, ele só perguntou onde a senhora estava e a que horas ia voltar — a governanta replicou, pegando as peças que Amanda já havia polido e guardando-as num armário. — Eu expliquei que o seu pai ia receber alta hoje, e que a senhora tinha ido com a sua mãe buscá-lo. E disse que ia voltar mais ou menos às quatro horas. . — Ele não disse mais nada? — Não, sra. Colby. Amanda arrepiou-se de felicidade, como sempre acontecia quando alguém a chamava de sra. Colby. Por quanto tempo ainda me sentirei assim?, pensou, sabendo que estava agindo como uma tola recém-casada. Mas, afinal, era isso mesmo o que ela era, pois estavam casados há apenas três semanas. No entanto, a impressão que tinha era de que sempre pertencera a Jarod. Procurava manter afastado de sua mente o medo secreto que tinha de que algum dia toda a sua felicidade terminasse. Estava convencida de que a felicidade e a infelicidade eram estados de espírito, e havia decidido que os dias, as semanas ou os meses que passasse com Jarod seriam de felicidade. Viver sem ele seria um verdadeiro inferno. Jarod costumava aborrecê-la de vez em quando, dizendo que ela estava brincando de casinha, mas Amanda tinha descoberto que tudo o que precisava fazer, para ele entrar na brincadeira também, era cair em seus braços e oferecer-lhe os lábios para beijar. O êxtase violento que sempre experimentava quando faziam amor ainda não havia diminuído para ela. E, ao que parecia, nem para Jarod. Desde o seu casamento, os dois haviam comparecido a uns poucos jantares de negócios e estavam sempre se procurando com os olhos, se por acaso acontecia de serem separados pelos outros convidados. Amanda jurava que seu coração nunca deixaria de se acelerar cada vez que ela visse nos olhos dele aquele brilho especial, que dizia que ele gostaria que estivessem a sós. Olhando rapidamente para o relógio, viu que já eram quase quatro horas. Entregando a última peça de prata para a governanta, começou a juntar o material que tinha usado em seu polimento. — Deixe que eu cuido disso — Hannah falou. A governanta não tinha nada contra o fato de Amanda fazer alguns trabalhinhos leves na casa, mas não admitia que ela realizasse serviços mais pesados, tais como limpar, arrumar as camas e lavar pratos. Isso era da inteira responsabilidade dela, Hannah. Para Amanda, que tinha trabalhado a vida inteira, foi difícil aceitar esse estilo de vida, mas Jarod acabou logo com os seus protestos, quando disse que ela não estava lá para substituir a governanta. Mas a verdade é que havia trabalho suficiente para manter as duas mulheres ocupadas, e uma surpreendente amizade logo se desenvolveu entre elas. Os ponteiros do relógio passaram das quatro e o telefone continuou em silêncio. Amanda ainda não havia percebido quanto estava ansiosa para ouvi-lo tocar. Jarod nunca ligara para ela durante o dia, antes, e isso era uma das muitas coisinhas que mostravam que ele não a encarava como sua esposa. Com um profundo suspiro, desistiu da vigília que montava ao lado do telefone e foi para o quarto, decidida a tomar um banho e trocar de roupa, antes de Jarod chegar. O barulho da porta da frente se abrindo, seguido pelo som da voz dele no hall, fez com que ela voltasse rapidamente, um sorriso de felicidade iluminando-lhe o rosto. — Você chegou cedo! — Amanda exclamou deliciada, no momento em que seus olhos deram com a figura do homem alto e moreno, que se virou para ela. Jarod estendeu uma das mãos e puxou-a para si, daquele modo impessoal que ela estava começando a detestar, pois sempre a fazia lembrar que não passava de mais uma mulher na vida dele. E que, provavelmente, não seria a última. — Amanda, gostaria de apresentá-la ao meu advogado, Frank Blaisdale — ele disse, virando-se para o homem idoso e careca que estava a seu lado, com uma pasta nas mãos. — É um prazer, sra. Colby. Já ouvi muitos elogios à senhora, mas nenhum deles lhe faz justiça. Os olhinhos astutos sorriam para ela e Amanda percebeu que muitas pessoas já deviam ter sido iludidas pelo charme calmo daquele homem. — Obrigada, sr. Blaisdale — respondeu, sorrindo. Depois perguntou, olhando para Jarod: — Quer que eu leve alguma coisa até o escritório, para vocês tomarem enquanto trabalham? — Eu não vou ficar muito, sra. Colby — o advogado disse. — Frank está aqui para testemunhar a sua assinatura em alguns papéis, Amanda — Jarod explicou, levando-os na direção do escritório. . — A minha assinatura? — Amanda estava surpresa. — É. Na verdade, esse contrato deveria ter sido assinado antes do nosso casamento, mas Frank estava fora da cidade e só pôde redigi-lo agora — Jarod falou, abrindo a porta do cômodo forrado com lambris de nogueira, que lhe servia de escritório, e empurrando-a para dentro. — Contrato? — Ela olhou de Jarod para o rosto impassível do advogado. — Você está começando a parecer um eco, Amanda. — Havia um tom de censura em sua voz. — Desculpe, mas eu não estou entendendo — insistiu. — É muito simples, sra. Colby. — O advogado colocou a pasta em cima da escrivaninha, abriu-a e tirou três folhas de papel, entregando uma para ela, uma para Jarod e ficando com a última. — Isso é o que comumente se chama um contrato de casamento. Ele define os deveres que seu marido assumiu, tornando-se responsável pelo pagamento das contas hospitalares e médicas de seu pai, pelo ordenado dele como gerente afastado do cargo, e pela educação universitária, dos seus irmãos. Este contrato define também a soma em dinheiro que a senhora deve receber, em caso de divórcio. Leia tudo e veja se tem alguma dúvida. Amanda teve a impressão de que o papel em suas mãos queimava, e rapidamente colocou-o em cima da escrivaninha. Seus olhos castanhos eram a imagem viva da agonia quando ela os voltou para Jarod, que lia calmamente a folha que o advogado lhe entregara. Como se sentisse o olhar dela, ele levantou a cabeça, com aquele ar distante que Amanda achava que ele sempre assumia quando se concentrava em uma importante transação de negócios.

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— Tem alguma pergunta? — Seus olhos verdes tinham agora uma expressão fria e penetrante. — É isso o que você quer? — ela perguntou, em voz baixa e triste. — Acho que não está faltando nada. — Seu olhar percorreu de novo, rapidamente, o documento. — Nós já discutimos todos os itens, exceto a quantia que você deve receber, em caso de divórcio — ele continuou, ignorando deliberadamente o pedido que havia nos olhos dela para que não fosse em frente com aquilo. — Cem mil dólares está bom, ou você quer mais? A fria indiferença que havia na voz de Jarod fez Amanda estremecer. Sentindo-se miseravelmente infeliz, ela se virou para o advogado. — Onde eu assino? — Sra. Colby, como advogado, eu me sinto no dever de aconselhar que leia tudo, cuidadosamente — Frank Blaisdale disse. — Não é preciso — ela murmurou, tentando abafar a dor que ameaçava partir-lhe o coração. — Tenho certeza de que tudo está bem. Onde eu assino? O advogado entregou-lhe uma caneta e indicou os lugares onde devia assinar. Cada nova letra que Amanda traçava abria uma nova ferida em seu coração, aumentando a dor que sentia, até um ponto quase insuportável. Depois de colocar sua assinatura na última folha, ela se levantou, murmurou uma desculpa qualquer e fugiu de lá. Suas pernas trêmulas levaram-na rapidamente para o quarto que compartilhava com Jarod, onde se encostou na vidraça da janela, soluçando de dor e mágoa. Pouco depois ouviu a porta se abrir, e não precisou olhar para saber que o marido a seguira. Enrijecendo o corpo, ela levantou o queixo com decisão. Não permitiria que Jarod visse a agonia que lhe causara. — Eu... eu... — Respirou fundo, tentando se controlar. — Acho que vou tomar um banho, antes do jantar — conseguiu dizer e, sem olhar para ele, deu um passo na direção do banheiro. — Amanda! — A zanga controlada em sua voz acabou com todo o desejo que ela sentia de fingir que ele não a magoara. — Jarod, como é que você pôde fazer isso? — perguntou, sem se voltar. — O contrato serve tanto para a sua proteção quanto para a minha — ele disse com seriedade. Com passadas longas e silenciosas, Jarod cobriu o espaço que os separava. — Aquele contrato horrível! Ele transforma o que eu sinto por você numa coisa barata e degradante! Eu amo você de todo o coração, e no entanto aqueles papéis fazem com que eu me sinta como uma interesseira sem sentimentos! — Você sabe que isso não vai durar. — O que não vai durar? O meu amor por você, ou o nosso casamento? — Piscando para afastar as lágrimas que lhe enevoavam os olhos, Amanda virou-se de frente para o marido, que a observava com os maxilares cerrados. — Eu sei que vou continuar amando você, mesmo quando já não me quiser. Desde o início, eu sabia que o nosso casamento não ia durar para sempre, e me contentei com o pouco de afeto que você pôde me dar. Mas esse contrato tirou até isso de mim! Jarod segurou-a, enterrando os dedos nos ombros macios de Amanda. — Você é uma linda mulher, mas ainda tem tanto de criança! — ele murmurou, zangado, puxando-a de encontro ao peito e mantendo-a lá, enquanto lhe acariciava os cabelos como se estivesse consolando uma criança. — Eu não posso mudar o meu modo de sentir, querido — Amanda disse baixinho, quando Jarod apoiou o queixo no topo de sua cabeça, — como também não posso mudar o seu modo de sentir. Já aceitei isso. Eu só gostaria que aquele contrato não existisse. — Eu ainda não tinha percebido como você é sensível... como é fácil feri-la — Jarod murmurou pensativo, abraçando-a com mais força. — Esqueça esse contrato, Amanda. Não passa de mais um pedaço de papel. Mas, para Amanda, era tão fácil esquecer o contrato quanto seus votos de casamento. Durante os três meses que se seguiram, ela não pôde deixar de reparar no modo sutil e prejudicial como ele influenciava sua vida com Jarod. Por trás de cada sorriso feliz havia uma sombra, que a obrigava a se lembrar de que seu relacionamento com ele transcorria na base da precariedade, e que fazia com que acordasse todas as manhãs sentindo-se insegura, sem saber se aquele seria o dia em que Jarod decidiria que não a queria mais. Havia horas em que Amanda se perguntava para onde tinham ido seu orgulho e auto-respeito, pois só uma pessoa completamente sem amor-próprio viveria como ela, saboreando avidamente cada precioso momento que passava com o homem amado. De manhã, ao acordar, era só com muito esforço que Amanda se impedia de tocá-lo, para se reassegurar de que Jarod estava ali, a seu lado, e que continuava a querê-la. Pelo menos era assim que vinha sendo, desde a manhã seguinte à assinatura do contrato. Agora, deitada muito quieta na cama, ela o observava se vestir, esperando o momento em que ele se despediria com um beijo, antes de ir para o trabalho. — Você está ficando uma preguiçosa e tanto! — Jarod sorriu para ela, ajustando a gravata em frente ao espelho. Seus olhos verdes cintilaram ao reparar no contraste que os cabelos pretos faziam com a fronha branca do travesseiro. — Não há motivo para eu me levantar cedo. — Amanda retribuiu o sorriso, os olhos enchendo-se de amor ao contemplar as feições fortes e bronzeadas do marido. — É, acho que não, mesmo. — O serviço meteorológico avisou que hoje o dia está sujeito a pancadas de chuva. Não esqueça de levar a sua capa. Jarod aproximou-se da cama, os olhos brilhando, zombeteiros. — Não cansou ainda de fazer ò papel da esposa dedicada, Amanda? Ela engoliu em seco, com dificuldade. — Não caçoe de mim, Jarod. — Você costumava rir quando eu dizia isso — ele lembrou com delicadeza, inclinando-se para beijar-lhe a boca possessivamente. Quando afinal se afastou, foi para examinar-lhe o rosto com atenção. — Você está com um ar abatido esta manhã. — Estou sem maquilagem. A que horas você chega, esta noite? — Mais ou menos às sete. Vou ter que ir até Atlanta. — Depois de dar mais um rápido beijo na ponta do nariz de Amanda, Jarod dirigiu-se para a porta. — Tenha cuidado! — ela pediu ainda, e como única resposta recebeu uma rápida olhada por cima do ombro, no

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momento em que ele saía para o corredor. Amanda continuou deitada, vendo na imaginação Jarod caminhar até o escritório, onde pegaria a sua pasta, passar em seguida pela sala de estar, onde diria Hannah a que horas estaria de volta para o jantar e sair finalmente de casa, para pegar o carro na garagem. Só quando o vento estava na direção certa é que ela conseguia ouvir o ronronar do motor, no momento em que ele dava a partida. Naquela manhã, não ouviu nada. Vagarosamente afastou as cobertas e sentou-se na beirada da cama. Suas pernas tremiam como maria-mole, mas ela conseguiu chegar ao banheiro antes que as ondas de náusea a vencessem e começasse a vomitar. Quando tudo acabou, Amanda se agarrou à pia, lutando contra a fraqueza que ameaçava fazê-la cair. Inspirou profundamente várias vezes e, quando sentiu que estava melhor, virou-se para voltar ao quarto. Mas deu de frente com Jarod, que bloqueava a porta, os olhos verdes brilhando de raiva. — Por que você não me disse que estava doente? — ele perguntou, cobrindo a distância, entre eles com um único passo e carregando-a de volta para o quarto. — Eu... eu não... queria que você ficasse preocupado — Amanda gaguejou. — De agora em diante — Jarod falou, zangado, colocando-a sobre a cama, — deixe que eu mesmo decida se devo, ou não, ficar preocupado por sua causa. Fique quieta aqui, enquanto peço a Hannah para lhe preparar um pouco de chá. Ela abriu a boca para chamá-lo de volta, mas nenhum som saiu de sua garganta enquanto a porta não se fechou atrás dele. Aí, já era tarde demais; enterrando o rosto no travesseiro, Amanda começou a chorar. Alguns minutos mais tarde, Hannah entrou carregando uma bandeja com uma xícara de chá e algumas torradas. A governanta não disse uma palavra, mas a expressão em seus olhos era mais do que eloqüente. Amanda comeu duas torradas e bebeu todo o chá, e já estava para sair da cama quando ouviu vozes no hall. Seu olhar voltou-se ansiosamente para a porta no momento exato em que esta se abriu e Jarod entrou, seguido por um homem alto e magro. Com o coração batendo acelerado de medo, ela esperou. Sua desconfiança de que aquele homem era um médico foi logo confirmada. — Este é o dr. Simon... Minha esposa — Jarod apresentou. — Bom dia, sra. Colby. Seu marido me contou que a senhora não está se sentindo muito bem, hoje. O médico caminhou decididamente para ela, mas Amanda não lhe prestou atenção. — Eu não preciso de um médico — protestou fracamente, olhando para Jarod. — Estou bem. — Vamos deixar o dr. Simon julgar isso. — Jarod levantou ás sobrancelhas escuras, irredutível. O médico estendeu a mão para tomar o pulso de Amanda, mas ela o impediu, afastando-se para o meio da cama. — Por favor, Jarod, eu preciso falar com você — pediu. — Podemos falar depois que o dr. Simon terminar o exame. — Deixe-me tomar o seu pulso, sra. Colby. — Não! Por favor, eu não estou doente. — Ela olhou ansiosamente do médico para Jarod, que estava em pé ao lado da cama. — É mesmo? Pois você deu uma forte impressão de estar doente — ele disse, pedindo ao médico, com um gesto, que continuasse. — Jarod, por favor, eu preciso falar com você... a sós. Não preciso de um médico. — Quer parar de se comportar como um bebê? — Jarod respondeu asperamente, perdendo a paciência. — Está bem. — Amanda respirou profundamente antes de erguer os olhos para o marido, num pedido silencioso de desculpas. Depois explicou, em voz calma e baixa: — Eu não estou me comportando como um bebê. Estou me comportando como uma mulher que espera um bebê. O silêncio que caiu entre eles teria se prolongado indefinidamente, com Jarod olhando-a com uma expressão incrédula e zangada, se o médico não tivesse falado: — Já consultou algum dos meus colegas, sra. Colby? — Já — Amanda admitiu, sem desviar os olhos implorantes do rosto do marido. — O médico da minha família. E ele confirmou. — Então, meus parabéns — ele disse, hesitante. — Eu... vou deixar vocês dois a sós. CAPÍTULO XI Assim que ouviu o barulho da porta se fechando, Amanda começou a explicar, apressada: — Eu tentei lhe contar várias vezes, Jarod! Tentei mesmo! Nunca quis que você descobrisse desse modo. Sinto muito. — Você sente muito! — ele caçoou, de um modo que mostrava claramente que o pedido de desculpas dela não havia surtido o menor efeito. — Meu Deus! Nunca pensei que você pudesse lançar mão de um golpe sujo desses, para me prender! — Não! — ela exclamou com veemência, negando a acusação de que era vítima. — Não foi essa a minha intenção. — Não foi? Então, por que você escondeu a sua gravidez de mim? — Seu rosto era a própria imagem do sarcasmo e do desprezo. — Porque você já tinha me dito que não queria filhos. Foi por isso que eu não lhe contei. Eu estava com medo de contar. Mas nunca sonhei que você pudesse pensar que... — As lágrimas corriam livremente pelo seu rosto. — Jarod, eu quero esse bebê. Sei que não vou poder nunca ter você, mas o bebê será uma parte sua, e será meu. Uma parte de você será minha. Não entende? Jarod meneou a cabeça com cinismo. — Eu bem posso imaginar como o seu coração romântico chegou a essa absurda conclusão. Você espera que eu a ajude a criar essa criança? — Eu não espero nada de você, Jarod — Amanda respondeu baixinho. — Se você quiser, quando nos divorciarmos, eu mudo o meu nome e o do bebê para Bennet, de novo. E vou criar o nosso filho com todo amor e carinho. — Por algum tempo — Jarod rebateu secamente. — Depois, você vai começar a achar que ele está atrapalhando. E quando encontrar outro homem, pode ser que ele não queira assumir a responsabilidade de criar o filho do seu primeiro marido. O que vai fazer, então? Mandá-lo para um internato, para tirá-lo do caminho? E esquecer convenientemente que ele existe, a não ser uma ou duas vezes por ano, quando lhe mandará um presente, pelo correio?

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— Não, a infância dele não vai ser como a sua. Isso eu posso prometer. — O que é que você sabe de minha infância? — ele perguntou com rudeza. — Só o que ouvi Hannah contar. — Amanda não conseguiu sustentar o olhar frio do marido e abaixou a cabeça. Não adiantaria nada dizer a ele quantas coisas em comum ela havia notado, entre a infância dele e a de Tobe Peterson. — Poupe-me de sua piedade, pois, se há uma coisa de que não preciso, é isso — Jarod rugiu. — Aprendi bem cedo a ser realista. Nunca acreditei em coisas que não existem. Papai Noel, o coelhinho da Páscoa e o amor são ilusões, perpetuadas por pessoas que não têm capacidade para enfrentar a vida. Eu nunca enxerguei o mundo através de lentes cor-de-rosa, e nunca tive motivos para me lamentar disso. Ao contrário. Aquelas palavras encheram Amanda de dor. — Se você nunca sonha, não vai poder ver nunca um dos sonhos se tornar realidade — ela murmurou. — Nesse ponto eu tenho que lhe dar razão. — Sua voz estava pesada de sarcasmo. — Porque você certamente realizou mais um dos seus sonhos. — Como assim? — Amanda perguntou, já com medo da resposta. — Você não queria ficar mais tempo comigo? Pois bem, conseguiu. Vamos ficar juntos até o bebê nascer. Jarod virou-se abruptamente para sair do quarto, mas Amanda levantou-se com rapidez e impediu-o, segurando-lhe o braço. — Não! Eu não quero ficar nessas condições — protestou. Ela não esperava que a reação dele fosse tão rápida. Num segundo Jarod voltou-se e segurou-a pelo pescoço, como se quisesse estrangulá-la. Seu rosto era uma máscara de fúria. — Você pensa que vocês, malditos sulistas, são donos de todo o orgulho e honra que existem no mundo? Eu não sou do tipo de homem que engravida uma mulher e depois a joga na rua. O pouco de decência que ainda me resta não me deixa fazer isso. — Jarod... — Era difícil falar, com as mãos dele apertando-lhe a garganta. — Eu não posso ficar se você não me quiser mais. Você ainda me quer? O olhar de Jarod, frio e duro como diamante, examinou demoradamente o rosto de Amanda. Ele podia sentir as artérias dela pulsando debaixo de seus dedos e ver a expressão implorante e interrogativa dos olhos castanhos, que exigiam silenciosamente uma resposta honesta. Segurando o ombro da esposa com uma das mãos e deslizando a outra até encontrar-lhe a nuca, ele puxou-a com violência de encontro ao corpo. — Você vai ficar comigo até o bebê nascer — disse com voz rouca.. — Eu não tenho forças para ir embora, a não ser que você me mande — Amanda admitiu num sussurro. O contato com o corpo do marido já começava a despertar nela aquele desejo que parecia não ter fim: o desejo de ser possuída por ele. — Preciso saber se você ainda me quer. A boca de Jarod colocou-se com força à dela, esmagando-lhe os lábios de encontro aos dentes, ao mesmo tempo em que suas mãos moviam-se numa carícia punitiva por todo o corpo esbelto, lutando contra o tecido da fina camisola de algodão. A dor que suas carícias lhe causavam era uma doce agonia, e Amanda não protestou quando a tomou nos braços e levou-a para a cama. Ela enterrou os dedos nos espessos cabelos castanhos do marido quando ele murmurou de encontro ao seu pescoço: — Quero, quero sim. Pelo menos daquela vez, Amanda sentiu-se grata pela brutal honestidade de Jarod, pois sabia que ele falava a verdade. Nos meses que se seguiram, Jarod não fez qualquer menção ao bebê, nem mesmo quando a barriga de Amanda atingiu um ponto em que não podia mais ser ignorada. Ele passava a maior parte das noites fora de casa, o que provocava muitas perguntas e olhares desconfiados da parte da governanta. Amanda não conseguiu mais perguntarlhe se ainda a queria. A resposta estava por demais evidente, nas atitudes que ele tomava. No entanto, ela encontrava conforto no bebê que se formava dentro de sua barriga, apesar de isso não substituir a maravilhosa sensação dos braços de Jarod envolvendo-lhe o corpo, sensação que há algum tempo havia deixado de sentir. O barulho das agulhas de tricô de Amanda competia com o tique-taque do relógio, enquanto ela imaginava se Jarod chegaria para o jantar ou telefonaria na última hora para dizer que não podia vir. A resposta que procurava foi dada pelo som da porta da rua abrindo e fechando. Involuntariamente, seus olhos desviaram-se para o local por onde ele devia entrar, ansiosos para vê-lo. Então Jarod apareceu e, ignorando o cumprimento dela, caminhou até o barzinho e serviu-se de uma bebida, com cara de poucos amigos. — Como passou o dia hoje? — ele perguntou, mas o tom indiferente da voz traía sua falta de interesse. — Bem, obrigada — Amanda respondeu, engolindo em seco para tentar desfazer o nó que havia se formado em sua garganta. Sentindo o olhar sombrio do marido sobre si, fez um esforço para se concentrar no suéter verde que tricotava. — Você não precisa fazer roupas — Jarod disse de repente. — Se o dinheiro que lhe dou não está dando, peça mais. A selvageria da voz dele levou-a a fechar os olhos durante um rápido momento, antes de responder com calma: — Eu gosto de fazer alguma coisa. Preenche o meu tempo. Um silêncio desagradável envolveu-os, então. Mas logo depois o bebê se mexeu, como se quisesse lembrar à mãe sua existência, e ela disse, hesitante: — Eu.... eu estive pensando em... alguns nomes para o bebê. O que acha de Michele, se for uma menina, e David, se for um menino? — Por que está me dizendo isso? — Eu pensei que você poderia... poderia querer fazer uma sugestão — Amanda explicou desanimada, incapaz de enfrentar o desprezo que havia na voz dele. — Pode dar o nome que você quiser a esse bebê — ele respondeu com grosseria, levantando-se da banqueta de couro onde estava sentado, ao lado do bar. — Você vai jantar aqui, hoje? Jarod lançou-lhe um olhar de pouco caso por cima do ombro. — Eu não me lembro de ter dito qualquer coisa a respeito de sair, portanto só posso jantar aqui. — Eu não sabia. — Amanda encolheu os ombros, num gesto de desamparo. — Você tem estado tão ocupado ultimamente, que pensei que talvez fosse sair esta noite também.

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— Se você quer saber se estou indo ver outra mulher, por que não me pergunta abertamente, em vez de ficar com rodeios? — Os olhos verdes assumiram uma expressão de raiva intensa ao ver a dor que surgiu no rosto de Amanda. — Eu não quero saber — ela murmurou, odiando a fraqueza de seu amor, que permitia que se sujeitasse a ser tratada daquele modo. — Você não gostaria de me passar um bom sermão, pela minha falta de fidelidade? — Jarod caçoou. Bruscamente, Amanda jogou o tricô que fazia para um lado e se levantou, esforçando-se para escapar com dignidade dos insultos do marido. — Droga! — ele murmurou com violência, alcançando-a facilmente antes que ela pudesse chegar ao hall. — Eu não devia ter dito isso, Amanda. — Suas mãos seguraram os ombros dela, que estremeciam com soluços silenciosos de mágoa. Puxando-a de encontro ao peito ele murmurou, com o queixo apoiado no topo da cabeça de Amanda: — Desculpe. — Está tudo bem — ela sussurrou. Não lhe pareceu necessário acrescentar que entendia por que ele havia procurado outra mulher. — Eu vou viajar amanhã de manhã para a Filadélfia — Jarod disse, soltando os ombros dela e dando um passo para trás. — Vou ficar por lá mais ou menos uma semana. Pode dizer a Hannah para aproveitar esse tempo para mudar as minhas coisas para o quarto de hóspedes. Vou dormir lá, de agora em diante. Ela abriu a boca para protestar, mas fechou-a imediatamente, contente por estar de costas para o marido. Desse jeito, ele não podia ver o tormento que suas palavras haviam lhe causado. Murmurando qualquer coisa, Amanda saiu apressadamente da saía, e desta vez Jarod não a impediu. — Oi, Mandy! Como está se sentindo, meu bem? Amanda abriu os olhos devagarinho e, quando viu diante de si o rosto sorridente da mãe, deixou escapar um pequeno suspiro de prazer. — Exausta — murmurou, sentando-se com dificuldade na cama do hospital. — Você já viu o bebê? Ele não é um amor? — Ele é maravilhoso! — a sra. Bennet concordou, entusiasmada. — Ele pode ter nascido três semanas antes do tempo — o sr. Bennet declarou, falando ainda com uma certa dificuldade, por causa do derrame, — mas tem mais cabelos que todas as outras crianças que estão no berçário. — Conseguimos falar com Jarod há mais ou menos uma hora — a sra. Bennet disse. — Ele vai pegar o primeiro avião que sair da Filadélfia para cá. Você deve ter ficado triste por ele não estar aqui quando David nasceu, não é, minha filha? — Eu não me importei. — Amanda abaixou a cabeça para que seus pais não pudessem ver a expressão de dor que lhe surgiu nos olhos. — Eu não consigo imaginar Jarod andando de um lado para o outro, na sala de espera. Vocês conseguem? — É, eu também não consigo. — A sra. Bennet riu, depois inclinou-se e segurou uma das mãos da filha.— A enfermeira nos pediu para não ficarmos muito tempo, para você poder descansar. Mais tarde nós voltaremos. Os olhos de Amanda se fecharam no mesmo instante em que seus pais saíram do quarto. Quando a enfermeira entrou para avisá-la de que iam trazer o bebê para a primeira mamada, a impressão que ela teve foi de que apenas alguns minutos haviam se passado, embora estivesse dormindo há mais de duas horas. Amanda não seria nunca capaz de descrever a alegria que sentiu quando lhe colocaram nos braços o pacotinho que era o seu filho. Um maravilhoso mundo novo se abriu para ela quando viu os punhozinhos minúsculos esmurrando o ar, ao mesmo tempo em que a boquinha rosada sugava vigorosamente o bico de seu seio. Depois que terminou de mamar, David adormeceu contente nos braços de sua mãe, que começou a arrumar delicadamente, com as pontas dos dedos, os cabelos escuros que lhe cobriam a cabecinha. — Meu lindo bebê — Amanda murmurou com meiguice, tocando de leve a ponta do narizinho dele. — Vou amar você tanto quanto amo seu pai. — Um sorriso cheio de amor iluminou-lhe o rosto. — E acho que isso não vai ser muito difícil. Aposto que você vai ser muito parecido com ele. Vai ter até os mesmos lindos olhos verdes, não é? O barulho da porta se abrindo chamou a atenção de Amanda, que levantou a cabeça já com uma expressão triste nos olhos, esperando ver a enfermeira que ia levar David de volta para o berçário. Mas era Jarod quem estava parado lá, alto, imponente e com uma expressão vagamente distante. Instintivamente, ela estendeu uma das mãos para ele. — Jarod! — exclamou com a voz vibrando de felicidade. — Não pensei que fosse chegar tão cedo! Com passadas largas ele caminhou até a beirada da cama, pegando com indiferença a mão que Amanda lhe oferecia. — Você está bem, Amanda? — ele perguntou. — Estou, sim. — Ela não conseguiu deixar de sorrir. Estava tão feliz. Depois, seus olhos voltaram-se para o bebê que dormia pacificamente. — David não é o bebê mais lindo que você já viu? — perguntou, observando disfarçadamente Jarod, para ver a reação dele ao filho. — Desculpe, sra. Colby — a enfermeira falou, entrando silenciosamente no quarto, — mas está na hora de o bebê voltar para a enfermaria. Jarod soltou a mão da esposa e deu um passo para trás, enquanto ela estendia, com relutância, o filho para a enfermeira. Depois que os dois saíram do quarto, Amanda olhou novamente para o marido, que a observava com ar sombrio e pensativo. Embaraçada, passou os dedos pelos cabelos um pouco despenteados, inconsciente do quanto estava bonita. . — Eu devo estar horrível! — comentou com uma leve careta. — Meu cabelo está todo despenteado e meu rosto não tem um pingo de maquilagem. Jarod não negou suas palavras. Tudo o que disse foi: — O dr. Henderson me disse que você vai receber alta na terça-feira. Vou providenciar para que uma enfermeira se mude lá para casa na segunda. Assim, quando você e o bebê chegarem, ela já estará instalada. — Não! — seu rosto assumiu uma expressão assustadora, antes de Amanda declarar com firmeza: — Eu mesma vou tomar conta do meu filho. — Está bem, faça como quiser — Jarod replicou. — Mas, quando se cansar de fazer o papel da mãezinha dedicada, pode contratar uma enfermeira. Grande parte da felicidade de Amanda desapareceu ao ouvir aquelas palavras cínicas. — Existe uma coisa que você precisa entender, Jarod — murmurou, tensa. — Nosso filho não é um brinquedo, e eu

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nunca vou me cansar dele. — Está certo. — Ele encolheu os ombros, num gesto de pouco caso. — Vou deixar você descansar, agora. E sem nem mesmo dizer até logo, Jarod saiu do quarto, deixando Amanda mais deprimida do que nunca. O choro de David acordou Amanda instantaneamente. Ela ainda se surpreendia com o modo como seus ouvidos tinham aprendido a registrar cada som vindo do berço, por mais profundamente adormecida que estivesse. Os ponteiros do relógio marcavam seis e meia, hora de tomar o café da manhã, de acordo com o estômago faminto de David. Amanda deslizou rapidamente para fora da cama e, vestindo um penhoar verde-musgo, caminhou apressadamente até o berço, antes que o choro fraco do bebê se transformasse num berro revoltado. — Pronto, homenzinho — ela murmurou, colocando a chupeta na boquinha rosada. — Eu vou esquentar a sua mamadeira e volto logo. Sem fazer barulho, Amanda saiu para o corredor e fechou a porta do quarto atrás de si, lançando um rápido olhar para a porta do quarto de Jarod que, como sempre, estava firmemente trancada. Isso sempre a deprimia, pois tornava mais evidente a barreira que os separava. Mais uma vez ela agradeceu a Deus a chegada do filho, que tinha dado um novo sentido à sua vida. E nesse exato momento, o garotinho está faminto e precisa ser alimentado, ela pensou, enquanto se dirigia apressadamente para a cozinha. A água da panelinha onde estava a mamadeira tinha começado a ferver quando Amanda ouviu os berros do filho. Na certa ele havia perdido a chupeta. — Só mais um minutinho, David — ela murmurou, testando a temperatura do leite na mão, e vendo que estava quase boa. Alguns minutos mais tarde Amanda voltava pelo corredor, quando percebeu que os gritos do bebê tinham cessado. Certa de que, por um milagre qualquer, David havia conseguido recuperar a chupeta, abriu a porta e parou, boquiaberta. No meio do quarto, embalando o bebê nos braços como se tivesse feito isso a vida inteira, estava Jarod. — Eu não pretendia demorar tanto — ela disse, recuperando-se da surpresa que sentira e olhando para o filho, que se debatia nos braços do pai. — Eu já estava acordado — Jarod garantiu, virando-se para lhe entregar o bebê. Amanda hesitou menos que um segundo antes de estender a mamadeira para ele. — Você pode dar a mamadeira para David? — perguntou rapidamente. E, cruzando os dedos atrás das costas, num gesto de criança, mentiu: — Eu deixei cair um litro de leite no chão da cozinha, Hannah ainda não chegou e eu gostaria de limpar tudo, antes que seque. Ela praticamente forçou Jarod a segurar a mamadeira, antes de se virar e sair do quarto, quase correndo. Só parou quando chegou à cozinha. — A senhora está com a mesma cara do gato que engoliu o canário do vizinho — Hannah comentou, quando chegou para trabalhar, cinco minutos depois. — Não me diga que o despertador de David não funcionou esta manhã! — Ah, funcionou, sim — Amanda respondeu, rindo e abraçando a governanta. — Então, o que foi que aconteceu? — Seu rosto normalmente severo abriu-se num sorriso meio espantado. — Nesse, exato momento, Jarod está no meu quarto, dando a mamadeira para David — ela sussurrou, como se estivesse com medo de que as paredes viessem abaixo, se contasse a novidade em voz alta. — Já, não era sem tempo! — Hannah declarou, comum movimento vigoroso da cabeça grisalha, — O rapazinho já está com mais de um mês de idade! Estava mais do que na hora de ele saber como é o colo do pai. — Eu sabia que Jarod não conseguiria resistir a ele para sempre! — Amanda falou com entusiasmo, ignorando as palavras críticas da governanta. — Mas é melhor eu não exagerar, da primeira vez. Com a minha sorte, David é capaz de fazer xixi em cima do pai, se eu não voltar logo para pegá-lo. Passe um café e leve uma xícara até o meu quarto, Hannah, por favor. David já estava quase acabando com o leite da mamadeira quando Amanda abriu a porta do quarto e entrou. Sem dizer nada, com uma tímida expressão de prazer nos olhos castanhos, ela pegou o bebê dos braços do marido. — Ele já arrotou — Jarod disse com indiferença, — e até regurgitou um pouquinho. — Mas não em cima de você? — ela perguntou, ansiosa. — Não. Jarod ficou em pé ao lado do berço, observando com indiferença Amanda aconchegar o cobertor em volta do garotinho satisfeito. Disfarçadamente, ela tentou descobrir um traço de orgulho ou afeição nas feições arrogantes, qualquer sinal de que Jarod sentia alguma coisa pelo filho deles. Parecia não haver nada, mas mesmo assim ela arriscou um comentário. — Às vezes é difícil acreditar que ele é nosso filho — disse com meiguice. — Que você e eu criamos... — Não gaste suas tolices românticas comigo, Amanda — Jarod interrompeu com rudeza. — Guarde isso para esse bebê, do qual você tem tanto orgulho. Amanda olhou-o boquiaberta, incapaz de acreditar na violenta rejeição que a voz dele espelhava. Depois, com um movimento incerto, segurou-o pela manga do robe. — Jarod... —começou, hesitante, levemente esperançosa. — Você... você não está com ciúme do nosso... do nosso filho, está? — Com ciúme! — Havia um tom de profundo desprezo em sua voz quando Jarod voltou o olhar frio e brilhante para ela. — Para se ter ciúme de uma pessoa, é preciso gostar dela. E eu não gosto de você. — Jarod pronunciava as palavras vagarosamente, para dar mais ênfase ao que dizia. — Você e esse bebê poderiam ir embora daqui hoje, que eu não sentiria a mínima falta dos dois. O corpo de Amanda estremeceu, como se ele a tivesse esbofeteado, e ela virou a cabeça para o outro lado, praticamente em choque. Incapaz de falar, ouviu o som dos passos de Jarod, que se afastava dali. Tremendo da cabeça aos pés, escondeu o rosto nas mãos e chorou amargamente pela morte de sua última esperança. — Não desperdice suas lágrimas com ele. — A voz zangada de Hannah soou bem atrás dela. — Ele não vale isso. Amanda virou-se bruscamente. — Não diga isso! — murmurou aterrorizada, pois sua mente lhe dizia a mesma coisa. — Mas é verdade. E não venha me dizer que não tenho nada com isso. Eu ouvi tudo o que o seu marido lhe disse,

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e acho que seria bem feito se a senhora o abandonasse hoje mesmo. — Mas eu o amo! — seu rosto estava inchado de tanto chorar. — É tão humilhante amar alguém tanto quanto eu o amo. O que vou fazer? — Em primeiro lugar — a governanta empurrou-a na direção da cama, — a senhora vai tomar esse café, enquanto eu faço as suas malas e as de David. Já é tempo de o todo-poderoso sr. Colby descobrir como este lugar fica vazio sem a senhora e o bebê. Vamos ver o que ele vai achar da comida, quando tiver que se sentar à mesa sozinho, ou da casa, quando tudo estiver arrumadinho como antes, sem o calor que dão algumas coisas de mulher espalhadas por aí. — Não vai dar certo, Hannah. — Amanda meneou a cabeça, desanimada. — Quando me casei com Jarod, eu já sabia que ele não ligava para mim. Mas eu tinha esperanças de que ele pudesse se apegar a David... — Ela suspirou, antes de continuar: — Eu disse a Jarod que só o deixaria quando ele me mandasse embora, e é o que vou fazer. — E o que a senhora acha que ele fez, agora há pouco? Onde está o seu amor próprio? — Eu não tenho mais — Amanda admitiu com tristeza, enxugando com as mãos o rosto molhado de lágrimas. — É melhor você levar o café de Jarod até o quarto dele. — Se eu fizer isso, sou capaz de jogar tudo na cara daquele ingrato! — Hannah... — Está bem, eu levo o café para ele. — Rigidamente, Hannah pegou a bandeja que tinha trazido. — Mas assim que ele sair desta casa, vou fazer as suas malas. E nem que eu tenha que lhe emprestar um pouco do meu orgulho, a senhora já vai estar longe daqui, quando ele voltar esta noite. — Oh, Hannah, eu adoro você! — Amanda declarou, já meio rindo. — Mas eu não vou embora hoje. — Pois veremos! — A governanta fungou e caminhou, decidida, para a porta. CAPÍTULO XII A porta fechou-se com estrondo atrás de Jarod, quando ele entrou em casa e caminhou, com passadas impacientes, diretamente para o escritório. Jogando a pasta em cima do sofá de couro, começou a examinar a correspondência que estava em cima de sua escrivaninha, ao mesmo tempo em que desfazia o nó da gravata com dedos ágeis. Ao ouvir a leve batida, Jarod levantou os olhos apenas o tempo suficiente para identificar a pessoa que acabava de entrar, antes de voltá-los novamente para as cartas que tinha nas mãos. — O que é, Hannah? — perguntou com aspereza. — Eu só queria saber a que horas o senhor quer que eu sirva o jantar. — Eu tenho um compromisso dentro de meia hora, por isso não vou jantar aqui. Fale com a sra. Colby. — Ele jogou a correspondência sobre a escrivaninha e virou-se um pouco para o lado, mostrando, assim, à governanta que ela podia se retirar. — A sra. Colby não está aqui — ela retrucou com um leve tom de triunfo na voz. Jarod olhou por cima do ombro, com a testa ligeiramente franzida, tentando descobrir, com seu olhar penetrante, a razão daquele estranho tom de desafio. — O que você está querendo dizer com esse “ela não está aqui”? —perguntou, exigindo uma explicação melhor. — Estou querendo dizer que ela foi embora. — Seus olhinhos estreitaram-se, até ficarem quase uma linha reta. — E espero que ela tenha muita sorte em sua nova vida! Jarod deu a impressão de refletir por alguns momentos sobre aquela declaração. — Não acredito nisso — disse depois de alguns segundos, com marcada indiferença. — O senhor não tem que acreditar em mim. — Hannah encolheu os ombros. — Mas se for até o quarto da sra. Colby, vai descobrir que todas as roupas dela e do bebê desapareceram. Por um longo momento, Jarod fixou com frieza os olhos verdes e brilhantes na governanta, que não se amedrontou. Então, ele empurrou-a bruscamente para o lado e com passadas largas e apressadas dirigiu-se para o quarto de Amanda. Uma rápida procura confirmou as palavras de Hannah. No entanto, seu olhar continuou a percorrer todos os cantos do quarto, sem parar. Percebendo isso, a governanta, que o havia seguido e estava agora parada na soleira da porta, disse: — Não precisa se preocupar, sr. Colby. A sra. Colby só levou coisas pessoais. Ela deixou esta casa exatamente como a encontrou: fria e vazia! — Cale-se! Já agüentei demais o seu atrevimento! — Jarod replicou com grosseria. Hannah levantou uma das sobrancelhas com ironia, cruzando os braços em frente ao peito. — Já, é? Talvez eu devesse pedir a minha demissão, para ver se o senhor vai sentir falta de mim, ou não. E se quer saber para onde foi a sua mulher, eu posso lhe dizer: ela voltou para junto das pessoas que gostam dela e do bebê. Os pais e os irmãos! — E por que eu haveria de querer saber onde ela está? — Jarod perguntou, jogando a cabeça morena para trás, num gesto cheio de arrogância. — E você já devia estar sabendo que a nossa separação era apenas uma questão de tempo, uma vez que conhece tão bem a minha vida particular. — Eu não sou cega, nem surda. Ele comprimiu os lábios com força, para reprimir a resposta zangada que ameaçava sair de seus lábios. — Você pode ir para a sua casa, Hannah. Como tenho outros compromissos esta noite, não há razão para você ficar aqui. As vozes calmas, que discutiam casualmente vários assuntos sem importância, pareciam isolar Amanda da dor que havia em seu coração. Só percebeu quanto estava tensa no momento em que pisou na casa dos pais, cuja atmosfera transpirava amor e tranqüilidade. Tirando forças da segurança que parecia envolvê-los como um manto, ela conseguira corresponder à alegria com que eles e os irmãos a receberam, principalmente por causa do bebê, que agora dormia feliz nos braços do bisavô. Depois do jantar, toda a família se reuniu na sala de estar, inclusive Tobe e Cheryl. Agora, a sra. Bennet estava sentada numa enorme poltrona, ao lado do marido, remendando um par de meias de Teddy, enquanto ouvia sorrindo as brincadeiras que Tobe fazia com Brad, que finalmente havia pedido Cheryl em casamento. O estrondo da porta da frente batendo pegou todos de surpresa, pondo um fim à conversa. Como se fossem uma só, todas as cabeças voltaram-se para o hall. A figura alta de Jarod, cujo rosto parecia ligeiramente pálido sob o intenso bronzeado, desenhou-se na porta da sala

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de estar. Rapidamente, seus olhos penetrantes encontraram Amanda, fixando-se nela. A única pessoa que não foi afetada pela aura de fúria que o envolvia foi a sra. Bennet. Calmamente, ela colocou as meias de lado e levantou-se. — Jarod, mas que surpresa! O olhar frio que ele lançou para a sogra não surtiu o menor efeito. Nem um pouco impressionada, a sra. Bennet continuou, apesar de saber que o genro gostaria que ela se calasse: — Espero que não tenha vindo para levar Amanda para casa, tão cedo. Desde que David nasceu, é muito raro ela vir nos visitar. Nós mal podíamos acreditar na nossa sorte, quando conseguimos persuadi-la a ficar para o jantar! O coração de Amanda batia acelerado, enquanto ela observava o marido, sem entender sua atitude. Jarod continuava olhando para a sra. Bennet, mas tinha jogado a cabeça para trás, como se estivesse surpreso com alguma coisa. Então, seu olhar sombrio voltou-se para o rosto dela. Confusa, sem ter a menor idéia de por que estava sendo examinada com tanta atenção, Amanda franziu a testa. — Aconteceu alguma coisa, Jarod? O silêncio prolongado dele levou a sra. Bennet a fazer essa pergunta. Todos viram Jarod inspirar lenta e profundamente, passando uma das mãos por entre os cabelos, ao mesmo tempo em que movia a cabeça num gesto negativo, como se estivesse afastando o demônio que o perseguia. — Desculpem — ele murmurou, virando-se e caminhando para a porta que dava para a rua. Amanda retribuiu o olhar interrogativo da mãe com outro, completamente pasmo. Ela estava tão confusa com o estranho comportamento de Jarod quanto todos os outros. No entanto, a partida abrupta do marido fez com que ela se levantasse rapidamente e corresse atrás dele, alcançando-o já na varanda. — Jarod, o que foi que aconteceu? Ao ouvir a voz dela, Jarod diminuiu o passo, mas só parou quando Amanda o segurou pelo braço. — O que foi que aconteceu? À luz fraca da lua, ela viu os olhos verdes se fixarem na mão que o segurava. — Eu vou levar você para casa, Amanda — ele disse finalmente, e sua voz parecia vir do fundo de uma profunda caverna. — Claro que sim. Mas não quer me dizer o que foi que aconteceu? Amanda sentiu a indecisão dele, uma coisa que ela achava difícil de associar a Jarod, que sempre lhe dera a impressão de saber muito bem o que queria. Foi então que ele se virou lentamente e a luz que vinha de dentro da casa iluminou-lhe o rosto, mostrando sua expressão atormentada e cheia de dor. — Eu pensei que você tivesse me abandonado. — Jarod pronunciou essas palavras com voz clara e distinta, que não manifestava nada da agonia espelhada em suas feições. — Eu não tenho nem a força de vontade nem o orgulho necessários para fazer isso — Amanda respondeu com um sorriso triste. Depois perguntou: — Mas o que lhe importa o fato de eu abandonar você? Você não gosta de mim. Você mesmo disse. — Eu mereço essas palavras — Jarod murmurou, agarrando-a com violência e esmagando-a de encontro ao peito. Amanda podia sentir o coração dele batendo com força de encontro ao rosto, e prendeu a respiração, com medo de deixar suas esperanças renascerem e sofrer nova desilusão. — Eu pensei que não me importava — ele continuou. — Pensei que você podia ir embora, que eu não sentiria a menor falta. Até essa noite. Sentindo-se completamente mole, Amanda agarrou-se ao marido, achando difícil acreditar na tremenda felicidade que explodia em seu coração, enquanto lágrimas de alegria escorriam de seus olhos. Ela já havia perdido toda a esperança de algum dia significar alguma coisa para ele. — Meu amor, meu amor — sussurrou com fervor. — Você pensou que as coisas que me disse, hoje de manhã, tinham feito com que eu o abandonasse? — Não. — Jarod apertou os braços em volta do corpo da esposa, trazendo-a mais para perto. — Sempre pensei que, por mais que eu risse e caçoasse do que você dizia sentir por mim, você nunca me abandonaria. E não achei que hoje pudesse ser diferente, apesar das palavras cruéis que usei. — Então, por que pensou que eu, o tivesse abandonado? — Ela inclinou a cabeça para trás, num movimento que fez os longos cabelos negros cascatearem por cima da manga do paletó dele. — Por quê? — Hannah me disse que você tinha ido embora. — Seus olhos verdes não conseguiam se afastar do rosto radiante de Amanda. — Mas ela sabia que eu estava aqui. Ela até me telefonou para avisar que você não ia jantar em casa. — Aquela danada! — Jarod riu, com os olhos brilhando. — Foi ela quem me falou que você tinha ido embora... para sempre. E até mesmo chegou ao cúmulo de tirar todas as suas roupas do seu quarto, para me convencer. — Ah, não! — Amanda exclamou, rindo. — Não é de admirar que você achasse que eu o havia abandonado. Hannah ouviu tudo o que você me disse, hoje de manhã, e queria que eu o deixasse, de qualquer jeito. Sabe, Jarod — os olhos castanhos estavam cheios de lágrimas, — quase que eu fiz isso, mesmo. Estava certa de que não havia mais esperança para nós, de que você nunca sentiria nem um pouquinho de amor por mim. Jarod riu, um sorriso auto-depreciativo. — Ainda não sei se o que sinto por você é amor — ele admitiu vagarosamente, com honestidade. — Quando eu a olho e me lembro do modo como seu amor por mim nunca vacilou, por mais que eu caçoasse e fizesse pouco de você, tenho que acreditar que esse sentimento existe. Se bem que, atualmente, só tenho certeza de uma coisa: de que eu não conseguiria viver sem você. — Não vou pedir mais do que isso, Jarod — ela murmurou, traçando com as pontas dos dedos a linha sensual da boca do marido. De repente, depois de todos aqueles meses sem tocá-lo, Amanda se sentiu invadida por uma onda de desejo tão grande que chegava a ser quase insuportável. — Você merece mais do que isso. — Jarod afastou-se um pouco. — Você merece alguém que a ame e agradeça a Deus, todos os dias, pela sorte que teve de ter conseguido conquistá-la. — Mas é você que eu quero — Amanda respondeu, sorrindo. Suas mãos entrelaçaram-se em torno do pescoço dele, puxando a cabeça morena para baixo, até seus lábios se encontrarem. Com um gemido, Jarod abraçou Amanda com força, beijando-a com um ardor e uma paixão tão grandes que a fizeram estremecer da cabeça aos pés. Vários minutos se passaram, antes que ele parasse de beijá-la. Os dois respiravam pesadamente, os rostos corados pelo desejo que haviam despertado um no outro. Pela primeira vez, as mãos de Jarod tinham explorado o rosto, o

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pescoço e os ombros de Amanda com amor e ternura, sem serem levadas pela paixão animal que só se acalma com a posse da criatura desejada. — Eu devia ter percebido o que estava acontecendo comigo — Jarod murmurou, pensativo, envolvendo Amanda nos braços, com toda a ternura e delicadeza que podia. — Na noite do baile, quando fomos apresentados e você não quis me deixar levá-la para casa, eu disse a mim mesmo que não me importava com a sua recusa, que você era apenas mais uma garota no mundo. Mas no dia seguinte, não agüentei e fui atrás de você em Oak Run, convidá-la para jantar comigo. Eu estava decidido a possuir a feiticeira morena, que me perseguia até em sonhos. Quando descobri que você não passava de uma criança inocente, fiquei furioso. Jarod riu, com a boca de encontro à cabeça negra da esposa. O riso dela, um som cheio de felicidade, juntou-se ao dele. — Aí, eu resolvi fazer de conta que você não existia, e que eu não havia sentido o seu corpo cedendo ao toque do meu. Foi por acaso que eu passei aquele dia pelo moinho, para falar com o seu pai, e o ouvi conversando com a sua mãe ao telefone, pedindo para uma de vocês ir buscá-lo. Tive o palpite de que seria você, e esperei. Mas você me frustrou novamente. — Então, você levou Vanessa a Oak Run e me deixou tão enciumada! — Amanda lembrou, e Jarod abraçou-a com mais força, num pedido mudo de desculpas. — Eu ainda não sei para quem eu estava tentando provar que não me importava com a sua rejeição: se para mim, ou para você. Quando você concordou em sair comigo, e eu descobri quanto a perturbava, achei que finalmente ia possuí-la e tirá-la da cabeça, para sempre. A voz dele tinha assumido um tom grave e acariciante, que a deixava inteiramente arrepiada. — Então você me surpreendeu com a sua declaração de amor, e eu insisti em só tê-la nas minhas condições. Quando nos casamos, estava certo de que me cansaria de você em poucos meses, mas não foi o caso. Eu estava sempre esperando com ansiedade a hora de voltar para casa e poder ver o seu sorriso, poder tomá-la nos braços e fazer amor com você! — Se isso é verdade, então por que você se afastou tanto de mim? Por que mudou para o quarto de hóspedes? Porque eu estava grávida? — Em parte, sim — ele admitiu com voz triste. — Mas foi também porque eu não conseguia conciliar o desprezo que eu sentia pelas suas declarações de amor com a necessidade que tinha de você. Achei que se me privasse de você, a necessidade acabaria. Mas foi pior! — Pensei que fosse porque eu estava grávida — Amanda murmurou, deslizando os dedos por baixo da camisa de Jarod, para sentir as batidas fortes do coração dele. — Mas tinha esperanças de que, quando você visse o nosso bebê, passasse a gostar dele tanto quanto eu. — Imagino que você já deva saber como foi a minha infância. A maioria das outras crianças com que convivi vinha de famílias como a minha. Você não pode imaginar como é horrível, para uma criança, ser rejeitada pelos pais! Desde cedo, eu aprendi a não ligar para ninguém, a não ser eu mesmo. E aí você surgiu. — Acho que tudo entre nós tinha mesmo que acontecer como aconteceu. Havia horas em que eu sentia tanta vergonha de mim mesma! Eu sabia que estava deixando você pisotear o meu coração e o meu amor, e que devia abandoná-lo logo, enquanto ainda tivesse um pouco de auto-respeito, mas não conseguia. Como um cachorrinho fiel, eu acabava sempre voltando, por mais que você me ofendesse. Jarod esmagou-a de repente de encontro ao peito, com tanta força que ela mal podia respirar. — Você não imagina como me magoa ouvi-la dizer isso e saber que é verdade! — Ele soltou as palavras por entre os dentes, num tom inconfundível de auto-desprezo. — E esta noite, depois que sua mãe me fez perceber que você não havia me abandonado, eu estava pronto para ir embora e deixar que continuasse acreditando que eu não a queria. Se você não tivesse vindo atrás de mim, eu teria ido embora sem lhe dizer nada. No entanto, mesmo depois do modo como a tratei esta manhã, você correu atrás de mim! — Jarod soltou um profundo suspiro, antes de acrescentar: — Eu nunca mais seria capaz de viver comigo mesmo, se não lhe contasse como me sentia. Amanda abriu a boca para impedi-lo de continuar com aquela auto-depreciação, mas parou ao ver a expressão do rosto dele. Toda a arrogância tinha desaparecido das feições de Jarod, deixando apenas o amor e à ternura. — Existe mais uma coisa que eu preciso lhe dizer — Jarod continuou. — Desde o dia em que fomos apresentados, nunca mais estive com outra mulher, no sentido íntimo da palavra. Se eu não podia ter você, então não queria mais ninguém. Com uma exclamação de pura alegria, Amanda passou os braços em volta da cintura de Jarod. Ele acabara de reduzir o último de seus medos a nada. — Nunca pensei que eu pudesse ser tão feliz! — ela murmurou, saboreando ao máximo o êxtase daquele momento. — Nem eu. — Ele beijou os olhos, as faces e o lóbulo da orelha de Amanda, antes de procurar-lhe a boca. — Acho que já é hora de você levar seu filho e seu marido ianque para casa. — Também acho — ela concordou. Com relutância, Jarod largou-a. A expressão de seu rosto pedia-lhe para andar depressa, e Amanda não se fez de rogada. Rapidamente entrou na casa dos pais e juntou as coisas dela e do bebê. Sem notar os olhares de curiosidade que toda a família lhe lançava, pegou o filho, despediu-se alegremente e correu para onde Jarod a esperava. Já ia lhe entregando as coisas de David quando ele disse, as feições duras suavizadas por um sorriso: — Desta vez, você dirige. David e eu precisamos nos conhecer melhor, e esta é uma boa oportunidade para começarmos. Um balbucio saiu da gargantinha do bebê enrolado na manta, como se ele estivesse aprovando as palavras do pai. Jarod e Amanda riram, os olhos brilhando de felicidade. Depois, com todo o cuidado, ele tomou o filhinho nos braços. — Eu amo você, querido — Amanda murmurou, sorrindo. — Eu também a amo — ele respondeu com voz rouca. Nesse momento, um punhozinho conseguiu se libertar da manta, chamando a atenção de Jarod, que o tocou com o indicador. Na mesma hora a mãozinha rosada fechou-se em torno do dedo forte e moreno. — Firme, David — ele disse. — Meu modo cínico de encarar a vida já deve ser coisa do passado, porque agora eu me sinto muito orgulhoso do meu filho. — Seus olhos voltaram-se para Amanda, e ele acrescentou com ternura: — E da minha esposa também. FIM

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*** Uma espetacular história de amor! JULIA 125 CAMA DE FLORES Janet Dailey Valerie nunca mais se esqueceria da poesia das laranjeiras em flor. A sombra daquelas árvores, ela fizera amor com Judd Prescott, o fazendeiro vizinho. Quanta felicidade... quanta ilusão! Agora, sete anos passados, sua alma abrigava uma alegria apenas: Tadd, seu filho, o fruto ilegítimo daquela união tempestuosa com Judd, daquele caso de amor onde apenas ela havia amado. Mais experiente, Valerie tinha aprendido a fechar o seu coração. Ia ter de rever Judd, mas preferia morrer a confessar que ele era o pai de seu filho, o homem que tinha sido, um dia, o dono de sua alma... *** Você vai viver uma história emocionante! JULIA 126 A ILHA PROIBIDA Rebecca Stratton Correndo descalça pelas praias tranqüilas daquela pequena ilha grega do mar Egeu, Bethany era livre e feliz. Sob a proteção de Pavlos, seu padrasto, que lhe dedicava um carinho doce e sincero, era fácil esquecer que não tinha mãe nem pai. Foi então que Pavlos morreu, de repente, e o mundo de Bethany ameaçou desmoronar. Sua tutela passou às mãos de Nikolas Mean-dis, um homem arrogante e cheio de fascínio, que lhe jogou um feitiço de amor e jurou fazer com ela as piores maldades: Bethany ia ter de abandonar sua ilha, crescer depressa e casar com o homem que ele escolhesse. *** Uma história inesquecível para você reviver! JULIA 127 SEDUÇÃO DIABÓLICA Anne Mather Primeiro Jaime fascinou Rachel com charme e inteligência, até que, apaixonada, ela passou a fazer tudo o que ele pedisse. Então ele a seduziu, corrompendo-a até a loucura com beijos e carí-cias. E ela se entregou, jurando amor eterno. Só depois Rachel descobriu que ele era casado. E, como se isso não bastasse, soube também que a esposa de Jaime estava grávida. Desesperada, Rachel jurou que nunca mais abriria seu coração a ele. No entanto, agora que Jaime estava a sua frente, olhan-> do-a fundo nos olhos, hipnotizando-a, dizendo que a desejava, ela começava a ceder de novo... Um romance que você não pode perder! *** JULIA 128 INFERNO DE PRAZER Margaret Mayo Feliz! Depois de meses de angústia e desesperança, Amie se sentia feliz. Nada como o silêncio e a visão do mar cor de esmeralda que banhava aquela ilha maravilhosa, perdida no oceano Indico, para fazê-la esquecer o acidente de carro, a cicatriz em seu braço... Nada como a paixão. Deitada na cama de Oliver Maxwell, Amie esperava por ele. Que havia acontecido a seus princípios morais? Não importava, ela estava amando. Ouviu um barulho, sentiu que ele se aproximava, nu. Sorriu. E só quando mãos ásperas começaram a acariciá-la foi que percebeu que aquele homem não era Oliver...

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