CATADADORES URBANOS, A NOVÍSSIMA E EMERGENTE CLASSE DE REPRESENTAÇÃO SOCIAL Por Denise de Mattos Gaudard(*) Eles sempre podiam ser vistos nas ruas e vielas. Puxavam uma espécie carroça de duas rodas com alças na frente e por isso eram chamados “burros sem rabo”. Sempre se caracterizaram por estarem à margem sociedade nos bairros e comunidades, pois muitos se originaram e confundiam com as populações que habitavam as ruas.
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Vários deles foram muitas vezes combatidos e ou reprimidos por “batidas” policiais, pois eram vistos como mendigos e desocupados que recolhem lixo nas ruas. Ainda são vistos como aqueles que vivem da coleta e revenda dos restos dos resíduos e da comida que não queremos mais. Quando passamos por um catador de lixo, principalmente no centro da cidade, nos damos conta que existe todo um considerável grupo de pessoas que vivem quase que exclusivamente da coleta, triagem e reciclagem do lixo não orgânico colhido quase sempre no final do dia, quando todos estamos indo para nossas casas, eles entram em ação catando papel, latas de alumínio, garrafas pet, copos e pratos de pvc, alem de vidros e metais em geral. Os atuais catadores urbanos podem ser comparados com a antiga classe operaria que começou a se firmar nas camadas sociais nos primórdios o século dezoito, no inicio da revolução industrial, onde famílias inteiras trabalhavam vendendo sua força de trabalho em troca de uma remuneração. Hoje os catadores estão se profissionalizando cada vez mais, e como no século 18 se firmam como nova classe social e profissional. Unidos em cooperativas que estão prestando cada vez mais serviços para empresas e comunidades em geral. Cada vez mais empresas estão procurando aliar práticas ecologicamente corretas com trabalho social, então buscam estas cooperativas para formalizar parcerias para coletas de material reciclável que antes era considerado lixo, mas hoje, latas de alumínio, garrafas pet, papelão, etc já são amplamente disputados como insumos que vão virar material e ou produtos recicláveis que vão desde as tradicionais latas recicladas às camisetas confeccionadas com material vindo do PET As mídias regionais estão cada vez mais atentas à estas questões. Por exemplo, o Jornal do Grande Rio partiu na vanguarda, demonstrando preocupação em implementar e difundir iniciativas sócio-ambientais, alinhando-se se a uma tendência mundial cada vez mais comum a todos que querem contribuir para a diminuição da poluição urbana e proporcionar emprego e renda para os catadores urbanos. Outro exemplo interessante é a parceria em eventos de médio e grande porte onde as cooperativas de catadores urbanos pode perfeitamente contribuir para
a coleta dos materiais recicláveis. Podemos citar como exemplo de parcerias positivas do ponto de vista social e ambiental: no carnaval de 2007, a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio, fez um, até então, inédito convenio com 02 cooperativas de catadores para que estas recolherem todo o material potencialmente reciclável no Clube Monte Líbano que fica na Zona Sul do Rio de Janeiro e que foi deixado pelo enorme público que pulou entusiasticamente durante vários sábados, quando Grande Rio fez seus ensaios antes do desfile oficial na Marques de Sapucaí. Todos os sábados, durante e logo após o término dos ensaios, 05 catadores cooperativados e devidamente paramentados com uniformes, botas e luvas de borracha, ficaram responsáveis pela coleta de aproximadamente 800 kilos de latas de alumínio, 80 kilos de material de PET(garrafas) e 5 kilos de material de PVC (copos, pratos, etc). Todo este material foi coletado em apenas quatro sábados e as cooperativas. Segundo os presidentes das 02 cooperativas presentes: Luiz Carlos, da COOPAMA e Marcio Carvalho, da FEBRACOM (Federação que reúne 14 cooperativas com catadores e prestadores de serviço), todo material foi recolhido em caminhões e levado para ser triado e reciclado rendeu aproximadamente R$ 783,00. Nada mau para os cooperados que trabalharam e ainda de divertiram um pouquinho, curtindo os ensaios A renda auferida pela venda deste material será integralmente revertida para as cooperativas e dividida entre os catadores, agregando mais renda a uma classe de trabalhadores que está cada vez mais longe da era dos antigos “burro sem rabo”. Esta é uma amostra real de como a sociedade sempre evolui.... (*)Denise de Mattos Gaudard tem graduação em Administração com ênfase em Gestão Empresarial, pela Univ Santa Úrsula (USU-RJ). Pós-graduação em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e Comércio Exterior pela Univ Católica de Brasília (UCB). Extensão em Educação Ambiental, pela Univ Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e Gestão de Projetos pelo Project Management Institute (PMI-RJ). Consultora de Gestão Empresarial e Socioambiental, com foco em projetos de gestão de resíduos, energia renovável, mercado de créditos de carbono e Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Criadora do PROJETO BIOREDES (http://projetobioredes.blogspot.com) que visa a implantação da formação de redes cooperativadas que conjugam coleta seletiva com reciclagem reversa de oleo de fritura feita por associações e ou cooperativas de catadores urbanos (junto a prefeituras e com empresas financiadoras parceiras). Escreve artigos em mídias nacionais, participa de seminarios, palestras e ministra cursos sobre implantação de projetos MDL, florestais; modalidades Quioto e Não Quioto. Contatos:
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