Construcao Da Linguagem Simbolica(simoni)

  • November 2019
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  • Words: 1,472
  • Pages: 4
Nome: Simoni Cristina Franquini 3° Período

Construção da Linguagem simbólica Como seres concebidos na e pela linguagem, somos capazes de comunicar-nos com sucesso mesmo que não saibamos descrever os mecanismos utilizados para efetivar essa comunicação. Não se pode negar, entretanto, que o aprimoramento teórico é fundamental para que nos desenvolvamos comunicativamente, utilizando com propriedade e correção a língua em diferentes contextos. Esse estudo tem caráter metalingüístico, ou seja, usa-se a linguagem para explicar a própria linguagem, fato que apresenta implicações positivas e negativas. As negativas ficam por conta da permanente influência que o falar cotidiano, coloquial, exerce sobre os outros níveis de formalidade, e da conseqüente "contaminação" que nos dificulta, às vezes, fazer as escolhas adequadas às diferentes situações de comunicação. As implicações positivas dizem respeito à permanente possibilidade de autoaprimoramento, já que vivemos e nos movemos regidos pela linguagem. Assim sendo, a mobilização para o autodesenvolvimento depende da importância que cada um de nós confere à própria proficiência lingüística, seja para ler e ouvir de forma mais compreensiva os outros e, por extensão, o mundo, seja para falar ou escrever com mais propriedade, dando voz a nossos pensamentos e sentimentos. Se essa proficiência constituir uma prioridade, estará criada uma saudável necessidade, cuja satisfação dependerá, basicamente, de um olhar atento e reflexivo sobre os fatos lingüísticos, do exercício continuado da leitura, e da escrita e da consulta a boas gramáticas, manuais instrucionais e dicionários. Mas dependerá, sobretudo, da consciência de que se trata de um processo lento, permanente, inesgotável e, não obstante, promissor, já que é sempre possível aprimorar o idioleto. Na busca do auto-aprimoramento, muitos aspectos podem ser considerados, alguns dos quais apresentamos a seguir. uma unidade comunicativa Até recentemente, os estudos lingüísticos limitavam-se à competência lingüística, ou seja, aos conhecimentos gramaticais. Com o tempo, tais limites se revelaram inadequados, ficando evidente que, além do conhecimento de regras de estrutura frasal (gramática) e de um léxico, outras habilidades são necessárias para uma comunicação eficiente, pela simples razão de que não interagimos por frases isoladas, mas por textos, unidades de comunicação que incluem, entre outros, um componente referencial (conhecimento do mundo compartilhado por falante/ouvinte); um componente pragmático (domínio de práticas correntes na comunidade falante, em consonância com padrões e estratégias aceitas em situações específicas de

comunicação); um componente textual (capacidade de identificar, receber e produzir textos bem formados). Embora todos nós, alfabetizados e proficientes, sejamos capazes de reconhecer um bom texto - e talvez por isso mesmo - nem sempre sabemos como defini-lo. Uma definição possível seria: Um texto bem formado é uma unidade comunicativa estruturada de forma a manifestar determinada intenção discursiva do autor.

Analisando: antes de tudo, um texto bem formado é uma unidade comunicativa, com começo, meio e fim, que pretende comunicar algo a alguém. Sendo uma unidade, constitui uma estrutura, ou seja, não é qualquer seqüência de idéias faladas ou escritas, mas sim um conjunto organizado de acordo com regras compartilhadas por quem fala/escreve e ouve/lê. Assim como tijolos, cimento, areia e um pedreiro dispostos lado a lado não fazem uma parede, também o material lingüístico, sozinho, não constitui um texto. É necessária uma certa combinação, uma distribuição correta e proporcional da matéria-prima para haver um produto. E essa combinação ainda não é suficiente porque, como o pedreiro precisa conhecer a utilidade e a função do que faz para fazê-lo bem, também o autor do texto deve ter uma determinada intenção, que sustenta, direciona e justifica a escolha dos materiais, sua disposição e acabamento. Este objetivo é a intenção discursiva que move o autor. Por isso, entende-se que a tudo que dizemos/escrevemos subjaz uma intenção. O ato de argumentar Se nada do que escrevemos ou dizemos é neutro, e se nossas intenções se expressam, no mais das vezes, por meio de argumentos, é forçoso admitir que a argumentação é uma constante em nossa vida, seja no discurso do publicitário, do sindicalista, do político, do poeta, do pai, da criança. Assim, é fácil entender por que a Retórica, ou "arte da argumentação", vem sendo objeto de interesse há milênios: ainda na Antigüidade Clássica, Aristóteles propunha a primeira sistematização das estratégias retóricas; no Renascimento, Abade Giraud afirmava que "a arte de argumentar consiste em provar algo que parece duvidoso, usando como recurso algo considerado verdadeiro", sugerindo falar diferentemente, de acordo com as diferenças entre os ouvintes, em termos de idade, educação, posição, hábitos. Hoje, os estudos sobre a argumentação ganham novo impulso, e as técnicas de convencimento interessam especialmente a segmentos dela dependentes, como o da publicidade, da política e da mídia em geral. No passado ou na atualidade, argumentar significa provocar a adesão do ouvinte às teses que apresentamos a seu julgamento, significa seduzi-lo com recursos de efeito lógico ou psicológico que se produzem no encontro dos mundos de referência do locutor e do ouvinte, por meio de condições de verossimilhança e aceitabilidade. A língua culta padrão e a argumentação

A aceitabilidade de nossos argumentos depende também de conhecimentos gramaticais específicos. Sem esquecer as possibilidades que a variação lingüística oferece - como a linguagem coloquial, regional técnica, por exemplo-, em muitas situações uma boa argumentação depende do domínio da língua culta padrão, especialmente escrita. Como o nome indica, esta variedade lingüística segue as normas de uma gramática altamente padronizada, restrita a um número relativamente pequeno de falantes que tiveram o privilégio de adquiri-la, seja por meio de leitura quantitativa e qualitativa, seja pelo esforço sistemático de aprender. Nesse sentido, aprender a norma culta do idioma implica procedimentos semelhantes aos utilizados ao se estudar uma língua estrangeira, idéia muito bem sintetizada pelo eminente gramático Evanildo Bechara quando afirma que o falante de língua materna deve tornar-se um poliglota em seu próprio idioma. O padrão culto do idioma, além de ser uma espécie de marca de identidade, constitui recurso imprescindível para uma boa argumentação. Ou seja: em situações em que a norma culta se impõe, transgressões podem desqualificar o conteúdo exposto e até mesmo desacreditar o autor. A gramática de um idioma pode ser descrita - e, portanto, estudada - em níveis distintos, mas sempre inter-relacionados, alguns deles a seguir apresentados. • Nível ortográfico Deste fazem parte todos os aspectos relacionados à grafia (abreviaturas, parônimas e homônimas, uso de letras, hífen) e à acentuação das palavras. • Nível morfossintático A morfologia é a parte da gramática que dá conta da forma das palavras, enquanto a sintaxe diz respeito às regras de combinação das palavras e orações de uma língua. É difícil demarcar seus limites. As flexões verbais (que são do âmbito da morfologia), por exemplo, só existem devido à necessidade de o verbo se adequar ao sujeito da estrutura em que ele se encontra (questão de concordância verbal, sintática). Como ilustração, observemos que na frase "Quantas partes contém esse relatório?" deve ser usada a flexão verbal "contém" (singular), e não sua homônima "contêm" (plural), porque o sujeito é "este relatório", e não "partes". A escolha é sintática, e a conseqüência é morfológica. E mais: a marca da flexão/concordância é gráfica... mas esta já é outra história, que apenas confirma a indissociabilidade entre os diferentes componentes dos proferimentos lingüísticos. Para fins didáticos, entretanto, as obras especializadas separam morfologia e sintaxe. A primeira, além da formação, estrutura e flexão das palavras, descreve tudo o que concerne às categorias gramaticais (por exemplo: gênero de substantivos e adjetivos, conjugações verbais), enquanto a sintaxe estuda aspectos mais complexos, como concordância, regência, uso e colocação de pronomes, uso do acento indicativo de crase. • Nível sintático-semântico Em sentido amplo, a semântica trata do sentido das palavras que formam o léxico de uma língua, em todos os seus aspectos, como relações semânticas em geral, semelhanças e diferenças de sentido entre os vocábulos, usos denotativo e conotativo da

linguagem. A melhor receita para desenvolver a competência semântica é ler, em quantidade e qualidade. Vale também consultar obras especializadas e dicionários para resolver problemas específicos. Mas é fundamental ter consciência dos diferentes léxicos: o grande léxico da língua, patrimônio social, bem comum recebido por herança, virtualmente ao alcance de todos; os léxicos dialetais e grupais; os léxicos particulares, individuais. Cada vocabulário particular compreende um vocabulário ativo, formado pelas lexias que usamos no dia-a-dia, e um vocabulário passivo, constituído por aquelas que reconhecemos semanticamente porém não utilizamos. Mais do que em relação a qualquer outro dos itens de estudo comentados, o enriquecimento do vocabulário - seja pela incorporação de novos vocábulos ao nosso léxico, seja pela transposição das palavras do vocabulário passivo ao ativo - depende sobretudo da vontade e do esforço de cada um. Concluindo sem encerrar Assim como a língua que nos constitui desde sempre - na História coletiva ou na história pessoal - não se deixa jamais apreender/aprender/prender por completo, assim também as reflexões sobre ela resultam incompletas e parciais. O que é muito bom, já que sempre estaremos desafiados a descobri-la um pouco mais. Fica o convite.

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