Conhecimento - Gerenciamento

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GERENCIAMENTO DO CONHECIMENTO: INTERAÇÃO UNIVERSIDADE E EMPRESA Cícero Caiçara Junior*

RESUMO O presente artigo tem por objetivo discutir os principais aspectos observados no momento da realização de parcerias entre Universidades e Empresas. Aspectos sociais e culturais são abordados com detalhes. São discutidos os principais obstáculos para uma parceria harmoniosa, bem como são descritos alguns modelos de sucesso existentes. A Gestão do Conhecimento também é tratada como um desafio para o bom relacionamento entre as Universidades e Empresas. O texto aborda ainda as principais Leis vigentes de incentivo às parcerias tecnológicas existentes no Brasil. Palavras-chave: universidade, empresa, gestão do conhecimento, parceria

ABSTRACT The present article has as objective to discuss the main aspects observed in the moment of the accomplishment of partnerships between Universities and Companies. Social and cultural aspects are approached with details. The main obstacles for a harmonious partnership are discussed, as well as some existent successful models are described. The Knowlege Management is also approached as a challenge for the good relationship between the Universities and Companies. The text also talks about the main existent laws of incentive to the existent technological partnerships in Brazil. Key-words: university, company, knowledge management, partnership

* Bacharel em Ciência da Computação, Especialista em Redes e Sistemas Distribuídos e Mestrando em Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina; Professor das Faculdades SPEI. E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO A maior dificuldade no relacionamento entre a Universidade e a Empresa, talvez seja o fato de as duas viverem realidades diferentes. A Universidade concentra esforços em pesquisas e na produção de artigos e “papers”, focaliza a boa formação acadêmica dos alunos e busca recursos financeiros para manter a sua estrutura administrativa. Por outro lado, a empresa busca alcançar vantagem competitiva perante seus concorrentes, focaliza a satisfação do cliente e visa aumentar seu lucro e crescer no atual mercado globalizado. Durante a Segunda Revolução Industrial, o modelo brasileiro de iserção do parque produtivo apoiou-se particularmente em mão-deobra barata, matérias primas abundantes e variadas formas de protecionismo. A substituição de importações baseou-se na compra de tecnologia no exterior como processo de aceleração do processo de crescimento. Nesse contexto, o setor de Ciência e Tecnologia foi pouco acionado, tendo-se verificado a baixa interação entre as Universidades, fontes geradoras de conhecimento e o setor empresarial. Atualmente, o Governo oferece diversos mecanismos para fomentar a Pesquisa & Desenvolvimento – P&D no Brasil, através de Leis onde os incentivos fiscais atraem a participação de diversas Empresas. O objetivo deste artigo é identificar, com base em Leis de incentivo à tecnologia existentes no Brasil, a necessidade de se desenvolver um modelo de estrutura interna de Pesquisa & Desenvolvimento, onde as Universidades consigam manter uma parceria dinâmica e que promova benefícios bilaterais junto às Empresas. 2 PRINCIPAIS OBSTÁCULOS PARA A INTERAÇÃO Cybert e Goodman (1997), enfatizam em seu estudo que, o fortalecimento efetivo da interação entre Universidade e Empresa,

constituída a partir de convênios estimulados por incentivos governamentais, os quais serão abordados nas próximas seções deste artigo, decorre de uma nova visão do relacionamento entre parceiros, em cujo núcleo está a concepção de um projeto de desenvolvimento organizacional. Podemos concluir que o desenvolvimento de parcerias tecnológicas Universidade-Empresa, é inserido em um processo amplo capaz de prover mecanismos de integração entre pesquisadores das Universidades e os pesquisadores das Empresas. Em Criação de Conhecimento na Empresa, Nonaka e Takeuchi (1998) dizem que reunir pessoas com experiência e conhecimentos diferentes é uma das condições necessárias à criação do conhecimento. Aparentemente a afirmação dos autores nos parece bastante simples e prática. No entanto, a troca de experiência e conhecimentos entre profissionais das Empresas e os Pesquisadores das Universidades, não é simples. Principalmente devido a ineficiente estrutura interna das duas organizações. “O acesso ao conhecimento científico e técnico sempre teve importância na luta competitiva”, afirma Harvey (1993). A perda de competitividade das empresas está ligada diretamente à questão educacional. Não podemos encarar o problema da interação Universidade e Empresa como sendo algo que será solucionado com a implementação de uma ferramenta revolucionária. Ruggles (1996), em seu artigo Knowledge Management Tools, enfatiza que o problema é tecnológico e sociológico, portanto ao iniciarmos essa análise nos deparamos com três problemas fundamentais e que se não forem resolvidos não atingiremos nosso objetivo, são eles: a distância física, a distância social e a distância temporal. Analisaremos a partir deste momento cada um desses problemas. A distância física compromete e muito qualquer tipo de interação, mesmo com os avanços tecnológicos e ferramentas já disponibilizadas à sociedade. Temos que de alguma forma encurtar distâncias físicas e isso só será possível criando um elo pessoal entre

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as duas organizações, ou seja, um representante na Universidade e outro na Empresa, ambos com o objetivo de estabelecer um elo consistente, leal e transparente entre as organizações. A distância social talvez se identifique como o maior obstáculo dessa interação. A empresa visa lucro e está vinte e quatro horas por dia procurando obter um “algo a mais” em relação aos seus concorrentes. A Universidade não tem fins lucrativos e caminha mais lentamente devido, principalmente, a estruturas burocratizadas e hierarquizadas. Normalmente o que para a Empresa deve ser feito “para ontem”, na Universidade será feito “para amanhã”. A distância temporal é conseqüentemente prejudicada pelas distâncias social e física. Atingir a sincronização correta entre as organizações é tarefa difícil e somente bem conduzida e dirigida por líderes conscientes da importância dessa relação, isso será possível. Além disso muitas pesquisas são realizadas nas Universidades e não se transformam imediatamente em um produto ou tecnologia, pois o mercado não está carente desses, então essas pesquisas acabam arquivadas e esquecidas. Quando o mercado começa a exigir novos produtos ou tecnologia é que as Empresas correm atrás e nem sempre percebem que aquela pesquisa já foi realizada há anos em alguma Universidade. É nesse momento que se observa a necessidade da Gestão do Conhecimento. Cybert e Goodman (1997), também desenvolveram amplas pesquisas, apresen-tando um conjunto de aspectos essenciais para a análise da eficiência da interação entre Universidades e Empresas. Alguns aspectos importantes também devem ser salientados: identificação das discordâncias entre universidades e Empresas;

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3 GESTÃO DO CONHECIMENTO Conhecimento não é dado nem informação, embora esteja relacionado com ambos e as diferenças entre esses termos sejam normalmente uma questão de grau, Davenport e Prusak (1998). Baseado, na afirmação de Davenport & Prusak, podemos concluir que a Gestão do Conhecimento é muito mais complexa que o simples gerenciamento de dados ou de informações. Além do mais, o conhecimento pode ser dividido em duas categorias: os conhecimentos explícitos e os conhecimentos tácitos. Nonaka e Takeuchi (1999) realizaram uma importante distinção entre os tipos de conhecimento que tem sido amplamente empregada e permite que se aborde o assunto de uma maneira prática : Conhecimentos Explícitos: são os conhecimentos estruturados e capazes de ser verbalizados. Portanto, é a parte estruturada e objetiva do conhecimento, aquela que pode ser transportada, armazenada e compartilhada em documentos e sistemas computacionais. Ela faz parte do conhecimento explícito: normas, registros bibliográficos, livros, proce-dimentos de trabalho e outros; Conhecimentos Tácitos: são os conhecimentos inerentes às pessoas, isto é, as habilidades que elas possuem. Trata-se, portanto, da parcela não estruturada do conhecimento, a qual não pode ser registrada e/ou facilmente transmitida à outra pessoa. Esses autores propõem ainda que existe um ciclo contínuo dentro das empresas onde conhecimento explícito esteja se transformando em tácito e viceversa. Com base nessas afirmações de Nonaka e Takeuchi (1999), pode-se chegar às equações que se seguem: Dado + Σ

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- Informação = (Atributos, Relevância, Contexto)

criação de mecanismos de integração entre as equipes das duas organizações.

- Conhecimento= Informação + Σ (Experiência, Valores, Padrões, Regras Implícitas).

concepção dos benefícios para ambas às partes;

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4 UM MODELO DE SUCESSO Já abordamos os principais obstáculos na interação entre Universidades e Empresas e também a importância da Gestão do Conhecimento para essa interação. Neste momento, será descrito o modelo de estrutura interna aplicada na Universidade de Tecnologia de Compiegne, na França. A Universidade de Tecnologia de Compiegne, é um exemplo a ser seguido para alcançarmos um modelo eficaz. Nessa Universidade, objetivando reduzir ou eliminar as distâncias anteriormente citadas, foi criada uma estrutura denominada “Interface Estudante Empresa Emprego” – IEEE, onde um canal único foi estabelecido e é utilizado para atingir interesses convergentes entre as organizações. A estrutura trabalha com dois bancos de dados, onde em um deles são inseridos dados dos alunos, tais como histórico, notas, experiências, cursos e dados adicionais caso existam. Em outro banco de dados são inseridos os dados da empresa, ou seja, as necessidades de mercado. Posteriormente um “matching”, ou seja, uma procura é realizada, onde os dois bancos de dados se cruzam e se complementam em interesses comuns. Aplicações como esta estão sendo utilizadas também para o gerenciamento de capital intelectual. Essa aplicação citada é apenas uma entre diversas que podem ser implementadas com sucesso na realidade de nosso país, basta para isso a quebra do paradigma de que a interação UniversidadeEmpresa não é viável. A idéia de que Universidades e Empresas vivem realidades diferentes é notória, mas que juntas não podem atingir eficiência e troca de experiências e valores, isso está provado que não é verdade, haja visto o modelo de Compiegne.

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LEIS DE INCENTIVO PARA TABELECIMENTO DE PARCERIAS

ES-

O estabelecimento de parcerias entre Universidades e Empresas vem aumentando

consideravelmente. Tal fato, deve-se a importância que o Governo vem demonstrando no que se refere ao apoio em P&D. O efeito da globalização, fez crescer a demanda por inovações de produtos e processos nas Empresas. Além disso a redução de recursos do Governo para financiamentos de projetos em Universidades, também já é notada há tempo. Um dos mecanismos encontrados para solucionar esses problemas, são as leis de Incentivos à Tecnologia. Inúmeras são as formas e as Leis que o Governo implementou nos últimos anos. Dentre vários dispositivos, destacamos a Lei Nr. 10.176 - Lei de Tecnologia da Informação – TI, publicada em 11 de janeiro de 2001. A Lei Nr. 10.176 surgiu em substituição à Lei Nr. 8.248 de 23 de outubro de 1991, regulamentada pelo Decreto Nr. 792 de 2 de abril de 1993. O objetivo principal da Lei 10.176 é oferecer às Empresas de informática e automação a concessão de incentivos fiscais, tendo como principal objetivo a formação de parcerias entre Universidades e Empresas. O principal benefício concedido às empresas é a Redução do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. Por outro lado, as obrigações das Empresas consistem em Investir em atividades de P&D no mínimo 5% de seu faturamento bruto no mercado interno, decorrente da comercialização de bens e serviços de informática – BIT, deduzidos os tributos correspondentes a tais comercializações, bem como o valor das aquisições de produtos incentivados na forma dessa Lei. Já a distribuição dos investimentos concedidos pela Lei 10.176 deverá obedecer à seguinte composição: 2,7% em pesquisa e desenvolvimento extra-convênio (internamente na empresa); n 2,3% em convênio distribuído da seguinte forma (externo); n 0,5% no Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT); n 0,8% mediante convênio com centros ou institutos de pesquisa ou entidades brasileiras de ensino, oficiais ou reconhecidas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, excetuada a Zona Franca de Manaus; n

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1,0% mediante convênio com centros ou institutos de pesquisa ou entidades brasileiras de ensino, oficiais ou reconhecidas das regiões Sul e Sudeste.

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Finalizando, a Lei 10.176 é um modelo de fomento à P&D criada pelo Governo. Para a perfeita aplicação deste instrumento as Universidades e Empresas devem estabelecer métodos e modelos para otimizarem sua utilização. 6 VANTAGENS DA INTERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES E EMPRESAS Podemos aqui enumerar inúmeras vantagens da interação Universidade e Empresa, dentre elas cabe-se relatar a importância de se motivar nossos pesquisadores, que em muitas oportunidades ficam trancados em uma sala de universidade desmotivados aguardando pesquisas financiadas pelo Governo. “A nova tecnologia requer arquiteturas diferentes, que a maioria das nossas escolas não admite. O hardware foi elaborado para uso das empresas e não das escolas”, Hawkins (1995). Por que a Empresa não pode instigar e investir em pesquisas dentro da Universidade? “As celebradas conexões com a indústria de “alta tecnologia” do Vale do Silício de Stanford ou a Rota 128 MIT-Boston são configurações bastante novas e especiais da era da acumulação flexível”, afirma Harvey (1993). Muitas dessas pesquisas podem resultar na introdução de uma nova tecnologia, convergindo assim para um interesse mútuo onde é atingido o objetivo da interação: O pesquisador motivado e pesquisando e a Empresa alcançando a tão almejada vantagem competitiva. 7 CONCLUSÃO O objetivo principal identificado na interação entre Universidades e Empresas é a inovação e o conhecimento. Para que isto se torne realidade, é necessária uma transformação e uma concepção de um projeto de desenvolvimento organizacional por parte das Universidades.

Definitivamente estamos vivendo a era do conhecimento, onde a estruturação e o correto emprego da informação é fundamental para qualquer organização. O compartilhamento e a transferência de conhecimento são atividades que devem ser muito bem trabalhadas e isso é possível através do gerenciamento do conhecimento. O conhecimento pode estar dentro da Universidade e ser fundamental para a Empresa e vice-versa. O Governo está cumprindo o seu papel no processo. Os interesses mútuos podem ser atingidos bastando para isso a conscientização e o interesse das Universidades e das Empresas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CYBERT, R; GOODMAN, P. Creating Effective University-Industry Alliances: An Organizational Learning Perspective. 1997. DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial. Como as organizações gerenciam o seu capital intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998. HAWKINS, J. O uso de novas tecnologias na educação. Revista TB, Rio de Janeiro, 120:5770, Jan. Mar., 1995. HARVEY, D. Condição Pós Moderna. São Paulo: Loyola, 1993. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998. RUGGLES, R. Knowledge Management Tools. Boston: Baterwurth-Heinemann, 1996. STEWART, T. A . Capital Intelectual : A Nova Vantagem Competitiva das Empresas. Rio de Janeiro: Campus, 1998 SVEIBY, K. E. A Nova Riqueza das Organizações: Gerenciando e Avaliando Patrimônios de Conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

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