Competencia Informacional Snbu2006

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EIXO TEMÁTICO: O impacto das tecnologias eletrônicas e sua mediação Sub-tema: A educação continuada dos profissionais da informação Resumo aprovado: no. 379 O ESTADO DA ARTE DA VISÃO E VALORES DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO (INFORMATION LITERACY) NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E AS NECESSIDADES DE CAPACITAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO: UM CENÁRIO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS ESTADUAIS PAULISTAS Profa. Dra. Regina Célia Baptista Belluzzo Universidade do Sagrado Coração, Brasil [email protected] Profa. Ms Marcia Rosetto Universidade de São Paulo, Brasil [email protected] RESUMO Com o advento das tecnologias de informação e comunicação (TIC) as bibliotecas e serviços de informação assumem cada vez mais uma função fundamental no momento em que a sociedade é identificada como da informação e do conhecimento, propiciando mecanismos para o acesso e o uso inteligente de repositórios de informação em meios eletrônicos. Em decorrência dessa conjuntura, o foco na competência em informação (information literacy) tem crescido fortemente em vários segmentos da sociedade, como pode ser verificado em estudos elaborados por organismos internacionais na identificação de qual cenário, neste século, em que se desenvolverá a educação e as dimensões de contexto de suas transformações. Sendo assim, além da devida competência para desenvolver programas que vem sendo ofertados pelas bibliotecas e serviços de informação, desde longa data, tais como: pesquisa bibliográfica, orientação bibliográfica, metodologia para pesquisa científica, entre outros tipos de tutoriais, os profissionais da informação devem estar aptos a exercer a liderança no processo de formação da cultura de agregação de valor à informação na sociedade contemporânea. Além disso, deverão apresentar um perfil de competências desejável para a inserção nos programas de ensino e aprendizagem, contribuindo como facilitadores nesses ambientes. O presente trabalho tem por finalidade oferecer o resultado de estudo exploratório realizado em bibliotecas de universidades paulistas, acerca da visão e valores que se fazem presentes na gestão desses ambientes em torno dos conceitos e concepções que envolvem a competência em informação e seu espectro, e que serão utilizados para dar continuidade às pesquisas na área. 1

Palavras-chave: Competência em informação (information literacy);Profissionais da informação, perfil de competências; Profissionais da informação, capacitação.

1 Contexto mundial Na década de 90, intensificou-se o crescimento do uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nas bibliotecas, ampliando a disponibilidade de serviços pela rede Internet e, em especial, a oferta de publicações e informações em formato eletrônico, além da implementação de bibliotecas virtuais e digitais. Em decorrência, isso gerou novas formas de armazenagem da informação, de recuperação, de acessibilidade e novos procedimentos para a conservação e gestão desses recursos, sendo considerado por especialistas e pesquisadores um divisor de tempos e de quebra de paradigma da sociedade contemporânea, identificada como sendo a sociedade da informação e do conhecimento. As bibliotecas, que no decorrer dos séculos foram organizações de reserva dos pensamentos registrados, assumem cada vez mais uma função fundamental nesse novo momento da sociedade contemporânea, exigindo grandes investimentos em conteúdos eletrônicos e equipamentos para exercer essa nova forma de atuação. Nessa nova ordem cultural identificada como “cultura informacional” a adequada utilização desses mecanismos para o acesso aos repositórios de informação se constitui em elemento essencial para o desenvolvimento da sociedade, sendo fundamental que as pessoas estejam devidamente preparadas para o uso e o manejo da informação para trabalhar em ambientes intensivos em conhecimentos. A partir das reuniões preparatórias da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, realizadas desde 2002 (WSIS, 2006), foi identificada a convergência acelerada entre telecomunicações, meios de comunicação, informação e tecnologias, havendo um considerável aumento da necessidade da sociedade estar altamente qualificada para o uso e a aplicação da informação, das tecnologias e do conhecimento adquirido. Sendo assim, as nações devem estar preparadas para: 

Apoiar e ampliar instalação de redes de bibliotecas e serviços de informação;

2



Proporcionar pontos de acesso à informação e desenvolver capacidade de leitura;



Promover serviços de qualidade para o acesso às informações requeridas.

(WSIS, 2006) Essa questão também tem sido abordada em vários estudos elaborados por organizações internacionais como a UNESCO, Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID, Organização de Co-operação Econômica e Desenvolvimento – OCED, Banco Mundial, entre outros, e também pela Federação Internacional de Associações de Bibliotecários – IFLA, que desde de 1994 lança campanhas e realiza estudos alertando sobre a importância do acesso aberto à informação e o papel significativo das bibliotecas, que são instituições essenciais para o desenvolvimento humano em sua plenitude. Exemplos de documentos preparados e

que vêm sendo divulgados sobre a

temática, desde o inicio dos anos 90, são: 

Manifesto da Biblioteca Pública (novembro de 1994 – UNESCO/ IFLA );



Manifesto da Biblioteca Escolar (novembro de 1999 – UNESCO/ IFLA );



Manifesto Internet (março de 2002);



Bibliotecas e liberdade de expressão (fevereiro de 2004);



Bibliotecas e liberdade de expressão (fevereiro de 2004);



Manifesto de Alexandria, proposto e aprovado pelos participantes do Colóquio em Nível Superior sobre Competência em Informação ao Longo da Vida, realizado em novembro de 2005, em Alexandria (Egito), declarando que a competência informacional são os faróis da sociedade da informação, iluminando os caminhos para o desenvolvimento, a prosperidade e a liberdade, e capacitando as pessoas para vida de forma efetiva para atingir a suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educacionais.

(IFLANET, 2006) Nesse cenário é evidente o papel significativo que as bibliotecas e os profissionais da 3

informação, em especial, devem desempenhar para que tais espaços e ações gestoras possam estar adequados e se transformem em locais de aprendizado contínuo, a fim de poderem desenvolver trabalhos em parceria com os programas educacionais desenvolvidos pelas escolas e universidades. Se à biblioteca cabe o papel de mediar a construção da competência e da autonomia na busca e uso da informação de forma inteligente, por outro lado, os governantes, em todas as esferas executivas, devem estar cientes que é de suma importância o estabelecimento de políticas para dotar a sociedade de condições e recursos suficientes para o desenvolvimento pleno da educação e da cultura.

2 Da informação à Competência em Informação 2.1 Informação e conhecimento Parece não existir nenhuma dúvida na sociedade contemporânea que o conhecimento se tornou um recurso econômico importante para a competitividade das organizações e dos países, e que a gestão pró-ativa desse conhecimento adquire um papel central. Em função dessas mudanças, e, aliando-se a isso à concepção do trabalho em rede e do uso da informação como recurso estratégico, as organizações são levadas a repensar continuamente as formas de atuação e, conseqüentemente, há a necessidade de transformações nas suas estruturas organizacionais. De acordo com Moran (1997) o computador em rede integra todas as telas antes dispersas, tornandose um instrumento de trabalho, de comunicação e da educação que é o processo permanente de aprendizagem, da construção da identidade do ser humano, do desenvolvimento de habilidades de compreensão, emoção e comunicação pessoal e social. Segundo Brunner (2004), o encontro da educação com as TIC tem sido uma revolução que ao mesmo tempo gera esperanças e incertezas, e que atualmente existe “um verdadeiro fervilhar de conceitos e iniciativas, de políticas, de associações e organismos, de artigos e livros” (p.17) e que, no atual estágio, pode-se afirmar que desse encontro surge uma poderosa indústria, a indústria educacional, decorrente dessa convergência, sendo que atualmente gastam 10% do produto interno dos países gerando uma série de transformações. Ele afirma que “embora a discussão da educação são formuladas em considerar essa base tecnológica, a comunicação e os

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sistemas de comunicação são pensadas como sistemas tecnologicamente implantadas, como a comunicação oral, da criação do alfabeto e da escrita (...) do surgimento da imprensa, que contemporaneamente, da comunicação eletronicamente mediada, até alcançar a forma da sociedade da informação baseada nas tecnologias de rede, e em particular, na Internet “ (p.12). Se a nova sociedade está sendo construída com o uso dessas tecnologias e a sua base está voltada para o conhecimento, é possível efetuar novas representações e significados, e expandir as fronteiras do cognoscível. As mudanças em andamento estão criando novos conceitos de trabalho, lazer, ensino, comércio, poder e mesmo de tempo e espaço, sendo que a informação é o recurso para o desenvolvimento e aprendizagem, e aprender é a condição de sobrevivência do ser humano na sociedade (MORESI, 2000). Nesse tópico em particular, Brunner (2002), em artigo publicado no livro “Educação na América Latina: análise e perspectivas “, expressa que a literatura publicada durante a última década coincide em assinalar quanto ao entorno em que se desenvolverá a educação e indica que está mudando rápida e profundamente para um ponto que logo se tornará irreconhecível aos olhos do século XX, e a tese mais geral a esse respeito sustenta que a globalização 1 estaria afetando de múltiplas e variadas formas. Baseando-se nessas características o autor propõe cinco dimensões de contexto das transformações em curso, e que são de envergadura e estão desafiando a educação nesse século. Essas dimensões são:  

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Acesso à informação (sobre o mundo, os outros e a nós mesmos); Acervo de conhecimentos (importância no manejo da informação e do conhecimento);

“Habitualmente define-se globalização como a crescente integração das economias nacionais (...) entretanto, além disso, fala-se

da globalização da ciência; da tecnologia e da informação;da comunicação e da cultura; da política, e, inclusive, da globalização do crime organizado. No entanto, quanto aos impactos pertinentes da globalização e os efeitos que produzem no âmbito dos sistemas e das políticas educacionais, a definição “generalista” mais de acordo seria a de Held et al (2000), o qual o referido fenômeno pode ser entendido como os “processos que encarnam a mudança na organização espacial das relações e transações sociais, gerando fluxos e redes transcontinentais e inter-regionais de atividade, interação e exercício do poder (...) e que podem ser descritos e comparados em quatro dimensões: extensão das redes globais; intensidade dos fluxos e níveis de atividade; à velocidade dos intercâmbios; e o impacto desses fenômenos nas comunidades” (BRUNNER,2002).

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Mercado de trabalho (necessidade de novas demandas de competências, habilidades e conhecimento); Disponibilidade de TIC para a educação (crescimento contínuo do uso das tecnologias para a aprendizagem); Mundo de vida (compromisso com a transformação do contexto cultural de sentidos e significados).

Especificamente à dimensão 1, o autor considera que o problema não seria onde encontrar a informação, mas sim como oferecer, sem exclusões, o acesso e ao mesmo tempo ensinar e aprender a selecioná-la, avaliá-la, interpretá-la, classificá-la, e usá-la. E são exatamente esses aspectos que interessam aos profissionais da informação e como podem contribuir com esse processo em construção. Os itens acima destacados coincidem com os tópicos identificados pela pesquisa realizada pela OCED, e complementa que os curricula estão sendo analisados em todo mundo e está crescendo a preocupação dos governos e do público em geral sobre a educação e treinamentos com qualidade e o retorno econômico e social dos investimentos realizados na área (RYCHEN, 2004). A partir das 9 competências identificadas que um indivíduo deve ter para exercer efetiva participação em sociedades democráticas, 2 delas encontram-se diretamente relacionadas à competência em TIC e em informação. As TIC, portanto, subsidiam novas possibilidades de modelos educacionais e nas formas de acesso e transmissão do conhecimento, e essa nova visão pode ser verificada, por exemplo, no modelo proposto por Samier (1998) onde são indicados os vários sistemas componentes da “educação virtual”. Esse novo modelo, está forçando muitas instituições a reverem e modificarem as políticas, os procedimentos existentes, e a visualizarem novas parcerias que podem ser efetuadas no novo contexto que se estabelece, rompendo as estruturas da “academia tradicional”. Isso inclui a biblioteca como uma das entidades fundamentais que deve desenvolver conteúdos com o uso de recursos on-line, com ênfase ao acesso a índices de citações, periódicos eletrônicos, bases de dados com textos completos e entrega de documentos, e desenvolver a capacidade e habilidade para os usuários poderem recuperar, categorizar e usar informações multimídia. Pode-se verificar, a partir das abordagens destacadas pelas pesquisas e estudos, 6

que a informação e o conhecimento e, em especial a forma de seu acesso e uso, são competências estratégicas para as pessoas poderem participar de forma plena na sociedade contemporânea e o desenvolvimento de seu futuro. É exatamente devido às essas características que a Information Literacy (por nós denominada como Competência em Informação) vem se expandindo, com o objetivo de analisar como desenvolver procedimentos de treinamento para o uso da informação, a sua interpretação e transformação em novos conhecimentos pelos indivíduos e organizações. 2.2 Competência em informação O objetivo das bibliotecas e dos serviços de informação é o de promover o acesso e o uso aos recursos informacionais, e esse acesso é proporcionado por meio de metodologias que possibilitam a armazenagem (estoques de informação) e sua recuperação. Nesse contexto dois serviços propiciam o acesso para o uso - Serviços de Referência e Instrução; esses dois aspectos, tradicionalmente centrados nas fontes e tecnologias, têm sido objetos de estudo para ampliar a forma de se analisar a questão não só do aspecto físico do acesso aos recursos, mas, principalmente quanto ao acesso intelectual à informação e às idéias pelos usuários (KUHLTHAU, 1993). A grande preocupação é como permitir que os grandes estoques de informação atuem como mediadores qualificados para que a informação se transforme em conhecimento. O foco central de um sistema de informação deve ser a necessidade de informação e o seu uso; os serviços precisam encontrar as necessidades específicas de um indivíduo, do que tentar adaptar o usuário ao que o sistema oferece. Estudos e modelos teóricos vêm sendo desenvolvidos para que o profissional da informação use metodologias mais adequadas para a prestação de serviços, e que os usuários efetuem uma melhor apropriação intelectual dos conteúdos dos recursos de informação. Uma das áreas em evidência na Ciência da Informação e que tem se intensificado neste inicio do Século XXI, devido à necessidade de desenvolvimento de novas habilidades para o acesso e uso da informação, é a Competência em Informação (Information Literacy). Termo cunhado em 1974 por Paul Zurkowski’s (LOERTSCHER, 2005), o assunto tem se tornado um núcleo conceitual para as bibliotecas e a biblioteconomia, mas não sem argumentos contra por parte de pesquisadores da área, que consideram a falta de claridade e precisão do termo competência (literacy), e as 7

muitas confusões que resultam da complexidade semântica ou teórica, que tem levado a uma confusão no desenvolvimento de uma prática que deve propiciar um procedimento para a área biblioteconômica. Mas o que vem a ser Competência em Informação? Antes de adentrar sobre o assunto, é importante analisar o conceito de competência. Vários autores de diferentes áreas vêm procurando oferecer uma conceituação sobre competência e suas origens. Após séculos de uso com várias concepções, competência passa a ser considerada, nas últimas décadas do século XX, como sendo o reconhecimento da sociedade sobre a capacidade das pessoas de se pronunciar em um assunto especifico. Destaca-se que sem a pretensão de esgotar o tema, o termo competência “tem sido utilizado com diferentes significados, ora como sinônimo de habilidades, capacidades, conhecimento, saber, etc, ora contendo termos inseridos em seu significado” (BELLUZZO, 2005). Especificamente sobre competência em informação, diferentes conceitos vem sendo propostos por pesquisadores da área, conforme estudo elaborado por Belluzzo (2004), e que a partir de análises e experiências educacionais, propõe que competência em informação “Constitui-se em processo contínuo de interação e internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades específicas como referenciais à compreensão da informação e sua abrangência, em busca da fluência e das capacidades necessárias à geração do conhecimento novo e sua aplicabilidade ao cotidiano das pessoas e das comunidades ao longo da vida “ (BELLUZZO, 2005). Segundo relatório da IFLA Presidential Committee for the Internacional Agenda on Lifelong Literacy (IFLA, 2005), todas as definições de competência em informação que vem sendo elaboradas implicam na compreensão pelo indivíduo sobre:        

a necessidade da informação, os recursos disponíveis, como encontrar a informação, a necessidade de avaliar resultados, como trabalhar com os resultados obtidos, ética e responsabilidade para o uso, como comunicar ou compartilhar os resultados, como gerenciar esses conteúdos.

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Além dos estudos mencionados, constata-se também que esse tema vem aparecendo regularmente em agendas de conferências e sessões de encontros dos movimentos associativos e de faculdades e, de acordo com estudos realizados pela Association Research Libraries - ARL, constatou-se que no período de 1991 a 2002, há um crescimento da participação dos bibliotecários universitários na configuração de instruções e como consultores de curriculum (ELMBORG, 2006). Por sua vez, a IFLA também vem realizando projetos na área e implementado grupos de estudos que resultou na instalação da Information Literacy Section, formalizando dessa forma a área que já produzia importantes procedimentos e guias para a compreensão, estudos e aplicação de métodos para as bibliotecas promoverem a competência em informação. Dentro dessa linha de ação, possibilitou a realização do Colóquio sobre Competência em Informação, na Biblioteca de Alexandria em novembro de 2005, que resultou no lançamento do “Manifesto de Alexandria“ delineando a competência informacional: 

como as competências para reconhecer as necessidades informacionais e localizar, avaliar, aplicar e criar informação dentro de contextos culturais e sociais;



que é crucial para a vantagem competitiva dos indivíduos, empresas (especialmente as pequenas e médias), regiões e nações;



que fornece a chave para o acesso, uso e criação efetivos do conteúdo para dar apoio ao desenvolvimento econômico, à educação, à saúde e aos serviços, e a todos os outros aspectos das sociedades contemporâneas e, desta forma, fornece os fundamentos vitais para atingir as metas da Declaração do Milênio e da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação; e



que vai além das tecnologias atuais para abranger o aprendizado, o pensamento crítico e as habilidades interpretativas cruzando as fronteiras profissionais, além de capacitar indivíduos e comunidades.

(Faróis da Sociedade da Informação, 2006) Tendo em vista as necessidades identificadas nos vários projetos e pesquisas levadas a efeito pelos especialistas e organizações, verifica-se que a gestão da 9

informação e do conhecimento deve ser exercida tendo em pauta todas as variáveis destacadas pelos mesmos, para que as pessoas possam ser capazes e habilitadas para utilizarem todos os instrumentos considerados no sentido amplo do ensino e aprendizagem, e do acesso e uso da informação para a produção do conhecimento.

Ser competente em informação e ter habilidades no uso inteligente das fontes de informação, das TIC e de procedimentos pedagógicos do processo de ensino e aprendizagem para o seu uso é uma questão de extrema importância para os profissionais que atuam na área de educação e ciência da informação, considerando-se que são os facilitadores para o processo de aprendizagem do cidadão. Conforme Macedo (2005), a função da escola é levar o aluno a adquirir auto-estima e espírito critico e o da biblioteca seria tornar-se espaços contínuos das aulas em classe e ao longo da vida, interagindo com os alunos e pessoas para que tenham autonomia na busca da informação com competência em informação. Considerando o cenário dessa nova sociedade que se configura, e que exige inúmeras formas de competência, como as unidades de informação e seus profissionais estão atuando? Será que estão sendo formados de acordo com as exigências identificadas? Segundo a IFLA (2005), as ações consideradas estratégicas para atender essas necessidades e que devem ser implementadas pelas bibliotecas e escolas de biblioteconomia e ciência da informação são: 







Desenvolvimento de mapas estruturados com todas as competências que devem ter os indivíduos na sociedade moderna; Desenvolvimento de instrumentos para serem usados como modelos por todas as bibliotecas; Desenvolvimento de um conjunto de elementos estruturados e holístico para o treinamento de habilidades pedagógicas para que os profissionais facilitem o aprendizado ao longo da vida; Desenvolvimento de um currículo específico para Programas de Competência em Informação, com guias, melhores práticas para o reconhecimento e certificação de profissionais que estiverem aptos em programas para essa área.

De certa forma, verifica-se que os estudos realizados sobre o tema oferecem um panorama geral quanto ao impacto que a informação e as tecnologias de informação e

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comunicação vem exercendo na sociedade. O desenvolvimento de redes de telecomunicação, incluindo as tecnologias de televisão digital que estão sendo projetadas, e as tecnologias multimídias para o tratamento e armazenamento de dados (conteúdos) com o uso de metadados e protocolos de comunicação adequados, exercem um impacto drástico em todos os aspectos da vida humana: nos relacionamentos, no emprego e no convívio familiar. No tocante ao emprego, a natureza de cada profissão está se transformando profundamente, e as tarefas estão cada vez mais intensivas em informação e com o uso das TIC, e vários aspectos importantes devem ser considerados: como e de que forma desenvolver conteúdos de informação, quais as tecnologias mais apropriadas, como preservar e que tipos de acesso devem ser implementados para a recuperação da informação e como serão apropriados pelos indivíduos. Sendo assim, independentemente das áreas de atuação, os perfis necessários para desempenharem suas funções nessa nova sociedade em formação devem estar alinhados à nova concepção de vida em construção. Desta forma, a Ciência da Informação precisa urgentemente analisar todos os fatores que estão moldando esse novo movimento do desenvolvimento humano, sendo necessário elaborar novas estratégias para realizar os objetivos perseguidos e desenvolver as formas que a informação e a participação dos envolvidos estarão se efetivando, via as tecnologias em questão. É nesse sentido que foi organizado um grupo brasileiro de estudos, que atualmente, com o apoio da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições - FEBAB, vem promovendo, desde 2004, atividades em prol da divulgação dessa temática, como por exemplo a realização de palestras em seminários, organização de workshops e oficinas, entre outros. Em função das atividades realizadas até presente data, decidiu-se efetivar um levantamento exploratório (survey), preliminarmente junto às bibliotecas das universidades estaduais paulistas, com o propósito de verificar como esse tema está sendo visto e, a partir dos resultados, identificar subsídios que possam contribuir para o desenvolvimento de projetos que objetivam ampliar os estudos e consolidar programas de capacitação, pois, considera-se que para a ciência da informação é de capital importância conhecer com maior profundidade os fundamentos que regem a Competência em Informação (Information Literacy) e as tecnologias que mediam o 11

processo. Considera-se também que é fator imperativo realizar contínuos estudos para o aprofundamento e apropriação desse conhecimento, como um processo de educação continuada, em especial no Brasil, cujo assunto ainda pode ser considerado como sendo emergente. 2.2.1 Levantamento exploratório preliminar (survey) sobre competência em informação (Information Literacy) Para a organização do levantamento pretendido, foi elaborado um questionário com 7 (sete) perguntas, e encaminhado por e-mail mediante a rede Internet para as 92 bibliotecas das universidades estaduais paulistas (USP, UNICAMP e UNESP). As respostas recebidas foram sistematizadas de forma a consolidar os dados que possam propiciar a visualização do panorama de como está sendo visto o assunto pelos profissionais que atuam nas bibliotecas universitárias paulistas. Os dados consolidados estão dispostos na tabela 1. Tabela 1 - Levantamento exploratório preliminar (survey) sobre Competência em Informação (Information Literacy) com bibliotecas das universidades estaduais paulistas (USP, UNICAMP, UNESP)

QUESTIONÁRIOS ENVIADOS: 92 RESPOSTAS RECEBIDAS: 48 (52%) PERGUNTAS ENVIADAS COM AS RESPECTIVAS RESPOSTAS CONSOLIDADAS: 1.

2.

Já ouviu falar sobre a Information literacy ( ou competência da informação) ? Sim : 20 (41%) Não: 28 ( 58,33 %) Se respondeu sim à questão 1, indicar em um dos itens como isso ocorreu. Nessa pergunta as respostas podiam ser múltiplas: Participação em evento: 15

(31,25 %); Contato pessoal ou virtual com especialistas: 11

(22,91 %); Leituras

pessoais: 10 ( 20,83 %); Outra forma; indicar qual: 4 ( 8, 33%). (Nota: os itens indicados no último tópico foram: estudos sobre instrução bibliográfica e serviço de referência; curso de especialização e pós-graduação; elaboração de trabalho sobre analfabetismo funcional; elaboração de palestra sobre o tema; leitura de dissertação sobre o assunto).

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4.

Indicar situações em que os conceitos e princípios da Information Literacy (ou competência em informação) poderão ser úteis para a sua atuação enquanto profissional da informação. A seguir relacionam-se as situações identificadas, em ordem decrescente:



De 6 a 8 indicações: Melhoria no atendimento ao usuário; Capacitação contínua do próprio profissional; Treinamento de usuários da biblioteca.



De 3 a 5 indicações: Melhoria no planejamento de serviços da biblioteca; Geração do conhecimento; Pesquisa e publicação na área.



Com 2 indicações: Saber onde há necessidade informacional; No relacionamento com os usuários; Conhecimento das fontes de informação; Disseminação da informação; Formação de professores e alunos



Com 1 indicação: Incentivo à leitura; Localização da informação para solução de problemas; Avaliação da informação; Localizar, processar e utilizar a informação em diferentes situações; Na falta de compreensão das necessidades do próprio profissiona; Gestão de projetos; Gestão de pessoas;Gestão da informação;Capital intelectual; Visão de futuro;Ética;Integração escola e biblioteca;Criação de biblioteca digital. 5. Existe alguma experiência com a aplicação dos conceitos e princípios

Information literacy (ou competência em informação) na informação onde atua ?

Sim: 7

Não: 11

da

biblioteca ou serviço de

Em branco: 2

6. Se respondeu Sim à questão 5, informar o que segue: A experiência consistiu em projeto e o documento está disponível em

formato impresso; nesse caso indicar a

referência bibliográfica: 4 ( 1 não cita a fonte); A experiência consistiu em projeto e o documento está disponível em formato eletrônico: CD ROM ( 1) Website ( 3). 7.

Na sua opinião o que o Brasil precisaria fazer em relação ao desenvolvimento da Information literacy (competência em informação). A seguir relacionam-se as indicações de alguns profissionais que responderam a pergunta final do questionário: Reunir profissionais em comunidades virtuais de aprendizagem colaborativa em ambientes de EAD; Priorizar a educação desde a pré-escola com professores e bibliotecários competentes em informação; Publicação de artigos sobre o assunto; Criar políticas na área para as redes de bibliotecas municipais e universitárias; Inserir o tema nos curricula das escolas de biblioteconomia e ciência da informação; Criar também um grupo de estudo na ANCIB;Realizar eventos e workshops para divulgação dos princípios de information literacy; O grupo de estudos poderia divulgar o tema por meio de palestras em todos os

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eventos significativos da área no país; Os profissionais e estudantes deveriam ter mais possibilidades de acesso à educação contínua, por meio de cursos com custos compatíveis com os salários da classe; Elaborar programas para professores serem multiplicadores sobre o tema junto aos alunos e profissionais;Qualificar e conscientizar os profissionais da informação sobre o assunto; Disseminar o conceito para as demais áreas do conhecimento dentro da educação formal e informal, para que as pessoas tenham capacidade de buscar e avaliar a informação; Investir em projetos de infra-estrutura de bibliotecas; Instalar bibliotecas em escolas, municípios sob a gestão de profissionais qualificados; Criar programas de incentivo à leitura; Barateamento de livros e publicações; Maior divulgação pela imprensa sobre publicações em formatos diversos; Prover a sociedade com mecanismos estruturais para o acesso à informação, impressa e digital, e capacitar as pessoas para o uso dessa informação; Mudar o perfil do profissional da área, exigindo maior capacidade de interação, conhecimento e habilidades para poder agir com competência em informação; Inserir a disciplina na sala de aula, e também no desenvolvimento das atividades da biblioteca.

A partir das variáveis consolidadas e em uma análise a priori, verifica-se que:  Dos 48 questionários recebidos (50% da população pesquisada), 28 (58,33%) desconhecem o assunto. Esse dado reflete que é necessário criar mecanismos para ampliar a divulgação sobre o assunto junto aos profissionais brasileiros;  A principal fonte de informação, para os 20 (41%) que responderam ter conhecido o assunto, foi a participação em eventos; dessa forma considera-se importante elaborar junto aos eventos no país, formas de dar continuidade a esse processo, como por exemplo organizar cursos, workshops, além de outros mecanismos de divulgação;  De acordo com a indicação sobre a aplicação dos conceitos de competência em informação, verifica-se que já há por parte de alguns profissionais alguma percepção sobre o assunto, no entanto, constata-se que o foco da maior parcela ainda é sobre gestão da informação, ou seja, o modelo tradicional da área, e não com o foco nas pessoas e nas diferentes concepções que envolvem essa área de estudos;  As experiências indicadas sobre o uso do conceito de competência em informação são aspectos de treinamento/orientação bibliográfica, sendo esta apenas uma das áreas que envolve seu espectro e abrangência, além do que devem ser analisados com mais detalhamento para serem verificados os conteúdos e suas abordagens;  Quanto à relação das possibilidades do desenvolvimento da Information Literacy (ou Competência em Informação) no país, esta propicia vária sugestões 14

significativas e que deverão ser consideradas nas próximas etapas do estudo pretendido, além de complementarem os que já estão sendo projetados pelas autoras deste paper. 3 Considerações finais Conforme pode ser constatado pela análise bibliográfica sobre Competência em Informação, as principais dimensões nesse século são:  Acesso, sem exclusão, com competência e habilidade para o manejo da informação e das tecnologias de informação e comunicação;  Educação contínua com qualidade e compromisso com as transformações do contexto cultural, com pensamento crítico e habilidades interpretativas;  Profissionais da área de informação que possam: desenvolver modelos estruturados de competências que as pessoas devem ter; identificar instrumentos que possam ser usados; ter competências pedagógicas para facilitar o aprendizado; elaborar um curriculum especifico para a área, oportunizando o reconhecimento e certificação dessa competência para atuação no mercado. Verifica-se, portanto, que além da devida competência para desenvolver programas que vem sendo ofertados pelas bibliotecas e serviços de informação, desde longa data, tais como: pesquisa bibliográfica, orientação bibliográfica, metodologia para pesquisa científica, além de outros tipos de tutoriais, constata-se que os profissionais da informação devem estar aptos a exercer a liderança no processo de formação da cultura de agregação de valor à informação na sociedade contemporânea. Para tanto, necessitam estar alinhados ao uso dos conceitos e experiências da área de Competência em Informação, ora em desenvolvimento. Além disso, deverão apresentar um perfil de competências desejável para a inserção nos programas de ensino e aprendizagem, contribuindo como facilitadores nesses ambientes intensivos em informação e tecnologias multimídia. Espera-se que os resultados, embora de caráter exploratório do presente estudo, possam levar à realização de novos estudos e que novas etapas possam ser organizadas e desenvolvidas para a sua continuidade e consolidação em contexto nacional. 4 Referências Bibliográficas 15

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