Como ENSINAR ATITUDES Dominique Morissette e Maurice Gingras COLECÇÃO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Volumes Publicados FORMAR CRIANÇAS LEITORAS Josette Jolibert O FIO DA MEADA Manuela Ferreira LUTAR PARA DAR UM SENTIDO à VIDA Isabel Alves Costa e Filipa Baganha GUIA PARA A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA Franco Ghilardi e Carlo Spallarossa O FANTOCHE QUE AJUDA A CRESCER Isabel Alves Costa e Filipa Baganha ENSINAR A POESIA Teresa Guedes INTEGRAÇÃO ESCOLAR DAS CRIANÇAS DEFICIENTES Jean Simon 100 JOGOS MUSICAIS Ger Storms O PRAZER NA ESCRITA Pierre Bach CLUBE DE MATEMÁTICA António César de Sá, Margarida Leite Faria AVALIAR É REFLECTIR SOBRE O ENSINO Carios Rosales 100 JOGOS DE MOVIMENTO Huberta Wiertsema
AVALIAR É MEDIR? Jean Cardinet COMO CRIAR UMA BOA RELAÇÃO PEDAGÓGICA M! Teresa Gornez, Victoria Mir e M' Gracia Serrats AVALIAÇÃO FORMATIVA Roiand Abrecht A COMPREENSÄO NA LEITURA Joceiyne Giasson CONSTRUIR UMA FORMAÇÄO Christiane Strauven EXPRESSÄO DRAMáTICA E TEATRO JeanClaude Landier e Giséle Barret COMO ENSINAR ATITUDES Dominique Morissette e Maurice Gingras TITULO ORIGINAL: ENSEIGNER DES ATITUDES? TRADUTOR: JOSÉ CARLOS TUNES EUFRáZIO COLECÇÄO: PRáTICAS PEDAGóGICAS DIRECÇÄO DE: LUíS ALBERTO MARQUES ALVES 1990, DE BOECKWESMAEL, S.A. Sumário
SUMARIO.................................................... 5 íNDICE DOS QUADROS......................................... 9 AGRADECIMENTOS............................................. 11 INTRODUÇÄO................................................. 13 Educaçäo afectiva.......................................... 14 Investigaçöes sobre educaçäo afectiva...................... 16 Problemática da educaçäo afectiva.......................... 18 1 NOÇöES GERAIS.......................................... 23 Introduçäo................................................. 24
Educaçäo, ensino e aprendizagem............................ 26 Papel da escola na aprendizagem afectiva................... 35 Conteúdo afectivo para a vida em sociedade............ 36 Conteúdo afectivo para a aprendizagem escolar......... 38 Conteúdo afectivo específico dum programa............. 39 Posiçäo clara a favor da intervençäo no domínio afectivo... 41 Conclusäo.................................................. 43 11 DOMNIO AFECTIVO....................................... 45 Introduçäo................................................. 46 Características afectivas.................................. 47 Características afectivas e ensino......................... 56 Método e conteúdo no ensino de atitudes.................... 59 Conclusäo.................................................. 62 111 ATITUDES............................................. 63 Introduçäo................................................. 64 5 Extensäo do conceito de atitude........................... 65 Algumas reflexöes sobre o conceito de atitude............. 68 Dez afirmaçöes que muito nos esclarecem sobre atitudes.. 68 As atitudes aprendemse e ensinam~se.................... 70 Comentário preliminar................................... 72 9 Teoria e prática.......................................... 73 Modelo teórico global..................................... 75 Alguns modelos secundários............................... 77 Conclusäo................................................. 78 IV DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÄO......................... 79
Introduçäo................................................ 80 Primeiro exemplo: ensino do francês....................... 81 Análise do primeiro exemplo.............................. 83 Algumas limitaçöes....................................... 85 Segundo exemplo: ensino de uma atitude.................... 87 Análise do segundo exemplo............................... 87 Algumas limitaçöes....................................... 92 Conclusäo................................................. 94 V DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÄO.......................... 95 Introduçäo................................................ 96 Primeiro modelo: planificaçäo por deduçäo~induçäo......... 97 Nível das finalidades, do objectivo global e das metas a atingir................................................... 98 Nível dos objectivos gerais............................. 101 Nível dos objectivos específicos........................ 105 Nível das tarefas particulares.......................... 108 Segundo modelo: taxonomia baseada na interiorizaçäo....... 112 Conclusäo................................................. 123 Vi DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÄO........................... 125 Introduçäo................................................ 126 Planificaçäo do ensino de uma atitude..................... 128
6 Plano a médio~prazo.................................. 128 As nove fases em igual número de questöes............ 130 Preparaçäo imediata.................................. 141 Exigências da preparaçäo imediata em três questöes... 142 VII ENSINO DE ATITUDES................................... 147 Introduçäo................................................. 148 Es tratégias eficazes...................................... 150 Regras de actuaçäo......................................... 157 Abordagens integradoras.................................... 164 Abordagem inspirada na interiorizaçäo................. 164 Abordagem inspirada nas fases de intervençäo.......... 166 Abordagem inspirada nos princípios da metacogniçao.... 167 Avaliaçäo do ensino de uma atitude......................... 172 Avaliaçäo da preparaçäo imediata..................... 173 Avaliaçäo do processo................................. 174 Conclusäo.................................................. 175 VIII AVALIAÇÄO FORMATIVA DE ATITUDES..................... 177 Introduçäo................................................. 178 Tomada de decisäo.......................................... 179 Momento da decisäo......................................... 183 Objectos da decisäo........................................ 185 Avaliaçäo da aprendizagem de atitudes...................... 187 Critérios de avaliaçäo............................... 187 Conselhos de carácter geral.......................... 189 Técnicas de medir atitudes................................. 191 Componente cognitiva................................. 191 Componente comportamento] (conativa)................. 194 Componente afectiva.................................. 196 Interpretaçäo de resultados.......................... 198 Decisöes fundadas numa taxonomia........................... 200 Análise e interpretaçäo de resultados................. 205 Conclusäo.................................................. 207 IX AVALIAÇÄO SUMATIVA DE ATITUDES............... 211 Introduçäo........................................ 212 Contexto sumativo................................. 213 Expressäo da decisäo: a nota...................... 216 Significado da nota............................. 216 Formas de expressar a nota...................... 217
Valor da nota para a atitude.................... 219 Responsável pela nota........................... 221 Preparaçäo da nota.............................. 222 Técnicas de medir atitudes em contexto sumativo... 224 Conclusäo......................................... 227 Conclusäo......................................... 239 ANEXO............................................. 241 BIBLIOGRAFIA...................................... 243
8 ÍNDICE DOS QUADROS A Quadro 2.1 Principais elementos das características afectavas da personalidade................................ 53 Quadro 2.2 Limites epistemológicos do conceito de atitude........ 60 Quadro 4.1 Escalas de apreciaçäo da pronúncia dos "d" e dos "t" 82 Quadro 4.2 Estratégias, métodos e técnicas adequadas à aprendizagem de atitudes........................ 86 Quadro 4.3 Questöes que fazem parte da planificaçäo da actividade de ensino de uma atitude............. 89 Quadro 4.4 Exemplo de uma actividade orientada explicitamente para o ensino de uma atitude.................... 90 Quadro 4.5 Fases de planificaçäo do ensino de uma atitude........ 93 Quadro 5.1 Modelo de planificaçäo por deduçäo~induçäo (domínio afectivo).............................. 111
Quadro 5.2 Descriçäo da evoluçäo da interiorizaçäo de uma atitude 117 Quadro 5.3 Objectivos gerais relacionados com uma atitude particular e conformes à taxonomia de Krathwohl (três primeiras categorias)..................... 118 Quadro 5.4 Taxonomia do domínio afectivo: categorias, verbos e complementos directos........................... 119 Quadro 5.5 Verbos adequados aos objectivos do domínio afectivo 122 Quadro 6.1 Exemplo de formulário para a planificaçäo do conjunto de actividades de ensino de uma atitude 136 Quadro 6.2 Exemplo de respostas dadas às questöes do formulário anterior............................. 138 Quadro 6.3 Formulário de planificaçäo da actividade de ensino de uma atitude.................................. 145 Quadro 6.4 Grelha de aplicaçäo do plano de intervençäo centrado no ensino de uma atitude na aula....... 146 9 Quadro 7.1 Relaçäo entre a interiorizaçäo de uma atitude e o ensino da mesma.............................. 165 Quadro 7,2 Seis questöes que ajudam a integrar no ensino as preocupaçöes pelo domínio afectivo........... 169 Quadro 7.3 Processo de ensinoaprendizagem de uma atitude numa intervençäo estruturada em três tempos.. 170 Quadro 8.1 Processo de tomada de decisäo em ensino e em aprendizagem................................. 181 Quadro 8.2 Grelha de apreciaçäo da atitude de colaboraçäo em trabalho de grupo............................ 202 Quadro 8.3 Análise dos resultados conjuntos do ensino da atitude de colaboraçäo em trabalho de grupo..
209 Quadro 8.4 Análise dos resultados individuais do ensino da atitude de colaboraçäo em trabalho de grupo.. 210 Quadro 9.1 Perfil de resultados da atitude de respeito pelas ideias dos outros aquando de uma discussäo em grupo sobre ideias controversas.............. 228 Quadro 9.2 Perfil de resultados relativos à qualidade das interacçöes em trabalho de grupo............. 229 Quadro 9.3 Perfil da avaliaçäo sumativa: notas semestrais em desenho (processo e produto)................. 229 Quadro 9.4 Conselhos sobre observaçäo.,...................... 230 Quadro 9.5 Conselhos sobre preparaçäo de um questionário de respostas previamente elaboradas............. 231 Quadro 9.6 Conselhos sobre a preparaçäo de uma escala de atitudes..................................... 235 Quadro 9.7 Escala de atitudes sobre as mudanças no ensino.... 238 Quadro A. 1 Grelha de apreciaçäo do plano de actividades de ensino de uma atitude........................ 241 Quadro A.2 Grelha de apreciaçäo dos resultados da aplicaçäo do plano de actividades...................... 242
10 AGRADECIMENTOS A Esta obra fica a deverse, em grande parte, aos inúmeros educadores e educadoras de todos os meios sociais e disciplinas, que vimos acompanhando, sobretudo, de há dez anos a esta parte. Fica
aqui expresso o nosso reconhecimento a todos. Agradecemos, em particular a Nicole Lirette, Arthur Marsolais e laques Plante, membros da equipa de reflexão sobre a questão do afectivo em educação` que foram pródigos em conselhos e reflexões sobre as várias versões transitórias deste livro. Ficamos, igualmente, gratos a Solange Luneau, da comissão escolar dos Bois~Francs. Finalmente, só,foi possível realizar este trabalho, graças ao apoio da Universidade do Quebeque em Trois~Rivières e do Conselho de Investigação em Ciências Humanas do Canadá (dossier 41087 ~0719). INTRODUÇÃO A maior parte dos educadores reconhece, espontaneamente, a influência primordial das disposições afectavas e da motivação, sobretudo no percurso escolar dos alunos e no seu desenvolvimento intelectual. Todos se esforçam por accionar, conscientemente ou não, diversos meios de despertar a curiosidade ou suscitar o interesse dos alunos, e de criar situações favoráveis à aprendizagem. Todos procuram ter em consideração o impacto que tem, sobre a aprendizagem, esta dimensão central da pessoa, vulgarmente designada pela palavra afectividade. Fazemno porque estão conscientes de que a sua acção pedagógica, embora prioritariamente destinada ao desenvolvimento intelectual e à aquisição de aptidões, tem repercussões sobre essas outras componentes da personalidade do aluno que são as atitudes, os valores, os interesses, os sentimentos e a motivação. Muitos, porém, desejariam dominar melhor este importante aspecto; acreditam que, deste modo, melhorariam, igualmente, a qualidade e a adequação da sua acção educativa. Tal preocupação é, aliás, reforçada pelo facto dos programas escolares apresentarem objectivos directamente relacionados com o domínio afectivo. Enquanto tais, estes objectivos apelam para intervenções pedagógicas e experiências escolares que possam
reforçar ou modificar certos aspectos efectivos da personalidade. Pode tratarse, por exemplo, duma atitude de prudência ou de segurança obrigatória em determinado programa de ensino profissional ou, então, duma atitude positiva perante a leitura; pensa~se, pois, que tais atitudes são úteis e até, talvez, indispensáveis à aprendizagem em questão. Contudo, ter em conta tais objectivos, levanta numerosas dificuldades dada a ausência de dados autênticos e a pouca difusão de práticas institucionalizadas, neste domínio. O exame da realidade quotidiana da turma mostra, à evidência, que a educação escolar não pode limitar~se, apenas, a estes dois aspectos da personalidade: transmitir conhecimentos e desenvolver 13 aptidões; mesmo que daí surjam problemas, tanto no plano das técnicas de intervenção, dos elementos culturais, como devido às dificuldades éticas que tal procedimento possa suscitar. Educação afectava A maior parte das teorias da personalidade traduzem~se em modelos (introspectivos, organicistas, sistémicos ou mecanicistas) que afirmam a necessidade duma acção pedagógica formadora e, portanto, dum tipo de aprendizagem ligada à educação afectiva do aluno. Tais teorias empenharam~se na clarificação da própria noção de desenvolvimento ou de aprendizagem afectiva do aluno. Eis algumas afirmações particularmente representativas neste domínio: O desenvolvimento afectivo do jovem consiste no despertar, no desenvolver e no controlar das suas emoções. Estas são experimentadas pelo organismo e têm uma relação directa com aquilo a que muita gente se refere ao falar de sentimentos pessoais. Tais emoções ou sentimentos são suscitados quer por pessoas quer por objectos, por ideias ou por estruturas sociais. o desenvolvimento afectivo implica, além disso, antes
de mais, recursos e aptidões cognitivas da pessoa; uns e outros constituem, mesmo, o fulcro de toda a aprendizagem baseada na observação do meio local. isto mostra bem até que ponto estes dois aspectos da personalidade, cognitivo e afectivo, são indissociáveis no momento de agir, mesmo quando, para facilidade de análise, os separamos. O desenvolvimento afectivo faz~se quando a criança tem oportunidade de experimentar emoções ou sentimentos adequados, aprende a descrevê~los, a interpretá~los, a designáos e a comportarse, de modo consciente e autónomo de acordo com as atitudes e valores que decidiu interiorizar. Por outras palavras, a criança é o principal arqui tecto da sua personalidade. 1 4
AIMO lar Ad Dispomos, em suma, de conhecimentos suficientemente convergentes para nos interrogarmos sobre o impacto do meio e, em particular, do sistema de educação, no desenvolvimento integral (incluindo a dimensão afectiva) da personalidade do jovem. Começam a surgir respostas para certas questões, relativas à própria essência da educação afectiva dos jovens na escola. Em que medida se apela ao afecto ou às emoções, na vida quotidiana dos alunos, na escola? Não se corre, muitas vezes, o risco de provocar, com certas intervenções, emoções e sentimentos opostos àquilo que se
pretende e, até, àquilo que é desejável? Se considerarmos a formação que recebem, será que os jovens se estão a tornar adultos mais conscientes das emoções e dos sentimentos que influenciam o seu comportamento? Estão a tornar~se mais confiantes em si mesmos ou conscientes das razões do próprio agir? Este livro baseia~se na convicção de que os educadores, guiados pelos objectivos dos programas e dispondo de conhecimentos adequados, poderão imaginar situações de aprendizagem que contemplem conteúdos efectivos, do mesmo modo que têm em conta conteúdos cognitivos ou psicomotores. Assim, quer se trate de planificar, realizar ou avaliar as suas intervenções, saberão aproveitar o contributo da psicologia moderna na busca dos meios mais adequados aos múltiplos factores em questão. Esta mesma convicção leva a desejar que a escola se empenhe cada vez mais na obtenção dos objectivos de formação que lhe são prescritos, que dedique a esta tarefa todos os recursos disponíveis, em especial os recursos humanos. Pode apoiar~se naquilo que muitos educadores sabem já fazer e que fazem muito bem, ou seja, encorajar os jovens a exprimirse com alegria através da acção, do canto e do trabalho autónomo, orientado ou criativo, realizar actividades escolares ou para~escolares bem sucedidas e eficazes no plano da formação intelectual. Resumindo, não está tudo por inventar; tratase mais de consolidar o já adquirido e de acrescentar algo que ainda falte. Quer dizer que ainda falta muito para que a escola assuma, plenamente, a sua responsabilidade em matéria de educação afectiva; tarefa tanto mais pesada, quanto se torna necessário, antes de mais, 1 5
interpretar as intenções educativas que, a este respeito, lhe
chegam de várias instâncias. já dissemos que os programas exprimem finalidades relativas ao domínio afectivo; mas, raramente, estas acabam por ser traduzidos em termos operacionais, isto é, em objectivos terminais ou em actividades. Como poderão os educadores operacionalizá~las na sua acção diária? Porque não introduzir no currículo um programa específico de educação afectiva? Sem subestimar o contributo positivo dum tal programa, especialmente destinado ao desenvolvimento afectivo do aluno, pensamos que é no quadro dos programas actuais, e dos seus objectivos de formação, que os educadores podem exercer uma influência mais determinante. É uma perspectiva realista reconhecer que as estruturas afectavas do aluno se desenvolvem em paralelo com as estruturas intelectuais (sentimentos, emoções, interesses, gostos, atitudes, valores ... ). Ambas se adquirem, se modificam ou se constroem no decorrer de experiências vividas, de interacções estabelecidas num ambiente favorável e acompanhadas de estímulos adequados. Para que se produzam alterações profundas e significativas, é preciso que o processo faça apelo a todas as potencialidades do aluno, na sua tripla dimensão afectiva, cognitiva e motora. Na escola, enquanto instituição, este apelo à contribuição de todos os recursos do aluno deve inspirar~se, antes de mais, no que vem oficialmente prescrito nos programas. É preciso, além disso, que esta preocupação prioritária com os programas seja consciente e metódica , e não deixada ao acaso da inspiração e dos gostos individuais, sobretudo no que respeita aos elementos efectivos da aprendizagem. Investigações sobre educação afectava O ensino é necessário porque a vida não é uma escola e porque, na vida, só se aprende na medida em que se estiver preparado para colher ensinamentos da nossa própria experiência. (Olivier Reboul, 1980:16)
As diversas teorias da personalidade trouxeram nova luz sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente. Quer se trate 16 do modelo de desenvolvimento da consciência moral proposto por KohIberg (1976) quer da teoria psicossocial elaborada por Érikson (1966, 1968) quer, ainda, da teoria da aprendizagem pela observação de Bandura (1976), o conjunto de todos estes dados teóricos é essencial para se compreender como se desenvolve o jovem. Contudo, tais dados nunca serão verdadeiramente úteis para a educação afectiva se não for possível traduzir os princípios teóricos em acções concretas junto dos alunos. No que respeita a consequências práticas, as investigações sobre educação afectiva foram surgindo muito lentamente e foram, durante muito tempo, ultrapassadas pelas investigações no campo da educação intelectual e motora. Por falta de apoios teóricos e, depois, empíricos satisfatórios recorreu~se, quase exclusivamente, a métodos e a abordagens de tipo cognitivo, na prossecução de objectivos efectivos (Dressel, 1954; Furst, 1958). A pouco e pouco, certas análises convergentes (jacob, 1957; Krathwohl e outros, 1964) começaram a chamar a atenção para a pouca consistência da hipótese subjacente a esta actuação, segundo a qual as aprendizagens cognitivas levam, necessariamente, às aprendizagens afectavas. Mais recentemente, os trabalhos de reflexão têmse orientado mais para a análise das diferenças e semelhanças que caracterizam cada um dos domínios, especificamente em termos de acção educativa (Zaionc, 1980; Barber, 1981). Defende~se, com crescente convicção, a proposta de que, de facto, há que ter em conta ambos os domínios em simultâneo, isto, sobretudo, num contexto educativo e em todos os níveis de ensino (Mager, 1968). Certas características do sistema
escolar actual levam, até, a pensar que se devia dar primazia à dimensão afectiva. O acesso em massa à escola de clientelas outrora deixadas à margem do sistema, exige uma reflexão atenta acerca dos dinamismos da criança, sem esquecer os que se relacionam com as mudanças de afecto, susceptíveis de inspirar toda e qualquer actuação didáctica. Pode, pois, haver lugar para realidades como estas sem, contudo, minimizar a transmissão de conhecimentos cognitivos. Há que 1 7 procurar um equilíbrio mais perfeito entre as teorias de aprendizagem, exclusivamente centradas na intervenção, na experiência directa (condicionamento ou reforço), e as teorias que minimizam o papel da intervenção; estas, enquanto tais, também não ajudam muito os educadores na escolha de meios. Relativamente à educação da afectividade, os desenvolvimentos recentes de algumas taxonomias (Krathwohl e outros, 1964; D'Hainault, 1980; Steinaker, BelI, 1979) estabeleceram pontos de contacto entre a teoria e a prática. Tornouse, assim, mais fácil interpretar as expectativas globais dos programas e traduzir em objectivos pedagógicos operacionais, as que se referem ao domínio afectivo. Os educadores passam a dispor, também, duma terminologia e de modelos que lhes permitem exprimir, com mais precisão, o que esperam dos alunos. Cumprida esta fase de clarificação, poderão escolher, mais adequadamente, os meios de intervenção e avaliar os resultados obtidos em comparação com os já alcançados anteriormente. Sem pretender oferecer uma solução global para as dificuldades suscitadas pela aprendizagem afectiva na escola, tais desenvolvimentos constituem, contudo, um passo importante que contamos explorar ao longo desta obra. Problemática da educação afectava
Dissociar a educação afectiva de qualquer suspeita de doutrinação preocupa tanto educadores como investigadores e peritos em docimologia; mais ainda quando se trata de ensinar conteúdos relativos ao domínio afectivo. A suspeita de doutrinação paira, sempre, sobre a escola, pois toda e qualquer estrutura escolar impõe, de algum modo, a sua cultura, a sua filosofia, os seus valores e obriga, conscientemente ou não, a que nos conformemos com essa imposição. Apesar da escola, mediante uma sã educação afectiva, pretender levar o aluno à liberdade de opção e à autonomia, devemos 1 8 manter~nos sempre vigilantes. Para tal, a melhor garantia de transparência e de eficácia será a formulação de objectivos efectivos terminais, rigor nos conteúdos de ensino e recurso a estratégias de intervenção planificadas em conformidade, Todos esperam que a escola cumpra a sua parte no desenvolvimento harmonioso dos alunos, tanto no plano afectivo como no cognitivo. Os educadores intervêm neste sentido e emitem juízos sobre os resultados alcançados. As suas atitudes, modo de actuar, maneira de abordar ou de apresentar as questões da vida, modo de ensinar conteúdos, à primeira vista neutros, contribuem para gerar nos alunos reacções, desenvolver hábitos e suscitar aprendizagens relacionadas com a componente afectiva da personalidade de cada um. Consequentemente, há que garantir que tal actuação seja deliberada, dada a conhecer, controlável e, portanto, controlada. Mediante esta educação afectiva, o aluno é levado a explorar vários aspectos do mundo que o rodeia, o seu universo interior, os seus sentimentos, aptidões e conhecimentos: é convidado a definirse em relação ao meio e a adaptarse a ele. Poderia deduzirse que a
educação é um processo de integrarão por doutrinação ou manipulação; contudo, o facto do aluno ter de adquirir os pré~requisitos necessários a qualquer decisão autónoma (entre os quais, o conhecimentos das alternativas possíveis) não implica a incapacidade de tomar decisões lúcidas ou de optar por este valor ou aquela atitude e aperceber~se da sua grandeza e consequências. A educação afectiva deve contribuir para que o aluno cresça em todas as dimensões da sua personalidade e isto, apesar das dificuldades inerentes a qualquer forma de aprendizagem. Por isso é que Krathwohl e outros (1964) afirmam que o estudo não está ao serviço da doutrinação mas, pelo contrário, deve abrir caminho à liberdade de opção e às decisões pessoais (p. 20). Relativamente a este ponto, o currículo do Quebeque inclui o desenvolvimento de várias atitudes (ou valores) deduzidos das finalidades da escola. Textos bastante explícitos (MEO, 1979) traduzem uma intenção muito clara de favorecer, nos alunos, a aprendizagem 1 9 de certas atitudes e valores. os alunos são, pois, convidados a empenharem~se numa educação global, numa formação que inclui opções fundamentais. É o que se passa, pelo menos a nível do ensino não superior: pretendese que os alunos interiorizem atitudes e valores, que façam a integração de práticas específicas. Esperase, igualmente, que aprendizagens de qualidade se generalizem em varias facetas do pensamento e, sobretudo, da prática destes jovens (capacidade de transferir aquisições afectavas). Os programas de ensino traduzem, a diversos níveis, estas expectativas globais para cada uma das disciplinas. Como conciliar as exigências da formação para a autonomia, para a responsabilidade pessoal, com uma autoridade assim tão rigorosa?
É esta uma dificuldade bem real numa prática pedagógica em que o afectivo tem o mesmo peso e a mesma categoria que o cognitivo ou o psicomotor. Muitos educadores tentarão fugir ao problema agindo como se nada fosse possível fazer e como se a aprendizagem afectiva devesse fazerse por si mesma, de maneira informal. Não pensamos que a solução seja fugir, quer dizer, omitir sistematicamente qualquer intervenção formal relacionada com o afectivo, deixando ao acaso e às reacções espontâneas dos educadores o cuidado de formar este aspecto da personalidade dos alunos. Pelo contrário, propomos como solução, a nosso ver bem preferível, o recurso à planificação formal, à intervenção sistemática e à avaliação esclarecida. Outra dificuldade, neste caso técnica, deriva da ausência de definição clara e precisa do que deve ser aprendido ou, pelo menos, duma definição tão clara que torne possível uma acção adequada. Enquanto a nível da política educativa ou das finalidades dos pro gramas escolares ou até dum certo tipo de ensino se continuar a utilizar um discurso global pouco rigoroso, é difícil precisar, de maneira congruente, as necessárias acções de formação. Ora, na maior parte dos enunciados de política educativa, esta fase de ope racionalização dos objectivos efectivos está ainda por ultrapassar. É difícil, talvez até impossível, planificar ou apreciar as intervenções que se relacionam com esta fase e, portanto, as mudanças a que pode dar origem. 20 ocos As aprendizagens afectavas, mesmo as mais simples, aparentemente, supõem o recurso a dispositivos complexos de
ensino, a numerosas intervenções pedagógicas que se estendem, muitas vezes, por períodos bastante longos. É que se trata de aprendizagens que tocam nos hábitos dos alunos, na sua 'maneira de reagir emotivamente e, portanto, no aspecto mais fundamental da vida psíquica, a afectividade. Só gradualmente se vão adquirindo ou alterando as características afectavas dos alunos. Por outro lado, revestem, muitas vezes, um carácter dinâmico no sentido em que se tornam, elas próprias, instrumentos de aquisição. Porém, antes de se tornarem factores dinâmicos de aprendizagens subsequentes surgem, antes de mais e em parte, pelo menos, como consequência do ensino adquiremse ou modificamse através da aprendizagem. Em resumo, os múltiplos factores ligados a qualquer situação de ensinoaprendizagem estão intimamente relacionados com a educação da afectividade. Há ainda uma terceira dificuldade ligada à avaliação das aprendizagens. As técnicas clássicas utilizadas em psicometria, para medir as diversas componentes da personalidade, são complexas e muito pouco adaptadas ao contexto da aula. Os educadores estão cada vez mais mal preparados para as aplicar: não faz parte das suas competências aplicar e interpretar testes psicométricos. Há que recorrer a meios mais apropriados de medir e avaliar. Tais meios estão ainda por inventar, pois não existem, pelo menos na forma que seria de desejar. Em resmo, no campo da educação afectiva a situação mais comum é a seguinte: por um lado, há que intervir e tentar atingir, de maneira consciente e sistemática, objectivos relacionados com o domínio afectivo. Por outro lado, há que inventar meios e dotar~se de estruturas auxiliares, no plano da prática e da acção educativa: definir com precisão intervenções adequadas e criar instrumentos de avaliação mais bem adaptados aos resultados a alcançar. Com este livro pretendemos oferecer alguns meios e estruturas explicativas para cada uma das fases de intervenção nesta área.
2 1 Os três primeiros capítulos dizem respeito ao domínio específico a abordar pela educação da afectividade na escola. Definem~se os principais termos ou conceitos utilizados e classificam~se os elementos correspondentes. Chegase assim, a pouco e pouco, ao campo das atitudes, das quais se define a natureza e as características, sobretudo o que diz respeito à sua aprendizagem e ensino. A segunda parte do trabalho (capítulos 4 a 7) debruçase, mais especificamente, sobre os meios de ensino das atitudes. Partindo de dois exemplos simples, no capítulo quatro aplicam~se técnicas de ensino adaptadas a situações em que o conteúdo afectivo e a aquisição de atitudes se revestem de relativa importância Nos capítulos cinco, seis e sete retoma~se idêntica preocupação, mas com mais precisão e subtileza: como planificar e realizar uma série de intervenções centradas, explicitamente, no ensino duma atitude na aula. A terceira parte do livro (capítulos oito e nove) aborda a temática da medição e avaliação destas aprendizagens. Em primeiro lugar (capítulo oito), são tratados os problemas práticos da avaliação num contexto de ensino trata~se, pois, de avaliação formativa. Depois são analisados os problemas de avaliação sumativa das aprendizagens afectavas obrigatórias
22 NOÇõES GERAIS Introdução
A escola secundária"' Adolandra leva a cabo, há vários anos, um programa de actividades para~escolares, a fim de motivar os alunos, de tornar mais atraente a vida na escola, de fazer com que os alunos que revelem mais dificuldades adquiram atitudes mais positivas, em relação ao estudo e ao sucesso escolar. Os educadores puderam observar nítidos progressos na assiduidade às aulas, assim como no ambiente da escola em geral. Contudo, a taxa de insucesso continuou muito alta. Porquê? Que fazer? Na escola primária jeunélève, todos os educadores participam, com sucesso, num projecto educativo que procura desenvolver nos alunos atitudes de autonomia e responsabilidade em relação à organização dos seus tempos de estudo. Verificaram~se mudanças no ambiente vivido na escola, bem como no grau de aplicação dos alunos aos trabalhos escolares. Quando se tratou de avaliar, com exactidão, as alterações verificados, sentimos falta de meios e até, muitas vezes, incapacidade para analisar os pontos fortes ou fracos da experiência. Numa escola profissional, Bernardo desenvolve uma série de estratégias pedagógicas para levar os seus alunos a adquirir hábitos elementares de prudência na soldagem. Desejaria, por exemplo, que aplicassem as principais regras de segurança. Mesmo quando os alunos conseguem emprego na indústria local, Bernardo sabe que vários deles, apenas usam de prudência quando estão a ser vigiados e isto desanimado... Que pode ou que deve ele fazer?
(1) Transpondo para o nosso sistema de ensino, são escolas que comportam alunos do 2' e 3' ciclos e do secundário (N. T.).
24 NOÇõES GERAIS Estes três exemplos nada têm de excepcional no meio escolar. ilustram bem a convicção partilhada pelo conjunto dos educadores de que, efectivamente, não se pode imaginar uma educação escolar completa sem a dimensão afectiva. Tal educação deve, pois, incluir a aprendizagem (ou alteração) daquilo que se convencionou chamar características afectavas da personalidade (Anderson, 198 1). Conforme os autores, assim, este conteúdo de formação engloba o saberser ou o sabertornar~se (De Ketele, 1986), atitudes e interesses (Evans, 1965), aprendizagens sócio~afectivas (Barlow, 1987), ou aprendizagens relativas ao domínio afectivo (Krathwohl e outros, 1964). A primeira fase consiste em pôr alguma ordem nas noções relacionadas com o ensino~aprendizagem das características afectavas da personalidade. Eis a razão pela qual definiremos, em poucas palavras, educação escolar, ensino e aprendizagem, abordando sempre o domínio das características afectavas da personalidade que se relacionam com a situação escolar. Uma rápida olhadela a alguns programas oficiais de ensino vai permitir pôr em evidência propostas de conteúdos de natureza afectiva. A própria disparidade dos elementos propostos levarnos~á a definir um tipo de conteúdos efectivos de ensino. Poderseá distinguir assim, mais facilmente, o que compete à educação escolar e o que lhe não diz respeito. Finalmente, uma vez definidos os tipos de conteúdo e as funções de cada interveniente, estabeleceremos com clareza a nossa posição sobre princípios e condições de intervenção na aula.
25 Educação, ensino e aprendizagem A educação é, muitas vezes, definida como um longo processo através do qual a pessoa adquire múltiplos elementos que formam ou transformam a sua personalidade, com o fim de desenvolver potenciais faculdades e tornar~se autónoma (Legendre, 1983:249). A medida que vamos vivendo múltiplas experiências, na escola ou fora dela, estamos sempre em situação de educação, no sentido lato que acabámos de dar à palavra. Contudo, as observações e reflexões que apresentamos a seguir concentram~se, sobretudo, na influência particular da escola e, até mesmo no interior da escola, na aprendizagem ou no desenvolvimento operado na criança, em contacto directo com os conteúdos de ensino indicados nos programas. Em sentido mais restrito, que é o que nos interessa aqui, a educação mobiliza um conjunto complexo de experiências e aprendizagens, planificadas e organizadas de maneira sistemática, com vista a provocar modificações duradouras no comportamento de alguém (Lee, 1971:6): abrange as aprendizagens escolares e visa, ao mesmo tempo, o pleno desenvolvimento do aluno (Legendre, 1983: 213~249; 1988:5 1 0). A educação escolar distingue~se da educação familiar, ou mesmo da educação social, no sentido em que lida com experiências estruturadas mais formalmente e de modo a produzir mais efeito do que as da vida corrente. Através de múltiplos elementos e da aplicação de normas sobre as condições mais aptas a favorecer a aprendizagem, o ensino é o conceito que reúne os factores talvez mais determinantes da educação escolar. Nesta perspectiva, o ensino funciona como local de conciliação das acções educativas entre si. Trata~se dum
processo intencional e, portanto, duma sequência de intervenções realizadas com vista à aprendizagem ou à mudança. O ensino pretende tornar tão eficaz quanto possível o processo educativo, favorecendo ou possibilitando uma aprendizagem mais rápida, mais duradoura e mais facilmente aplicável às diversas situações da vida. 26 NOÇõES GERAIS O ensino é uma operação que tem por fim facilitar a aprendizagem criando, consciente e deliberadamente, condições capazes de produzir os melhores resultados possíveis. Tal operação inclui as situações que suscitam, por exemplo, a motivação para aprender. Estas situações constituem, contudo, apenas uma parte dum processo mais englobante que integra todos os factores pertinentes, inclusive o próprio pessoal docente e o meio. Trata~se assim, pois, dum processo unificado de ajuda total que considera o aluno capaz de aprender por si mesmo, quer determinado conteúdo (enquanto processo e enquanto produto, cognitivo e verbal, consciente e inconsciente) quer a sua aplicação a uma prática ou estilo de vida apropriados. Tudo se organiza no sentido do aluno se tornar, gradualmente, o seu próprio formador, um educador eficaz, e conseguir aprender, depressa e bem, o que pretende aprender (Lee, 1971:48; Lee, 1973:5; Minder, 1983:7). O ensino dirigese, pois, prioritariamente à pessoa do aluno, a quem aprende, enquanto causa última, agente principal e fonte primeira da própria aprendizagem. Ninguém consegue aprender um conteúdo sem o fazer seu, sem se apoderar dele com todo o seu ser, sem o transformar nele próprio. Em situação de ensino, compete a cada qual adaptar as condições e os meios que tornem possível e eficaz a aprendizagem. É por isso que a primeira fase de qualquer
plano de ensino é a identificação das necessidades e, portanto, das aprendizagens a realizar; depois desta fase vem, logo a seguir, a definição dos pré~requisitos e dos objectivos a atingir, a escolha dos métodos eficazes de intervenção e a definição dos meios de medida e avaliação. O diálogo entre ensino e aprendizagem deve ser constante em qualquer processo educativo (Legendre, 1988:229). Antes de prosseguir na apresentação das noções relativas às características afectavas e das fases da correspondente acção didáctica é, sem dúvida, útil dedicar algum tempo à análise dos principais termos da área do ensino. Esta rápida visão, por alto, das actividades pedagógicas, partindo do geral para o específico, ajudará à compreensão das questões (Lee, 1973): 27 COMO ENSINAR ATITUDES
Abordagem pedagógica é a orientação primitiva e fundamental retirada, directamente, da teoria que a inspira. Deste modo, grande número de princípios, conselhos e leis que aparecem ao longo desta obra, inspiram~se na psicologia social. Funda mentalmente, a nossa perspectiva relacionasse mais com a psicossociologia do que com a tecnologia do ensino, apesar de termos, efectivamente, integrado certos aspectos ligados a este último ponto de vista. Estilo de ensino que certos autores apresentam como sendo a atitude do professor na aula (Pelpel, 1984: 40~50) é o modo ou modelo de conjunto que serve de orientação ou que dita ao pessoal docente o sentido que têm os seus actos de ensino é a trama que produz ou inspira o mínimo pormenor de qualquer intervenção. No nosso caso, dado que trabalhamos no domínio afectivo, devemos, dum modo geral, centrar o ensino do aluno no que faz, diz, experimenta e sabe. Eis em que
consiste o estilo principal que associamos a esta categoria de intervenções educativas. O que não deve impedir o educador de adoptar, em determinadas ocasiões, um ou outro dos estilos secundários possíveis, dando especial atenção, por exemplo, aos objectivos ou aos conteúdos. Quer dizer que o seu estilo poderá tornar~se mais didáctico ou pedagógico do que heurístico ou lógico. Estratégia é o plano de conjunto do que se faz na prática, na realidade da actividade de ensinar. Sobre este aspecto utiliza se, habitualmente, uma estratégia sistemática, no sentido em que, sempre que há vantagem nisso, se estabelece um plano de acção a que se obedece aquando da actividade. Além disso, este plano inclui sempre a preocupação explícita pelo do mínio afectivo. Por outro lado, segundo as necessidades de momento, podem aplicar~se outras estratégias tais como comunicação activa, metacognição, pedagogia para a mestria, transmissão de conhecimentos ou a aprendizagem pela des coberta orientada ou não. 28 NOÇõES GERAIS Método é um conjunto de meios, de técnicas ou de actuações que formam um todo, uma unidade táctica. Favorece a obtenção dum objectivo imediato ou de resultados a curto prazo. Indicamos aqui, evidentemente, vários métodos dos quais o principal consiste em fazer interagir os alunos entre si, com os seus educadores ou com as pessoas do meio. O impacto afectivo deste método é geralmente importante, daí insistirmos nele. Referimos também o ensino, se não individualizado pelo menos personalizado, devido à necessidade que há de fazer intervir, sistematicamente, os dinamismos individuais na educação da afectividade. Poderá ainda recorrerse, conforme os conteúdos ou as circunstâncias, aos métodos de resolução de problemas, aos métodos activos, magistrais ou programados (Pelpel, 1986:50~64).
Técnica é uma maneira concreta e específica de estruturar uma situação de ensinoaprendizagem. Há, geralmente, vantagens em variar as técnicas de ensino: continua mesmo a ser um princípio pedagógico importante, quer se trate do domínio afectivo ou de quaisquer outras áreas de ensino. Contudo, pensamos que as técnicas a seguir indicados são de preferir no ensino das características afectavas porque apelam para os recursos pessoais e para a interacção com os outros: experiência pessoal concreta, jogo de faz de conta, testemunho ou exemplo, trabalho de grupo, tomadas de posição em público, círculo mágico, etc. Processo de ensino ou de aprendizagem é um modo de actuar ou um conjunto de actuações que possibilitam que o educador ensine e que o aluno prepare, realize e integre a sua aprendizagem. Estamos a falar de comportamentos como falar, colocar questões, ajudar, fornecer pistas, escrever, exprimir ideias, etc. Os numerosos processos a que se recorre no acto de ensinar ou aprender são os únicos elementos da presente apologia que é possível observar directamente. É, pois, examinando os vários processos do educador, ou do aluno, 29
111111110 COMO ENSINAR ATITUDES
que se podem inferir os elementos mais gerais da apologia, como técnica, método, estratégia, estilo e tipo de abordagem das questões (MEO, 1988:30; Legendre, 1988:153 e seguintes). A análise das definições anteriores ilustra bem o ponto de vista central adoptado neste trabalho: fé na imensa capacidade de aprendizagem da pessoa e, portanto, do aluno. Tal paradigma deriva
da análise e compreensão das alterações exigidas para que alguém se adapte ao seu meio, responda às suas necessidades e aja, de maneira adequada, sobre esse meio que o cerca. Para viver em sociedade, a pessoa deve ser capaz de aprender. Esta perspectiva oferece ao investigador, bem como a quem está comprometido com a prática quotidiana, uma maneira mais clara de encarar as coisas que se adapta particularmente bem às suas expectativas específicas: a explicação da acção escolar educativa e a determinação das acções didácticas eficazes. O ensino só tem sentido se, à partida, se reconhece que o aluno tem possibilidades de aprender. Dum ponto de vista mais global, conceber a pessoa dando primazia à capacidade de aprender engloba, concisa e fielmente, e, portanto, com economia e isomorfismo (Staats, 1975:7~12), várias características essenciais do processo educativo. A capacidade que cada um tem de aprender explica o fenómeno de transmissão, de geração em geração, do que foi sendo progressivamente adquirido por determinada civilização. Esta concepção do homem esclarece bem o fenómeno de enriquecimento progressivo das práticas, experiências e descobertas humanas (COté, 1987:7). Sob este ponto de vista, aprender é a capacidade de realizar qualquer processo de mudança ou de evolução interna, distinto do processo de maturação pessoal. O processo de mudança desencadeia~se a partir do momento em que a pessoa passa a dominar ou modifica a concepção que tem das coisas (produto ou processo). idêntico processo se dá quando a pessoa desenvolve (ou transforma) o seu modo de agir, as suas capacidades psicomotoras ou quando opta por uma resposta afectiva diferente para com objectos, 30 NOÇõES GERAIS pessoas, actividades ou acontecimentos (Côté, 1987:14; Bloorn e outros, 1956; Krathwohl e outros, 1964; Harrow, 1972). Em
qualquer dos casos, quer se trate de formação (aquisição) ou de transformação (mudança), é de aprendizagem que se trata no sentido que aqui lhe damos. É bom recordar que uma aprendizagem deste tipo, uma vez que é definida em termos de mudança interna, não pode ser observada directamente. É uma dedução do observador externo (ou do próprio sujeito) que faz fé nas reacções perceptíveis ou nos comportamentos observáveis que traduzem cada aprendizagem, assim como nos critérios de realização que lhe determinam o grau de correspondência. Deste modo, em situação de ensino, é através da observação dos comportamentos verbais e não verbais do aluno, e tendo em conta a qualidade, a quantidade e a natureza dos comportamentos, que o educador ou educadora deduz e avalia a aprendizados gem realizada. Quando tal se torna necessário ou útil, chega~se a definir, operacionalmente, a aprendizagem efectuada, referindo o nível de realização do aluno. Como se trata de aprendizagem escolar, limita~se a demonstração deste nível de realização à situação escolar. Nunca poderá servir para medir o processo de maturação pessoal ou alterações do meio físico (Côté, 1987:34). O recurso à capacidade de realização abarca tanto a aquisição de conhecimentos (processo e produto) como habilidades motoras e reacções afectivas. Assim, os educadores não podem observar, directamente, a aquisição dum conhecimento ou duma atitude: apenas conseguem observar comportamentos verbais ou não verbais e daí deduzir o correspondente comportamento interno, a aprendizagem do conhecimento ou da atitude. Por outro lado, a distinção em três domínios, cognitivo, psicomotor e afectivo, do conjunto de mudanças internas que podem darse na escola, ou noutro lado qualquer, apenas se justifica por razões de análise. Tal distinção deriva da dificuldade que sentimos em compreender e tratar certas realidades complexas; pelo menos, numa primeira fase, temos necessidade de as examinar como se fossem
31 COMO ENSINAR ATITUDES
distintas entre si. Seria lamentável aplicar à educação uma distinção deste tipo que não tem em conta o facto de toda a acção de ensino ou de aprendizagem constituir um todo. Ressalvado este aspecto, é necessário dedicar grande importância a esta fase de análise da dimensão afectiva, tanto mais que, geralmente, existe em qualquer aprendizagem específica uma dominante, isto é, uma componente com maior importância e que pode conduzir a adaptações particulares na estratégia de ensino (D'Hainaut, 1980:62; Barlow, 1987:78). Mesmo sem esta noção de componente dominante, a atenção dedicada às três componentes da maior parte das mudanças em educação afigurasenos útil; evita certos esquecimentos que não deixam de ter consequências nos resultados de ensino (Krathwohl e outros, 1964:8). Na mesma ordem de ideias, vários programas já trazem, claramente, a distinção entre domínios de aprendizagem e, ora insistem no domínio cognitivo ora no afectivo ou no psicomotor. Para medir a importância e a amplitude da componente afectiva na aprendizagem escolar basta, pois, ter em atenção o conteúdo dos programas oficiais do ensino primário e secundário no Quebeque. É claro que vários objectivos pedagógicos apresentam um conteúdo que se relaciona, total ou parcialmente, com as características afectavas da personalidade dos alunos. Além disso, a grande maioria destes programas foi elaborada ou revista na esteira da publicação do programa de política educativa e plano de acção (em Uécole québécoise, MEO, 1979). De
acordo com os princípios avançados, tais programas deviam ter em consideração valores intelectuais, efectivos, estéticos, socioculturais, morais, espirituais e religiosos (cfr. secções 2.2.1 1 ~2.2.1 7). Deviam, ainda, incluir finalidades relacionadas em particular com autenticidade, abertura ao meio, sentido estético, sentido democrático, espírito de grupo, sentido de esforço, preocupação com a correcção linguística, respeito por si e pelos outros (páginas 27 e 28). 32
1> NOÇõES GERAIS Cada programa deve, pois, ter em conta esta perspectiva de conjunto acrescentando a sua achega particular. Cada um deve contribuir, a seu modo, para alcançar o objectivo global. Na prática, os programas estão de acordo com o que se pretendia em L'école québécoise. Quase todos contêm, de facto, quer finalidades quer objectivos gerais ou até mesmo, mais raramente, objectivos específicos terminais ou intermédios, relacionados directamente com o domínio afectivo. Eis alguns exemplos do que se pretende ou, pelo menos, se aconselha como aprendizagem afectiva, nos programas do primário e secundário, no Quebeque. Não se trata duma enumeração exaustiva, mas duma amostragem susceptível de demonstrar que o ensino dos conteúdos dum programa oficial não fica completo se não incluir certo número de aprendizagens afectavas:
Primário: religião e moral Despertar e motivar o aluno para os principais elementos da actuação moral através da aquisição... de atitudes e aptidões morais. Primário: francês Utilizar a língua... para exprimir os seus sentimentos, gostos e interesse em relação a determinada pessoa, ... para exprimir a sua identidade pessoal, social e nacional. Desenvolver hábitos de compreensão e produção de discursos com carácter informativo. Primário: matemática manifestar interesse pelas actividades matemáticas. Adaptar~se a trabalhar em grupo com eficácia. Primário: formação pessoal e social Desenvolver a capacidade de tomar opções claras e responsáveis, apoiando~se num processo continuo que mergulha as suas raízes no princípio do respeito pela vida. 33 COMO ENSINAR ATITUDES
Secundário: inglês como segunda língua Desenvolver atitudes em relação a uma segunda língua. Desenvolver e manter a motivação. Secundário: biologia humana Maravilhar~se perante a complexidade, fragilidade e harmonia do corpo humano. Empenharse na conservação da saúde. Contribuir para o bem~estar dos outros. integrar o aspecto afectivo da sua própria sexualidade.
Secundário: economia doméstica Adquirir e desenvolver atitudes de moderação na utilização dos recursos disponíveis para a satisfação das diversas necessidades. Secundário: geografia Sensibilizar para o papel de cidadão responsável pelo meio ambiente geográfico. Sensibilizar para as vantagens duma sociedade pluralista. Os programas normais apresentam conteúdos de aprendízagem relacionados com o domínio afectivo: há, pois, características afectavas da personalidade que todos os alunos devem aprender. Esta situação é, além disso, absolutamente pertinente, pois a preocupação pela dimensão afectiva é um elemento importante, até mesmo essencial, da educação em geral e de toda a educação escolar, como pretende a política oficial do Quebeque.
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A J 4í Papel da escola na aprendizagem afectiva A qualidade e eficácia das intervenções, e portanto do ensino, em educação afectiva assentam em grande parte na clarificação do papel dos educadores e da escola nesta área. A confusão que reina actualmente sobre este assunto não facilita muito o desenvolvimento duma estratégia adequada de planificação,
intervenção e avaliação. De facto, a reflexão e a prática continuam a trilhar caminhos sem saída que são, por um lado, organizar debates sobre doutrinação ou condicionamento e, por outro, evitar sistematicamente qualquer acção formal que se relacione com o domínio afectivo na educação escolar. Num caso, contestase o direito de intervenção e noutro, abandonasse ao acaso o cuidado de solucionar o problema, de formar o aluno. Tanto num caso como noutro, a impressão é de que se está a fugir à responsabilidade e que a inacção deriva directamente da falta de precisão por parte de quem tem a responsabilidade de mandar. Quanto à confusão de papéis, é preciso dizer que a imprecisão do discurso oficial explica, em grande parte, o mal~estar dos educadores. Acontece que, em muitos programas, estes se vêem confrontados com toda a espécie de objectivos efectivos: tanto com objectivos de preparação para a vida em sociedade (tolerância, por exemplo) ou para a prática dum ofício (prudência, por exemplo), como com objectivos relativos à situação pedagógica (motivação, por exemplo). Como distinguir, nesta aglomeração de objectivos: 1. Os que englobam toda a existência e que constituem, por isso, aquisições básicas para a pessoa chamada a viver em sociedade? 2. Os necessários para levar a cabo qualquer processo de aprendizagem escolar e que, por isso, constituem um pré ~requisito de toda a educação escolar?
35 COMO ENSINAR ATITUDES
3. Finalmente, os que mais modestamente derivam do conteúdo específico dos programas e condicionam, de algum
modo, a aquisição das aptidões propostas? Como conseguir então, quer em termos de conteúdo quer em termos de nível de apropriação ou de interiorização, traçar a fronteira com limites tão rigorosos quanto possível entre o que é facultativo, o que é desejável e, finalmente, o que é necessário ou prescrito? Tentamos responder a esta questão em particular, levando mais longe a nossa reflexão sobre cada uma das três categorias de características afectavas da personalidade, a que nos referimos antes em termos de objectivos. Umas são encaradas como preparação para a vida, outras orientam~se para a realização eficaz do processo de aprendizagem em si mesmo e outras, finalmente, fazem parte dos conteúdos específicos dos programas. Mesmo a priori compreenderseá que o papel dos educadores e da escola, em relação a cada um destes tipos de aprendizagem afectiva, é bem diferente. A percepção deste papel e a sua interpretação têm um impacto directo sobre o que, consequentemente, se vier a exigir aos que trabalham nesta área. É igualmente fundamental recordar: a dimensão afectiva da educação tem importantes implicações morais e éticas. Importa, pois, que a escola manifeste, claramente, quer os conteúdos que pretende transmitir quer as condições que rodeiam o ensino desses conteúdos. Nesta ordem de ideias, apresentamos a seguir, mais em pormenor, as distinções enunciadas anteriormente. 3. 1. Conteúdo afectivo para a vida em sociedade A primeira categoria de aprendizagens afectavas abrange as características pessoais que permitem viver em sociedade, aceitar o outro, adaptar~se, desenvolver~se, ser autónomo sem deixar de estar integrado (ver, entre outros, Evans, 1965). Esta primeira característica afectiva relacionasse mais com o modo de agir e interagir na vida em geral. Devido à sua importância, à amplitude do seu conteúdo e
36 NOÇõES GERAIS aos meios necessários para as desenvolver satisfatoriamente, a aquisição destas características tanto diz respeito à educação familiar ou social como à educação escolar. De facto, preparar~se para a vida é, sobretudo, preparar~se para enfrentar acontecimentos que, muitas vezes, põem à prova mais os traços efectivos da personalidade do que os conhecimentos ou as aptidões físicas. Na perspectiva da missão geral de formação reservada à escola, a aprendizagem e, portanto, o ensino de elementos efectivos como a aceitação dos outros, a tolerância, a responsabilidade, a solidariedade, seriam, se fosse possível díssociálos, mais importantes do que o ensino e a aprendizagem de elementos cognitivos ou psicomotores. Neste aspecto, é claro que a escola pode agir, mas a sua influência nem é a única nem, sem dúvida, a mais importante. Esta primeira categoria de aprendizagens reúne o conjunto das características afectavas que qualquer criança deve adquirir para dispor duma educação social adequada. O ensino destas características abarca, geralmente, todas as estruturas sociais, incluindo a escola enquanto instituição e o seu projecto educativo como principal elemento. De facto, atitudes como a tolerância para com as pessoas que nos rodeiam são certamente desejáveis para quem é chamado a viver em sociedade. Portanto, a escola terá toda a razão em erigir como prioridade o desenvolvimento desta atitude. Contudo, nada impede que outro estabelecimento de ensino, por se situar num meio menos favorecido, decida trabalhar uma outra atitude igualmente desejável, a solidariedade ou a interajuda, por exemplo. Neste sentido, esta categoria de conteúdos efectivos implica
tanto o conjunto do pessoal da escola como quem ensina na sala de aula. Quer pela amplitude das características da personalidade implicadas quer pela importância de cada uma delas, este conteúdo depende mais da missão da escola no seu conjunto do que dum único responsável pela turma. Por outro lado, por mais desejáveis que sejam estas características, a escola não pode tornar obrigatórias para todos os alunos actividades escolares centradas na sua aquisição, a menos que os tenha avisado e obtido o seu consentimento. 37 Ilo COMO ENSINAR ATITUDES
3.2. Conteúdo afectivo para a aprendizagem escolar As características afectavas do segundo tipo são aquelas que, tal como a perseverança nos trabalhos escolares, favorecem ou torriam mesmo possível a aprendizagem de conteúdos cognitivos ou psicomotores (ver, entre outros WIodkowki, 1985). Estamos a pensar nas atitudes de motivação para o estudo ou de valorização do sucesso escolar, graças às quais o aluno aprende mais e melhor o que vem nos programas. É bem certo que os educadores nunca sobrestimarão de mais o impacto de tais atitudes na educação escolar, particularmente numa época em que a formação escolar já não se dirige apenas a um escol mas a todos os jovens e quando esta formação básica, obrigatória para todos, é de capital importância para o futuro profissional e material de cada um. Que dizer, por exemplo, da situação
vantajosa do aluno que adquiriu uma atitude de controlo, mais interna do que externa, sobre as diversas fases de aprendizagem por que deve passar na escola ou sobre as consequências benéficas dum autoconceito positivo quanto ao sucesso escolar? Todos sabemos até que ponto a ausência destas características afectavas pode comprometer o desenvolvimento cognitivo e psicomotor do aluno. Estes conteúdos efectivos do segundo tipo constituem, de facto, condições necessárias de aprendizagem, poderíamos até dizer, prérequesitos obrigatórios. Quanto a estas características afectavas, o papel das escolas e, mais particularmente, o papel dos educadores devem estar intimamente integrados no próprio processo de aprendizagem. Por exemplo, a redução da ansiedade ou a motivação para a aprendizagem fazem parte do que chamamos conteúdo estrutural o conteúdo inerente à estrutura do ensino e a toda a prática pedagógica. Qualquer pedagogo, ensine ele o que ensinar, tem em conta, nas suas intervenções, este segundo tipo de aprendizagens afectivas; qualquer tratado de didáctica lhe dedica grande parte da sua atenção. Mas não é principalmente deste segundo tipo de conteúdos efectivos que pretendemos tratar, mesmo reconhecendo que 38 NOÇõES CE"S
são essenciais e que estão intimamente ligados aos dois outros tipos, mesmo sabendo que se torna inevitável abordá~los várias vezes directamente, ou pelo menos indirectamente, ao longo da presente reflexão. 3.3. Conteúdo afectivo específico dum programa
O terceiro tipo de aprendizagens afectavas relacionasse directamente com os conteúdos específicos dos programas. A diversos níveis e segundo a própria natureza do que apresentam como aprendizagens, vários conteúdos cognitivos ou psicomotores dos programas estão directa e imediatamente ligados com o domínio das emoções, dos sentimentos, das atitudes, dos valores. Em certos casos, nem sequer se pode falar de domínio real dum programa se não há uma aquisição mínima de conteúdos essencialmente afectivos. Como conceber, por exemplo, a aprendizagem duma língua sem a aquisição do hábito de buscar o termo exacto (atitude de rigor na comunicação), a aprendizagem da matemática sem a aquisição desta mesma atitude de precisão no cálculo, a aprendizagem da ecologia sem uma implicação mínima na conservação do meio, a aprendizagem do ofício de soldador sem a aquisição duma atitude de prudência nos múltiplos gestos que esta arte implica, sem a aplicação habitual das regras de segurança, a aprendizagem da enfermagem sem aprender, para além dos gestos clínicos, comportamentos de comunicação ou de desenvolvimento pessoal? A tal ponto que pode afirmar~se que o terceiro tipo de aprendizagens afectavas faz parte do conteúdo disciplinar específico de cada programa tratase de características afectavas que surgem nos programas como resultados esperados do processo de ensino~aprendizagem. Tais características devem, pois, ser ensinadas e aprendidas, devem ser tidas em consideração quando se trata de precisar a variedade, diversidade, natureza e género das experiências educativas por que se fazem passar os alunos aquando das intervenções pedagógicas. A este terceiro tipo de aprendizagens afectavas devem, por outro lado, corresponder instrumentos adequados de 39 COMO ENSINAR ATITUDES
medida e avaliação dos resultados obtidos, sobretudo quanto ao aspecto qualitativo das características adquiridas pelos alunos. Tratase daquilo a que chamamos conteúdo afectivo formal ou conteúdo substantivo do ensino (por oposição ao segundo tipo que qualificámos como conteúdo estrutural), o que o aluno deve aprender e aquilo que quem ensina deve transmitir. De facto, estas características da personalidade (hábitos, atitudes, aptidões) se não são apresentadas como prescrições são~no, pelo menos, em termos de resultados normais a atingir. Os alunos deverão adquiriIas a fim de satisfazerem as exigências dos programas e para se prepararem adequadamente para as futuras actividades profissionais. Exigem uma intervenção directa e implicam a responsabilidade dos educadores, tanto no acto de ensinar como no momento de avaliar. Nas páginas seguintes, dedicamos especial atenção a este terceiro tipo de aprendizagens afectavas, embora as nossas reflexões se possam aplicar, quase integralmente, aos outros tipos apresentados anteriormente.
40 Posição clara a favor da intervenção no domínio afectivo Vários autores levantam obstáculos à intervenção da escola e seus educadores no domínio afectivo, considerado de âmbito estritamente privado ou religioso. As anteriores reflexões sobre aprendizagem afectiva colocam de maneira directa e decisiva este problema ao mesmo tempo ético e prático, problema abordado sobre vários
aspectos na literatura (Bloom, Maclaus, Hastings, 1981: capítulo 10; Morissette, 1984: capítulo 1 1). Quanto a nós, pensamos que o esforço empreendido para esclarecer os meios de acção só terá sentido e interesse se aceitarmos como ponto prévio que a escola pode produzir aprendizagens afectavas e que tem obrigação de intervir nesse sentido. Resta precisar, relativamente a cada meio social, os limites do possível, do desejável ou do aceitável neste domínio. No fundo, trata~se de reconhecer que a escola pode e deve levar o aluno a adquirir características afectavas no momento em que ele passa por mudanças neste domínio. Existe uma aprendizagem afectiva escolar: através da educação escolar e, portanto, do ensino há (e deve haver) interesses que se desenvolvem, motivações que crescem, mudanças internas afectavas que se operam. Numa palavra, a escola contribui, pelo menos indirectamente, para o desenvolvimento de características afectavas que podem vir a tornar o aluno mais feliz e melhor adaptado à sociedade e podem levá~lo a uma vida profissional mais autónoma. A este respeito, adoptamos nesta obra uma posição bem firme: vale mais ter por objectivo, consciente e explicitamente, a formação da pessoa na sua totalidade, incluindo nessa formação a transformação das características afectavas através de meios válidos, eficazes e pertinentes, do que fugir à questão. É, sobretudo, preferível esta atitude do que mostrar neste domínio uma pseudo~neutralidade. Antes adoptar, publicamente, uma posição pedagógica 41 COMO ENSINAR ATITUDES
sujeita a avaliação e a crítica do que invocar, aliás, muitas
vezes falsamente, a liberdade de ensino num domínio tão decisivo como o afectivo (Bujold, 1982:20). Esta posição parecenos tanto mais razoável quanto, como quase todos os educadores sabem, por experiência, na prática, as suas intervenções, quer verbais quer não verbais, conscientes ou inconscientes, formais ou informais, são totalmente influenciadas pela sua própria cultura, atitudes e valores fundamentais. O que significa que a intervenção no domínio afectivo das atitudes e dos valores atinge sempre, de qualquer modo, o aluno, mas em condições tais que se corre o risco de prejudicar quer o educando quer o educador. As vantagens duma posição clara e explícita são numerosas (Delorme, 1982). Até sob o aspecto da eficácia, optar por uma posição assim constitui, geralmente, uma condição favorável à aprendizagem, pois permite que o aluno passe a ser o agente activo e esclarecido das suas próprias mudanças (Morissette e outros, a publicar). Numa palavra, saber o que se passa na aula e tentar controlar, na medida do possível, as influências e as consequências do que vai acontecendo, é melhor para o ensino, para a aprendizagem e para o aluno.
42 Conclusão A educação escolar das crianças exige a aprendizagem de múltiplos elementos e baseia~se, em grande parte, num ensino apropriado. Entre outros aspectos, este ensino inclui uma dimensão afectiva que merece tanta ou mais atenção que as outras componentes. É desta que nos ocuparemos agora, primeiro no plano teórico e,
depois, no plano prático.
43 DOMíNIO AFECTIVO
.,...
redução, Neste segundo capítulo abordaremos especificamente o objecto principal do nosso estudo, isto é, o domínio afectivo e, mais Precisamente, as características da personalidade enquanto
objectos de ensino e de aprendizagem. Começamos por apresentar uma clarificação das principais noções relacionadas com este domínio. Contudo, tal clarificação apenas diz respeito às noções julgadas mais úteis; não pretendemos nem reunir todas as teorias sobre o assunto nem abordar todas as ideias, muito embora tenham sido da máxima Importância em termos de investigação. Apenas se definirão as expressões utilizadas mais habitualmente pelos autores que tratam o tema da educação afectava pelos educadores preocupados com este domínio da educação, na sua prática quotidiana. Esta rápida panorâmica não pretende ser exaustiva. Tanto mais: que os limites desta obra nos obrigam a restringir a quantidade de expressões analisadas e os pormenores e variedade das análises. Tendo em conta tais limitações, definiremos expressões como afecto, atitude, valor, convicção, interesse, gosto, sentimento, ansiedade, emoção, autoconceito e preferência. Levaremos a cabo a definição destas expressões e será, talvez, este o aspecto original da sua análise relacionandoas umas com as outras, tanto quanto 41 Características afectavas Ultrapassando as variadíssimas definições, interpretações ou tomadas de posição, a maioria dos autores e investigadores que tratam do domínio afectivo admitem que as características afectavas da personalidade possuem os seguintes elementos essenciais (Khan, Weiss, 1973:76 1; Staats, 1975; Ouellet, 1978; Anderson, 198 1): 1. Não são inatas mas adquiridas, de acordo com as experiências e interacções com as pessoas do meio. 2. Uma vez adquiridas, constituem disposições interiores que se traduzem por respostas ou reacções estáveis, favoráveis
ou desfavoráveis, para com certos elementos do meio. 3. Dão origem a manifestações observáveis, as emoções, isto é, respostas ou reacções emotivas internas, positivas ou negativas. Por outras palavras, estão relacionadas com o afecto e, portanto, com o estado de prazer ou desprazer, a disposição afectiva elementar de aceitação ou recusa que alguém possa sentir. Na definição das características afectavas, preferimos o conceito de emoção ao de sentimento para mostrar bem que as respostas ou reacções internas, positivas ou negativas, associadas ao domínio afectivo, podem estar presentes sem que a pessoa dê conta ou esteja consciente de tal. Ora, o conceito de sentimento apenas designa uma reacção emotiva de que a pessoa tem consciência, pelo menos até certo ponto. No contexto escolar, o facto duma característica afectiva poder ser adquirida pelo aluno constitui, evidentemente, condição prévia: o ensino só tem sentido se houver possibilidade de aprendizagem. O facto das características afectavas serem estáveis, uma vez 47 COMO ENSINAR ATITUDES
adquiridas, e das respostas emotivas (a reacção interna, o afecto) associadas a determinadas condições do meio serem constantes e características da pessoa, representando o seu pensamento, convicções e hábitos, mostra bem a dificuldade de qualquer projecto educativo neste campo e, ao mesmo tempo, a importância das mudanças levadas a cabo. Qualquer característica afectiva da personalidade contém, pois, três elementos fundamentais: é adquirida ou alterada pela aprendizagem, implica a presença de respostas ou de reacções
emotivas, positivas ou negativas, e estas respostas emotivas permanecem estáveis, uma vez adquiridas. A estes três elementos essenciais juntam~se outros três que vêm, de algum modo, explicitar as subtilezas das diversas expressões utilizadas nesta área, facilitando a sua compreensão: intensidade, direcção, alvo. Examinemos, um pouco mais pormenorizadamente, cada uma delas. Antes de mais, qualquer característica afectiva da personalidade manifestasse através duma reacção emotiva de grau mais ou menos elevado, isto é, dá origem a uma quantidade maior ou menor de afecto ou de emoção. Em resumo, tem uma intensidade variável. Muitas vezes, esta variação de intensidade da emoção traduzse por alterações fisiológicas, mais ou menos profundas, que podem mesmo medir~se recorrendo, por exemplo, a uma resistência galvânica cutânea (uma GRS: Galvanic Skin Resistance). A reacção ou resposta emotiva associasse a toda e qualquer característica afectiva e toma, além disso, uma determinada direcção observável, graças aos comportamentos verbais ou não verbais da pessoa. Esta direcção é, geralmente, bipolar (positiva ou negativa, agradável ou desagradável); tende a concretizarse em atitudes de aproximação ou repulsa em relação ao objecto que a pessoa diz, então, amar ou detestar, querer ou recusar. Finalmente, a reacção ou resposta emotiva vivida ou experimentada refere~se a um alvo, isto é, está relacionada com algum elemento do meio: pessoa (inclusive a própria), objecto, ideia, actividade ou gosto. 48 DOMÍNIO AFECTIVO
Numa palavra, a definição de característica afectiva contém
os seguintes aspectos: tratase necessariamente duma disposição interior da pessoa que se traduz por um conjunto de reacções emotivas que é assimilado e, depois, experimentado de maneira estável e contínua pela pessoa. Este conjunto de reacções emotivas tem, por outro lado, uma intensidade, uma direcção e um alvo que podem variar conforme os casos. Esta definição leva~nos a recorrer a importantes distinções no que respeita às expressões utilizadas para representar as diferentes características afectavas da personalidade. Na verdade, embora tenham em comum o facto de traduzirem disposições interiores caracterizadas por respostas ou reacções emotivas assimiladas, relativamente estáveis, cada qual se distingue quer pela intensidade das respostas ou das reacções emotivas quer pela orientação dessas respostas, quer pelo alvo visado quer, finalmente, por qualquer combinação destes três elementos. A seguir, vamos aplicar este princípio à definição da maior parte das expressões enumeradas antes, expressões que andam muitas vezes associadas ao domínio afectivo. Para facilitar a apresentação gráfica, recorremos a símbolos cuja equivalência passamos a dar: preferência (P) local (locus) de controlo (L) atitude (A) autoconceito (escolar, geral) (C) valor (convicções) (V) interesse (gosto por) (1) ansiedade (An) As expressões motivação e opinião não se incluem nesta numeração por representarem realidades muito diferentes. Com efeito, a motivação leva à acção. Ora, qualquer característica afectiva compreende uma componente de tendência para a acção. A motivação constitui, pois, uma noção subjacente a todas as expressões enumeradas
antes. 49 COMO ENSINAR ATITUDES
É uma espécie de pré~requisito para a sua descrição. Quanto à opinião, não é mais do que a expressão verbal das características afectivas e, em especial, da atitude. Em relação ao afecto, às emoções, está mais à superfície, mais próxima dos comportamentos observáveisdos comportamentos verbais, bem entendido. intensidade o uso do primeiro elemento variável da definição apresentada antes, isto é, a intensidade da reacção emotiva, possibilita a colocação de cada característica afectiva num determinado ponto dum continuem que vai duma intensidade muito fraca a uma intensidade muito forte. A posição relativa atribuída a cada característica afectiva neste continuum, como se mostra no gráfico a seguir, não representa certamente a opinião unânime dos autores que tratam do assunto. O conjunto traduz, contudo, uma tendência, pelo menos majoritária, na maioria dos casos verificados. fraca forte intensidade intensidade P A c v 1 An 1@@ 1 1 @@ 1 1@@ 1 @@ 1 Por outras palavras, a fazer fé no que se tem escrito sobre o tema, a preferência (P) é a característica afectiva cuja intensidade
emotiva é mais fraca; quanto ao local de controlo (L), gera emoções um pouco maiores, embora ainda fracas. A maioria dos autores associa à noção de atitude (A) uma emoção de intensidade média e à noção de ansiedade (An) a emoção mais forte. Finalmente, é importante notar que vários autores associam à ideia de interesse (1) reacções ou respostas emotivas intensas (Anderson, 1981), embora outros (Krathwohl e outros, 1964), pelo contrário, prefiram associá~la a uma reacção emotiva média, como já o faziam com a noção de atitude. 50 DOMÍNIO AFECTIVO
Direcção O segundo elemento variável de qualquer característica afectiva é a direcção da resposta ou da reacção emotiva experimentada. De facto, a emoção quer seja fraca quer seja forte, tem de tomar necessariamente uma direcção positiva ou negativa: ou é agradável ou é desagradável. É o que se passa com qualquer das características enumeradas antes. Há sempre duas direcções possíveis que tomarão formas diferentes, conforme a natureza e condições da característica afectiva em causa. Se nos orientarmos pelas opiniões, geralmente expressas pelos autores a este respeito, deparamos sempre com uma de duas situações: Característica afectiva Direcção Atitude Favorável vs desfavorável Interesse Interessado vs desinteressado
Valor (convicções) Importante vs fútil Preferência Pelo alvo A vs pelo alvo B Autoconceito Positivo vs negativo Local de controlo Interior vs exterior (aceita vs rejeita a responsabilidade) Ansiedade Descontraído vs tenso Alvo a atingir Seja qual for a intensidade e a direcção da reacção ou da resposta emotiva, esta está sempre relacionada com um alvo, um objecto material ou imaterial (coisa, pessoa, ideia, estrutura social, etc.). Este alvo não é sempre o mesmo: varia conforme as circunstâncias e a característica afectiva. A fazer fé na maioria dos autores que tratam deste assunto, o género de alvos que corresponde, mais frequentemente, às noções que vimos analisando, é o seguinte: Característica afectiva Alvo a atingir Atitude Objectos Interesse (gosto por) Actividades Valor (convicções) Ideias Preferência Objectos, actividades ou ideias Autoconceito O próprio na escola Local de controlo Consequências Ansiedade Qualquer ameaça 5 1 COMO ENSINAR ATITUDES
Em resumo A junção dos vários elementos obtidos nas análises precedentes (intensidade, direcção e alvo das características afectavas) conduznos à síntese que apresentamos no quadro 2. 1. Esta síntese tem a
vantagem de abranger a maior parte das expressões utilizadas habitualmente para tratar do domínio afectivo e de as situar, relativamente umas às outras, sob os aspectos mais pertinentes. Tem, ainda, a vantagem de facilitar a definição de cada expressão, como se verá a seguir. Definição das expressões Há dois aspectos a considerar na definição de cada uma das expressões: por um lado, o que é comum e, por outro, o que é específico. A propósito, convém antes de mais recordar que as expressões utilizadas para designar características afectavas da personalidade traduzem, todas elas, disposições interiores e revelamse através de reacções emotivas assimiladas e, depois, experimentadas de maneira estável ou contínua. O quadro 2.1 reúne os elementos específicos de cada expressão, tanto no aspecto da intensidade como no da direcção e do alvo a atingir. Ficamos, assim, com os elementos necessários para a definição exaustiva de todas as expressões.
52 DOM íNIO AFECTiVO
quadro 2.1 Principais elementos das características afectivas da personalidade"' Característica Intensidade Direcções Alvos a atingir afectiva habitual possíveis
1, Atitude Moderada Favorável Qualquer objecto, actividade ou Desfavorável ideia, mas sobretudo um objecto. 2.Interesse Forte Interessado Qualquer objecto, actividade ou (gosto por, Desinteressado ideia, mas sobretudo uma actividade. tendência, vontade) 3. Valor Forte Importante Qualquer objecto, actividade ou (convicções) Fútil ideia, mas sobretudo uma ideia. 4. Preferência Fraca Alvo A Pares de objectos (A ou B), de Alvo B actividades ou de ideias. 5. Autoconceito Moderado Positivo O próprio, num contexto escolar ou to escolar Forte Negativo de estudo. 6. Local de Moderado interno Consequências dum comportamento controlo Fraco Externo ou actividade. 7. Ansiedade Forte Descontraído Qualquer objecto, actividade ou 1 1 Tenso ideia, entendidos como uma ameaça. (1) Quadro inspirado em Anderson, 1981:41
Inspirados em dados fornecidos pelo quadro 2.1 propomos, a seguir, definições para as três expressões mais correntes, na
teoria como na prática: atitude, interesse e valor. Atitude é uma disposição interior da pessoa que se traduz em reacções emotivas moderadas que são assimiladas e, depois, experimentadas sempre que a pessoa é posta perante um objecto (ideia ou actividade). Estas reacções emotivas levam~na a aproximarse desse objecto (a ser favorável) ou a afastarse dele (a ser desfavorável), 53 COMO ENSINAR ATITUDES
Interesse é uma disposição interior da pessoa que se traduz em fortes reacções emotivas que são assimiladas e depois experimentadas sempre que a pessoa é posta perante uma determinada actividade. Estas reacções emotivas levam~na a aproximarse desse actividade (a interessar~se) ou a afastarse dela (a desinteressarse). Valor é uma disposição interior da pessoa que se traduz em fortes reacções emotivas que são assimiladas e, depois, experimentadas de maneira constante relativamente a uma ideia (às vezes um objecto ou uma actividade). Estas reacções emotivas levam a pessoa a defender essa ideia (a achá~la importante) ou a rejeitá~la (a achá~la fútil ou mesmo inaceitável). Seriam três definições possíveis das expressões de que falámos anteriormente. As características afectavas são, pois, constituídas por emoções estáveis relativamente a um ou vários alvos a atingir (objectos,
actividades, ideias). Deste modo, um aluno pode ter uma atitude positiva em relação à literatura ou ao romance; outro pode manifestar um profundo interesse pelo estudo duma segunda língua, enquanto que um terceiro pode dar grande importância à autonomia ou à disciplina. Nestes três exemplos, as características afectavas (atitude, interesse, valor) referem~se respectivamente a um objecto, a uma actividade e a uma ideia. Ainda que não gozem de unanimidade, estas definições são características duma tendência bem acentuada, tanto em psicologia como em psicometria. Daqui derivam importantes consequências, quer no que respeita às intervenções profissionais quer relativamente ao modo de apreciar os resultados. Com efeito, sabe~se que uma característica afectiva só se pode observar através das suas manifestações. Assim, quando se pretende medir a aquisição duma característica afectiva (atitude, interesse ou valor, por exemplo) tem de se recorrer a escalas concebidas explicitamente para apreciar o nível 54 DOMÍNIO AFECTIVO
das reacções emotivas que lhe correspondem. Eis a razão por que se fala de escalas de atitudes, escalas de valores e grelhas de interesses, para designar instrumentos capazes de medir o nível das reacções emotivas experimentadas relativamente a certos alvos a atingir. Se se aplicam estes conceitos às atitudes, interesses e valores duma pessoa, para os apreciar é preciso ir até ao ponto de medir o nível das reacções emotivas que essa pessoa experimenta em diversas ocasiões. Em situação de ensino, esta maneira de ver não deixa
de apresentar sérias dificuldades, quer quanto à elaboração técnica dos instrumentos de medida quer quanto à preparação profissional dos educadores (Morissette, 1986). Há que procurar outro caminho ou aperfeiçoar este. Abordaremos este problema, mais em pormenor, na segunda parte desta obra.
55 Características afectavas e ensino Sublinhar a importância dum domínio de aprendizagem como o das características afectavas não significa que pretendamos isolá~lo ou fazer dele uma entidade independente dos outros domínios, Os educadores sabem muito bem que revela falta de realismo basear as intervenções pedagógicas, apenas na mudança das reacções emotivas duma pessoa. O ensino implica necessariamente um processo de interacção e de comunicação ao longo do qual todas as componentes da personalidade devem colher benefícios, quer se trate de características afectavas do aluno, dos seus conhecimentos ou comportamentos. Por outro lado, a avaliação dos resultados do ensino ficará incompleta se não tiver em conta os três domínios de aprendizagem: afectivo, cognitivo e psicomotor. Com efeito, a sua função principal é descrever o melhor possível, em termos quantitativos ou qualitativos, uma situação em que estão em acção pessoas na sua globalidade: os alunos. E a necessidade de integrar estes três domínios tornase ainda mais evidente se, em vez de encararmos a avaliação no seu contexto didáctico, a olharmos como suporte do processo de
ensino~aprendizagem. Ao fazer a análise da situação de avaliação das aprendizagens afectavas na aula, mais convencidos ficamos da necessidade de recorrer aos três domínios de aprendizagem, ainda que se dê prioridade ao domínio afectivo. De facto, por um lado, o aluno está em situação de aprendizagem e, portanto, de instabilidade; por outro, o educador procura que as suas intervenções sejam eficazes e pretende obter mudanças com relativa rapidez. Precisa, pois, de multiplicar as ocasiões de observação dos seus alunos; deve usar numerosos instrumentos de medida capazes de apreciar o grau de reacção emotiva dos alunos. E como, geralmente, não é especialista em psicometria, não pode esperar obter grande sucesso das tentativas de criar, aplicar e interpretar escalas de atitudes ou de interesses. Aliás, mesmo supondo que se sentia apto para tal, os instrumentos criados nunca seriam suficientemente sensíveis para apreciar variações 56 DOMÍNIO AFECTIVO
emotivas menores como as obtidas num contexto de ensino. Revela falta de realismo reduzir a apreciação das aprendizagens afectavas na aula à medição do nível de reacção emotiva. Eis a razão por que defendemos que as características afectivas da personalidade sejam consideradas como adquiridas (formadas ou transformadas) em paralelo com os outros domínios (cognitivo e psicomotor) da personalidade. Estamos convencidos que: Se alguém experimenta habitualmente uma reacção ou uma resposta emotiva agradável ou desagradável, mais ou menos forte,
sempre que está perante um objecto, actividade ou ideia, é muito possível que adquira, igualmente, toda uma série de convicções ou de conhecimentos (favoráveis ou desfavoráveis) e de comportamentos (de aproximação ou de afasta mento) em relação a esse objecto, actividade ou ideia. Por outras palavras, a aquisição duma característica afectiva manifestasse essencialmente por alterações nas reacções ou respostas emotivas correspondentes; manifestase também nas modificações de conhecimentos e comportamentos com ela relacionados. o inverso poderá ser igualmente verdadeiro, mas não é esse o nosso objecto de estudo, por agora. Esta observação abre, aliás, amplas perspectivas à didáctica do domínio afectivo, perspectivas que examinaremos mais em pormenor no próximo capítulo. Convém pôr limites a este campo de intervenção. Limites inerentes à missão da escola, ao reduzido nível de recursos em tempo, material e, sobretudo, pessoal que, forçosamente, restringem o número de mudanças que seria razoável pretender. Não se trata, pois, de ensinar todas as características afectavas da personalidade, pelo menos duma maneira formal. Ainda que, idealmente, os educadores pretendam formar alunos efectivamente equilibrados em todos os aspectos (conceito que está ainda por definir), na prática atendem sempre, apenas, a alguns desses aspectos. Os programas já fornecem algumas indicações e apontam também os conteúdos a abordar prioritariamente. 57 COMO ENSINAR ATITUDES
Tais observações levamnos a fixar a atenção no ensino dum conteúdo limitado, tanto horizontal como verticalmente. Quanto aos limites horizontais, já dissemos que é nossa intenção limitarnos aos conteúdos efectivos especificados nos programas oficiais. Quanto aos limites verticais, optamos pelas características afectavas que se manifestam por reacções emotivas de intensidade média, isto é, as atitudes.
58 Método e conteúdo no ensino de atitudes o conjunto do que acabámos de expor é um convite a que nos coloquemos decididamente no quadro de actuação dos educadores: estes pretendem educar o aluno o melhor possível, o mais possível e o mais depressa que puder ser. Tratase, evidentemente, duma situação de interacção, de interdependência e de comunicação entre educadores e alunos. Trata~se da pessoa humana, das suas características e, portanto, de psicologia. Tratase do meio, das características da instituição familiar, escolar ou doutras e, portanto, de sociologia. No fim de contas tudo se resume à junção destas duas disciplinas: psicologia e sociologia. Eis a razão de termos optado por uma perspectiva fundamental, por um método pedagógico principal (embora não exclusivo) que se inspira, em grande parte, na psicossociologia, cujo domínio de estudo é o da interacção (Maisonneuve, 1982:12). O estudo dos factores que influenciam pessoas ou grupos pode fazer~se a vários níveis, assim como há diversas maneiras de explicar as determinantes das acções e das interacções. Assim,
falaremos de níveis ou de teorias sociológicas, psicossociológicas, psicológicas e biológicas. Eis, pois, dum ponto de vista um pouco mais interdisciplinar, a posição que atribuímos à noção de atitude (ver quadro 2.2). Todos os autores (Thomas, Alaphilippe, 1'983:18) reconhecem ao conceito de atitude esta posição central, a meio caminho entre a sociologia e a psicologia (sendo o conceito de atitude essencialmente psicossociológico) daí termos optado por fazer da atitude um objecto formal de ensino.
59
I Quadro 2.2 Limites epistemológicos do conceito de atitude
Nível Principais conceitos Sociológico CULTURA VALORES: fins fixados por cada cultura. Psicossociológico ATITUDES: características que persistem, ainda que não passem a acto na situação real, intermediárias entre a
situação e a resposta do sujeito. Psicológico MOTIVAÇÕES: passam a acto as atitudes em situação real e têm origem nas necessidades e nas atitudes. Biológico NECESSIDADES: forças, estados de tensão que desencadeiam
1 processos homeostáticos. Do ponto de vista do processo de aprendizagem, eis outra maneira de explicar o papel central das atitudes no ensino: para que alguém consiga levar a cabo determinada acção, é preciso que se torne capaz de o fazer e, portanto, que ponha em prática as suas aptidões. É, ainda, necessário que sinta desejo de o fazer e que desenvolva a atitude que o leve a fazer essa acção duma maneira constante. As aptidões intelectuais ou motoras, apesar de transformadas em capacidades no decurso da aprendizagem (Gagné, 1975), só se concretizam ou exercem se as atitudes lhes fornecerem a força ou dinamismo que levem a pessoa a comportarse desse modo. Assim, nem sequer o aluno mais dotado prestará atenção a alguém que o traumatizou e, talvez até, nem consiga levar a cabo tarefas consideradas simples. Apesar de bem planificada, a aprendizagem real duma atitude é complexa e exige, geralmente, um período de ensino superior àquele de que dispõem os educadores. Certas mudanças afectavas são difíceis de conseguir e de avaliar, um pouco como as do domínio cognitivo que se referem a aptidões complexas como a análise, síntese ou avaliação. Considerando ainda que é difícil definir atitudes 60
no plano conceptual e operacional, o peso e complexidade da
tarefa podem provocar algumas desistências. A tentação de evitar a questão é tanto mais forte quanto os opositores não cessam de apresentar argumentos convincentes, pelo menos à primeira vista. Objectam que as aprendizagens afectivas não se podem observar ou medir directamente, que o educador nunca sabe a quantas anda, que o domínio das atitudes pertence ao foro íntimo e que se deve deixar o aluno livre para tomar as suas decisões. Tais argumentos podem encontrar eco favorável sobretudo porque parecem funcionar como justificação para fugir ao aspecto, talvez mais exigente, da profissão de educador. Convém recordar que se certos objectivos efectivos, assim como determinados objectivos cognitivos, levam muito tempo a atingir, há outros, porém, que se atingem rapidamente. Basta que o educador escolha um objectivo mais adaptado e que o torne pedagogicamente aceitável. Mais uma vez, para saber ensinar atitudes é preciso ter conhecimentos tanto no domínio da aprendizagem como no das atitudes.
61 Conclusão No ensino~aprendizagem há vantagem em passar duma perspectiva psicológica das características afectavas da personalidade para uma perspectiva psicossociológica. Os conceitos desta perspectiva adaptamse melhor ao contexto pedagógico da interacção e da comunicação, contexto em que os factores ligados às estruturas
da sociedade ou do meio estão omnipresentes e em que os factores estritamente escolares não aparecem isolados. Aliás, o conceito de atitude é central: é o que melhor corresponde às exigências da situação e aos diversos tipos de aprendizagem apresentados no primeiro capítulo e, em especial, ao terceiro tipo de aprendizagem afectiva que aparece, geralmente, nos programas de ensino. Após definir o campo específico das características afectavas da personalidade que pode ser ensinado na escola, isto é, o das atitudes, pensamos agora que uma definição clara, precisa e que revele as diferentes subtilezas do conceito de atitude, será a chave duma boa compreensão e duma intervenção adaptada à sua aquisição. De facto, torna~se necessária uma definição desse tipo: 1. Para ajustar, em conformidade, a planificação pedagógica e a estratégia de ensino; 2. Para aperfeiçoar meios de aprendizagem pertinentes e eficazes; 1 3. Para escolher instrumentos de medida que correspondam às necessidades reais; 4. Para discernir as qualidades técnicas desses instrumentos; 5. Para interpretar e compreender os resultados obtidos em termos de aprendizagem. No próximo capítulo, pretendemos abordar o conceito de atitude na perspectiva do ensino e da aprendizagem. 62 ATITUDES
4d Introdução Embora optando por limitar o campo da nossa reflexão à aprendizagem e ao ensino de atitudes, não conseguimos, mesmo assim, diminuirlhe a extensão nem fazer com que os problemas a resolver deixassem de ser numerosos. Tornase ainda necessário examinar, em primeiro lugar, a natureza e as características das atitudes sob o ponto de vista que nos interessa, isto é, o da sua aquisição ou transformação em contexto escolar. Será assim mais fácil, nos capítulos seguintes, propor certos modelos de planificação e de intervenção em ensino~aprendizagem, bem como certos meios de avaliação de resultados que melhor se adaptem a este contexto. Numa primeira fase estabeleceremos uma relaçãofuncional entre, por um lado, as atitudes que se situam logicamente no domínio afectivo e, por outro lado, os conhecimentos e aptidões psicomotoras que constituem os dois outros domínios das aprendizagens escolares. Numa segunda fase apresentaremos, mais pormenorizadamente, a noção de atitude e o campo que abrange em educação escolar. Aqui adoptaremos uma estratégia muito particular que nos fará chegar, mais rapidamente, às consequências práticas do ensino de atitudes, sem deixar de fazer, sobretudo na última parte do capítulo, uma breve incursão na área dos modelos teóricos que servem de suporte a este plano.
64 Extensão do conceito de atitude No capítulo anterior propusemos a seguinte definição do conceito de atitude:
Atitude é uma disposição interior da pessoa que se traduz em reacções emotivas moderadas que são assimiladas e, depois, experimentadas sem pre que a pessoa é posta perante um objecto (ideia ou actividade). Estas reacções emotivas levamna a aproximar~se desse objecto (a ser favorável) ou a afastar~se dele (a ser desfavorável). Em contexto escolar afigurasenos útil e até necessário enriquecer esta noção de atitude, associandolhe elementos cognitivos e psicomotores pertinentes. Quer se trate do aspecto aprendizagem (é o aluno que é tido em consideração) quer do aspecto ensino (são, sobretudo, os educadores que estão em causa), não se consegue desenvolver uma atitude sem que sejam adquiridos, ou pelo menos influenciados, alguns conhecimentos sob a forma de convicções ou de crenças, por exemplo, e comportamentos de aceitação ou recusa. Nesta perspectiva, o educador que deseje desenvolver nos seus alunos uma atitude favorável às plantas, dispõe de vários meios de intervenção. De facto, pode fazer com que adquiram toda uma variedade de conhecimentos capazes de influenciar as suas convicções (demonstrando, por exemplo, o contributo das plantas para a vida de cada um de nós); pode, igualmente, levá~los a tomar certo número de posições, a adquirir eventuais hábitos em relação às plantas e pode, finalmente, facilitar a realização de experiências personalizadas em que intervenham emoções ou sentimentos adequados, agradáveis ou desagradáveis, conforme os objectivos a atingir (jogos de grupo ou actividades do tipo círculo mágico, com base em comportamentos relacionados com o meio, por exemplo). Em resumo, a experiência mostra que, para ensinar uma atitude, o educador pode seguir as vias afectiva, cognitiva e psicomotora. 65
COMO ENSINAR ATITUDES Esta observação levanos de novo ao princípio formulado no final do capítulo anterior e que aplicámos, então, ao conjunto das características afectavas da personalidade. Agora, reformulado, vamos aplicá~lo integralmente ao caso particular da atitude: Se alguém experimenta, habitualmente, uma reacção ou uma resposta emotiva moderada, agradável ou desagradável, sempre que está perante um objecto (por outras palavras, se tem uma atitude positiva ou negativa, relativamente a determinado alvo a atingir), é muito provável que tenha adquirido ou adquira, igualmente, um conjunto de conhecimentos ou de convicções (favoráveis ou desfavoráveis) e um conjunto de comportamentos ou de hábitos (de aceitação ou recusa) em relação a esse objecto. Este princípio representa, a seu modo, o que é admitido quase por unanimidade: a atitude subdividese em três componentes afectiva, cognitiva e comportamental ou conativa (Wittig, 1979:304). É por isso que, nos textos seguintes, abordaremos em paralelo os elementos dos três domínios de aprendizagem cognitivo, psicomotor e afectivo que se desenvolvem em conjunto sempre que se dá a formação ou transformação duma atitude, sempre que há aprendizagem de atitudes.' Em termos de prática pedagógica, o que acabamos de afirmar significa que a aprendizagem duma atitude na aula se manifesta, essencialmente, por mudanças nas reacções e nas respostas emotivas dos alunos. Também se revela nas modificações de conhecimentos e de aptidões instrumentais associadas a essas reacções emotivas. No plano didáctico, se o educador pretender que os seus alunos
adquiram determinada atitude (o hábito de colaborar com os outros, por exemplo), a sua área de intervenção deverá abranger, pois, as três componentes. De facto, há logo a possibilidade de fazer com que experimentem novas emoções (alegria de enfrentar o desafio, de fazer parte dum grupo, por exemplo). É possível, igualmente, fazer com que adquiram novos conhecimentos ou novas convicções (as vantagens de colaborar com qualquer tipo de sociedade, por exemplo); há, finalmente, a possibilidade de tentar novas actuações 66
Si ATITUDES em relação à atitude a alcançar (actos concretos de colaboração na aula, por exemplo). Este alargamento da noção de atitude é muito benéfico, sobretudo no ensino. Permite ampliar o campo das estratégias ou dos métodos de intervenção que se podem aplicar.
67 Algumas reflexões sobre o conceito de atitude
Os limites desta obra não permitem apresentar aqui uma visão pormenorizada das teorias já elaboradas (Kiesler, Collins, Miller, 1969; Lamarche, 1979; Thomas Alaphilippe, 1983) e das investigações feitas sobre a aprendizagem de atitudes (Khan, Weiss, 1973). Limitamo~nos a formular conjuntos de princípios (alguns autores chamar~lhes~iam posições assumidas (Ouellet, 1981) ou postulados) que fazem a síntese de várias teorias e investigações, pondo em relevo as características essenciais da aprendizagem e do ensino de atitudes. Tais princípios têm em conta numerosas reflexões, observações e experimentações. Merecem a nossa atenção e terão, certamente, utilidade quando se tratar de seleccionar, planificar e adaptar os meios de intervenção na aula. O leitor interessado poderá levar mais longe a sua leitura, recorrendo às fontes. 3. 1. Dez afirmações que muito nos esclarecem sobre atitudes James Michael Lee escreveu uma obra monumental em que aplica à situação de ensino~aprendizagem a maior parte das ideias importantes desenvolvidas, de há vários decénios a esta parte, em psicologia social. Apesar de o ter feito tendo em conta explicitamente uma disciplina ou matéria específica, várias das suas considerações podem aplicarse directamente à aprendizagem dos conteúdos de quase todos os programas, incluindo a aprendizagem daquilo que ele próprio chama conteúdos substantivos (intimamente relacionados com a disciplina ensinada) relativos às atitudes. Eis os princípios que formula após um estudo muito pormenorizado do que se escreveu a este respeito (Lee, 1973:60~ 148). A maior parte das pessoas com experiência verificarão que estes princípios se aplicam directamente ao que se passa em qualquer aula comum 68
ATITUDES
e ao modo de conceber e realizar, por exemplo, as interacções pedagógicas baseadas na aprendizagem de atitudes. A maioria dos investigadores, por seu lado, verificarão bem depressa que tais princípios sintetizam, efectivamente, a sua maneira de pensar. @ 1. A vida familiar na primeira infância bem como as experiências vividas constituem as variáveis mais fortes, profundas e duradouras que influenciam virtualmente todas as fases da aprendizagem da pessoa. 2. O meio particular em que a pessoa se desenvolve, cresce, vai amadurecendo e interagindo, exerce uma influência extremamente forte na sua aprendizagem (a ponto de haver aprendizagens adequadas, feitas na escola, que são anuladas pela acção neutra ou negativa da família: Hill, Lehner, 1980:2). 3. O carácter espontâneo e fugaz, a qualidade, a maneira como é elaborada ou a composição da experiência da pessoa, influenciam, em grande parte, a riqueza, alcance e duração da aprendizagem. 4. A percepção do significado ou da razão de ser duma aprendizagem, por parte de quem aprende, contribui muito para atingir os objectivos pretendidos com essa aprendizagem. 5. O tipo de recompensa obtida pelos exercícios relacionados com uma dada experiência determina, em grande parte, que a recordemos por muito tempo ou que a esqueçamos.
6. A necessidade de sucesso ou realização pessoal é factor importante para determinar a quantidade, qualidade e profundidade daquilo que aprende. 7. O sentimento ou emoção é uma variável muito importante que produz resultados de aprendizagem dum alcance, profundidade e grau de adaptação muito grandes, quer se trate dum conteúdo específico (terceiro tipo de aprendizagens, por exemplo: ver capítulo 1) quer dum factor que faça parte da interacção global entre o sujeito que aprende e as pessoas, objectos e símbolos do seu meio (segundo tipo de aprendizagens, por exemplo). 69 COMO ENSINAR ATITUDES
8. O conjunto de atitudes adquiridas por alguém determina, em grande parte, o que virá ou não virá a aprender. 9. O desenvolvimento de alguém num determinado domínio para Lee é o desenvolvimento moral e religioso anda inextrincavelmente ligado e associado ao processo global de aprendizagem e desenvolvimento da pessoa humana. 10. As transferências de aprendizagem constituem, a médio e a longo prazo, o resultado mais importante do ensino, quer se façam de maneira estruturada ou não.
3.2. As atitudes aprendem~se e ensinamse Numa obra em que trata da acção pedagógica e que tem por
objecto as atitudes e os interesses, K. M. Evans (19,65:9~26, 95~104) aborda estas características afectavas da personalidade, referindose não aos conteúdos explícitos, e já operacionalizados, dos programas escolares (terceiro tipo de aprendizagens, ver capítulo 1), mas às aprendizagens de ordem mais geral. De facto, aborda aquilo a que nos referíamos no primeiro capítulo, ao falar de elementos do primeiro tipo de aprendizagens, ou seja, elementos efectivos que entram na constituição de qualquer personalidade adaptada à vida social e pessoal. As suas reflexões podem, muitas vezes, aplicarse directamente à questão que nos interessa. Eis, pois, também sobre a forma de princípios, acrescidos de breves comentários, um resumo muito parcial do seu pensamento. 1. As atitudes e os interesses aprendem~se. As atitudes e os interesses adquirem uma forma que não é determinada à nascença, mas que depende do meio em que a criança vive e cresce, assim como do modo como é tratada. O prémio atribuído pela família ou qualquer outra sociedade, aos que revelem atitudes que mereçam a aprovação social, tem um papel fundamental no processo de aquisição dessas atitudes. 70 ATITUDES
Parece que condicionamento, sugestão e imitação são os três processos segundo os quais as atitudes e interesses podem ser aprendidos e desenvolvidos, quer se trate de os inculcar ou de os modificar. Observam~se estes três processos em acção, sob a forma de interacção, tanto na escola como na família ou num meio social mais alargado. 2. Estas aprendizagens são essenciais. Será difícil exagerar a influência das atitudes e interesses
na vida das pessoas. São as suas atitudes e interesses que decidem aquilo de que a pessoa irá gostar ou o que irá de testar, o que fará ou dirá nesta ou naquela circunstância particular, a maneira como se relacionará com os outros ou como irá reagir aos acontecimentos que surgirem na sua vida ou no mundo que a rodeia. 3. As atitudes e interesses desempenham um papel importante. Através da expressão das atitudes e interesses duma pessoa conseguimos ficar a conhecer a sua personalidade é o meio da pessoa se identificar com um grupo e de se fazer aceitar. Um processo económico de se adaptar às múltiplas circunstâncias da vida que, doutro modo, polarizariam toda a consciência. Entre todas as atitudes a que cada qual revela para consigo próprio é, sem dúvida, a mais importante, por ser a fonte das restantes. Por outro lado, as atitudes e interesses que fazem parte da vida em grupo têm grande importância, pois o seu impacto é, muitas vezes, multiplica do de acordo com as circunstâncias em que se manifestam. Todos os implicados na educação escolar devem conhecer as atitudes e os interesses dos alunos. 4. As atitudes e interesses devem ser ensinados. Numa comunidade com atitudes e interesses bem defini dos e determinados, se se deixarem as crianças entregues a si mesmas, se não as incitarmos a agir em conformidade com essas atitudes e esses interesses, não conseguiremos, por certo, fazer com que os adoptem. O mais certo é que fiquem sem nenhum sistema de atitudes ou de valores, 71
OF COMO ENSINAR ATITUDES
como ponto de referência para orientarem a sua actuação ou para julgarem as suas ideias. Atitudes e interesses devem aprenderse e ensinar~se. Uma sociedade totalmente per missiva acaba por não fornecer elementos que são absolutamente indispensáveis a uma educação de sucesso. Por permitir tudo, somos levados a pensar que não dá valor a nenhuma atitude ou interesse em particular e que não deseja que as crianças adoptem comportamentos que correspondam a valores privilegiados socialmente. É uma sociedade onde reina a anomia. 3.3. Comentário preliminar Estas catorze afirmações contêm vários princípios ou regras que podem guiar a acção pedagógica dos educadores no domínio das atitudes. Voltaremos a este assunto. Por agora, basta chamar a atenção para uma evidência a que autores como Lee e Evans recorrem com insistência: é tão importante fazer com que os alunos adquiram atitudes como é importante ter em conta, aquando duma aprendizagem, as atitudes já anteriormente adquiridas. Mas para já, antes de nos embrenharmos demasiado em aplicações práticas, fixemos de novo a atenção sobre aquela ideia de princípios e regras que servem de guia para a acção e, em particular, sobre os modelos teóricos que traçam as principais linhas de força do presente processo.
72 Teoria e prática
Como já tivemos ocasião de assinalar, as teorias sobre atitudes não serão apresentadas em pormenor nesta obra, quanto mais não seja, por serem bastante numerosas: teorias behavioristas, teorias cognitivistas, teorias da aprendizagem, teorias da consistência cognitiva (equilíbrio, dissonância cognitiva ou atribuição), teorias de estima~valor, teorias das três componentes distintas, teorias funcionais, sem contar com as teorias psicanalíticas, etnográficas e outras. Não quer dizer, de maneira nenhuma, que não possamos recorrer a uma ou outra destas teorias, a formas específicas de explicar os fenómenos pedagógicos, a determinada filosofia da aprendizagem e do ensino e, portanto, a valores e normas em que se baseia a nossa concepção de pessoa ou de sociedade, e que influenciam as nossas escolhas estratégicas e inspiram a maior parte das nossas acções concretas. Aliás, numerosas e variadas experiências demonstram à evidência que os modelos teóricos intervêm, frequentemente, na conduta das pessoas. Assim sendo, basta referir o modelo de concepção de programas, mais geralmente conhecido e aplicado entre nós, isto é, aquele que recorre a objectivos operacionais (Tyler, 1949, 1986; ver, a propósito, Dassa e outros, 1987:8388). A fim de alcançar as finalidades e metas de qualquer programa de ensino, este modelo recomenda especialmente o recurso a três fontes essenciais (as necessidades da clientela a atingir, o ponto de vista dos especialistas no assunto e as expectativas da sociedade). Este modelo preconiza, além disso, a selecção das finalidades e metas dos programas, à luz duma filosofia explícita da educação e duma concepção de aprendizagem aceite e compreendida pelo meio. Realmente, estejam ou não educadores e educadoras
conscientes disso, o conjunto de actos pedagógicos que protagonizam, as estratégias de intervenção e recursos didácticos a que recorrem, as sequências e conteúdos de ensino que adoptam, derivam da sua 73 COMO ENSINAR ATITUDES
própria concepção de aluno, de ensino, de inteligência ou de personalidade. Mesmo os mais refractários a qualquer aspecto teórico nem por isso deixam de referir~se aos seus valores, princípios ou conceitos quando, nas suas acções pontuais ou afirmações, chega a altura de fazer opções. Surgirão educadores a afirmar que a teoria nada tem a ver com a prática de ensino ou que há uma distância enorme entre teoria e prática e que, em sua opinião, a questão não está em aplicar determinada estratégia de intervenção relacionada com este ou aquele modo de influência. Mas são estes mesmos educadores a demonstrar, pelos seus comportamentos verbais ou não verbais, que na prática adoptam princípios e modelos teóricos ou, até mais, que a vida os levou a definir teorias e filosofias pessoais. Deste modo, ouvimo~los afirmar muitas vezes, referindose inconscientemente aos seus modelos teóricos, que os alunos não são, por natureza, amigos de trabalhar e que é preciso obrigálos à força ou pela persuasão, etc. Tal atitude de rejeição dos postulados ou modelos teóricos que inspiram a prática torna~se ainda mais nefasta, porque isola o educador dos dinamismos e fontes reais da sua acção. Cada vez mais os educadores se convencem da importância de reflectir sobre o significado da sua prática diária, sobre os valores e princípios que orientam essa prática (por exemplo, sobre o que alguns autores chamam paradigmas em educação: Bertrand, Valois,
1981; Legendre, 1983). Actualmente, surge por toda a Europa um movimento de reflexão, no meio escolar, insistindo precisamente na necessidade dos educadores teorizarem a sua prática, fazendo~a derivar de generalizações capazes de a exprimir conceptualmente, moralmente e socialmente (Delorme, 1986:228, 229). Esta iniciativa dá grande relevo e importância ao facto dos educadores examinarem, ao nível dos valores, das atitudes e do pensamento pessoal (filosofia de vida), as fontes da sua própria acção pedagógica. Pouco importa que o modelo utilizado para realizar esta teorização seja este ou aquele em particular, que se recorra, por exemplo, ao modelo de representação social mais espalhado na Europa francófona, 74 ATITUDES
ou que se opte pelo modelo behaviorista, mais conhecido na América do Norte, ou que se utilize o modelo da psicologia genética ou da psicologia social. O que, sobretudo, importa é que o modelo apareça duma maneira explícita, revelando as suas virtualidades e fraquezas quando analisado criticamente. As tomadas de posição que vamos assumindo ao longo da nossa exposição, as opções pedagógicas e didácticas, as opções quanto às acções a desenvolver baseiamse, efectivamente, num conjunto de modelos teóricos de importância variável. Nos parágrafos seguintes iremos apresentálos resumidamente, por vezes enumerálos apenas, começando por aqueles que abrangem a globalidade do nosso ponto de vista sobre a aprendizagem de atitudes, até chegar aos que nos possibilitam a operacionalização desse ponto de vista. 4. 1. Modelo teórico global
Quando se trata de abordar a aprendizagem de atitudes, no seu conjunto, há um certo número de princípios gerais mais complexos e englobantes que servem de pano de fundo, no sentido em que fornecem pontos de referência mais bem documentados e, sobretudo, melhor estruturados. Tratase, neste caso, de princípios que têm em consideração, por exemplo, o facto do ensino ser essencialmente interacção entre alguém que aprende e alguém que ajuda a aprender. Os princípios para que apelamos, ao longo desta obra, situamse numa óptica intervencionista e desenvolvimentista. De facto, estamos convencidos de que, para ensinar atitudes, é necessário recorrer à aplicação de normas dum modelo pedagógico que inclua intervenções sistematizadas, e é necessário poder dispor do poder esclarecedor duma estrutura que descreva o desenvolvimento afectivo da criança. O nosso modelo teórico baseia~se na convicção de que a pessoa humana é dotada de grande capacidade de aprender, de adquirir novas séries de conhecimentos, emoções ou motivações e aptidões 75 COMO ENSINAR ATITUDES
instrumentais. Como núcleo central desta capacidade surgem as atitudes que, uma vez adquiridas, se transformam em recursos importantes para a aquisição doutras séries de aprendizagens: as atitudes possibilitam ou, pelo menos, favorecem todas as aprendizagens subsequentes. Ainda na perspectiva do nosso modelo teórico, as atitudes não são inatas mas aprendem~se. Através de múltiplas experiências, a pessoa aprende a sentir emoções positivas ou negativas conforme
os objectos, actividades ou ideias com que é confrontada e segundo as condições destas interacções (Voyer e Leduc, 1984:413). Como consequência, estas atitudes determinam, em parte, não só a aquisição de novas respostas emotivas e, portanto, a aquisição de novas atitudes, mas também a aquisição de novos conhecimentos e aptidões. Para compreender melhor o ensino e aprendizagem de atitudes é preciso, antes de mais, pensar nas atitudes em termos de efeitos e, portanto, de respostas emotivas adquiridas em virtude das interacções vividas pela pessoa e das condições do meio. É preciso, também, pensar nas atitudes em termos de causas, ou seja, há que encarálas como condições que podem influenciar toda a aprendizagem subsequente. Por outras palavras, educador que não tenha em consideração, aquando da sua intervenção junto do aluno, as atitudes já anteriormente adquiridas por este, viola, na perspectiva deste modelo teórico, um princípio básico de toda e qualquer aprendizagem de atitudes. Porém, esquecimentos destes são, na prática, muito frequentes. Por outro lado, as atitudes duma pessoa, a sua reserva de emoções e motivações desenvolvemse, em geral, gradualmente, por um processo hierárquico e cumulativo, através de interacções adequadas com o meio, sobretudo o meio social. As interacções sociais desempenham, pois, um papel importantíssimo, tanto na aquisição, como na transformação destas reservas de emoções e motivações. O educador que não tenha em conta o meio em que vivem os seus alunos, as experiências de carácter social, não pode esperar que o seu ensino seja eficaz. 76 ATITUDES
E que, uma vez adquirido, o sistema de emoções e motivações duma pessoa constitui, em combinação com as condições exteriores, sociais ou outras, o factor mais importante a ter em conta, quando se trata de explicar por que razão essa pessoa aprende ou não novas atitudes, novos conhecimentos ou novas aptidões. 4.2. Alguns modelos secundários Dito isto, é de referir que há muitos outros modelos mais modestos que inspiram esta ou aquela parte ou fase das operações de ensinoaprendizagem de atitudes. Assim, por exemplo, aplicamos um modelo de planificação por dedução~indução (capítulo 5) e uma taxonomia do domínio afectivo (Krathwohl e outros, 1964) quando se trata de conceber um plano a médio e a longo prazo ou de preparar rapidamente interacções sobre atitudes. Atemo~nos às leis e princípios da comunicação eficaz, do condicionamento clássico ou instrumental, da aprendizagem social e da participação activa, na escolha das estratégias e dos métodos pedagógicos mais eficazes. Finalmente, quanto à avaliação de programas e de aprendizagens, recorremos ao modelo de avaliação formativa (Morissette, 1984; Scallon, 1988), com definição de domínio (Auger, Fréchette, 1984, 1988) pela técnica dos objectivos específicos finais e intermédios e com avaliação criterial das aprendizagens afectavas (MEO, 1986). Os elementos essenciais destes modelos teóricos ou técnicos serão apresentados à medida que for sendo necessário. Por agora bastará recordar que a maior parte dos actos deliberados e decisões inspiramse num ou em vários modelos teóricos ou numa filosofia de vida que é de extrema importância conhecer e compreender, quer se pretenda agir em conformidade com essa teoria quer se opte por pô~la em questão. Não há nada mais útil à acção e em especial à acção pedagógica do que um modelo teórico, de cujas virtualidades e fraquezas se tenha perfeita consciência.
77
J k Conclusão Sejam quais forem os modelos teóricos em que se inspire a estratégia de ensino de atitudes (ou até mesmo a recusa de as ensinar), é essencial conhecê~los bem e definir, muito bem, as virtualidades e fraquezas de cada um a fim de, na prática, retirar daí todas as consequências e potencialidades. Fundamentalmente, a nossa concepção de atitudes está directamente relacionada com a psicologia social e, mais especifica mente, com os valores, conceitos e princípios do behaviorismo para dogmático, além doutros, onde pontifica a ideia de que as atitudes se aprendem, especialmente graças à intervenção social e de que, uma vez adquiridas, se tornam um factor importante, capaz de influenciar toda a aprendizagem subsequente. Há duas componentes que estão no centro da reflexão sobre o ensino de atitudes, e que é preciso examinar atentamente em si próprias e nas suas interacções: os estímulos, sobretudo sociais, derivados do meio (principalmente da situação pedagógica, no nosso caso) e as características, sobretudo afectavas, da personalidade do aluno.
78 Kw DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
Al Introdução Definimos nos primeiros capítulos as principais características do método de ensino que pretendemos utilizar no ensino de atitudes: trata~se duma abordagem sistemática e explícita que se inspira, principalmente, nos princípios da psicologia social. Abordagem em que quem ensina se propõe, consciente e formalmente, fazer com que o aluno adquira um conteúdo afectivo explícito traduzido em atitudes. Estas exprimemse através de reacções emotivas, adquiridas de novo ou transformadas. Fixámos a atenção em três tipos de atitudes que se observam, geralmente, em contexto escolar. Em primeiro lugar, há atitudes que andam associadas à conduta social das pessoas e que se relacionam com o modo de vida na escola ou noutro lugar qualquer. Há também atitudes que se relacionam com o modo de reagir em situações de aprendizagem na aula. Há, finalmente, atitudes que dependem do conteúdo específico dos programas de ensino e que constituem, por isso, o alvo principal das nossas reflexões. Embora mais atentos às atitudes e, portanto, às
manifestações emotivas moderadas, quando se trata de intervir na aula, devemos ter em conta os outros domínios de aprendizagem, as chamadas três componentes de qualquer atitude: o afecto e a emoção, com certeza, mas também o aspecto cognitivo e comportamental. Apoiados em princípios de actuação já enunciados, dispomos dos elementos básicos necessários para tratar dos problemas concretos da intervenção. Deste modo, podemos responder adequadamente às duas questões seguintes: como actuar, na aula, para fazer com que os alunos adquiram atitudes e como avaliar os resultados obtidos? Neste capítulo, em vez de abordar teoricamente estas duas questões, apresentamos dois exemplos concretos, dos quais retiramos lições adequadas, ainda que estes não possam generalizar~se sem algumas adaptações. Nos capítulos seguintes voltaremos a estas duas questões para as analisar mais profundamente e responderlhes duma maneira mais completa. Trataremos, então, em especial da planificação, realização e avaliação das interacções relacionadas com as situações. 80 DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
Primeiro exemplo: ensino do francês Jacinta ensina francês a alunos do terceiro ano do secundário (cerca de 14 anos)"'. Tendo em atenção as noções que fazem parte dos conteúdos programáticos incluiu, no seu ensino normal, a preparação e realização duma comunicação oral. Cada aluno tem de apresentar, na aula, um texto curto, previamente redigido, sobre uma experiência de Física. A preparação do texto é feita em trabalho de grupo, sendo cada grupo formado por quatro alunos.
o problema é o seguinte: Jacinta dá grande importância à qualidade da pronúncia; contudo, tem observado em vários alunos, pouco empenho a nível do uso dos "d" e dos "t". Para a maior parte dos alunos, o grande obstáculo à progressão é o medo de se exporem à chacota dos colegas. É que os alunos deste meio social consideram uma atitude afectada a pro núncia correcta dos "d" e dos C. O acanhamento ou respeito humano daí resultantes bloqueiam a aprendizagem. Jacinta continua convencido que urge modificar esta atitude para melhorar a qualidade da língua falada e, sobretudo, tornar os seus alunos mais autónomos. Acredita na verdade que exprimirse correctamente perante um auditório contribui para aumentar a autoconfiança dos alunos. Mais concretamente, pretende que a maioria dos seus alunos (pelo menos 25 em 28), ao fazerem comunicações orais na aula, pronuncie correcta mente os "d" e os "t" sem constrangimento nem hesitações. Para facilitar a tarefa, escolhe para responsável de cada grupo um aluno que já domine a atitude que se pretende alcançar (isto é, que não tenha receio de pronunciar correctamente diante de todos). A apresentação dos trabalhos faz~se da seguinte maneira: cada elemento do grupo, ao chegar a vez de dizer o seu texto perante a turma, assume, em relação aos outros colegas de grupo, o papel de quem está a ensinar. Para melhor ajuizar da qualidade das apresentações, Jacinta valeu~se dum instrumento de avaliação do tipo grelha de observação de resultados.
(1) Corresponde ao nosso 9' ano de escolaridade (N. T.). 8 1 COMO ENSINAR ATITUDES
Esta inclui, além dos aspectos que Jacinta valoriza habitualmente na comunicação oral, mais quatro itens suplementares (ver quadro 4. 1). Dois referemse explicitamente à qualidade da pronúncia dos "d" e dos "t" (componente conativa); outro trata da componente afectiva, da emoção sentida por cada aluno ao apresentar o seu trabalho; o último verifica a opinião dos alunos sobre a pronúncia dos "d" e dos "t" (componente cognitiva). Cada grupo prepara a sua comunicação (texto e apresentação). jacinta aproveita a situação para verificar se os alunos souberam integrar os critérios de excelência propostos para a apresentação oral e, em especial, para a pronúncia e o modo como o constrangimento se vai transformando gradualmente numa atitude de segurança. quadro 4.1 Escalas de apreciação da pronúncia dos "d" e dos "t" Pronúncia dos "d" (di, du, do,...): 1 3 5 Maioria dos "d" Maioria dos "d" Todos os "d" incorrectos correctos correctos Pronúncia dos "t" (ti, tu, to, ... ): 1 3 5 Maioria dos "t" Maioria dos "t" Todos os "t" incorrectos correctos correctos
Situação afectiva verificado (constrangimento) aguando da apresentação: 1 3 5 O aluno parece O aluno parece O aluno parece muito pouco bastante à muito à vontade à vontade e vontade e pouco e nada hesitante hesitante hesitante Importância atribuída a uma boa pronúncia dos "t" e dos "d": 1 3 5 Pouca Bastante Muita 82 DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
2. 1. Análise do primeiro exemplo Como se pode verificar, o objectivo principal desta actividade diz respeito aos conhecimentos e aptidões que se relacionam com a comunicação oral tratase dum conteúdo proposto pelo programa. Esta actividade de ensino, nos seus aspectos essenciais, é bastante semelhante a qualquer outra intervenção pedagógica; contudo, foi lhe acrescentado um elemento de ordem afectiva: a atitude de auto confiança quanto à pronúncia do francês perante um auditório. Logo à partida, Jacinta ultrapassa com sucesso uma fase importante ao conceber claramente e de maneira a poder ser avaliado aquilo que, para ela, constitui a atitude a atingir, recorrendo a um
comportamento especial a adoptar pelos alunos. Entre as várias manifestações possíveis, determina aquela que considera mais importante ou mais significativa, tendo em conta a situação de ensino. É provável que faça o seguinte raciocínio: os meus alunos terão, com certeza, uma atitude mais positiva em relação à pronúncia correcta se, primeiro, conseguirem pronunciar bem, sem constrangimento, os "d" e os "t" perante os colegas de turma. A oportunidade que lhes é dada é a apresentação oral dum texto em francês. Jacinta serve~se, assim, duma reacção concreta do aluno, dum deter minado comportamento significativo, para traduzir as suas expectativas relativamente ao domínio afectivo. A atitude a alcançar já não é uma vaga expectativa, mas algo de preciso e observável. Inspirada neste objectivo, Jacinta modifica o desenrolar da actividade de ensino de maneira a integrar nela determinadas estratégias propícias à aprendizagem duma atitude. Tira partido do dinamismo dum grupo mobilizado para atingir um objectivo a curto prazo; ex piora o efeito do sucesso e da verificação da aquisição duma competência no esforço que os alunos estão prontos a fazer; utiliza, ainda, a técnica do modelo a imitar, colocando em cada grupo pelo menos um aluno que já possua a atitude desejada e que conheça os critérios explícitos para levar a bom termo os exercícios. Assegura a qualidade da aprendizagem verificando a evolução dos grupos. Recorre ao jogo do faz de conta para atenuar a sensação de constrangimento ocasionada 83 COMO ENSINAR ATITUDES
pelo facto de pronunciar correctamente perante os colegas: fazer de
quem ensina facilita as coisas. Finalmente, Jacinta prevê alguns meios de controlo tão simples que podem ser aplicados pelos próprios alunos em relação aos colegas, a saber, quatro escalas anexas à sua grelha de observação habitual. Determina, mesmo, objectivos mínimos a atingir pelo grupo (25 alunos em 28). Na grelha escalona manifestações da atitude relacionadas com as três componentes. No caso da componente afectiva, poderia facilmente ter levado mais longe ainda as suas observações. Poderia ter pedido directamente aos alunos que dissessem, oralmente ou por escrito, se se sentiam constrangidos (muitíssimo, um pouco, muito) aquando da sua apresentação. Prefere ser ela própria a observar este aspecto, baseando~se em indicadores de constrangimento bem conhecidos. Assim, Jacinta reorganizou uma actividade de ensino de modo a incluir nela um objectivo de ordem afectiva. Respeitou o conteúdo conceptual e a aptidão que a deviam integrar à partida. Adoptou uma intervenção pedagógica convencional, acrescentando~lhe uma dimensão capaz de garantir a eficácia do seu trabalho. Se quiséssemos traduzir esquematicamente e em forma de questionário esta adaptação duma actividade de ensino, chamaríamos a atenção para os seguintes elementos: 1. Qual a atitude que pretendo desenvolver? Porquê? 2. Quais os comportamentos, verbais ou não verbais, do aluno que melhor exprimem esta atitude? (identificar um ou dois) 3. Como observar (avaliar) estes comportamentos? 4. Que condições de aprendizagem (métodos ou técnicas) podem favorecer a adopção de tais comportamentos, sem prejudicar a
aquisição dos conteúdos cognitivos? (ver os exemplos apresentados no quadro 4. 1) 5. Ao escolher estes recursos pedagógicos, reflecti nas emoções que os alunos poderão vir a sentir? 84 DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
2.2. Algumas limitações Um dos aspectos fundamentais duma atitude é a estabilidade ou persistência das reacções emotivas moderadas sentidas pelos alunos perante um mesmo objecto (ver capítulo 2). Estabilidade que implica a necessidade de expor os alunos, continuamente, a numerosas situações de ensino de qualidade para tentar que adquiram a atitude desejada (o `saberser` ou o `sabertornarse` segundo De Ketele, 1986:199203). Jacinta tem consciência de que os seus alunos, apesar de terem realizado perfeitamente o que esperava deles, não adquiriram necessariamente a atitude desejada; não transformaram definitivamente o constrangimento que sentiam em facilidade ou satisfação de pronunciar correctamente em público. Sabe que é necessário insistir na aprendizagem da mesma atitude em novas condições para que, a pouco e pouco, as reacções emotivas se transformem. Só depois destas transformações é que ela pode concluir que a atitude está a ser adquirida e que se está a dar uma certa interiorização do fenómeno. É o que acontece, em especial, quando é preciso inverter a direcção duma atitude e passar duma reacção negativa para uma reacção
positiva. Só com muito tempo e em condições propicias é que um aluno que se sente profundamente constrangido, aprende a ultrapassar esta atitude e a transformála num sentimento de bemestar. Precisa de passar por repetidas ocasiões de sucesso e por numerosas experiências positivas. Nos capítulos 5 e 6 e, sobretudo, no capítulo 7 retomaremos este aspecto importante da aprendizagem de atitudes, recorrendo a análises elaboradas.
85 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 4.2 Estratégias, métodos e técnicas adequadas à aprendizagem de atitudes"' identificação laboratório aprender com os colegas feedback do meio estágio prático ensino programado imposição maiêutica exposição recompensa material realização verdadeira marcha (Terry Fox) recompensa social visita visitas de estudo publicidade discussão em grupo diário pessoal informação entrevista projectava testemunhos sugestão diário colectivo dramatizarão participação jogar ao faz de conta fantasiar condicionamento farsa visualização clássico simulação estudo dum caso imitação observação focada indução (cópia dum modelo) problematização diálogo (exemplo) monólogo exercícios castigo audiovisual projecto jogo atenção focada
tomar posições em círculo mágico público (1) A descrição das estratégias, dos métodos e das técnicas que aqui apresentamos, pode encontrarse em algumas das seguintes obras, entre outras: MEO (1988); Office de Catéchèse du Québec (1984, dossier n' 7; Feix Larivière, Lecierc (1982). Nesta obra descrevemos, apenas, algumas destas condições de aprendizagem.
86 Segundo exemplo: ensino de uma atitude Bernardo ensina há seis anos numa escola primária de bairro, num meio urbano composto por pessoas da classe média. Aproxima~se a época de Natal e Ano Novo. Por essa ocasião, a escola propõese organizar, no quadro do seu projecto de integrarão escola~meio, uma semana de solidariedade com os mais desfavorecidos. Bernardo decide associar a sua turma a este projecto, Organiza um encontro com os idosos duma cooperativa de habitação social, situada perto da escola. Aliás, a ideia foralhe sugerida pela associação de pessoas da Idade do Ouro"' do bairro. No seu plano de ensino a médioprazo previu que a preparação dos alunos para este encontro fosse feita na aula, durante a semana de 14 de Dezembro, e que o encontro tivesse lugar no sábado, dia 19 de Dezembro. Bernardo dedicou~se à planificação imediata desta actividade durante a semana de 7 de Dezembro. Tentou prever, o mais possível, o
desenrolar da actividade, inspirando~se, para tal, na grelha de perguntas sugerida no quadro 4.3; daí resultou o plano que consta do quadro 4.4. Este contém todas as indicações que dizem respeito à actividade pedagógica: objectivo, condições, desenvolvimento e indicadores de avaliação, etc. São indicações necessárias sempre que se planifica uma actividade de ensino de atitudes. 3. 1. Análise do segundo exemplo Também neste segundo exemplo a atitude escolhida, tanto poderia relacionarse com um conteúdo formal do programa (geografia humana ou formação pessoal, religião e moral) como um conteúdo de formação mais geral, dependente do projecto de escola, por exemplo. Pouco importa o aspecto racional subjacente ao ensino duma atitude; quem ensina pretende, frequentemente, fazer do ensino dessa atitude o conteúdo explícito da sua actuação na aula. (1) Período da História em que, segundo os antigos, reinou na Terra uma Primavera perpétua, e em que os homens eram bons e inocentes (N. T.). 87 COMO ENSINAR ATITUDES
Durante o desenvolvimento desta actividade, Bernardo explorou várias estratégias que apelavam quer para as emoções quer para os conhecimentos quer para os comportamentos. A visita a pessoas idosas foi uma oportunidade dos alunos fundamentarem as suas opiniões e convicções sobre votos de boas~festas e a forma de os expressar (tanto na reunião de preparação como no encontro entre os dois grupos). Além disso, os alunos aplicaram as suas aptidões artísticas a uma situação real e exercitaramse em experiências
de comunicação oral. Bernardo facilitou, entretanto, a aprendizagem e contribuiu para o sucesso da actividade. Neste tipo de actividades esquecem~se frequentemente dois aspectos: ter em conta o nível de desenvolvimento da consciência moral do aluno e a capacidade de dominar a noção de tempo. Em termos de consciência moral, os alunos do ensino básico e secundário encontram~se habitualmente na fase do toma lá, dá cá, ou da boa acção que produza resultados pessoais palpáveis (Kohlberg, 1976). Quanto ao tempo, dão pouca importância àquilo que pertence ao futuro. São, geralmente, menos motivados pelas consequências das próprias acções quando as acham demasiado longínquas; por outro lado, estas consequências têm mais efeito se os benefícios que acarretam são imediatos e, sobretudo, significativos para a criança. Estes são princípios cuja validade foi já, muitas vezes, confirmada; contudo, acontece que, frequentemente, nos esquecemos de os ter em consideração na organização das nossas intervenções pedagógicas.
88 DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO Quadro 4.3 Questões que fazem parte da planificação da actividade de ensino de uma atitude 1. Para quem e por quem? Que alunos: idade, anos de estudo, características importantes, grupo, ordem? Grau de interiorização alcançado? Que pessoas colaborarão se... ?
2. O quê? Que aspectos ou manifestações (comportamentos verbais ou não verbais) da atitude irão ser ensinados? 3.Quando? Em que altura é preferível e possível realizar a actividade? 4. Qual o objectivo?
5. Que tipo de actividade? Que desenvolvimento? Que progressos concretos irão conseguir os alunos na aprendizagem de atitudes graças a esta actividade? Que nível de aptidão geral vão atingir? Quais as estratégias, técnicas ou processos mais convenientes? (ver os exemplos apresentados no quadro 4.2) Segundo que ordem ou sequência? Que dificuldades ou que possibilidades? 6. Que avaliação? De que modo serão avaliados o plano e, sobretudo, os resultados? De acordo com que critérios e níveis de competência?
89 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 4.4 Exemplo de uma actividade orientada explicitamente
para o ensino de uma atitude 1. Título da actividade: .Encontro de solidariedade. 2. Breve descrição: .Os alunos, por ocasião duma visita a pessoas de idade duma cooperativa de habitação social, partilham a sua alegria de Natal, desejando boas~festas. 3. Condições de realização: 3.1 Recursos humanos: 5 inquilinos, 3 pais e eu, 30 alunos: 3.2 Local, data e hora: salão da cooperativa, 19 de Dezembro, das 20 às 21 horas. 3.3 Material necessário: papel, envelopes, lápis de cor. 4.Aspectos precisos da atitude a alcançar com esta actividade: A verdadeira solidariedade deve incluir, necessariamente, tanto palavras amigas (todos os alunos deverão falar com os idosos) como comportamentos significativos (todos os alunos devem dirigirse para junto deles). 5. Objectivo da actividade: A pedido do professor e da escola, e tendo em vista a aquisição duma atitude de solidariedade, os alunos desejam boas~festas aos idosos da cooperativa de habitação social por ocasião do Natal. 6. Desenvolvimento da actividade e indicadores de qualidade ou de sucesso: DESENVOLVIMENTO Duas semanas antes da data prevista pela escola, uma comissão de alunos da turma entra em contacto com a comissão da associação idade do ouro, para debater a questão; realizasse um encontro à tarde no fim das aulas.
Segundafeira, 14 de Dezembro: a secretária da associação idade do Ouro vem explicar à turma o que está previsto fazer e, sobretudo, o que se irá passar na cooperativa de habitação social (cerca de meiahora). Terçafeira, dia 15: a turma organiza o trabalho, constitui os grupos, distribui as tarefas, faz um plano do que será feito e por quem, procura material necessário (1 hora). 90 INDICADORES Os 4 membros assistem e participam activamente.
Todos os alunos estão atentos. Os alunos fixam as informações importantes (pelo menos 25 alunos fixaram, no mínimo, 80%). Todos os alunos concordam em trabalhar em grupo. Concordam em vir no dia 19 de Dezembro (20 alunos pelo menos). Os trabalhos na turma decorrem com seriedade (pelo menos 25 alunos). Quartafeira, dia 16: os grupos redigem os votos de boasfestas, desenham os cartões e decoram as mensagens escritas (2 horas). Quinta~feira, dia 17: os grupos concluem o texto e fazem um ensaio na aula; discute~se a qualidade e o sentido dos textos e das acções a realizar (2 horas).
Sextafeira, dia 18: ensaio geral (1 hora) Sábado, 19 de Dezembro: os alunos encontramse, às 19 horas, à entrada da cooperativa de habitação social para informações de última hora e depois, às 20 horas, encontram~se com os idosos desejandolhes, de viva voz, boasfestas e entregandolhes os cartões redigidos na aula, enquanto eles lhes falam dos pais, dos filhos, da vida na cooperativa, ... Depois despedemse à medida que vão terminando. Terçafeira, 5 de janeiro: os alunos revêem o desenrolar da acção e reflectem sobre o que aconteceu. DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
Os alunos participam, activamente, nos trabalhos de grupo (25 em 30). O francês é de excelente qualidade e a apresentação bonita (25). Todos os grupos acabam o trabalho. Os grupos concordam em aperfeiçoar o trabalho (25). Os alunos participam no debate (1 5). Os alunos comparecem à hora com os trabalhos (pelo menos 20 alunos). Estabelecem, **anteciosamente, comunicação com os idosos (1 5/20). Confessam a sua satisfação pelo acto que realizam (15/20). Ocupam todo o tempo a conversar (1 5/20).
Os alunos ficam satisfeitos com a experiência (25/30).
Exprimem opiniões positivas sobre os idosos (20/30). Bernardo, entretanto, organiza as coisas de modo a que as pessoas de idade possam desejar boasfestas aos jovens e até, se possível, contemplá~los com um pequeno presente simbólico; desencadeia, assim, imediatamente, consequências significativas para os alunos. Há que acrescentar a isto, é claro, outros sinais de aprovação vindos dos pais, dos idosos, do próprio professor ou professora. Ou, ainda, o sucesso alcançado pelo projecto, no plano individual e colectivo. Além disso, Bernardo enumera, com rigor, os indicadores de qualidade da maior parte das fases de desenvolvimento da actividade. Deste modo, pode ajuizar, tanto no decorrer da actividade 9 1 COMO ENSINAR ATITUDES
como depois, da eficácia e qualidade da sua acção pedagógica. Tem mesmo para cada indicador um nível mínimo de sucesso ou de resultado final, especialmente em termos de rendimento colectivo. Tornase~lhe, assim, relativamente fácil avaliar quase todos os aspectos das aprendizagens pretendidas e apreciar, parcial ou totalmente, a qualidade da sua intervenção. O quadro 4.5 retoma, a seu modo, os elementos de planificação duma intervenção, já enumerados no quadro 4.3. Contudo a natureza e a sequência das questões baseiam~se mais no processo empírico apresentado no quadro 4.4. São questões que chamam a atenção para as fases a percorrer, quando se pretende planificar uma actividade de ensino, orientada explicitamente para a aprendizagem dum conteúdo afectivo, duma atitude. Questões para as quais, sem dúvida, Bernardo teve de encontrar resposta ao preparar a sua intervenção. 3.2. Algumas limitações
Mais uma vez, nunca é demais insistir na persistência das emoções sentidas perante um dado objecto e em condições semelhantes. A repetição dos comportamentos verbais ou não verbais associados a essa situação é uma característica essencial de qualquer atitude (ver capítulo 2). Bernardo sabe que uma acção só, por mais sucesso que tenha, não basta para levar os alunos a adquirir determinada atitude. É preciso voltar de novo à carga, várias vezes e em diversas condições, para que a atitude se generalize e se consiga uma interiorização mais duradoura. Só com tempo e condições favoráveis é que um aluno que, por exemplo, revela indiferença para com os outros, aprende a ser solidário com eles e, sobretudo, a sê~lo com alegria em quaisquer circunstâncias. Dum modo geral, porque uma atitude leva tempo a desenvolver~se, torna~se necessário multiplicar as situações de ensino e sistematizar as intervenções. 92 DOIS EXEMPLOS DE INTERVENÇÃO
Quadro 4.5 Fases de planificação do ensino de uma atitude 1. Que atitude pretende que os alunos aprendam? (Em que sentido? Sobre que aspectos? Porquê? Como é encarada esta atitude no meio? Qual o contexto? Potencialidades? Pontos fracos? ... Por outras palavras, reflectir sobre a atitude que se quer desenvolver.) 2. Como actuam os alunos que já adquiriram a atitude pretendida? De que modo a manifestaram? (Se necessário, recorrer ao quadro 5.6 do
capítulo 5, para completar.) 3. Globalmente, como é que se vai desenrolar a actividade de ensino desta atitude (das suas manifestações)? (Quando, Onde? Com quem? ... ) 4. Com o quadro 4.2 a servir de inspiração, que estratégias e técnicas de aprendizagem usar para levar a adquirir os hábitos pretendidos? 5. Como se desenvolverá a actividade? Quais as suas principais fases? (Descrição pormenorizada das fases como se se tratasse da planificação duma aula que se vai dar a seguir.) 6. Examinando as fases de desenvolvimento, quais os indicadores reveladores de que tudo corre como se esperava?
93
IN0IIIN Conclusão Qualquer professor ou professora com alguma experiência consegue transformar uma actividade pedagógica destinada a criar condições favoráveis a uma aprendizagem cognitiva ou psicomotora, de modo a incluir nela uma intenção formal de aprendizagem
afectiva. Uma preocupação deste tipo pode até revelar~se interessante e valorizadora; uma estratégia destas pode ser uma solução económica e eficaz para várias expectativas até aí frustradas. Passa~se o mesmo com a concepção e a realização de actividades que encontram a sua razão de ser, não já nos conteúdos explícitos dos programas, mas em acções institucionalizadas, espontâneas ou a longo prazo (ver no primeiro capítulo os três tipos de conteúdo afectivo). Através de intervenções destas, muito embora exteriores às actividades da aula, o professor ou professora com experiência sabe, quase por instinto, como conseguir os objectivos de ensino, desde que saiba colocar as questões correctas ou definir com rigor onde verdadeiramente pretende chegar. Regra geral, a aprendizagem duma atitude, transformase num processo a longo prazo (o ano escolar, por exemplo) para o qual há que prever e definir todas as intervenções necessárias. Como planificar e agendar tais intervenções? Eis a questão a que tentarão responder os dois próximos capítulos.
94 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
A 1 Introdução
A planificação das actividades pedagógicas, a médio ou a longo prazo, supõe um projecto estruturado e operacional capaz de integrar as múltiplas condições de aprendizagem bem como as numerosas normas de ensino e de avaliação. Supõe, igualmente, que esse projecto seja flexível, de modo a adaptar~se aos múltiplos aspectos da situação escolar, quer se trate dos conteúdos, da clientela a que se destina ou das mudanças que se devem dar nos alunos. Mesmo inclusivamente a nível operacional e, portanto, a nível das tarefas particulares há que conseguir responder, o melhor possível à questão seguinte: QUEM (clientela, aluno) APRENDE (mudanças, aquisições) o QUE? (conteúdos, novos comportamentos) Por outras palavras, a preparação dum plano de ensino consiste, antes de mais, em definir expectativas (a que conteúdos ou a que novas manifestações das características internas da personalidade se pode aspirar, e se aspira, de facto), em prever como se irá verificar a realização dessas expectativas ou como se dominarão os conteúdos (que clientela e quais os comportamentos aprendidos?) e em escolher os meios de atingir esses mesmos objectivos (como fazer para que determinada clientela aprenda os conteúdos, adquira novos comportamentos, indicadores das mudanças internas ocorridas?). Numa palavra, há três zonas de imprecisão que devem ser clarificadas: clientela visada, conteúdos e meios de ensino. Neste capítulo apresentamos dois modelos que, num contexto de ensino de atitudes, permitem proceder com rigor à clarificação, quer das características da clientela quer dos objectivos ou dos meios de ensino ou de avaliação. Tratase, em primeiro lugar, dum modelo de planificação por dedução~indução das expectativas (Morissette, 1986) e depois, dum modelo taxonómico relativo ao domínio afectivo (Krathwohl e outros, 1964). É, aliás, essencialmente nestes
dois modelos que se apoiará a apresentação, no próximo capítulo, duma grelha pormenorizada de planificação de intervenções. 96 Primeiro modelo: planificação por deduçãoindução o modelo de planificação por deduçãoindução baseiase num duplo processo de pensamento que comanda a passagem dos fins à acção ou das acções aos fins. As considerações seguintes esclarecem este duplo movimento: Por um lado, quando um educador ou educadora pretende intervir em conformidade com o que vem prescrito nos programas ou de acordo com determinado conteúdo, e se apercebe com facilidade e rapidamente das grandes linhas dos fins da sua acção, consegue ter, então, uma visão global do que deve fazer. Pelo contrário, o que parece mais difícil de conseguir é uma visão pormenorizada dos passos a dar, dos aspectos particulares do ensino. Partindo desta visão global, o importante é fazer com que se possam precisar, gradualmente, ideias e expectativas. Um dos meios consiste em utilizar uma série de raciocínios dedutivos, sempre apoiados em critérios tão simples quanto possível, até conseguir explicitar as expectativas, respeitando o mais possível as intenções globais de origem: é o processo sistemático de dedução. Por outro lado, quando se trata de definir os pormenores da acção educativa acontece que o educador ou educadora hesitam na escolha dos objectivos intermédios, dos meios imediatos ou dos métodos de intervenção ou tarefas específicas. Descobrirão, então, pontos de referência capazes de esclarecerem as suas opções, se verificarem os laços que unem os elementos específicos do plano de intervenção com o princípio unificador de todo o processo com o objectivo global a atingir (ou, pelo menos, com a percepção que fazem desse objectivo global). Por outras palavras, os objectivos imediatos a atingir na aula bem como as tarefas particulares a levar a cabo, e os métodos ou técnicas de intervenção pedagógica a aplicar 97 COMO ENSINAR ATITUDES
devem corresponder às expectativas globais ou às finalidades. E esta correspondência verificase, logicamente, por via indutiva. Partindo destas considerações, o modelo de planificação que apresentamos recorre a dois processos lógicos: um processo dedutivo que procura traduzir, sistematicamente, as expectativas globais (vários programas falam, também, de objectivos globais) nos elementos específicos que forem necessários e um processo indutivo que serve para verificar a pertinência dos elementos específicos fixados relativamente aos objectivos globais. Teoricamente, pode ser elevado o número de níveis de especificidade entre as expectativas mais englobantes e as mais específicas. Na prática, por uma questão de comodidade, o nosso modelo considera apenas os quatro níveis seguintes: nível das finalidades, do objectivo global ou das metas a atingir; nível dos objectivos gerais; nível dos objectivos específicos; nível das tarefas particulares. Quanto mais se insiste, aquando da planificação, em usar o processo dedutivo para verificar a pertinência das expectativas mais específicas relativamente às menos específicas, tanto mais essencial se torna o processo de indução aquando da avaliação para, à luz das expectativas menos gerais, verificar se se satisfizeram as mais gerais. O que importa, sobretudo, é não esquecer que este processo de dedução~indução, na prática, é um processo cíclico e não linear.' 2. 1. Nível das finalidades, do objectivo global e das metas a atingir
Na planificação duma ou de várias intervenções pedagógicas, destinadas à aquisição de atitudes ou de qualquer outro conteúdo, a realização da primeira fase baseia~se na definição precisa, ainda que sumária, das necessidades a que a acção em vista se propõe dar 98 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
resposta. Relativamente ao meio escolar do Quebeque, esta definição das necessidades dos alunos realizasse geralmente aquando da elaboração dos programas. São propostas metas, finalidades ou objectivos gerais relacionados com o domínio das atitudes, com as necessidades afectavas dos alunos. Nessa altura determinasse, também, aquilo que quem ensina deve ter em vista com as suas intervenções na aula. O que cria dificuldades ao pedagogo não é tanto a interpretação global do conteúdo ou a definição geral das atitudes que devem ser ensinadas ou aprendidas na globalidade, mas antes a definição e a planificação pormenorizada do que concretamente deve ser aprendido na aula. A sua preocupação principal relacionasse com o que se vai passar durante a aula. O modelo proposto de planificação por dedução~indução dá resposta a esta necessidade: neste sentido, afigurase~nos muito útil como meio rápido, concreto e bastante sistemático, definir um plano de acção rigoroso e elaborar uma planificação sobre o ensino de atitudes. Para cada um dos quatro níveis de especificidade referidos
há uma série de verbos que servem para desencadear a forma de expressar as mudanças obtidas para precisar o conteúdo dessas mudanças, das acções pedagógicas a levar a cabo e dos resultados a avaliar. Quanto às expectativas mais gerais (objectivo global, metas ou finalidades), estes verbos (desenvolver, educar, formar, iniciar, melhorar, sensibilizar, etc.) exprimem ideias muito gerais. Verifica~se contudo que, graças a eles, o processo de planificação se inicia mais facilmente. O facto de abordar o plano sob o aspecto do que se pretende na globalidade, mesmo que isso se apresente numa primeira fase muito pouco definido, torna~o de facto mais rápido e mais eficaz. 99 COMO ENSINAR ATITUDES
Dir~se~á, por exemplo, que o fim duma sessão é sensibilizar os participantes para as vantagens da planificação e iniciálos nas suas técnicas; ou que o fim dum curso para futuros professores é desenvolver atitudes e aptidões em relação à construção de instrumentos de avaliação; ou que aquilo que se espera, globalmente, com determinada intervenção, é desenvolver a capacidade de socorrer doentes, mediante a presta ção de cuidados (injecções intravenosas, por exemplo); ou que o que se pretende globalmente com uma série de intervenções de grupos de animação pastoral é educar os jovens para o sentido cristão da vida. Este primeiro passo na definição das expectativas é tanto mais necessário quanto obriga a considerar, em primeiro lugar, a orientação global da acção. A este nível, dado que a acção se apresenta muito pouco definida, não se fala ainda, evidentemente, de objectivos pedagógicos operacionais. Começa, contudo, já a
delimitar~se a clientela a que a acção se destina, assim como as grandes linhas do conteúdo de aprendizagem das intervenções. Este primeiro passo obriga a consultar os programas, a buscar informação adequada, a ter em conta o contexto humano, social e físico em que se vai situar a acção pedagógica. já a partir deste primeiro nível de análise são tomadas decisões quanto à linha de fundo da acção a empreender. Contudo, como já dissemos, o educador ou educadora que prepara uma intervenção ou uma série de intervenções, antes de precisar melhor os seus objectivos, deve prestar atenção a dois importantes aspectos: conteúdo da aprendizagem (comportamentos que queremos que o aluno aprenda) e características principais da clientela a que se dirige. O educador ou educadora, a partir do momento em que se propõe fazer adquirir conhecimentos, aptidões ou atitudes, deve definir, pelo menos sucintamente, o domínio a abarcar, quanto mais não seja para ver se é adequado à clientela a que se destina. Estes 100
Ot DOIS MODELOS DE PLAN 1 FICAÇÃO
são alguns dos elementos a ter em conta, quer no momento da planificação quer ao longo do processo de ensino. Vão sendo definidos
à medida que se definem os próprios objectivos. Em resumo, no primeiro nível do modelo de planificação, o facto de fixar as expectativas globais relacionadas com o domínio das atitudes, dos conhecimentos ou das aptidões levanta, infalivelmente, determinadas questões relativamente às características essenciais e pertinentes da clientela que se tem em vista. Estas expectativas (não falamos, ainda, de objectivos pedagógicos), apesar de pouco definidas, implicam a consideração do conjunto do conteúdo das aprendizagens susceptíveis de serem abordadas. Em síntese, nesta primeira fase da planificação passa~se o seguinte: Finalidades, objectivo global e metas a atingir: formular enunciados de expectativas recorrendo a verbos como: desenvolver, educar, formar, familiarizar, iniciar, sensibilizar ou melhorar, introduz um primeiro nível de generalidade ou de especificidade do que se vai ensinar. Além disso, formular tais enunciados implica pensar: no conteúdo ou no domínio; na clientela. 2.2. Nível dos objectivos gerais O conhecimento das metas ou finalidades dum programa é útil, sem dúvida, mas a própria indefinição dos enunciados obtidos nesta primeira fase exige um segundo nível de análise que se aproxima mais da acção pedagógica, das intervenções quotidianas do pedagogo e dos resultados obtidos pelos alunos que foi possível observar. Daí a necessidade de recorrer a um maior grau de especificidade ao enunciar as expectativas. Este nosso segundo nível trata efectivamente dos objectivos gerais, ou seja, do nível das capacidades propostas no programa ou que se pretendem alcançar mediante uma série de intervenções. 101 COMO ENSINAR ATITUDES
As expectativas deste segundo nível de especificidade derivam todas dos objectivo global e das metas, sem deixar de ter em conta as finalidades. Para clarificar sistematicamente estas novas expectativas, vários especialistas na definição de programas fazem referência a modelos taxonómicos tradicionalmente propostos para esse efeito, modelos que se referem ao domínio cognitivo, afectivo e psicomotor. O leitor interessado encontrará na obra de Legendre (1988:545598) uma breve apresentação das principais taxonomias utilizadas na educação e retirará proveito da consulta da obra de De Landsheere (1976) onde as taxonomias são criticados com mais pormenor. No que respeita aos objectivos pedagógicos do domínio afectivo, a taxonomia mais generalizada é a proposta por Krathwohl e seus colaboradores (Krathwohl e outros, 1964). Esta taxonomia situa os objectivos relativos ao domínio afectivo num continuem definido a partir do nível de interiorização crescente dos conteúdos efectivos, que vai da recepção à resposta e, em seguida, à valorização e à organização até chegar à caracterização. Este continuem permite seguir, passo a passo, por assim dizer, as manifestações de aprendizagem de atitudes através da dimensão mais importante da sua evolução, isto é, o seu nível de interiorização pelo aluno. Ao mesmo tempo, no plano operacional permite que nos apoiemos numa série de verbos (receber, responder, valorizar, organizar e caracterizar) que podem contribuir para a clarificação das expectativas. Assim, para clarificar uma expectativa global, uma meta ou finalidade que incluam uma aprendizagem afectiva, sugeremse formulações de expectativas em que verbos como receber, responder e valorizar, funcionam como pólos de atracção. Na escola, dadas as limitações próprias do contexto
escolar e de aula, tendo também em conta as limitações impostas pela ética, sugerimos que se explorem apenas as três primeiras categorias da taxonomia de Krathwohl (ver mais pormenores na segunda parte deste capítulo). Em termos de expectativas dizemos, por exemplo, que por ocasião duma sessão destinada a sensibilizar os docentes para as 102
roo* 7_ DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
principais exigências da função de medir e avaliar, estes receberam favoravelmente tais exigências; interiorizaram, a nível da recepção, uma atitude positiva em relação às exigências da acção de medir e avaliar. Ou melhor, começaram a interiorizar esta atitude. Se se tratar dum curso de francês em que se pretenda desenvolver nos alunos o gosto pela leitura, esta meta a atingir pode traduzirse assim: o aluno recebeu favoravelmente o fenómeno da leitura e respondeu revelando procedimentos concretos de leitura. No caso de intervenções no campo da animação pastoral, `educar para o sentido cristão da vida` poderá traduzir~se em recebeu favoravelmente, respondeu em conformidade e valorizou o sentido cristão da vida. Estes três exemplos esclarecem bem o significado da interiorização no domínio afectivo.
Deste modo, no plano de ensino, a clarificação ou especificação das expectativas contribui para uma melhor adaptação dos conteúdos à clientela a que se destinam. Assim, a alunos principiantes não se deve exigir que atinjam imediatamente uma interiorização ao nível da valorização. O plano terá de ser mais realista e ter em conta tanto a clientela a que se destina e a matéria ensinada como o domínio das tarefas mencionadas no programa. Nesta fase de planificação, recorrer a uma taxonomia, seja ela qual for (Krathwohl, Guilford, D'Hainaut ou Steinaker e Bell), tem~se revelado importante e esclarecedor, desde que se tenha consciência de que qualquer delas apresenta limitações. Recordemos que as taxonomias apenas se limitam a clarificar as coisas, muito embora o façam de forma sistematizada; não prescrevem as acções necessárias nem as estratégias mais eficazes, apenas facilitam a escolha e adaptação dessas acções ou estratégias. Neste segundo nível de especificidade, a formulação de expectativas recorrendo a verbos que radicam nesta ou naquela taxonomia permite, além de mais, circunscrever melhor as componentes do ensino, isto é, os conteúdos e a clientela a que se destinam, e planificar, respeitando a progressiva evolução de qualquer aprendizagem no domínio afectivo. 103 COMO ENSINAR ATITUDES
Por exemplo, quem estuda não pode ter uma atitude positiva em relação aos processos de medição e avaliação se nunca ouviu falar deles; e é, também, muito provável que nunca chegue a valorizálos se, ao chegar a altura de os experimentar se vir confrontado apenas
com fracassos e consequências adversas... Do mesmo modo, o aluno não conseguirá adquirir uma atitude positiva em relação ao romance (ou desenvolver o gosto pela leitura) se no seu meio familiar não existir o hábito de leitura ou se só tiver sofrido consequências negativas por ter lido algo por obrigação. Quer em casa quer na escola, a pessoa tem de perceber primeiro a atitude "sentido cristão", antes de ter atitudes que lhe correspondem e de, em seguida, valorizar essas mesmas atitudes. O que importa fixar, sobretudo, é que quando alguém adquire conhecimentos desenvolve aptidões ou atitudes, opta por determinado percurso, está a agir em conformidade com o que vários investigadores chamam hierarquia da aprendizagem. No caso das atitudes e da taxonomia por que optámos (Krathwohl e outros, 1964), tratase duma hierarquia de interiorização que examinaremos mais pormenorizadamente na segunda parte deste capítulo. Esquematicamente, nesta segunda fase da planificação por deduçãoindução, passa~se o seguinte:
Objectivos gerais: formular enunciados de objectivos gerais recorrendo a verbos como: receber, responder, valorizar, organizar e caracterizar, introduz um segundo nível de especificidade. Além disso, formular tais enunciados implica pensar: no conteúdo ou no domínio; na clientela; na hierarquia da aprendizagem; no percurso real dos alunos.
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IIIIIIIIIIIIK DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
2.3. Nível dos objectivos específicos Se apenas se fiassem nos objectivos gerais fornecidos pelos programas, ou enumerados nos planos de intervenção, é provável que educadores e educadoras ensinassem ou fizessem com que os alunos aprendessem conhecimentos, aptidões ou atitudes muito diversificadas, muitas vezes até contraditórias relativamente às intenções iniciais. Eis aí uma consequência directa e normal da grande diversidade de interpretações a que está sujeito este tipo de objectivos, ou seja, as expectativas do segundo nível de especificidade (Morissette, 1982). Assim, para certos educadores, receber um conteúdo afectivo poderá querer dizer simplesmente ouvir falar dele; para outros, a mesma expressão significa que o aluno assume, pelo menos a título experimental, certos comportamentos ditados pela atitude e que experimenta determinadas emoções relacionadas com ela... Numa palavra, quando se trata de definir com rigor intervenções na aula, os objectivos gerais não são suficientes; tornase necessário exprimir as expectativas de modo ainda mais específico, sobretudo se se pretende a aquisição de conteúdos mais ou menos equivalentes ou
uma aprendizagem mais ou menos conforme às prescrições originais propostas no programa. É necessário, pois, transformar os objectivos gerais em enunciados do terceiro nível de especificidade, isto é, o dos objectivos específicos. Para abordar este nível, afigura~se~nos, estrategicamente, muito proveitoso, mais uma vez, o recurso a determinados verbos representativos de expectativas mais específicas. A título de exemplo, poderão aparecer associados a conteúdos efectivos, particularmente em situação de ensinoaprendizagem, os seguintes verbos: perseverar, ouvir com atenção, conformar~se, emocionarse, reflectir, oporse, testemunhar (para mais pormenores, consultar a segunda parte deste capítulo). Deste modo, se as intervenções pretenderem levar os participantes a desenvolver, a nível da recepção, uma atitude positiva 105 COMO ENSINAR ATITUDES
relativamente às exigências da função de medir e avaliar, o responsável pela sessão formulará objectivos pedagógicos específicos do género: ouviram com atenção a exposição relativa às exigências da acção de medir e avaliar; durante a sessão procuraram informar~se com o objectivo de compreenderem melhor essas exigências e dominarem, mais perfeitamente, as suas implicações práticas; assistiram a toda a sessão, sendo pontuais e contribuindo com
reflexões importantes; ... Se se tratar duma série de intervenções em geografia humana, com o fim de desenvolver uma atitude de solidariedade com os mais desfavorecidos, o objectivo geral, valorizaram o auxilio a pessoas de países menos favorecidos, será com certeza mais fácil de atingir, se vier traduzido nos comportamentos seguintes: têm por hábito dedicar algum tempo da semana ao grupo paroquial de ajuda a determinados países a braços com a seca; opuseram~se, perante a turma, ao facto dos estrangeiros naturais de países pobres serem menosprezados ou ridicularizados; testemunharam, na escola ou fora dela, a convicção de que a atitude de solidariedade com os mais desfavorecidos merece realmente ser vi vida;
Em resumo, cada objectivo geral (do segundo nível de especificidade das expectativas) é retomado e definido com precisão, com a ajuda dos verbos do terceiro nível associados, é claro, a conteúdos e condições adequadas. Assim, no domínio afectivo, um verbo como valorizar, pertencente ao nível dos objectivos gerais, poderá transformarse em participar regularmente ou revelar assiduidade no trabalho ou ser o próprio a fazer os trabalhos, etc. 106 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
Mais uma vez, o facto de insistir na formulação dos verbos
permite muito facilmente ultrapassar uma fase na definição de comportamentos mais precisos, mas também doutros aspectos da planificação como conteúdo, clientela e meios de ensino. De facto, o modelo de planificação por deduçãoindução, propondo, como pólo de atracção verbos criteriosamente escolhidos, implica que se pense espontaneamente e de forma explícita no conteúdo. É que é preciso definir para cada verbo conteúdos e atitudes adequadas que se relacionem com ele (ver quadro 5.4). Além disso, este modo de actuar favorece a adaptação dos objectivos específicos à realidade da turma, do meio, dos alunos e do educador. No final desta terceira fase do modelo de planificação, ficase com uma ideia mais precisa dos comportamentos com que podemos contar. isto é possível se o nível de interiorização que desejamos alcançar, na aprendizagem da atitude, for traduzido em termos de comportamentos manifestados. O educador sabe, com mais precisão, o que deve ensinar e o que os alunos devem revelar, em consequência das suas intervenções. Tem perante si, já perfeitamente delineado, o caminho que lhe permitirá levar a cabo actividades de ensino, desenvolver as estratégias, os métodos ou as técnicas mais adequadas ao programa, às capacidades dos alunos, aos recursos do meio, às prioridades do educador. É nesta altura da planificação que intervém a definição do como e que se definem com precisão os meios de ensino que irão permitir que o aluno atinja, o mais eficazmente possível, os objectivos fixados. Esquematicamente, esta terceira fase da planificação por dedução~indução, respeitante aos objectivos específicos, realizase tendo em conta os aspectos seguintes:
107 COMO ENSINAR ATITUDES
Objectivos específicos: formular enunciados de objectivos específicos recorrendo a verbos como: perseverar, reflectir, opor~se, testemunhar, dedicar tempo, ouvir com atenção, etc., introduz um terceiro nível de especificidade. Além disso, formular tais enunciados implica pensar: no conteúdo ou no domínio; na clientela; na hierarquia do conteúdo: produto e processo; no percurso real dos alunos; nas actividades de ensino.
2.4. Nível das tarefas particulares No terceiro nível de especificidade das expectativas, a planificação do ensino atinge uma precisão capaz de colocar, ao dispor de quem ensina, os elementos necessários para compreender e, sobretudo, traduzir perfeitamente as metas a atingir, em termos de acções ou de processos didácticos que correspondam ao que se pretende atingir. Neste contexto, mesmo que se possa supor, com toda a probabilidade, que as atitudes pretendidas irão ser ensinadas e que esse ensino será provavelmente semelhante de educador para educador, não deixa de ser importante dispor de meios para verificar os
resultados efectivamente produzidos após a intervenção, após o ensino. Porque não basta ter em vista os mesmos objectivos, interpretados do mesmo modo por todos os educadores; é preciso, também, que esses objectivos sejam alcançados e que isso possa ser provado, se necessário. 108 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
Funcionando como pólo de atracção para as formulações do quarto nível de especificidade do modelo de planificação, surgenos de novo uma série de verbos cuja característica principal é referirem~se a actuações ou reacções directamente observáveis, quer por quem ensina quer pelos alunos. É o que se passa, sempre em relação com as atitudes, com os verbos: visitar, evitar, sorrir, guardar silêncio, falar, estar presente, referiras vantagens, dar prendas, etc. Esta fase da planificação é a altura própria para avaliar o que já se conseguiu, graças às intervenções na aula, e comparálo com os objectivos específicos visados. Para tal, há que dispor de meios seguros e variados, pois o recurso a inferências que levam o educador a saltar do que observa para o que supõe ter sido aprendido pelo aluno, é um processo de alto risco. Eis dois exemplos deste salto arriscado em que o educador verbaliza as relações indiferenciadas que estabelece: João, satisfizeste cinco das principais exigências avaliativas apresentadas por ocasião da sessão; colocaste quatro questões ao longo do dia, seis implicações práticas duma avaliação centrada na aprendizagem;... daí deduzo que ultrapassaste o nível da recepção da atitude positiva em relação às exigências da medição e da
avaliação. Júlia, avisaste um aluno da turma que não se esquecesse do encontro intercultural do fim~de~semana; convenceste dois dos teus amigos a comparecer pela primeira vez; organizaste uma pequena récita de actuações artísticas;... da( deduzo que adquiriste, ao nível da valorização, a atitude de apoio aos estrangeiros. A fragilidade de afirmações deste tipo deriva do facto das manifestações duma atitude serem, geralmente, muito numerosas e variadas, sobretudo à medida que subimos nos níveis de interiorização. O risco de errar diminui com o número de indicadores de qualidade e de observações realizadas; há que tomar precauções para que as tarefas exigidas estejam em estrita relação com os objectivos pretendidos. Ora, esta correspondência entre o que ainda permanece escondido e o que já se apresenta mais definido, entre o que aparece previsto num objectivo específico e o que se observa, aquando da realização da tarefa, depende muito da qualidade e do rigor da 109 COMO ENSINAR ATITUDES
dedução. Esta terá grandes hipóteses de ser exacta se o comportamento, as condições e os resultados finais antecipados no objectivo aparecerem, pelo menos a título de amostra representativa, nas tarefas de medição (Morissette, 1984:126). A partir das tarefas de medição derivadas, elas próprias, do processo dedutivo, é possível detectar, tanto no domínio afectivo como no cognitivo, as áreas de ensino abrangidas e as que ficarem por tratar. Com base nas informações recolhidas é possível, no decurso do
processo de ensino, delimitar o que poderá tornar~se objecto duma intervenção correctiva; por outro lado, no final, é possível demonstrar o que, para já, foi adquirido por cada aluno ou pelo conjunto da turma. Para levar a cabo esta medição dos objectivos alcançados, dispomos de numerosas técnicas de elaboração, aplicação e correcção de instrumentos de medida. Permitem obter resultados mais fiéis, mais pertinentes e, portanto, mais válidos. Abordaremos esta questão nos capítulos 8 e 9. Em resumo, eis como se apresenta este quarto nível de especificidade das expectativas: Tarefas particulares: formular enunciados de tarefas particulares recorrendo a verbos como: visitar, evitar, sorrir, guardar silêncio, falar, estar pre sente, etc., introduz um quarto nível de especificidade. Além disso, formular tais enunciados implica pensar: no conteúdo ou domínio; na clientela; na hierarquia do conteúdo: produto e processo; no percurso real dos alunos; nas actividades de ensino; num processo de medição baseado nos objectivos específicos; na observação e na atribuição de nota. 110 DOIS MODELOS DE PLANIFIcAÇÃO
O processo que permite passar do primeiro ao quarto nível de especificidade das expectativas relacionadas com o ensino de atitudes vem esquematizado no quadro 5. 1. Aí se faz especial referência aos verbos associados a cada um dos níveis. Contudo, e isso compreende~se facilmente, não podemos ignorar os outros aspectos que compõem qualquer plano de intervenção pedagógica. Recordamo~los sob a forma de questões distribuídas ao longo do processo de dedução ou de indução. Tais questões têm a grande vantagem de nos chamar a atenção para as dificuldades de toda e qualquer situação de ensino~aprendizagem. Quadro 5.1 Modelo de planificação por deduçãoindução (domínio afectivo) Nível dos objectivos globais, finalidades ou metas a atingir: Desenvolver (QUEM?: clientela) Educar (O QUE?: conteúdo) Familiarizar Iniciar (Modelo de Tyler para a definição das expectativas Sensibilizar num programa) Nível dos objectivos gerais: Receber (QUEM? O QUE?) Responder (ATÉ ONDE?: interiorização) Valorizar Organizar (Modelo de Krathwohl da descrição das categorias Caracterizar de interiorização) Nível dos objectivos específicos: Perseverar (QUEM? O QUE? ATÉ ONDE?) Emocionarse (Em QUE SENTIDO?: comportamentos que revelam Reflectir interiorização) Opor~se (COMO?: intervenções) Testemunhar Dedicar (tempo) (Modelo de inferência baseado na observação dos ... alunos) Nível das tarefas particulares:
Visitar (QUEM? O QUE? ATÉ ONDE?) Evitar (Em QUE SENTIDO? COMO?) Sorrir (Que VERIFICAÇÃO?: medir e avaliar, através da obGuardar silêncio servação directa ou indirecta, questões orais ou esFalar critas) Estar presente ... (Modelo de medição criterial) Segundo modelo: taxonomia baseada na interiorização Uma das fases da planificação do ensino consiste em organizar a sequência dos objectivos de aprendizagem, em traçar o melhor percurso possível para o aluno atingir, a pouco e pouco, a atitude visada. É o que, no modelo de planificação por dedução~indução é traduzido pela expressão até onde? que surge no segundo nível de especificidade, isto é, no dos objectivos gerais, e que se vai precisando depois, gradualmente, a nível dos objectivos específicos e a nível das tarefas particulares. Como já dissemos anteriormente, um modo eficaz de ultrapassar esta fase consiste em recorrer a qualquer uma das taxonomias de objectivos pedagógicos ou de conteúdos de aprendizagem. Estas fornecem classificações sistematicamente concebidas para terem em conta características essenciais da aprendizagem pretendida. Assim, a taxonomia de Bloom e outros (1956) relativa ao domínio cognitivo, centrada na complexidade e na dificuldade crescente de aprendizagem dos elementos deste domínio, põe em primeiro lugar o conhecimento, depois a compreensão, aplicação, análise, síntese e finalmente a avaliação. Os autores preferem esta sequência a qualquer outra, uma vez que corresponde melhor, em sua opinião, as observações dos especialistas neste domínio que, dum modo geral, observam uma evolução deste tipo na aprendizagem do conteúdo dos objectivos do domínio cognitivo. Quanto à aprendizagem de atitudes (domínio afectivo), a
taxonomia de Krathwohl e outros (1964) é a apresentada por quase todos os autores que abordam este domínio. É a que escolhemos, também, por ser mais simples, mais fácil de estudar e aplicar e, ainda, porque foi a que se difundiu mais e a que mais vezes foi posta à prova e discutida. É, aliás, interessante notar até que ponto outras taxonomias, presumivelmente diferentes, se lhe assemelham 112 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO numa ou noutra das suas estruturas fundamentais (Burns, R., 1972; lambe, MasaY~Perl, 1975; De Landsheere, 1976; Hannah, Michaelís, 1977; Steinaker, Bell, 1979). A taxonomia do domínio afectivo (Krathwohl e outros, 1964) é uma forma estruturada de classificação, cujas categorias aparecem definidas e dispostas de tal modo que permitem colocar, numa ordem bem definida, os objectivos pedagógicos gerais ou específicos relativos a este domínio. Permite igualmente ordenar as tarefas particulares e os comportamentos dos alunos relacionados com um sentimento, emoção ou com a ideia de aceitação ou recusa (de aproximação ou afastamento), numa palavra, com o conjunto de fenómenos relativos à aprendizagem da atitude. A maior parte dos investigadores e mesmo dos que lidam na prática com esses assuntos, por mais diversa que seja, aliás, a concepção de cada um sobre a evolução das atitudes numa pessoa, reconhece que as categorias desta taxonomia reflectem o que se passa habitualmente na realidade. Em educação, quando se trata do domínio afectivo recorrese geralmente a um conceito de fácil compreensão, o conceito de interiorização. De facto, este conceito representa bem o género de continuem hierárquico a que recorremos quando se trata de atingir objectivos do domínio afectivo, quando, por exemplo, uma característica afectiva da personalidade passa duma situação de simples consciência para uma situação de força, chegando até ao
ponto de caracterizar uma pessoa. intuitivamente fala~se, muitas vezes, de integrarão, incorporação em si mesmo ou interiorização de valores, normas ou hábitos de determinado meio, quando se quer designar o fenómeno evolutivo da aprendizagem duma atitude. Ao iniciar o continuem de interiorização dum fenómeno qualquer, relacionado com o domínio afectivo (por exemplo, em relação a uma aula de geografia humana, a atitude de aceitação dos valores doutras pessoas, doutros povos ou a atitude de apoio aos outros, seja qual for a sua raça), o aluno é levado, em primeiro lugar e muito simplesmente, a tomar consciência do fenómeno toma conhecimento 113 COMO ENSINAR ATITUDES
dele. A sua evolução progressiva neste sentido, especialmente nesta primeira fase, traduz~se por comportamentos de atenção. Se a interiorização prosseguir, na fase seguinte, é levado a reagir com simpatia, o que pode levar a agir em conformidade, a adoptar comportamentos geralmente associados à atitude. Chegará, até, a esforçar~se por se comportar com correcção e sentirá satisfação em fazêlo. De seguida, será levado a conceptualizar os seus comportamentos, convicções, sentimentos ou emoções em relação ao fenómeno e a estruturá~los relativamente às atitudes que dele dependem ou se lhe opõem. Atingese o ponto culminante desta progressiva interiorização quando a integrarão da atitude vai ao ponto de a transformar num modo de vida (quando a aceitação dos valores dos outros se torna, para o aluno, como que uma segunda natureza). Compreendese facilmente que estas últimas fases do continuem de interiorização possam ultrapassar muito o contexto da aula e da turma e abarcar um período de tempo bastante longo. A taxonomia escolhida, a de Krathwohl e outros (1964), propõe,
ao longo do processo de interiorização, as cinco categorias seguintes: recepção, resposta, valorização, organização e caracterização. Cada categoria, por sua vez, se subdivide em subcategorias. Na prática, como já se disse, só as três primeiras categorias do modelo se revelam capazes de ser utilizadas na maioria das situações escolares. Basta, aliás, examinar os quadros 5.2 e 5.3 para nos convencermos de tal e verificarmos como pode tornar~se tarefa exigente levar um aluno a valorizar determinado objectivo (terceira categoria). 1 Os quadros 5.4 e 5.5 apresentam, por outro lado, o conjunto das cinco categorias hierárquicas do modelo. Esta breve apresentação, inspirada na obra de Bloom, Madaus e Hastings (1981), insiste menos nos princípios subjacentes ao modelo do que nos aspectos técnicos e nas consequências práticas daí decorrentes. Assim, a cada categoria da taxonomia associam~se verbos que podem gerar, por si mesmos, quando combinados com conteúdos de aprendizagem ou com objectivos de atitude, enunciados de objectivos afectivos. Graças aos verbos transitivos que surgem na segunda coluna e 114 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
aos complementos directos enumerados na terceira coluna do quadro 5A tornase relativamente fácil formular enunciados de objectivos específicos que correspondem a cada uma das subcategorias. Para facilitar o trabalho, no quadro 5.5 apresentamse ainda outros verbos transitivos. Conforme o comportamento desejado ou as actividades visadas pelo aluno, quem ensina poderá utilizar estes verbos para a formulação de objectivos que correspondam à categoria em questão. Não é, com certeza, uma lista exaustiva; chama, contudo, a atenção
para expressões úteis à formulação clara e eficaz de objectivos do domínio afectivo. Esta lista de verbos aplica~se de igual modo às atitudes. Por seu lado, a lista de complementos directos contém exemplos relacionados com diversos domínios que podem associar~se a qualquer dos verbos para obter o enunciado completo dum objectivo pedagógico, Eis como, recorrendo ao quadro 5.4, se poderia formular um objectivo afectivo relacionado com o interesse pela música. Na subcategoria vontade de responder (2.2) bastará associar o verbo executar da coluna 2 ao complemento directo instrumento da coluna 3. O objectivo, uma vez composto, passará a lerse deste modo: O aluno executa acordes na guitarra; e se se quiser associar a ideia de vontade e hábito, o enunciado assumirá a seguinte forma: Sem que ninguém lhe peça, o aluno executa, com regularidade, acordes na guitarra. Vejamos um pouco de que modo, aplicando o mesmo método, se poderia traduzir um objectivo afectivo relativo a uma aprendizagem cujo nível de interiorização incluísse várias categorias da taxonomia. Por exemplo, um objectivo sobre o apreço da literatura. O conceito de apreço, a fazer fé no significado que lhe atribui Krathwohl 115 COMO ENSINAR ATITUDES
e outros (1964):43) e que, aliás, lhe demos, dum modo geral, supõe uma aprendizagem cujo nível de interiorização ultrapassa a simples recepção. Inclui as categorias taxonómicas de resposta e
valorização. Tomando como base de inspiração os quadros 5.4 e 5.5, os objectivos poderiam apresentar respectivamente as seguintes formulações: Ler durante longos períodos ou sem parar; Imitar, consciente ou inconscientemente, o modo de falar e comportamento das diversas personagens dum romance lido; Enumerar, oralmente e por escrito, os elementos que, em sua opinião, fazem do que leu uma obra literária importante. Numa palavra, a taxonomia dos objectivos pedagógicos do domínio afectivo é um instrumento ao serviço de quem ensina; instrumento, sem dúvida, muito útil quando se julga necessário precisar melhor as atitudes a ensinar. Contudo, não se deve contar com a taxonomia para fixar estratégias ou determinar a escolha de atitude adequada, embora descreva o que se passa, pelo menos na aparência, nunca pode constituir uma teoria da planificação, da aprendizagem ou do ensino
116 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
Quadro 5.2 Descrição da evolução da interiorização de uma atitude` A categoria RECEPÇÃO apresenta os objectivos pedagógicos dum aluno que toma consciência da existência duma determinada atitude. É o momento
em que o aluno se cruza com a atitude, em que é tocado por ela, o momento em que se interessa pela mensagem relacionada com essa atitude. O que se pretende Que o aluno receba as mensagens relacionadas com a atitude. O que se passa com o aluno É atraído pelas mensagens. Aceita e deseja até recebêlas. Prestalhes atenção. A categoria RESPOSTA apresenta os objectivos pedagógicos dum aluno que decide agir em conformidade com as mensagens, com a atitude. Age assim, primeiro porque lhe é pedido e, depois, a pouco e pouco, por sentir satisfação, prazer e, até, entusiasmo nisso. O que se pretende O que se passa com o aluno Que o aluno aja em conformidade com Revela a atitude porque isso lhe é a atitude. pedido. Revela a atitude por sentir prazer nisso. Revela a atitude com entusiasmo. A categoria VALORIZAÇÃO apresenta os objectivos pedagógicos do aluno que dá cada vez mais importância à atitude. As manifestações da atitude tornamse persistentes e, até mesmo, permanentes. Empenha~se na sua prática e procura desenvolvêla nos outros. O que se pretende O que se passa com o aluno Que o aluno adquira a convicção de que Descobre como é importante viver a a atitude é importante e desejável. atitude.
Empenhase pessoalmente numa prática de vida conforme à atitude Tenta convencer os outros a viverem de acordo com as exigências da atitude. (1) Inspirado em MEO, 1988:25
1 1 7 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 5.3 Objectivos gerais relacionados com uma atitude particular e conformes à taxonomia de Krathwohl (três primeiras categorias)"' Atitude escolhida: respeito pelas plantas, no sentido de apreço pelo que elas nos oferecem ... de RECEPÇÃO 1. 1 Os alunos apercebem~se de mensagens relacionadas com o apreço pelas plantas. 1.2 Têm em consideração mensagens relacionadas com o apreço pelas plantas. 1.3 Recebem com atenção mensagens relacionadas com o apreço pelas plantas. de RESPOSTA 2.1 Há alunos que têm
manifestações de apreço para com as plantas quando solicitados. 2.2 Há alunos que tomam a iniciativa de manifestar apreço pelas plantas. 2.3 Há alunos que sentem prazer em manifestar apreço pelas plantas ... de VALORIZAÇÃO 3.1 Alguns alunos dão tanta importância às plantas que passam a ter por elas mais apreço. 3.2 ... que passam a agir habitualmente de acordo com esse novo apreço. 3.3 ... que tentam convencer os outros a apreciálas também como eles. (1) Inspirado em MECI, 1988:25
1 18
1 É, DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
quadro 5.4 Taxonomia do domínio afectivo: categorias, verbos e complementos directos"' Categorias e Verbos Complementos directos subcategorias 1. RECEPÇÃO Sensibilizar para a existência de determinados fenómenos ou estímulos, percepção consentido, atenção dedicada ao fenómeno (exemplo característico: o aluno desenvolve uma atitude de respeito pelos diversos géneros de música), 1. 1 Consciência diferenciar imagens, sons separar acontecimentos isolar intenções solidarizarse acordos 1.2 Vontade de receber acumular modelos escolher exemplos combinar formas aceitar dimensões cadências 1.3 Atenção focada ou escolher alternativas preferencial apresentar soluções soluções prestar atenção ritmos dominar sensibilidades 2. RESPOSTA Mais do que simples atenção a um fenómeno, é uma presença activa, com utilização e modificação desse mesmo fenómeno (exemplo característico: por sua própria iniciativa, o aluno lê revistas e jornais infantis). 2.1 Acordo conformar~se orientações seguir instruções impor leis, linhas de conduta aprovar demonstrações 2.2 Vontade de oferecer espontaneamente instrumentos
responder discutir jogos, obras dramáticas executar charadas representar farsas 2.3 Satisfação em aplaudir discursos responder aclamar peças de teatro ocupar os tempos livres em espectáculos aumentar obras literárias (continua) 1 19 COMO ENSINAR ATITUDES
Categorias e Verbos Complementos directos subcategorias 3. VALORIZAÇÃO Discernimento do valor dos fenómenos e comportamento constante em relação a eles (exemplo característico: o aluno servese da imprensa para defender, por escrito, opiniões próprias sobre temas em que se empenhou de modo especial). 3.1 Aceitação dum valor tornarse mais competente membro dum grupo aperfeiçoar~se em produção artística renunciar amizade pessoal especificar trabalho colectivo 3.2 Preferência por um patrocinar artistas valor subsidiar projectos auxiliar pontos de vista encorajar argumentos 3.3 Compromisso negar decepções protestar inconsequências discutir renúncias argumentar irracionalidades 4. ORGANIZAÇÃO
Conceptualização dos fenómenos, utilização dos conceitos para criar relações entre fenómenos, entre valores (exemplo característico: ter convicções sobre as grandes orientações a tomar pela sociedade em que está inserido). 4.1 Conceptualização discutir parâmetros dum valor defender teorias sobre códigos abstrair padrões comparar fins 4.2 Organização dum harmonizar sistemas sistema de valores organizar tratamento das questões definir critérios formular limites
(continua)
120 DOIS MODELOS DE PLANIFICAÇÃO
Categorias e Verbos Complementos directos subcategorias 5. CARACTERIZAÇÃO Constituição dum sistema coerente e estável de valores, Ideias, convicções e atitudes, onde o fenómeno tem lugar próprio; comportamento habitual, filosofia de vida, visão do mundo conforme a esse sistema (exemplo característico:
viver harmoniosamente cada dia que passa, a convicção de que cada pessoa merece consideração e ajuda) 5.1 Disposição rever planos generalizada alterar comportamentos completar métodos exigir esforços 5.2 Caracterização ser apreciado devido a humanitarismo ser tido em consideração moral como ou devido a integridade evitar maturidade orientar extravagâncias resolver excessos resistir conflitos enormidades (1) Inspirado em Bloom, Madaus e HastinRs, 1981
121 COMO ENSINAR ATITUDES
quadro, 5.5 Verbos adequados aos objectivos do domínio afectivo aceitar avaliar apresentar assinalar adoptar criticar associarse encontrar aduzir defender conseguir especificar agir ' demonstrar falar sobre estimular ajudar alguém desafiar jogar investigar apoiar discutir julgar moderar a sua auxiliar desejar obedecer conduta
coleccionar dizer oferecer preservar comentar dormia oferecerse reagir comprar elogiar oporse a uma recolher conceber escrever ideia (informação) conservar estudar organizar recomendar construir examinar participar rejeitar consultar exigir perseverar resistir contestar experimentar persistir responder contribuir explorar pesar rivalizar convencer exprimir a sua (as situações) seleccionar cooperar opinião preconizar solicitar corrigir gastar promover subscrever criar imitar propor submeter dedicarse iniciar provar sugerir (passatempo) inscreverse qualificar tentar escolher interrogar solidarizarse terminar esperar orientar tentar obter verificar estar presente ouvir com atenção usar (roupa) visitar procurar votar (a favor de) (1) Inspirado em Bloom, Maclaus e Hastings, 1981 (Um quadro semelhante a este distribui os verbos de acordo com as três primeiras categorias do modelo baseado na interiorização duma atitude, ou seja, recepção, resposta e valorização. Ver MEO, 1988:85)
1 22 Conclusão O recurso aos dois modelos que acabamos de apresentar sucintamente afigurasenos, e com razão, se não indispensável, pelo menos de grande utilidade para a planificação das intervenções pedagógicas ou do ensino de atitudes. Por outro lado, o modelo de planificação por dedução~indução, apresenta um processo
sistemático que permite avançar, com rigor, das expectativas mais gerais (finalidades) até às mais específicas (tarefas). Por outro lado, o modelo da taxonomia dos objectivos pedagógicos do domínio afectivo distribui~os, tomando como referência, o grau de interiorização; torna possível progredir da aprendizagem mais superficial até à aprendizagem mais personalizada ou interiorizada. Estes apoios parecemnos tanto mais necessários quanto, no ensino de atitudes, mais nos aproximamos da prática, mais perto estamos da acção, mais necessidade sentimos de indicações bem definidas. De facto, as dificuldades são numerosas, quer se trate dos valores em causa (autonomia, formação, liberdade) ou de dificuldades resultantes da própria prática (instabilidade de atitudes dos jovens, ambiguidade das emoções e sentimentos, complexidade dos meios de intervenção, incerteza quanto à eficácia dos meios adaptados). Contudo, se pretendemos, realmente, aproveitar as orientações destes dois modelos, não nos podemos limitar apenas a apresentá~los. De facto, é necessário transpor os princípios gerados por estes dois modelos para situações o mais possível semelhantes às vividas por quem ensina na sala de aula. Com esse propósito, apresentamos no capítulo seguinte uma tentativa de formalizarão do processo de planificação do ensino de atitudes. Tal formalizarão traduz~se, em primeiro lugar, num guia prático de planificação, a médio ou a longo prazo, do ensino de atitudes e depois num guia de preparação imediata duma intervenção na mesma área.
123 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO introdução
No final do capítulo apresentamos o exemplo duma professora de geografia que tenta planificar, ao longo do ano, várias actividades de ensino com vista à aprendizagem duma atitude contida no programa. A atitude tem a ver com a disciplina de geografia do secundário e poderia relacionar~se com o seguinte objectivo final: sensibilizar para a vantagem duma sociedade pluralista (ver capítulo 1). Tratase essencialmente duma atitude de tolerância ou aceitação de pessoas doutro país, doutra etnia ou até mesmo doutra geração, numa palavra, de pessoas com ideias ou costumes diferentes. A análise desta expectativa global pode encarar~se, quer na perspectiva do conteúdo (a aprendizagem que contém em termos de produto e de processo) quer na perspectiva das condições pedagógicas que este conteúdo supõe (objectivos específicos terminais ou intermédios, actividades de ensino, processos de avaliação de resultados, etc.). A análise supõe, antes de mais, a recolha de informações pertinentes, capazes de esclarecer um certo número de opções e que traduzimos nas interrogações seguintes: Que conteúdo ou que atitude ensinar? Que emoções deve sentir o aluno para poder adquirir determinada atitude? Que conhecimentos adquirir? Que comportamentos manifestar? Como proceder para que os alunos adquiram os conhecimentos e comportamentos desejados e experimentem determinadas emoções? Como decidir o que fazer e em que altura? Quais os meios de verificação mais adequados? Em resumo, quer se trate do ensino desta ou de qualquer outra atitudes torna~se necessário planificar cuidadosamente o desenrolar do processo, encontrando resposta para as questões seguintes: QUEM clientela, alunos APRENDE mudanças o quE? conteúdo, novos comportamentos COMO? meios, intervenções
126 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
E como uma atitude só se adquire depois de percorrer numerosas etapas e só se torna verdadeiramente parte integrante de nós próprios se nos dedicarmos a essa tarefa a tempo inteiro, há que recorrer a uma planificação que seja, simultaneamente: de médio ou de longo prazo; de curto prazo (também chamada preparação imediata). Concretamente, o processo de planificação, de acordo com a perspectiva apresentada nas páginas seguintes, assumirá a forma dum plano de conjunto das actividades ou das intervenções, e dum plano pormenorizado de cada actividade ou intervenção. Assim, quem ensina agirá de acordo com a ideia comum de que quanto melhor for a preparação, melhor será o ensino numa área em que, por tradição, se recorre ao improviso e às acções informais como modo de funcionamento habitual.
127 PlanIficação do ensino de uma atitude O plano de actividades ou de intervenções pedagógicas é um conjunto estruturado de informações e de decisões relativas à clientela, ao conteúdo de aprendizagem, às mudanças e suas manifestações no aluno e aos meios de ensino capazes de garantir, ao máximo, a realização da aprendizagem pretendida; é uma descrição
ordenada: de objectivos pedagógicos; da situação pedagógica; dos meios de avaliação (Legendre, 1988:457). As informações e decisões contidas num plano deste tipo referem~se a vários objectos e a sequência com que surgem tem importância enquanto representação duma eventual realidade. Foi a partir destas exigências que surgiram os dois guias de planificação que se apresentam a seguir. Foram concebidos para ajudar os educadores a tomar decisões de ordem pedagógica de acordo com uma sequência o mais adequada possível. 2. 1. Plano a médioprazo O primeiro dos dois guias trata do conjunto de actividades de ensino duma atitude e integra o processo proposto pelos dois modelos apresentados no capítulo 5 (planificação por deduçãoindução, e taxonomia dos objectivos efectivos). Estabelece, pois, os pontos de referência dum processo de especificarão das expectativas e de clarificação doutros aspectos da acção pedagógica em vista (clientela, conteúdo e meios). Deste modo, respeita as fases de aprendizagem duma atitude, definidas na taxonomia do domínio afectivo. Ter em conta o conjunto das actividades de ensino, durante um período mais longo, obriga a fixar a atenção nos aspectos mais gerais do processo de especificarão das expectativas. Eis a razão por que apenas se tomam em consideração os dois primeiros níveis de 128 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
especificidade descritos no modelo de planificação por dedução~indução, Em resumo, o primeiro guia leva a considerar apenas as expectativas, situações pedagógicas e meios de
avaliação referentes aos dois conjuntos seguintes, já descritos mais pormenorizadamente no capítulo anterior: Finalidades, objectivo global, metas a atingir: formular enunciados de finalidades ou de metas a atingir, introduz um primeiro nível de especificidade e implica pensar: no conteúdo; na clientela. Objectivos gerais: formular enunciados de objectivos gerais introduz um segundo nível de especificidade e implica pensar: no conteúdo; na clientela; na hierarquia do conteúdo (cfr. taxonomia); no percurso real dos alunos (cfr. taxonomia). A fim de formular o objectivo global, as metas ou finalidades da sua acção pedagógica de conjunto, deve quem ensina recolher uma primeira série de informações e tomar decisões adequadas. De acordo com o guia de planificação apresentado, esta primeira fase realizase respondendo de modo claro e preciso às questões abaixo indicados que serão explicadas no capítulo seguinte: Qual a atitude ensinada e qual o objectivo global? Qual o contexto geral de ensino da atitude? Qual a relação entre a atitude e o programa? Qual a relação entre a atitude e as necessidades dos alunos? Para recolher informações e tomar decisões relativas ao segundo nível do modelo de planificação por dedução~indução objectivos gerais, clientela, hierarquia de conteúdo, sequência de 129 COMO ENSINAR ATITUDES
aprendizagem e, portanto, de ensino o guia apresenta uma segunda série de questões: Que aspectos da atitude são ensinados, principalmente? Quais os objectivos gerais e os indicadores importantes? Quais as actividades previstas? Quais os indicadores gerais de sucesso das intervenções? Quais os recursos especiais necessários? Pelo seu conteúdo e pela sequência das questões apresentadas, a grelha constitui um guia que ajuda a clarificar, progressivamente, por um processo de deduçãoindução ou doutro modo qualquer, o que se deve fazer para que o aluno aprenda a atitude desejada. Clientela, conteúdo, manifestações de aprendizagem e diversos meios de ensino são encarados a um nível de especificidade adequado e progressivo. A explicação das nove questões segue~se um exemplo de formulário para a planificação do ensino duma atitude (quadro 6. 1). Neste formulário há espaços previstos para respostas personalizadas às nove questões. O formulário é apresentado a título de exemplo, cada qual poderá adaptá~lo de acordo com as suas necessidades. No quadro 6.2 acrescentasse um exemplo do que se obtém quando se aplica integralmente o guia. Escolheuse para esse efeito a atitude referida anteriormente sobre a aceitação dos alunos. Finalmente, é apresentada, em anexo, uma grelha de avaliação dum plano assim concebido. 2.2. As nove fases em igual número de questões Descrevem~se agora as nove fases que se podem seguir para
completar o plano de ensino a médio ou a longo prazo. É importante recordar que se trata dum ensino orientado explicitamente para um conteúdo afectivo, para a aquisição duma atitude, muito embora possam intervir elementos cognitivos e psicomotores. 130
,INES DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
1. Qual a atitude ensinada e qual o objectivo global? É a altura de enunciar a expectativa global, a aprendizagem afectiva de conjunto que se realizará, eventualmente, caso tudo corra como estava previsto. Muitas vezes, este objectivo global reveste a forma da atitude a adquirir ou do hábito global a adoptar no final da aprendizagem (geralmente uma única atitude por grupo de alunos, ou por conjunto de grupos). Exemplo: os alunos ganham gosto pela leitura de relatos de aventuras, ou adquirem o hábito de preservar o ambiente, ou respeitam os valores das pessoas que os rodeiam, ou executam os seus trabalhos, preocupandose com a qualidade da expressão verbal. Este objectivo geral é retirado, a maior parte das vezes, dum programa de ensino onde aparece como finalidade, meta a atingir ou elemento importante de aprendizagem. Pode também derivar
directamente dum projecto de escola ou duma necessidade prioritária do meio em geral ou dos alunos (sob este aspecto, ver uma análise interessante das características dos alunos: MEO, 1985:17~2 1; MEO, 1988:115117). 2. Qual o contexto geral de ensino da atitude? Indicar o tempo necessário, se a ocasião é adequada, as instituições visadas, o número e nível dos alunos, etc. Enumerar os recursos disponíveis no meio local, sobretudo recursos humanos, em seguida as características do meio que possam ajudar ou limitar a acção, os apoios disponíveis, os elementos culturais ou sociais importantes, etc. 3. Qual a relação entre a atitude e o programa? No caso da atitude ser escolhida e definida pelos educadores, é necessário que estes lhe determinem a pertinência. Ora, em educação, o modo mais seguro de determinar a pertinência duma aprendizagem é demonstrar a sua relação com um dos programas oficiais. Neste aspecto seria evidentemente muito desejável que o 131 COMO ENSINAR ATITUDES
objectivo global integrasse as expectativas de vários programas e visasse a aquisição duma atitude comum a várias expectativas relacionadas com a educação escolar. Aumentavam, assim, as possibilidades de transferência horizontal da aprendizagem. Esta definição da pertinência é importante, tanto mais que o domínio afectivo é considerado, por alguns autores, como uma área de ensino mais ou menos intocável (Bloom, Madaus, Hastings, 1981:298~300). Apesar de se ter verificado maior abertura neste aspecto, pelo menos no Quebeque, em especial após a publicação da obra de Naud e Morin (1979), que veio avivar o debate sobre este assunto, quem ensina deverá revelar~se prudente e garantir que as
suas intervenções no campo das atitudes encontrem justificação nos conteúdos dos programas oficiais ou em projectos explícitos de escola. 4. Qual a relação entre a atitude e as necessidades dos alunos? Há que manter o sentido da realidade, sobretudo quando se trata do domínio afectivo. Uma maneira de o conseguir é ter em conta a relação que deve existir entre as características do aluno, o que ele já adquiriu e a aprendizagem que lhe é proposta. É preciso, antes de mais, verificar se o que se pretende alcançar se destina verdadeiramente ao aluno e se a atitude é capaz de melhorar a sua situação, de resolver alguns dos seus problemas (quais?). As hipóteses de sucesso serão maiores se as aprendizagens se adaptarem à sua experiência de vida escolar, social ou familiar, à sua situação social, ao seu desenvolvimento psicológico, moral e religioso, se surgirem inseridos numa progressão contínua. 5. Que aspectos da atitude serão ensinados, principalmente? Tal como com um conteúdo cognitivo, há que avaliar, dissecar a atitude que se quer ensinar, em especial a componente afectiva com ela relacionada. Será útil, e até necessário, examinar as definições da atitude, as consequências da sua aquisição, considerar as diversas situações da sua aplicação e, sobretudo, verificar os seus modos de desenvolvimento ou de aprendizagem. 1 32 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
Qualquer atitude a ensinar apresenta geralmente vários aspectos e inclui várias formas de expressão. A maior parte das vezes, é impossível ter tudo isso em conta. Torna~se, pois, importante optar e definir bem o ângulo sob o qual a abordamos, assim como os
aspectos que serão objecto das intervenções pedagógicas. Isto impõe~se não somente pela necessária correspondência entre os meios disponíveis e os objectivos visados, mas também pela exploração mais perfeita das transferências horizontais e verticais que nunca deixam de se dar neste tipo de aprendizagem. Exemplo: gosto pela leitura, na escola ou na aula, nas interacções com os outros alunos (programa de francês), ou solidariedade com as acções comunitárias de grupo (programa de ensino moral ou religioso), ou interesse pela solução de problemas da vida doméstica quotidiana (programas de ciências ou de matemática), saber ouvir os outros, na aula ou fora dela, aceitar os seus hábitos de vida, os seus valores, os seus sucessos e fracassos, as suas potencialidades e fraquezas (programa de geografia), etc, 6. quais os objectivos gerais e os indicadores importantes? A aprendizagem duma atitude, como qualquer outra, aliás, faz~se gradualmente. O plano de intervenção deve, pois, contar com as dificuldades que surgem em cada fase desta aprendizagem. Assim, há que estruturar os objectivos de modo a adaptálos à idade e desenvolvimento de cada criança ou, pelo menos, dum conjunto de alunos. Há que hierarquizá~los. E é logo a partir da formulação dos objectivos gerais que se consegue desempenhar esta tarefa mais facilmente. Determinase, antes de mais, o objectivo geral terminal, o que se pretende alcançar no final das intervenções representa um ideal. Duma maneira mais realista, quem ensina pode pretender avançar até ao nível da valorização (terceira categoria da taxonomia de Krathwohl, ver capítulo 5). Mas como só espera atingir esse nível após longo percurso, fixa primeiro objectivos gerais menos elevados,
ao nível da recepção ou da resposta, por exemplo. Assim, falase dum objectivo geral a atingir imediatamente, por oposição a um objectivo geral I@3 COMO ENSINAR ATITUDES
a alcançar a médio ou até a longo prazo. Pode tratar~se, por exemplo, da recepção atenta de... em relação à resposta pessoal mais requintada... Assim, orientando~nos pelas categorias, e até pelas subcategorias, da taxonomia, podemos estabelecer a sequência dos objectivos gerais a atingir e a seguir dos correspondentes objectivos específicos. 7. quais os objectivos previstos? Embora seja possível determinar, logo de início, as actividades que se irão levar a cabo, quem ensina pode já a partir desta fase prever quais as que têm grandes possibilidades de acontecer. Tendo em conta o que pretende que os seus alunos aprendam e as situações em que se vai realizar o ensino, poderá evidentemente modificar, melhorar ou introduzir alterações nas actividades ao longo do processo de ensino. Deve, contudo, logo desde o início do período em questão, definir o processo no seu conjunto, bem como as principais actividades previstas. Quanto à natureza destas actividades, ela depende da idade dos alunos e dos programas de ensino. Estamos a pensar, por exemplo, em jogos de faz de conta, relato de testemunhos, filmes, exercícios na aula ou em casa, etc. Voltaremos a este assunto no próximo capítulo. Nesta fase da planificação, basta enumerar as principais componentes das actividades. 8. quais os indicadores gerais de sucesso das Intervenções?
Considerado na perspectiva da avaliação, o ensino duma atitude difere das outras situações de ensino. Há que recorrer, evidentemente, a novos meios para verificar o sucesso ou insucesso das acções realizadas; há, sobretudo, que ter em conta os limites impostos pela ética. Eis a razão por que se utilizam mais frequentemente critérios colectivos do que individuais, dando deste modo liberdade ao aluno para progredir, ou não, na aprendizagem da atitude que se pretende alcançar. Sendo necessário, podem fornecer~se a cada 134 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
aluno meios para se avaliar a si mesmo e para modificar o seu percurso individual, se assim o desejar, e se achar que tal é possível e desejável. Estas considerações sobre avaliação referem~se ao resultado de cada uma das actividades. Por enquanto, ainda lá não chegamos. Veremos, primeiro, como avaliar a qualidade do plano em si mesmo e o resultado global da sua implantação. Para tal, é apresentada, em anexo, uma primeira grelha. Chamase Grelha de apreciação do plano das actividades de ensino duma atitude. Reúne os principais elementos que podem ajudar à avaliação do plano e o contributo dos meios de correcção necessários. Uma segunda grelha intitulada Grelha de apreciação dos resultados da aplicação do plano de actividades, igualmente apresentada em anexo, torna possível verificar os resultados obtidos logo após a realização do conjunto de actividades; pode servir, eventualmente, para avaliar os resultados globais resultantes da aplicação do plano.
9. quais os recursos especiais necessários? Podem prever~se, com bastante antecedência, os recursos especiais particularmente no que respeita a material audiovisual (filmes, vídeos, diapositivos, etc.) e no caso de haver necessidade de fazer despesas antecipadas. Porém, nesta fase da planificação, apenas se indicam as coisas mais importantes. Os pormenores serão definidos aquando da preparação imediata das actividades ou das intervenções.
1 35 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 6.1 Exemplo de formulário para a planificação do conjunto de actividades de ensino de uma atitude PERíODO: ESCOLA: RESPONSÁVEL: DISCIPLINA: 1. Qual a atitude ensinada e qual o objectivo global?
2. Qual o contexto geral de ensino da atitude? (características da clientela, recursos, necessidades dos alunos e do meio,
3. Qual a relação entre a atitude e o programa?
4. Qual a relação entre a atitude e as necessidades dos alunos?
5. Que aspectos da atitude serão ensinados, principalmente?
6. Quais os objectivos gerais a atingir e os indicadores importantes?
136 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
Objectivo de RECEPÇÃO: Sim Não( indicadores: O aluno ouve e segue o que se diz. Presta atenção aos exemplos, consegue repetimos, é capaz de acrescentar novos exemplos retirados da sua própria vida. Em grupo, mostra~se activo, coloca questões, utiliza linguagem
verbal e gestual, participa nas actividades de compreensão, de objectivação. etc. Objectivo de RESPOSTA: Sim Não( Indicadores: O aluno comprometese, actua, assiste a, ... É pontual, é o último a sair, trabalha sempre sem interrupções, Faz tudo isto cada vez com mais prazer, satisfação, espontaneidade... Etc. Objectivo de VALORIZAÇÃO se necessário: Sim Não( indicadores: O aluno desde há muito tempo que se compromete, por sua própria iniciativa, a maior parte das vezes sem apoios externos... Organiza coisas, fica responsável por elas, ... Expressa as suas convicções, os motivos da sua actuação, com opiniões muito firmes... Etc. 7. Quais as actividades previstas? Actividades de RECEPÇÃO para os alunos em conjunto: Actividades de RESPOSTA (se necessário) Actividades de VALORIZAÇÃO (se necessário) 8. Quais os indicadores gerais de sucesso das intervenções?
9. Quais os recursos especiais necessários?
137 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 6.2 Exemplo de respostas dadas às questões do formulário anterior PERíODO: Inverno de 1987 INSTITUIÇÃO: alunos do 2' ciclo do secundário"', cinco grupos RESPONSÁVEL: Bernardo B. DISCIPLINA: Geografia 1. Qual a atitude ensinada e qual o objectivo global? Uma atitude de tolerância, de aceitação das ideias e costumes das pessoas doutras nacionalidades ou etnias. Os alunos de geografia irão desenvolver uma atitude de maior tolerância em relação às ideias e costumes das pessoas doutras nacionalidades e etnias. 2. Qual o contexto geral de ensino da atitude? (características da clientela, recursos, necessidades dos alunos e do meio, ... 150 alunos, a maioria da classe média (cerca de 50% do Canadá francófono). Escola situada num grande centro onde se podem encontrar várias etnias e naturais de várias nacionalidades. Conflitos bastante raros entre os alunos, mas latentes. Três organizações locais dedicamse a problemas ligados ao
tema (1 ... 2... 3... Relações excelentes com vários pais de etnias diferentes. Disponibilidade de recursos humanos. 3. Qual a relação entre a atitude e o programa? _ Em geografia humana há que abordar este tema. Objectivo do programa: `sensibilizar para as vantagens duma sociedade pluralista". 4. Qual a relação entre a atitude e as necessidades dos alunos? O projecto educativo de escola inclui aspectos deste tema. Há que prevenir os conflitos a todo o custo, regulamentálos antes que aconteçam ou se agravem. No plano social, facilitar a integrarão no sistema escolar dos que chegam de novo à cidade. O programa de formação pessoal inclui uma componente semelhante Etc. (1) Correspondem, aproximadamente, aos nossos alunos do 3' ciclo e do secundário. (N. T.) 138 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO 5. Que aspectos da atitude serão ensinados principalmente? Conteúdo cognitivo: diferenças de maneiras de pensar e de hábitos, entre os
diversos povos e ao longo dos tempos, distribuição geográfica e seu impacto humano, diferenças de acordo com o país de origem, tradição, valores, género de vida, costumes... Conteúdo afectivo: vantagens da tolerância social, tanto para os povos como para os indivíduos, emoção sentida por quem é discriminado ou, então, é capaz de aceitar o outro, experiências positivas já vividas, emoção sentida quando nos pomos no lugar de outrem, emoção de ser solidário com convicções diferentes das nossas... Conteúdo comportamental: atitudes e palavras que revelem tolerância de ideias (discussões entre grupos) e de costumes (simulações... 6. Quais os objectivos gerais e os indicadores importantes? Objectivo de RECEPÇÃO: Sim (X) Não ( ) Receber favoravelmente as consequências duma atitude de aceitação das ideias e dos costumes de pessoas doutras nacionalidades ou diferentes de si. Indicadores (X ) O aluno ouve com atenção e segue o que se diz. X) Presta atenção aos exemplos, consegue repetilos, é capaz de acrescentar novos exemplos retirados da sua própria vida. (X) Em grupo, mostra~se activo, coloca questões, utiliza linguagem verbal e gestual, participa nas actividades de compreensão, de objectivação. (X Declarase pronto a executar acções concretas, a fazer coisas em conformidade com a atitude.
Etc. Objectivo de RESPOSTA se necessário: Sim Não(
Objectivo de VALORIZAÇÃO se necessário: Sim Não(
139 COMO ENSINAR ATITUDES
7. Quais as actividades previstas? Actividades de RECEPÇÃO para os alunos em conjunto: 1. Setembro, representação dum costume de cada país 2, Outubro, breve apresentação oral dum costume. 3. Novembro, estudo de ideias 4. Dezembro, filme de cinco minutos sobre um costume de Natal 5. Finais de Dezembro, encontro com um grupo social diferente do dos alunos. 6. Actividades de RESPOSTA Nada Actividades de VALORIZAÇÃO Nada 8. Quais os indicadores gerais de sucesso das intervenções?
No seu conjunto e ao longo de todo o ano, a maioria dos alunos (mais de metade) revela os seguintes comportamentos: Quando se fala de tolerância na aula, os alunos ouvem com atenção. Dão exemplos apropriados de tolerância. Dada uma situação de tolerância, mostramse aptos a apresentar razões que motivam essa situação ou a referir as vantagens daí decorrentes. Na sequência de actividades relacionadas com a tolerância, os alunos sentem ~se satisfeitos e querem novas actividades. Aceitam mimar atitudes ou participar em representações em que entrem costumes diferentes dos seus Sendolhes apresentados exemplos de situações que exigem tolerância, os alunos expressam o desejo de assumir comportamentos que revelem a presença da referida atitude. 9. Quais os recursos especiais necessários? Há que garantir a exibição de filmes que apresentem os costumes do próprio país e doutros. Solicitar a participação de pessoas, associações... Garantir o material...
140 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
2.3. Preparação imediata O segundo guia, por sua vez, fornece informações úteis para uma intervenção particular e imediata. Iremos aproveitar agora, de novo, os dois modelos já apresentados no capítulo 5. Desta vez, vamos explorar, sobretudo, os dois últimos níveis do modelo de planificação por dedução~indução: o nível dos objectivos específicos e o das tarefas particulares. Aquando da aplicação do modelo taxonómico de aprendizagem das atitudes, teremos em conta evidente mente, informações úteis sobre as fases de interiorização. Recordemos o objecto destes dois níveis do modelo: Objectivos específicos: formular enunciados de objectivos específicos introduz um terceiro nível de especificidade que implica pensar: no percurso real dos alunos (cfr. taxonomia); nas actividades de aprendizagem ou de ensino. Tarefas particulares: formular enunciados relacionados com as tarefas particulares introduz um quarto nível de especificidade e implica pensar, sobretudo: nas actividades de ensino~aprendizagem (processos... numa medição criterial; numa observação dos resultados (atribuição de nota, se necessário). Aquando da preparação imediata, há que procurar, por um lado, integrar o conteúdo e os meios de intervenção no conjunto do processo de ensino da atitude (e, portanto, integrálo bem numa planificação a médio prazo); por outro lado, há que escolher os meios que possam favorecer a aprendizagem, bem como
estratégias, 141
Adio COMO ENSINAR ATITUDES
métodos, técnicas ou processos de ensino que lhe correspondam. Finalmente, há que prever os meios mais adequados à verificação do que se passou e dos resultados obtidos. 2.4. Exigências da preparação imediata em três questões No capítulo 4 (quadro 4.4) apresentamos uma maneira simples, se bem que sistemática, de descobrir estas exigências. Trata~se duma grelha que, ao facilitar a preparação imediata duma actividade de ensino duma atitude, nos leva a encontrar resposta para determinadas questões (ver formulário apresentado no quadro 6.3), das quais apresentamos a seguir as mais importantes. 1. Que conteúdo ensinar e a quem? Para responder a esta questão há que rever, pormenorizadamente, o sentido dado ao conteúdo que o aluno deve aprender. Poderá encontrar~se este significado no plano de conjunto onde vêm explicitadas as três componentes da atitude a ensinar: comportamentos, emoções e conhecimentos. Deverá insistir~se, evidentemente, no elemento do percurso de interiorização que se pensa ser aquele em que o aluno se encontra. Este processo de definição
rigorosa do conteúdo será objecto duma atenção proporcional à importância da atitude e ao tempo consagrado à intervenção. De seguida, podemos inspirarnos na maneira de passar dum objectivo geral para um objectivo específico, apresentada no capítulo 5, usando qualquer dos verbos à disposição. Para educadores com experiência, uma técnica muito útil para definir com rigor o conteúdo consiste em imaginarse na sala de aula, pensar nos alunos que já adquiriram a atitude em causa e recordar ou inferir os comportamentos, palavras ou emoções que revelam a presença da atitude. Para além de simples, esta técnica tem a vantagem de conferir maior realismo às expectativas (Morissette, 1984, págs. 316~319).
142 n DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
2. Como se desenvolve a actividade? A descrição do conteúdo de aprendizagem, através de comportamentos a manifestar pelos alunos no fim da aprendizagem, abre caminho à escolha de actuações ou processos pedagógicos a propor na aula. Também aqui se torna necessário conhecer e dominar as estratégias e técnicas (quadro 4.2) mais adaptadas à aquisição da atitude a alcançar e escolhê~las acertadamente. No próximo capítulo apresentaremos algumas indicações neste sentido. Em qualquer preparação imediata duma intervenção centrada explicitamente na aprendizagem duma atitude, uma das maiores preocupações diz respeito às condições de aprendizagem das atitudes. Dedicaremos, aliás, uma parte do próximo capítulo a este
aspecto. A resposta a esta segunda questão deve levar concretamente à descrição pormenorizada do modo como irá desenvolver~se a intervenção, em especial dos processos previstos para obter os resultados específicos. 3. quais os indicadores de sucesso? Uma vez realizada a descrição da actividade, tornase relativamente fácil escrever a lista de comportamentos que esperamos observar nos alunos no decorrer das intervenções, e que são a prova de que tudo vai bem ou de que tudo se passa conforme os desejos de quem ensina. Antes de iniciar o desenvolvimento duma actividade, é conveniente determinar, para cada comportamento, um nível de competência (individual ou de grupo) que possa servir de indicador de sucesso ou de insucesso das intervenções (ver, a título de exemplo, o quadro 4.4 do capítulo 4) Nos capítulos 8 e 9, daremos mais informações sobre a maneira de avaliar os resultados duma actividade ou a aprendizagem conseguido pelos alunos no final dessa mesma actividade. Por agora, estamos mais preocupados com a avaliação da qualidade da 143 COMO ENSINAR ATITUDES
preparação imediata da actividade em si mesma. A grelha de apreciação reproduzido no quadro 6.4 recorda os principais pontos a ter em atenção aquando da elaboração do plano duma intervenção sobre atitudes. Gariépy (1973:3744) apresenta, também, critérios e uma grelha muito interessante para apreciar a qualidade duma actividade pedagógica. Estas três questões sugeriramnos a preparação do guia de
planificação, apresentado no quadro 6.3 (guia que já foi utilizado no capítulo 4, quadro 4.4). Verifica~se que se dedicou especial atenção à descrição pormenorizada do desenvolvimento da intervenção. Insistiu~se igualmente, por outro lado, na criação e preservação duma estreita relação entre os aspectos importantes desse desenvolvimento e, por outro lado, no número e definição precisa dos indicadores de avaliação ou medida (para exemplos do mesmo género, ver MEO, 1988).
144 DOIS GUIAS DE PLANIFICAÇÃO
Quadro 6.3 Formulário de planificação da actividade de ensino de uma atitude 1. Título da actividade: 2. Breve descrição do que se irá passar: 3. Condições de realização 3.1 Clientela exacta: 3.2 Recursos humanos: 3.3 Local, momento e duração: 3.4 Material necessário: 4. Aspectos precisos da atitude a ter em conta durante a actividade:
5. Objectivo da actividade:
6. Desenvolvimento da actividade e principais indicadores de qualidade: DESENVOLVIMENTO INDICADORES
7. Observações sobre aspectos importantes a explorar:
8. Meios particulares de avaliação:
145 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 6.4 Grelha de apreciação do plano de Intervenção centrado no ensino de uma atitude na aula
Considere cada um dos aspectos apresentados em lista, tendo como referência a escala seguinte: O nada 1 em parte 2 totalmente 1 . A actividade vai ao encontro do objectivo global apresentado no plano de conjunto. 2. A actividade está relacionada com a atitude a alcançar. 3. A actividade tem em conta o nível de interiorização em que se encontram os alunos. 4. O objectivo da actividade mostra bem o que, segundo a descrição, se passa com os alunos que nela participam. 5. A actividade ocupase dum aspecto bem determinado da atitude. 6. A descrição do modo como se desenvolve a actividade compreendese facilmente. 7. A descrição do desenvolvimento da actividade parece estar de acordo com a aprendizagem pretendida. 8. Os métodos e técnicas parecem adequados à actividade. 9. O plano tem em conta as condições de aprendizagem das atitudes. 10. A actividade está adaptada à situação dos alunos: consciência moral motivação, prérequisitos efectivos ou cognitivos. 11. Enumeram~se vários indicadores no decorrer da actividade.
12. Os indicadores traduzem bem a atitude. 13. Os indicadores apresentam um nível mínimo de competência. 14. Vai ser fácil avaliar a aprendizagem dos alunos,
146 **lp 1 ENSINO DE ATITUDES
4 A
i j@l.@@ @ introdução Ao chegar a altura, uma vez terminada a planificação, de fixar em pormenor o trabalho quotidiano de ensinar vários grupos de alunos e de realizar aquilo a que, no meio, designamos por preparação imediata duma intervenção (já integrada, aliás, num plano global), devem ter~se em consideração quatro conjuntos de factores, nos seus efeitos imediatos sobre as atitudes (Khan, Weiss, 1973). Tratase de factores que se relacionam: com características do aluno:
idade, sexo, estatuto socioeconómico, sucesso escolar, auto conceito, atitudes, consciência moral; com características de quem ensina: atitudes, valores, convicções, estilo de ensino, competência; com conteúdos de aprendizagem: domínio, matéria; com o contexto escolar: clima da aula, abordagem pedagógica, estratégias de ensino, métodos, técnicas, processos. Neste capítulo, apresentamos modos de ensinar atitudes que têm em consideração estes factores, na medida do possível, e que procuram diminuir as complicações e encargos. As abordagens sugeridas são, sob muitos aspectos, inovadoras em contexto escolar, especialmente nos seus objectivos, conteúdo explícito e meios utilizados para despertar a aprendizagem de conteúdos em que o aspecto afectivo mantém a primazia. Optámos por desenvolver em três momentos esta questão da intervenção em matéria de atitudes. Primeiro, trataremos das estratégias de ensino consideradas mais eficazes para favorecer a aprendizagem de atitudes; o mesmo é dizer que estas estratégias têm em conta, pelo menos implicitamente, alguns dos factores que acabámos de enunciar. Em seguida, faremos uma abordagem um pouco diferente do mesmo problema de ensino de atitudes e apresentaremos 148 ENSINO DE ATITUDES
seis regras de actuação pedagógica adaptadas a esta situação. Tais regras apresentam, por outras palavras, ou de maneira diferente, o
que já fora expresso pelas estratégias. Para tal, será apresentada uma abordagem inspirada directamente na taxonomia de Krathwohl. Abordaremos igualmente o modelo de Gagné (1975, 1985) acrescentando~lhe, contudo, algumas alterações, de modo a adaptálo ao conteúdo afectivo. Apresentaremos, por fim, uma abordagem que explora os princípios da metacognição.
149 Estratégias eficazes No domínio da psicologia social, sobretudo, já há muito que se aperfeiçoaram determinadas estratégias de intervenção no campo das atitudes que foram experimentadas com sucesso em contexto escolar. Apresentaremos algumas ideias nos parágrafos seguintes, insistindo, em especial, na sua adaptação à situação particular de ensino de atitudes. São as seguintes (mas há muitas outras): imposição, condicionamento, informação, aprendizagem mediatizada. aprendizagem por modelos e experiência pessoal. 1. IMPOSIÇãO Deve entender~se por imposição, a obrigação do aluno cumprir uma tarefa, praticar uma acção de âmbito geralmente bastante limitado como, por exemplo, completar um exercício. Neste caso, o aluno não tem opção: tem de cumprir, pelo menos, exteriormente. Porque ninguém sabe o que se passa interiormente. Se quem ensina gozar da estima do aluno e se o que se exige for razoável na perspectiva do aluno, é muito provável que as disposições interiores do aluno estejam em consonância com os seus actos exteriores e que execute, com alegria, o que lhe é exigido. Neste caso, a motivação
surge quer da reacção, já de si positiva, desencadeado pela acção, quer dos laços que se criam entre jovem e adulto, da confiança que aquele deposita neste. Pode vir também da antecipação, feita pelo aluno, das consequências positivas da sua obediência. Um modo de intervenção deste tipo sempre se mostrou capaz de influenciar os comportamentos exteriores e, em certos casos, até as disposições interiores. Neste último caso, a influência é tanto maior quanto mais forte for a relação entre o aluno e quem ensina. Seja como for, convém ter a garantia antecipada de que o aluno, segundo o seu próprio ponto de vista e não segundo o nosso, retira vantagens daquilo que lhe exigimos. Se, após ter obedecido cegamente, o aluno verificar que levou a cabo coisas com interesse, se em contrapartida for alvo da atenção dos pais ou receber felicitações, se muito simplesmente se sentir valorizado, será levado, 150 ENSINO DE ATITUDES
então, a tentar de novo. Se, pelo contrário, o seu acto de submissão só lhe trouxer desgostos, tarefas difíceis sem consequências de interesse, será levado consequentemente a resistir às ordens ou, pelo menos, a executá~las apenas quando sujeito a uma pressão externa que irá perdendo, a pouco e pouco, a sua influência e eficácia. De facto, uma das exigências importantes de qualquer situação de aprendizagem consiste em atingir e fazer actuar os dinamismos mais constantes da pessoa. Se a criança compreender as razões e o alcance da aprendizagem, esta tem mais probabilidades de perdurar. A este respeito, a imposição é com frequência útil para fazer compreender, por exemplo, que, por vezes, é preciso obedecer sem
discutir; não é este, contudo, o modo de influência mais adequado ao desenvolvimento da autonomia, da auto~avaliação e da compreensão do que deve ser feito. Em resumo, a imposição pode ser limitála aos actos de rotina repetitivos, de cujo significado ou razão de ser, o aluno se apercebe muito rapidamente; sobretudo, há que saber como lidar com a reacção interior do aluno, especialmente com as emoções e sentimentos que deixa transparecer. Neste sentido, poderá revelarse útil voltar de novo a consultar os dez princípios de Lee (1 973) apresentados no capítulo 3. 2. Condicionamento O princípio do condicionamento clássico evoca, a seu modo, a importância do meio local na aquisição ou alteração de conhecimentos, emoções e comportamentos. Assim, será boa ideia da parte de quem ensina tornar agradável o meio em que se realiza a aprendizagem, que a sala de aula, por exemplo, esteja limpa e bem decorada, que os alunos sejam acolhidos num ambiente de afecto de modo a sentirem~se bem na aula e a contactarem, de preferência, com coisas e estímulos agradáveis. Por seu lado, o princípio do condicionamento instrumental estipula que qualquer indivíduo é levado, espontaneamente, a cumprir actos que produzam efeitos positivos ou que contenham em si mesmos a sua própria recompensa. O educador deverá, pois, fazer com que os trabalhos do aluno, os esforços 151 COMO ENSINAR ATITUDES
por ele dispendidos, os sucessos alcançados, produzam efeitos reconhecidos explicitamente pelo meio e, sobretudo, pelas pessoas que mais de perto convivem com ele. Deste modo, educador e pais
deverão dar importância ao que o aluno faz e ter em conta o que verdadeiramente lhe desperta interesse. Não poderão limitar~se a contactos frios, a simples notas ou comentários lacónicos distribuídos sem afecto; manifestações destas não mostram ao aluno o que, verdadeiramente, se aprecia ou não aprecia nele. Procurando adaptar~se à idade e grau de evolução da criança, recorrerão quer a recompensas concretas quer a sinais de apreço mais de tipo social quer a motivações mais interiorizadas, como a preparação para a vida profissional ou a obtenção dum diploma cobiçado. Especialmente no caso das atitudes, a realização de tarefas repetitivas e, às vezes fastidiosas, torna~se frequentemente inevitável; tais tarefas constituem, mesmo em determinadas circunstâncias, o culminar normal da aprendizagem. É o que se passa, por exemplo, quando se adquire a capacidade de aceitação do outro: tem de se evidenciar uma série de comportamentos de pouca importância que revelem ou manifestem essa aceitação. Neste caso, surge como quase obrigatório o recurso a um certo condicionamento, sobretudo aquando das primeiras fases da interiorização. Deste modo, quem ensina deve garantir que o aluno receba um feed~back imediato pelo seu trabalho bem como pelas tarefas cumpridas; caso contrário, o aluno corre grande risco de desanimar perante o esforço. 3. Informação É sabido que as condições em que se adquirem conhecimentos acerca duma pessoa, objecto, ideia ou actividade, têm grande influência sobre a reacção emotiva a seu respeito. Daí a importância de condições que favoreçam o ensino. É a altura de recorrer aos princípios fundamentais da informação ou da comunicação. Assim, servindo~nos dos princípios duma comunicação eficaz, quando se trata de ensinar, será conveniente garantir a presença das variáveis seguintes (Petty, Cacioppo, 1981):
1 52 ENSINO DE ATITUDES
quanto ao emissor (quem ensina): competência para apresentar a aprendizagem, captar a confiança dos alunos sobretudo quanto à honestidade e à fé na matéria apresentada, prestígio ou posição social; quanto ao receptor (alunos): características da personalidade (atitudes), inteligência e capacidade de compreensão do nível de aquisição da atitude desejada; quanto à comunicação: ordem, natureza e organização dos argumentos e seu valor emotivo para o aluno, distância emotiva que separa a atitude desejada da já adquirida. A informação mais importante é, sem dúvida, a que se relaciona com a própria pessoa dado que influencia directamente uma das características fundamentais da personalidade, o autoconceito. Adquire~se e modificase principalmente através de interacções com pessoas do meio, aliás, encontrase na origem de várias mudanças de atitude que a pessoa aceita ou recusa levar a cabo (Reppelin, 1986). Em resumo, em termos de comunicação, para que a informação transmitida na aula se torne eficaz, para que influencie a atitude do aluno, terá de ser feita por alguém convicto do conteúdo da sua própria mensagem, alguém em quem os alunos depositem verdadeira confiança, alguém com prestígio. É, geralmente, o que se passa com quem ensina, a não ser que se tenham cometido erros
excessivos nesta área. É preciso também que o meio de informação utilizado se adapte às capacidades de percepção do aluno e que a mensagem corresponda ao seu nível de compreensão, interesse e consciência moral (Miller, 1978).
153 COMO ENSINAR ATITUDES 4. Aprendizagem mediatizada Grande parte dos conhecimentos, aptidões e atitudes adquirem~se, não pela experiência pessoal directa, mas pela experiência indirecta, isto é, pela observação do que se passa no meio, daquilo que os outros fazem. Informações obtidas deste modo, contribuem para modificar atitudes e comportamentos verbais ou não verbais. Deste modo, uma criança que assista ao programa de televisão do Quebeque, intitulado Passepartout, e que observe em diversas ocasiões Pruneau e Canelle a fazerem perguntas à mãe ou ao pai, conseguindo que estes lhes prestem atenção e, ao mesmo tempo, respondam às suas questões, será tentada a adoptar os mesmos comportamentos e idêntica atitude em relação com os que a rodeiam. Passará a fazer inúmeras perguntas aos pais e irmãos, quer para obter informação quer para atrair a atenção. (Veremos, mais adiante, que a experiência de vida de cada aluno poderá confirmar, ou infirmar, aquilo que foi objecto de observação e levar a manter ou a abandonar o que se convencionou chamar uma atitude favorável.) O educador dispõe, assim, dum poderoso meio de influência, a demonstração, que tira partido dos seus próprios comportamentos, dos comportamentos das pessoas que o rodeiam ou dum conjunto de acontecimentos que intervêm na situação. É importante, porém, que chame a atenção do aluno para os aspectos que na demonstração ou na situação de aprendizagem mediatizada devem ser fixados ou observados (Sadler, 1982). Do mesmo modo, consegue~se
reforçar o impacto da aprendizagem mediatizada se houver interacção entre o aluno e a pessoa observada, se esta puder orientar a atenção do aluno para os aspectos mais importantes a observar ou a reproduzir e para as consequências resultantes das intervenções. 5. Aprendizagem por modelos Quando há um laço afectivo entre o aluno e as pessoas por ele observadas, falamos, então, de aprendizagem por modelos ou aprendizagem por exemplos e já não de aprendizagem mediatizada. De facto, os jovens aprendem imenso através do exemplo, tanto mais 154 'U
ENSINO DE ATITUDES que a maior parte das vezes estão rodeados de entes queridos que tendem a imitar. É uma forma de influência muito forte porque, para além de se basear num sentimento positivo em relação ao modelo, habitualmente cria condições para que os alunos observem as consequências positivas das acções realizadas. Facilmente se compreende que quanto mais forte for a ligação afectiva e maior for a influência, tanto mais hipóteses há de se realizar a aprendizagem por modelos (Staats, 1975:228233). O caso dos atletas é um bom exemplo deste princípio: quantos jovens se sujeitam a inúmeras situações aborrecidas apenas para imitarem a sua vedeta preferida, para aprenderem a modalidade desportiva do seu ídolo. Porém, no domínio afectivo há que ter em conta uma realidade muito importante: a aprendizagem mediatizada, a aprendizagem por
modelos e outras estratégias de intervenção podem revelar~se tão eficazes em desenvolver atitudes em sentido positivo como em fazê~las regredir em sentido negativo. Assim, por exemplo, o testemunho do educador tanto pode contribuir para a boa aceitação dum novo aluno na aula como pode igualmente contribuir para a sua rejeição pela turma; e a diferença em actos e palavras é, muitas vezes, imperceptível. Aliás, é esta dimensão ambivalente da influência do modelo que nos leva a insistir, ao tratar de educação afectiva, nas atitudes de quem ensina como factor primordial. Aqui radica também a importância para o educador de escolher, conscienciosamente, os modelos a apresentar à observação dos seus alunos. 6. Experiência pessoal A interiorização duma atitude não se faz de maneira definitiva sem passar pela experiência directa, sem que o próprio aluno experimente as emoções e sentimentos ligados à realização de acções concretas, de experiências pessoais (Maslow, 1968; De Ketele, 1986). Aliás, o próprio valor afectivo das palavras tem origem na experiência pessoal, naquilo que se sentiu no momento em que se captaram determinadas palavras e ideias. Contudo, nenhuma experiência produzirá os efeitos desejados se não for vivida de maneira adequada, tanto no aspecto das acções levadas a cabo, como na perspectiva das 1 55 COMO ENSINAR ATITUDES
reflexões que a acompanham ou que dela derivam. Este é o modelo que está na base de outros como os da aprendizagem experimental (Bernard, Cyr, Fontaine, 1981) ou da convicção pessoal (Pelletier, Noiseux, Bujold, 1974).
7. e multas outras estratégias Há outras estratégias para intervir nas atitudes do aluno. São apresentadas e explicados por autores como Kiumboltz e Kiumboitz (1972), Buckley e Walker (1970), Bessel e Palomares (1975), Bandura (1 976), Barber (1 984), WIcIdkowski (1 985), Côté (1 987). Os leitores poderão recorrer a esta abundante documentação. Contudo, os problemas surgem, geralmente, quando se passa da teoria à prática. É esta questão que nos interessa agora.
156 Regras de actuação Como se disse, no início do capítulo, qualquer modelo de ensino de atitudes deverá ter em conta as interacções entre factores susceptíveis de aumentar a eficácia da acção pedagógica e, portanto, da aprendizagem: alunos, professores, conteúdos e meio envolvente. Na aprendizagem de atitudes, a conciliação entre estes quatro conjuntos revestese duma importância capital. Qualquer falta de congruência entre o conteúdo afectivo ensinado e a maneira de ser dos educadores é tão desastrosa no domínio afectivo como no cognitivo ou mais ainda. (Assim, por exemplo, ensinar a respeitar o meio ambiente, na disciplina de ecologia, quando o comportamento quotidiano das pessoas que nos cercam é exemplo do contrário; ensinar a aceitação dos outros, em geografia humana, num ambiente em que os meios de comunicação veiculam preconceitos ... ;
utilizar repetidamente estratégias do tipo tentativa~erro na solução de problemas, em matemática, física ou química, ou então, o professor de língua materna ou outra dar muitos erros ao escrever no quadro). Eis a razão por que qualquer actividade de ensino duma atitude se deve desenvolver dentro do maior respeito pelos princípios pedagógicos fundamentais, sobretudo os que se relacionam mais explicitamente com o domínio afectivo. já a seguir na nossa exposição, inspiramo~nos em vários autores (entre outros, Gagné, 1985; StYves, 1982; Baird, White, 1984; WIodIçowski, 1985) para exemplificar como se podem aplicar à aprendizagem duma atitude determinadas regras de actuação válidas, aliás, para qualquer forma de aprendizagem. Seis destas regras são primeiro apresentadas e depois colocadas numa sequência e integradas num modelo de intervenção global. A questão que se põe é a seguinte: Como deve proceder quem ensina, se quiser que os seus alunos aprendam o melhor e o mais depressa possível determinada atitude? Eis seis respostas para esta questão (Wlodkowski, 1985): 157 COMO ENSINAR ATITUDES
1. Apoiarse em atitudes já adquiridas De facto, na aprendizagem duma atitude, as atitudes já adquiridas, quer relativamente ao mesmo objecto quer relativamente a objectos semelhantes (atitudes para com a escola, no que respeita à atitude positiva perante o sucesso escolar, o estudo ou os livros; atitude para consigo próprio, no que respeita à atitude para com os
outros; ... ) constituem os fundamentos da construção de novas aquisições. Numa palavra, também no domínio afectivo, como em qualquer outro, se aplica o princípio pedagógico universal que manda que se avance do conhecido para o desconhecido. Por isso é que quem ensina procura nos alunos pontos de apoio em que assentar as suas intervenções. Pontos de apoio como, por exemplo, coisas de que o aluno goste (objectivos, actividades ou pessoas), comportamentos que possam aumentar as suas motivações (solicitude e elogios dos pais, dos colegas ou dos adultos), experiências agradáveis que tenham vivido (viagens, férias, actividades pessoais) ou competências em termos de conhecimentos ou de aptidões (determinado assunto ou destreza manual). Quando se trata de levar o aluno a adquirir uma atitude oposta a uma outra já adquirida (por exemplo, levar alguém que detesta a escola a gostar de ler), é preciso muitas vezes ir até às causas originais da situação já existente, caso contrário, corre~se o risco de fracassar sem saber por quê. Em casos assim, talvez possa ser útil recordar que nunca se desenvolve uma atitude mesmo que inadequada sem que haja uma razão para tal e que, às vezes, essa atitude vem preencher uma função importante na personalidade do aluno (proteger a sua autoconfiança, por exemplo, fechando~se ao contacto com os outros). É o que acontece sobretudo quando as consequências imediatamente previsíveis da aquisição duma atitude pelo aluno são fonte de insegurança (ter sucesso em aprendizagens difíceis, iniciar aulas com novas orientações, desenvolver hábitos que se vêm opor ao estatuto já adquirido na turma, defender ideias ou valores novos ou até opostos aos seus). Há que ter cuidado e ir avançando devagarinho, compensando os inconvenientes com as vantagens conseguidas noutros aspectos da situação (manifestações públicas de apreço, 158
ENSINO DE ATITUDES
solicitude de pais e colegas). É necessário que o aluno perceba que a atitude adquirida é boa para ele, aqui e agora (estádio convencional da consciência moral) e, consequentemente, a nossa intervenção deve adaptar~se às características do aluno, estar de acordo com a sua idade e evolução (para uma síntese destas características, em alunos do l' ciclo e do préescolar, ver MEO, 1988:115117). 2. Basear a sua pedagogia nas necessidades do aluno Quando falamos, quer de necessidade quer de significado pessoal ou de ponto fundamental, estamos a referir~nos à mesma realidade, a um princípio importante da aprendizagem de atitudes: o aluno aprende uma atitude mais facilmente e em menos tempo, se quem ensina dedicar primeiro algum tempo e trabalho a demonstrar~lhe o significado e consequencias pessoais dessa aprendizagem. O aluno dará mais crédito a esta demonstração se o educador der oportunidade a que sejam antecipadas as consequências positivas da aprendizagem em causa, arriscando~se a ter de recorrer às três necessidades mais directamente ligadas à aprendizagem em geral e à aprendizagem duma atitude em particular: necessidade de conhecer, de compreender e de solucionar problemas do meio, necessidade de auto~estima e necessidade de aprovação e afecto. Numa palavra, é preciso que o aluno se afirme, se associe e aprenda. Tendo em conta tais dinamismos, há que tentar fazer da aprendizagem uma fonte de sentimentos e emoções agradáveis passando, a pouco e pouco, dos reforços e recompensas materiais e palpáveis para as recompensas sociais (solicitude, aprovação, feed~back dos adultos e colegas) para chegar, finalmente, às recompensas intrínsecas (satisfação pelo sucesso, depois pelo dever cumprido, realização
pessoal). Este percurso exige realismo e uma planificação rigorosa, tanto mais que o aluno parte duma situação muito frágil na escala de motivações apresentada anteriormente. Em certos casos, só uma intervenção formal e bem planificada pode ajudar a realizar esta evolução. É tão fácil levar um aluno já motivado a adoptar uma atitude como é difícil conseguilo com alunos que detestam o esforço, o trabalho repetitivo, os indispensáveis exercícios. 159
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É, pois, necessário, logo de início, demonstrar a utilidade que há em adquirir determinada atitude, relacionála com as experiências já vividas, integrála nas necessidades concretas ou potenciais do aluno, actuar de modo a que se torne desejada, pretendida como resposta a uma necessidade claramente identificada (por exemplo, aumentar a rapidez de leitura a fim de receber elogios dos pais, todas as tardes, por ocasião do exercício ver Routhier, 1987). 3. Manter a atenção, variando os estímulos A aprendizagem duma atitude supõe um processo contínuo e exige exercícios ou actuações repetidas e, por vezes, fastidiosas, Quem ensina tem de revelar imaginação, variando situações de aprendizagem, exercícios, comportamentos, modificando os estímulos, quanto mais não seja para manter a um nível razoável a atenção
ou a participação do aluno. A nível pedagógico, tratase de variar técnicas de ensino, processo que utilizamos no decurso da aprendizagem. 4. Levar a sentir emoções positivas Uma das condições favoráveis à aprendizagem de qualquer atitude é, evidentemente, a presença de emoções, de sentimentos intimamente associados aos objectos que funcionam como alvos a atingir. Deve dedicar~se especial atenção a este aspecto, até porque num processo de aprendizagem a longo prazo é frequente o risco e desencadear emoções indesejáveis. Nesta perspectiva, tanto se pode recorrer a novos conhecimentos como aos comportamentos; mais do que as palavras, eles são fonte de emoções sobretudo para os jovens. A experiência do sucesso (com ou sem atribuição de notas nas fichas de informação) é uma das técnicas eficazes para despertar a satisfação do aluno. O sucesso produz efeitos ainda mais notáveis se resultar dum esforço contínuo ao longo de etapas bem planificadas ou se coroar uma actividade que justifique esse esforço perante o aluno. o mesmo se passa com a criação dum clima afectuoso, aliado a posições exigentes ou expectativas ambiciosas por parte dos responsáveis. 160
%SR. lI
ENSINO DE ATITUDES
Recorde~se que mudar é sempre fonte de ansiedade para qualquer pessoa; assim, também, a aprendizagem duma atitude é uma modificação susceptível de originar muita ansiedade. Para repor o sentimento de segurança, quem ensina poderá, com vantagem, recorrer a qualquer dos métodos concebidos para este efeito, como a discussão em grupo (Blanchard, Laville, 1982) ou a relaxação. 5. Levar a tomar consciência da competência adquirida No final de cada fase importante do percurso de aprendizagem duma atitude é necessário que o aluno saiba que o ensino foi eficaz, tome consciência da sua nova competência e isto, tanto quanto possível, à luz de critérios externos. Muitas vezes, é esta a ocasião adequada para fazer com que o aluno sinta enorme satisfação e emoções positivas; é, ao mesmo tempo, uma maneira eficaz de consolidar a nova atitude. Ora, esta consciencialização realizase, sobretudo, através da interacção com professores, pais e colegas (De Ketele, 1986:202). Há que prever e estruturar esta consciencialização da competência, organizá~la de modo a que todos os alunos possam verificar até que ponto adquiriram a atitude e atingiram o nível de interiorização desejado. Porque a aquisição de competências e autoconfiança andam geralmente a par. Além disso, uma vez adquiridas, produzem efeitos benéficos na aprendizagem seguinte, sejam quais forem os esforços exigidos. Vários educadores julgam que o sucesso nos estudos constitui, para os alunos, a recompensa por excelência, o salário do esforço. Segundo este ponto de vista, se todos os alunos obtivessem sucesso nos exercícios de aprendizagem, necessariamente se revelariam motivados e com gosto pelos estudos. Aliás, a elevada taxa de sucesso exigida no ensino programado é uma consequência deste princípio: se o aluno tiver sucesso na maior parte das tarefas escalonadas que o programa impõe, há muitas probabilidades de que este
estímulo o leve a perseverar na aprendizagem. Esta maneira de encarar as coisas tem o seu fundamento, até porque muitas vezes é confirmada pela experiência pessoal dos educadores: Eu, que hoje sou professora, sempre gostei mais e preparei melhor as disciplinas em que era boa 161 COMO ENSINAR ATITUDES
aluna e sempre detestei aquelas em que não obtinha sucesso ou em que só conseguia resultados mais fracos. Contudo, se é verdade que o sucesso é muito importante para alguns alunos geralmente os melhores, mais dotados, mais bem preparados é também verdade que há alunos que lhe atribuem pouco valor, ou o consideram, até, um valor negativo. A situação seguinte representa, talvez, melhor a realidade: há alunos que aprenderam a considerar o sucesso como uma recompensa, outros que aprenderam a encarálo como algo de neutro ou, até, como algo a evitar. De facto, em algumas turmas o sucesso pode dar origem a sarcasmos por parte doutros colegas; pode prejudicar a integrarão do jovem no seu gang, fora da escola. Em resumo, quem ensina não deve considerar como dado adquirido a ideia de que todos os alunos gostam do sucesso pelo sucesso ou de que a satisfação pessoal constitui o salário dos seus esforços. 6. Recompensar pelos resultados obtidos Um dos princípios, ou melhor, uma lei quase universal da aprendizagem é a do reforço (Lysakowski, Walberg, 198 1): recompensar o aluno que consegue aprender uma atitude faz aumentar as probabilidades de melhoria da sua aprendizagem, qualquer que seja o tipo de recompensa, material ou social, externa ou interna. Há, contudo, que reconhecer que, regra geral, com alunos mais
velhos, produzem mais efeito as recompensas sociais ou internas (Caron, 1987). De facto, o sucesso e o encorajamento dos pais, professores, colegas ou do meio (escola, por exemplo), assim como o sucesso e satisfação pessoal, são os reforços mais eficazes, Porém, como já se disse antes, só actuam quando a evolução dos dinamismos da motivação o permite. Por outras palavras, para certos alunos, o recurso a reforços materiais continua a ser uma necessidade e prérequisito para as outras formas de reforço. Uma vez que se trata especialmente de atitudes, utilizar uma estratégia que não recorresse a recompensas, sobretudo sociais (elogios, interesse ou sucesso), estaria provavelmente em discordância (seria inconsequente) com o conteúdo da aprendizagem; haveria oposição entre o conteúdo veiculado por quem ensina e o conteúdo 162
,as, ENSINO DE ATITUDES
formal ensinado, isto é, a atitude apresentada no plano de actividades ou prevista na preparação dos intervenientes. Seria o caso, por exemplo, do professor que quisesse levar os seus alunos a desenvolver a capacidade de aceitação dos outros, mesmo quando diferentes, e que, ao mesmo tempo, recusasse dedicar a atenção necessária a determinadas crianças, esquecendo~se de adaptar a sua pedagogia especialmente àqueles que revelassem motivações diferentes das suas. Em resumo:
Quem ensina, ao querer intervir junto dos alunos no sentido de modificar as suas atitudes ou fazer com que adquiram atitudes novas tem de ter em consideração as já adquiridas e as necessidades imediatas, variar as técnicas e métodos pedagógicos, fazer com que os alunos passem por experiências tão ricas quanto possível, por em evidência as competências adquiridas e, finalmente, associar elementos de reforço aos sucessos alcançados (ver quadros 7.1 e 7.3)
163 Abordagens integradoras Numa actividade de ensino ou numa intervenção de formação sobre um conteúdo afectivo, como no caso das atitudes, parece ser @Z altamente desejável utilizar uma abordagem pedagógica que tenha em conta as seis estratégias e os seis princípios descritos nos parágrafos anteriores. Resta definir como organizar esses princípios; resta determinar como fazê~los intervir na prática aquando da acção concreta. Noutra perspectiva, tratase de generalizar os dois exemplos já apresentados no capítulo 4 ou de analisar em pormenor as abordagens pedagógicas capazes de integrar as prescrições mais pertinentes, conforme as circunstâncias. Apresentamos nas páginas seguintes o esboço de três dessas abordagens: primeiro, a abordagem que se inspira directamente nas três componentes da atitude e do percurso de interiorização do aluno; depois, a abordagem que toma em consideração as principais fases de qualquer intervenção pedagógica; finalmente, a abordagem que trata dos dinamismos da
metacognição. 4. 1. Abordagem inspirada na interiorização A aprendizagem duma atitude faz~se de forma gradual, adoptando uma progressão hierárquica. Foi o que explicámos no capítulo 5, ao tratar da taxonomia dos objectivos pedagógicos relacionados com o domínio afectivo. A abordagem pedagógica terá, pois, mais probabilidades de favorecer as mudanças afectavas se estiver em conformidade com as exigências diferenciadas dos diversos níveis da sua aquisição. Será tanto melhor quanto possibilitar a adaptação das estratégias, métodos e técnicas, a determinada situação de recepção, resposta ou valorização. Isto significa concretamente que não deve mos proceder da mesma maneira se quisermos orientar para o respeito pelas ideias dos outros um aluno já inserido num grupo de contactos interculturais e um outro aluno que vive num meio fechado e que nunca conviveu com outras pessoas, além dos familiares mais próximos. O ideal seria que esta adaptação e diferenciação do ensino (Legrand, 1983) estivesse ao alcance de todos os alunos o ensino deve ser individualizado. Na realidade, tal diferenciação fazse sobretudo a nível de grupos, tendo em conta, tanto quanto possível, as diferenças individuais mais acentuadas. Preferimos, então, em vez de individualizado, chamar~lhe ensino personalizado. 164
Y4 ENSINO DE ATITUDES
Quadro 7.1 Relação entre a Interiorização de uma atitude e o ensino da mesma"' Nível da actividade Que faz o aluno RECEPÇÃO experimenta emoções e sentimentos agradáveis O aluno mostrase consegue informações sensível à atitude reage às informações, recorre à simulação, à linguagem gestual
RESPOSTA vive experiências reais vive emoções e sentimentos O aluno retirados da sua experiência experimenta a pessoal atitude aperfeiçoa as informações sobre a sua experiência pessoal
VALORIZAÇÃO esclarece as razões e circunstâncias da sua atitude O aluno aperfeiçoa experimenta a importância e mantém a prática pessoal da sua atitude da atitude servese de múltiplos locais e ocasiões para praticar a atitude (1) Inspirado em MEO, 1988, pág. 81
Que faz quem ensina faz reviver experiências anteriores relacionadas com a atitude desperta curiosidade, motivação, emoções orienta a atenção para a informação verdadeiramente importante fornece informação ou orienta a sua exploração leva a falar, simular, agir, ver, sentir, para melhor receber
faz surgir variadas e nume rosas experiências, fonte de satisfação e segurança ajuda a revelar, analisar e avaliar experiências pessoais e a retirar daí informações
ajuda o aluno a reflectir sobre os dinamismos da sua experiência pessoal cria ocasiões de confirmação das convicções orienta as energias para novas acções de acordo com a atitude
165 COMO ENSINAR ATITUDES
Numa abordagem hierarquizada e personalizada, quem ensina escolhe estratégias, métodos e técnicas que correspondam, tanto quanto possível, à situação evolutiva da maioria dos alunos. Faz esta escolha tendo, também, em conta, se possível, a situação de aprendizagem dos subgrupos de alunos no continuem de interiorização (MEO, 1988:73~81). Contudo, esta adaptação da abordagem pedagógica só se fará de maneira clara se, antecipadamente, se conhecer a posição dos alunos em relação à atitude a alcançar. Para tal, ajuda bastante recorrer a uma taxonomia do domínio afectivo. Uma vez determinada a posição dos alunos, pode proceder~se à adaptação da abordagem pedagógica. O quadro 7.1 ilustra este princípio ao apresentar, a título de sugestão, várias alternativas adaptadas a cada fase de interiorização duma atitude. 4.2. Abordagem inspirada nas fases de intervenção Uma maneira relativamente simples de integrar as prescrições das seis regras de acção e das seis estratégias (ver os parágrafos anteriores), e até mesmo as da taxonomia do domínio afectivo (ver principalmente o capítulo 5), consiste em analisar o desenvolvimento das intervenções na aula. Eis, pois, uma abordagem concebida à base dos três momentos de qualquer actividade pedagógica, ou seja, início, meio e fim. Cada um destes momentos (designado fase, na abordagem de Gagné) é examinado tendo em consideração, principalmente, os conteúdos efectivos que, porventura, se relacionem com ele (ver quadro 7.2, inspirado em Wloclkowski, 1985). 1 Assim, no início da actividade, quando o aluno começa a aprender uma atitude, é altura de explorar as atitudes já adquiridas
por ele e de dirigir as técnicas de intervenção apenas às necessidades verdadeiramente sentidas pelo aluno. Quando este se encontra já em pleno processo de aprendizagem duma atitude, é a ocasião própria para agir sobre o modo como a percepciona, variando os estímulos e fazendoo passar por experiências capazes de lhe provocar emoções adequadas. Quando o aluno termina a actividade de aprendizagem e atinge os objectivos previstos, é a altura oportuna 166 ENSINO DE ATITUDES
para o ajudar a tomar consciência mediante feed~back, sobretudo da competência adquirida e de o recompensar pelos resultados obtidos. O mais importante, no que acabamos de dizer, é que todas as fases da sequência de aprendizagem (sobretudo quando a intervenção é longa e comporta elementos repetitivos, até mesmo fastidiosos) tenham em conta os dinamismos gerados pelas atitudes e suas consequências na aprendizagem. Trata~se, em suma, dum ponto de vista segundo o qual as atitudes, em contexto de ensino e de aprendizagem, são encaradas enquanto suporte da aprendizagem dum conteúdo, sendo este conteúdo, em si mesmo, uma atitude (distinção já estabelecido no primeiro capítulo). O quadro 7.2 resume as seis regras de actuação apresentadas antes e esclarece a sua aplicação, numa intervenção em que põem em evidência as três fases. Tais regras e fases são, aliás, aplicadas num exemplo sobre uma atitude de aceitação de ideias diferentes, atitude que pode eventualmente fazer parte da disciplina de formação pessoal e social do início do 2' ciclo do ensino básico ou da disciplina de geografia humana. Se alargarmos esta abordagem, inserindo nela as condições
de aprendizagem, geralmente apresentadas em determinados processos de ensino de que já conhecemos a eficácia (Gagné, 1985, 1985; Brien, 1981; StYves, 1982), e se a transformarmos ligeiramente, a fim de ficar apta a receber um conteúdo essencialmente afectivo (uma atitude a ensinar), os três momentos apresentados no quadro 7.2 ficam enriquecidos e transformam~se nas três fases apresentadas sinteticamente no quadro 7.3, ou seja, motivação (início), aquisição (meio) e resultados obtidos (fim). A atitude a ensinar será, por exemplo, a aceitação do doente por parte de futuras enfermeiras que se preparam para trabalhar com crianças. 4.3. Abordagem inspirada nos princípios da metacognição Quer o investigador se ocupe de metacognição (Baird, White, 1984) ou de autoavaliação formadora (Nunziati, 1988), há uma coisa 167 COMO ENSINAR ATITUDES
que parece cada vez mais evidente nesta área de ensino: a aprendizagem melhora quando o aluno, mais do que o educador, assume o controlo e responsabilidade da própria aprendizagem. O que implica que o aluno possa aprender (uma atitude, por exemplo), que possa, e até deva, avaliar a própria aprendizagem e tomar decisões relacionadas com ela. Quanto mais o educador trabalhar neste sentido mais rapidamente o aluno aprenderá a atitude. Este princípio traduzse concretamente numa abordagem pedagógica cujas estratégias e métodos fazem com que o aluno possa mais facilmente: 1. Melhorar a compreensão da atitude que aprende;
2. Aumentar a consciência que tem das atitudes que já possui e das necessidades, neste campo; 3. Aumentar a compreensão das relações existentes entre as tarefas que cumpre e os resultados alcançados; 4. Tomar decisões quanto às tarefas a cumprir, e perceber o impacto e alcance das suas decisões; 5. Revelar~se motivado para a aprendizagem da atitude; 6. Aplicar critérios explícitos e pertinentes em relação à aquisição da atitude; 7. Diagnosticar dificuldades e pontos fracos na aprendizagem da atitude, na planificação do seu tempo e das suas actividades e corrigir essas dificuldades e pontos fracos (adaptado de Baird e White, 1984: 8 e 9). Na sequência destas afirmações, não podemos deixar de recordar novamente o capítulo 5 ou os parágrafos precedentes, e reconhecer que os fundamentos teóricos aí descritos são bastante simples e explícitos para que qualquer aluno os compreenda e aplique. Isto é verdade, em especial no que se refere aos níveis da taxonomia do domínio afectivo de Krathwohl e às estratégias de ensino.
168 ENSINO DE ATITUDES
Quadro 7.2 Seis questões que ajudam a integrar no ensino as preocupações pelo domínio afectivo
Objectivo global (primário, formação pessoal e social): `Desenvolver a capacidade de fazer opções esclarecidos e responsáveis, apoiandose num processo contínuo que radique no respeito pela vida". Objectivo específico: perante determinada opinião pública sobre doenças sexualmente transmissíveis, ou sobre problemas parecidos, o aluno deverá adquirir o hábito de se informar antes de se pronunciar, Aspecto afectivo Momento Métodos ou técnicas considerado ideal correspondentes 1. Que atitudes do No Relacionar o problema com aluno favorecem início o sentido de justiça do esta nova aluno. atitude? Assegurar um contexto de sucesso com critérios explícitos. 2. Como satisfazer o No Relacionar a aprendizagem melhor possível início com as experiências as necessidades pessoais. do aluno? Reduzir ao mínimo a ansiedade na aula. 3. Como estimular o Durante Levar cada aluno a aluno para esta participar. estratégia? Variar as estratégias de ensino. Favorecera verbalização.
4. Quais as Durante Recorrer às interacções em experiências que grupo e às tomadas de favorecem a posição em público. presença de emoções positivas? 5. O aluno está No final Avaliar sistematicamente os informado sobre resultados obtidos.
a sua nova competência?
6. Que recompensa No final Realçar o sucesso colectivo retira daqui o ou individual. aluno? Processos de ensino ou de aprendizagem Passar parte dum filme em que alguém é tratado injustamente por um grupo mal esclarecido. Revelar o objectivo da actividade: quando, onde e como esclarecerse. Enumerar experiências pessoais de injustiça em que existiu ignorância. Explicar o que há para aprender e como isso será avaliado. Primeiro em grupos de 3 ou 4 define~se onde e como documentar determinada situação. No grupoturma retomase o mesmo processo com outra situação. Trabalho de grupo sistemático com apreciação da participação de cada um. Cada aluno escreve a sua posição pessoal face a determinado caso. É apresentado um caso para avaliar e cada aluno tem de pôr por escrito o local e circunstâncias em que se deu. A correcção é feita em grupo mediante a apresentação dum trabalho. O melhor trabalho de grupo é distinguido na aula e publicado no jornal da escola.
169 COMO ENSINAR ATITUDES
quadro 7.3 Processo de ensinoaprendizagem de uma atitude numa intervenção estruturada em três tempos Objectivo da actividade: Depois de terem assistido à sequência filmada de exemplos de interacção, as estudantes de enfermagem terão adquirido a capacidade de emitir pareceres sobre comportamentos adequados ou não com as crianças, atribuir~lhes um valor e verbalizar os seus futuros comportamentos de aceitação dos jovens. 1. FASE DE MOTIVAÇÃO a) Dizer às estudantes que aprenderão a interagir correctamente com os jovens (com o tempo). b) Mostrar a necessidade de aceitação dos doentes. c) Levar as estudantes a concentrarse nos comportamentos importantes da relação com as crianças doentes. formação de expectativas atenção e percepção selectiva (regras 1 e 2 apresentadas anteriormente) 2. FASE DE AQUISIÇÃO a) Apresentação de comportamentos importantes, exigências, primeiros passos necessários, observação
de demonstrações práticas. b) Troca de ideias em grupo sobre pareceres emitidos, erros cometidos, sucessos alcançados.... c) Realçar em grupo os pareceres adequados. d) Tomada de posição pessoal, em público, de cada estudante sobre o comportamento a assumir. + modificação dos conhecimentos memorizarão das emoções e dos conhecimentos (regras 3 e 4 apresentadas anteriormente) 170 ATITUDE EM FASE DE AqUISIÇÃO
reforço resposta transferência ajustamentos e recuos (regras 5 e 6 apresentadas anteriormente)
d) Atribuir valor numérico ou outro resultado obtido.
c) Regresso às etapas intermédios ou à etapa final da aptidão. b) Exercícios mais neutros e complexos sobre temas desconhecidos com o objectivo de mostrar a aptidão adquirida. a) Exercícios individuais ajuizando sobre comportamentos assumidos por alunas do grupo (emoções, aptidões). 3 FASE DE RESULTADOS ENSINO DE ATITUDES */* Contudo, dado que estamos mais familiarizados com o conceito e a prática da avaliação do que com o conceito e a prática da metacognição, continuaremos, pois, pelo menos indirectamente, a análise da presente abordagem pedagógica, tratando da avaliação, mais precisamente da avaliação formativa no ensinoaprendizagem duma atitude.
171 Avaliação do ensino de uma atitude Medir e avaliar (veremos isso mais em pormenor nos capítulos 8 e 9) não têm como únicos objectivos verificar o que se aprende processo e produto final , atribuir resultados aos alunos ou apreciar o modo como dominam os conteúdos ensinados. De facto, são processos que se aplicam de igual modo a tudo aquilo que contribui
para a produção desses resultados. As considerações aqui apresentadas partem do princípio de que quem ensina deve planificar e realizar actividades de ensino eficazes que correspondam às necessidades dos alunos, ao seu percurso através da interiorização de atitudes que os levem, verdadeiramente, a dar mais um passo na direcção desejada e desejável. Os alunos devem, além disso, ajuizar das suas próprias aprendizagens e tomar as decisões pessoais correspondentes. Para tal são necessárias algumas informações: Qual a reacção mais provável dos jovens face a determinado conteúdo afectivo, atitude, comportamento ou grupo de pes soas? Qual a sua reacção em relação a quem ensina? Qual a sua ati tude quanto ao modo de actuar com eles, de estar presente no seu grupo, por parte de quem ensina? Se alguém vier dar o seu testemunho, que acontecerá? Como reagem os jovens perante determinado tipo de argu mentação ou conteúdo? Compreendem o verdadeiro sentido e implicações do que se lhes propõe? Dispõem de pré~requi sitos para compreender o seu significado? Em que estado de desenvolvimento da consciência moral se encontram? Estão interessados num discurso deste tipo? Por que razão participam numas actividades e abandonam outras? Na sequência de determinada actividade terão melhorado de atitude ou, dum modo geral, ficado pior do que estavam antes? 172 ENSINO DE ATITUDES
Mostram interesse por determinado modelo?
Há actividades de recepção, resposta ou valorização, capazes de os interessar? Num contexto destes, as questões são evidentemente muito numerosas. Ao medir e avaliar pretendesse dar resposta a algumas delas, em especial às que se relacionam com a qualidade das actividades e às que procuram verificar os resultados produzidos por essas mesmas actividades. Nos parágrafos seguintes abordaremos, pois, em primeiro lugar e sucintamente, a apreciação das actividades, embora voltemos a este assunto nos capítulos oito e nove. 5. 1. Avaliação da preparação imediata já vimos que não basta elaborar, minuciosamente, um plano de conjunto das actividades. É preciso, além disso, haver empenho na preparação imediata de cada actividade, de cada intervenção junto dos grupos de alunos; sem isso, corre~se o risco de comprometer a obtenção dos resultados pretendidos. Poderia repetir~se, como eco do que se disse em relação à preparação das aulas a que estamos habituados, que o ensino duma atitude será o que tiver sido a sua preparação. No domínio afectivo surge, além disso, uma dificuldade especial: a planificação deve apelar ao maior número de factores e a aspectos menos conhecidos das reacções da pessoa em situação de aprendizagem. Vários dos aspectos tratados anteriormente são retomados na grelha de apreciação apresentada no quadro 6.4. Acrescentaram~se, ainda, algumas considerações a pensar em docentes que queiram levar mais longe a problematização do seu plano de actividade. É importante lembrar que esta grelha de apreciação não obriga a aplicar todos os critérios enumerados; limita~se a recordá~los, a fim de que o educador decida servirse deles da maneira que lhe parecer mais adequada às condições em que se encontra. Com a ideia bem
clara de que o que é bom em determinadas circunstâncias pode revelarse desastroso noutras. 173 COMO ENSINAR ATITUDES
5.2. Avaliação do processo O responsável pelas actividades encontrará resposta para várias das questões apresentadas anteriormente, observando e questionando os seus alunos e verificando os resultados obtidos através das suas actividades. Fixando critérios simples e claros antes de iniciar as actividades, poderá julgálas uma vez realizadas. Na prática, é no momento de preparar a actividade, de descrever o seu desenvolvimento, que deve encontrar uma resposta explícita, preto no branco, às duas questões seguintes: oue se passa durante a actividade? Que fazem os alunos no decurso duma actividade bem sucedida? É inútil falar de avaliação das actividades de ensino duma atítude se não se cumprir esta fase. Pelo contrário se, desde logo, se se puder dispor de critérios, a avaliação tornar~se~à quase automática, natural e espontânea. Esta a razão por que, em qualquer plano de actividade deste gênero, se reserva sempre uma secção para os indicadores de qualidade e para os níveis de competência.
174
Conclusão No ensino duma atitude aplicam~se várias estratégias pedagógicas: imposição, condicionamento, informação, ensino mediatizado, aprendizagem por modelos e experiência pessoal, entre outras. Existem, também, várias regras de actuação. Uma das dificuldades é integrá~las na intervenção pedagógica. As três abordagens inspiradas respectivamente na taxonomia do domínio afectivo, nas três fases de ensino e na metacognição, constituem hipóteses válidas, tanto mais que já deram provas disso no domínio cognitivo; resta, agora, trabalhá~las de modo a torná~las aptas ao ensino de atitudes. O recurso a uma planificação imediata tem a vantagem de contribuir para o aperfeiçoamento progressivo da intervenção, dadas as posições explícitas e até escritas que os educadores são obrigados a assumir, não somente no que respeita ao conteúdo do que ensinam, mas também quanto ao modo de realizar esse ensino. Comporta, porém, uma séria dificuldade, isto é, exige muito tempo e recursos. Portanto, só muito gradualmente, talvez só depois de alguns anos, é que os educadores, mesmo os mais bem intencionados, poderão retirar desta estratégia todos os benefícios.
175 AVALIAção FORMATIVA
Introdução Estaremos lembrados que o quarto e último nível do modelo de planificação por dedução~indução (apresentado no capítulo 5) contém as expectativas mais específicas a que chamámos tarefas particulares. Quem ensina espera geralmente que o aluno manifeste, por palavras ou acções, as modificações ocorridas nas suas atitudes. São estas manifestações que tornam possível observar (e, portanto, medir) experiências vividas e resultados obtidos na sequência duma intervenção; servem para esclarecer qualquer tomada de decisão relativa ao ensino ou à aprendizagem. É este aspecto da avaliação que, mais particularmente, nos vai interessar nas páginas seguintes. Neste capítulo abordaremos a avaliação exclusivamente no seu aspecto formativo; apresentaremos aplicações práticas da avaliação encarada nesta perspectiva. Iremos referir~nos, antes de mais, à distinção entre um contexto formativo e um contexto sumativo, em matéria de medida, de avaliação e decisão, antes de nos lançarmos no estudo pormenorizado do primeiro. Pela mesma razão, teremos em consideração as implicações da avaliação formativa no processo de decisão e, em especial, na escolha das estratégias e técnicas de medida e avaliação. Finalmente, tentaremos abordar o aspecto mais negligenciado da avaliação formativa, ou seja, esclarecer o processo de decisão do próprio aluno. Para tal, apresentaremos uma estratégia de avaliação da aprendizagem duma atitude que integra, num mesmo instrumento de simples interpretação, categorias da taxonomia do domínio afectivo e as três componentes da atitude.
178 Tomada de decisão Seja qual for o domínio de ensino ou de aprendizagem (cognitivo, psicomotor ou afectivo), qualquer processo de tomada de decisão se realiza de acordo com as seguintes quatro fases principais: 1. Exame do campo de decisão; 2. Recolha de informação; 3. Avaliação ou juízo; 4. Tomada de decisão e sua comunicação. A aplicação destas fases (descritas brevemente no quadro 8. 1) constitui provavelmente o meio mais seguro e simples de passar da definição dum problema pedagógico para a sua solução. Não nos surpreende, pois, encontrar este mesmo modelo em várias publicações sobre o assunto (TenBrinks, 1974:57~269). Neste processo, logo desde o inicio, aquando do exame do campo de decisão ou da própria possibilidade de decidir seja o que for, há que estabelecer uma clara distinção entre o que pode ser feito antes da intervenção, no decurso do ensino ou da aprendizados gem, e o que pode vir a acontecer no final do ensino ou da aprendizagem. Tanto mais que, conforme o caso, a decisão pode dizer respeito a objectos muito diferentes: estudo de pré~requisitos exigidos, passagem de feedback, organização de actividades de apoio ou de correcção, marcação de exercícios suplementares, passagem dum certificado ou classificação ou realização duma selecção.
A diversidade dos campos de decisão tem, necessariamente, repercussões na recolha de informações pertinentes. Num contexto formativo deve dar~se particular atenção ao pormenor das fases do processo e dos produtos da aprendizagem; convém pôr o aluno em condições de poder examinar e analisar o seu modo de aprender, o modo como integra as mudanças, sem negligenciar, porém, os resultados. Pelo contrário, num contexto sumativo, a nossa atenção concentra~se mais no resultado final dum conjunto ou subconjunto de 179
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ik COMO ENSINAR ATITUDES
actividades. Os critérios de avaliação, mais internos em contexto formativo e mais externos em contexto sumativo variam também em número e qualidade. Basta pensar no critério impacto da decisão que, só,por si, pode alterar muita coisa. De facto, as consequências da acção diferem consideravelmente conforme nos situamos num contexto formativo ou num contexto sumativo. Se examinarmos, além disso, a função desempenhada pelo processo de decisão, impõe~se~nos a mesma conclusão: é diferente, conforme o campo de decisão. As três situações seguintes mostram bem estas distinções de função. Se se trata de informar quem ensina sobre o modo como os alunos vivem a sua aprendizagem, como reagem ao próprio percurso e
evolução, como adquirem os conteúdos, atingindo os objectivos previstos, estamos, então, em plena função formativa clássica. Esta baseia~se directamente na pedagogia e nas decisões tomadas na aula pelo responsável pelo processo colectivo de aprendizagem. Traduzse concretamente numa acção reguladora dos processos de ensino. É assim, a via obrigatória duma verdadeira pedagogia diferenciada (Legrand, 1983:16). Se se trata de elucidar o aluno sobre aquilo que ele é e sobre aquilo em que se tornará, tendo em vista as atitudes que pretende adquirir, ou que pretendemos que ele adquira, sobre as mudanças afectavas que conseguiu ou está em vias de conseguir, estamos na área da função formativa que corresponde directamente à aprendizagem. Esta função, muitas vezes esquecida nas aulas, reveste~se de grande importância na aprendizagem de atitudes, até porque diz directamente respeito ao próprio aluno; tem, pois, relação imediata com o principal factor das mudanças previstas (Bonniol, 1981; Baird e White, 1984), com a adesão do aluno ao processo de mudança (Bodin, 1986).
180 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Ouadro 8.1 Processo de tomada de decisão em ensino e em aprendizagem Fase Descrição EXAME DO CAMPO DE Enumerar as possíveis decisões de acordo com o DECISÃO contexto.
Ter em consideração a natureza e gênero de in formações necessárias e as fontes disponíveis.
RECOLHA DE INFORMAÇÃO Recolher informações, quer através da observa ção quer através de questionários e portanto... Medir: atribuir às manifestações de atitudes, por parte dos alunos, símbolos numéricos ou alfabéticos, em conformidade com regras estabelecidos (Morissette, 1984:cap. 1). Estudar a informação recolhida e organizála com vista à interpretação.
AVALIAÇÃO OU JUfZO
TOMADA DE DECISÃO E SUA COMUNICAÇÃO Explicitar os critérios internos ou externos utilizados para avaliar a informação já recolhida e as decisões possíveis. Pronunciarse sobre a situação do aluno, tendo em conta os resultados da medição e diversas considerações.
Estudar as acções possíveis e escolher a acção a empreender, a atitude a tomar, o conselho ou nota a dar, conforme o contexto.
181 COMO ENSINAR ATITUDES
Em certos casos, trata~se de esclarecer quem ensina com vista a poder dar o seu parecer ou atribuir uma nota relacionada com o nível de aquisição dos conteúdos: é a função sumativa a intervir no decorrer ou no final dum dado período de estudos. Em relação ao domínio afectivo, esta função sumativa verificasse em particular no ensino tecnológico e nas escolas profissionais. Será tratada em pormenor no próximo capítulo. Outra maneira de abordar o processo de decisão pedagógica, de nos apercebermos da sua natureza e funções, consiste em distinguir os vários momentos em que se recorreu a ele, na intervenção pedagógica. Deste ponto de vista, surgem três possibilidades, todas igualmente importantes.
182 Momento da decisão Tomando boas decisões, quem ensina pode aumentar a pertinência
e eficácia da sua intervenção logo antes de a iniciar. É o que se passa, por exemplo, com a avaliação das potencialidades dos alunos e do caminho já percorrido na aquisição da atitude que pretendemos ensinar~lhes. Aplicando a taxonomia adequada o educador pode determinar a posição afectiva dos seus alunos (Archer, 1979). Feito isto, torna~se certamente mais fácil proceder aos consequentes ajustamentos dos recursos disponíveis e das condições de ensino. A qualidade desta informação inicial pode melhorar a qualidade da intervenção ou até dum conjunto de intervenções. No plano prático, deverá interrogar os alunos assim como as pessoas do meio, observar comportamentos dos alunos bem como características do meio em que estes actuam, de modo a que a planificação da sua acção apareça como consequencia de todo este trabalho. Em resumo, esta forma de avaliação parece~nos essencial desde o momento em que se pretende levar a cabo qualquer actividade educativa na aula e, muito rnais ainda, se se tratar do ensino duma atitude. Relativamente a esta avaliação prévia, já fornecemos várias indicações, assim como determinados instrumentos que permitem julgar da qualidade da própria planificação (ver grelha de apreciação apresentada no quadro 6.4). As técnicas que apresentamos neste capftulo vêm acrescentar~se às indicações já dadas sobre o modo de definir com precisão um conteúdo, conhecer a clientela e o meio, no ensino duma atitude; permitem analisar melhor a situação inicial, o nível de interiorização alcançado quanto às atitudes e aos objectivos pedagógicos preliminares e, no momento da planificação, tomar as decisões mais adequadas. Considerando, a seguir, o que se passa durante a actividade, é ainda graças à avaliação formativa, a uma espécie de controlo contínuo (Rupusseau, 1987:62~65, 90, 111, 112) seguido de decisões rápidas e a curto prazo que, quem ensina pode oferecer aos seus alunos um feedback pertinente. capaz de os ajudar. Pensamos que,
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dês te modo aprendem a retirar vantagens das potencialidades do seu processo pedagógico e a diminuir, a pouco e pouco, as suas deficiências. Quer se trate de estratégias, técnicas, métodos, conteúdos, motivações ou sequências de desenvolvimento, saberá dêspertar nos alunos reacções pessoais cada vez melhor adaptadas e eficazes. Uma avaliação que acompanhe a aprendizagem, feita ao mesmo tempo em que se está a viver o processo de mudança, leva a decisões mais adequadas, porque mais bem documentadas, mais ricas em aspectos variados, porque esclarecido por experiências anteriores e, sobretudo, pelos primeiros resultados observados. Duma intervenção para outra, os factores susceptíveis de favorecer a aprendizagem ajustam~se cada vez melhor entre si; as actividades de aprendizagem correspondem, cada vez mais, às necessidades dos jovens e podem chegar a dar frutos que ultrapassam, por vezes, as expectativas, em especial no domínio das atitudes. O aperfeiçoamento progressivo da qualidade das decisões relativas às intervenções pedagógicas e à responsabilidade dos alunos pela própria aprendizados gem constitui a principal função do processo de decisão. Finalmente, e em particular no que diz respeito às atitudes, devemos ter oportunidade de apreciar, no final, a importância da nossa acção pedagógica. Devemos avaliar as consequencias gerais, em termos de obtenção das finalidades ou das metas a atingir propostas pelo programa, e as consequências específicas em termos de tarefas realizadas pelos alunos, colectiva ou individualmente. Diga~se, a propósito, que o processo de decisão, sobretudo quando fundado em objectivos pedagógicos previamente definidos, torna este testemunho muito mais acessível. Precisa contudo, logo desde o início, duma explicitação dos critérios relativos aos resultados intermédios e terminais.
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É t Objectos da decisão Quando se encaram os objectivos do processo de tomada de decisão, isto é, os campos de acção a considerar, clarificar, medir e avaliar, verificasse que são numerosos e diversos. Há, logo à partida, a planificação das actividades de ensino no seu conjunto ou consideradas uma a uma. Há, também, as estratégias de ensino e outros tipos de acções que se passam na aula. Nestes dois casos, o fim em vista é tornar o ensino mais rigoroso, pertinente e eficaz. Há, sobretudo, como objecto de decisão, a qualidade e quantidade de aprendizagem a realizar pelos alunos. Neste caso, o que se pretende é
manter o esforço dos alunos e regular, sempre que possível individualmente, o que se passa na aula. Como objecto de decisão há, finalmente, a preparação e atribuição duma nota ou dum testemunho, individual ou institucional, tanto quanto possível esclarecedor sobre o estado da aprendizagem. Há quem fale, neste caso, de balanço das mudanças ou aquisições (MalgIaive, 1984). Examinemos com mais atenção este último aspecto. Em princípio, a avaliação do que se passa na aula, durante e após o ensino dum conteúdo cognitivo, psicomotor ou afectivo, incluindo neste o ensino de atitudes, deveria fazerse tendo em conta o principal critério admissivel, isto é, a medida das mudanças operadas no aluno em comparação com as mudanças que pretendíamos obter. No presente contexto trata~se, pois, de comparar as atitudes adquiridas em consequência das intervenções pedagógicas com as que, no plano, apareciam como atitudes a alcançar. De facto, quando se realiza uma acção pedagógica formalmente destinada à prossecução dum objectivo, julga~se o valor das decisões tomadas e da acção cumprida por aquilo que o aluno consegue realizar; reflectese em termos de aprendizagem ou de cumprimento de objectivos. Prosseguir a acção, repeti~la, transformála, aperfeiçoá~la, numa palavra, toda e qualquer decisão se conforma com o planeado previamente, tendo sempre em conta as limitações próprias deste tipo de intervenções. Esta orientação da informação, medida, avaliação e decisões, para a prossecução e obtenção dos 185 COMO ENSINAR ATITUDES
resultados antecipadamente previstos (objectivos pedagógicos) está na origem dos critérios e instrumentos de medida e avaliação. A clarificação obtida deste modo irá servir de base para julgar da pertinência e qualidade do método de ensino aplicado e dos meios
utilizados de preferência no decorrer do processo. Como posso ter a certeza que cumpro, inteiramente, o meu dever? Como vai o meu ensino? Tenho obtido bons resultados na minha acção pedagógica? Procedi bem ao tomar tal atitude ou ao organizar tal actividade? Terá sido adequada a maneira como conduzi aquela actividade? Etc. Quem ensina só poderá responder a estas questões se tiver em conta os objectivos a alcançar. Daí a necessidade de dispor de objectivos pedagógicos terminais ou intermédios. De facto, tais objectivos, uma vez que podem atingir o grau de especificidade pretendido, centrar~se no sujeito que aprende (aluno) e oferecer uma descrição rigorosa do conteúdo da aprendizagem e dos critérios de competência, constituem presentemente o pré~requisito mais importante para quem pretenda avaliar, ao mesmo tempo, o processo e o produto das intervenções de ensino. Por outro lado, também é verdade que o facto de medir e avaliar os processos de ensino e aprendizagem, à luz dos objectivos alcançados e de tomar as consequentes decisões, não dispensa um exame atento das diversas componentes do plano de conjunto das intervenções, dos meios à disposição para atingir os objectivos, bem como doutros factores que podem intervir no processo. As funções desempenhadas peio processo de decisão são múltiplas assim como os objectivos em causa. Estes objectos surgem ao nível dos objectivos que podemos decidir mudar ou modificar especialmente através duma regularão aberta e dinâmica que reajuste tanto a acção como os alvos a atingir (Malgiaive, 1984). Estes objectos de decisão surgem, também, ao nível dos meios escolhidos para obter os objectivos; tais meios devem corresponder aos objectivos a atingir e às dificuldades reais. Surgem, finalmente, ao nível da interacção com os próprios alunos que deve adaptar~se ao seu grau de aquisição da atitude. 186
Avaliação da aprendizagem de atitudes Vamos abordar agora um problema muito concreto: numa situação real, como medir e avaliar a aprendizagem de atitudes? já nos referimos a este ponto, anteriormente neste capítulo, ao afirmar que diferentes situações exigem tratamentos diferenciados e recurso a meios e técnicas específicas. Trataremos, agora, dos instrumentos de medida e avaliação que melhorse adaptam ao contexto formativo, contexto em que actuam o ensino e a aprendizagem, exigindo decisões imediatas e a curto prazo, tanto da parte de quem ensina como dos alunos. 5. 1. Critérios de avaliação Neste contexto há vários critérios à disposição que entram em linha de conta com motivações pessoais, valores e recursos disponíveis, limitações inerentes à situação de aprendizagem e de ensino. Tais critérios podem influenciar a medida, avaliação e decisão@ eis alguns deles: grau de mestria dos conhecimentos e aptidões relacionados com a atitude em fase de aprendizagem (critério considerado, com frequência, na aprendizagem cognitiva): verbalizar ideias importantes, temas abordados, repetir ou co mentar o que o educador disse. adoptar condutas ensinadas ou descritas; grau de satisfação dos alunos (critério que se exprime, muitas vezes, por reacções verbais): verbalizar um pequeno questionário escrito, dizer, perante os outros, o que se pensa sobre.... ter reacções de pessoa interessada, entusiasmar~se ou comoverse com uma participação; grau de percepção do programa realizado: falar ou escrever sobre o caminho percorrido,
187 COMO ENSINAR ATITUDES
falar, por se ter apercebido de tal, dos muitos ou poucos pro gressos realizados... assumir novos comportamentos, falar de coisas novas, fazer algo por razões diferentes das anteriores; aprovação ou desaprovação dos métodos usados: classificar, segundo uma escala, a satisfação ou... exprimir a sua satisfação ou... perante os outros participantes, agir como uma pessoa satisfeita (repetindo... ambiente e clima durante as actividades: classificar, segundo uma escala, o que pensa do clima, dar testemunho na aula ou noutro lado das experiências por que passou, agir como alguém que gosta do clima, do ambiente; satisfação de interesses durante as actividades: falar dos seus interesses durante as actividades, revelar, cá fora, o que achou interessante, agir como um aluno interessado (pôr questões), exigir actividades semelhantes; sucesso obtido nas actividades: conseguir coisas difíceis, previstas ou imprevistas. conseguir aquilo que se pretendia, levar muita gente a participar, despertar aplausos em público se.... captar pessoas alheias à actividade, incitar a realizações concretas, projectos,
188 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Outro modo de mostrar a diversidade dos pontos de verificação da aprendizagem duma atitude consiste em interessarse pelas diversas consequências dessa aprendizagem, quer sobre os conhecimentos e emoções quer sobre os comportamentos revelados pelo aluno (Payne, 1976:9698): dinheiro gasto pelo aluno com objectos ou actividades; comentários sobre objectos, actividades ou ideias; tempo dedicado às actividades; atenção dada a determinadaos estímulos; quantidade de informação retida sobre um objecto, activi dade ou ideia; tempo de reacção, de decisão, uma vez captado o objecto; expressão escrita (diário, carta, redacção, ... ) de ideias, convic ções ou pensamentos; situação ou posição sociométrica do aluno na turma: amigos, inimigos, colegas de trabalho ou de jogo, diferenças sociais; percepção ou interpretação de estímulos ambíguos, como fra ses incompletas ou desenhos que se prestem a confusão; níveis de actuação, como velocidade de leitura, capacidade de trabalho, rapidez na resolução de problemas; observações directas da atitude ou suas consequências nas interacções com os colegas; resultados obtidos em tarefas bem determinadas ou compor tamentos observados sem o aluno se aperceber; reacções fisiológicas observadas directamente (hesitações, faltas de jeito, rubor da face) ou com o auxílio de instrumentos apropriados (pressão arterial, ritmo cardíaco, por exemplo); coisas memorizadas rapidamente, numa breve passagem ou num quadro apenas entrevisto (na ideia de que a memória é, muitas vezes, selectiva); qualquer tipo de simulação.
5.2. Conselhos de carácter geral Antes de passar à apresentação das técnicas especiais de medida e avaliação da aprendizagem de atitudes, em situação de aula, 189 COMO ENSINAR ATITUDES
eis alguns conselhos úteis, sem dúvida, para quem queira documentar as suas decisões em contexto formativo. Regra geral, quem ensina deve, de preferência, diversificar a maneira de medir as manifestações duma mesma atitude. Umas vezes recorrerá ao que o aluno faz ou experimenta em si mesmo, outras vezes ao que ele diz, e isto, tanto na aula como fora dela. Servir~se~á tanto das declarações do aluno, como das dos pais ou colegas. Quanto mais claramente o professor exprimir o que deseja alcançar, tanto mais fácil se lhe tornará medir e avaliar a reali zação do que pretende. A medição assumirá, muitas vezes, a forma duma observação contínua que será tanto mais eficaz, pertinente e rigorosa quanto mais tecnicamente preparada for (Legrand, 1983:16). Quanto mais simples, pertinente e fácil de conceber, preparar e aplicar for o instrumento de medida escolhido, mais pro veito se poderá retirar dele, eventualmente. Mesmo não sendo científica e formal, a avaliação feita por uma pessoa ex periente contém, muitas vezes, informações úteis e válidas (Perrenoud, 1986:206). No caso de dificuldades de tempo ou de recursos, é preferível recolher informações parciais duma parte dos alunos (uma amostragem) do que não ter informações nenhumas; isto aplicase, em especial, às informações sobre a evolução de cada aluno e serve para ajustar as intervenções com o nível de aprendizagem atingido pelos alunos. A medição mais útil a quem ensina, aquando das actividades colectivas, é a do caminho percorrido pelos grupos, da eficácia
das técnicas e métodos de ensino e aprendizagem, da pertinên cia das actividades. A maior parte das vezes pede, pois, aos seus alunos que não assinem as folhas de resposta às ques tões, o que facilita a obtenção de respostas mais rigorosas. O sentido da realidade é, sem dúvida, um atributo importante na escolha de critérios e na avaliação dos resultados obtidos na aprendizagem de atitudes. 190 Técnicas de medir atitudes Os instrumentos de medida apresentados a seguir foram elaborados tendo em conta, antes de mais, a seguinte afirmação: Em geral, num contexto formativo, os instrumentos de medida ou recolha de informações, elaborados no local de trabalho por quem ensina, são preferíveis às técnicas de medida retira das directamente da psicologia. Felizmente que o educador dispõe, para esse efeito, de pontos de referência da máxima importância. Tratase, neste caso, das três componentes de qualquer atitude (cognitiva, comportamental e emotiva) e dos três primeiros níveis ou categorias de objectivos do domínio afectivo descritos, em pormenor, na taxonomia de Krathwohl e outros (1 984) (recepção, resposta e valorização) (MEO, 1985:136142). já explicámos essas componentes e categorias; vamos, agora, servirnos delas para conceber instrumentos de medida e avaliação. Quem ensina pode, pois, explorando principalmente as componentes duma atitude, medir o que os alunos sabem, fazem ou sentem relativamente a um objecto de atitude. Veremos, mais adiante, como explorar os níveis de interiorização. 6. 1. Componente cognitiva
A emoção que caracteriza qualquer atitude, como vimos no capítulo 2, não se desenvolve no aluno isoladamente. A sua aprendizagem ou mudança implica a aquisição de certo número de elementos cognitivos que lhe permitem dispor dum mínimo de informações de que necessita para entrar em contacto com a atitude a interiorizar. Quer se trate de explicações recebidas, de testemunhos ouvidos ou vistos, de exemplos retirados de filmes ou de experiências vividas, quem ensina pretende certificar~se de que os conhecimentos 191 COMO ENSINAR ATITUDES
contidos nestas mensagens foram realmente captados. O raciocínio que está na origem desta observação é o seguinte: se os alunos sentirem uma emoção positiva, relativamente a um objecto, é mais provável que retenham maior número de informações acerca dele e, sobretudo, que tomem posição em relação a essas informações do que se, apenas tivessem sentido indiferença a seu respeito. Para se informar dos conhecimentos adquiridos pelos alunos e da sua posição afectiva em relação a determinado objecto, quem ensina poderá convidá~los a responder, oralmente ou por escrito, a algumas questões de respostas previamente elaboradas ou de respostas de escolha múltipla deste gênero: No que expusemos anteriormente, quisemos apresentar~te a atitude... indica dois exemplos que tenham sido escolhidos para demonstrar essa ati tude. Indica duas coisas boas que aconteceram e que dependem, provavel mente, da atitude... Aponta dois exemplos retirados da vida dum jovem (ou dum adulto) que nos possam esclarecer sobre manifestações da atitude..
Nas circunstâncias... de que modo se comportaria um aluno que tivesse adquirido a atitude... ? No filme a que assististe, indica dois comportamentos assumidos por... que sejam um bom exemplo de manifestações da atitude... e outros dois comportamentos que revelem esta mesma atitude Que atitude tinha, provavelmente, adquirido a pessoa que, na história que te foi contada, fez ... ? Qual a provável razão de ter agido assim? ' Sendo~te apresentados, a titulo de exemplo, palavras ou comportamentos, diz que atitude parecem realçar, Esta semana, na cidade (ou na escola), o jovem... (um determinado) teve o seguinte comportamento... Na tua opi . ni . ao, que atitude o levou a assumir esse comportamento? Indica três elementos importantes a reter, depois de tudo o que acaba de ser ensinado. 192 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Uma coisa importante a reter é que... Apresenta duas razões que justifi quem esta importância. Que significa a palavra... a expressão... o facto... Um dos alunos adquiriu a atitude... indica três comportamentos que irá, provavelmente, adoptarfrequentemente, na aula, em casa,
A medida que o aluno avança no processo de interiorização duma atitude, é capaz de compreender melhor os objectos da atitude e de assumir posições mais firmes (convicções). As questões a que consegue dar resposta ou os problemas que consegue resolver, podem tornar~se mais complexos. Para quem ensina é, novamente, altura de propor ao aluno essas questões e problemas, oralmente ou por escrito, conforme o uso que se quiser dar às informações assim recolhidas. Também aqui as questões podem ser de respostas previamente elaboradas ou, então, de escolha múltipla. Indica duas razões que possam levar um jovem a desenvolver determinada atitude... Que relação existe entre o que se passou com o jovem... e o que se passou com a pessoa que lhe serviu de modelo? Por que razão fazer (ou deixar de fazer) tal coisa ... ? Que atitude social ou... se opõe a isso? ou Quais as duas consequências nefastas que da(podem advir? Que razão deveria motivar um bom aluno, um bom cidadão, a fazer de terminada coisa... e não outra ... ? Indica dois hábitos que tenhas alterado a partir... Como explicas esta mu dança? Qual a explicação moral ou... que justifica determinado comportamento ou atitude ... ? Indica três coisas novas que tenhas aprendido ou passado a compreender desde... relacionadas com determinada atitude... 193 COMO ENSINAR ATITUDES
Indica as razões que te levam, agora, a revelar interesse por determinada coisa... ou a fazer determinada coisa... Que princípio social ou moral ou... corresponde a determinada situação da vida... de que acabas de ter conhecimento?
6.2. Componente comportamental (conativa) Para se inteirar dos hábitos dos alunos, quem ensina dispõe, entre outras, de duas fontes de informação, quer se trate de hábitos já adquiridos ou do que fazem durante e, sobretudo, após as actividades de ensino duma atitude: observação (pessoal ou feita por outrem); questões postas a alunos, colegas, pais, etc. Podemos acrescentar ainda um método mais técnico, a escala de atitudes, geralmente usada para apreciar a emoção sentida por uma pessoa; será assunto para o capítulo 9. Para verificar comportamentos e hábitos dos alunos apresentamos a seguir duas listas de respostas de escolha múltipla, adaptadas à maior parte das questões e afirmações relacionadas com esta componente da atitude. Podem propor~se estas expressões ao próprio aluno, aos colegas, aos pais ou a outros educadores; não passam, evidentemente, de hipóteses que cada qual pode adaptar ao seu caso pessoal. Podemos, também, usá~las para estrbturar a expressão das nossas próprias opiniões, fazendo~lhes, sempre que isso se impuser, as necessárias modificações. 1. Nunca 2. Raramente 3. Muitas vezes 4. Sempre
194 1. Nunca faço 2. As vezes faço 3. Habitualmente faço AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES Quem ensina pode propor aos alunos uma série de comportamentos estáveis ou hábitos associados à atitude visada que estejam relacionados com estas escalas de respostas (ou com quaisquer outras semelhantes): Cuido, lá em casa, duma flor que plantei há já vários meses, e rego~a... Quando hesito na ortografia duma palavra, vou ver ao dicionário... con sulto a gramática... Ao reler os meus textos, procuro eliminar os verbos que se repetem muitas vezes... Ajudo os meus pais na lida diária... ou ajudo alunos na escola... ou ajudo os outros por ocasião de actividades de carácter social... ou... Participo em encontros de beneficência... ou faço parte de associações pol( ticas... Em casa, leio banda desenhada... romances... jogo com amigos de diferentes etnias... trabalho na aula com quem quer que seja... Participo em movimentos paroquiais como... Dedico algum tempo aos pobres da paróquia...
Na aula... ou aquando das actividades paraescolares... ouço o que se diz... estou com atenção... dou ideias... discuto... ouço a opinião dos outros... Explico aos outros por que razão acho importante esta ou aquela atitude... Convido colegas a participar comigo em...
Após ter recolhido as respostas dos alunos ou doutras pessoas e formulado as suas próprias observações, o responsável pode, então, proceder à compilação dos resultados. Das somas ou médias obtidas deduz tendências, pontos fortes ou fracos, sempre na base das acções dos alunos. A partir destas informações poderá, logo, ver 195 COMO ENSINAR ATITUDES
se precisa de fornecer algum feed~back, de clarificar o percurso colectivo ou individual dos alunos, de adaptar as actividades, de aperfeiçoar ou alterar as intervenções. 6.3. Componente afectava Para colher informações sobre os sentimentos ou emoções dos alunos, quem ensina pode usar, com sucesso, um questionário oral ou escrito, anónimo ou identificado, de respostas de escolha múltipla ou de respostas previamente elaboradas. Se ensina vários alunos é levado, geralmente, a recorrer a um questionário de respostas de escolha múltipla. Eis algumas séries de respostas que poderá utilizar: 1. Nada 1. Discordo completamente 2. Um pouco 2. Discordo 3. Bastante 3. Concordo
4. Muito 4. Concordo inteiramente 1. Grande insatisfação 1. Sem qualquer importância 2. Insatisfação 2. Importante 3. Satisfação 3. Muito importante 4. Grande satisfação 1. Grande aversão 2. Aversão 3. Atracção (amor) 4. Grande atracção (amor) Eis algumas questões ou situações possíveis, relativamente a estas respostas de escolha múltipla: Qual a tua opinião sobre os seguintes aspectos abordados durante... atitude abordada; ideias que a motivam; razões para a aprender ou manter; acções relacionadas com ela, apresentadas por..., 196 INFUNDI, AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Aquilo de que se falou tem aplicação na tua vida? O que sentiste na altura, agradou~te? Achaste correcta a forma de apresentar as coisas? Que importância atribuis a ... ?: hábito relacionado com determinada atitude? facto de assumir determinado comportamento... em deter minada situação? facto de agir por determinada razão ... ? Que sentes quando te apresentam as coisas de determinada maneira? Que sentiste ao ler no jornal que certa pessoa tinha tido deter
minado comportamento? Que tinha acontecido isto ou aquilo? Que reacção desperta em ti o que acaba de acontecer na es cola, na cidade ou ... ? Em investigação, a técnica mais difundida para medir uma atitude é a escala de atitudes. Consiste numa série de afirmações directamente associadas a um objecto, actividade ou ideia. As informações estão formuladas de modo a que uma maior ou menor adesão revele uma atitude mais ou menos intensa em relação ao objecto, actividade ou ideia. Num contexto de aprendizagem ou intervenção, a escala aplica~se no início e no fim do período de aprendizagem; a diferença entre estes dois resultados permite~nos avaliar a mudança ocorrida. Embora o princípio original desta técnica pareça relativamente simples à primeira vista, a sua prática não é, por vezes, assim tão simples; convém servir~se dela com prudência, respeitando~lhe as regras; apresentamos algumas no capítulo 9 (ver, também, Alexandre, 1971; Anderson, 1981; MEO, 1984:101139; Rousseau, 1987). Há outras técnicas, mais ou menos sofisticadas, para medir a emoção e que podem, igualmente, ter aplicação na aula. Aconselhamos, porém, aqueles que pretendam servir~se delas, a esgotarem primeiro os meios mais simples, a definirem, previamente e com clareza, o que pretendem atingir no final da aprendizagem, a documentaremse e, sobretudo, a interpretarem os resultados com muita prudência e realismo. 197 COMO ENSINAR ATITUDES
6.4. Interpretação de resultados Há dois pontos de referência que orientam, geralmente, a
interpretação dos resultados obtidos através de questionários de tipo cognitivo: antes de mais, o número de boas respostas ou de respostas situadas acima dum determinado nível mínimo de competência; é a interpretação criterial; depois, a posição do aluno em relação ao grupo ou a posição do grupo em relação ao conjunto dos outros grupos; trata~se, então, duma interpretação normativa, individual ou de grupo. Na aprendizagem de atitudes, a primeira destas estratégias é, certamente, a que se aplica com mais frequência e a mais útil. Interpretação criterial, é claro, até porque estamos a tratar duma situação de ensino, situação em que a avaliação formativa com feedback ou acção reguladora tem um papel primordial. A interpretação criterial dos resultados é, aqui, facilitada pelo recurso às componentes da atitude e às categorias da taxonomia. De facto, quem ensina pode situar o progresso da turma, relativamente a um conteúdo muito concreto, no plano dos comportamentos, das emoções e dos conhecimentos ou no plano da interiorização. A interpretação criterial leva, também, o aluno a apreciar a evolução da sua aprendizagem, com base não nos outros mas em pontos de referencia concebidos sobre o próprio conteúdo e evolução pessoal da atitude a adquirir. Além disso, no domínio dos hábitos ou atitudes há três princípios que podem clarificar a interpretação ou avaliação dos resultados: Medir a evolução do grupo De acordo com um dos primeiros objectivos da avaliação formativa, isto é, da avaliação realizada ao longo das fases de aprendizagem e de ensino, as informações devem servir, antes de mais, para
avaliar o caminho percorrido pelos grupos, detectar tendências e reacções colectivas, e não tanto, individuais. Portanto, quem ensina 198 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
precisa, sobretudo, de conhecer os resultados obtidos pelos grupos de alunos, porque é a partir daí que melhor poderá estudar a evolução das suas intervenções de ensino e tentar aperfeiçoá~las, sem deixar de ser muito realista nas suas exigências. Aspirar ao máximo A avaliação das respostas a um questionário torna~se ainda mais difícil por falta, muitas vezes, de elementos de comparação. Esta a razão por que o professor se contenta, muitas vezes, com atingir uma situação positiva, favorável, um resultado acima da média e não o resultado máximo, a não ser que o julgue verdadeiramente necessário à luz de critérios externos. Assim, numa escala de 1 a 4 parece~lhe mais importante conseguir uma média superior a 2,5 do que atingir uma média de 4. Por outro lado, se se puder dispor de vários resultados consecutivos, a informação torna~se muito mais significativa em termos de decisão. Deste modo, se os resultados tendem a aumentar, o indicador funciona como estímulo; as decisões pedagógicas são, provavelmente, pertinentes e eficazes. a Deixar que cada um avalie os seus progressos Em termos de aprendizagem duma atitude, o que mais importa ao aluno, juntamente com a informação básica de que necessita, são os indicadores que lhe dão a possibilidade de se situar num continuem de interiorização, e isto, quer no início quer no fim da intervenção. Deste modo, cada qual pode, facilmente, avaliar o caminho percorrido e tomar as decisões que achar mais adequadas. Inspirados nos indicadores de Krathwohl (ver quadro 4.3) damos, mais adiante, algumas informações suplementares sobre este aspecto da
medida e avaliação da aprendizagem duma atitude.
199 Decisões fundadas numa taxonomia Desde o início deste capítulo que nos vimos referindo a várias técnicas de medição de atitudes reagrupadas em torno duma ou doutra das três componentes da atitude. Agora, vamos tratar duma técnica de medição cuja estrutura radica na taxonomia do domínio afectivo, apresentada anteriormente no capítulo 5. Funda~se num princípio de interiorização crescente, relativamente fácil de compreender e que Krathwohl apresenta muito bem. A maior limitação desta técnica, porém, é não ter dado ainda provas suficientes. Apresentamo~la, pois, com esta reserva. Esta taxonomia deriva dum princípio pedagógico fundamental: as actividades de aprendizagem e de ensino duma atitude devem adaptar~se ao grau de interiorização já alcançado bem como àquele que o educador deseja para os seus alunos. Deste modo, não se pode aplicar a mesma estratégia de ensino a alunos que apenas iniciam os primeiros contactos com determinado fenômeno (solidariedade, por exemplo) e a outros, já há longos anos inseridos em associações humanitárias. Como se vê, a adaptação dos meios disponíveis depende, constantemente, das informações transmitidas pela medição e, até, duma vaga contínua de informações. Daí que a aprendizagem e ensino duma atitude se devam fazer num contexto de avaliação formativa em que é sempre possível a ajuda constante ao aluno. Esta adaptação da intervenção ao modo como o aluno vai percorrendo o seu caminho é possível graças às informações fornecidas pela representação desse percurso em termos de interiorização de atitudes. Este fio condutor leva o educador ou
a educadora a definir, com maior facilidade e rigor, a evolução duma atitude (conceptualmente e operacionalmente), à medida que o aluno a vai aprendendo. Assim, pode aproveitar plenamente as informações prestadas por estes numerosos indicadores, seguir passo a passo a evolução da atitude com a ajuda de instrumentos de medida adaptados a cada um dos níveis a atingir ou já alcançados. (Em contexto 200 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES escolar com efeito, o tempo e as condições raramente permitem aspirar a um nível de interiorização tão elevado como o da organização ou caracterização (níveis 4 e 5). Nas páginas seguintes apresentamos, antes demais, um instrumento de medida (quadro 8.2) cujos itens se inspiram nas categorias e subcategorias da taxonomia do domínio afectivo (Krathwohl e outros, 1964). Os indicadores que aparecem nos itens têm a ver com as subdivisões da taxonomia (por exemplo, o indicador 1.3 do item 6 referese à subcategoria 3 da categoria 1). Em resumo, o uso adequado dos indicadores referentes às três primeiras categorias do modelo taxonómico apresentado no quadro 5.4 (ver capítulo 5) permite, antes de mais, aperfeiçoar um instrumento de medida, sensível e rigoroso, da evolução afectiva do aluno (Morissette, Gingras, Arseneault, 1984); faz, igualmente, com que possamos traçar uma via de avaliação e interpretação dos resultados que apresentamos neste capítulo, um pouco mais adiante. Faz~se notar que, ao conceberem a grelha de observação pormemorizada do quadro 8.2, os autores partiram do pressuposto de que, quem ensina trabalha com grupos de cerca de trinta alunos.
Deram como adquirido, igualmente, que os alunos tinham possibilidades de interagir uns com os outros. Mas este exemplo de grelha pode transformarse e adaptar~se às circunstâncias. Assim, na primária, é preferível limitar o número de graus de cada escala apenas a três (raramente, bastantes vezes, muitas vezes, por exemplo). Com muitos alunos, é preciso reduzir o número de indicadores e pôr a tónica numa avaliação realizada, sistematicamente, pelos colegas de turma, etc. Em suma, trata~se dum instrumento de medida de fácil adaptação que põe em relevo o nível de interiorização alcançado pelo aluno ou pelo conjunto da turma, e que facilita, igualmente, a interpretação e análise de dados. 201 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 8.2 Grelha de apreciação da atitude de colaboração em trabalho de grupo
NOME DO ALUNO: DATA: NOME DO CHEFE DE GRUPO:
Normas: 1. O aluno lê com atenção cada enunciado e atribuise a nota 1, 2, 3, 4 ou 5 que escreve, primeiro nos parêntesis inseridos no enunciado e,
depois, também no parêntesis precedido por A. 2. O chefe de grupo (ou outro aluno do grupo) atribui, também ele. uma nota que escreve no parêntesis precedido por C. 3. O responsável (professor ou professora, em geral) atribui, por fim, uma terceira nota que escreve no parêntesis precedido por R. 4. O responsável fixa a soma ou média mínima a atingir em cada item, prevendo acções ou decisões adequadas para os casos em que se situem abaixo ou acima desse nível. 5. O responsável acha a soma ou média (depende do que quiser usar na interpreta ção) de cada item, aluno a aluno (parêntesis precedido por T) ou do conjunto de alunos, conforme as decisões que tiver em vista. 6. Se achar conveniente, o responsável devolve as grelhas aos alunos e aj , udaos a interpretálas e a planificar acções pessoais reguladoras, adequadas a cada si tuação.
202 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Escolhe, entre os números seguintes, o mais adequado:
1. Nunca 4. Muitas vezes 2. Raramente 5. Sempre 3. Bastantes vezes ITENS DE MEDIDA: 1. Ouço com atenção quando se A( C( R( trata do trabalho de grupo na aula (nível 1. 1). T 2. Olho para o professor quando A( C( R( fala do modo de trabalhar em grupo (nível 1.1). T( 3. informome e coloco ( )questões A( C( R( quando o professor fala do trabalho de grupo (nível 1.2). T 4. Quando se discute na aula o trabalho A( C( R( de grupo digo ( ) a minha opinião e dou ideias (nível 1.2). T 5. Respondo ( ) correctamente às A( C( R( questõessíntese que o professor me coloca sobre trabalho de grupo (nível 1.3). T 6. Sei porque é necessário trabalhar A( C( R( em grupo (nível 1.3). T ( 7. Quando solicitado pelo professor, A( C( R( trabalho ( ) em grupo fazendo o que é necessário (nível 2. 1). T 8. Porque o professor obriga, trabalho A( C( R( correctamente em grupo (nível 2. 1) T( 9. Durante o trabalho de grupo ouço A( C( R( com atenção ( ) o que me dizem para fazer (nível 2. 1). T
10. Sem ser preciso que mo peçam, A( C( R( trabalho ( ) como deve ser em grupo (nível 2.2). T
203 COMO ENSINAR ATITUDES
Escolhe, entre os números seguintes, o mais adequado: 1. Nunca 4. Muitas vezes 2. Raramente 5. Sempre 3. Bastantes vezes 1 1. É muito interessante trabalhar A( C( R( em grupo fazendo aquilo que for preciso (nível 2.3). T( 12. Durante o trabalho de grupo faço A( C( R( mais do que aquilo a que sou obrigado (nível 2.3). T( 13. Trabalho correctamente em grupo A( C( R( porque acho isso importante (nível 3. 1) T( 14. Quando trabalho em grupo, procuro A( C( R( novos meios de tornar o trabalho mais eficaz (nível 3.2). T( 15.Semederernaescolher,prefiro A( C( R( trabalhar em grupo a fazê~lo doutra maneira (nível 3.2). T( 16. Aquando dos trabalhos de grupo, A( C( R(
explico aos outros como é importante trabalhar bem em grupo (nível 3.3). T( 17. Quando o professor mo permite, A( C( R( organizo ( ) grupos de trabalho (nível 3.3). T 18. Convenci alguns amigos a realizar A( C( R( trabalhos em grupo (nível 3.3). T
204 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
7. 1. Análise e interpretação de resultados Quando falamos de interpretação criterial, referimo~nos, dum modo geral, a um resultado final explícito, traduzido em pontos de referência, tais como uma nota mínima, um grau ou nível mínimo de competência ou de realização de tarefas consideradas como essenciais em termos de aprendizagem. E tudo isso deve estar relacionado, evidentemente, com um campo bem definido, os objectivos dum programa, por exemplo. Podemos aplicar à aprendizagem de atitudes estes princípios de interpretação criterial. No caso que nos ocupa, quem ensina ou o aluno podem fixar para cada item ou nível de interiorização uma base mínima de sucesso desejável ou necessário. Essa base será estabelecido em função das informações disponíveis: características dos alunos, prévia
situação de aprendizagem, importância da atitude num dado meio social ou relativamente aos programas, etc. A decisão pode, também, apoiar~se noutros aspectos, como a influência do trabalho de grupo na aprendizagem dum conteúdo afectivo, a importância dada à atitude por alunos, educadores e, até, futuros empregadores. Em seguida, há que prever qual a acção adequada a desenvolver no caso de sucesso ou de insucesso dum item em particular ou dum subconjunto de itens: feed~back verbal em proveito do aluno, transformação das actividades de ensino ou proposta de exercícios suplementares, etc. Para alguns alunos, poderá traduzir~se em novas orientações quanto à natureza das suas interacções sociais. Conforme os objectivos que se propOs atingir, o aluno pode, por exemplo, mudar de amigos ou de clube desportivo ou, então, aumentar a frequência e duração das suas sessões de trabalho. O quadro 8.3 está concebido na óptica da interpretação dos resultados da turma. Para tal, reproduz a análise dos resultados obtidos por trinta alunos. Veríficase que foram eliminados três destes resultados. Como as folhas estavam incompletas, iriam falsear a soma e, portanto, a interpretação. Além disso, preferiu~se trabalhar com a soma dos resultados (segunda coluna) e não com a média, para simplificar os cálculos. 205 COMO ENSINAR ATITUDES
Pode fazer~se uma análise parecida para cada um dos alunos. Neste caso, as decisões devem depender de cada um deles e as informações devem manter~se confidenciais. Quem ensina deixa, primeiro, que cada qual descubra o seu próprio progresso de interpretação e aprendizagem antes de proceder à recolha e compilação dos resultados, com vista ao aperfeiçoamento do seu ensino. O quadro 8.4 mostra bem o que se consegue num caso destes.
206 Conclusão O processo de decisão (informação, avaliação, decisão), discutido neste capítulo, está concebido em função do aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem. Eis a razão por que sefaz questão em situálo num contexto formativo em que a nossa atenção se concentra, sobretudo, nos pormenores da aprendizagem e do ensino, e em que prevalece a intervenção quotidiana e a curto prazo. As observações e informações necessárias à orientação desta pedagogia do diaadia, baseiamse no seguinte: aluno que revele uma atitude positiva em relação a um objecto, actividade ou ideia é aluno que, de acordo com todas as evidências: formula afirmações positivas, oralmente ou por escrito, sobre tais objectos, actividades ou ideias; faz frequentes referências a esses objectos, actividades ou ideias; declarasse disposto a buscar esse objecto, exercer essa activi dade ou exprimir essa ideia; revela, com regularidade, preferências, estima, sentimentos ou convicções a seu respeito; apresenta resultados relativamente estáveis quando se trata de medir as manifestações da sua atitude (o que pensa, faz ou experimenta em si mesmo). Parece~nos que o responsável pela turma é a pessoa mais
indicada para desenvolver e concretizar acções de medida e avaliação adaptadas ao seu grupo e aos indivíduos que o compõem. Os meios ao seu dispor são numerosos e bastante simples, assim saiba ele, com a máxima exactidão possível, o que pretende ensinar e não tema informarse directamente junto do aluno, respeitando sempre a confidencialidade dessa informação (Tyler, 1986:86; Keeves, 1986:123). 207 COMO ENSINAR ATITUDES
Não é necessariamente falta de rigor permitir um grande espaço de manobra, quando se trata de escolher indicadores ou interpretar resultados. De facto, podíamos ser levados a pensar que contexto formativo é sinónimo de desleixo e falta de precisão; são bem diferentes as exigências dum apoio eficaz. É precisamente por haver várias decisões possíveis, e por estas derivarem dum conteúdo que deve ser aprendido o melhor possível, que é necessário desenvolver uma prática pedagógica que se distinga pela precisão e rigor, com vista à obtenção de melhores decisões. Isto não exclui que, sobretudo professores com mais experiência, se sirvam dos seus próprios recursos efectivos, dessa capacidade de saber instintivamente o que os alunos captaram, não só porque mediram essas aquisições mas também porque se deixaram guiar pela sua própria sensibilidade (Gephart, Ingle, 1976:191). Na aprendizagem e ensino dum conteúdo tão sensível às variações das ínferências como o das atitudes, o recurso à medida é apenas um dos modos de apreciar a evolução deste conteúdo através das múltiplas manifestações (algumas delas enganadoras) que a caracterizam.
208 AVALIAÇÃO FORMATIVA DE ATITUDES
Quadro 8.3 Análise dos resultados conjuntos do ensino da atitude de colabora ção em trabalho de grupo Item Soma Nível Decisão"' /135 1 112 ACIMA: a actividade de ensino parece estar ou adequada aos alunos e ir ao encontro das suas 4/5 necessidades. ABAIXO: alterar ou modificar a estratégia ou técnica de ensino (tentar, por exemplo, o jogo do faz de conta, relato de experiências,... 2 84 As mesmas observações que em 1. ou 3/5 3 84 ACIMA: bom indicador do interesse dos alunos. ou ABAIXO: levantar questões, fazer com que as 3/5 estudem em grupo, encorajar quem as coloca, prestarlhe atenção, responder às questões, evidentemente... 4 112 ACIMA: aspecto muito importante ou que resulta como estava previsto. 4/5 ABAIXO: explicar a importância de exprimir opiniões pessoais numa discussão, ... exemplos de consequências nefastas,_ organizar a turma de modo a que todos possam exprimir~se.
5... (1) Conforme a importância que atribui a cada aspecto, ou de acordo com as necessi dades da turma,... quem ensina fixa um nível e determina o que se passará no caso deste ser ou não alcançado.
209 COMO ENSINAR ATITUDES
Cluadro 8.4 Análise dos resultados individuais do ensino da atitude de colabo ração em trabalho de grupo Item Soma Nível /15 1 1 2
2 9
3 9
4 12
5... Decisão"' ACIMA: parabéns, deves estar satisfeito(a) contigo mesmo(a) porque ouves com muita atenção o que se diz na aula. ABAIXO: gostava de te ajudar a ouvir com atenção o que se diz na aula sobre trabalho de grupo; escreveme numa folhinha o que achas que devia fazer para te levar a ouvir com atenção. ACIMA: bravo! Isto mostra bem o teu interesse pelo trabalho de grupo. ABAIXO: para a próxima vez, se possível, tenta dedicarte mais para depois poderes trabalhar melhor em grupo. ACIMA: gosto de te ver colocar muitas questões pertinentes durante as aulas, pois isso demonstra o teu interesse. ABAIXO: se já sabes tudo sobre trabalho de grupo, então concordo que não ponhas questões, caso contrário, deves fazêlo a fim de obteres melhores resultados nos trabalhos. ACIMA: o facto de manifestares a tua opinião
na aula, mostra o desejo que tens em participar no grupo. ABAIXO: na próxima discussão que houver na aula, tenta dar a tua opinião, duas ou @rês vezes, pois é um excelente meio para praticares a linguagem oral e para te habituares a falar em público.
(1) De acordo com a importância que atribui a cada aspecto, ou de acordo com as ne cessidades de cada aluno, ... quem ensina fixa um nível e determina o que se pas sará no caso deste ser ou não alcançado.
210 AVALIAÇAO SUMATIVA DE ATITUDES introdução Neste capítulo definiremos, em primeiro lugar, os principais aspectos do processo de decisão num contexto sumativo. A seguir faremos uma abordagem, em sentido inverso, da análise dos problemas deste processo, começando pela fase final, a decisão, e recuando até uma das fases iniciais que trata de como medir atitudes. Examinemos, primeiro, a natureza, origem e significado da nota, do ponto de vista particular de quem a atribui e, depois, passando pela fase de recolha de informação, voltamos de novo à fonte desta informação, ou seja, à elaboração e aplicação dos instrumentos de medida das atitudes.
212 Contexto surnativo Logo no primeiro capítulo mostrámos que a maior parte dos programas de ensino exprimem expectativas relacionadas com a aprendizagem de atitudes. Quer se trate de medir, avaliar ou decidir, esta situação coloca ao educador a questão de ter de se pronunciar sobre a aquisição destes conteúdos, a partir do momento que se tornam obrigatórios. Ora, é o que se passa cada vez mais na escola; a prudência em cursos profissionais, a capacidade de comunicação em cuidados de saúde, saber receber as pessoas em secretariado, etc., são conteúdos efectivos que se espera ver adquiridos no final da formação, a par da aquisição de conteúdos cognitivos. Daí, concretamente, a necessidade de produzir resultados (notas) que mostrem o grau de aprendizagem das atitudes pretendidas. Num contexto sumativo, embora isto não simplifique as coisas, as decisões que se seguem a uma avaliação devem revelarse pertinentes aos olhos das pessoas a que dizem respeito, dentro e fora do sistema escolar: pais, responsáveis pela administração, résponsáveis pela indústria, orientadores, entre outros. Tal exigência implica verificações e maior cuidado na escolha dos indicadores. Numa palavra, é preciso que haja critérios de qualidade mais elevados para o conjunto das operações de medida, avaliação e decisão. Esta prudência aparece, frequentemente, justificado por numerosas conclusões sobre a fragilidade das decisões relativas ao aluno e às suas aprendizagens, sobretudo afectavas. Eis, aliás, algumas dessas conclusões (Henerson e outros, 1978:13): quando pretendemos apreciar a aprendizagem duma atitude, há que ter em conta toda uma cadeia de inferências, porque é impossível observá~la directamente e porque estamos a medir, não a atitude em si mesma, mas as suas manifestações;
os comportamentos, opiniões e sentimentos duma pessoa (o que ela faz, diz ou sente) não são, necessariamente, todos congruentes e homogéneos, mesmo que à primeira vista pa reçam reflectir a mesma atitude; assim, o facto de limitar a 213 COMO ENSINAR ATITUDES
observação duma atitude apenas a uma, ou a algumas destas manifestações, comporta grande risco de errar; há sempre um certo grau de incerteza na apreciação duma ati tude, pois ninguém nos garante, sobretudo num contexto de aprendizagem com jovens, que a atitude permaneça estável o tempo suficiente para a medirmos com fidelidade., acontece, às vezes, medirmos uma atitude sem conhecermos bem a sua definição. Esta deve, normalmente, preceder o pro cesso de avaliação. Se faltar, corre~se o risco de invalidar todo o restante processo; é por isso que se insiste tanto na defini ção de objectivos específicos que obrigam a clarificar as defi nições conceptuais em que se fundamentam. Para além das dificuldades inerentes a qualquer parecer sobre o grau de aprendizagem duma atitude que tenha por finalidade certificar a obtenção de objectivos, quem ensina deve ter sempre presente que este seu parecer pode desencadear consequências tão importantes como, por exemplo, a aceitação ou recusa de candidatura a um emprego há muito desejado ou a um programa de estudos insistentemente requerido. Embora tais decisões sejam tomadas por outros, não pode deixar de fazer caso delas quando chega a altura de comunicar as conclusões do seu processo de decisão. Eis, a título de exemplo, algumas situações que põem em relevo a importância de decisões relativas à aprendizagem de atitudes. É inadmissível que professores do 2' ou 3' ciclos de escolaridade aprovem alunos em cuidados de saúde que não revelem
a prudência mínima requerido, por exemplo, para lidar com medicamentos perigosos ou que não revelem nenhuma atitude de respeito e de aceitação para com a pessoa do doente. Devem dar, em relatório escrito, a sua opinião, dizendo que estes alunos não adquiriram a prudência necessária ou não revelam empatia e respeito pelos outros. E agindo assim, ficam conscientes de que podem estar a provocar a recusa dum eventual emprego. 214 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES Pode também suporse que o custo crescente dos acidentes de trabalho, custo material mas, sobretudo, custo em vidas humanas destruídas ou hipotecadas, terá como consequencia a exigência de que, cada vez mais, os programas de formação garantam, formalmente, a aquisição de atitudes como a segurança ou a prudência nas actividades profissionais. Deste modo, a breve trecho, esta dimensão da formação poderá passar a constituir um critério explícito (e não apenas oficial, que é o que se passa, frequentemente, agora) de qualquer contrato, em pé de igualdade com as aptidões específicas da profissão. Será necessário, então, dispor de informações pertinentes sobre as atitudes a atingir, ou sobre as já adquiridas. Quem ensina deverá prestar aqui o seu contributo. E é assim que, cada vez mais, quem ensina é chamado a pronunciar~se sobre o nível de aquisição de atitudes, à semelhança do que já vem fazendo, há muito, quanto à mestria dos conteúdos do domínio cognitivo e psicomotor e com as mesmas consequências. Daí a obrigação de documentar muito bem as suas decisões, se quiser garantir a credibilidade interna e externa das mesmas. convém recordar que este domínio de decisão, no plano
profissional, está sujeito às mesmas limitações e goza dos mesmos direitos que os outros. Qualquer decisão relativa ao nível de aquisição dum conhecimento, aptidão ou atitude, é a decisão duma pessoa que, embora competente, actua em condições ambíguas e difíceis, de modo que nunca será demais insistir no facto dos resultados poderem comportar uma margem de erro e que é sempre preciso usar de prudência.
2 1 5 §!Alemanha Expressão da decisão: a nota Ao situarmo~nos na perspectiva da avaliação sumativa, circunscrevemos, pelo menos parcialmente, a natureza e âmbito da decisão pegagógica relativa à aprendizagem de atitudes. Iremos, agora, abordar questões práticas: Como funciona, na prática, a certificarão de aprendizagem duma atitude? Que valor atribuir~lhe? Quem é responsável por ela? Como tornar pública esta certificarão? Eis as principais questões a que iremos responder agora. 3. 1. Significado da nota Concretamente, as fases do processo de decisão, no caso de certificarão de aprendizagem duma atitude (que constitui, então, o campo de decisão) são as seguintes: quem ensina mede, primeiro através dum questionário ou re correndo à observação, as manifestações verbais ou não ver bais da atitude, manifestações muitas vezes definidas sob a
forma de indicadores de conhecimento, de emoção ou de comportamento; avalia os dados assim obtidos, quer a sua pertinência ou fide lidade quer o seu significado relativamente às expectativas, à luz dos critérios já estabelecidos e da informação disponível oriunda doutras fontes; traduz as suas informações ou a apreciação que faz dos resul tados obtidos pelo aluno e, portanto, do nível a que chegou na prossecução dos objectivos de aprendizagem (neste caso da atitude) sob a forma dum símbolo (ou em vários símbolos) que permita situar a atitude algures num continuem é a nota (Morissette, 1984; Legendre, 1988:397). Sob este ponto de vista, a nota é um símbolo numérico ou alfanumérico que exprime, sinteticamente, a apreciação feita por quem ensina sobre o nível de aquisição duma atitude por parte do 216 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
aluno. Exprime a sua opinião ou juízo sobre a aprendizagem realizada pelo aluno; como tal, a nota só terá valor na medida em que se aproximar, o mais possível, da realidade objectiva desta aprendizagem. Em psicometria clássica, a busca duma nota tão justa quanto possível levanta o problema da transparência das regras que presidem à sua atribuição (Morissette, 1984:capítulo 1). Num contexto de avaliação sumativa coloca, igualmente, um problema de percepção e interpretação. Há, de facto, toda uma psicologia da avaliação (Noizet, Caverni, 1978; Bonniol, 1981) que reserva um papel muito importante a quem ensina. Seja, por exemplo, o caso dum professor ou professora que, após ter visto a evolução dum aluno ao longo de todo um ano, semestre ou estágio, baseado no que observou, no que pôde verificar,
directa ou indirectamente, decide dar o seu parecer formal sobre esta aprendizagem. Tal parecer, mais ou menos elaborado ou sintetizado sobre o aluno no final do curso, é o que chamamos nota. Uma instituição pode, também, dar o seu parecer ou atribuir notas. E o que se passa, quando o Ministério da Educação do Quebeque sanciona com notas os estudos secundários.) 3.2. Formas de expressar a nota Quem ensina pode traduzir de muitos modos a sua apreciação sobre o nível de aquisição duma atitude, mesmo que a baseie sempre, nas mesmas observações, nas manifestações que presenciou ou nas informações que possa ter recolhido. Eis alguns dos modos de traduzir essa apreciação. Pode, antes de mais, recorrer a um símbolo numérico simples (1, 2, 3 ou 65%, 90%, ... ) ou alfabético (A, B, C, S, ... ), inspirado em numerosas escalas que vêm descritas nos tratados de medida e avaliação. Contudo, ao reduzir assim a um símbolo uma característica humana, uma atitude, corre o risco de atraiçoar uma realidade complexa e de não estar a reflectir o que se passou na realidade. Dizer, por exemplo, que o aluno se situa no nível 4 de uma escala 217 COMO ENSINAR ATITUDES
de 10, no que se refere à `prudência" com que utiliza um maçarico oxi~acetilénico, é deixar de lado muitos aspectos subtis das condições que fazem alterar as manifestações desta prudência. Há certas ocasiões, contudo, em que é necessário recorrer a esta simplificação extrema; é o que se passa, por exemplo, quando queremos dar uma informação sobre a evolução global da aprendizagem e as consequências se situam, quando muito, no meio~termo.
Quem ensina, pode também traduzir a sua apreciação numa expressão, palavra ou frase curta, por exemplo. Qualificativos como 11 excelente", `satisfatório`, "fraco", ... ou expressões como "o aluno trabalha bem", ou "lê romances com regularidade`, ou 'integrasse bem no grupo`... constituem outras tantas modalidades de expres são da nota. Aliás, muitas vezes não há grande diferença entre a ex presão verbal e o símbolo numérico ou alfabético. É, muitas vezes, evidente a relação entre ambos: "excelente" será equivalente a "A", 100%, 10/10 ou 5/5; "médio" será equivalente a "C", 50%, 5/10 ou 3/5, sobretudo se as escalas forem utilizadas em toda a sua amplitude. Em resumo, acontece que a informação contida na nota é tão rica num caso como no outro, embora o preferir a expressão verbal à nu mérica confira à apreciação uma aparência mais qualitativa, que é, aliás, muitas vezes enganadora. outro modo de exprimir uma apreciação consiste num con junto de símbolos ou expressões, num perfil descritivo duma atitude (ver, como exemplos, os quadros 9.1, 9.2 e 9.3) ou numa descrição verbal do nível de mestria alcançado pelo aluno (carta de recomen dação, por exemplo). Tanto num caso como no outro, a atitude é interpretada primeiro em termos de indicadores com base nas prin cipais manifestações que lhe andam associadas. Depois, ou lhe é atribuída uma nota correcta, recorrendo a uma série de símbolos ou expressões muito breves ou, então, recorresse a uma descrição mais pormenorizada, mediante um texto bastante elaborado que sintetize todos esses símbolos ou expressões. Dadas as dificuldades de tempo ou a fraca capacidade de ver balizar uma apreciação com toda a variedade de aspectos exigidos
218 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES (sobretudo quando se quer evitar o risco duma interpretação er rada), pensamos que a técnica do perfil (atribuição de nota numé rica ou alfabética) é a mais apropriada para certificar, ou simples . . Z mente apreciar a aquisição duma atitude. o resultado dum aluno na aprendizagem duma atitude ba seia~se nas manifestações desta mesma atitude e consiste ou numa nota única ou num conjunto de notas. Neste último caso, as notas, costumam estar agrupadas de modo a fornecer um perfil global de aquisição da atitude. Para elaborar este perfil ou atribuir esta nota se guemse, geralmente, as três fases apresentadas e explicados na maior parte dos tratados de medida e avaliação pedagógica (Morissette, 1984:9~29): definição teórica ou conceptual da atitude (processo abor dado principalmente nos capítulos 2, 3, 4, 5 e 6); definição concreta ou operacional da atitude ou enumeração dos objectivos específicos (processo abordado principal mente nos capítulos 4, 5 e 6); concepção e selecção de instrumentos de medida, pertinen tes e fiéis, capazes de comprovar a nota ou o perfil (processos abordados nos capítulos 8 e 9). 3.3. Valor da nota para a atitude Poderia dizer~se que a apreciação vale o que valer o aprecia dor. Quanto a nós, poderíamos acrescentar que a nota ou o perfil atribuído pelo educador ao aluno vale o que valer a sua competên cia profissional para medir e avaliar. Por outras palavras, a credibili dade duma nota baseia~se na competência de quem a atribui e na qualidade do processo de atribuição dessa mesma nota.
Quem ensina uma atitude deve, necessariamente, conhecer os pormenores teóricos e as implicações práticas duma intervenção deste tipo, daí a importância da análise de conteúdos de que nos 219 COMO ENSINAR ATITUDES
ocupámos nos capítulos 5 e 6. Porque então realizasse a fase da definição teórica ou conceptual e, a seguir, operacional. Se este conhecimento se limitar, apenas, aos aspectos teóricos a situação, provavelmente não será suficiente, pois deixará de fora implicações práticas essenciais no momento da acção. É provável, por exemplo, que quem nunca trabalhou em soldadura omita, na definição operacional da aprendizagem, certos aspectos essenciais de `prudência` a ter em conta numa oficina de serralheria; corre o risco de negligenciar a recolha de informações essenciais ao processo de atribuição da nota. Por vezes, a intuição de profissional experiente pode levar~nos a descobrir no aluno um sentido como que inato dos gostos estéticos do cliente ou uma subtil percepção dos estados de alma dum doente ou das atitudes sociais dum aluno, na aula ou fora dela. A questão essencial, aquan o da definição operaciona uma atitude, exprime~se e compreendesse facilmente: `que faz o aluno que já adquiriu a atitude?" (ver capítulos 4 e 6); responder a esta questão, porém, exige conhecimentos e, evidentemente, experiência prática. Em resumo, a competência que se exige para apreciar uma atitude comporta um aspecto prático importante que não se encontra, geralmente, no domínio cognitivo. E há que revelar esta
competência especial aquando da análise do conteúdo, da sua definição conceptual e operacional, a partir do momento imediatamente anterior ao ensino ou estruturação da aprendizagem. Além disso, a avaliação duma atitude, como a de qualquer outra forma de aprendizagem, requer precaução, tanto no plano técnico das operações de medida como no plano teórico dos princípios de pertinência e fidelidade. Convém realizar com cuidado as tarefas que fazem com que passemos da escolha dos indicadores e da elaboração dos instrumentos de medida à publicação das notas, atravês de fichas de informação ou doutro modo qualquer. Ao contrário do que se passa com os conteúdos efectivos, há que proceder a uma adaptação. De facto, as manifestações não verbais têm aqui maior 220 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
importância, enquanto que as verbais dizem respeito ao que os alunos sabem, evidentemente, mas sobretudo ao que sentem. Esta a razão por que uma parte importante do capítulo 8 trata das manifestações mais frequentemente observadas relativamente às atitudes: conhecimentos, comportamentos e emoções. Por isso é que a nota que traduz o nível de aprendizagem duma atitude terá tanto mais valor quanto mais for fruto de verificações e comparações com as informações recolhidas sobre as três componentes das atitudes. Cumpridas estas condições, temos boas razões para pensar que, para a atitude, a nota terá o mesmo valor que tem para qualquer outra característica da personalidade. 3.4. Responsável pela nota O processo de decisão e, portanto, atribuição e publicação da nota, é constituído por tarefas que fazem parte do acto
profissional de ensinar, ao mesmo nível da escolha de estratégias e técnicas de intervenção na aula. É perfeitamente admissivel que a nota atribuída pelo profissional contenha elementos subjectivos, duma subjectivadade enriquecedora e esclarecido, é evidente. Aliás, esta subjectivadade é já perceptível na fase de planificação do ensino, na escolha dos objectivos, das atitudes ensinadas, do estilo de ensino. O que evita que a nota possa ser resultado dum processo mal concebido e mal concretizado, duma subjectividade redutora. Devemos ter capacidade de mostrar, a todo o momento, que a medida, avaliação e decisão que estão na base da nota atribuída, se realizaram com profissionalismo, cuidado e atenção devidos. A nota depende do profissional que a atribui; este deve estar preparado para responder por ela, nem que seja em tribunal; pode ser~lhe exigido que explique as razões da atribuição dessa nota e que revele o processo da sua gênese. Do que acaba de ser dito se conclui que não temos o direito de alterar a nota dada por quem ensina sem seu expresso consentimento. Podemos, eventualmente, dar outra nota, inspirando~nos em 221 COMO ENSINAR ATITUDES
todo ou em parte na primeira; tratase aqui, porém, dum processo diferente que inclui a responsabilidade inerente ao próprio acto. Assim, no Quebeque, o Ministério da Educação assume inteira responsabilidade pela nota que atribui aos alunos no final do ensino secundário, muito embora esta nota inclua resultados de todo o ano (nota do professor ou da direcção da escola) e possa surgir, ou não, sob uma forma diferente, se bem que equivalente.
Contudo, não há que confundir responsabilidade pela nota com responsabilidade pelas decisões daí resultantes. Quem ensina, ao verificar que um aluno revela falta de `prudência nos trabalhos de laboratório e ao atribuirlhe uma nota fraca na ficha de informações, não é responsável pelas decisões que possa tomar uma eventual entidade empregadora, perante a candidatura deste aluno, baseando~se, entre outras informações, neste resultado. Porém, se outros resultados infirmam, parcial ou totalmente, a nota atribuída, quem ensina deve estar pronto a examinar com atenção cada uma das quatro fases do processo de decisão, de modo a fundamentar ou aperfeiçoar o juizo feito. 3.5. Preparação da nota Com frequência, a nota dada ao aluno difere da cotação bruta obtida com o instrumento de medida, seja porque a cotação surge sob uma forma diferente, embora equivalente, seja porque tem de se fazer a combinação de várias cotações. Quer se trate da nota atribuída à aprendizagem de atitudes, quer da atribuída à aprendizagem de conhecimentos ou aptidões, o ajuste e combinação das cotações são prática corrente e até, muitas vezes, necessária. Porém, com frequência dão lugar a práticas inadequadas. Algumas são difíceis de detectar, sobretudo se nos ficarmos, apenas, pelas cotações. É o que se passa, por exemplo, com o hábito da maior parte dos professores de ajustarem por baixo ou por cima a dificuldade dos seus instrumentos de medida, conforme pretendem baixar ou subir as notas aos alunos. Assim, se deram primeiro um teste muito difícil, darão agora um outro mais fácil para restabelecer o equilíbrio. Prática tanto mais perigosa quanto revela um reflexo quase automático e inconsciente. 222
AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
Ao atribuir notas, quem ensina atesta ou certifica que as aprendizagens afectavas previstas no programa e ensinadas na aula se realizaram. Os conselhos que apresentamos a seguir podem revelarse muito úteis nas tomadas de decisão relacionadas com a fase final do processo de preparação da nota: Preocupar~se com a credibilidade externa da apreciação, o que significa que, excepto no caso de graves contraindica ções, as notas devem reflectir uma discriminação de acordo com a realidade vivida, e não uma discriminação sujeita a princípios de normalidade, de análise estatística de valores ou de qualquer tipo de distribuição. Respeitar a congruência entre finalidades, objectivos gerais e específicos do programa, comportamentos adquiridos, inter vençoes vividas com os alunos e tarefas consideradas como indicadores ou provas de aprendizagem da atitude. Atribuir notas e emitir apreciações (tanto no seu valor como na sua distribuição) à luz de critérios estabelecidos e comuni cados aos alunos, antecipadamente, e de acordo com as nor mas dum processo de decisão pedagógica de qualidade.
223 í Técnicas de medir atitudes em contexto
sumativo Chegamos agora, em última análise, à origem da nota, à seg unda fase do processo de decisão pedagógica, a fase da recolha de informação e, mais especificamente, ao aspecto da avaliação que consiste na concepção e preparação de instrumentos de medida mais adaptados às atitudes. Este aspecto da medição de atitudes já foi abordado no capítulo anterior assim como em numerosas obras, algumas em língua francesa (Morissette, 1986:5~38; Morissette, 1984:319~340; MEQ, 1984; BlooM, Madaus, Hastings, 1981:296~330; Henerson e outros, 1978). Por isso este parágrafo será breve. revestindo mais o aspecto duma síntese comentada. Antes de apresentar os instrumentos de medida de que falámos, julgamos necessário enunciar alguns princípios. A pertinência e valor destes princípios foram confirmados por experiências vividas por animadores de pastoral do Quebeque, vivamente empenhados no ensino de atitudes. Estão, também, em consonância com os resultados de investigações que tivemos ocasião de supervisionar em várias áreas, resultados que nos levaram à descoberta de determinadas linhas de actuação eficazes. Eis, pois, concisamente, esses princípios ou, mais simplesmente, esses conselhos: A análise inicial da atitude é uma fase essencial, sem a qual é impossível medir o que quer que seja e graças à qual se torna possível conceber instrumentos de medida de toda a espécie. instrumentos de medida muito simples (listas de verificação ou grelhas de apreciação) concebidos por quem ensina (ver quadros 9.1 a 9.3) constituem fontes de informação, geralmente suficientes, para as decisões a tomar relativamente ao ensino e válidas para as apreciações individuais (Reuter, 1984:94 1 00). Os indicadores fornecidos pela definição das fases de interiori zação duma atitude (definição pormenorizada na taxonomia do domínio afectivo) e os que têm a sua origem na definição das
224 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES três componentes duma atitude (ver capítulo anterior) são suficientemente seguros e simples para constituírem elementos válidos duma estratégia de medida e avaliação, capaz de ser aplicada por professores na preparação das suas apreciações. Os princípios e técnicas aplicados aquando da preparação da ficha de informação descritiva adaptam~se facilmente à situação de avaliação de atitudes, até porque estas comportam um aspecto de permanência que obriga a ter em conta o que se passa com o aluno, a mais ou menos longo prazo. Não basta, pois, somente observar o que o aluno é capaz de fazer em época de exames período geralmente muito ou, até mesmo, muitíssimo breve. Se for sistemática e de acordo com instrumentos adequados, a observação pessoal por parte de quem ensina (Beatty, 1976: 150) e por parte doutras pessoas, inclusive a observação do próprio aluno (Reuter, 1984:94100), quando apoiada em material adequado e confirmada pelas observações do educador, constituem, sobretudo na pedagogia para a mestria, a ponta de lança da medida de atitudes na aula, para fins de certificação. Os resultados dos questionários e das outras técnicas de medida devem ser avaliados à luz daquilo que, quem ensina, consegue observar durante um período de tempo bem longo, A prudência no processo de preparação e atribuição de notas, sobretudo das que têm consequências importantes, exige que quem ensina utilize várias espécies de instrumentos de medida ou que as utilize em condições ou situações variadas. Se for necessária a observação directa ou indirecta (se o aluno não pode responder directamente, por falta de informação ou risco de conflito de interesses), então as principais técnicas de medida a utilizar são listas de verificação, grelhas de apreciação com escalas, registo de incidentes críticos ou outro tipo diferente, resumos de participação, tarefas de progressão
obrigatórias e, em última análise, registo das reacções fisiológicas. 225 COMO ENSINAR ATITUDES
Se conseguirmos que o próprio aluno verbalize o que faz, pen sa e sente (se puder compreender as questões e responder ~lhes correcta e honestamente), então as principais técnicas de medida a utilizar serão questionários de respostas previa mente elaboradas, ou de escolha múltipla (com escalas des critivas graduadas ou não), escalas de atitudes, diferenciado semântico, diário, entrevistas, sondagens, reacções a estímu los ambíguos ou só parcialmente estruturados. Enfim, nas páginas seguintes, teremos ocasião de encontrar um certo número de conselhos de âmbito mais específico e que se relacionam com algumas das técnicas enumeradas (Henerson e outros, 1978:57123; Morissette, 1984:255340; Labelle, Lafleur, 1978: 1 1 1). A observação é, sem dúvida, a técnica mais importante para apreciar a evolução da aprendizagem duma atitude. Os conselhos que se lhe referem (quadro 9.4) revestem, pois, uma grande importância prática. Quanto ao questionário (quadro 9.5) constitui a técnica mais simples e geralmente a mais usada na aula. Quanto às escalas de atitudes (quadros 9.6 e 9.7), apesar das dificuldades técnicas que colocam, haverá professores que poderão, sem dúvida, socorrerse delas com vantagens, sobretudo aqueles que se interessarem pela investigação em educação.
226 Conclusão Na maioria das escolas, quem ensina está em interacção frequente e regular com os mesmos alunos. Sobretudo, no aspecto da avaliação, a sua situação difere, pois, muito da do psicólogo escolar ou do perito orientador, que apenas recebem o aluno raras vezes. Pode, assim, dispor de maior número de observações e ir reajustando, a pouco e pouco, as informações que possui de cada aluno. Mesmo dispondo de instrumentos de medida menos sofisticados, consegue calcular, com uma margem de erro perfeitamente razoável, o nível de aprendizagem alcançado por cada aluno, no domínio cognitivo ou psicomotor e igualmente no domínio das atitudes. Ao ultrapassar cada uma das fases do processo de decisão (recolha de informações através da medida, avaliação das informações e atribuição da nota), particularmente em contexto sumativo, fica cada vez mais consciente da fragilidade das suas inferências. Sabe que corre riscos, sempre que passa dos resultados da observação e, portanto, das manifestações externas para a afirmação da existência duma aptidão cognitiva ou psicomotora ou duma característica afectiva interna. Eis a razão por que minimiza os riscos utilízando os recursos disponíveis. Em qualquer das fases, sobretudo na fase de medida e na de preparação da nota, são numerosos os meios técnicos à disposição, tão numerosos no domínio das atitudes como nos outros. A fase mais difícil é a da apreciação das informações, fase em que intervém a interpretação e em que convergem valores ou atitudes que, talvez, nos tenhamos esquecido de explicitar. É aí que nos parece residir o maior perigo da avaliação sumativa de atitudes; é nesse ponto que
mais insistimos na prudência e na transparência.
227 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 9.1 Perfil de resultados da atitude de respeito pelas Ideias dos outros aguando de uma discussão em grupo sobre Welas controversas 1. Exprime ideias novas: @@ o 2 Éum Repete ideias Exprime algumas falabarato já expressas ideias novas 2. Participa na discussão: o 2 Não diz Fala uma vez Fala nada ou outra habitualmente 3. Presta atenção quando os outros falam: @@ o 1 2 Interrompe Interrompe os Nunca habitualmente outros uma vez interrompe os outros por outra 4. Refere ideias dos outros e relacionaas com as suas:
@@ o 1 2 Nunca exprime Refere uma vez Relaciona ideias alheias por outra frequentemente ideias alheias as suas ideias com as dos outros 5.... (outras escalas sobre a pertinência das observações. sobre a riquezados argu mentos, sobre...
228 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES @Z
Ouadro 9.2 Perfil de resultados relativos à qualidade das Interacções em trabalho de grupo Diga se os acontecimentos apresentados a seguir se dão: 1. nunca 2. às vezes 3. sempre 1. O aluno trabalha com toda a gente e não apenas com os amigos. 2. O aluno reparte o material com os outros. 3. O aluno sujeitase às regras fixadas pelo grupo. 4. O aluno faz o que lhe compete no grupo. 5. O aluno fala com toda a gente e não apenas com os amigos. 6. O aluno faz com que se respeitem os direitos de todos no grupo. 7. Ouadro 9.3 Perfil de avaliação sumativa: notas semestrais em
desenho"' (processo e produto) Lista de critérios Máximo Notas dos alunos 1 2 3 4... A. Trabalho de grupo AI. Respeito pelos outros grupos 12 A2. Implicação de todos /4 M. Rotação de tarefas /2 M. Conflitos e soluções /2 B. Trabalho BI. Quantidade /2 132. Originalidade /2 133. Diversidade de processos /2 134. Documentação /2 135. Respeito pelos prazos /2 (1) Inspirado em Reuter 1984:98. Este perfil sumativo é o resultado da interacção alu no/professor e inclui os aspectos cognitivos, psicomotores e efectivos de apren dizagem.
229 COMO ENSINAR ATITUDES Ouadro 9.4 Conselhos sobre observação O observador (geralmente, quem ensina) integrasse na situação natural de ensino para daí retirar informação, sem perturbar as reacções dos alunos; verifica a frequência, duração, intensidade, pertinência ou qualquer outra característica dos acontecimentos, procurando intervir o menos possível.
Qualquer observação é feita em cinco fases: dirigir a atenção para um fenômeno bem definido; ter consciência do fenômeno; aperceberse dele; comparar esta percepção com o critério, o modelo, o indicador; emitir um juízo que esteja ou não em conformidade: registar a observação.
Quanto mais sistemática for a observação mais é preciso: ter cuidado com a representatividade das observações a ter em conta; registar factos e não a sua interpretação; registar os factos no momento em que se dão; exercitarse na função de julgar evitando, assim, os erros mais frequentes: o efeito de halo, * tendência a ser severo, benevolente ou excepcionalmente neutral, o erros de lógica, muitas vezes devidos ao desconhecimento do fenômeno observado; servirse de instrumentos capazes de ajudar à observação: ò listas de verificação ou grelhas de apreciação com ou sem modificação de fenômenos, se se trata duma observação muito estruturada (ver quadro 9.5), ò fichas de observação ou de personalidade com vista à recolha de dados,
geralmente conservados no registo de incidentes críticos, no resumo da participação ou no relatório de actividade, ò ficha usada quando se trata duma observação menos estruturada.
230 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
Quadro 9.5 Conselhos sobre a preparação de um questionário de respostas previamente elaboradas` 1. Pôr em evidência os objectivos que pretendemos medir com o questionário e a informação de que necessitamos. 2. Escolher o tipo de resposta: O questionário terá só respostas previamente elaboradas? Só respostas de esco lha múltipla? Respostas dos dois tipos? A escolha depende de vários factores: número de pessoas questionadas, quantidade e gênero de informação a recolher, tempo disponível para tratar e interpretar a informação, gênero de resposta previsto. Se as pessoas questionadas forem mais de vinte ou trinta, é possível, muitas vezes, utilizar as respostas de escolha múltipla, tanto mais que o seu tratamento é eficaz e fiel; corrigir e, depois, resumir as longas respostas dadas por um elevado número de alunos é um trabalho muito penoso e, muitas vezes, fraco do ponto de vista da fidelidade dos resultados, por causa do reduzido número de perguntas. Contudo, às vezes, é preciso recorrer a esse tipo de respostas
porque assim: os alunos podem exprimir melhor os aspectos mais delicados dos seus senti mentos; podem dar a sua opinião sobre aspectos que o educador tenha porventura esquecido; podem, mais facilmente, sintetizar a sua impressão global em relação a um objecto, actividade ou ideia. As vezes é muito útil terminar um questionário de respostas de escolha múltipla com um item de resposta previamente elaborada ou, então, jogar com os dois tipos de respostas, utilizando, habitualmente, um e outro. Assim, podemos con tar sempre com as respostas de escolha múltipla e, se tivermos tempo ou julgar mos oportuno, recorrer também a respostas previamente elaboradas. OBSERVAÇÃO 1: No caso de se optar por respostas de escolha múltipla, dado que se trata de juizos do aluno, tem de haver a possibilidade deste poder recor rer a expressões como `não posso ajuizar` ou... no caso de não dispor da neces sária informação para julgar. OBSERVAÇAO 2: Com crianças muito novas ainda, o questionário não é o pro cesso mais adequado, sobretudo por causa dos problemas de leitura, atenção permanente e compreensão (fraca fidelidade). Se tiver de se usar, então: ajudar os alunos a compreender asquestões e trabalhar com respostas de escolha múl tipla muito simples, se possível, até desenhos (exemplo: rosto risonho, índife rente, irritado). É preferível, igualmente, separar os itens com linhas grossas e juntar a cada questão um desenho capaz de ajudar a manter a atenção. Outra es tratégia interessante é recorrer à gravação sonora das questões. 23 1 COMO ENSINAR ATITUDES
OBSERVAÇÃO 3: Há três espécies de questionários de respostas de escolha múl tipla, utilizados com frequência: listas de verificação, questionários de escolha múltipla (duas ou mais) e a grelha de escalas de apreciação. Eis algumas obser vações a propósito destes tipos de questionário: Listas de verificação: verificar a pertinência, caso a caso, porque as suas possibilidades são limita das: factos ou fenômenos simples; redigir a lista de comportamentos ou de manifestações da atitude; não esquecer os itens negativos que provam a existência da atitude pela ne gativa; colocar os itens segundo a ordem mais conveniente; apresentar instruções claras e simples. Questionários de respostas múltiplas: com duas alternativas: sim/não, concordo/discordo, a favor/contra, verda deiro/falso, bom/mau.... com várias alternativas diferentes, simplesmente ou apresentadas segundo uma gradação qualitativa ou quantitativa, não esquecer a possiblidade da alternativa: não sei ou não tenho a certeza ou... apresentar, apenas, uma ideia em cada item: Grelhas de escalas de apreciação: permitem observar como a pessoa classifica uma coisa em relação a outra; escolher uma escala numérica, gráfica ou descritiva; definir a natureza da atitude medida, consultando de novo a lista de objecti vos específicos; redigir a escala correspondente a cada um dos aspectos incluídos na grelha; inserir cada item e, portanto, cada escala no local mais adequado do ques tionário; redigir as instruções. 3. Identificar a clientela que irá responder ao questionário:
Antes mesmo de formular as questões, se quisermos que sejam bem compreendi das, é importante verificar as características das pessoas que lhes irão dar resposta. a) Qual o vocabulário adequado? Mesmo com os nossos próprios alunos somos, por vezes, levados a utilizar nos questionários palavras demasiado rebuscadas, das quais eles ignoram o sentido (sobretudo na apresentação dos objectivos). b) Que informações possuem os alunos? As vezes, no desejo de agradar a quem ensina, os alunos pronunciamse sobre coisas que desconhecem. Neste caso, ou não devem ser sujeitos ao questionário ou, pelo menos, deve darselhes a possibilidade de optarem por uma resposta que se aplique directamente à sua situação: "não pensei nessa questão` ou `não analisei essa ideia" ou... 232
w_ AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
c) Quais os interesses particulares de quem responde? Especialmente quando o questionário é aplicado a outras pessoas, que não os alunos, há que ter em conta o ponto de vista destas pessoas (assim, os pais pensam primeiro no bem do filho e só depois tomam em
consideração o bem da turma), há que ver através dos seus olhos` para prever os seus intui tos indirectos ou o tipo de valores por que se regem, 4. Redigir as questões ou itens: Na altura de redigir as questões, convém não esquecer que o questionário deve apresentar resultados: a) úteis: para isso, colocar questões que conviriam para aspectos fundamentais da atitude, tendo sempre bem presente os objectivos; mais vale medir menos mas bem, do que medir tudo mas fazendo tudo mal. Sobretudo na aprendiza gem de atitudes, a técnica de medir por meio de questionários comporta de ficiências que podem ser colmatadas graças, especialmente, à convergência dos itens num mesmo aspecto. b) credíveis: para o conseguir podese, por exemplo, trabalhar com um perfil de resultados e, portanto, com vários aspectos da mesma atitude e não com um aspecto apenas. Podese, além disso, basear o conteúdo do questionário em resultados obtidos anteriormente por meio de entrevistas feitas aos mesmos alunos que a ele respondem ou a outros equivalentes. 5. Elaborar um resumo dos dados: Esta tarefa é levada a cabo juntamente com a precedente e deve ter por objec tivo tornar o trabalho de síntese e interpretação, tanto quanto possível simples, rápido e significativo. A fase de exploração de dados, por implicar uma dedica ção prolongada leva, muitas vezes, quem ensina a desanimar. Mais uma razão para organizar essa fase, tendo em vista o aspecto de economia de tempo. Quando for possível, deve recorrerse à ajuda do computador e é logo a partir desta fase que se deve planificar a sua utilização.
6. Criticar, experimentar e rever as questões. Para cada pergunta, ou item, colocar as seguintes questões: a) Cada item contém apenas uma ideia? b) Haverá uma maneira mais simples de dizer a mesma coisa (se possível, menos de vinte palavras por item e menos de três sílabas por palavra)? c) Haverá palavras ambíguas no item (palavras desconhecidas dos alunos ou que eles podem interpretrar mal; verificar com os alunos se tivermos dúvidas)? d) Será que a questão contém palavras ou expressões que possam exercer uma influência inoportuna nos questionados, pondoos nervosos (atacar a autori dade, por exemplo) ou afastando~os do verdadeiro conteúdo (subestimarse, por exemplo)? 233 COMO ENSINAR ATITUDES
e) A questão é formulada na negativa (a evitar, pois tornase ambígua)? f) A maneira de formular a questão sugere a resposta (seria preciso ser~se ab solutamente contra qualquer tipo de bem para se opor, ou seria arriscarmo nos a ter de suportar a ira da direcção ou seguir nesse sentido revelaria falta de senso)? g) O item permite que quem responde possa assumir uma atitude neutra ou não emitir opinião se se sentir diminuído com isso? h) O questionário foi testado por alguém conhecedor do assunto e dos alunos
(nessa altura, os itens mais fracos são aperfeiçoados ou eliminados)? 7. Composição do questionário: Decidir, antes de mais, acerca da montagem e aspecto do questionário (o mais leve possível, para que motive as pessoas a responder). Decidir a sequência das questões, reunindoas da forma mais lógica possível (de acordo com o tipo de itens, o conteúdo ou a problemática, por exemplo) Redigir a apresentação do questionário, os seus objectivos, o modo de lhe res ponder e, se necessário, apresentar exemplos de itens já resolvidos. Redigir as instruções, sabendo que mais vale pecar por excesso de clareza do que não ser suficientemente claro. Testar o questionário com um grupo de alunos para lhe dar os últimos retoques, se necessário. 8. Aplicação do questionário. (1) Inspirado em Henerson e outros, 1978.
234 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES Quadro 9.6 Conselhos sobre a preparação de urna escala de atitudes Os instrumentos de medida apresentados antes são geralmente aplicados por investigadores; o educador achará, possivelmente, muito difícil aplicálos e interpretálos no âmbito das suas
funções profissionais habituais. Mesma assim, vamos estudámos aqui, atendendo a quem, por uma razão ou outra, queira ir mais além neste domínio. Escala de reordenação A escala de reordenação consiste numa série de enunciados que exprimem opiniões ou juizos de valor sobre diversos objectos, enunciados aos quais, previamente, foi atribuído um valor e que, de acordo com este valor, foram depois distribuídos ao longo dum continuem afectivo. Cada enunciado tem, pois, um valor bem definido na escala, valor este que não aparece, contudo, no questionário em que pedimos aos alunos que escolham os enunciados que correspondam às suas próprias convicções. Fases de preparação duma escala de reordenação: a) Redigir cerca duma centena de enunciados de juizos de valor relativos à atitude (por exemplo, o que é que os alunos ou outras pessoas dizem sobre esta atitude, escolhendo sempre as pessoas ou opiniões mais diversas); b) Escrever cada enunciado numa folha à parte; c) Escolher um grupo de pessoas (pelo menos trinta) com características seme lhantes às dos alunos a avaliar, e pedir~lhes que distribuam os enunciados por onze colunas, partindo daqueles com que concordam mais (coluna 1) até àque les com que discordam completamente (coluna 1 1), não segundo as suas convic ções, mas baseando~se no valor dos enunciados em si mesmos; d) Pôr de lado os enunciados que, de avaliador para avaliador, apareçam colocados em colunas muito diferentes, pois são enunciados ambíguos; e) Atribuir a cada enunciado um valor na escala, fazendo a média das colunas que lhe são atribuídas; f) Escolher cerca de vinte enunciados (25, no máximo) capazes de obter quase todas as cotações de 1 a 1 1;
g) Elaborar um questionário em que estes enunciados surjam de maneira aleatória e sem cotação, e acompanhados das devidas instruções: h) Aplicar o questionário; i) Com base na média dos valores de escala dos itens escolhidos por cada aluno, atribuir~lhe uma cotação. Escala de apreciação (escala de atitudes mais comum) A escala de apreciação (ver exemplo no quadro 9.7) é a escala de atitudes mais usada. Consiste numa série de enunciados que exprimem opiniões ou juizos de valor favoráveis ou desfavoráveis a um objecto, ideia ou actividade, cuja reacção 235 COMO ENSINAR ATITUDES
junto dos alunos se pretende medir. E é precisamente ao exprimir o seu grau de adesão a estes vários enunciados que o aluno revela a sua atitude em relação ao que se pretende medir. o aluno exprime esta adesão ao escolher, numa escala que lhe é apresentada, uma das três, cinco, seis ou sete respostas possíveis: DC: Discordo completamente D: Discordo DL Discordo ligeiramente CL: Concordo ligeiramente C: Concordo CP: Concordo plenamente DC D DL CL c CP
Fases de preparação duma escala de apreciação: a) Redigir cerca de sessenta enunciados de juizos de valor muito favoráveis ou muito desfavoráveis à atitude (o que dizem, por exemplo, os alunos ou outras pessoas sobre esta atitude); b) Escolher um grupo de pessoas (pelo menos trinta) com características seme lhantes às dos alunos aavaliar, e pedirlhes que respondam aos itens de acordo com as suas reacções pessoais, tão naturais quanto possível, na suposição do grupo conter alunos de todas as tendências; c) Calcular os resultados destas pessoas, adicionando as suas respostas, depois de ter, contudo, invertido o sentido das respostas negativas como no exemplo se guinte: Paulo diz concordar plenamente com o seguinte enunciado: `A escola é uma perda de tempo", a sua atitude é, portanto, muito negativa; há que atribuir 1 ponto e não 6 à sua resposta. Obterá, contudo, 6 pontos se concordar plena mente com o enunciado: `Graças à escola, as pessoas conseguem trabalho mais facilmente"; d) Identificar quais os alunos que estão mais de acordo (pontuação superior a 25%) e quais os que mais discordam (pontuação inferior a 25%); e) Fazer a análise dos itens segundo o conceito de que um item (enunciado) é bom quando a maioria dos alunos tem, perante ele, uma reacção lógica, no sentido em que exprimem em relação a esse item um grau de adesão que está em con formidade com a atitude revelada relativamente ao conjunto dos itens. Assim, é de rejeitar um item que exprima uma atitude negativa se vários alunos,'que reve lam habitualmente atitudes positivas, dizem concordar plenamente com ele; ou um item que exprima uma atitude positiva, mas que reúna o pleno acordo de vários alunos que têm, porém, uma atitude negativa no conjunto dos sessenta itens; f) Escolher cerca de dez ou vinte enunciados ou itens dentre os melhores, positi vos e negativos;
g) Elaborar um questionário com os itens escolhidos; h) Calcular o resultado de cada aluno fazendo a soma, como ficou indicado na alínea c).
236 AVALIAÇÃO SUMATIVA DE ATITUDES
Diferenciador semântico Dos instrumentos clássicos, o diferenciador semântico é, provavelmente, o instrumento de medir atitudes mais simples e eficaz. Consta duma lista de pares de adjectivos bipolares, sendo um o antónimo do outro; a lista tem o título do objecto da atitude a medir. Existe uma escala contínua entre os dois polos onde o aluno assinala o ponto em que se situa a sua atitude. Eis um exemplo: POESIA mau X bom 1 2 3 4 5 6 7 perigoso X seguro 1 2 3 4 5 6 7 confuso X claro 1 2 3 4 5 6 7 X sério divertido 1 2 3 4 5 6 7 cansativo X repousante 1 2 3 4 5 6 7 ruidoso .. X sossegado
1 2 3 4 5 6 7
O aluno que preencheu estes seis itens obteve um resultado de 1+4+1+3+5+2=16, na escala de diferenciação semântica aplicada à poesia. Quem estiver interessado nesta técnica de medição poderá encontrar outras informações no documento do MEO (1984) e, sobretudo, na obra dos inventores Osgood, Suci e Tannenbaum (1967). Aplicada antes e após as intervenções pedagógicas, esta escala pode, provavelmente, fornecer informação sobre o que se passou entretanto com o aluno, no que respeita às suas reacções emotivas em relação à poesia. Dizemos `provavelmente", porque este instrumento, aliás, como os outros que medem atitudes, e que são utilizados em contexto de ensino, comportam, geralmente, grandes deficiências, quer quanto ao aspecto da correspondência entre o que se mede e o que se ensinou (fraca pertinência) quer quanto aos factores aleatórios que podem fazer variar indevidamente os resultados: efeito de halo, anseios sociais, condições de aplicação (fraca fidelidade). 237 COMO ENSINAR ATITUDES
Quadro 9.7 Escala de atitudes sobre as mudanças no ensino Em relação a cada enunciado, diga se: DC: Discorda completamente D: Discorda DL Discorda ligeiramente
CL: Concorda ligeiramente C: Concorda CR Concorda plenamente 1 . As mudanças operadas na escola, de há vinte anos a esta parte, produziram mui tos e excelentes resultados. DC D DL CL c CP 2. O ensino actual precisa é de alterações mais profundas. DC D DL CL c CP 3. Os conteúdos disciplinares e os métodos de ensino muito rapidamente se tor nam obsoletos. DC D DL CL c CP 4. Uma sociedade moderna exige uma escola capaz de mudar em curto espaço de tempo. DC D DL CL c CP 5. O bom professor deve saber conviver com a mudança na escola. DC D DL CL c CP 6. No ensino é extremamente importante viver de acordo com o seu tempo. DC D DL CL c CP 7. Professor que não queira modernizar os seus métodos deverá abandonar o en sino. DC D DL CL c CP 8. Os responsáveis têm razão em alterar rapidamente os programas e os métodos. DC D DL CL c CP 9. A maior parte dos problemas actuais de ensino resolvemse alterando os méto dos. DC D DL CL c CP 10. Os novos conhecimentos sobre métodos de ensino não estão a
ser aplicados com a devida rapidez. DC D DL CL c CP 238 CONCLUSÃO Podemos ensinar atitudes na escola? Não, se por tal se entender que a função de quem ensina é implantar na personalidade do aluno tendências relativamente estáveis em três aspectos: afectivo, cognitivo e conativo. Sim, se tal função consistir em ajudar o aluno a transformar~se segundo uma orientação específica, a modificar os seus comportamentos, convicções e até emoções, de acordo com experiências sistemáticas vividas na escola ou sob a responsabilidade da escola. Diagnóstico semelhante se poderia apresentar a propósito de aptidões complexas como a análise, síntese ou avaliação. O debate entre sim e não supõe que existe entendimento sobre aquilo que se propõe como podendo ser ensinado. Neste caso, trata~se de manifestações, de modos de traduzir exteriormente o que se passa no interior de cada um. De modo um pouco simplista, poderíamos fazer o raciocínio seguinte: Observei a alteração de comportamentos verbais e não verbais; deduzo da(que, provavelmente, o interior também se alterou. Daí a afirmar tratarse desta ou daquela atitude bem definida, tudo depende, evidentemente, do rigor com que a definirmos e dos correspondentes indicadores. Uma coisa é certa: se as manifestações duma atitude se alterarem significativamente, é válido inferir daí a mudança da própria atitude em si mesma. Portanto, em teoria, aparentemente, o problema do ensino de atitudes tem solução, pelo menos quanto à definição operacional e quanto à demonstração ou prova. Na prática,
mostrámos que é tecnicamente possível definir uma atitude com bastante precisão e pormenor de modo a poder ensiná~la e apreciar o seu nível de aprendizagem. Resta verificar a eficácia do ensino de atitudes. Será que na verdade se conseguem mudanças através de intervenções sistemáticas na aula? Só os cegos não vêem as mudanças de comportamento e hábitos verbais e não verbais que grande parte dos nossos alunos revelam. Não estará a maior dificuldade em ter de aceitar, simultaneamente com a possibilidade de ensinar atitudes, a responsabilidade, pelo menos parcial, dos erros cometidos neste campo e, consequentemente, a necessidade de incluir este aspecto nas nossas preocupações pedagógicas? (Mager, 1968). 239 ANEXO A Quadro A. 1 Grelha de apreciação do plano de actividades de ensino de uma atitude Considere cada um dos pontos apresentados a seguir, baseandose na escala seguinte. 1. o aspecto não é tratado de modo nenhum 2. o aspecto é tratado em parte 3. o aspecto é bastante bem tratado Na prática, num plano de actividades de ensino duma atitude, se estiver bem feito, deve observar~se o seguinte: 1. Que, no seu conjunto, aparece interligado com objectivos importantes do programa oficial; 2. Que a acção pedagógica específica aparece associada a outras acções pedagógicas de domínios interdependentes: área de formação pessoal, social, religiosa ou moral,
projecto educativo de escola, ensino doutros programas, vivência escolar e paraescolar, prioridades de escola ou dos órgãos directivos; 3. Que a atitude pretendida e a acção desenvolvida se apoiam no meio social envolvente: com os seus recursos materiais e humanos, com as suas necessidades específicas apresentadas, pelo menos, globalmente, com uma preocupação de continuidade na aprendizagem; 4. Que há convergência entre conteúdos e intervenções: uma única atitude prioritária (encarada sob diferentes aspectos), um aspecto essencialmente escolar da atitude, um único objectivo global: expectativa e conteúdo; 5. Que a interiorização de qualquer atitude se faz gradualmente, o que se revela: nos objectivos gerais, de acordo com uma dada sequência, nos correspondentes comportamentos indicadores da atitude apre sentados, também eles, numa dada sequência, nas actividades correspondentes apresentadas, também, numa deter minada sequência; 6. Que há indicadores que permitem formar juízos sobre os resultados globais, eventualmente produzidos pelas intervenções; 7. Que estão previstos os recursos materiais e humanos. 241 Quadro A.2 Grelha de apreciação dos resultados da aplicação do plano de actividades`
1 Realizaram~se as actividades todas a maioria algumas previstas. 2. Acrescentaramse várias algumas nenhumas actividades. 3. Atingiramse os níveis de sempre muitas vezes raramente participação. 4. A participação foi activa com sempre muitas vezes raramente contribuições pessoais. 5. Os alunos gostaram das sempre muitas vezes raramente actividades. 6. As técnicas de ensino estavam sempre muitas vezes raramente adaptadas aos grupos de alunos. 7. Foram aproveitados recursos vários alguns nenhuns do meio. 8. Foram ensinados os conteúdos todos quasetodos a maioria previstos. 9. Foram atingidos os objectivos todos quasetodos a maioria visados. 1 0. As pessoas do meio (pais, várias algumas nenhumas educadores) mostraramse satisfeitas. (1) Inspirado em MEO, 1988:35 Para cada indicador dado, ou para qualquer outro indicador a ter em conta, é sem pre possível especificar a escala e até incluir nela um nível mínimo de competên cia (expresso em percentagens, por exemplo).
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