Com Sem-corpo

  • November 2019
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  • Words: 477
  • Pages: 2
COM SEM-CORPO 1. Tomara que este frio não fosse névoa. O frio que outrora fora parte do encanto que era o sono contigo. A névoa que se tornou a tua imagem. O sonho contigo. 2. “Nem o sol me ajuda, tenho ainda o coração frio…” 3. Ainda este rasto inclaro. Um olhar inibido e cruel. Um golpe de reflexos densos como a luz do sol. Se formos a ver é apenas memória. 4. …não dormi, há muito temo que não durmo. Não o mereces. 5. Não há muito que possa dizer. Talvez “nada” ou “nunca”. Não me resta muito: uns postais umas cartas. Nestes sítios novos…que são tão previsivelmente novos. Não encontro palavras decisivas decididas. Está tudo aqui para mim em demasia. 6. Fumo muito. Perdoa-me, mas não sei falar senão de mim. Fumo mais do que era costume. E também cruzo mais os braços. 7. tantas vezes que evitei escrever-te (escre-verte) só para sonhara que não precisava de o fazer. Aliás de que valia? Se calhar para uma morada errada. Morada errante que é a tua. 8. Braços iluminados roupas coloridas e movimento. E por entre um veio amargo que é o esforço de olhar. “Não há poemas em casas de penhores, não há mágoa que se possa abandonar”. 9. Perto das mesas do fundo onde as senhoras das redondezas se costumam juntar está hoje um velho quase esfarrapado. E persisto continuo a observar. A procurar um rosto num rosto…de perto das mesas do fundo o velho levantou-se e vai a sair. 10. …a partir daqui a distância é silêncio. E a tua proximidade torna-se violenta. 11. Ainda não decifrei se esta luz cinzenta é causada pela lua branca do escuro se pelos candeeiros deixados pela vida diurna. Há carros rápidos táxis ocupados, olhos desconfiados. E outros tipos de corpos. 12. Sei perfeitamente onde ir esta noite. Sei que não estarás onde vou. È por isso que não há nada que me faça estar aqui onde não estás. Sei que me confundirás. Sei que te confundirei. E que haverão gestos que me falarão de ti. Sei no entanto que não serão os teus. Sei que não me encontrarás porque terei partido em tua busca na noite onde jamais estarás.

13. Dói-me o peito e as pernas. Sinto-me a respirar, a boca. Vejo bem o céu (se não nos vemos…às vezes queria que ele deixasse de me abrigar e me levasse com ele). Há pessoas à minha volta e o néon azul da loja de roupas. E continuo a pensar… 14. …cores. Fantásticas coes rápidas como sons. Não sei de onde vêm. Talvez o saiba, talvez. Um amarelo não natural e um vermelho brilhante e vivo por cima verde escuro com nada. Um mar de azul escuro. Sons e lâmpadas de estrada. 15. Ruídos em cores moribundas. Crueza em tons mascates. Há velocidade em mim, assim deitado.

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