Cineclubismo - Jornal Do Brasil

  • May 2020
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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

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JORNAL DO BRASIL

ANDRÉA DUTRA

É o renascimento! Não aquele de Da Vinci, mas o das salas escuras, cineclubes e cinematecas, em que as pessoas se encontram para adorar filmes de todos os tempos, desde o cinema mudo até os experimentos mais modernos apresentados nas bienais do mundo. O cineclubismo no Rio de Janeiro tem uma longa e profícua história, que começou em 1917. Adhemar Gonzaga, Álvaro Rocha, Paulo Vanderley, Luís Aranha, Hercolino Cascardo e Pedro Lima reuniam-se para assistir filmes, normalmente no Cine Íris e no Pátria, e depois debatiam o que tinham visto, num local conhecido como Paredão, nome pelo qual o grupo acabou conhecido: Cineclube Paredão. Em 1928 foi fundado o Chaplin Club, nos moldes da tradição dos cineclubes franceses. O Chaplin foi o primeiro a exibir o filme Limite, de Mário Peixoto, no Capitólio, de Francisco Serrador, em 1931. Em São Paulo, 1946, nascia o Clube de Cinema, que viria a ser a base da Cinemateca Brasileira. No Rio, em 1948, Alex Viany, Moniz Vianna e Luiz Alípio de Barros fundaram o Círculo de Estudos Cinematográficos. Em 1949 surgiu a Filmoteca do MAM de São Paulo. Os anos 50 e 60 viram a formação de entidades em torno do cinema, como um claro sinal do crescimento da atividade. Em 1958, foi fundada a Federação de Cineclubes do Rio de Janeiro, com Leon Hirszman e Cosme Alves Neto como presidentes. Os cineclubes no Rio estavam em efervescência, e nessa época foram fundados os cineclubes da Escola de Belas Artes, e da Aliança Francesa bem como o Centro de Cultura cinematográfica, que virou a Cinemateca do MAM. A partir de 1964, a ditadura militar e sua censura quase acabaram com os cineclubes. Naquele momento, o Brasil possuía cerca de 300 cineclubes e seis federações regionais. Em 1969, desapareceram o Conselho Nacional de Cineclubes, as seis federações e quase todos os cineclubes do país. Em 1971 foi fundado, no Rio, o Cineclube Glauber Rocha. Em 1975 foi reorganizada a Federação de Cineclubes de São Paulo. Os grupos de cinema floresciam em sindicatos e associações, agora com mais engajamento político do que com a preocupação intelectual dos anos 50. Em 1981, o Concine, Conselho Nacional de Cinema, regulamentou a atividade. Em 1985, a volta do estado de direito mudou as características das atividades dos cineclubes. O foco voltou-se para a cultura, embora sem o mesmo charme dos anos 60, que vimos no mais recente filme de Bertolucci, Os sonhadores , uma declaração de amor ao cinema. O Grupo Estação trouxe de volta o conceito de clube de ci-

O que Zélia Cardoso de Mello, Caio de Alcântara Machado, Flávio da Costa Guimarães, Oscar Americano de Caldas Filho e Paulo Machado de Carvalho têm em comum? Eles freqüentam a mesma árvore genealógica. Essa é uma das revelações do livro Releituras em família, do embaixador Alcides da Costa Guimarães Filho, que morreu no ano passado, mas deixou pronto esse passeio pela genealogia brasileira, tendo como fio condutor sua própria família. Nascido em 9 de abril de 1929, o diplomata Alcides foi cônsul em Florença e Baltimore e embaixador em Atenas e Varsóvia. A ele se aplica, à perfeição, o epíteto de exemplo do velho Itamaraty, um homem que conheceu grande êxito social em diferentes círculos, no Brasil e fora, pela afabilidade do trato, que encantava, e um fino sentido de humor, que a todos divertia. Elegância,

DOMINGO, 27 DE MARÇO DE 2005

Das margens ao centro da sociedade Marcelo Dantas, produtor de mostras como 50 anos da TV, Arte da África e Antes - historias da pré-historia, foi dono da Magnetoscópio, cineminha no centro comercial dos antiquários, em Copacabana, que exibia vídeos para gente modernérrima, nos anos 90. Ele conta: “A Magnetoscópio nasceu num momento em que o Brasil vivia uma transição de uma sociedade fechada para uma sociedade aberta, nos idos de 1990. Havia fome de conhecimento pelo alternativo, por diversidade. Eu investi em trazer informação cultural, um fórum de discus-

são e de inovação. Foram três deliciosos anos. Por incrível que pareça, os anos duros da era Collor ajudaram nesse interesse. A sociedade havia se aberto, mas ninguém podia gastar em viagens, pois o dinheiro estava preso pelo governo. A idéia de um espaço que resistia, trazendo uma gramática nova e inédita, era muito bem vinda. Também fomos atrás de velhos arquivos da TV brasileira. A Magnetoscópio foi um espaço aberto como um cinema, só que digital. De certa forma, a revolução digital que aconteceu na ultima década

fez da Magnetoscópio um modelo, multiplicado nos inúmeros cinemas digitais que estão nascendo pelo Brasil e pelo mundo. A flexibilização da mídia fez com que trabalhos como o do Michael Moore, que eu exibia na Magneto, se transformasse em filmes que concorrem ao Oscar. Ou seja: tudo mudou, e a cultura que eu representava saiu das margens e foi ao centro da sociedade. Naquele tempo, vídeo-instalação era a periferia das artes e hoje é o centro de toda Bienal pelo mundo.”

A volta dos cineclubes nema, com a exibição de filmes de fora do circuitão comercial. E depois dele, acompanhamos, felizes, o ressurgimento de grupos engajados na sétima arte, que só exibem filmes de fora do circuito, que têm programação bem variada, que só apresentam produções independentes, que dispõe de equipamento profissional para aluguel. Há de tudo um pouco na cena de cinema. Graças aos guerreiros da sétima arte, que não perdem a ternura jamais!

Cineclubes cariocas O Rio de Janeiro, cidade com vocação para o cinema, abriga vários cineclubes. Vamos a eles:

Odeon-BR O tradicional Odeon-BR promove a Sessão Cineclube, numa parceria do Grupo Estação com a Revista Contracampo. Para não perder o tom, depois da sessão tem debate. Escola de Cinema Darcy Ribeiro A novíssima Escola de Cinema Darcy Ribeiro, sonho do nosso grande educador, inaugurou o seu cineclube este mês, com sessões gratuitas abertas ao público todos os sábados. A programação é de primeira, com curadoria de José Carlos Avellar. A diretora da Escola, Irene Ferraz, quer o cineclube como pólo aglutinador e de discussão do audiovisual nacional

e internacional, com a participação de alunos, críticos e cineastas. A Escola fica no prédio onde outrora funcionou uma agência do Banco do Brasil freqüentada por Stanislau Ponte Preta. Havia lá um caixa sisudo, mau encarado, antipático. Stanislau entrou no banco e colou, discretamente, no balcão em frente ao caixa, um cartaz com os dizeres: não alimente os animais. A Escola de Cinema Darcy Ribeiro oferece cursos inclusive para alunos carentes. O cineclube exibe, em vídeo, filmes do precioso acervo da Polytheama. Dia 2 de abril tem A Terra (Zemlya), dirigido por A. Dovjenko, em 1930.

MAM A Cinemateca do MAM, em 50 anos de existência, tem múltiplas atribuições. É centro de referência e está aberta a pesquisadores. Muita gente boa, que hoje é profissional de cinema, foi rato de cinemateca e aprendeu os primeiros passos assistindo a muitos filmes. São quase 30 mil rolos de filmes. E além de armazenar informações, também atua na recuperação de títulos fundamentais na construção da memória cinematográfica do país. A Cinemateca é associada à Federação Internacional de Arquivos de Filmes, órgão que congrega as cinematecas de todo o mundo, viabilizando intercâmbios insti-

Recuperando tradições

discrição e distinção eram nele qualidades inatas e não por força do acaso. Descendia de linhagem de mais de 450 anos, a qual se confunde com a própria História do Brasil e da qual muito se orgulhava: seus mais antigos antepassados conhecidos chegaram de Portugal em 1532. Poderia até parafrasear seu primo Alcântara Machado: “Paulista sou eu, há 400 anos”. A família é rica de personagens ilustres desde os primeiros povoadores. Tem vínculos com os mais tradicionais sobrenomes paulistas e, nos tempos modernos, permanece com destaque na política, na magistratura e no magistério, nas artes, no empresariado, na ciência e na diplomacia. De seu pai, que teve bem sucedida carreira no Banco do Brasil até o mais alto grau, Alcídes herdou, além do nome, o exemplo de

integridade, ética e rigor no trato dos assuntos públicos. Desde o início da vida profissional, Alcides destacou-se por três qualidades: competência, precisão e bom senso. Da divisão de Tratados Internacionais do Itamaraty, passou ao Departamento de Administração e à Secretaria-Geral. Desincumbiu-se com brilho

de importantes tarefas: modernização e ampliação de um arquivo envelhecido e asfixiado; a transferência do Ministério das Relações Exteriores para Brasília; a criação do Museu Histórico e Diplomático e a abertura do pioneiro Escritório Regional do Itamaraty em São Paulo. Alcides sabia negociar com firmeza nos argumentos e segurança nos objetivos, tinha resposta para todas as perguntas, temperava o rigor com savoir-faire, paciência e cortesia. De cada interlocutor, fazia um admirador. No seu livro, Alcides conta a História do Brasil por um ângulo diferente: através das famílias, dos sobrenomes e dos títulos nobiliárquicos. De Martim Afonso de Souza, que desembarcou em Bertioga, em 1532, já lá encontrando dois portugueses, João Ramalho e Antônio Rodrigues, a fieira de nomes prossegue contínua até

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tucionais. Com a extinção da Embrafilme em 1991, passou a ser depositária de grande parte das cópias dos filmes produzidos por aquela instituição. Mate com angu O Cineclube Mate Com Angu existe há três anos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, área bastante carente de cultura, apesar de ser a oitava arrecadação do país, e a segunda do Estado do Rio. O público está ávido por ter o que ver, ouvir, ler, assistir e discutir. Com essa motivação, e com a vontade de desmistificar o fazer cinematográfico, dez fãs de cinema resolveram fundar o cineclube, que fica dentro do Centro Cultural Lira de Ouro. A sala tem capacidade para 300 pessoas e lota em todas as sessões do cineclube, que exibe preferencialmente curtas-metragens de realizadores independentes, toda última quartafeira do mês. O Mate com Angu lançou, recentemente, dois curtas de produção própria, feitas na raça, e venceu o Prêmio Cara Liberdade com o filme 1 ano e 1 dia,na IV Mostra do Filme Livre do CCBB. Dia 30 é o lançamento do próximo filme do grupo, o curta Acorda!, de Igor Barradas. Mate Com Angu é o apelido de uma escola de Caxias, que funciona desde 1921. Foi fundada pela professora Armanda Álvaro Alberto e foi a primeira escola a servir merenda escolar, daí o apelido. UFF A curso superior de Cinema mais badalado do Rio fica em Niterói. É de lá que saem os novos cineastas cheios de idéias, diretos para programas da TVE, como o Curta Brasil, e as mostras do Cine Arte UFF. O cinema tem agora o Cineclube Outro Tempos, que exibe filmes raros e clásssicos, curta-metragens e produção contemporânea, tanto no Teatro Odisséia como na tradicional sala da UFF. Cine-Buraco Em Laranjeiras fica o CineBuraco. Um espaço criador, realizador que desenvolve suas próprias produções e oferece ainda outros serviços, como locação de equipamentos para cinema e oficinas sobre cinema, abordando não só aspectos técnicos como a música, a arte, a filosofia. Sem se afastar da proposta inicial de cineclube, o Cine-Buraco promove eventos como a Sessão Jiguê, que inclui a projeção de filmes 16mm e shows. Nas festas, que também funcionam como vitrine para as nossas produções, são exibidos curtas, médias e longas-metragens, documentais e/ou ficcionais. Cine Santa Santa Teresa tem o Cine Santa, que exibe filmes bons de graça nos locais mais variados do bairro: o Parque das Ruínas, a Igreja Anglicana, no CEAT Pesquisa: Enciclopédia do cinema Brasileiro. Ramos, F. e Miranda, L. F.; Ed. Senac, São Paulo, 2000.

chegar em personagens da atualidade, como o publicitário Caio de Alcântara Machado e os empresários Flávio da Costa Guimarães e Paulo Machado de Carvalho. O autor demorou seis décadas escrevendo o livro, que começou a esboçar quando tinha apenas quinze anos. Na introdução, há um perfil de Alcides da Costa Guimarães Filho escrito por quem o conhecia muito bem: seu grande amigo e também embaixador, René Haguenauer, que fez a revisão do livro e coordenou sua edição. — Tive a sorte de poder ajudar Alcides nas revisões e correções de textos, de com ele trocar idéias, de entender a sistemática do trabalho, de conhecer sua intenção de como terminá-lo. Se pudesse prever que ele nos deixaria tão depressa, teria procurado entender mais sobre a obra, para melhor editá-la.

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