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CARTA AO LEITOR
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Um olhar diferente
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ZERO seguiu o conselho de Platão e saiu da caverna para conhecer algumas comunidades da cidade. São lugares próximos, que estão logo ali. Este encarte especial buscou um novo olhar sobre questões de urbanização vividas em qualquer centro urbano. Uma experiência nova que não se baseou apenas em números e dados, mas que, a partir deles, contou histórias de gente, como a de Dilson Manger que vive numa casa feita de palafita, mas com vista para o mar, e como a de Dona Uda, que por 45 anos dirigiu a escola de uma pequena comunidade e depois de enviuvar, inclusive, casou-se com ela. Pessoas contaram como convivem com a falta de condições básicas em seis comunidades da capital – três localizadas no continente e outras três, na ilha. Na grande Florianópolis, 111.144 famílias vivem em imóveis irregulares e sem infra-estrutura na região que engloba, além da capital, os municípios de Biguaçu, Palhoça e São José – o que representa 15% da população da Grande Florianópolis. São propriedades sem registro oficial, onde a maior parte dos moradores não paga IPTU. Mesmo considerada livre do analfabetismo – de acordo com o selo distribuído pelo governo federal às cidades com menos de 4% de analfabetos – 3,56% da população da capital
não sabe ler ou escrever, e a reprovação nas escolas públicas está acima dos 10% do total de alunos matriculados. Florianópolis possui, em um pequeno espaço, uma enorme variedade de ambientes naturais que compõem os seus vários ecossistemas. Originalmente, as suas encostas eram cobertas por mata densa, e suas planícies por vegetação de restingas, manguezais e florestas. Atualmente essas áreas são reconhecidas por lei como lugares de preservação permanente. No entanto, devido ao grande crescimento demográfico – que é de 30% ao ano de acordo com dados do IBGE – essas áreas estão sendo ocupadas inadequadamente, o que traz não só problemas ambientais, mas também, de segurança e de saúde. Políticas públicas e organizações não governamentais auxiliam com recursos e serviços as comunidades da capital, mas o déficit em infra-estrutura, saúde e educação ainda é grande. Moradores desses lugares se viram como podem, são engenheiros, médicos e professores sem terem formação superior. O improviso, característico do povo brasileiro, existe porque a população não tem acesso às condições mínimas a que tem direito - como eletricidade, saneamento e coleta de lixo.
Fotos: 1 - Dael Limaco; 2 - Laura Daudén; 3 - Thiago Bora; 4 - Daniela Cucolicchioss
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